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Liane Bastos Landim

CRP 6 / 12030
Psicóloga (Unifor)
Neuropsicóloga (Unichristus)
Mestre em Psicologia (Unifor)
Residência em Neurologia e Neurocirurgia (Unifesp)
Especialização em Reabilitação Neuropsicológica (USP)
ESCALA DE AVALAÇÃO DE DISFUNÇÃO
EXECUTIVAS DE BARKLEY - BDEFS
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
História do estudo de Funções Executivas
O conceito se originou há mais de 150 anos, nos esforços iniciais dos
cientistas visando entender as funções dos lobos frontais em geral e
do córtex pré-frontal (CPF) especificamente
O termo só apareceu mesmo em 1970, e foi inerentemente
combinado com as funções do lobo pré-frontal e vice-versa, que
referiu-se ao papel executivo do córtex frontal
Nos últimos 30 anos, a frequência de uso do termo FE aumentou
astronomicamente: tornou-se um dos termos mais comuns em
revistas neuropsicológicas.
O que é Funções Executivas?
FE não são exclusivamente funções do CPF, uma vez que o
CPF possui várias redes de conexões para outras zonas
corticais e subcorticais, bem como os gânglios basais, a
amígdala e o sistema límbico, e o cerebelo
O CPF pode certamente se atrelar a certas funções
neuropsicológicas que não seriam consideradas como
subjacentes às FE, como atividades sensoriais-motoras
simples ou automáticas, fala e identificação olfativa.
O que é Funções Executivas?
Luria (1960): "um dos resultados essenciais da destruição dos lobos frontais
em animais é um "distúrbio preliminar....nas sínteses subjacentes à
regulação de formas complexas das operações motoras e à avaliação do
efeito de suas próprias ações, sem o qual o comportamento seletivo,
orientado a metas, é impossível"
Luria creditou o trabalho anterior de Bekhterev por identificar uma
característica essencial do funcionamento do CPF: manutenção da ação
direcionada a objetivos
Por que o nome Funções Executivas?

O CPF é o executivo do cérebro

Suas funções são, portanto, as funções


executivas.
Diversos conceitos sobre Funções Executivas
Não existe uma única definição consensual de FE disponível atualmente.

Stuss e Benson
Fuster (1980) Luria (1966) Lezak (1955)
(1986)

Welsh e Gioia, Isquith,


Butterfield & Martha Denckla
Pennington Guy & Kenworthy
Albertson (1995) (1996)
(1988) (2000)

Hayes, Gifford &


Barkley (1977)
Ruckstuhl (1996)
Atributos comuns nas definições de FE
FUTURO

PREVISÃO DO FUTURO

CONSCIÊNCIA DE TEMPO

RETROSPECTIVA

AUTOCONSCIÊNCIA

INIBIÇÃO
Atributos comuns nas definições de FE

FUTURO

Enfatiza a direção por objetivos das FE - o conceito,


portanto, inclui uma orientação para o futuro,
qualidade intencional ou intencionalidade de
ação.
Atributos comuns nas definições de FE

PREVISÃO DO FUTURO

•Enfatizam o elemento essencial da previsão um


sentido do futuro: "O homem é o animal que se
conecta ao longo do tempo, vinculando o
presente ao futuro“ (Fuster, 1997)
Atributos comuns nas definições de FE
CONSCIÊNCIA DE TEMPO

• A consciência ou sensação de tempo, momento e pontualidade, e o período temporal


anterior em que eventos, ações e consequências estão sendo conscientemente unidos e
avaliados, e decisões estão sendo tomadas sobre o que é desejável (o objetivo que o
indivíduo eventualmente quer alcançar) - sem dúvida, isso varia de acordo com cada
indivíduo e contribui para a variação humana na importância dada ao tempo ou
desconto/recompensa - a medida com que os indivíduos diminuem o valor de uma
recompensa atrasada em comparação a uma recompensa imediata em função do
intervalo de tempo ou atraso. É um fator crítico em algumas teorias da economia e da
tomada de decisão humana no intercâmbio social.
Atributos comuns nas definições de FE
RETROSPECTIVA

§ Para analisar e selecionar entre vários cursos de ação que podem


ser relevantes para alcançar um objetivo futuro, é preciso
conscientemente considerar a experiência de alguém - o que se
fez anteriormente em situações semelhantes, quão bem-
sucedido se foi e como isso pode ser aplicável à situação atual e
ao objetivo desejado. Esta é a função retrospectiva, ou
retrospeção.
Atributos comuns nas definições de FE
AUTOCONSCIÊNCIA

• Capacidade inerente à ação dirigida para objetivos e à previsão necessária para


a sua concepção: a autoconsciência. Cada objetivo representa uma vontade, um
desejo um valor ou, mais geralmente, uma mudança no estado atual das
vontades e necessidades de uma pessoa (redução da insatisfação, aumento do
bem-estar ou satisfação). Isso representa um conflito entre o estado atual do
indivíduo (o que ele ou ela sente agora) e o que o indivíduo quer que esse
estado seja. O conflito é, por definição, um problema para o indivíduo. Para ser
capaz de resolver tais conflitos de estado, o indivíduo deve estar ciente disso -
isto é, deve ser autoconsciente desses estados internos atuais e futuros.
Atributos comuns nas definições de FE
INIBIÇÃO

• Para conceber um estado futuro para si mesmo (embora seja


hipotético), o que significa fazer uma previsão, o indivíduo
deve deixar de responder ao presente (o agora). A atenção
deve ser tirada do momento e redirecionada para si mesmo e
o futuro mentalmente contemplado - o objetivo. Isso requer
inibição - especialmente a inibição das respostas prepotentes.
Funções Executivas (Barkley, 1977)
As FE são a autorregulação direcionada para o

Futuro

A autorregulação é um conjunto de ações autodirigidas usadas pelo indivíduo para definir seu comportamento subsequente,

de modo a alterar a probabilidade de algum resultado futuro (atingir algum objetivo);


Funções Executivas (Barkley, 1977)
Parece haver pelo menos cinco dessas atividades autodirigidas (executivas),
que surgem da mesma maneira que o auto-direcionamento e a
internalização do discurso descritos por Vygotsky (1962)
Em suma, cada componente da FE é um tipo de autorregulação (ação
autodirigida destinada a alterar uma consequência posterior, como
alcançar um objetivo)

Consciente
Voluntária Esforçada
Funções Executivas (Barkley, 1977)
Auto inibição
Jogo
Ação sensória-motora dirigida Autodirigido
Auto inibição

Discurso privado auto-dirigido


Emoção /
Ação sensória-
Automotivação
motora dirigida
Emoção / Automotivação dirigida dirigida

Jogo Autodirigido Discurso


privado auto-
dirigido
Funções Executivas (Barkley, 1977)
1. Auto inibição

Esta representa (a) a capacidade de suprimir ou então interromper ou impedir a


execução de ao reforço ou que seria a mais provavelmente usada em
circunstâncias normais): (b) a capacidade de interromper uma sequência natural
de comportamento em direção a um objetivo se tal sequência se provar ineficaz;
e (c) a capacidade de proteger as ações autodirigidas que ocorrerão
subsequentemente e as uma resposta prepotente ou dominante a um evento (a
resposta anteriormente associada ações orientadas para objetivos que elas
guiam da interferência por eventos externos e internos irrelevantes para o
objetivo.
Funções Executivas (Barkley, 1977)
2. Ação sensória-motora autodirigida.

• Esta é um meio alternativo de definir a memória de trabalho não-verbal e refere-se


ao uso de imagens visuais autodirigidas, juntamente com o ensaio privado de ações
visual-motoras que isso permite. Embora consista em grande parte de imagens
visuais ou do "olho da mente", também abrange os outros sentidos, como
secretamente re-ouvir, re-provar, re-cheirar e re-ssentir (experiência sinestésico-
proprioceptiva). Na totalidade, este componente da FE prevê a reexperiência
consciente e voluntária de eventos passados - como numa encenação metafórica
cartesiana da mente. No entanto, também inclui a capacidade de praticar ou
reproduzir ações sensório-motoras secretamente para si mesmo, como uma forma
de simulação mental comportamental.
Funções Executivas (Barkley, 1977)
3. Discurso privado autodirigido

• Esta é uma explicação alternativa para o sistema de memória de trabalho verbal


comparando com a oferecida pelos modelos de processamento de informações
e modelos cognitivos tradicionais das FE, como o loop fonológico de Baddeley
(1986) em seu modelo de memória de trabalho.
• Baseia-se, em grande parte, na teoria de Vygotsky (1962) sobre a internalização
do discurso para formar a "voz da mente". Os indivíduos conversam consigo
mesmos visando permitir o ensaio secreto de enunciados e frases, bem como
instruções autodirigidas, autoquestionamentos e outros meios pelos quais a
linguagem pode ser usada para autorregulação e resolução de problemas.
Funções Executivas (Barkley, 1977)
4. Emoção/Automotivação autodirigida.

Acredita-se que este componente da FE surja a partir da combinação dos três


primeiros, em que o indivíduo aprende a usar a inibição, as imagens privadas (e as
sensações privadas em geral) e a fala privada para inicialmente inibir emoções
fortes e, em seguida, regulá-las para baixo ou então moderá-las. A pessoa então
emprega esses outros componentes para substituir a emoção forte inicial por
respostas alternativas de emoção, mais consistentes com as demandas sociais e as
suas próprias metas e bem-estar futuro. Como as emoções são estados
motivacionais. o quarto componente das FE também fornece a capacidade de
automotivação - os estados de impulso necessários para iniciar e sustentar uma
ação em direção ao futuro.
Funções Executivas (Barkley, 1977)
5. Jogo' autodirigido - Reconstituição – Planejamento – Resolução de problemas – Fluência de inventividade - Generatividade

• Foi fundamentada no desenvolvimento do brincar e é vista essencialmente como uma atividade em duas etapas .A primeira é a
"análise", ou desconstruir as características do ambiente e o próprio comportamento do individuo perante ele. Na sequência vem a
"síntese", ou o reagrupamento dos componentes do ambiente e estruturas comportamentais em novas combinações. Essas novas
combinações podem então ser testadas em relação a um critério, como um problema ou objetivo, segundo a sua provável eficácia na
superação de obstáculos e a realização dos objetivos.
• Embora isso comece como um jogo manual observável, progride como os outros componentes de FE para serem ativados em si e
internalizados como uma forma de jogo mental privado. Isso permite a manipulação tanto de informações representadas mentalmente
sobre o ambiente quanto de estruturas comportamentais predeterminadas, de modo a produzir novas combinações que podem servir
como opções para resolução de problemas orientados a objetivos. É possível que esse componente possa ser subdividido em módulos
não-verbais e verbais que proporcionem fluência e geneatividade em cada uma dessas formas de comportamento.
• Acredita-se que fluências não verbais, verbais e de ação surjam a partir deste componente das FE. Uma característica própria desta visão
das FE é que ela define operacionalmente o termo (autorregulação através do tempo com vistas ao futuro), especifica as suas cinco
funções componentes (inibição, ação sensório-motora, fala privada, emoção/motivação e o brincar) e afirma por que elas são de
natureza executiva (são ações autodirigidas que alteram as consequências futuras). FE são, portanto, um conjunto autodirigido de ações
destinadas a alterar um resultado (atingir um objetivo, por exemplo) tardio (no futuro). As ações que não são autodirigidas, incluindo
qualquer uma usada para atingir o objetivo, não são consideradas de natureza executiva. Mas as ações autodirigidas que orientam essas
outras atividades são executivas.
Elementos das Funções Executivas
§Muitos autores observaram que a ação dirigida para objetivos requer um conjunto de processos
neuro-cognitivos mais frequentemente identificados da seguinte forma.

Memória de trabalho

Planejamento

Solução de Problemas

Auto-monitoramento

Controle de interferências

Automotivação
Elementos das Funções Executivas
§Muitos autores observaram que a ação dirigida para objetivos requer um conjunto de processos
neuro-cognitivos mais frequentemente identificados da seguinte forma.

Memória de trabalho

Reforçando a informação na mente, como


objetivos e subobjetivos, e os meios para
alcançá-los - o plano.
Elementos das Funções Executivas
§Muitos autores observaram que a ação dirigida para objetivos requer um conjunto de processos
neuro-cognitivos mais frequentemente identificados da seguinte forma.

Planejamento

• Mapeando as táticas e as estratégias (os conjuntos de ações


conhecidos ou os meios necessários para atingir o objetivo e
quaisquer subobjetivos) e, em seguida, construindo as estruturas
comportamentais transtemporais e sua hierarquia, que irá superar o
atraso de tempo e alcançar o objetivo final, o qual, claro, deve ser
levado em consideração.
Elementos das Funções Executivas
§Muitos autores observaram que a ação dirigida para objetivos requer um conjunto de processos
neuro-cognitivos mais frequentemente identificados da seguinte forma.

Solução de problemas

• Os meios de gerar múltiplas ações alternativas possíveis que podem ser necessárias quando as ações dirigidas a
objetivos (planos iniciais) são frustradas ou malsucedidas e o plano precisa ser revisto. Pode até ser necessário
reconstruir o plano inicial para começar, porque, como observado acima, a ação dirigida a objetivos surge quando há
um conflito entre o estado atual (o que é) e o estado desejado (o que é desejado). Tal conflito, por definição, é um
problema. Portanto, a resolução de problemas pode precisar ser invocada logo no início da definição de uma ação
dirigida a objetivos. A capacidade de resolução de problemas requer mentalmente testar ou simular as opções para o
provável sucesso (consequências) - ou seja, qual sua capacidade de atingir o objetivo. Isso provavelmente envolverá a
capacidade de manipular o conteúdo da memória de trabalho ou o que se está tendo em mente. Este é
predominantemente um processo de fluência de ação (Piatt, Fields, Paolo &'Troster, 1999) em vez de fluência de
nomeação de objetos. Em suma, o indivíduo pode considerar várias maneiras de fazer algo e então selecionar a que
mais provavelmente alcançará o objetivo, dada a sua experiência.
Elementos das Funções Executivas
§Muitos autores observaram que a ação dirigida para objetivos requer um conjunto de processos
neuro-cognitivos mais frequentemente identificados da seguinte forma.

Automonitoramento

• Um processo continuo de feedback comparativo autossupervisionado, que julga a


adequação das ações sendo tomadas pelo indivíduo e suas consequências
(especialmente erros que possam sinalizar uma falha do plano)versus o plano
desejado e seu objetivo. Podemos inferir que essa capacidade inclui uma outra
capacidade, de mudar (ou interromper e alterar) o fluxo contínuo de
comportamento como consequência dessa atividade avaliativa, refletindo
conforme a ação se torna mais sensível ao erro (ou ineficácia do plano original).
Elementos das Funções Executivas
§Muitos autores observaram que a ação dirigida para objetivos requer um conjunto de processos
neuro-cognitivos mais frequentemente identificados da seguinte forma.

Controle de interferência

• Uma capacidade inibitória sustentada para prevenir


interferências de situações irrelevantes para o objetivo e
respostas a elas (distratibilidade), tanto externas como
internas. Isso serve para proteger as outras atividades de FE
de interrupção (deixando-as livre de distração).
Elementos das Funções Executivas
§Muitos autores observaram que a ação dirigida para objetivos requer um conjunto de processos
neuro-cognitivos mais frequentemente identificados da seguinte forma.

Automotivação

• O impulso, a vontade ou a motivação necessária para sustentar


ações autodirigidas para um objetivo futuro. Não importa o quão
grande o plano ou mapa mental construído para alcançar uma
meta seja, nenhum objeto automatizado que se locomove para
uma ação pode ir a qualquer lugar sem uma fonte de combustível.
Características das Funções Executivas
Todas essas funções ou capacidades necessárias para se envolver em
ações dirigidas a objetivos são iniciadas e direcionadas para o
benefício do eu e dos próprios interesses.
FE é, por definição, uma autorregulação para fins de interesses
próprios.

A "autorregulação" é qualquer ação direcionada por um indivíduo a si


próprio que altera o seu comportamento subsequente, de modo a
alterar a probabilidade de um resultado futuro (um objetivo) para si.
Características das Funções Executivas
O chefe executivo aqui é, portanto, o eu - o próprio sentido consciente de si mesmo ao
longo do tempo (passado presente e futuro) e, consequentemente, de suas
necessidades, vontades e desejos (interesses próprios) como se percebe ao longo do
tempo.

Os objetivos para os quais as FE e seus componentes estão sendo utilizados são em


grande parte objetivos sociais, que ocorrem no contexto de um grupo social. Esses
objetivos sociais estão sendo almejados frequentemente junto com outros indivíduos,
às vezes contra outros, e quase sempre no contexto mais abrangente de outros. Esse é
o nicho relativo ao meio em que as FE evoluíram, e foi para resolver os problemas
desse nicho que provavelmente elas evoluíram
Características das Funções Executivas
Eu, portanto, defino FE como a autorregulação ao longo do tempo para alcançar os
objetivos próprios (interesses próprios), muitas vezes no contexto de outros, portanto, um
metaconstruto.

Tal autorregulação ao longo do tempo para atingir metas, muitas vezes em um contexto
social, requer múltiplos módulos mentais interativos ou capacidades neuropsicológicas
(construtos) que juntos contribuem para FE (o metaconstruto).

Distúrbios ou dificuldades no funcionamento efetivo de qualquer módulo atrapalham as


FE, mas de uma maneira diferente de distúrbios em outros módulos. Em outras palavras, o
conceito de FE, definido como autorregulação, não é uma coisa única, mas envolve
múltiplas atividades autodirigidas.
Características das Funções Executivas
Essas são as ideias que levaram à construção da
BDEFS

O que é a BDEFS?

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