Entrevista

Paulo Petry
Caro Professor Petry, é durante esta pandemia proliferaram e foram lar-
uma honra contar com da Covid-19. É realmente gamente veiculadas em
sua participação neste impressionante o alcan- redes sociais, muitas ve-
curso. Desde já, agrade- ce de alguns veículos de zes com informações fal-
cemos sua disponibilida- comunicação. Assim, as sas, distorcidas e tenden-
de. medidas e termos em- ciosas. Ressalto ainda a
pregados para o monito- importância de que se
Durante a pandemia o ramento de eventos rela- ocupe os canais de mídia
senhor foi entrevistado tivos ao processo saúde/ para combater as nefas-
diversas vezes para falar doença e utilizados em tas mentes negacionistas
sobre a situação da pan- diversos estudos, passa- que tentam menosprezar
demia. O senhor poderia ram a ser amplamente a pandemia da Covid-19,
nos falar um pouco sobre veiculados, dentre os seu espantoso número
as principais medidas quais destaco as taxas de mortes e seu impacto
utilizadas por estudos e de mortalidade e letali- na vida das pessoas, em
para monitoramentos de dade, incidência, busca especial, dos menos pri-
eventos de saúde/doen- ativa, comorbidades, co- vilegiados social e eco-
ça? bertura vacinal, imunida- nomicamente.
Agradeço imensamente de coletiva, média móvel
este convite, é um grande de casos e mortes. Desta

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prazer participar des- forma, conceitos, há mui-
sa brilhante iniciativa e to adotados por epide-
compartilhar alguns as- miologistas, passaram a
pectos esta fascinante ser largamente empre-
disciplina que é a epide- gados. Entretanto seus
miologia. Primeiramen- corretos significados e
te gostaria de saudar a o real entendimento de
relevante colaboração de suas informações pre-
uma imprensa séria, éti- cisaram ser explicados
ca e comprometida com de uma forma didática
a verdade. Muitos profis- e simplificada para uma
sionais de saúde, como população leiga que até
eu, aproveitaram a opor- então os desconhecia. O
tunidade para divulgar o próprio entendimento do
conceito de pandemia Como estas medidas
conhecimento embasado compõem os indicado-
cientificamente a um nú- não era de domínio pú-
blico, além do que muitas res?
mero expressivo da po-
pulação consumidora de informações desencon- Acho que vale a pena
diversos canais de mídia tradas e não científicas conceituar quatro indica-

Conceitos básicos de epidemiologia a partir de estudos sobre COVID-19

dores muito utilizados em
epidemiologia, que são
as taxas de mortalidade
e letalidade e as medidas
de incidência e preva-
lência. É importante res-
saltar a diferença entre
as taxas de mortalidade
e letalidade, pois, elas
compõem indicadores
que fornecem informa-
ções diferentes. A taxa
de letalidade expressa o
potencial de determina-
da doença ou agravo de
provocar a morte de pes-
soas acometidas por ela,
ou seja, é uma proporção
aplicada para avaliar a
gravidade de doenças.
É obtida dividindo-se o
número de mortes devi-
das à determinada causa
pelo número de pessoas
que foram acometidas
pela doença. Em outras
palavras, a taxa de letali-
dade avalia o percentual
de pessoas diagnostica-
das com certa doença
que morrem após seu
diagnóstico. Então, para
o cálculo da taxa de le-
talidade, o denominador
é composto apenas por
aqueles que apresentam
a doença, enquanto que
para calcular a taxa de
mortalidade o denomi-
nador é constituído por
toda a população sob ris-
co de morrer pela doen-
ça, incluindo os que têm
ou não a doença (mas
estão sob risco de desen-
volvê-la). Outros indica-
dores epidemiológicos
Conceitos básicos de epidemiologia a partir de estudos sobre COVID-19
muito utilizados são as
medidas de frequência,
prevalência e incidência,
adotados quando de-
sejamos avaliar a ocor-
rência de determinadas
doenças ou agravos à
saúde. A incidência é
uma medida que carac-
teriza o risco de desen-
volver alguma doença
ou agravo. O conceito de
incidência deve encami-
nhar à noção de intensi-
dade, de velocidade com
que novos casos ocorrem
em uma determinada
população. A incidência
pode ser definida como a
probabilidade ou o risco
de determinada doença
ou agravo ocorrer duran-
te um período específico
de tempo. Assim, a inci-
dência é definida como o
número de novos casos
que ocorrem durante um
certo período de tempo
em uma população sob
risco. Já o conceito de
prevalência encaminha
para a noção de quanti-
dade de doença ou agra-
vo presentes na popula-
ção. Em contraste com a
incidência, a prevalência
representa o percentual
de determinada doença
ou agravo em um ponto
particular do tempo, ao
invés de estimar o risco
no futuro. Assim, a pre-
valência é a medida do
estado de saúde, ou seja,
a presença da doença
ou agravo em um deter-
minado ponto hipotético
do tempo (momento).
A prevalência pode ser
definida como o número
de pessoas afetadas por
determinada doença ou
agravo na população,
dividido pelo número de
pessoas da população
naquele momento, isto
é, representa a proba-
bilidade de algum dos
indivíduos da população
apresentar doença ou
agravo no momento da
avaliação.
E quais os indicadores
foram e estão sendo mo-
nitorados em relação a
pandemia?
A epidemiologia é, fun-
damentalmente, uma
disciplina populacional,
que se ampara nas ciên-
cias sociais para a com-
preensão das estruturas
e dinâmicas da socieda-
de, na matemática para
noções estatísticas de
probabilidade, inferên-
cia e estimativa e nas
ciências biológicas para
o conhecimento do subs-
trato orgânico humano
onde as manifestações
observadas encontrarão
expressão individual.
Desta forma, tornou-se
peça fundamental na in-
vestigação científica em
todas as áreas da saúde,
o entendimento sobre
muitos temas relevantes
na atualidade, nasceram
de estudos epidemioló-
gicos. Sua utilização na
 abordagem das questões lisados para dar uma
de saúde pública e da dimensão precisa da real
prática clínica tem cres- magnitude da doença.
cido consideravelmente, Desta forma, podemos
bem como, a disciplina citar algumas medidas
tem se destacado como de natureza epidemioló-
gica extremamente úteis
e amplamente utilizadas,
“A epidemiologia é, como por exemplo, ana-
fundamentalmente, lisar a cobertura vacinal,
estimar o número de do-
uma disciplina po- ses necessárias para se
pulacional, que se atingir imunidade cole-
ampara nas ciências tiva, estabelecer grupos
sociais para a com- prioritários para receber
preensão das estru- as vacinas, calcular as
turas e dinâmicas da taxas de mortalidade e
letalidade, analisar a ne-
sociedade, na mate- cessidade da realização
mática para noções de barreiras sanitárias,
estatísticas de pro- implementar um progra-
babilidade, inferên- ma de busca ativa para
cia e estimativa e diagnóstico e monitora-
nas ciências biológi- mento de casos positivos,
bem como identificar
cas para o conheci- seus contactantes, ava-
mento do substrato liar a incidência da doen-
orgânico humano ça, estabelecer protoco-
onde as manifesta-
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los de cuidados especiais
ções observadas en- à pacientes com comor-
contrarão expressão bidades, avaliar o anda-
mento da pandemia pelo
individual .” cálculo da média móvel
de casos e mortes, entre
outros.
uma importante ferra-
menta de gestão e pres- Qual a importância do
tado fundamental apoio sistema de informação
à gestores, agentes pú- para monitoramento da
blicos e formuladores de pandemia e de qualquer
políticas públicas de saú- outra condição de saú-
de para seu desenvolvi- de?
mento e avaliação. Desde
Sistemas de informação
o início desta pandemia, para monitoramento
muitos indicadores esta-
desta pandemia, ou de
tísticos foram e seguem qualquer outro agravo
sendo produzidos e ana-
em saúde, se constituem
Conceitos básicos de epidemiologia a partir de estudos sobre COVID-19
em um dos instrumentos
essenciais para a toma-
da de decisões em saú-
de. Nesta perspectiva,
a epidemiologia tem se
consolidado como uma
poderosa ferramenta
de gestão estratégica
e apoia a formulação
de diversas políticas de
saúde através da utili-
zação de sistemas de
informação e de vigi-
lância epidemiológica.
Convém conceituar que
o termo “dado” pode ser
definido como sendo
um número bruto que
se refere a um determi-
nado fato, ou seja, é a
base para a produção
de alguma informação.
Já o termo informação
indica o conhecimento
obtido a partir dos da-
dos, isto é, representa o
resultado da análise dos
dados. Qualquer estru-
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tura organizacional de
saúde deve se basear
em sólidos sistemas de
informação que deverão
promover o apoio neces-
sário para um adequado
planejamento, de sorte
que, quaisquer decisões
e ações não se baseiem
em dados subjetivos ou
estimativas.
Na concepção do Sistema
Único de Saúde (SUS), um
dos objetivos primordiais
dos sistemas de informa-
ção é possibilitar a análise
hierarquizada da situação
de saúde, considerando,
obrigatoriamente, as
condições específicas
de cada extrato popu-
lacional para a deter-
minação do processo
saúde-doença. Os siste-
mas de informação em
saúde, na atualidade, to-
talmente informatizados
apresentam um grande
incremento em sua efi-
ciência ao possibilitarem
a obtenção e processa-
mento de um volume de
dados cada vez maior,
além de permitirem a ar-
ticulação entre diferen-
tes subsistemas. Em fun-
ção da relevância para
a vigilância epidemio-
lógica, alguns sistemas
nacionais de informa-
ção em saúde merecem
destaque: Sistema de
informação de agravos
de notificação (SINAN),
Sistema de informações
sobre mortalidade (SIM),
Sistema de informações
sobre nascidos vivos
(SINASC), Sistema de in-
formações hospitalares
(SIH/SUS) e Sistema de
informações ambulato-
riais do SUS (SIA/SUS).
Para consultas aos siste-
mas de informação, utili-
ze o site https://datasus.
saude.gov.br/.
Considerando a sempre
necessária oferta de in-
formações para ampliar
o acesso e a compreen-
são sobre epidemiologia,
o senhor poderia nos fa-
lar um pouco sobre seu
Conceitos básicos de epidemiologia a partir de estudos sobre COVID-19
canal no Youtube?
Rabi Hanina, antigo eru-
dito do Talmude, livro
sagrado do judaísmo, se
referia ao processo en-
sino-aprendizagem com
uma frase genial: “Tenho
aprendido muito com
meus mestres, mais com
meus colegas, porém a
maioria com meus es-
tudantes”. Desta forma,
meu canal do Youtube se
propõe a ser uma con-
tribuição ou, talvez uma
retribuição, a todos os
alunos de graduação,
especialização, mestra-
do ou doutorado que me
procuram solicitando
material para estudos
preparatórios de provas
ou concursos na área da
saúde. A ideia do canal,
inicialmente até mesmo
contestada por alguns,
nasceu do fato de a dis-
ciplina de Epidemiologia
estar ocupando cada vez
mais espaços nos currí-
culos de diversos cursos
de Graduação e Pós-
-graduação, seu vasto
conteúdo tem sido am-
plamente utilizado em
provas de seleção para
cursos de pós-gradua-
ção e concursos para
seleção de profissionais
na área da saúde. Hoje,
muito me orgulha, estar
próximo de atingir a im-
pressionante marca 200
mil visualizações, assim,
convido aqueles que se
interessarem em ampliar
seus conhecimentos a
visitarem o canal, onde
procuro de forma clara
e simplificada explorar
muitos dos principais
conteúdos da disciplina.
Canal do Professor Petry
no YouTube: https://www.
youtube.com/channel/
UCuUa8r8Exa2cO1XE4q-
JRkZg
Breve Currículo: Doutor
em Epidemiologia pelo
Programa de Pós-Gra-
duação em Epidemiolo-
gia da Faculdade de Me-
dicina da Universidade
Federal do Rio Grande
do Sul. Mestre em Epi-
demiologia pelo Centro
de Pesquisas em Epide-
miologia da Faculdade
de Medicina da Universi-
dade Federal de Pelotas.
Especialista em Perio-
dontia pela Faculdade
de Odontologia da Uni-
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versidade Federal do Rio
Grande do Sul. Graduado
em Odontologia pela Fa-
culdade de Odontologia
da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
Professor Associado 4 da
Faculdade de Odontolo-
gia da Universidade Fe-
deral do Rio Grande do
Sul. Autor do livro “Epi-
demiologia: ocorrência
de doenças e medidas
de mortalidade”. Thie-
me Revinter Publicações
(RJ), 2020.
http://lattes.cnpq.
br/1513115848236194