Você está na página 1de 8

PSICO-MAGIA

Os ensinamentos de Alexandro Jodorowsky

1 – Psico-magia.

…Não se deve ler o futuro, mas conformarmo-nos com o presente,


centrando as leituras no conhecimento de si mesmo, partindo do
princípio de que é inútil conhecer o futuro quando ignoramos quem
somos, aqui e agora.

…Aceder às dificuldades de uma pessoa, é aceder à sua família,


penetrar na atmosfera psicológica do seu meio familiar. Todos
estamos marcados, para não dizer contaminados, pelo universo
psico-mental dos nossos familiares. Assim, muitas pessoas
assumem uma personalidade que não é sua, mas que provem de
um dos elementos do seu envolvimento afectivo.

…O psico-mago só deverá ter, como objectivo, o fazer o bem. Não


pedir dinheiro a seus pacientes, mas esforço. A sua vontade de
mudar deve ser a retribuição. A psico-magia não se pode
transformar num negócio.

…A psico-magia não pode ser limitada por parâmetros médicos ou


paramédicos. Deve repousar, principalmente, no desprendimento
de quem a pratica.

…Para além da imaginação intelectual, existe a imaginação


sentimental, a imaginação sexual, a imaginação corporal, a
imaginação económica, a imaginação mística, a imaginação
científica… A imaginação actua em todos os terrenos, incluindo os
que consideramos racionais. Devemos, portanto, desenvolvê-la,
para abordar a realidade, não a partir de uma perspectiva única,
mas a partir de vários ângulos. Deveremos aceitar o poder
terapêutico da imaginação.

…Toda a vida é um sonho. Quando vivemos o agora, esse instante


parece-nos real, mas passada uma hora pertencerá à memória, e
as imagens da memória têm exactamente a mesma qualidade que
as imagens de um sonho.

…A Arte cura porque teremos que nos curar de não sermos nós
mesmos e de não estarmos no presente. Há uma frase que diz: “Se
não és tu, quem és? Se não estás aqui, onde estás? Se não és
agora, quando serás?”. Se conseguirmos solucionar o quando, o
aqui e o quem, estamos sendo nós próprios, e já nos conseguimos
curar.

…Conhecer-se a si mesmo é conhecer a humanidade e o Universo.


É passar do singular ao plural.

…A enfermidade consiste em que cortamos as ligações com o


mundo. A enfermidade é falta de beleza, e a beleza é a união. A
enfermidade é a falta de consciência, e a consciência é a união com
nós próprios e com o universo.

…Há duas posturas: a daqueles que têm em conta o “que dirão” e a


daqueles que se preocupam com o “que direi eu de mim mesmo”.

…Existem diversos níveis de consciência. O primeiro, é um nível


animal, que pensa: “O que tenho, tenho-o eu”. Sobre esse nível,
está um nível infantil, onde tudo é um jogo superficial; nesse estado
não há consciência, nem de infinito, nem de eternidade, nem de
morte, nem de universo. Depois há outro nível de consciência
adolescente, onde todas as soluções do mundo estão no casal,
nessa reduzida célula de amor, e que é um nível da maioria das
revistas cor-de-rosa, que as histórias da televisão ou do cinema
desenvolvem. Mas se vamos mais longe, podemos aceder a um
nível adulto, e aí aparecem “os outros”. Mesmo assim, existem os
adultos egoístas e os adultos com consciência social e planetária.
Os primeiros exploram os mais débeis ou os menos inteligentes,
cria indústrias nocivas ou monopolizam o poder político. São
nefastos. Os segundos compreendem que os outros são tanto como
eles, que se devem preocupar com as catástrofes sociais e
ecológicas, ou seja, do mundo em que todos vivemos. São
responsáveis. Mas acima de todos eles existe um nível de
consciência cósmica, onde os seres vivem no universo inteiro,
espaço infinito, tempo eterno, permanente impermanência… Nesse
nível encontram-se esses grandes temas como o “conhece-te a ti
mesmo”. E para além disso existe uma consciência divina, onde
poderíamos conceber a existência do construtor a que chamamos
Deus.

…Uma criança só é cruel se estiver doente. No seu comportamento


reproduz o psiquismo da família. É ignorante e copia um ambiente.
Há pais que actuam como gurus. Quando uma criança é racista,
não é a criança que é racista, mas sim o pai. Não podemos falar de
maldade infantil; as crianças não são cruéis, isso é uma lenda. Só
são inconscientes e ignorantes, não sabem; reproduzem a conduta
dos adultos.

…Quando perguntamos por um futuro possível, já estamos


mostrando os nossos limites, ao pensar que há um futuro possível.
Se abrirmos a mente a esse tema, e aceitamos que há um futuro,
devemos reconhecer que há infinitos futuros possíveis que vamos
escolhendo, pois a cada momento se abre perante nós uma
diferente possibilidade. Construímos o nosso futuro com os nossos
passos.

…A psico-magia consiste em dar conselhos para solucionar


problemas, aplicando de maneira não supersticiosa as técnicas da
magia.

…Quando alguém tem um problema, é necessário introduzi-lo no


seu problema para que fique consciente dele. É necessário levá-lo
ao limite do seu problema, ajudando-o a enfrentar os seus medos.
Uma vez superados estes, a angústia desaparece e a pessoa
recuperar. Se alguém tem medos deve enfrentá-los.

…Não curamos os outros, mas podemos ajudá-los a curarem-se.

…Todos observamos a vida a partir de um ponto de vista mais ou


menos variável, em determinado momento. Quando mudamos esse
ponto de vista, a nossa vida muda.

…No momento em que fazemos algo que nunca tínhamos feito, já


estamos a caminho da cura. É necessário romper com as rotinas.
…Não devemos partir do pressuposto que todas as enfermidades
são psicológicas, mas devemos observar o que há de psicológico
nas enfermidades.

2 - Da magia à psico-magia.

… Preocupado em descobrir a origem das doenças, consideramos


os males como sintomas físicos de feridas psicológicas, provocadas
por relações familiares ou sociais dolorosas.

… Quando se quer deitar mais água num copo que já está cheio, é
necessário vazá-lo primeiro. Assim, um espírito pleno de opiniões e
especulações, não pode aprender. Teremos que o despejar, para
que fique aberto a novas situações.

… O que nós designamos como futuro, não é mais do que uma


repetição do passado.

… Examinar as dificuldades que alguém tem, é entrar na atmosfera


psicológica do seu meio familiar. Devemos compreender que
estamos marcados pelo universo psico-mental dos nossos
familiares. Pelas suas qualidades, mas também pelas suas ideias
loucas, os sentimentos negativos, os desejos inibidos, os actos
destrutivos. O pai e a mãe projectam sobre a criança esperada
todos os seus fantasmas. Querem vê-lo realizar o que eles mesmos
não puderam viver ou obter.

… A gestação de um ser humano raramente se realiza de maneira


sã. Sobre o feto influem as doenças e as nevroses dos pais.

… A maneira como nascemos, muitas vezes incorrecta, afasta-nos


de nós próprios para toda a vida.

… As religiões extremistas criam frustrações sexuais, doenças,


suicídios, guerras, desgraças. As interpretações perversas da
Torah, do Antigo e Novo Testamento, do Corão, ou das Sutras,
causaram mais mortes que a bomba atómica.
… O paciente deve estar em paz com o seu inconsciente, sem ser
independente dele, mas fazendo com ele uma aliança. Se
aprendermos a sua linguagem, ele trabalhará para nós. Se a família
que se encontra em nós, ancorada nas nossas memórias infantis, é
a base do nosso inconsciente, deveremos considerar cada um dos
nossos progenitores como um arquétipo. Devemos atribuir-lhes o
nosso nível de consciência, exaltando-os, imaginando-os a atingir o
melhor deles próprios.

… As pessoas não querem sofrer mais, mas não estão dispostas a


pagar o preço, ou seja, a mudar, a não viver mais em função dos
seus “preciosos” problemas.

… Em vez de adivinhar pelo Tarot o que poderá estar escondido, é


preferível submeter a pessoa a um interrogatório serrado, fazendo
perguntas sobre o seu nascimento, os progenitores, os tios, os
avós, os irmãos, a vida sexual, a sua relação com o dinheiro, os
seus complexos sociais, as suas crenças, a sua vida sentimental, a
sua saúde, as suas faltas.

… Se o terapeuta julga em nome de uma moral, não consegue


curar. A atitude de confessor deve ser amoral. Se não for assim os
segredos nunca virão à luz.

… O terapeuta apresenta-se somente como o conhecedor de uma


técnica, como um instrutor, preocupando-se em explicar ao paciente
o significado simbólico de cada acto e a sua finalidade. O
consultante deverá entender o que ele está a fazer.

… Por vezes, para resolver problemas, não devemos hesitar em


recomendar actos que, para pessoas com preconceitos, poderão
parecer pornografia. No entanto, se queremos curar ou ajudar
alguém que sofre espiritualmente, é necessário fazer-lhe
compreender que os seus órgãos sexuais, tal como todo o corpo,
são santuários onde se pode encontrar a energia a que chamamos
Deus.

… O inconsciente toma os símbolos por realidades.

… O arquétipo que provoca a frustração do paciente é a mãe,


reforçado pelo da avó e da bisavó. Esta coligação é a mais
poderosa de todas e só pode ser vencida por um arquétipo de
carácter divino.

3 – Da psico-magia ao psico-xamanismo.

… Por muito importantes que sejam as intervenções da psico-


magia, se o consultante não se esforçar tanto como o terapeuta, se
não realiza uma alteração mental, o trabalho só acalmará os
sintomas; aparentemente elimina a dor, mas deixa a sua origem
intacta, e esta acabará por crescer.

… O cérebro, quando não encontra o seu centro autêntico,


luminoso, que o manterá num estado de êxtase contínuo, vive
angustiado. Não encontrando o verdadeiro prazer, que não é mais
do que ter consciência de si próprio, ao contrário do uso de uma
máscara, procurará as situações menos dolorosas.

… Quanto maior for o nível da consciência, maior será a liberdade.

… Frequentemente, por muito bem-intencionado que seja o


consultante, as suas defesas inconscientes são tão grandes que ele
não poderá colaborar. Nenhuma palavra, ou conselho, conseguirá
passar as barreiras da sua falsa identidade, nenhuma tentativa de
tomada de consciência se poderá impor ao seu ponto de vista; será
afastado do caminho que o poderá conduzir à sua própria
descoberta, pelos seus sentimentos negativos.

… Utilizando um bom óleo, devemos esfregar a pele,


continuamente, com as duas mãos. O corpo deixa de estar dividido
em partes, tornando-se um todo, um caminho que não quer chegar
a lado nenhum, que só se quer distender. As mãos passam e
repassam, tomando de cada vez direcções diferentes; o organismo
perde os seus limites, sentindo-se infinito. Depois, a massagem
começa a abrir. As mãos, sobre qualquer parte do corpo, são
colocadas juntas, lado a lado, pressionando com intensidade e
afastando-se, transmitindo ao paciente a ideia de que está a ser
aberto. Por essa abertura metafórica, saem os sofrimentos
acumulados, o amor retido, a cólera, o rancor. O corpo inteiro é uma
memória.

… Gritos e crises de furor aparecem quando se abre o peito. Das


costas saem ressentimentos contra traições. Abrindo a púbis, pode-
se encontrar o ódio da mãe pelos homens, ou as culpas nascidas
por um aborto, ou a angústia de uma homossexualidade frustrada.

… É importante atribuir aos pés a mesma importância que às mãos.


Estas extremidades, a maior parte do tempo prisioneiras de
sapatos, conservam, pelo facto de receber o peso de todo o corpo,
informações importantes. Com massagens, conduzem-se os
pacientes a viver completamente a consciência dos seus pés.
Devemos fazê-los penetrar, cada vez mais profundamente, na
planta dos pés, até que sintam a alma. Fortifica-se o calcanhar para
que não recue perante a vida. Esticam-se os dedos na direcção de
um futuro infinito.

… Devemos massajar o espaço que envolve um corpo, imaginando


que é uma aura que lhe pertence.

… Frequentemente, o paciente sofre de inibições ou antipatias


irracionais. Deveremos então tocá-lo como se fosse nosso filho ou
filha. É esse o segredo da imposição Crística das mãos.

… Para criar um lugar mágico, basta que o terapeuta passe a palma


das mãos sobre o solo, desenhando um círculo invisível. Com esta
forma de teatro sagrado, podemos realizar todos os milagres.

… Se a realidade é semelhante a um sonho, devemos agir sem


sofrimento, como o fazemos num sonho lúcido, sabendo que o
mundo é o que nós pensamos que ele seja. Os nossos
pensamentos atraem os seus equivalentes. A verdade é tudo o que
é útil, não somente para nós mas também para os outros. Todos os
sistemas, necessários em determinado momento, tornam-se
arbitrários mais tarde.

… Nós podemos começar a mudar o mundo, mudando os nossos


pensamentos.
… A cura miraculosa é possível, mas depende da fé do paciente. O
terapeuta deve guiar o paciente subtilmente, para o fazer acreditar
no que ele próprio acredita. Se o terapeuta duvidar, não haverá
recuperação possível. A vida é uma fonte de saúde, mas essa
energia só surge onde concentramos a nossa atenção que será,
não somente mental, mas igualmente emocional, sexual e corporal.

… Os maus hábitos podem ser instantaneamente abandonados, se


cessarmos de nos identificar com o passado. O poder do agora
cresce com a atenção sensorial.

… Para além da imaginação intelectual, existe a imaginação


emocional, sexual, corporal e sensorial, assim como imaginação
económica, mística, científica e poética. Elas agem em todos os
domínios da nossa vida, mesmo nos que consideramos racionais.

… Certas doenças orgânicas podem ser curadas por elementos


simbólicos.

4 – Do Tarot.

…O Tarot é uma máquina metafísica. Um organismo de imagens e


formas muito difícil de resumir, uma das primeiras linguagens
ópticas da humanidade.

…O Tarot responde a regras de óptica projectiva. É como um


espelho que nos permite desenvolvermo-nos, na medida em que
vamos vendo mais e mais de nós próprios.

…Para ler o Tarot, deveremos identificar-nos totalmente com o


consultante, embora sem interferir nos seus assuntos. É necessário
respeitá-lo, sem pretender influenciá-lo ou utilizá-lo.

Você também pode gostar