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MODERNA
Por
PROFESSOR
— BOOOOOOOM DIAAAA GALERINHA DO BEM... Tupi or not
tupi em??? Anh ahn entenderam entenderam???.. é claro que não, essa
piada é pra poucos
Mas quem vocês acham que foram os cabeças dessa façanha.. e antes
que falem bruno berti ou lucas neto já adianto que não foram eles
Cena II
CORTA PARA:
INT. ATELIER DE TARSILA DO AMARAL — NOITE
MÁRIO DE ANDRADE
— Os jornais estão cheio de críticas sobre mim
TARSILA DO AMARAL
— Isso porque você não é nem mulher e nem
pintora. Anita fôra criticada apenas por usar
rosa.
ANITA MALFATTI
— E quem disse que isso é problema meu? Ora
essa, eu não darei ouvidos a esse… esse…
mequetrefe. Ele que cuide do seu rabicó. —
esbravejou ela com o rosto vermelho de raiva
MÁRIO DE ANDRADE
— Você está certa, não dê ouvidos a ele. E olha
que eu e Oswald estávamos falando sobre isso.
Tivemos uma ideia. Revolucionária talvez. O
que me dizem?
TARSILA DO AMARAL
— Vocês sempre tem boas ideias, rapazes.
Conte-nos a respeito.
TARSILA DO AMARAL
— Eu adorei — ela disse animada indo em
direção aos amigos abraçando-os por trás — É
exatamente o que esse país precisa, Brasilidade
e arte.
ANITA MALFATTI
— Que ótima ideia, amigos. Vamos calar a boca
dessas pessoas que não tem a mínima noção do
que é arte! Já tem alguma ideia de nome para
esse evento?
OSWALD DE ANDRADE
— Dane-se, eles não são a base da nossa
sociedade! Os trabalhadores, os artistas, nós
somos o povo! Não os riquinhos — ele diz com
desdém.
Anita se aproxima de Oswald
ANITA MALFATTI
— Mas você não faz parte dos “riquinhos”? —
ela pergunta entre risos.
TARSILA DO AMARAL
— Que tal algo como Semana de Arte
Moderna? Causa impacto, não é? — ela sorri.
Cena III
CORTA PARA:
TEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO - ENTARDECER
PROFESSOR
— Alguns dias depois que na verdade
pareceram meses, os 5 batutas foram em
direção ao Teatro municipal, mas por
algum motivo que ninguém sabe a Tarsila
não foi com eles
MÁRIO DE ANDRADE
— O Teatro Municipal?! Rá! — Mário
retrucava, enquanto se virava para Menotti —
Você deve ter perdido a cabeça mesmo, como
poderíamos alugar o local inteiro por uma
semana? Já devo estar endividado apenas por ter
entrado aqui. Além do mais, onde está Tarsila?
OSWALD DE ANDRADE
— Tarsila me disse que chegaria tarde para
nossa reunião, iria trazer algo para nós.
TARSILA DO AMARAL
— É um prazer rever vocês.
ANITA MALFATTI
— Tarsila! Já não era sem tempo, mas vejo que
estás de mãos vazias, onde está a tal surpresa
que Oswald disse sobre?
TARSILA DO AMARAL
— Não fique preocupada, Anita. O que
lhes trago é grande demais para trazer em uma
só mão — Tarsila estende sua mão para a
porta, e então ela diz — Venham, rapazes!
Cena V
TARSILA DO AMARAL
— Será que isso vai dar certo?
OSWALD DE ANDRADE
— Não se preocupe, querida. Eu cuido
disso — ele pisca para ela.
VICTOR BRECHERET
— Mario, bist du das? — Victor perguntava
se aquele era Mário, em alemão, pois era
da Suíça.
MÁRIO DE ANDRADE
— Sou eu sim, velho amigo! — Dizia ele,
enquanto apertava a mão de Victor, após
isso, ele retomava a explicação — Bom,
queríamos criar uma arte que fosse
autenticamente brasileira e popularizar a
arte aqui nesse país. Nada melhor do que
um evento, uma exposição dos nossos
trabalhos. Precisamos chocar os
tradicionalistas acostumados às tradições
europeias.
GUIOMAR DE NOARES
— Mas e como faríamos isso? Não temos
dinheiro para fazer uma coisa tão grande.
ZINA AITA
— O que esses dois estão tramando
estendendo a mão para nós desse jeito?
TARSILA DO AMARAL
— O Governador quer pintar São Paulo
como centro do progresso no país e o
centenário da Independência do Brasil é o
cenário perfeito para um evento desse tipo.
Paulo, por outro lado… No fundo acho que
ele só quer nos incentivar mesmo —
Tarsila parecia reclusa, mas logo
recuperava sua postura — De toda forma,
eu ainda tenho mais uma surpresa para
todos vocês. Não é, Cavalcanti?
HEITOR VILLA-LOBOS
— Espera aí! deixa eu ver se entendi
direito. Uma exposição do meu trabalho e
ainda por cima sem ganhar nada em troca?
Não, não, não. Música de graça é
desgraça. — reclamou ele.
HEITOR VILLA-LOBOS
— É isso que veremos! — Ele retrucava
REGINA GRAZ
— Também ficaria mais feliz de expor
minhas obras se for esse o caso.
GUIOMAR NOVAES
— Já que o Heitor vai se apresentar,
faremos em dias diferentes. Eu só poderia
tocar no segundo dia.
TARSILA DO AMARAL
— Ah que pena que não vou poder estar
aqui. Estarei em Paris estudando, mas
minhas obras ficarão aqui para serem
expostas! Afinal, um artista não é nada
mais do que suas criações.
MÁRIO E OSWALD
— Que pena, querida!
ANITA MALFATTI
— Realmente uma pena, Tarsila. Aproveite
Paris por mim. — diz ela, sem se importar
de verdade.
Cena VI
Dia 1
PROFESSOR
— Ai ai (suspira) Após eles conseguirem alugar o
Teatro municipal, e aconteceu finalmente.. o evento
revolucionário
GRAÇA ARANHA
— Sejam todos muitos bem-vindos à
Semana de Arte Moderna. Para muitos de
vocês a curiosa e sugestiva exposição que
gloriosamente inauguramos hoje, é um
show de horrores. Outros horrores vos
esperam. Daqui a pouco, juntando-se a
essa coleção de absurdos, teremos uma
poesia liberta, uma música extravagante
mas transcendente, que virão para revoltar
aqueles que reagem movidos pelas forças
do passado.
Cena VII
PROFESSOR
—Então para começar as exposições,
apresentaram-se no mesmo dia as artistas super
talentosas Zina Aita e Regina Graz
REGINA GRAZ
— Boa noite, me chamo Regina Graz e sou pintora,
decoradora e tapeceira. Aqui estão alguns de meus
trabalhos.
Cena VIII
Dia 2
PROFESSOR
— No segundo dia do evento aconteceu a
leitura do poema "Os Sapos" do famoso Manoel
Bandeira
Mas que infelizmente ele não conseguiu lê-lo,
porque na época ele tava em uma crise de
tuberculose, então para substituir o Bandeira
quem fez a leitura foi Ronald de Carvalho
Cena IX
PROFESSOR
— Com o pobre Ronald o cenário não foi tão
diferente assim.
RONALD DE CARVALHO
— Olá, estarei declamando agora o poema
“Os Sapos” de Manuel Bandeira.
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
PROFESSOR
— Mas pra salvação da noite a talentosa
Guiomar Novaes aproveitou o intervalo do
evento, para tocar algumas músicas clássicas
muito renomadas com excelente maestria
GUIOMAR NOVAES
— Boa noite, sou Guiomar Novaes, pianista
brasileira e hoje vou tocar “O ginete de
pierrozinho” de Villa-Lobos
OSWALD DE ANDRADE
— Claro, não tinha como dar errado. Uma pena que
Tarsila está em Paris, ela adoraria estar aqui.
ANITA MALFATTI
— Sim, sim. Infelizmente ela e o marido dela não
puderam estar aqui. Sem mais delongas, vamos aproveitar
a música.
Cena X
Dia 3
PROFESSOR
— Por fim chegamos ao último dia do evento, e se
vcs tiverem sentindo falta dos batutas Oswald e
Mário, digo a vocês que eles fizeram um grande..
mas quando digo grande é ENORME encerramento
VICTOR BRECHERET
— Das geht nicht! (Isso não vai dar certo!) —
Victor discutia com Mário nos fundos do teatro.
MÁRIO DE ANDRADE
— Claro que vai dar certo, nós fizemos tudo dar
certo até aqui! Suas peças já estão lá, você só
precisa apresentá-las.
VICTOR BRECHERET
— Deshalb Mario. Wird nicht verstehen. (Por isso
mesmo, Mário. Eles não entenderão.)
MÁRIO DE ANDRADE
— Sem problemas, deixa isso comigo!
Mário puxava Victor para fora dos fundos e ambos
começavam a exposição juntos.
MÁRIO DE ANDRADE
— Boa noite, senhoras e senhores! Abrindo
nosso último dia da Semana de Arte Moderna,
teremos a exposição de Victor Brecheret!
MÁRIO DE ANDRADE
— E então, Victor. Como você descreve essa
obra para nós?
VICTOR BRECHERET
— Ahmmm…. Kopt? (Cabeça?)
MÁRIO DE ANDRADE
— Kort? (Corte)
VICTOR BRECHERET
— Kopt! — Victor gritava
MÁRIO DE ANDRADE
— Ah sim, Kopt! Pois bem, senhores, o que
nosso aclamado escultor tem a dizer sobre sua
obra é… Cabeça!
VICTOR BRECHERET
— Hmmm… Lobos!
MÁRIO DE ANDRADE
— Lobos? Mas isso parece tanto um piano…
O piano do Villa-Lobos!
Cena XI
Era tarde demais, antes que algum dos dois pudessem
fazer qualquer coisa, os gritos de Villa-Lobos já ecoavam
por todo o Teatro:
HEITOR VILLA-LOBOS
— Se afastem do meu piano!
HEITOR VILLA-LOBOS
— Boa noite, sou Heitor Villa-Lobos, um
compositor, maestro, violoncelista, pianista
e violonista brasileiro. Estou aqui para
tocar minhas próprias composições.
Aproveitem enquanto podem.
Cena XII
PROFESSOR
— E por fim com todas as apresentações já feitas, o
evento já tava praticamente no fim
HEITOR VILLA-LOBOS
— Espere aí, Oswald! Não pense que pode
sair desse fininho sem me pagar, ainda
mais depois do vexame que eu tive que
passar!
REGINA GRAZ
— Andem logo com isso. Se vocês não perceberam, eu
também tenho que recolher minhas obras.
OSWALD DE ANDRADE
— Calma lá, vocês dois! É o dinheiro que
querem? — Oswald coloca a mão dentro do
casaco, sacando várias cédulas e distribuindo
para os dois — Pois bem! Aqui está. Agora
saiam daqui!
OSWALD DE ANDRADE
— Sabe, Heitor, você já pode colocar o sapato
se quiser.
HEITOR VILLA-LOBOS
— Com um inchaço no pé desses? Não
seja tão besta.
OSWALD DE ANDRADE
— Inchaço no pé? Mas isso não era uma crítica
aos burgueses e coisa do gênero? Pé de chinelo,
sabe?
JORNALISTA
— Graça Aranha, senhor! Tem tempo para
algumas perguntas?
GRAÇA ARANHA
— Seja breve, rapaz.
JORNALISTA
— É verdade que Paulo Prado financiou o
evento? Qual o interesse dele com esses patetas?
GRAÇA ARANHA
— Paulo financiou o evento de fato. Mas ele
não fez isso por pura boa-vontade, ele vê nesses
jovens o futuro da nossa arte, da nossa
identidade. Ele está apostando sua carreira
neles, e eu estou junto dele nessa.
JORNALISTA
— Sabe, os senhores não deveriam fazer apostas
que não irão ganhar. Digo, esses tais artistas
estão mais para doentes mentais, eu quase
confundi o teatro com um hospício. A sorte
deles é que nenhum jornal terá coragem para
criticá-los.
GRAÇA ARANHA
— Pelo menos o velhote do Monteiro Lobato é
honesto. — Dizia ele, rindo.
JORNALISTA
— Como é que é?
GRAÇA ARANHA
— Não tenha vergonha de receber propina, tenha
vergonha de sua ignorância. — ele ri.
JORNALISTA
— Você não sabe do que está falando.
GRAÇA ARANHA
— Colega, arte é sobre criticar, é sobre expor
nossa realidade e como mudá-la para melhor. Se
você não tem coragem para criticar nem aquilo
que menospreza, o que você sabe de arte afinal?
PROFESSOR
— EEEEEEENTÃO GALERINHA DO BEM, essa foi a
Semana da Arte Moderna que aconteceu a cem anos
atrás, e antes que me perguntem eu NÃO TAVA LÁ
OKAY?