RELATO DE CASO
Aplicabilidade da lâmpada de wood
USEFULNESS OF WOOD’S LAMP: A CASE REPORT
Fábio Alves Sobrinho, Bárbara Matsumoto Lima, Larissa Matos Rodrigues de-Brito, Letícia Oba Galvão, Carmelia Matos
Santiago Reis
DOI –10.5935/2236-5117.2022v59a258
RESUMO
Em dermatologia, a Lâmpada de Wood é utilizada
como ferramenta auxiliar no diagnóstico de diver-
sas dermatoses,uma vez que as lesões apresentam
coloração específica na fluorescência. O artigo pro-
põe a descrever um caso dermatose infecciosa que
causava delírio de parasitose no paciente e cujo
diagnóstico etiológico foi suspeitado após exame
dermatológico com a Lâmpada de Wood e confir-
mado com teste padrão ouro.
Palavras-chave: Foliculite. Dermatopatias.
Micoses
ABSTRACT
In dermatology, Wood’s lamp is used as an auxi-
liary tool in the diagnosis of various dermatoses,
since the lesions have a specific fluorescence stain.
The article proposes to describe a case of infectious
dermatosis that caused delirium of parasitosis and
whose etiological diagnosis was suspected after
dermatological examination with Wood’s Lamp
and confirmed with gold standard test.
Keywords: Folliculitis. Tinea. Skin Diseases, Infectious
INTRODUÇÃO
A lâmpada de Wood (LW) foi inventada em 1903 por
um físico de Baltimore chamado Robert W. Wood
(1868-1955). O primeiro relato de sua aplicação em
dermatologia ocorreu em 1925, inicialmente utiliza-
da no diagnóstico de infecções fúngicas capilares 1.
Atualmente a LW mantém a sua aplicabilidade na
medicina, especialmente na dermatologia , sendo
usada na propedêutica clínica e na elucidação de
diagnósticos diferenciais.1
Fábio Alves Sobrinho – Afiliação(ões): Hospital Regional da Asa Norte,
Serviço de Dermatologia - Brasília - DF - Brasil
email: fabioalvessobrinho@hotmail.com
Bárbara Matsumoto Lima – Afiliação(ões): - Hospital Regional da Asa
Norte, Serviço de Dermatologia - Brasília - DF - Brasil
email: bbarbaramatsumoto@gmail.com
Larissa Matos Rodrigues de Brito – Afiliação(ões): - Hospital Regional da
Asa Norte, Serviço de Dermatologia - Brasília - DF - Brasil
email: larissamrb@yahoo.com.br
Letícia Oba Galvão – Afiliação(ões): - Hospital Regional da Asa Norte,
Serviço de Dermatologia - Brasília - DF - Brasilemail: leticiaoba@yahoo.
com
Carmelia Matos Santiago Reis – Afiliação(ões): - Hospital Regional da Asa
Norte, Serviço de Dermatologia - Brasília - DF - Brasil
email: reiscarmelia@gmail.com
Total: 5 Autores
Correspondência: Carmelia Matos Santiago Reis
E-mail: reiscarmelia@gmail.com
Recebido em 13-02-2022. Aceito em 16-02-2022.
Conflito de interesses: Nada a declarar.
Fonte de financiamento: Não
É Ensaio Clínico? Não
FUNCIONAMENTO:
A fluorescência no tecido cutâneo ocorre quando
a luz emitida pela LW com comprimento de onda
entre 340-400 nm são absorvidas e radiações com
comprimentos de onda mais longos, geralmente no
espectro da luz visível, são emitidas. Os principais
tecidos e componentes envolvidos nesse processo
são: elastina, colágeno, nicotinamida adenina di-
nucleotídeo (NAD) e aminoácidos, por exemplo,
o triptofano; e talvez precursores ou produtos da
melanina1,2,3.
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 RELATO DE CASO
ORIENTAÇÕES PARA O USO
O uso correto da lâmpada de Wood é fundamental
para obtenção de resultados confiáveis e efetivos,
para isso as seguintes orientações devem ser segui-
das: aquecer a lâmpada por pelo menos um minuto,
realizar o exame em sala escura, posicionar a fonte
de luz 10-12 centímetros da área avaliada, evitar
uso prévio de medicamentos tópicos ou quaisquer
outras substâncias que possam gerar resíduos 3.
RELATO DE CASO
Homem com 50 anos, engenheiro, natural de
Fortaleza, mas residente em Brasília. Veio à consul-
ta, no Serviço de Dermatologia , em agosto de 2020,
queixando-se de lesões cutâneas devido a infesta-
ção por insetos. Descreveu que há 4 meses iniciou
com lesões cutâneas papulosas e dor em ferroada
pelo corpo, as quais associava à infestação de in-
setos de seu domicílio. Realizou então dedetização
por diversas vezes, descartou móveis e realizou
tratamento com ivermectina e anti-histamínico
após ser diagnosticado como escabiose. No mo-
mento da consulta se incomodava com prurido em
dorso à direita e, acreditava que a causa das lesões
de pele eram “bolinhas na roupa”, por se tratarem
de “sementes que se proliferam”. Negava visualizar
algum parasita na superfície da pele, apesar de às
vezes ter a sensação de algo se movimentando.
Ao exame físico, apresentava pápulas eritematosas
difusas com sinais de escarificação em região infe-
rior do tronco anterior e posterior.
Ao se utilizar a Lâmpada de Wood durante o exame
físico para visualização dos locais das queixas, foi
possível visualizar manchas descamativas hiper-
crômicas distribuídas em dorso, além de escamas
perifoliculares com pontos amarelo fluorescentes.
Foi definida então a hipótese diagnóstica de
Psicodermatose de infestação e foliculite piti-
rospórica. Solicitou-se exame micológico direto
e cultura de lesões foliculares em tronco e couro
cabeludo e a interconsulta com a psiquiatria foi
solicitada para auxiliar no seguimento do qua-
dro, que , por sua vez, prescreveu Olanzapina.
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Paciente retornou após 45 dias com resultado
de micológico direto de dorso, região occipi-
tal, temporal direita e parietal direita eviden-
ciando estruturas leveduriformes sugestivas de
Malassezia spp e cultura de raspado região tem-
poral direita e parietal direita, occipital e dor-
so com crescimento de Malassezia spp. Relata
não ter notado aparecimento de novas lesões
cutâneas e apresenta melhora do quadro de psi-
cose após início da olanzapina. Prescrito ceto-
conazol xampu em dias alternados, fluconazol
150mg uma vez ao dia durante 21 dias, e após,
uma vez na semana durante 8 semanas.
DISCUSSÃO
Em dermatologia a LW é utilizada como fer-
ramenta auxiliar no diagnóstico de diversas
dermatoses, uma vez que as lesões de pele es-
tudadas apresentam coloração específica na
fluorescência. Sendo assim, a lâmpada de Wood
tem grande importância no diagnóstico de der-
matoses infecciosas de etiologia bacteriana ou
fúngica, aplicações no seguimento de neopla-
sias cutâneas e distúrbios da pigmentação (hipo/
hiperpigmentação)4.
A fluorescência evidente no diagnóstico das
dermatoses infecciosas, não é emitida propria-
mente pela pele, mas sim pelo agente infeccioso
e/ou seus metabólitos4. Em relação às infecções
bacterianas, sabe-se que formas patogênicas
de Pseudomonas spp produzem pioverdina ou
fluoresceína, um pigmento que apresenta fluo-
rescência esverdeada quando se incide a luz
na lesão. Já diante de uma fluorescência ver-
melho – coral, duas corinebacterioses devem
ser investigadas, o eritrasma e a tricomicose,
doenças provocadas pela Corynebacterium mi-
nutissimum e Corynebacterium tenuis, respec-
tivamente 1,4.
Algumas infecções fúngicas emitem fluorescên-
cia azul – esverdeada, como é o caso da tinea
capitis provocada por algumas espécies fúngi-
cas, principalmente pelo gênero Microsporum
Os dermatófitos do gênero Trichophyton não
fluorescem, exceto o Trychophyton schoen-
leinii que emite coloração azul clara ou verde
- palha. Na pitiríase versicolor, uma infecção
provocada por Malassezia, observa-se fluores-
cência amarelo prateado nas lesões provocadas
pela espécie Malassezia furfur 4.
A lâmpada de Wood também serve como méto-
do complementar em microbiologia, servindo por
exemplo, na coleta de pelos infectados pelos fun-
gos dermatófitos do gênero Microsporum ou pelo
dermatófito Trichopthyton schoenleinii. Os pelos
infectados emitem uma fluorescência esverdeada.5
Em se tratando de sua aplicação na propedêuti-
ca pré-operatória de neoplasias cutâneas, a lâm-
pada de Wood pode ser utilizada para ajudar no
delineamento da margem de melanomas in situ
antes da excisão 6. O carcinoma espinocelular
apresenta fluorescência vermelho – brilhante
(aspecto em brasa), provavelmente, em função
das proto e coproporfirinas, o que não ocorre no
carcinoma basocelular. Tal aspecto serve para
orientar o local de escolha da biópsia 5.
No vitiligo, caracterizado por acromia cutânea,
a incidência da luz UV sobre as lesões cutâneas
ajuda a localizar e delinear as manchas que po-
dem ser menos evidentes, especialmente em
indivíduos de pele clara. Nesse caso, a lesão
apresenta uma cor branco – azulada ou azul bri-
lhante, pela fluorescência da derme; enquanto
na hipocromia a cor é branco pálida 1.
A hipomelanose macular progressiva, é uma
dermatose caracterizada por múltiplas lesões hi-
pocrômicas, de tamanhos variados, arredonda-
das, confluentes, não descamativas, simétricas,
assintomáticas e que se tornam mais evidentes
com a LW, manifestando -se como uma fluo-
rescência avermelhada nos óstios foliculares 5.
É possível avaliar os metabólitos produzidos
pelo próprio ser humano, e por isso serve como
método diagnóstico complementar na identi-
ficação das porfirias, sendo a cutânea tarda a
mais conhecida 4.
Diversos medicamentos e cosméticos podem
depositar na pele e serem detectados pela luz
de Wood, é o caso da tetraciclina que produz
fluorescência amarelada nos dentes de pessoas
que usaram a droga na infância ou em filhos de
mães que ingeriram durante a gestação. A fluo-
rescência pode ser também observada nas unhas
de adultos que estejam usando a tetraciclina 7.
CONCLUSÃO
Com o passar dos anos novas tecnologias com-
plementares foram introduzidas na propedêutica
dermatológica e consequentemente alguns ins-
trumentos de comprovada utilização no diag-
nóstico diferencial das diversas dermatoses,
como por exemplo a lâmpada de Wood, estão
sendo pouco utilizados na prática clínica. Por
meio desse relato de caso ressaltamos a sua im-
portância na propedêutica clínica e como méto-
do complementar no diagnóstico diferencial de
condições dermatológicas.
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