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Para Kuhn, paradigmas diferentes não são apenas incompatíveis são verdadeiramente
incomensuráveis, o que significa que não podemos comparar objetivamente dois paradigmas entre
si, por forma a concluir que um deles é superior ao outro. Isto é designado por tese da
incomensurabilidade, e pode ser explicada da seguinte forma: Não existe uma medida comum, ou
um padrão neutro, que permita objetivamente estabelecer a superioridade de um paradigma em
relação a outro.
Kuhn não nega por completo a existência de critérios objetivos que constituem a base partilhada
para a avaliação de paradigmas ou teorias. Todavia, não considera que esses critérios sejam
suficientes, por si só, para determinar a preferência por um dos paradigmas que disputam a adesão
da comunidade científica.
Precisão
Em primeiro lugar, uma teoria deve ser precisa: quer dizer, no seu domínio, as consequências que
podem ser deduzidas de uma teoria devem estar em comprovada concordância que podem com os
resultados das experiências e observações existentes.
Consistência
Em segundo lugar, uma teoria deve ser consistente, não só internamente ou com ela própria, mas
também com outras teorias correntemente aceites e aplicáveis a aspetos relacionados da natureza.
Abrangência
Terceiro, deve ser abrangente: em particular, as consequências de uma teoria devem estender-se
muito além das observações, leis ou subteorias particulares, para as quais ela foi inicialmente
concebida.
Simplicidade
Quarto, deve ser simples, ordenando fenómenos que, sem ela, seriam individualmente isolados e
em conjunto, seriam confusos.
Fecundidade
Quinto, uma teoria deve ser fecunda, originando novas descobertas: deve desvendar no- vos
fenómenos ou relações anteriormente não detetadas entre fenómenos já conhecidos.
Kunh depara-se com dois tipos de dificuldades na utilização destes critérios. Individualmente, os
critérios são imprecisos: isto é análises diferentes do que estes critérios realmente representam
levaram a uma diferenciação do uso dos mesmos. Além disso, quando desenvolvidos em conjunto,
mostram repetidamente opor-se uns com os outros; a precisão pode, por exemplo, ditar a escolha
de uma teoria, a abrangência pode ditar a escolha da sua rival. Isto irá depender do que o indivíduo
considera de maior importância.
Kuhn conclui que, embora a precisão, a consistência, a abrangência, a simplicidade e a fecundidade
sejam, de facto, critérios que objetivamente qualquer boa teoria científica deva respeitar, a sua
vagueza e ausência de uma orientação concreta acerca do peso relativo de cada um deles tornam
inevitável a interferência de fatores subjetivos no processo de adoção de um novo paradigma,
nomeadamente a experiência e as preferências pessoais, o prestígio associado aos proponentes de
um paradigma, os apoios financeiros disponibilizados para o tipo de investigação recomendado pelo
paradigma, entre outros. Este argumento pode ser formulado da seguinte forma:
(1) Se os paradigmas fossem comensuráveis, então seria possível justificar a preferência por um
paradigma através de critérios puramente objetivos.
(2) Mas não é possível justificar a preferência por um paradigma através de critérios puramente
objetivos.
(1) Se o significado de termos científicos varia de um paradigma para outro, então os paradigmas
mas são incomensuráveis.
(2) O significado dos termos científicos deve ser entendido numa perspetiva integral e varia de um
paradigma para outro.
Qualquer um dos argumentos anteriores pode ser completado através do seguinte raciocínio:
(4) Se os paradigmas são incomensuráveis, então não podemos saber se as teorias científicas atuais
estão mais próximas da verdade do que as suas antecessoras.
(5) Logo, não podemos saber se as teorias científicas atuais estão mais próximas da verdade do que
as suas antecessoras.
Assim, Kuhn conclui que não há uma aproximação à verdade na mudança de paradigmas. Como
vimos, este filósofo considera que durante o período de ciência normal o desenvolvimento da
ciência é cumulativo. Todavia, as revoluções científicas, que são uma mudança de paradigma,
constituem episódios de desenvolvimento não cumulativo Claro que esta conclusão pode abalar
seriamente a confiança que nós depositamos no conhecimento científico.
Objeções à tese da incomensurabilidade de paradigmas de Kuhn
(1) Se um paradigma resolve as anomalias de outro, então é falso que os paradigmas são
incomensuráveis.
Esta objeção mostra-nos que, se admitimos que o novo paradigma resolve anomalias que o anterior
paradigma apresentava, então isso prova que os paradigmas não são realmente incomensuráveis.
(1) Se os paradigmas são incomensuráveis, então não podemos dizer que as teorias científicas atuais
estão mais próximas da verdade do que as suas antecessoras.
(2) Mas uma vez que as teorias científicas atuais têm uma maior capacidade de prever o
comportamento da natureza do que as suas antecessoras, podemos considerar que estão mais
próximas da verdade do que as suas antecessoras.
A perspetiva de Kuhn acerca do desenvolvimento científico foi fortemente criticada pelos seus
opositores. Devido a sua recusa a aceitar que o progresso científico se limita ao aperfeiçoamento do
paradigma dominante num determinado período de ciência normal, e que é posteriormente
interrompido por uma revolução científica da qual resulta a substituição por um paradigma novo e
incomensurável.