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Cineclubinho Ó Lhó Lhó: prática cineclubista com crianças e adolescentes

Cineclubinho Ó Lhó Lhó: a children and teen’s film society ou cineclubist practice
with children and teens

Mariah Fonseca Alves1 e Gizely Cesconetto de Campos2

mariahfalves@gmail.com; gizely@ifsc.edu.br

Resumo
Este trabalho se propõe a debater as ações do Cineclubinho Ó Lhó Lhó, que promove a
experiência cineclubista como prática coletiva, emancipadora, de reconhecimento do
outro e dos processos de inclusão social com crianças de 6 a 14 anos no Instituto Federal
de Santa Catarina-IFSC, em parceria com a ONG Casa dos Girassóis.

Palavras-chave: cineclube; criança; adolescente; prática coletiva; emancipação

Introdução

O Cineclube Ó Lhó Lhó está sediado no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC),
Campus Florianópolis, desde 2014, uma instituição pública de educação
profissionalizante (técnico, graduação e pós-graduação). O coletivo que organiza o
cineclube é estruturado democraticamente por meio de comissões de trabalho
coordenadas por um membro, e reuniões semanais para compartilhamento e tomadas de
decisões coletivas. Atualmente, tem 20 integrantes e é formado majoritariamente por
mulheres e pessoas de gênero dissidentes. Essa configuração proporciona mais atenção
às discussões sobre desigualdades, feminismos e demais questões de gênero e
sexualidades. Nos primeiros anos desenvolvemos sessões semanais de filmes com
debates, e no processo de amadurecimento e consolidação do cineclube outras atividades
surgiram, como: o Cinescrita, publicação de e-zine sobre os ciclos das sessões; a Mostra
que Mostra, exibição de filmes independentes catarinenses; o Censo|Senso Cineclubista,
identificação de cineclubes brasileiros; o Mapeamento Cineclubista, levantamento e mapa
interativo de cineclubes atuantes no Brasil; os Debates Cineclubistas, ciclos de formação
sobre cineclubismo e mídias audiovisuais; Produções Audiovisuais próprias e o

1 Universidade Estadual de Santa Catarina/UDESC


2 Instituto Federal de Santa Catarina/IFSC
Cineclubinho Ó Lhó Lhó. Trataremos aqui da experiência do Cineclubinho, uma
atividade recente que está em construção e vem demonstrando muita potência e
possibilidades de expansão junto ao público infantil e suas comunidades.

Desenvolvimento

O Cineclubinho Ó Lhó Lhó começou timidamente no final de 2017, quando foi realizada
uma sessão no Auditório do IFSC Campus Florianópolis em parceria com a Organização
não governamental (ONG) Casa dos Girassóis. Essa atividade se repetiu no final de 2018
no auditório do Campus e numa creche de Florianópolis. A partir dessas experiências, o
coletivo do Cineclube Ó Lhó Lhó sentiu a necessidade de desenvolver um projeto
permanente de experiência e prática cineclubista com o público infantil. Por isso, a partir
de 2019 o projeto tornou-se uma parceria regular entre o Cineclube Ó Lhó Lhó e a ONG
Casa dos Girassóis, que atua com crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, das 16
comunidades do Maciço do Morro da Cruz, em contraturno escolar. Destaca-se aqui a
localização da Casa dos Girassóis, pois o Campus Florianópolis está localizado no Centro
da cidade, fazendo frente para uma das avenidas principais e costas para essas mesmas
16 comunidades.

Desenvolver o Cineclubinho tem dentre os objetivos aproximar as crianças e os jovens


das comunidades do Maciço das atividades que o IFSC desenvolve, numa tentativa de
tensionar o processo seletivo de ingresso, para os cursos do IFSC, que não corresponde
à realidade socioeconômica dessas comunidades. E é também uma quebra simbólica dos
muros altos e das catracas que bloqueiam o acesso, e inibem a sensação de pertencimento,
apesar do IFSC ser público. Essas condições de exclusão foram determinantes para
desenvolver as atividades do Cineclubinho dentro do Campus, reafirmando sempre que
aquele ambiente é público e é de todos. É objetivo, também, provocar a reflexão crítica a
respeito do cotidiano por meio de obras audiovisuais, preferencialmente locais e
nacionais, despertando o interesse por obras fora das produções hegemônicas. Cada
encontro tem um tema que funciona como fio condutor para o debate após a sessão. Na
conversa, as crianças e os adolescentes têm liberdade de expressar suas sensações,
observações e reflexões sobre o que assistiram, cabendo à equipe do Cineclube Ó Lhó
Lhó motivar e mediar, este espaço para que todos externalizem suas vivências e opiniões.
Estimulamos a partilha coletiva dos afetos suscitados e a escuta, com respeito, ao outro.
Há um cuidado para que os corpos e movimentos das crianças e adolescentes não sejam
disciplinados ao silêncio e à imobilidade típicas dos cinemas comerciais. Além do debate,
criamos atividades de expressão, de interação coletiva (somando o ver, o refletir e o
produzir) com as obras audiovisuais como forma de expandir e permitir repensar nossas
práticas no mundo, identificando as diferenças e as contradições. Esta prática cineclubista
apresenta sua maior potência quando o público (crianças, adolescentes, organizadores e
pessoas da comunidade) reconhece suas reais condições de vida e no diálogo coletivo
expressa suas reflexões numa perspectiva transformadora.

As atividades do cineclubinho já vem apresentando resultados, uma das crianças da Casa


dos Girassóis que frequentava o Cineclubinho em 2019, manifestou o interesse em
ingressar no IFSC, corroborando com nosso objetivo de ocupar o espaço da instituição
pelas crianças, desenvolvendo maior familiaridade e possibilidade de ingresso no IFSC.
As professoras da ONG relataram que durante a pandemia realizaram um esforço coletivo
para superar o processo de seleção, que ainda é muito difícil pelas condições das provas
e da burocracia das documentações, tanto para o processo seletivo, quanto para a
matrícula. Mas, o esforço do adolescente, da família e das professoras valeram à pena,
pois ele está frequentando o Curso Técnico Integrado em Eletrônica. Há outros exemplos
que demonstram a potência deste tipo de atividade, pois ao apresentarmos outros projetos
de extensão de Arte e Cultura do Campus Florianópolis uma das meninas demonstrou
interesse em frequentar o Clube de Escrita. Percebemos também que nesse retorno após
o isolamento social, houve uma renovação das crianças que frequentavam em 2019, estas
muito tímidas e receosas de caminhar nos corredores do Campus. É notável que a cada
novo encontro elas estão mais soltas, falando mais alto nos corredores, e criando
vínculos com os membros da organização do Cineclube Ó Lhó Lhó, demonstrando
saudade deste espaço e necessidade da atividade ser semanal. O Cineclubinho está se
revelando como um portal de cidadania e de emancipação para todos que participam, em
especial para essas crianças e adolescentes que o criam com a gente.

Referências
ALVES, Giovanni e MACEDO, Felipe (Orgs.). Cineclube, Cinema & Educação.
Londrina: 2010. 216p.

PASSOS, Manoela Veloso; COLUCCI, Maria Beatriz. Análise crítica de experiências


com cineclube com estudantes de 7 a 10 anos. Sergipe: 2021. 7p.

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