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1-Se é possível criar raiva espontaneamente, ela não precisa de um motivo para existir?

2-A raiva é um grau diferente de tristeza?

3-Se não existisse raiva, a tristeza existiria? E o contrário?

4-E, afinal, o que é pior?

Lembra, bem no comecinho, no nosso primeiro texto sobre felicidade, que dissemos que a
felicidade estava ligada ao amor?

O amor traz felicidade, que traz paz, e tudo isso traz liberdade (talvez não seja nessa ordem,
mas ok).

O desamor traz a raiva, que nos deixa em uma constante guerra conosco e com o mundo e isso
nos deixa infelizes e tira nossa liberdade.

A raiva é sempre ruim. Mas a tristeza, não.

“ A vida é como a mãe que faz o jantar e obriga os filhos a comer os vegetais, pois sabe que faz
bem”, lembra?

Os vegetais são as tristezas com nobre causa. Você já sabe os benefícios da tristeza, não vou
escrever tudo de novo.

O amor, além disso que já falei, é uma fonte inesgotável de perdão.

Se você ama a si mesmo, vai se perdoar por ter errado algumas vezes, por não ser perfeito. Se
ama a vida, vai perdoar as circunstâncias muitas das vezes cruéis e tirar o melhor possível
delas, vai usar os espinhos para prender flores. E se ama as pessoas, vai, também, perdoa-las e
não ficará com raiva (pelo menos não por muito tempo). Então, podemos esclarecer as coisas
que ficaram nebulosas e arrumar as coisas desarrumadas.

Vou responder à pergunta 3, primeiro. Eu acho que elas não dependem uma da outra. A raiva
não é o único meio de se trazer tristeza e a tristeza não desencadeia a raiva, necessariamente.

A raiva pode ser, em alguns casos, um disfarce orgulhoso. Por exemplo, uma mulher que é
traída pelo seu marido ficará triste, querendo ou não. Mas ela começará a pensar que ele não
merece a tristeza dela e que ela não deve sofrer por ele. Então, ela ficará com raiva do ato
dele. Mas, apesar de tudo, sabemos que essa raiva, mesmo que seja real, é uma forma de
autodefesa, pois assim ela poderá facilitar o trabalho de não gostar mais dele e seguir em
frente.

Se uma pessoa querida morre, você não ficará com raiva, ficará? Péssimo exemplo. Muitas
pessoas ficam com raiva. Vamos mudar. Não, não. Vamos deixar esse mesmo. Esse lance de
ficar com raiva é o mesmo do anterior: defesa contra a tristeza. No caso da morte, acho que
não é muito eficiente... por que precisamos jogar a culpa em algum fenômeno ou pessoa para
aliviarmos nossa dor? Acho que é difícil aceitar que é apenas porque é algo inevitável, porque
temos a necessidade de achar um motivo para tudo.

A pergunta 2, acho que já respondi. A raiva e a tristeza não são a mesma coisa em graus
diferente, mas, em muitos casos, encontram-se numa mesma cadeia de acontecimentos.
Sobre a pergunta 1... se a raiva é direcionada a algo ou alguém, não seria possível sua
existência sem motivo algum.

Os carinhas da guerra que você citou usavam, provavelmente, as substâncias sinistras para que
a raiva fosse maior, mas ela era direcionada aos inimigos.

E acho que a partir do momento que sua raiva tem um alvo, ele se torna o motivo dela.

Só que não é uma raiva pré-existente que se direciona a alguém ou algo. E sim esse algo causa
raiva.

Agora criar uma raiva do nada contra nada é algo meio absurdo, certo?

Mas acho que dá para ter raiva sem motivo. Eu posso dizer que não motivos para ter raiva de
tal pessoa, mas deu vontade de ter raiva e eu vou ficar com raiva e tudo o que essa pessoa
fizer será ridículo e errado. Não faz sentido, mas você perguntou se é possível. Possível é.
Quanto a fazer sentido...

Você disse que a raiva nasce em um momento de confusão (você disse muitas coisas, eu estou
agoniada por ser tanta coisa e não conseguir pensar em tudo ao mesmo tempo
ahfujahdjhfgsaughsaluygfulaishglua). Sim, a raiva nasce em um momento de confusão. E se
não a gerenciarmos, ela cresce e nos deixa cada vez mais cegos. Por isso temos que ser
transparentes conosco mesmos. Sobre o que você disse de vermos o mundo a partir de nossas
impressões... vamos fingir que temos um vidro colorido sobre nossos olhos. Se o vidro é
vermelho, veremos as coisas vermelhas. Se é azul, veremos as coisas com tons de azul e assim
por diante (eu gostaria de lembrar da autoria dessa parada dos vidros). Se não encararmos
nossas emoções/sentimentos, jamais veremos as coisas como ela são e isso pode não ser
muito bom. Se a forma como vemos o mundo exterior é um reflexo do mundo interior,
precisamos cultivar bons sentimentos para vermos um mundo bonito. Por isso precisamos
compreender a origem de nossa raiva e cortar o mal pela raiz. Para tudo tem uma solução. Se
não fizermos isso, vira um ciclo não saudável.

Se perdoar acaba com a raiva e com a tristeza consequente dela, e se o perdão é característica
do amor e se o amor nos faz ver o mundo a partir dos olhos dos outros, o segredo é o amor.

Mas eu ainda estou agoniada e quero chorar... :/

Vamos reunir as ideias centrais do texto a que respondo.

1- A raiva precisa ser canalizada e transformada em ato para que deixe de existir em
nosso interior.
2- A raiva reina sobre a indiferença e precisa ser direcionada a algo. A tristeza nasce em
meio ao afeto quando uma idealização é quebrada.
3- Não, não. A raiva não reina mais sobre a indiferença, mas sobre um momento de
confusão mental
4- O que define aquilo que causará raiva ou tristeza????
5- Seguinte: são a mesma coisa manifesta de formas diferentes. Isso? Ambas nascem a
partir de uma desilusão.
6- A essência das coisas não pode ser conhecida (segundo Schopenhauer)
7- Nãaaaaooo, gente. É assim: a tristeza vem após a raiva quando percebemos que não
conseguimos compreender a pessoa que nos causou tais sentimentos.
8- Ah, decidi: raiva é ter a própria visão atacada. Tristeza é falhar em reconhecer as
visões alheias.

Nossa, eu preciso muito chorar.

Sim, a raiva precisa sair de alguma forma. Seja por palavras ou por atos. Mas, principalmente,
pelo reconhecimento de sua estupidez e sua destruição a partir de nossa vontade.

Eu acho que bugamos tanto assim porque não levamos em conta que tanto raiva como tristeza
não nascem apenas de uma forma. Há infinitas situações para serem levadas em conta.

Acho que tudo é válido: a raiva nasce quando algum desconhecido faz algo estúpido, mas
também nasce de um instante de confusão. E também pode ser um meio de defesa, ou nascer
sem motivo, ou uma consequência do desamor.

A tristeza pode vir quando falhamos em reconhecer o mundo do outro, quando nossas
expectativas são quebradas.

Para não causarmos raiva, devemos analisar a quem estamos nos dirigindo. E para não
sentirmos raiva, devemos analisar quem se dirige a nós. E se sentirmos raiva, devemos
esclarecer as coisas.

E o mesmo vale para a tristeza.

São dois sentimentos estreitamente ligados e minha agonia vem por não podermos dar a eles
um caminho único, uma origem única, um “em suma” sem muitas vírgulas.

O bom é que não nos restringimos a uma única resposta.

Quanto mais folhas tem uma árvore, maior é a sombra. Com esse “sombra”, quero dizer
descanso, algo bom. E não uma confusão.

Se bem que... ambas as interpretações estão corretas.

O que você me diz?

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