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DESCONTOS SALARIAIS - PRESTAÇÕES

DE EMPRÉSTIMOS, FINANCIAMENTOS E OPERAÇÕES


DE ARRENDAMENTO MERCANTIL
 
O Decreto 4.840/2003 regulamentou os procedimentos para autorização de
desconto em folha de pagamento dos
valores referentes ao pagamento das prestações
de empréstimos, financiamentos e operações de arrendamento
mercantil
concedidos por instituições financeiras e sociedades de arrendamento mercantil
a empregados regidos pela
Consolidação das Leis do Trabalho.
 
CONCEITOS
 
Empregador, a
pessoa jurídica assim definida pela legislação trabalhista (art. 2º da CLT).
 
Empregado,
aquele assim definido pela legislação trabalhista (art. 3º da CLT).
 
Instituição
consignatária, a instituição
autorizada a conceder empréstimo ou financiamento ou realizar operação de
arrendamento mercantil.
 
Mutuário,
empregado que firma com instituição consignatária contrato de empréstimo,
financiamento ou
arrendamento mercantil.
 
Verbas rescisórias,
as importâncias devidas em dinheiro pelo empregador ao empregado em razão de
rescisão do seu
contrato de trabalho.
 
Remuneração
básica, a soma das parcelas pagas ou
creditadas mensalmente em dinheiro ao empregado, excluídas:
       
I - diárias;
       
II - ajuda de custo;
       
III - adicional pela prestação de serviço extraordinário;
       
IV - gratificação natalina;
       
V - auxílio-natalidade;
       
VI - auxílio-funeral;
       
VII - adicional de férias;
       
VIII - auxílio-alimentação, mesmo se pago em dinheiro;
       
IX - auxílio-transporte, mesmo se pago em dinheiro; e
       
X - parcelas referentes a antecipação de remuneração de competência
futura ou pagamento em caráter retroativo.
 
Remuneração
disponível, a parcela remanescente da
remuneração básica após a dedução das consignações
compulsórias, assim
entendidas as efetuadas a título de:
 
       
I - contribuição para a Previdência Social oficial;
       
II - pensão alimentícia judicial;
       
III - imposto sobre rendimentos do trabalho;
       
IV - decisão judicial ou administrativa;
       
V - mensalidade e contribuição em favor de entidades sindicais;
       
VI - outros descontos compulsórios instituídos por lei ou
decorrentes de contrato de trabalho.
 
Consignações
voluntárias, as autorizadas pelo
empregado e não relacionadas acima.
 
LIMITES
 
No momento da contratação
da operação, a autorização para a efetivação dos descontos permitidos
observará, para
cada mutuário, os seguintes limites:
 
I  -  a soma dos descontos dos valores referentes ao pagamento das
prestações de empréstimos, financiamentos e
operações de arrendamento
mercantil não poderá exceder a 30% (trinta por cento) da remuneração disponível;
e
II  -  o total das consignações voluntárias, incluindo as referidas
no item anterior, não poderá exceder a 40%
(quarenta por cento) da remuneração
disponível.
 
OBRIGATORIEDADE DO
DESCONTO
 
É assegurado ao
empregado o direito de optar por instituição consignatária que tenha firmado
acordo com o
empregador, com sua entidade sindical, ou qualquer outra instituição
consignatária de sua livre escolha, ficando o
empregador obrigado a proceder
aos descontos e repasses por ele contratados e autorizados.
 
OBRIGAÇÕES DO
EMPREGADOR
 
São obrigações do
empregador:
 
I  -  prestar ao empregado e à instituição consignatária, mediante
solicitação formal do primeiro, as informações
necessárias para a contratação
da operação de crédito ou arrendamento mercantil, inclusive:
a) a data habitual de pagamento mensal do salário;
b) o total já consignado em operações preexistentes;
c) as demais informações necessárias para o cálculo da margem disponível
para consignação;
II - tornar disponíveis aos empregados, bem assim às respectivas
entidades sindicais, as informações referentes aos
custos referidos no art. 10
do Decreto 4.840/2003;
III  -  efetuar os descontos autorizados pelo empregado em folha de
pagamento e repassar o valor à instituição
consignatária na forma e prazo
previstos em regulamento.
 
É vedado ao empregador
impor ao mutuário e à instituição consignatária qualquer condição que não
esteja prevista no
Decreto 4.840/2003 para a efetivação do contrato e a
implementação dos descontos autorizados.
 
AUTORIZAÇÃO DE
DESCONTO
 
A autorização para a
consignação das prestações contratadas em folha de pagamento será
outorgada por escrito ou por
meio eletrônico certificado, podendo a instituição
consignatária processar o documento e mantê-lo sob sua guarda, na
condição
de fiel depositária, transmitindo as informações ao empregador por meio
seguro.
 
DATA DO PRIMEIRO
DESCONTO
 
Exceto quando
diversamente previsto em contrato com a anuência do empregador, a efetivação
do desconto em folha
de pagamento do mutuário deverá ser iniciada pelo
empregador no mínimo 30 (trinta) dias e no máximo 60 (sessenta)
dias após o recebimento
da autorização.
 
REPASSE DOS VALORES
DESCONTADOS
 
O empregador é o
responsável pela retenção dos valores devidos e pelo repasse às instituições
consignatárias, o qual
deverá ser realizado até o 5º (quinto) dia útil após a
data de pagamento, ao mutuário, de sua remuneração mensal.
 
FALTA DE RETENÇÃO DO
EMPREGADOR
 
O empregador, salvo
disposição contratual em sentido contrário, não será co-responsável pelo
pagamento dos
empréstimos, financiamentos ou arrendamentos concedidos aos mutuários,
mas responderá sempre, como devedor
principal e solidário, perante a instituição
consignatária, por valores a ela devidos, em razão de contratações por ele
confirmadas, que deixarem, por sua falha ou culpa, de serem retidos ou
repassados.
 
CUSTOS DE PROCESSAMENTO
 
É facultado ao
empregador descontar na folha de pagamento do mutuário os custos operacionais
decorrentes da
realização da operação financeira.
 
Consideram-se custos
operacionais do empregador:
 
I  -  tarifa bancária cobrada pela instituição financeira referente
à transferência dos recursos da conta-corrente do
empregador para a
conta-corrente da instituição consignatária;
II - despesa com alteração das rotinas de processamento da folha de
pagamento para realização da operação.
 
Cabe ao empregador,
mediante comunicado interno ou mediante solicitação de empregado ou de
entidade sindical, dar
publicidade aos seus empregados dos custos operacionais
mencionados, previamente à realização da operação de
empréstimo ou
financiamento, os quais serão mantidos inalterados durante todo o período de
duração da operação.
 
INDICAÇÃO NO HOLERITE
/ RECIBO DE PAGAMENTO
 
Cabe ao empregador
informar no demonstrativo de rendimentos do empregado, de forma discriminada, o
valor do
desconto mensal decorrente de cada operação de empréstimo ou
financiamento, bem como os custos operacionais da
mesma.
 
IMPOSSIBILIDADE DE
CANCELAMENTO DA AUTORIZAÇÃO
 
Até o integral
pagamento do empréstimo ou financiamento, as autorizações dos descontos
somente poderão ser
canceladas mediante prévio consentimento da instituição consignatária e do empregado.
 
RESCISÃO CONTRATUAL
 
Em caso de rescisão do
contrato de trabalho do empregado antes do término da amortização do empréstimo,
ressalvada disposição contratual em contrário, serão mantidos os prazos e
encargos originalmente previstos, cabendo
ao mutuário efetuar o pagamento
mensal das prestações diretamente à instituição consignatária.
 
De acordo com o § 1º da
Lei 10.820/2003, a autorização de desconto em folha de pagamento também poderá incidir
sobre verbas rescisórias devidas pelo empregador, se assim previsto no respectivo contrato de empréstimo,
financiamento, cartão de crédito ou arrendamento mercantil, na seguinte proporção:

a) Até o limite de 30% do total das verbas rescisórias;


b) Deste limite, 5% poderá ser destinado exclusivamente para a amortização de despesas contraídas por
meio de cartão de crédito.

Portanto, não havendo previsão no contrato de empréstimo, é vedado ao empregador descontar os limites acima
expostos no Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho, podendo, neste caso, descontar apenas a parcela mensal na
rescisão, ficando a cobrança do saldo devedor por conta da instituição financeira diretamente com o trabalhador.
 
HIPÓTESE DE CLÁUSULA
CONTRATUAL DE DESCONTO NA RESCISÃO DO VÍNCULO
EMPREGATÍCIO
 
Os contratos de empréstimo,
financiamento ou arrendamento poderão prever a incidência de desconto de até
30%
(trinta por cento) das verbas rescisórias para a amortização total ou
parcial do saldo devedor líquido para quitação na
data de rescisão do
contrato de trabalho do empregado.
 
Nesta hipótese, 
deverá a instituição consignatária informar ao mutuário e ao empregador,
por escrito ou meio
eletrônico certificado, o valor do saldo devedor líquido
para quitação.
 
Quando o saldo devedor
líquido para quitação exceder o valor comprometido das verbas rescisórias,
caberá ao
mutuário efetuar o pagamento do restante diretamente à instituição
consignatária, assegurada a manutenção das
condições de número de prestações
vincendas e taxa de juros originais, exceto se houver previsão contratual em
contrário.
 
PERÍODO DE BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO
 
Na hipótese de entrada
em gozo de benefício previdenciário temporário pelo mutuário, com suspensão
do pagamento
de sua remuneração por parte do empregador, cessa a obrigação
deste efetuar a retenção e o repasse das prestações à
instituição
consignatária.
 
JURIPRUDÊNCIA

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA - VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014, DO


CPC/2015 E DA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 40 DO TST - EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM FOLHA DE
PAGAMENTO - FRAUDE CONTRATUAL - INCLUSÃO DO NOME DO AUTOR EM CADASTRO DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO - PRETENSÃO INDENIZATÓRIA - CONTRATO DE MÚTUO FIRMADO EM

Í Ê
RAZÃO DO LIAME EMPREGATÍCIO - COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. A
competência material decorre do pedido e da causa de pedir. Dessa forma, se a causa de pedir repousa na relação de
trabalho e o pedido relaciona-se ao pagamento de verba decorrente do mencionado liame empregatício, esta Justiça
Especial afigura-se competente para julgar o feito. Na espécie, o reclamante postulou indenização por danos morais,
em face das alegações de inclusão do seu nome em cadastro de proteção ao crédito e de ato ilícito praticado pela ex-
empregadora, que intermediou empréstimos consignados junto à BV Financeira, com o objetivo de saldar dívida
salarial da empresa, mas em nome de seus empregados, atribuindo-lhes, assim, a responsabilidade exclusiva pelos
respectivos empréstimos. A contratação de empréstimo para quitação de dívida salarial da empresa, com imputação da
responsabilidade ao empregado, é circunstância que se coloca como controvérsia decorrente da relação de emprego.
Ademais, a pactuação de empréstimo consignado em folha de pagamento depende da anuência do empregador, da
financeira e do trabalhador, razão por que o próprio empréstimo tem sua existência vinculada ao contrato de trabalho.
Nos termos do art. 114, I, da Constituição Federal, a Justiça do Trabalho afigura-se competente para julgar as
demandas oriundas do vínculo laboral firmado entre empregado e empregador. Ademais, de acordo com o art. 114, IX,
da Constituição Federal, inserem-se na competência material da Justiça do Trabalho "outras controvérsias decorrentes
da relação de trabalho", na forma da lei. Com efeito, a matéria se insere na competência desta Justiça Especial. (...)
RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO PARA PAGAMENTO DE SALÁRIOS ATRASADOS - VÍCIO DE CONSENTIMENTO -
INCLUSÃO DE NOME DO RECLAMANTE NO CADASTRO DE DEVEDORES. Configura dano moral que enseja
o pagamento de indenização a inclusão do nome do trabalhador em cadastro de proteção ao crédito, em decorrência da
simulação de empréstimo consignado pelas reclamadas, que se utilizaram dos dados pessoais dos empregados da
segunda-reclamada, os quais, ludibriados pela promessa de recebimento dos salários atrasados, assinaram documentos,
sem ter conhecimento de tratar-se de autorização de empréstimo consignado pessoal, cujos valores sequer foram
recebidos pelos trabalhadores. De fato, a referida conduta, ilegal e sensurável, perpetrada pelo empregador em conluio
com a instituição financeira ora agravante, com o fito de descumprir basilar obrigação contratual trabalhista e angariar
proveito econômico-financeiro ilícito, que resultou na inscrição do nome do autor em rol de devedores, ofende a
dignidade do trabalhador e causa-lhe abalo psicológico. Tal situação causa grave transtorno à honra subjetiva do
empregado e atinge o seu âmbito extrapatrimonial, caracterizando resultado lesivo capaz de configurar o dano moral,
sendo imperiosa a correspondente reparação. (...) Agravo de instrumento desprovido. (AIRR - 1218-
19.2014.5.06.0022 , Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Data de Julgamento: 18/10/2017, 7ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 20/10/2017).

EMBARGOS REGIDOS PELA LEI Nº 11.496/2007 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. DANO


MORAL DECORRENTE DA INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME DA RECLAMANTE NO CADASTRO DE
INADIMPLENTES (SERASA). EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO
DEMONSTRADA. Na hipótese, a Turma registrou, a partir do contexto fático delineado pelo Regional, que a
reclamante, em razão de convênio firmado entre a ex-empregadora, primeira reclamada, e a instituição financeira,
segunda reclamada, realizou empréstimo consignado, tendo sido, no entanto, dispensada do emprego antes da sua
quitação. Por ocasião da rescisão contratual, a ex-empregadora descontou, no TRCT, valores destinados ao pagamento
do empréstimo, os quais foram devidamente repassados ao banco, o que se comprovou no decorrer deste processo.
Entretanto, a instituição financeira, por erro, considerou que a reclamante estava inadimplente e incluiu o seu nome,
indevidamente, no cadastro de inadimplentes do SERASA. Entendeu, a Turma, que no caso destes autos, dadas as
situações fáticas anteriormente descritas, a competência é da Justiça do Trabalho. Considerou, para tanto, que a
demanda tem como litisconsortes passivos a ex-empregadora e o banco e que não é possível abstrair do contexto fático
o contrato de trabalho. Salientou, ainda, que o afastamento da culpa da primeira reclamada, ex-empregadora, no
decorrer do processo, não retira desta Justiça do Trabalho a competência para o julgamento da demanda, pois a
competência se define no momento do ajuizamento da ação, observados o pedido e a causa de pedir, nos termos do
artigo 87 do CPC/73. Em vista do exposto, constata-se que a divergência jurisprudencial não está demonstrada. Isso
porque, a partir da ementa transcrita e do inteiro teor do único aresto indicado para o cotejo de teses, anexado a estes
embargos, verifica-se a ausência de identidade fática com o caso destes autos, pois, não há, no aresto, a mesma
premissa fática que foi determinante para o deslinde da controvérsia, qual seja a quitação do empréstimo por meio de
desconto das verbas rescisórias feito pela empregadora. O julgado paradigma revela que o pedido de indenização por
danos morais decorre de inclusão equivocada do empregado no SPC e na SERASA pela instituição financeira, mas
não evidencia que houve quitação do empréstimo por meio de desconto no TRCT. Por outro lado, o paradigma não
aborda todos os fundamentos adotados na decisão embargada, segundo a qual, para a fixação da competência da
Justiça do Trabalho é irrelevante a natureza das verbas postuladas, bem como que a absolvição da ex-empregadora, no
decorrer do processo, não altera a competência definida no momento da propositura da ação, consoante preconiza o
artigo 87 do CPC/73. Logo, incide ao caso o disposto nas Súmulas nos 23 e 296, item I, do Tribunal Superior do
Trabalho, não tendo, o embargante, logrado êxito em demonstrar a divergência jurisprudencial invocada. Embargos
não conhecidos. (E-RR - 142300-73.2007.5.08.0007 , Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de
Julgamento: 26/10/2017, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 31/10/2017) .

RECURSO DE REVISTA. (...). DANO MORAL. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DE PARCELA DE


EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. INCLUSÃO DO NOME DO EMPREGADO NO SPC. O Regional entendeu não
haver responsabilidade da reclamada pela inclusão do nome do reclamante no cadastro de proteção ao crédito, porque
apesar de o valor da parcela do empréstimo consignado não ter sido descontado do salário do empregado, no caso
concreto há uma peculiaridade a ser levada em conta. É que há previsão no contrato de empréstimo de que, na falta de
repasse, o empregado seria notificado para comprovar o pagamento ou realizá-lo no prazo de 15 dias. Nesse contexto,
a decisão recorrida não viola diretamente os artigos 5º, X, da CF e 927 do CC. Recurso de revista não conhecido. (RR
- 2697-19.2011.5.02.0069 , Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, Data de Julgamento: 08/11/2017, 6ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 10/11/2017).

RECURSO DE REVISTA DA PRIMEIRA RECLAMADA (BAYONNE COSMÉTICOS LTDA.). DANOS MORAIS.


EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. INSCRIÇÃO INDEVIDA NO SERASA. (...) Como bem exposto pelo MM. Juízo
Primeiro: (...) Como não foram contestadas as afirmações da reclamante no sentido de que já havia pago parte do
débito, este Juízo parte do pressuposto de que a dívida à época do despedimento girava em torno de R$ 501,72
(quinhentos e um reais e setenta e dois centavos), valor este que seria parcialmente quitado com o desconto realizado
nas verbas salariais da reclamante. Nesse sentido, quase beira a má-fé, data vênia, a alegação da 2ª reclamada, no
sentido que não existe prova alguma de que o desconto seria para quitar o empréstimo contraído pela reclamante. Ora,
para isso basta ler a defesa da 1ª reclamada para perceber que, de fato, o desconto decorreu do pré-citado empréstimo
pessoal (fls. 75-76), tanto que a antiga empregadora da reclamante reconhece o repasse dos valores e, ainda, afirma e
comprova [pelo menos em parte] que a instituição financeira [2ª reclamada] permaneceu debitando os valores da folha
salarial daquela, conforme se verifica nos documentos de fls. 115-122 dos autos. Além disso, os documentos de fls. 25
[comunicado do SERASA], 26 [boleto bancário do 2º reclamado, no valor de R$ 83,62], 55 [comunicado do
SERASA] e 56 [carta do 2º reclamado] dão conta de que houve algum problema de comunicação entre as reclamadas,
pois a reclamante, de forma evidente e clara, foi cobrada para efetuar o pagamento do empréstimo consignado que já
estava praticamente quitado [existiria apenas um saldo remanescente aproximado de R$ 34,06 (trinta e quatro reais e
seis centavos)]. Dessa forma, correta a atitude da reclamante em não efetuar o pagamento do boleto bancário, eis que
adimplente com o valor devido [ressalvado o saldo remanescente de R$ 34,06]. O próprio documento de fl. 56 é uma
prova irrefutável de que o valor descontado da rescisão contratual da reclamante não foi repassado de uma empresa
para a outra, ou se foi, o 2º reclamado deixou de debitá-lo do saldo devedor do empréstimo consignado, já que
permaneceu cobrando a dívida em valor superior ao devido à época dos fatos [vide boleto de fl. 26]. Por último,
observa-se que o ofício enviado pelo SERASA dá conta de que o 2º reclamado incluiu o nome da reclamante no
serviço de proteção ao crédito pela dívida que já estava praticamente quitada [no documento consta que a autora ainda
devia mais de R$ 580,00]. Nesse sentido, ao contrário do que alega a 2ª reclamada, o procedimento de cobrança da
dívida antes da inscrição do nome da reclamante no SERASA mostrou-se inadequado, pois a correspondência indica
que o débito seria de R$ 585,25 (quinhentos e oitenta e cinco reais e vinte e cinco centavos), quando àquela altura a
autora já tinha quitado praticamente 90% da dívida, restando apenas o saldo de R$ 34,06 (trinta e quatro reais e seis
centavos). Portanto, a prova dos autos deixa evidente que a confusão criada pelas reclamadas, primeiro com a falta de
comunicação entre elas no momento de repassar os valores descontados no TRCT da reclamante, e, depois, passando
pela cobrança indevida de valores já pagos, até culminar com a indevida inscrição do nome da reclamante no
SERASA, embora a dívida já estivesse praticamente toda quitada, criou todo o imbróglio que resultou em dano à
imagem, à honra e à dignidade da reclamante. Embora parte desses atos seja posterior ao término da relação de
emprego, é induvidoso que eles foram praticados de forma conjunta pelas duas partes reclamadas, em decorrência do
contrato de empréstimo consignado que era atrelado ao vínculo empregatício havido entre a reclamante e a 1ª
reclamada. Enfim, o problema criado pelas duas reclamadas acabou levando a reclamante a ter seu nome inserido no
serviço de proteção ao crédito, razão pela qual entendo que a conduta delas insere-se nos termos do artigo 186 do
Código Civil, permitindo a indenização por danos morais pós-contratual. É um pouco mais do que óbvio que nos casos
de inscrição indevida no SERASA o dano à imagem, à honra e à boa fama da pessoa (CRFB, art. 5º, V e X) é puro,
bastando, assim, a simples demonstração do resultado lesivo e a conexão com o fato causador, para efeito de
caracterizar a responsabilização das reclamadas. E no caso ora analisado tal situação restou mais do que evidente,
bastando observar que há ofício do SERASA confirmando a inscrição do nome da reclamante por uma dívida de R$
585,25 (quinhentos e oitenta e cinco reais e vinte e cinco centavos), mesmo já existindo o pagamento de praticamente
todo o débito. (...) Portanto, julgo procedente o pedido de indenização por danos morais. Recurso de revista não
conhecido. (...). (RR - 3452400-17.2008.5.09.0001 , Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, Data de
Julgamento: 30/11/2016, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 02/12/2016).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº13.015/14. (...)
3. DESCONTOS SALARIAIS. PENSÃO ALIMENTÍCIA. DESCONTO A MAIOR. EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 126/TST. (...) A magistrada de
origem entendeu regular o desconto efetivado nas verbas rescisórias em razão de empréstimo consignado aos seguintes
fundamentos: "No caso dos autos, o autor não nega que tenha contraído empréstimos consignados, com previsão de
desconto diretamente na folha de pagamento. A documentação carreada aos autos confirma que, a partir do momento
em que o reclamante afastou-se em gozo de benefício previdenciário, a empresa não mais efetuou os descontos que
estavam sendo procedidos até então (fls. 78/118). Ou seja, o reclamante efetivamente, contraiu empréstimos e, ao
longo de vários meses, não pagou por eles. Assim, e observados os limites da lide, não há como reputar-se indevido o
desconto realizado no momento da rescisão contratual. Esclareço, ante os fundamentos trazidos na inicial, que não
pode o reclamante sustentar a impossibilidade do desconto, sob o argumento da intangibilidade salarial, após
livremente ter contraído empréstimo consignado e autorizado justamente o desconto de valores em sua folha de
pagamento. Sinalo, ainda, que não foi caso de antecipação das parcelas vincendas, mas de cobrança a posteriori de
valores que, desde maio/2011-, não mais foram descontados da remuneração mensal do demandante. Friso, também,
que não há nos autos qualquer prova de que o autor tenha sido inscrito no SPC e no SERASA em razão de supostas
falhas internas da empresa. Por fim, o montante de R$ 3.073,00 é inferior ao valor de um mês de remuneração à época
da despedida (considerada, a soma do salário-base e do adicional de antigüidade - fl. 52), motivo pelo qual não há falar
em afronta ao art. 477, § 5°, da CLT." (fls. 157 e ' V,). Inconformado com a decisão, o reclamante recorre. Sustenta ser
simplório o fundamento da sentença. Assevera que a questão é saber: se o desconto poderia ter sido feito; se o valor
descontado está correto; se a reclamada provou que o valor está correto, ônus que defende ser dela, nos termos dos
artigos818da CLT e 333, II, do CPC. A decisão merece reforma. A lei que dispõe sobre a autorização para desconto de
prestações em folha de pagamento (Lei nº 10.820/03) prevê em seu artigo 1º § 1°, o seguinte: "O desconto mencionado
neste artigo também poderá incidir sobre verbas rescisórias devidas pelo empregador, se assim previsto no respectivo
contrato de empréstimo, financiamento OU arrendamento mercantil, até o limite de trinta por cento." (grifei). Diante
do princípio da intangibilidade salarial previsto no artigo 462 da CLT e do dever de documentação da contrato do
trabalho atribuído ao empregador, pelo princípio da aptidão para a prova, cabia à reclamada, nos termos do artigo 818
da CLT, comprovar em que termos se deu a autorização para os descontos realizados no salário do empregado, se
contemplavam a possibilidade da incidência de descontos sobre as verbas rescisórias. Ainda que o autor admita ter
contraído o empréstimo consignado ou que o valor descontado a tal título não tenha ultrapassado a sua remuneração
mensal na época da dispensa (artigo 477, § 5º da CLT), não tendo a demandada trazido aos autos quaisquer
documentos em relação ao regramento adotado para o empréstimo consignado (contrato, convênio ou informação a
respeito do ajuste), não há como se concluir pela regularidade do desconto efetuado nas verbas rescisórias (por
ausência de prova de previsão de descontos nos haveres rescisórios, como estabelece a norma citada). Por conseguinte,
dou provimento ao recurso para determinar a restituição dos descontos efetuados na rescisão contratual a título de
empréstimo consignado (R$ 3.073.00, fl. 55). (...) Recurso de revista não conhecido nos tópicos. (...). (RR - 1346-
90.2013.5.04.0002 , Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 16/12/2015, 3ª Turma, Data
de Publicação: DEJT 18/12/2015).

I - RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE. (...) 2 - POSSIBILIDADE DE DESCONTO NO TRCT DE


VALOR SUPERIOR À REMUNERAÇÃO DO EMPREGADO EM CASO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. O
entendimento pacificado desta Corte é no sentido de que, não obstante a previsão do §5º do artigo 477 da CLT, que
limita a compensação no pagamento das verbas rescisórias ao valor de uma remuneração do empregado, referido
dispositivo se refere apenas às dívidas de natureza trabalhista, e, por conseguinte, não se aplica à hipótese vertente,
relativa a empréstimo consignado, cuja natureza é cível, sobretudo porque art. 1.º, §§ 1.º e 2.º, da Lei 10.820/2003
autoriza expressamente o desconto de até 30% do valor das verbas rescisórias para o pagamento de empréstimo
consignado. Recurso de revista não conhecido. 3 - FÉRIAS EM DOBRO. O Tribunal Regional, após analisar os
elementos de prova dos autos, asseverou que a autora não produziu prova convincente capaz de elidir a presunção
relativa de veracidade da prova documental (avisos e recibos de férias). Desta feita, não demonstrada a aludida
irregularidade na concessão das férias, irrepreensível a decisão regional que inferiu o pedido de pagamento em dobro,
inexistindo ofensa ao art. 134, § 1.º, da CLT. Recurso de revista não conhecido. (...). (ARR - 3144-70.2010.5.12.0034 ,
Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes, Data de Julgamento: 16/12/2015, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT
18/12/2015).
 
Base legal:
Decreto 4.840/2003,
Lei 10.820/2003 e os citados no texto.
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