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artefíssil
H a n s U l r ic h G u m b r e c h t
Atmosfera,
ambiência,
Stimmung
Sobre um potencial
oculto da literatura
TRADUÇÃO
COÍITRAPOnTO
E d it o r a
PUC RIO
PUC
Reitor
Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J.
Vice-Reitor
Pe. Francisco Ivern Simó, S.J.
Decanos
Prof. Paulo Fernando Carneiro de Andrade (CTCH)
Prof. Luiz Roberto A. Cunha (CCS)
Prof. Luiz Alencar Reis da Silva Mello (CTC)
Prof. Hilton Augusto Koch (CCBM)
© 2 0 1 1 , Carl Hanser Verlag Miinchen
Título original: Stimmungen Lesen: über eine verdeckte
Wirklichkeit der Literatur
Editora PUC-Rio
Rua Marques de S. Vicente, 225
Casa Agência/Editora - Projeto Comunicar
Gávea - Rio de Janeiro, RJ - Cep 22453 -900
Telefax; (21) 3527- 1760/ 1838
Site: www.puc-rio.br/editorapucrio
E-mail: edpucrio@puc rio.br
G984a
Cumbrecht, Hans Ulrich, 1948-
Atmosfera, ambiência, Stunmung: sobre um potencial oculto da literatura /Haus
Ulrtch Gumbreeht: tradução Ana Isabel Soares - 1. ed. - Rio de Janeiro : Contrapon
to : Editora PUC Rio, 2614
L76p,; 21cm
Tradução de: Stimmungen Lesen: riber eine verdeckte Wirklichkeit der Literatur
ISBN 978-85-7866-097-0
ISBN (PUC-Rio) 978-85-8006-132-1
Momentos 35
Alegrias fugazes nas canções de
Walther von der Vogeiweide 37
Situações 129
A energia iconoclasta do surrealismo 131
Agradecimentos 169
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Peter Brooks já há alguns anos, eu gostaria de propor a ideia
de que os intérpretes e os historiadores da literatura leem
com a atenção voltada ao Stimmung. Uma das razões pelas
quais recomendo tal abordagem é que esta é a orientação de
grande número de leitores não profissionais {que não estão
- e, claro, não têm de estar - conscientes desse fato}.
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Por estas palavras podemos perceber que não era tão claro
para Friedrich que artistas como ele mantivessem uma rela
ção adequada com as coisas-do-mundo. Daí advem que a
harmonia tivesse se tomado o objeto do seu desejo. A situação
incitava ao Stimmung - atmosfera e ambiente. Esse ideal
emergiu na transição do século XVIII ao X IX , quando os
grandes pensadores (Goethe e Kant, entre outros) buscavam
a harmonia entre a existência e as coisas-do-mundo - uma
relação wadequada” que deixara de ser, por si só, evidente.
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cutamos a voz da vida no marulhar da maré, no soprar
do vento, no movimento da nuvem, no solitário clamor
das aves. Parte disso é a demanda que faz o coração - um
“libertar-se”, se me permitem, infligido pela natureza.
Isso não é possível acontecer num quadro; mas encontrei
o que queria quando olhei para esse: uma demanda que
meu coração realizava em busca daquele quadro, e a li
bertação que ele me infligia. Assim, eu mesmo me trans
formei no monge; o quadro tornou-se a duna.
mais que hoje a associação nos pareça óbvia. Até aí, pensa
va-se ser indispensável uma componente de harmonia para
que esta dimensão existisse, e a harmonia é incompatível
com o sublime. Friedrich trabalhou com uma gama mui
to vasta de Stimmungen, no sentido que o termo só mais
tarde vir ia a adquirir; isto é, ele o fez de um modo que es
tava à frente do pensamento e dos conceitos do seu tempo.
Quando olhamos os quadros de Friedrich, os observadores
que neles se apresentam nos abrem espaços para a imagi
nação; podemos então experimentar mil e uma formas de
contato físico.
Em contraste com o que é “representado” nos textos e
imagens de épocas anteriores - um nível de experiência que
muitas vezes requer explicação e tradução para os termos
do nosso presente os Stimmungen do passado podem nos
atingir de modo direto e sem mediação, desde que estejamos
abertos a isso. Os Stimmungen conseguem, por assim dizer,
ultrapassar as barreiras da interpretação hermenêutica. Se
nos aproximarmos hoje da cidade natal de Friedrich, na es
trada que vem do sul, haverá um ponto que corresponde
rigorosamente à posição geométrica do observador que olha
para o quadro Campos perto de Greifswald. AJi, em deter
minado momento do dia, a luz do sol fere os nossos olhos
precisa mente do mesmo modo que, certa vez no começo do
século XIX , terá ferido os de Caspar Davíd Friedrich.
0 peso da Veneza de Thomas Mann
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