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RECONHECIMENTO
(MEMORE)
Manual Técnico
TESTE DE MEMÓRIA DE
RECONHECIMENTO
(MEMORE)
Manual Técnico
Ivan Sant’Ana Rabelo
Luis Anunciação
Roberto Moraes Cruz
Nelimar Ribeiro de Castro
© 2020 Nila Press Livraria e Editora Ltda ME
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, para qualquer finalidade,
sem autorização por escrito dos editores.
1ª Edição 2020
Editor Ingo Bernd Guntert
Revisão Tikinet Edição Ltda
Diagramação Fabio Alves Melo
Capa “OitoSete Estúdio Criativo”
Douglas Rezende
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-990457-0-7
FICHA-SÍNTESE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
A Memória. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Memória Visual de Reconhecimento de Curto Prazo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
O modelo de Baddeley . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Memória Sensorial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Memória de Curta Duração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Memória de Longa Duração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Memória de Trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Percepção Visual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Pesquisas no Campo da Memória. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Resultados e discussão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Resultados Psicométricos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Modelo Psicométrico Confirmatório. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Modelo da Teoria de Resposta ao Item (TRI). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Análise do Funcionamento Diferencial dos Itens (DIF). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Análise de Fidedignidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Análise Correlacional com Outros Instrumentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Tabelas para Normatização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Resultados Estatísticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
V – CASOS ILUSTRATIVOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Caso 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Caso 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Caso 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
ANEXO I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
FICHA-SÍNTESE
Objetivo
O teste MEMORE objetiva avaliar a memória visual de reconhecimento de curto prazo, que se
refere à capacidade de memorizar, resgatar, reconhecer e discriminar um estímulo, informação ou objeto
como algo anteriormente já visto e retido por um breve período. A tarefa propõe memorizar círculos
coloridos por 1 minuto e reconhecê-los após uma atividade distratora padronizada. Os círculos apresen-
tam-se setorialmente divididos em verde, amarelo e vermelho.
Público-alvo
Os estudos para estabelecer normas e reunir evidências de validade e precisão do teste MEMORE
foram baseados em dados coletados entre 2011 e 2018. A amostra que compôs o estudo normativo
abrangeu 1.448 pessoas (sendo 1.444 participantes com dados completos), das quais 53% eram mulheres.
A idade média dos homens foi de 30 anos (DP = 10,6 – mínima de 14 e máxima de 61) e das mulheres,
23,7 (DP = 8,3 – mínima de 15 e máxima de 60), com nível de escolaridade do Ensino Fundamental ao
Superior. Os dados foram coletados nos estados de Bahia, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de
Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.
Material
Para uso do teste MEMORE são necessários: manual, caderno de aplicação, protocolo de respostas,
crivo de apuração, caneta e cronômetro. A ficha de memorização dos estímulos já está contida no próprio
caderno de aplicação.
Aplicação
O teste MEMORE pode ser aplicado coletiva ou individualmente. As instruções contidas na seção
“Instruções de aplicação, apuração e interpretação” devem ser seguidas rigorosamente. Para a realização
do teste são disponibilizados 1 minuto para visualizar a ficha de memorização e 2 minutos para executar
a tarefa proposta. Estima-se que, com as instruções e exercício de exemplo, o tempo de aplicação total do
teste seja de, aproximadamente, 10 minutos.
Correção e Interpretação
A correção do MEMORE foi feita com base no modelo clássico da teoria de detecção de sinal,
prevendo duas possibilidades de acerto e duas possibilidades de erro. Assim, caso o respondente assinale
corretamente um estímulo presente na etapa de memorização ou não assinale um estímulo ausente, será
contabilizado um ponto. Caso não marque um estímulo ausente na etapa de memorização ou não mar-
que um estímulo presente nessa etapa, o respondente perde um ponto. O MEMORE é composto por
10 MEMORE | MANUAL TÉCNICO
24 estímulos e, portanto, a pontuação máxima é de 24 pontos. As respostas do treino não são incluídas
na contagem. Após obter a pontuação bruta (PB), o examinador deverá localizar o percentil correspon-
dente consultando as tabelas normativas e a respectiva classificação. A transformação da pontuação do
MEMORE em percentil permite verificar a posição relativa dos indivíduos do grupo normativo, bem
como localizar o desempenho de outros participantes por meio da comparação com os obtidos pela
amostra de padronização. Além da correção manual, é possível utilizar a correção online do MEMORE
que pode ser realizada por meio da digitação de respostas ou por aplicativo de leitura via celular. Consulte
o site: www.nilapress.com.br para informações.
Contexto de Avaliação
O teste MEMORE pode ser aplicado em pessoas com diversos níveis de escolaridade, de baixa a
superior, e há tabelas de normas brasileiras adaptadas a diferentes agrupamentos, conforme apresentado
na seção de normas. O teste apresenta-se discriminativo entre grupos de baixa e alta habilidade mne-
mônica, mas é mais indicado e informativo para pessoas com baixa habilidade. O manual também traz
estudos sobre a amostra de trânsito em que tanto candidatos à primeira habilitação quanto à renovação
foram avaliados e comparados. O instrumento pode ser aplicado em processos de avaliação nos quais há
necessidade de aferir a memória de reconhecimento visual de curto prazo para rastreio (screening) inicial.
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos também de citar algumas instituições e seus representantes que nos receberam e apoia-
ram de diferentes formas, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento científico:
Por fim, um agradecimento mais que especial a todos aqueles que voluntariamente responderam
ao teste durante a pesquisa. Aproveitamos também para agradecer a todos que não estão listados, mas
direta ou indiretamente contribuíram para que todo este esforço de pesquisa se tornasse possível e
mais harmonioso.
Agradecemos também aos nossos familiares e amigos pelo apoio e compreensão em momentos de
ausência – afinal, todos os desafios foram também nos ensinando e deixando a jornada ainda mais com-
pleta. A todos, nossos mais sinceros sentimentos de gratidão.
I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Memória
A memória é um dos processos psicológicos que compõem a cognição, responsável pela capacidade
de codificar, armazenar, reter e recuperar informações e experiências passadas no cérebro humano. Por
isso, as atividades mnemônicas afetam ou influenciam o comportamento e, portanto, regulam a intera-
ção das pessoas com o ambiente que as cerca. No âmbito dos processos de aprendizagem, constitui a
base para a produção do conhecimento, desenvolvimento de habilidades e planejamento (Park & Festini,
2017). Dessa maneira, investigar os mecanismos de funcionamento da memória e as estruturas cerebrais
envolvidas na sua formação sempre foi um dos grandes desafios da ciência, desde a antiguidade (Calle-
garo & Landeira-Fernandez, 2007; Schacter & Addis, 2007).
Por sua intrínseca interação com outras habilidades e características psicológicas, a memória é
essencial para a experiência humana – a escrita, por exemplo, desde seus primórdios não tinha o pro-
pósito apenas de comunicar, mas também de reter informações para acesso posterior. Nesse sentido,
a memória, pelo seu poder de registro natural de informações, de recordar experiências, fatos, impres-
sões, habilidades e hábitos aprendidos anteriormente, tem se mostrado um mecanismo essencial ao
processo evolutivo da espécie humana (Parkin, 2016). A capacidade de memorizar pode e deve ser
considerada, também, como responsável por parte importante do funcionamento de nossa sociedade,
e atividades que a requeiram cada vez mais levam o ser humano a criar métodos ou recursos para redu-
zir o esforço de memorização (Oliveira, 2007).
A memória é empregada nos mais diferentes contextos e momentos, de coisas mais simples a tarefas
que apresentam maior complexidade. Por exemplo, durante um processo de retenção de informações,
algumas devem ser lembradas tais como foram observadas, como ao digitar a sequência numérica de um
código de barras após ter examinado o boleto impresso ou ao discar um número de telefone consultado
numa agenda para realizar a ligação. Em outras circunstâncias, é necessário manipular informações, tais
como em um discurso em que seja necessário relacionar o tema a questões da atualidade ou em um cál-
culo aritmético em que seja preciso lembrar de resultados intermediários etc.
Funções cognitivas, tais como codificação e recuperação de informações, conservação e evocação,
entre outras, são fenômenos estudados por distintas abordagens interdisciplinares. Boa parte do que se
sabe hoje a respeito da constituição da memória fundamenta-se em investigações combinadas entre as
áreas de biologia molecular, psicologia e medicina (Izquierdo, 2011). São conceituadas em termos de
unidades cognitivas, padrões de reconhecimento, recuperação de dados e informações para compreender
como o sistema nervoso central está programado, no que se refere à obtenção e fornecimento de repre-
sentações do mundo, para que estas informações possam ser armazenadas e recuperadas (Anunciação,
Portugal, & Landeira-Fernandez, 2018).
Assim, conceitua-se a memória como a capacidade de registrar, manter e evocar experiências e fatos
ocorridos que envolvem codificação, armazenamento e resgate de informações (Dalgalarrondo, 2008;
Izquierdo, 2011). O estudo do tema vem se beneficiando do conceito de modularidade de funções, isto
é, da noção de que memória compreende um conjunto de habilidades mediadas por diferentes módulos
do sistema nervoso que funcionam de forma independente, porém cooperativa (Helene & Xavier, 2003).
14 MEMORE | MANUAL TÉCNICO
Izquierdo (2011), Schlindwein-Zanini (2009) e Gil (2003), entre outros, aplicam determinadas divi-
sões para compreender a memória, sendo as mais conhecidas a memória declarativa (explícita), não
declarativa (implícita), de curto e de longo prazo.
A primeira delas relaciona-se à recordação de fatos e eventos, como datas, números de telefone etc.,
e apresenta dois subtipos, sendo um relacionado a coisas que lembramos sobre nossas vidas (memó-
ria episódica), abarcando a consciência dos eventos passados, e outro relacionado ao conhecimento do
mundo externo (memória semântica), que independe de qualquer correlação com a circunstância especí-
fica que originou o aprendizado. O objetivo principal da memória declarativa é proporcionar à mente um
arquivamento de dados mais extenso, do qual as informações possam ser evocadas a qualquer momento,
sempre que necessário (Lent, 2010).
Em contrapartida, a memória não declarativa ou implícita relaciona-se a procedimentos e habilida-
des majoritariamente motoras, como cozinhar, dirigir, praticar uma modalidade esportiva, entre outros.
É adquirida e evocada por meio de experiências de tentativa e erro, subdividindo-se em quatro possi-
bilidades: a) priming, utilizando dicas ou pistas que correspondem à imagem de um evento, preliminar
à compreensão do significado; b) procedimental, que emprega hábitos e habilidades individuais, como
nadar e dirigir, sem que seja preciso descrevê-los verbalmente; c) associativa; e d) não associativa, que está
relacionada a algum tipo de resposta ou comportamento.
A memória associativa pode ser exemplificada pela produção de saliva instigada pela visão ou pelo
cheiro de uma comida saborosa, que em algum momento da vida foi associada ao ato de se alimentar (em
que a boca saliva se preparando para a alimentação). Já a memória não associativa é usada, por exemplo,
quando, sem se dar conta, aprende-se que o latido repetitivo de um cão não traz riscos, possibilitando o
relaxamento e o desprezar desse estímulo (Kandel & Squire, 2000). As memórias não declarativas reve-
lam-se quando a experiência prévia facilita o desempenho de uma tarefa sem a necessidade da evocação
intencional (Xavier, 1996).
A memória de curto prazo (MCP), por outro lado, está relacionada ao processo de retenção de algo
por um breve período, sejam segundos, minutos ou até poucas horas, com capacidade limitada. Isso torna
necessário, portanto, que depois de um pequeno intervalo algum processo de repetição seja realizado para
impedir que as informações sejam esquecidas. A MCP também é chamada de memória de curta duração
ou curto termo.
Por fim, a memória de longo prazo (MLP) permite conservar informações por horas, meses, déca-
das ou por toda a vida, possibilitando o aprendizado e a retenção dos dados, assim como a estocagem
organizada de um aspecto associativo multimodal, seja semântico, espacial, temporal, afetivo, combinado
etc. (Baddeley, 2000). A MLP tem capacidade ilimitada, e a informação é armazenada de forma perma-
nente. Este processo é chamado de consolidação, e pode ser alcançado por meio da repetição ou quando
informações que ajudam nossa adaptação ao meio ambiente passam, ao longo do tempo, da MCP para
a MLP (Lent, 2010).
Finalmente, estudos recentes em neurociência têm mostrado que a dinâmica entre MCP e MLP pode
ter alguma autonomia ou, até mesmo, dissociação funcional (Bianchin, Souza, Medina, & Izquierdo, 1999;
Kitamura et al., 2017).