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Karl Marx: 2ª Aula

E a crítica da Economia Política


O percurso de Marx

• Tese de doutoramento de Marx sobre a filosofia epicurista

• Crítica da filosofia do direito de Hegel

• A questão judaica (1843-1844).


• trennung(separação)
• spaltung(clivagem)
• absonderung(separação ou marginalização)
• veräussern (alienar-se)
Nas minhas pesquisas cheguei à conclusão de que as relações jurídicas – assim como as formas de Estado -
não podem ser compreendidas por si mesmas, nem pela dita evolução geral do espírito humano, inserindo-
se pelo contrário nas condições materiais da existência de que Hegel, à semelhança dos ingleses e
franceses do século XVIII, compreende o conjunto pela designação de “sociedade civil”; por seu lado, a
anatomia da sociedade civil deve ser procurada na economia política. Tinha começado o estudo desta
em Paris, continuando-o em Bruxelas (...) A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida,
serviu de fio condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na produção social da
sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independetes da sua
vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças
produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da
sociedade, a base concreta sobre a qual correspondem determinadas formas de consciência social. O
modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em
geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente,
determina a sua consciência. (Contribuição à Crítica da Economia Política, 2003, p. 4-5)
A Introdução do “elemento econômico”

• A introdução do “elemento econômico” como categoria ontológica


fundamental.

• A questão da universalização da “vendabilidade”

• Liberdade humana e liberdade contratual


Manuscritos de Paris

• O Ponto de Arquimedes.

• Ponto de transição: “Esboço de uma crítica da economia política”


(Engels,1843)

• Entausserung

• Entfrendung

• Entfrendete Arbeit : trabalho estranhado

• Asserung (externação): mercadoria


Manuscritos de Paris: pontos fundamentais

• Trabalho enquanto formador universal da sociabilidade

• Relação trabalho e capital

• O conceito de estranhamento

• A universalização do trabalho abstrato enquanto condição histórica fundamental para o


desenvolvimento capitalista.

• Criação de uma base jurídica-política para garantir a subsunção do trabalho ao capital

• A propriedade privada como consequência do trabalho exteriorizado


Trabalho estranhado (entfremdete Arbeit)

• Trabalho enquando mediador universal da relação homem-natureza


(natureza-natureza)

• Stoffwechsel (metabolismo)

• Universelles soziales Stoffwechselsystem (Sistema de metabolismo


social universal) – Grundisse

• Sozialer Stoffwechsel (metabolismo social): O Capital, livro III – Da


renda fundiária.
“Não é a unidade do ser humano vivo e ativo com as condições
naturais, inorgânicas, do seu metabolismo com a natureza e, em
consequência, a sua apropriação da natureza que precisa de
explicação ou é resultado de um processo histórico, mas a
separação entre essas condições inorgânicas da existência humana
e essa existência ativa, uma separação que só está posta por
completo na relação entre trabalho assalariado e capital”. (MARX,
Grundisse, p. 401)
Atividade produtiva e mediação alienada

• Mediação de primeira ordem:


• Trabalho enquanto metabolismo social entre homem e a natureza.
• Base ontológica fundamental
• Constitutiva do processo de “socialização” humana
• Constituição da consciência

• Medição de segunda ordem:


• Mediações historicamente específicas
• Particularizações produzidas a partir da base ontológica
• Trabalho conforme constituído no interior do sistema histórico capitalista (trabalho
alienado)
“Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana. Uma aranha
executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de
um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto
da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de
transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um
resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador.
Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao
material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei
determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar a sua
vontade.” (MARX, O Capital – Livro 1, p. 211-212)
Trabalho estranhado, externação e objetivação

• A objetivação do trabalhador: desposamento dos bens essenciais à


manutenção da vida material e dos objetos de trabalho.

• Exteriorização: “o trabalho fez-se coisa” (Sachlich)

• Objetivação do trabalho (Vergegenständlichung):

• O fruto do trabalho ganha existência externa e independente.


“o objeto (Gegenstand) que o trabalho produz, o seu produto, se lhe defronta
como um ser estranho, como um poder independente do produtor. O produto
do trabalho é o trabalho que se fixou num objeto, fez-se coisa (sachlich), é a
objetivação (Vergegenständlichung) do trabalho. A efetivação
(Verwirklichung) do trabalho é a sua objetivação. Esta efetivação do trabalho
aparece ao estado nacional-econômico como desefetivação (Entwirklichung)
do trabalhador, a objetivação como perda do objeto e
servidão ao objeto, a apropriação como estranhamento
(Entfremdung), como alienação (Entäusserung)”.

(MARX, Manuscritos, p.80)


Trabalho estranhado e propriedade privada

• A Pauperização progressiva dos meios de vida do trabalhador

• Estranhamento para com o mundo externo ( a mercadoria).

• Ser genérico (Gattungswesen)

• Vida genérica (Gattungleben)

• Estranho para si-mesmo (Selbstentfremdung)


Pois primeiramente o trabalho, a atividade vital, a vida produtiva mesma aparece ao homem
apenas como um meio para a satisfação de uma carência, a necessidade de manutenção da
existência física. A vida produtiva é, porém, a vida genérica. É a vida engendradora de vida. No
modo (Art) da atividade vital encontra-se o caráter inteiro de uma species, seu caráter genérico, e
a atividade consciente livre é o caráter genérico do homem. A vida mesma aparece só como meio
de vida. O animal é imediatamente um com a sua atividade vital. Não se distingue dela. É ela. O
homem faz da sua atividade vital mesma um objeto da sua vontade e da sua consciência. Ele tem
atividade vital consciente. Esta não é uma determinidade (Bestimmtheit) com a qual ele coincide
imediatamente. A atividade vital consciente distingue o homem imediatamente da atividade vital
animal. Justamente, [e] só por isso, ele é um ser genérico. Ou ele somente é um ser consciente,
isto é, a sua própria vida lhe é objeto, precisamente porque é um ser genérico. Eis por que a sua
atividade é atividade livre. O trabalho estranhado inverte a relação a tal ponto que o homem,
precisamente porque é um ser consciente, faz da sua atividade vital, da sua essência, apenas um

meio para a sua existência.” (MARX, Manuscritos, p.84)


Contribuição à Crítica da
Economia Política
KARL MARX
Método de Análise da Economia Política Marxista

• Análise Estrutural do Capitalismo:


• Objeto de estudo da Economia Política: A Produção Material da existência
humana.
• Análise das condições gerais de funcionamento da produção capitalista e de suas
relações subsequentes.
• Análise das condições sociais de produção, historicamente determinadas.
• Análise das contraposição entre as forças sociais em curso num determinado momento
histórico.

• Análise do processo histórico de formação da sociedade comercial burguesa.


Introdução à Crítica da Economia Política

• Crítica ao naturalismo e suas vertentes modernas:


• A leis naturais são expressões de relações burguesas.
• A naturalização de relações históricas.

• Crítica ao individualismo metodológico


• O indivíduo somente pôde existir a partir da eclosão da sociedade burguesa.

• “Toda produção é apropriação da natureza pelo indivíduo, no quadro ou por intermédio de uma forma
de sociedade determinada. Neste sentido, é uma tautologia dizer que a propriedade (apropriação) é
uma condição da produção. Mas é ridículo partir daqui para, de um salto, passar a uma forma
determinada da propriedade, à propriedade privada, por exemplo” (MARX, 2003, p. 231).

• Toda produção engendra suas próprias relações jurídicas e sua própria forma de governo.
Quadro Geral: Economia Política Marxista
• Produção: Processo no qual os membros da sociedade adaptam os produtos da natureza em
conformidade com as necessidades humanas.

• Distribuição: proporção do nível de participação dos

indivíduos na repartição desses produtos.

• Troca: Obtenção de produtos particulares, a partir da

conversão da quota-parte que lhe é reservada pela distribuição.

• Consumo: Os produtos tornam-se em objetos de prazer, para o usufruto pessoal.


MOVIMENTO HISTÓRICO DA DIALÉTICA SOCIAL

PRODUÇÃO DISTRIBUIÇÃO TROCA CONSUMO

Ponto de Reparte os objetos Reparte novamente


Partida os objetos, só que Evade o movimento
segundo as leis social tornando-se
sociais em acordo com as
necessidade servidor da
Origem da individuais necessidade
sociedade individual
A sociedade,
através de
Objetivação do Origem do indivíduo or ia
determinações ca
d
ser social gerais, que r Os produtos
Me
intermedia a tornam-se
Cria os objetos produção e o Subjetivação objetos de
Mercadoria
correspondentes às consumo. do Objeto usufruto pessoal
necessidades humanas.
Relações dialéticas no interior da produção capitalista.

• A dialética entre produção, consumo, objeto e sujeito.

• Produção e distribuição

• Troca e produção

• O conceito de Totalidade orgânica:


• Unidade e reciprocidade interna

• “relações recíprocas determinadas desses diferentes momentos”


Parece mais correto começar pelo que há de concreto e real nos dados; assim, pois, na economia, pela
população, que é a base e sujeito de todo o ato social da produção. Todavia, bem analisado, esse método seria
falso. A população é uma abstração se deixo de lado as classes que a compõem. Essas classes são, por sua vez,
uma palavra sem sentido se ignoro os elementos sobre os quais repousam, por exemplo: o trabalho assalariado,
o capital etc. Esses supõem a troca, a divisão do trabalho, os preços etc. O capital, por exemplo, não é nada
sem trabalho assalariado, sem valor, dinheiro, preços etc. Se começasse, portanto, pela população, elaboraria
uma representação caótica do todo e, por meio de uma determinação mais estrita, chegaria analiticamente,
cada vez mais, a conceitos mais simples; do concreto representado chegaria a abstrações cada vez mais
tênues, até alcançar as determinações mais simples. Chegado a esse ponto, teria que voltar a fazer a viagem
de modo inverso, até dar de novo com a população, mas dessa vez não como uma representação caótica de um
todo, porém como uma rica totalidade de determinações e relações diversas. O primeiro constitui o caminho
que foi historicamente seguido pela nascente Economia Política (...) O concreto é concreto, porque é a síntese
de muitas determinações, isto é, unidade do diverso. Por isso, o concreto aparece no pensamento como o
processo da síntese, como resultado, não como ponto de partida, embora seja o verdadeiro ponto de partida e,
portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação. (MARX, 2003, p. 247)

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