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FUNDAMENTOS DE QUÍMICA
AULA 4

Prof. Eduardo Araújo


CONVERSA INICIAL

Já ouviu a célebre frase de Antoine Lavoisier, de que “na natureza nada


se cria, nada se perde,

tudo se transforma”? Possivelmente sim, pois ela é bem


famosa. E o que ela tem a ver com a

Química?

Tudo, pois a transformação das substâncias passa pela necessidade de


haver uma reação

química, e essa, de forma simplificada, é nada mais do que a


quebra de ligações existentes e a

formação de novas.

Nesta etapa, discutiremos um pouco sobre as ligações químicas, e sobre


a regra do octeto, que

não pode ser utilizada sozinha, mas é de grande


importância.

TEMA 1 – LIGAÇÕES QUÍMICAS E A SUA IMPORTÂNCIA

De modo geral, qualquer ser necessita de alguns itens indispensáveis


para sua sobrevivência,

como água, alimentação (para gerar energia para o corpo)


e oxigênio, para poder respirar. Esses

componentes tão importantes para a


manutenção da vida não existiriam se não fossem as ligações

químicas.

A água, cuja fórmula molecular é representada por H2O, ou


seja, ela é formada por dois átomos

de hidrogênio ligados a um de oxigênio. O


oxigênio que respiramos, tem sua fórmula molecular
representada por O2,
ou seja, dois átomos ligados entre si. Só com esses dois exemplos podemos

identificar a importância das ligações químicas, pois sem oxigênio e sem água,
não seria possível

vida.

Em média, o ser humano consegue ficar aproximadamente apenas quatro


minutos sem oxigênio,

podendo ser até menos; três dias sem água; e, cerca de 50


dias sem alimentos.
A história nos mostra que os Estados Unidos e a antiga União Soviética
travaram uma guerra

espacial para enviar o primeiro homem ao espaço e para


fazer excursões ao planeta Marte. Uma

missão tripulada para este planeta tem


sido assunto da ficção científica, da engenharia e de

propostas científicas no
decorrer do século XX, persistindo no século XXI. Os planos compreendem
propostas não apenas de aterrissar, mas também de, eventualmente, estabelecer
vida em Marte. Para

isso, expedições não tripuladas têm sido enviadas com o


objetivo de verificar a possibilidade de vida

– o que se resume a encontrar


água, ou, até mesmo, vestígios da possibilidade de ter havido água

nesse
planeta.

Observe a estrutura da água representada na Figura 1.

Figura 1 – Estrutura
da água

Fonte: Araujo, 2022.

A estrutura do
oxigênio, outro componente fundamental para a vida, como já dissemos, pode

ser
visualizada na Figura 2.

Figura 2 – Estrutura
do oxigênio molecular
Fonte: Araujo, 2022.

Ambos os exemplos são


formadas por ligações covalentes, ou seja, sem esse tipo de ligação, a

água e o
oxigênio não existiram, impossibilitando a vida para os seres aeróbicos.

Outro exemplo, é o cloreto de sódio (NaCl), um dos componentes que


deixam a água do mar

salgada. Ele é formado por ligação iônica do sódio com o


cloro (Figura 3).

Figura 3 –
Representação da ligação para formação do cloreto de sódio
Créditos: Lia
Gloss/Shutterstock.

TEMA 2 – REGRA DO OCTETO

As ligações químicas possuem algumas regras para ocorrerem. Uma delas,


é a regra do octeto,

que simplificadamente seria a necessidade de um elemento


ficar com oito elétrons em sua última

camada (a camada de valência). Mas essa afirmação


não é exatamente correta, pois isso seria uma

consequência da regra, e não sua


descrição.

A regra do octeto trata da estabilidade de um elemento. Para que ele


fique o mais estável

possível, deverá ficar com uma configuração eletrônica


igual à de um gás nobre (Quadro 1).

Quadro 1 –
Distribuição por níveis de energia dos gases nobres

Distribuição
eletrônica por níveis
Elemento
químico Z
K L M N O P Q

He 2 2

Ne 10 2 8

Ar 18 2 8 8

Kr 36 2 8 18 8

Xe 54 2 8 18 18 8

Rn 86 2 8 18 32 18 8

Og 118 2 8 18 32 32 18 8

Fonte:
Araujo, 2022.

Analisando o Quadro 1,
é possível verificar que, excluindo o hélio (He) todos os outros gases
nobres
possuem 8 elétrons em sua camada de valência; é daí que surge a ideia de os
outros

elementos terem de ficar com essa mesma quantidade de elétrons.


Entretanto, a regra do octeto, na

verdade, estabelece que os elementos devem


ficar com a configuração eletrônica igual à dos gases

nobres e, para isso, eles


doam ou recebem elétrons para cumprir tal objetivo.
Se fosse simplesmente ter 8 elétrons na camada de valência, o
hidrogênio nunca conseguiria

isso, pois ele tem a configuração eletrônica 1s¹; como


o subnível s comporta apenas 2 elétrons, não

seria possível ficar com 8. No


caso do hidrogênio, embora seu número de oxidação possa ser +1 ou

-1,
geralmente ele recebe mais um elétron, para ficar com a mesma configuração do
gás nobre hélio,

o que ocorre, por exemplo, em sua utilização para a formação


da água.

Outro exemplo, é o sódio (Z=11), cuja distribuição eletrônica se dá por


níveis de energia: K=2;

L=8; M=1. Se ele perder o elétron da camada de


valência (L), ficará com a configuração do neônio,

mas também teria a opção de


ganhar mais 7 nessa camada, ficando igual ao argônio. E qual dessas

possiblidades é a mais viável? No caso, seria a que envolve menor quantidade de


elétrons, ou seja, a

de perder apenas 1 elétron.

A regra do octeto é muito importante para a explicação de ligações


químicas, mas não pode ser
utilizada como a única, pois há algumas exceções importantes,
que serão visualizadas mais adiante,

quando abordarmos as ligações covalentes.

Brown (2016, p. 318) explica que os “átomos geralmente ganham, perdem


ou compartilham
elétrons para obter o mesmo número de elétrons que o gás nobre
mais próximo na tabela periódica”.

TEMA 3 – LIGAÇÃO IÔNICA OU ELETROVALENTE

A ligação iônica se dá pela transferência de elétrons, ou seja, quando um


elemento ganha e

outro recebe elétrons para que possam adquirir estabilidade.

A ligação iônica pode também ser chamada de eletrovalente, ou,


ainda, o termo menos
conhecido heteropolar, devido à grande diferença de
polaridade entre os elementos envolvidos na

ligação.

Esse tipo de ligação ocorre entre os elementos metálicos e os


ametálicos da tabela periódica,
sendo que os metais perdem os elétrons de sua
camada de valência por possuírem alta

eletropositividade, e os ametais recebem


esses elétrons por possuírem maior eletronegatividade.

A tabela periódica da Figura 4 identifica os elementos metálicos e não


metálicos pelas suas

cores.
Figura 4 – Tabela
periódica

Créditos: Azri
Suhami/Shutterstock.

Na ligação iônica, há uma transferência de elétron do elemento menos


eletronegativo (maior

caráter metálico), para o mais eletronegativo. Usando


como exemplo a formulação do cloreto de
sódio (sal de cozinha), cuja fórmula é
NaCl, o sódio doa elétrons para o cloro. Após a transferência de

elétrons, o
sódio adquire uma carga positiva, denominado de cátion, que é, para o elemento
que
doou elétron, e para o cloro, uma carga negativa, denominada ânion,
que é para o elemento que

recebeu o elétron, e os dois formam o retículo


cristalino (Figura 5).

Figura 5 –
Representação do retículo cristalino do cloreto de sódio
Créditos: rktz/Shutterstock.

Figura 6 –
Representação da formação dos íons do cloreto de sódio
Créditos: anchalee
thaweeboon/Shutterstock.

O retículo
cristalino favorece a estabilidade do composto formado, o que influencia nos
altos

valores dos ponto de ebulição e de fusão quando comparados aos da ligação


covalente.

TEMA 4 – LIGAÇÃO COVALENTE E EXCEÇÕES A REGRA DO OCTETO

A ligação covalente, também denominada molecular, é baseada no


compartilhamento de
elétrons entre os elementos, e não na doação-recebimento,
que é a base da ligação iônica.

Para essas ligações, a regra do octeto é muito importante, mas não é a


única a ser utilizada, pois

há elementos que podem ficar com mais ou menos do


que 8 elétrons após todos os
compartilhamentos, como o hexafluoreto de enxofre
(SF6), ou o trifluoreto de boro (Figura 7).
Figura 7 – Fórmulas eletrônicas
do hexafluoreto de enxofre (SF6) e do trifluoreto de boro

Fonte: Araujo, 2022.

Analisando as estruturas apresentadas, verificamos que o boro, após as


ligações, ficará com 6
elétrons e, o enxofre, com 12 elétrons, ou seja, a regra
do octeto não foi seguida nesses dois

exemplos. Para explicar o motivo para


isso, é mais fácil compreender pela distribuição eletrônica
desses elementos.

B: 1s2  2s2 
2p1

Fazendo a distribuição pelos orbitais com representação didática, ou


seja, na forma de caixas,

ficaria da seguinte forma:

Figura 8 –
Representação do estado fundamental e excitado do boro
Fonte: Araujo, 2022.

No estado fundamental,
o boro faria apenas 1 ligação, o que é visualizado por haver apenas 1
elétron
desemparelhado na camada de valência; já no estado excitado, 1 elétron da
camada de

valência salta para o subnível 2p, ficando então com 2 elétrons –


nesse caso, com 3 elétrons

desemparelhados, fazendo então 3 ligações, como


demonstrado na Figura 8.

A mesma explicação é dada para o enxofre, cuja distribuição eletrônica


é: 1s2  2s2  2p6  3s2  3p4;

entretanto, seguindo o diagrama de distribuição eletrônica, o terceiro nível


(n=3) tem a possibilidade
de ter 18 elétrons, com o 3s, 3p e 3d, e, como há elétrons
até o 3p, usualmente não se escreve o 3d,

mas poderia ser da seguinte forma: 1s2 


2s2  2p6  3s2  3p4  3d0.

Por orbitais, ficaria como demonstrado na Figura 9.

Figura 9 –
Representação do estado fundamental e excitado do enxofre
Fonte: Araujo, 2022.

O estado fundamental
do enxofre, que tem apenas 2 elétrons desemparelhados, mostra que ele

faria 2 ligações,
o que ocorre, por exemplo, na formação do sulfeto de hidrogênio (H2S),
mas no

estado excitado, que preenche o maior número possível de orbitais, há 6


elétrons desemparelhados,

fazendo então 6 ligações, que explicaria a existência


do hexafluoreto de enxofre (SF6).

Outro conceito que é possível verificar é a hibridização, que, no caso


do boro, ficaria sp², pois

usou-se 1 elétron do s e 2 no p; no caso do


hexafluoreto de enxofre, o S ficaria com a hibridização
sp³d², pois há 1, 3 e 2
elétrons, respectivamente, nesses orbitais da camada de valência.

TEMA 5 – LIGAÇÃO METÁLICA

Nesse tipo de ligação, os elementos envolvidos são os metais, embora


possa aparecer também

outros elementos, como o carbono na produção do aço, que é


o ferro com o carbono.

Um conceito que aparece na ligação metálica, devido aos elementos metálicos


liberarem

elétrons, é o mar de elétrons.

Figura 10 – Mar de
elétrons formado por alumínio
Créditos:
VectorMine/Shutterstock.

Essa ligação é uma das mais estáveis; consequentemente, quando


comparados a compostos
iônicos e moleculares, possuem os maiores pontos de
fusão e ebulição.

Tabela 1 – Comparação
de pontos de fusão e de ebulição de diferentes compostos químicos (1

atm)

Composto Fórmula química Tipo de ligação P.F. P.E.

Água H2O Covalente 0


°C 100
°C

Cloreto
de sódio NaCl Iônica 801
°C 1461
°C

Liga
de ferro Fe Metálica 1538
°C 2861
°C

Fonte:
Araujo, 2022.
Na Tabela 2 é possível
identificar algumas ligas metálicas comumente encontradas no cotidiano.

Tabela 2 – Exemplos de
ligas metálicas

Liga metálica Componentes

Aço
inox 74%
de aço, 18% de cromo e 8% de níquel

Ouro
18 k 75%
de ouro, 13% de prata e 12% de cobre

Bronze 67%
de cobre e 33% de estanho

Latão 95
a 55% de cobre e de 5 a 45% de zinco

Amálgama 70%
de prata, 18% de estanho, 10% de cobre e 2% de mercúrio

Solda 67%
de chumbo e 33% de estanho

Fonte:
Araujo, 2022.

As principais propriedades
dos compostos metálicos são:

Sólidos em temperatura
ambiente;

Condutores de
eletricidade nos estados sólido e líquido;
Maleáveis
(possibilidade de formação de finas lâminas);

Dúcteis (possibilidade
de formação de fios);

Altos pontos de fusão


e de ebulição.

NA PRÁTICA

Responda às questões a seguir:

1. (UEMG) As propriedades exibidas por um


certo material podem ser explicadas pelo tipo de

ligação química presente entre


suas unidades formadoras. Em uma análise laboratorial, um
químico identificou,
em um determinado material, as seguintes propriedades:

Alta temperatura de
fusão e ebulição;

Boa condutividade
elétrica em solução aquosa;

Mau condutor de
eletricidade no estado sólido.
Com base nas propriedades identificadas
no material analisado, assinale a alternativa que

indica o tipo de ligação


predominante nele.

a. Metálica

b. Covalente
c. Dipolo induzido

d. Iônica

2. (PUC-SP) Analise as propriedades


físicas na tabela abaixo:

Amostra Ponto de fusão Ponto de ebulição Condutividade elétrica a 25 ºC Condutividade elétrica a 1000 ºC

A 801 ºC 1413 ºC isolante condutor

B 43 ºC 182 ºC isolante -------------

C 1535 ºC 2760 ºC condutor condutor

D 1248 ºC 2250 ºC isolante isolante

Segundo os modelos de ligação química, A, B, C e D podem


ser classificados,

respectivamente, como:

a. composto iônico,
metal, substância molecular, metal.

b. metal, composto
iônico, composto iônico, substância molecular.

c. composto iônico,
substância molecular, metal, metal.

d. substância molecular,
composto iônico, composto iônico, metal.
e. composto iônico,
substância molecular, metal, composto iônico.

3. (Enem) Por terem camada de valência


completa, alta energia de ionização e afinidade eletrônica

praticamente nula,
considerou-se por muito tempo, que os gases nobres não formariam
compostos
químicos. Porém, em 1962, foi realizada com sucesso a reação entre o xenônio

(camada de valência 5s²5p⁶) e o hexafluoreto de platina e, desde então, mais


compostos novos

de gases nobres vêm sendo sintetizados. Tais compostos


demonstram que não se pode aceitar

acriticamente a regra do octeto, segundo a qual


se considera que, em uma ligação química, os
átomos tendem a adquirir
estabilidade assumindo a configuração eletrônica de gás nobre.

Dentre os
compostos conhecidos, um dos mais estáveis é o difluoreto de xenônio, no qual
dois

átomos do halogênio flúor (camada de valência 2s²2p⁵) se ligam


covalentemente ao átomo de

gás nobre, para ficarem com oito elétrons de


valência. Ao se escrever a fórmula de Lewis do
composto de xenônio citado,
quantos elétrons na camada de valência haverá no átomo do gás

nobre?

a. 6
b. 8

c. 10

d. 12

4. (UNI-RIO) O dióxido de carbono (CO2)


é um gás essencial no globo terrestre. Sem a presença

desse gás, o globo seria


gelado e vazio. Porém, quando ele é inalado em concentração superior
a 10%,
pode levar o indivíduo à morte por asfixia. Esse gás apresenta, em sua molécula,
um

número de ligações covalentes igual a:

a. 4
b. 1

c. 2

d. 3

e. 0
5. (UFV-MG) Os compostos formados pelos
pares Mg e Cl; Ca e O; Li e O; K e Br, possuem

fórmulas cujas proporções entre


os cátions e os ânions são, respectivamente:

Dados: 3Li; 8O; 12Mg; 17Cl; 19K; 20Ca; 35Br.

a. 1:1     2:2    
1:1     1:2

b. 1:2     1:2    
1:1     1:1

c. 1:1     1:2    
2:1     2:1

d. 1:2     1:1    
2:1     1:1
6. (UDESC) A natureza das ligações
químicas interatômicas, responsáveis pela união entre átomos,

reflete-se em
diferentes propriedades físico-químicas, apresentadas pelos respectivos

compostos formados. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a relação


entre cada

tipo de ligação química e suas respectivas propriedades


físico-químicas.
a. Nas ligações metálicas
há compartilhamento de pares eletrônicos. Os metais são

maleáveis e dúcteis.

b. As ligações covalentes
são predominantemente realizadas entre elementos os mais
afastados possíveis na
Tabela Periódica, ou seja, com tendência não muito diferente de
atração pelo
elétron de ligação. Podem ser líquidos, sólidos ou gases à temperatura

ambiente.

c. A teoria da nuvem
eletrônica suporta teoricamente a formação de ligações metálicas. Os

metais,
tipicamente, apresentam baixa relação massa/volume e altos pontos de ebulição e
fusão comparativamente a compostos moleculares.

d. Compartilhamento de
elétrons de ligação devido à baixa diferença de eletronegatividade

é a base
para formação de ligações covalentes. Compostos moleculares apresentam-se

apenas como sólidos ou líquidos à temperatura ambiente.


e. A ligação iônica é
caracterizada pela união entre um cátion e um ânion por meio de

interações coulômbicas,
sem significativa contribuição de interpenetração de orbitais

atômicos para a
formação da ligação. Compostos iônicos podem ser líquidos ou sólidos à

temperatura ambiente.

FINALIZANDO

Sem as
ligações químicas, quase tudo o que existe, não existiria, o que traz uma dimensão

da importância dessas ligações.

Figura 11 – Resumo

REFERÊNCIAS
BROWN, T. et al. Química: a ciência
central. 13. ed. São Paulo: Pearson, 2016.

GABARITO

1. d

2. e

3. c
4. a

5. d

6. e

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