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Chapter 1

Finitude, Infinitude e Cardinalidade

1.1 Números Naturais


Assumimos, sem demontração, que é válido:

• Princı́pio da Boa Ordem: Todo subconjunto 𝐴 ⊂ ℕ tem um elemento mı́nimo 𝑥 = 𝑚𝑖𝑛𝐴;

• Princı́pio de Indução: Se um conjunto 𝑋 ⊂ ℕ é tal que 1 ∈ 𝑋 e 𝑠 (𝑋) ⊂ 𝑋 então 𝑋 = ℕ;

• Tricotomia: ∀𝑎, 𝑏 ∈ ℕ apenas um dos três casos pode ser verdade: 𝑎 < 𝑏, 𝑎 = 𝑏 ou 𝑎 > 𝑏.

1.2 Funções
Definição 1.2.1: Funções Injetoras, Sobrejetoras e Bijetoras

Sejam 𝐴 e 𝐵 conjuntos e 𝑓 : 𝐴 → 𝐵 é uma função, dizemos que 𝑓 é:

• Injetora: se ∀𝑎1 , 𝑎2 ∈ 𝐴, 𝑎1 ≠ 𝑎2 ⇐⇒ 𝑓 (𝑎1 ) ≠ 𝑓 (𝑎2 );

• Sobrejetora: se ∀𝑏 ∈ 𝐵, ∃𝑎 ∈ 𝐴; 𝑓 (𝑎) = 𝑏;

• Bijetora: se 𝑓 for injetora e sobrejetora.

Observação
Composição de função preserva injetividade e sobrejetividade.

1.3 Finitude e Infinitude


Definição 1.3.1: Conjunto Finito

Um conjunto 𝑋 é dito finito se 𝑋 é vazio ou existe 𝑛 ∈ ℕ e 𝑓 : 𝑋 → [𝑛] injetiva. Dizemos que 𝑓 atesta a
finitude de 𝑋. Um conjunto é infinito se não exite tal 𝑓 .

Observação
Notação [𝑛] = {𝑝 ∈ ℕ; 𝑝 ⩽ 𝑛}.

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Proposition 1.3.1
Se 𝑋 é um conjunto finito, todo conjunto 𝑌 ⊂ 𝑋 também é finito.

Proof: A restrição de f a 𝑌 preserva a injetividade.

Proposition 1.3.2
Se 𝐶 é um conjunto finito e 𝑔 : 𝑋 → 𝐶 é injetiva, então 𝑋 é finito.

Proof: Se 𝐶 é um conjunto finito, então existe uma função 𝑓 : 𝐶 → [𝑛] injetiva. Assim, como a composição de
funções preserva a injetividade, 𝑔 ◦ 𝑓 : 𝑋 → [𝑛] é injetiva. Portanto, 𝑋 é um conjunto finito.

Proposition 1.3.3
Bijeção preserva finitude e infinitude.

Proof: Considere 𝑋 e 𝑌 conjuntos e 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 uma função bijetora. Se 𝑌 for um conjunto finito, 𝑋 também é
pelo corolário acima. Analogamente, 𝑓 −1 : 𝑌 → 𝑋 também é uma função bijetora e, se 𝑋 for um conjunto finito,
𝑌 também é.

Proposition 1.3.4
𝑋 ⊂ ℕ e X é limitado ⇐⇒ 𝑋 é finito

Proof: =⇒ Se 𝑋 é limitado, então existe 𝑛 ∈ ℕ tal que 𝑥 ⩽ 𝑛, ∀𝑥 ∈ 𝑋. Assim, a função identidade 𝑖𝑑 : 𝑋 → [𝑛]
é injetiva. Portanto, 𝑋 é um conjunto finito.
⇐= 𝑋 é finito, sem perda de generalidade suponha que |𝑋 | = 𝑛, 𝑋 ⊂ ℕ então existe 𝑥 1 = 𝑚𝑖𝑛𝑋,
construı́mos o conjunto 𝑋1 = 𝑋 \ {𝑥1 }. Sucessivamente, removemos o elemento mı́nimo 𝑥 𝑖 de 𝑋𝑖 , 1 ⩽ 𝑖 < 𝑛.
Quando 𝑖 = 𝑛 − 1, evidenciamos que 𝑋 é limitado por 𝑥 𝑛 que é o elemeto mı́nimo do conjunto unitário 𝑋𝑛−1 .

Theorem 1.3.1
Se 𝐴 é um subconjunto próprio de [𝑛], não pode existir uma bijeção 𝑓 : 𝐴 → [𝑛]

Proof: Se existe uma bijeção 𝑓 : 𝐴 → [𝑛], 𝐴 ⊂ [𝑛] ⇐⇒ ∃𝑛 𝑖 ∈ [𝑛] : 𝑛 𝑖 ∉ 𝐴, ∀𝑛 ∈ ℕ fixo. Então


∃𝑎 ∈ 𝐴 : 𝑓 (𝑎) = 𝑛. Restringimos o domı́nio de 𝑓 a 𝐴1 = 𝐴 \ 𝑎, preservado a bijeção temos 𝑓 : 𝐴1 → [𝑛 − 1].
Supondo, sem perda de generalidade, que |𝐴| = 𝑛 − 1, repetimos isso 𝑛 − 1 vezes e encontramos 𝐴𝑛−1 =, temos
que 𝑓 : ∅ → [1] é bijetiva, porém isso é um absurdo.

Corollary 1.3.1
Se 𝑓 : [𝑚] → 𝑋 e 𝑔 : [𝑛] → 𝑋 são bijeções, então 𝑚 = 𝑛.

Proof: Como 𝑔 é uma bijeção, podemos escrever 𝑔 −1 : 𝑋 → [𝑛], 𝑓 ◦ 𝑔 −1 : [𝑚] → [𝑛] e 𝑔 ◦ 𝑓 −1 : [𝑛] → [𝑚] são
bijeções. Se 𝑚 ≠ 𝑛, pela tricotomia, temos dois casos:
(i) 𝑚 > 𝑛 =⇒ [𝑛] ⊂ [𝑚]
Contradiz o fato que 𝑔 ◦ 𝑓 −1 : [𝑛] → [𝑚] é bijeção pelo teorema anterior.
(ii) 𝑛 < 𝑚 =⇒ [𝑚] ⊂ [𝑛]
Contradiz o fato que 𝑓 ◦ 𝑔 −1 : [𝑚] → [𝑛] é bijeção pelo teorema anterior. Portanto, é verdade que 𝑚 = 𝑛.
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Corollary 1.3.2
Seja 𝑋 um conjunto finito, uma aplicação 𝑓 : 𝑋 → 𝑋 é injetora se, e somente se, for sobrejetora.

Proof: =⇒ Seja 𝑓 : 𝑋 → 𝑋, então ∀𝑥 ∈ 𝑋 , 𝑓 (𝑥) = 𝑦, mas como é injetiva š𝑥1 , 𝑥2 : 𝑓 (𝑥1 ) = 𝑦 = 𝑓 (𝑥2 ). Assim,
∀𝑦 ∈ 𝑋 , ∃!𝑥 ∈ 𝑋 : 𝑥 = 𝑓 −1 (𝑦), portanto f é sobrejetiva.
⇐= Seja 𝑓 : 𝑋 → 𝑋 sobrejetiva, então ∀𝑦 ∈ 𝑋 , ∃𝑥 ∈ 𝑋 : 𝑓 (𝑥) = 𝑦. Se ∃𝑥1 , 𝑥2 : 𝑓 (𝑥1 ) = 𝑓 (𝑥2 ) = 𝑦, então
restringir o domı́nio para 𝑋1 = 𝑋 \ 𝑥 1 teriamos uma bijeção 𝑓 : 𝑋1 → 𝑋 : 𝑋1 ⊂ 𝑋 que, pelo teorema anterior, é
absurdo. Evidenciamos que f é injetiva.

1.4 Cardinalidade
Definição 1.4.1: Cardinalidade de um Conjunto Finito

Seja 𝑋 um conjunto finito, dizemos que a cardinalidade de 𝑋, denotada por |𝑋 |, é igual a 0 se o conjunto
for vazio e, caso contrário, igual ao menor número 𝑛 ∈ ℕ tal que existe 𝑓 : 𝑋 → [𝑛] injetiva.

Observação
Essa definição é consistente, pois se 𝑋 é finito, temos pelo menos um elemento e, pelo PBO, sempre existirá
um que seja o mı́nimo. Assim, podemos contar quantos elementos tem o conjunto excluindo sempre o menor
elemento até encontrar o conjunto vazio.

Theorem 1.4.1
| [𝑛] | = 𝑛

Proof: Existe uma função injetiva tal que 𝐼𝑑 : [𝑛] → [𝑛]. Assim, |[𝑛]| ⩽ 𝑛. Vamos mostrar que não é possı́vel
o caso em que |[𝑛]| < 𝑛. Para isto, basta que provemos que não existe função injetiva 𝑓 : [𝑚] → [𝑛] para ∀𝑚 > 𝑛
Utilizaremos indução em n:
(i) P(1): [𝑚] → 1 não é injetiva ∀𝑚 > 1.
Negar que š 𝑓 injetiva: 𝑚 > 𝑛 equivale a:

Lenma 1.4.1
Se ∀ 𝑓 : [𝑚] → [𝑛] é injetiva, então 𝑚 ⩽ 𝑛.

(ii) P(k): [𝑚] → [𝑘 + 1], ∀𝑚 ⩽ 𝑘


(iii) P(k+1): [𝑚] → [𝑘 + 1], ∀𝑚 ⩽ 𝑘 + 1

Caso 1: 𝑛 + 1 ∉ 𝐼𝑚( 𝑓 ), então 𝑓 : [𝑚] → [𝑛] continua injetiva. Isto é, 𝑚 ⩽ 𝑛 < 𝑛 + 1.
Caso 2: 𝑓 (𝑚) = 𝑛 + 1, então restringimos 𝑓 | [𝑚−1] : [𝑚 − 1] → [𝑛] injetiva. Então

𝑚 − 1 ⩽ 𝑛 =⇒ 𝑚 ⩽ 𝑛 + 1.

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Caso 3: 𝑓 (𝑎) = 𝑛 + 1, 𝑎 < 𝑚. Definimos uma função auxiliar 𝑔 : [𝑚] → [𝑚]

𝑔(𝑎) = 𝑚







𝑔(𝑚) = 𝑛 + 1


 𝑔(𝑥) = 𝑥, ∀𝑥 ≠ 𝑎, 𝑚



Essa função é uma permutação de a e m, que uma bijeção e, portanto, preserva a injeção de f na composição.
Assim, ( 𝑓 ◦ 𝑔)(𝑚) = 𝑛 + 1 e, pelo caso 2, 𝑚 ⩽ 𝑛.

Theorem 1.4.2
Seja 𝑋 um conjunto finito, toda 𝑓 : 𝑋 → [|𝑋 |] injetora é bijetora.

Proof: Supomos f não ser sobrejetora, então

∃𝑖 ∈ [|𝑋 |] : 𝑓 (𝑎) ≠ 𝑖, ∀𝑎 ∈ 𝑋

Caso 1: 𝑖 = |𝑋 |, então 𝑓 : 𝑋 → [|𝑋 | − 1] continua a ser injetiva, absurdo, pois o cardinal é mı́nimo.
Caso 2: 𝑖 = 𝑛0 , 𝑛0 ⩽ |𝑋 |, então definimos 𝑔 : |𝑋 | → |𝑋 |

𝑔(𝑛0 ) = |𝑋 |







𝑔(|𝑋 |) = 𝑛 0


 𝑔(|𝑋 |) = 𝑛0 , ∀𝑥 ≠ 𝑛0 , |𝑋 |



Assim, (𝑔 ◦ 𝑓 ) é injetiva e (𝑔 ◦ 𝑓 ) : 𝑋 → [|𝑋 | − 1] continua sendo injetiva, absurdo.

Question 1

Se 𝑋 é finito e não vazio, existe único 𝑛 ∈ ℕ para o qual há uma bijeção 𝑏 : 𝑋 → [𝑛]. Mostre que 𝑛 = |𝑋 |.

Solution: Se X é finito então segue que existe uma bijeção 𝑔 : 𝑋 → [|𝑋 |], para [|𝑋 |] ⊂ ℕ e |𝑋 | ⩽ 𝑛. Assim,
temos que [|𝑋 |] ⊆ [𝑛]. Se |𝑋 | < 𝑛 pelo teorema 1.3.1 não pode existir uma bijeção ℎ : [|𝑋 |] → [𝑛], porém,
𝑔 −1 : [|𝑋 |] → 𝑋 e ℎ = 𝑔 −1 ◦ 𝑏 : [|𝑋 |] → [𝑛] são bijeções, absurdo.

Question 2

Se 𝐴 e 𝐵 são finitos, então existe função injetiva 𝑓 : 𝐴 → 𝐵 ⇐⇒ |𝐴| ⩽ |𝐵|.

Solution: =⇒ Se 𝑓 : 𝐴 → 𝐵 é injetiva e B finito, então ℎ : 𝐵 → [|𝐵|] é injetiva. Compondo-as temos que


ℎ ◦ 𝑓 : 𝐴 → [|𝐵|] é injetiva, concluimos que |𝐴| ⩽ |𝐵|

⇐= Se |𝐴| ⩽ |𝐵|, então [|𝐴|] ⊆ [|𝐵|] e existem bijeções 𝑓 : 𝐴 → [|𝐴|] e 𝑔 : 𝐵 → [|𝐵|]. Tem-se que
𝑔 −1 : [|𝐵|] → 𝐵 é uma bijeção. Assim, ( 𝑓 ◦ 𝑔 −1 ) : 𝐴 → 𝐵 é injetiva, pois [|𝐴|] ⊆ [|𝐵|].

Definição 1.4.2: Enumerabilidade

X é um conjunto enumerável se existe uma função injetiva 𝑓 : 𝑋 → ℕ

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Lenma 1.4.2
X é enumerável e 𝑌 ⊂ 𝑋, então Y é enumerável

Theorem 1.4.3
Todo conjunto enumerável infinito está em bijeção com ℕ

Proof: Seja 𝑓 : 𝑋 → ℕ injetiva e X infinito. Se f não for sobrejetiva, ∃𝑦 ∈ ℕ : 𝑦 ∉ 𝐼𝑚( 𝑓 ), segue que
𝑌 = ℕ \ 𝐼𝑚( 𝑓 ) não é vazio. Assim, existe 𝑛 = 𝑚𝑖𝑛𝑌 tal que se (𝑛 − 1) < 𝑛 =⇒ (𝑛 − 1) ∉ 𝑌. O que acabamos de
verificar é que há uma cota superior para 𝐼𝑚( 𝑓 ) e, pelo Corolário 1.3.4, X é finito. Isso contraria a hipótese.

Corollary 1.4.1
Todo subconjunto infinito dos naturais está em bijeção com ℕ

Theorem 1.4.4 Cantor


Não existe função 𝑓 : 𝑋 → 2𝑋 sobrejetiva

Proof: Supomos que exista 𝑓 : 𝑋 → 2𝑋 sobrejetiva. Definimos o conjunto

𝐴 := {𝑥 ∈ 𝑋 : 𝑥 ∉ 𝑓 (𝑥)}, 𝐴 ⊂ 𝒫(𝑋)

Assim, 𝐴 ≠ 𝑓 (𝑥), ∀𝑥 ∈ 𝑋 =⇒ 𝐴 ∉ 𝑓 (𝑥).

Question 3

∃ 𝑓 : 2ℕ → ℝ

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Chapter 2

Espaço Métrico e Sequências

2.1 Espaço Métrico


Definição 2.1.1: Espaço Métrico

Um espaço métrico é um conjunto 𝑋 munido de uma função 𝑑 : 𝑋 × 𝑋 → [0, +∞) satisfazendo as


propriedades

1. 𝑑 diferencia pontos: 𝑑(𝑎, 𝑏) ≠ 0 ⇐⇒ 𝑎 ≠ 𝑏;

2. 𝑑 é simétrica: 𝑑(𝑎, 𝑏) = 𝑑(𝑏, 𝑎);

3. 𝑑 satisfaz a desigualdade triangular: ∀𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ 𝑋 𝑑(𝑎, 𝑏) ⩽ 𝑑(𝑎, 𝑐) + 𝑑(𝑐, 𝑏).

Observação
Um espaço métrico é uma terna (𝑋 , 𝑑) onde 𝑋 é o espaço (Vetorial ou Topológico) e a função 𝑑 é a métrica.

Example 2.1.1 (𝑋 = ℝ e 𝑑(𝑎, 𝑏) = |𝑏 − 𝑎|)


Tomando 𝑋 como o conjunto dos reais e a função 𝑑 tal que 𝑑(𝑎, 𝑏) = |𝑏 − 𝑎| para todos 𝑎 e 𝑏 reais, é fácil
ver que (𝑋 , 𝑑) é um espaço métrico.

Observação

𝑛
Seja 𝑥 ∈ ℝ𝑛 , dizemos que a norma de 𝑥, denotada por ||𝑥|| 2 = 2
𝑖=1 𝑥 2𝑖 .

||𝑥|| ∞ := lim 𝑛
𝑥 𝑖𝑛 = 𝑚𝑎𝑥{|𝑥 1 |, . . . , |𝑥 𝑛 |}, 𝑥 ∈ ℝ𝑛
𝑛→∞

Question 4

𝑑(𝑥, 𝑦) = ||𝑥 − 𝑦|| ∞ é uma métrica sobre ℝ𝑛

Solution: (i) 𝑚𝑎𝑥{|𝑥1 − 𝑦1 |, . . . , |𝑥 𝑛 − 𝑦𝑛 |} > 0 ⇐⇒ 𝑥 ≠ 𝑦


(ii) ||𝑥 − 𝑦|| ∞ = 𝑚𝑎𝑥{|𝑥1 − 𝑦1 |, . . . , |𝑥 𝑛 − 𝑦𝑛 |} = ||𝑦 − 𝑥|| ∞
(iii) 𝑚𝑎𝑥{|𝑥 1 − 𝑦1 |, . . . , |𝑥 𝑛 − 𝑦𝑛 |} ⩽ 𝑚𝑎𝑥{|𝑥1 − 𝑧1 |, . . . , |𝑥 𝑛 − 𝑧 𝑛 |} + 𝑚𝑎𝑥{|𝑧1 − 𝑦1 |, . . . , |𝑧 𝑛 − 𝑦𝑛 |}

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Question 5

||𝑥|| ∞ ⩽ ||𝑥|| 2 ⩽ 𝑛||𝑥|| ∞

qÍ √ pÍ
𝑥 𝑖𝑛 ⩽ 𝑥 2𝑖 ⩽ lim 𝑛 𝑛 𝑥 𝑖𝑛
p
𝑛
Í
Solution: lim

Example 2.1.2 (𝑋 = ℝ𝑛 e 𝑑(𝑎, 𝑏) = ||𝑏 − 𝑎||)


Tomando 𝑋 = ℝ𝑛 e 𝑑 a norma de 𝑏 − 𝑎, podemos mostrar que (𝑋 , 𝑑) é um espaço métrico. Verificando:

1. 𝑑(𝑎, 𝑏) = 0 ⇐⇒ ||𝑏 − 𝑎|| = 0 ⇐⇒ ||𝑏 − 𝑎|| 2 = 0 ⇐⇒ (𝑏 𝑖 − 𝑎 𝑖 )2 = 0∀𝑖 ∈ [𝑛] ⇐⇒ 𝑎 𝑖 = 𝑏 𝑖 ∀𝑖 ∈ [𝑛];

2. ||𝑥|| = || − 𝑥|| ⇒ ||𝑏 − 𝑎|| = ||𝑎 − 𝑏|| ⇒ 𝑑(𝑎, 𝑏) = 𝑑(𝑏, 𝑎);


Í𝑛
3. ||𝑥 + 𝑦|| ⩽ ||𝑥|| + ||𝑦|| ⇐⇒ ||𝑥 + 𝑦|| 2 ⩽ ||𝑥|| 2 + ||𝑦|| 2 + 2||𝑥|| ||𝑦|| ⇐⇒ 𝑖=1 𝑥 𝑖 𝑦 𝑖 ⩽ ||𝑥|| ||𝑦||

O último ponto é verdade pela Desigualdade de Cauchy-Schwarz. Assim, se 𝑥 = 𝑏 − 𝑐 e 𝑦 = 𝑐 − 𝑎,


||𝑏 − 𝑎|| ⩽ ||𝑏 − 𝑐|| + |||𝑐 − 𝑎|| ⇐⇒ 𝑑(𝑎, 𝑏) ⩽ 𝑑(𝑐, 𝑏) + 𝑑(𝑎, 𝑐).

Example 2.1.3
Seja 𝑋 um conjunto e 𝑑 tal que,
 1, 𝑎 ≠ 𝑏



𝑑(𝑎, 𝑏) =
 0, 𝑎 = 𝑏


é possı́vel mostrar que (𝑋 , 𝑑) é um espaço métrico. Verificando:

1. por construção;

2. Se 𝑎 = 𝑏 ⇒ 𝑑(𝑎, 𝑎) = 𝑑(𝑎, 𝑎). Se 𝑎 ≠ 𝑏 ⇒ 𝑑(𝑎, 𝑏) = 1 = 𝑑(𝑏, 𝑎);

3. Se 𝑎 = 𝑏, 𝑑(𝑎, 𝑏) = 0 então vale 𝑑(𝑎, 𝑏) ⩽ 𝑑(𝑎, 𝑐) + 𝑑(𝑏, 𝑐). Se 𝑎 ≠ 𝑏, 𝑑(𝑎, 𝑏) = 1. Por outro lado, 𝑐
deve ser igual a um dos dois, assim 𝑑(𝑎, 𝑐) + 𝑑(𝑏, 𝑐) ⩾ 1 e vale a desigualde.

Lenma 2.1.1
(𝑋 , 𝑑) um espaço métrico e 𝑌 ≠ ∅, 𝑌 ⊂ 𝑋, então (𝑌, 𝑑) também é espaço métrico.

2.2 Sequências
Definição 2.2.1: Sequência

Uma sequência é uma função 𝑓 : ℕ → 𝑋. {𝑎 𝑛 }∞


𝑛=1 = (𝑎 1 , . . . , 𝑎 𝑛 , . . . )

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Definição 2.2.2: Sequência convergente

𝑛=1 uma sequência em um espaço métrico (𝑋 , 𝑑). Dizemos que 𝑥 𝑛 converge para 𝑥 quando n
Seja {𝑥 𝑛 }∞
tende ao infinito e denotamos por

𝑥𝑛 → 𝑥 𝑛→∞

Definição 2.2.3: Convergência sobre Corpo Ordenado

Uma sequência 𝑎 𝑛 ∞
𝑛=1 em 𝑋 converge para 𝑎 quando 𝑛 tende ao infinito e escrevemos

𝑎𝑛 → 𝑎

quando dado 𝜖 > 0 existe 𝑛0 = 𝑛(𝜖) tal que para todo 𝑛 ⩾ 𝑛0

|𝑎 𝑛 − 𝑎| < 𝜖

Example 2.2.1
(−1)𝑛 não converge

Proposition 2.2.1
O limite é único: 𝑎 𝑛 → 𝑎 e 𝑏 𝑛 → 𝑏, então 𝑎 = 𝑏

|𝑎−𝑏|
Proof: Se 𝑎 ≠ 𝑏, para 𝜖 = 3 > 0 temos que

|𝑎 − 𝑏|
∀𝑛 ⩾ 𝑛1 : |𝑎 𝑛 − 𝑎| <
3
|𝑎 − 𝑏|
∀𝑛 ⩾ 𝑛2 : |𝑎 𝑛 − 𝑏| <
3
Fazendo 𝑛3 := 𝑚𝑎𝑥{𝑛1 , 𝑛2 } é válido simultaneamente as duas inequações.

|𝑎 − 𝑏| ⩽ |𝑎 − 𝑎 𝑛 + 𝑎 𝑛 − 𝑏|
⩽ |𝑎 𝑛 − 𝑎| + |𝑎 𝑛 − 𝑏|
|𝑎 − 𝑏|
⩽ 2 .
3
Mas isso não é possı́vel. Então 𝑎 = 𝑏.

Proposition 2.2.2
se 𝑎 𝑛 → 𝑎 e 1 ⩽ 𝑛(1) < 𝑛(2) < . . .
𝑎 𝑛(𝑗) → 𝑎

Proof: Por hipótese ∀𝜖 > 0, ∃𝑛0 ∈ ℕ tal que ∀𝑛 ⩾ 𝑛0 : |𝑎 𝑛 − 𝑎| < 𝜖. Fazendo 𝑗0 = 𝑛0 , temos que ∀𝑗 ⩾ 𝑗0 resulta
em 𝑛(𝑗) ⩾ 𝑛(𝑛0 ) ⩾ 𝑛0 .

Proposition 2.2.3
𝑎 𝑛 = 𝑐 ∈ 𝑋, 𝑎 𝑛 → 𝑐

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Proof: ∀𝜖 > 0, 𝑛 = 1 : |𝑎 1 − 𝑐| = |𝑐 − 𝑐| = 0 < 𝜖

Proposition 2.2.4
𝑎 𝑛 → 𝑎 e 𝑏 𝑛 → 𝑏 =⇒ 𝑎 𝑛 + 𝑏 𝑛 → 𝑎 + 𝑏

Proof: Por hipótese temos


𝜖
∃𝑛1 ∈ ℕ : ∀𝑛 ⩾ 𝑛1 : |𝑎 𝑛 − 𝑎| <
, ∀𝜖 > 0
2
𝜖
∃𝑛2 ∈ ℕ : ∀𝑛 ⩾ 𝑛2 : |𝑏 𝑛 − 𝑏| < , ∀𝜖 > 0
2
Tomemos 𝑛3 := 𝑚𝑎𝑥{𝑛1 , 𝑛2 } é válido simultaneamente as duas desigualdades anteriores para ∀𝑛 ⩾ 𝑛3 . Assim:

|(𝑎 𝑛 + 𝑏 𝑛 ) − (𝑎 + 𝑏)| ⩽ |𝑎 𝑛 − 𝑎| + |𝑏 𝑛 − 𝑏|
𝜖 𝜖
⩽ + =𝜖
2 2

Proposition 2.2.5
𝑎 𝑛 → 𝑎 e 𝑏 𝑛 → 𝑏 =⇒ 𝑎 𝑛 .𝑏 𝑛 → 𝑎.𝑏

Proof: Por hipótese temos


𝜖1
∃𝑛1 ∈ ℕ : ∀𝑛 ⩾ 𝑛1 : |𝑎 𝑛 − 𝑎| < , ∀𝜖1 ⩾ 𝜖 > 0
2|𝑏|
𝜖2
∃𝑛2 ∈ ℕ : ∀𝑛 ⩾ 𝑛2 : |𝑏 𝑛 − 𝑏| < , ∀𝜖 2 ⩾ 𝜖 > 0
2(|𝑎| + 1)
n o
𝜖1
Fazendo 𝑛3 := 𝑚𝑎𝑥{𝑛1 , 𝑛2 } temos que as duas equações anteriores são válidas e 𝜖3 = 𝑚𝑎𝑥 , 𝜖2
2(|𝑎|+1) 2 |𝑏|
. Assim,
fazemos:

|𝑎 𝑛 .𝑏 𝑛 − 𝑎.𝑏| ⩽ |𝑎 𝑛 .𝑏 𝑛 + 𝑎 𝑛 .𝑏 − 𝑎 𝑛 .𝑏 − 𝑎.𝑏|
⩽ |𝑎 𝑛 |.|𝑏 𝑛 − 𝑏| + |𝑏|.|𝑎 𝑛 − 𝑎|
𝜖2 𝜖1
   
⩽ (|𝑎| + 1) + |𝑏|
2(|𝑎| + 1) 2|𝑏|
𝜖1 𝜖2
⩽ + ⩽ 𝜖3
2 2

Observação
|𝑎 𝑛 − 𝑎| < 𝜖 ⇐⇒ 𝑎 − 𝜖 < an < a + 𝜖. Ao fixar o 𝜖 e dado 𝑛 para o qual é válido, utilizamos uma majoração
superior para limitar a sequência 𝑎 𝑛 a partir dessa desigualdade na demonstração: 𝑎 𝑛 < |𝑎| + 𝜖, 𝜖0 = 1

Observação
A escolha do 𝜖1 e 𝜖 2 se altera de acordo com a escolha dos termos utilizado da soma zero:

0 = 𝑎 𝑛 .𝑏 − 𝑎 𝑛 .𝑏 = 𝑎.𝑏 𝑛 − 𝑎.𝑏 𝑛

Proposition 2.2.6
𝑎 𝑛 → 𝑎, 𝑎 𝑛 ≠ 0, ∀𝑛 e 𝑎 ≠ 0 =⇒ 1
𝑎𝑛 → 1
𝑎

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Proof: ∃𝑛1 ∈ ℕ : ∀𝑛 ⩾ 𝑛1 : |𝑎 𝑛 − 𝑎| < (|𝑎| + 1).|𝑎|.𝜖

− 1 = 𝑎 − 𝑎𝑛 =

1 1 1
. .|𝑎 𝑛 − 𝑎|

𝑎 𝑛 𝑎 𝑎 𝑛 .𝑎 |𝑎 𝑛 | |𝑎|
1 1
⩽ . .((|𝑎| − 1).|𝑎|.𝜖) = 𝜖
|𝑎| − 1 |𝑎|

Observação
|𝑎 𝑛 − 𝑎| < 𝜖 ⇐⇒ a − 𝜖 < an < 𝑎 + 𝜖. Ao fixar o 𝜖 e dado 𝑛 para o qual é válido, utilizamos uma majoração
inferior para limitar a sequência 𝑎 𝑛 a partir dessa desigualdade na demonstração: |𝑎| − 𝜖 < 𝑎 𝑛 , 𝜖0 = 1

Proposition 2.2.7
Se 𝑎 𝑛 ⩽ 𝐴, ∀𝑛 e 𝑎 𝑛 → 𝑎, então 𝑎 ⩽ 𝐴

Proof: Se 𝑎 𝑛 ⩽ 𝐴 implica que ∀𝛿 > 0 : 𝐴 ⩽ 𝑎 𝑛 + 𝛿, então 𝑎 𝑛 − 𝛿 ⩽ 𝐴 ⩽ 𝑎 𝑛 + 𝛿 =⇒ 𝑎 = 𝐴

Proposition 2.2.8
𝑎 𝑛 ⩽ 𝑏 𝑛 ⩽ 𝑐 𝑛 , ∀𝑛, 𝑎 𝑛 → 𝑥 e 𝑐 𝑛 → 𝑥, então 𝑏 𝑛 → 𝑥

Proof: Por hipótese, temos:

∃𝑛1 ∈ ℕ, ∀𝑛 ⩾ 𝑛1 : 𝑥 − 𝛿 ⩽ 𝑎𝑛 ⩽ 𝑥+𝛿
∃𝑛2 ∈ ℕ, ∀𝑛 ⩾ 𝑛2 : 𝑥 − 𝛿 ⩽ 𝑐𝑛 ⩽ 𝑥+𝛿
(2.1)

As duas sequências limitam 𝑏 𝑛 . Desses fatos, tomando 𝑛 = 𝑚𝑎𝑥{𝑛1 , 𝑛2 } é válido que

𝑥 − 𝛿 ⩽ 𝑎 𝑛 ⩽ 𝑏 𝑛 ⩽ 𝑐 𝑛 ⩽ 𝑥 + 𝛿 =⇒ 𝑥 − 𝛿 ⩽ 𝑏 𝑛 ⩽ 𝑥 + 𝛿

Portanto, 𝑏 𝑛 → 𝑥

2.3 Supremo
Definição 2.3.1

Seja A um subconjunto não-vazio de números reais. Dizemos que 𝛼 ∈ ℝ é o supremo de A (menor cota
superior) se:
(1) 𝑎 ⩽ 𝛼, ∀𝛼 ∈ 𝐴
(2) ∀𝛽 ∈ ℝ : 𝑎 ⩽ 𝛽, ∀𝑎 ∈ 𝐴, 𝛽 ⩾ 𝛼

Example 2.3.1
𝑎+1
𝐸 := {𝑥 : 0 < 𝑥 < 1} 𝑎 ∈ 𝐸 =⇒ 2 ∈ 𝐸, 𝑎 não é o máximo.

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Observação
Esse exemplo é para lembrar que máximo não é mesma coisa que supremo.

Proposition 2.3.1 Unicidade


Se 𝑎 e 𝑎 ′ são supremos de A, então 𝑎 = 𝑎 ′.

Proof: Se 𝑎 é cota superior e 𝑎 ′ é supremo, então 𝑎 ′ ⩽ 𝑎. Se 𝑎 ′ é cota superior e 𝑎 ′ é supremo, então 𝑎 ⩽ 𝑎 ′.


Portanto 𝑎 = 𝑎 ′

Proposition 2.3.2 Caracterização


Uma cota superior 𝑢 é o supremo se, e somente se,

∀𝜖 > 0, ∃𝑎 𝜖 ∈ 𝐴 : 𝑎 𝜖 ⩽ 𝑢 < 𝑎 𝜖 + 𝜖

Proof: Seja u uma cota superior e se 𝑣 < 𝑢, então 𝜖 := 𝑢 − 𝑣 > 0. Isso implica que existe 𝑎 𝜖 ∈ 𝐴 tal que
𝑣 = 𝑢 − 𝜖 < 𝑎 𝜖 . Desse modo, v não é uma cota superior de A, concluimos que 𝑢 = 𝑠𝑢𝑝𝐴
∀𝜖 > 0, temos que 𝑢 − 𝜖 < 𝑢, não é cota superior. Logo, ∃𝑎 ∈ 𝐴 : 𝑢 − 𝜖 ⩽ 𝑎 =⇒ 𝑢 ⩽ 𝑎 + 𝜖

Theorem 2.3.1
Todo subconjunto 𝐴 ⊂ ℝ limitado e não-vazio possui um supremo.

Proof: 𝑆𝑒 𝑗𝑎A⊂ ℝ, 𝐴 ≠ ∅, |𝑎| ⩽ 𝑐, ∀𝑎 ∈ 𝐴. Então definimos 𝑎1 = −𝑐 e 𝑏 1 = 𝑐.


𝑎 1 +𝑏 1
Seja 𝑐 1 = 2 ,

• Se ∀𝑎 ∈ 𝐴, 𝑐 1 ⩾ 𝑎, então definimos 𝑎2 = 𝑎1 e 𝑏2 = 𝑐 1 .

• Se não, ∃𝑎 ∈ 𝐴, 𝑐 1 < 𝑎, então definimos 𝑎2 = 𝑐 1 e 𝑏 2 = 𝑏 1 .

Recursivamente, exitem 𝑎 1 ⩽ ... ⩽ 𝑎 𝑛 ⩽ 𝑏 𝑛 ⩽ ... ⩽ 𝑏 1 tais que:

• 𝑎 ⩽ 𝑏 𝑛 , ∀𝑎 ∈ 𝐴

• 𝐴 ∩ [𝑎 𝑛 , 𝑏 𝑛 ] ≠ ∅
𝑏 𝑛−1 −𝑎 𝑛−1 𝑏 1 −𝑎1
• 𝑏𝑛 − 𝑎𝑛 = 2 = 2𝑛−1

𝑏 1 −𝑎 1
Pelo Axioma Fundamental da Análise, {𝑎 𝑛 } e {𝑏 𝑛 } convergem. Além disso, |𝑏 𝑛 − 𝑎 𝑛 | = 2𝑛−1
. Pelo teorema
do confronto, lim(𝑏 𝑛 − 𝑎 𝑛 ) = 0 ⇐⇒ lim 𝑏 𝑛 = lim 𝑎 𝑛 = 𝑑.

Claim 2.3.1
𝑑 = sup{𝐴}

Solution: Utilizaremos as caracterização do Supremo para evidenciar isso:


(i) 𝑎 ⩽ 𝑑, ∀𝑎 ∈ 𝐴
(ii) 𝑎 ⩽ 𝑒 , ∀𝑎 ∈ 𝐴 =⇒ 𝑑 < 𝑒
(ii’) ∀𝜖 > 0, ∃𝑎 𝜖 ∈ 𝐴 : 𝑑 < 𝑎 𝜖 + 𝜖
Suponha que d não atenda (i), então ∃𝑎 ∈ 𝐴 : 𝑑 < 𝑎. Sabemos que 𝑏 𝑛 → 𝑑:

∀𝜖 > 0, ∃𝑛(𝜖) ∈ ℕ, ∀𝑛 ⩾ 𝑛(𝜖) : |𝑏 𝑛 − 𝑑| < 𝜖


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𝑎−𝑑 𝑎+𝑑
Para 𝜖 = 2 =⇒ 𝑏 𝑛 < 2 < 𝑎. Absurdo, implica que 𝑏 𝑛 < 𝑎, mas, por construção, 𝑎 ⩽ 𝑏 𝑛 , ∀𝑎 ∈ 𝐴.
Sabemos que 𝐴 ∩ [𝑎 𝑛 , 𝑏 𝑛 ] ≠ ∅ =⇒ ∃𝑎 ∈ 𝐴 : 𝑎 𝑛 < 𝑎. Assim, dado 𝜖 > 0, ∀𝑛 ⩾ 𝑛(𝜖) temos que
𝑐 − 𝜖 < 𝑎 𝑛 < 𝑎 < 𝑐. Isso leva a conclusão que 𝑐 < 𝑎 + 𝜖. Logo d atende a condição (ii’).
Caso (ii): 𝑑 = 𝑎, então 𝑎1 = 𝑎2 = ... = 𝑎 𝑛 e segue a argumentação do mesmo modo.
Caso (iii): 𝑑 = 𝑏, então 𝑏 1 = 𝑏 2 = ... = 𝑏 𝑛 e segue a argumentação do mesmo modo.

Definição 2.3.2: Ínfimo

𝛼 é o ı́nfimo de um conjunto A, se:


(i) 𝛼 ⩽ 𝑎, ∀𝑎 ∈ 𝐴
(ii) 𝛽 ⩽ 𝑎, ∀𝑎 ∈ 𝐴 =⇒ 𝛽 ⩽ 𝛼
(iii) ∀𝜖 > 0, ∃𝑥 𝜖 ∈ 𝐴 : 𝑥 𝜖 − 𝜖 < 𝛼

Question 6

inf {𝑎} = − sup{−𝑎}

Theorem 2.3.2 TVI


Seja 𝑓 : [𝑎, 𝑏] → ℝ uma função contı́nua com 𝑓 (𝑎) ⩾ 0 ⩾ 𝑓 (𝑏). Então existe 𝑐 ∈ [𝑎, 𝑏] tal que 𝑓 (𝑐) = 0.

Proof: 𝐸 := {𝑥 ∈ [𝑎, 𝑏] : 𝑓 (𝑥) ⩾ 0}. ∃𝑎 ∈ 𝐸 =⇒ (𝑖)𝐸 ≠ ∅ e (𝑖𝑖)𝑥 ⩽ 𝑏, ∀𝑥 ∈ 𝐸 =⇒ ∃ sup 𝐸 = 𝑐.

Claim 2.3.2
f(c)=0

Solution: f é contı́nua em c: ∀𝜖 > 0, ∃𝛿 > 0 : |𝑥 − 𝑐| < 𝛿 =⇒ | 𝑓 (𝑥) − 𝑓 (𝑐)| < 𝜖


Então temos que 𝑥 ∈ 𝐸 : 𝑥 − 𝛿 < 𝑐 < 𝑥 + 𝛿

 𝑓 (𝑥) − 𝜖 ⩽ 𝑓 (𝑐)



 𝑓 (𝑥) ⩾ 0


Agora avaliamos na outra parte 𝑦 = 𝑐 + 𝛿, segue da definição de continuidade: |𝑦 − 𝑐| < 𝛿 =⇒ | 𝑓 (𝑦) − 𝑓 (𝑐)| < 𝜖
Então temos que 𝑦 ∉ 𝐸 : 𝑦 − 𝛿 < 𝑐 < 𝑦 + 𝛿

 𝑓 (𝑐) ⩽ 𝑓 (𝑦) + 𝜖



 𝑓 (𝑦) ⩽ 0


Assim, majoramos os valores possı́veis com sendo da forma ∀𝜖 > 0 : −𝜖 ⩽ 𝑓 (𝑐) ⩽ 𝜖 =⇒ 𝑓 (𝑐) = 0

Question 7

Provar para os casos em que (a) 𝑐 = 𝑎 (b) 𝑐 = 𝑏

12
2.4 Bolzano-Weierstrass
Theorem 2.4.1
Seja {𝑥 𝑛 } ⊂ ℝ para a qual existe 𝑘 ∈ ℝ com |𝑥 𝑛 | ⩽ 𝑘, ∀𝑛 (limitada). Então existem 𝑚(1) < 𝑚(2) < ... e
𝑥 ∈ ℝ tais que 𝑥 𝑚(𝑗) → 𝑥 com 𝑗 → ∞.

Proof:
Claim 2.4.1
Apenas um dos casos são verdadeiros:
(i) ∃𝑚(1) < 𝑚(2) < ... tais que 𝑥 𝑚(𝑗) ⩾ 𝑥 𝑚(𝑗−1)
(ii) ∃𝑛(1) < 𝑛(2) < ... tais que 𝑥 𝑛(𝑗) ⩽ 𝑥 𝑛(𝑗−1)

Definição 2.4.1: Termo Destacado

Destacamos um termo 𝑥 𝑚 da sequência quando 𝑥 𝑚 > 𝑥 𝑛 , ∀𝑛 ⩾ 𝑚

Solution: (i) Existem infinitos termos destacados. Então construimos uma subsequência de termos decrescentes
com eles.
(ii) Existem finitos termos destacados. Então ∃𝑛0 ∈ ℕ, ∀𝑛 > 𝑛0 : 𝑥 𝑛(𝑗) > 𝑥 𝑛(𝑗−1) . Concluimos que exite uma
subsequência crescente.

Claim 2.4.2
𝑦𝑛 = sup{𝑥 𝑚 : 𝑚 ⩾ 𝑛}, 𝑦𝑛 ⩽ 𝑦𝑛−1 , ∀𝑛 =⇒ 𝑦𝑛 → 𝑦.

Solution: ∀𝑗, ∃𝑛(𝑗), ∀𝑛 ⩾ 𝑛(𝑗) : |𝑦 − 𝑥 𝑛(𝑗) | < 1𝑗 .


|𝑦 − 𝑥 𝑛(𝑗) | ⩽ |𝑦 − 𝑦 𝑗 | + |𝑦 𝑗 − 𝑥 𝑛(𝑗) |
∀𝑗 : ∃𝑛(𝑗), ∀𝑛 ⩾ 𝑛(𝑗) : |𝑦 − 𝑦𝑚 | < 1
2𝑗
∀𝑗 : ∃𝑛(𝑗), ∀𝑛 ⩾ 𝑛(𝑗) : 𝑥 𝑛(𝑗) + 1
𝑗 > 𝑦 𝑗 =⇒ |𝑥 𝑛(𝑗) − 𝑦| < 1
2𝑗

Observação
Descobrir o que está escrito

Definição 2.4.2: Lim sup

Dada 𝑥 𝑛 𝑛∈ℕ ⊂ ℝ limitada, temos que

lim sup{𝑥 𝑛 } = lim sup{𝑥 𝑚 : 𝑚 ⩾ 𝑛}


𝑛→∞ 𝑛→∞

2.5 Funções Contı́nuas


Definição 2.5.1: Função Contı́nua

uma função 𝑓 : 𝐹 → 𝐹 é dita contı́nua no ponto 𝑥0 se

∀𝜖 > 0, ∃𝛿(𝑥 0 , 𝜖) : |𝑥 𝑛 − 𝑥| < 𝛿 =⇒ | 𝑓 (𝑥 𝑛 ) − 𝑓 (𝑥)| < 𝜖

13
Observação
A notação de F é para representar um corpo ordenado qualquer, como ℚ ou ℝ

Proposition 2.5.1
As funções contı́nuas verificam as seguintes propriedades:

(i) 𝑓 (𝑥) = 𝑐 é contı́nua em todo ponto.


(ii) Se f e g são contı́nuas em 𝑥0 , então 𝑓 + 𝑔 e 𝑓 .𝑔 são contı́nuas em 𝑥0
(iii) Se 𝑓 (𝑥) ≠ 0, ∀𝑥 e f é contı́nua em 𝑥0 , então 1
𝑓 também é contı́nua.

Proof:

Lenma 2.5.1
Seja 𝑓 : 𝐹 → 𝐹 contı́nua em 𝑥0 . Se 𝑥 𝑛 → 𝑥, então 𝑓 (𝑥 𝑛 ) → 𝑓 (𝑥)

Proof: Tem-se duas hipóteses: f contı́nua e 𝑥 𝑛 convergente

∀𝜖 > 0, ∃𝛿(𝑥0 , 𝜖) : |𝑥 𝑛 − 𝑥| < 𝛿 =⇒ | 𝑓 (𝑥 𝑛 ) − 𝑓 (𝑥)| < 𝜖


∀𝜖, ∃𝑛0 (𝛿) ∈ ℕ : 𝑛 ⩾ 𝑛0 =⇒ |𝑥 𝑛 − 𝑥| < 𝛿

A consistência do enuciado é fazer 𝛿 = 𝛿(𝑥0 , 𝜖), segue que 𝑛 = 𝑛0 (𝛿) tal que |𝑥 𝑛 −𝑥| < 𝛿 =⇒ | 𝑓 (𝑥 𝑛 )− 𝑓 (𝑥)| < 𝜖

Observação
Esse lema permite que, no caso de funções descontı́nuas, exibir um contra-exemplo de uma sequência conver-
gente para o ponto, mas a imagem da função ser divergente.

Example 2.5.1
 −1, 𝑥 2 < 2



Queremos mostrar que 𝑓 : ℚ → ℚ tal que 𝑥 →
↦ é contı́nua.
 1, 𝑥 2 > 2


Analisaremos o caso (i) 𝑥 2 < 2:
Queremos estabelecer qual tamanho do 𝛿 entorno do ponto 𝑥 0 para que a função possa assumir valores na
imagem sem que haja pontos de indefinição. Tomamos uma 𝑥 𝑛 em uma vizinhança 0 < 𝛿 < 1, 𝑥 𝑛 = 𝑥 + 𝛿
e operamos:

|(𝑥 + 𝛿)2 − 𝑥 2 | = |2𝑥𝛿 + 𝛿2 | ⩽ 2|𝑥|𝛿 + 𝛿2 ⩽ 5𝛿, pois 𝑥 2 < 2 e 0 < 𝛿 < 1

Queremos descobrir uma relação entre 𝛿 e 𝑥0 que valide a inequação |𝑥 𝑛 − 𝑥0 | < 𝛿, ∀𝑛. Assim, basta
desenvolvermos as desigualdades:

 𝑥 𝑛 − 𝛿 < 𝑥0 < 𝑥 𝑛 + 𝛿



|𝑥 𝑛 − 𝑥0 | < 𝛿 ⇐⇒
 𝑥0 − 𝛿 < 𝑥 𝑛 < 𝑥0 + 𝛿


2−𝑥 02
Utilizamoss o fato de 𝑥 𝑛 < 𝑥 0 + 𝛿, ∀𝑛 e 𝑥 2 < (𝑥 0 + 𝛿)2 ⩽ x20 + 5𝛿 < 2 ⇐⇒ 𝛿 < 5
Analisaremos o caso (ii) 𝑥 2 > 2:
𝑥 02 −2
Por analogia, tomamos 𝛿 < 5 .

14
Definição 2.5.2: Axioma Fundamental da Análise

Se 𝑎 𝑛 ∈ ℝ, ∀𝑛 ⩾ 1 : 𝑎1 ⩽ 𝑎2 ⩽ . . . , 𝑎 𝑛 < 𝐴, ∀𝑛, então existe 𝑎 ∈ ℝ tal que 𝑎 𝑛 → 𝑎 com 𝑛 → ∞

Proposition 2.5.2
Se 𝑎1 ⩾ 𝑎2 ⩾ . . . e 𝑎 𝑛 ⩾ 𝐴, ∀𝑛, então existe 𝑎 ∈ ℝ tal que 𝑎 𝑛 → 𝑎

Theorem 2.5.1 Propriedade de Arquimedes dos Reais


1
𝑛 →0

Proof: 1
𝑛 →𝑙e 1
2𝑛 → 2𝑙 , por ser subsequência, 1
2𝑛 → 𝑙, então 𝑙
2 = 𝑙 ⇐⇒ 𝑙 = 2𝑙 =⇒ 𝑙 = 0

Corollary 2.5.1
Dados 𝑎, 𝑦 ∈ ℝ : 𝑎 < 𝑦 então ∃𝑛 ∈ ℕ : 𝑎.𝑛 ⩽ 𝑦 < 𝑎.(𝑛 + 1)

Observação
Foi mostrado que não existe o menor número real positivo

Question 8: Teorema da Densidade dos Racionais

Seja 𝑎 ∈ ℝ : ∀𝜖 > 0, ∃𝑞 ∈ ℚ : |𝑎 − 𝑞| < 𝜖

Solution: (i) Dado 𝑥 ∈ ℝ se 𝑥 > 0, pelo princı́pio arquimediano ∃𝑛 ∈ ℕ : 𝑛 ⩽ 𝑥 < 𝑛 +1, definimos 𝑚 := 𝑛, 𝑚 ∈ ℤ.
Se 𝑥 < 0, segue que existe 𝑛 ∈ ℕ : 𝑛 ⩽ −𝑥 < 𝑛 + 1, seja 𝑛 ∈ ℤ : 𝑚 := −𝑛, então −𝑛 − 1 < 𝑥 ⩽ −𝑛.
(ii) Existe 𝑞 ∈ ℤ para o qual 𝑥 ∈ ℝ é válido que 𝑞 𝑛 ⩽ 𝑛.𝑥 < 𝑞 𝑛 + 1. Então
𝑞𝑛 1
0⩽𝑥− <
𝑛 𝑛
𝑞𝑛
Concluimos que 𝑛 → 𝑥, pois 1
𝑛 → 0.
𝑞
(iii) Dado 𝑦 ∈ ℚ e 𝑥 ∈ ℝ, temos que y é da forma 𝑛 , para 𝑞, 𝑛 ∈ ℤ, 𝑛 > 0. Assim, ∃𝑛1 ∈ ℕ : ∀𝑛 ⩾ 𝑛1 : 1
𝑛 < 𝜖.
Logo
1
|𝑥 − 𝑦| < < 𝜖 para todo 𝑛 ⩾ 𝑛1
𝑛
Definição 2.5.3

Seja 𝑎 𝑛 ∈ ℝ. Dizemos que 𝑎 𝑛 → ∞ com 𝑛 → ∞ quando, dado 𝐴 ∈ ℝ, existe 𝑛0 (𝐴) tal que 𝑎 𝑛 ⩾ 𝐴, ∀𝑛 ⩾ 𝑛0 .

Observação
A justificativa da notação 𝑛 → ∞ vem do caso 𝑎 𝑛 = 𝑛

Theorem 2.5.2 TVI


Seja 𝑓 : [𝑎, 𝑏] → ℝ continua com 𝑓 (𝑎) ⩽ 0 ⩽ 𝑓 (𝑏). Então existe 𝑐 ∈ [𝑎, 𝑏] tal que 𝑓 (𝑐) = 0

Proof: (i) 𝑓 ( 𝑎+𝑏


2 ) = 0, então 𝑐 =
𝑎+𝑏
2
(ii) 𝑓 ( 2 ) ⩽ 0, então definimos 𝑎2 := 𝑎+𝑏
𝑎+𝑏
2 e 𝑏 2 := 𝑏 1
(iii) 𝑓 ( 𝑎+𝑏
2 ) ⩾ 0, então definimos 𝑎 2 := 𝑎 1 e 𝑏 2 := 𝑎+𝑏
2

15
Contruimos as sequências 𝑎 = 𝑎1 ⩽ . . . ⩽ 𝑎 𝑛 ⩽ 𝑏 𝑛 ⩽ . . . 𝑏1 = 𝑏 que, pelo axioma de que toda sequência
monótona e limitada converge, temos:

𝑎 𝑛 ⩽ 𝑏, ∀𝑛 =⇒ ∃𝑐1 : 𝑎 𝑛 → 𝑐1

𝑎 ⩽ 𝑏 𝑛 , ∀𝑛 =⇒ ∃𝑐 2 : 𝑏 𝑛 → 𝑐 2

Verificamos agora que 𝑐 1 = 𝑐 2 :


𝑏 𝑛 − 𝑎 𝑛 = 2−(𝑛−1) (𝑏 − 𝑎)
1 1
0 ⩽ 𝑛+1 < → 0
2 𝑛
Assim, 𝑏 𝑛 − 𝑎 𝑛 → 0.

Theorem 2.5.3 TVI


Seja F um corpo ordenado onde vale o teorema do valor intermediário. Seja 𝑎, 𝑏 ∈ 𝐹, 𝑎 < 𝑏, [𝑎, 𝑏] =
𝑥 : 𝑎 ⩽ 𝑥 ⩽ 𝑏 e 𝑓 : [𝑎, 𝑏] → 𝐹 contı́nua. Se 𝑓 (𝑎) ⩽ 0 ⩽ 𝑓 (𝑏), existe 𝑐 ∈ [𝑎, 𝑏] tal que 𝑓 (𝑐) = 0. Então F
satisfaz o axioma fundamental

𝑎1 ⩽ . . . ⩽ 𝑎 𝑛 ⩽ 𝐴, ∀𝑛 =⇒ ∃𝑎 : 𝑎 𝑛 → 𝑎

Proof: Seja 𝑎 𝑛 uma sequência tal que 𝑎1 ⩽ . . . ⩽ 𝑎 𝑛 ⩽ 𝐴, ∀𝑛 ∈ ℕ. Definimos 𝑓 : [𝑎, 𝑏] → 𝐹

 𝑓 (𝑥) = 1, ∃𝑛1 ∈ ℕ, 𝑎 𝑛1 < 𝑥





 𝑓 (𝑥) = −1, š𝑛 ∈ ℕ, 𝑎 𝑛 ⩾ 𝑥


Contradiz o Valor Intermediário, pontanto f é descontı́nua em algum ponto c.

Claim 2.5.1
𝑎 𝑛 → 𝑐 : ∀𝛿 > 0, ∃𝑛0 (𝛿) : ∀𝑛 ⩾ 𝑛0 =⇒ |𝑎 𝑛 − 𝑐| < 𝛿

A vizinhança de 𝑎 𝑛 é descrita por duas leis:

(i) 𝑦 < 𝑎 𝑁 , f é contı́nua em y.


𝛿 = 𝑎 𝑛 − 𝑦, 𝑥 ∈ (𝑦 − 2𝛿 , 𝑦 + 2𝛿 ), então |𝑥 − 𝑦| < 𝛿
2 =⇒ 𝑓 (𝑥) = 𝑓 (𝑦) = 1 ⇐⇒ | 𝑓 (𝑥) − 𝑓 (𝑦)| = 0
A descontinuidade está depois desse intervalo ∀𝑛, 𝑐 ⩾ 𝑎 𝑛 .
(ii) ∃𝛿 > 0, 𝑦 ⩾ 𝑎 𝑛 + 𝛿, ∀𝑛 f é contı́nua em y.
𝛿 = 𝑦 − 𝑎 𝑛 , 𝑥 ∈ (𝑦 − 2𝛿 , 𝑦 + 2𝛿 ), |𝑥 − 𝑦| < 𝛿
2 =⇒ 𝑓 (𝑥) = 𝑓 (𝑦) = −1 ⇐⇒ | 𝑓 (𝑥) − 𝑓 (𝑦)| = 0
Assim, a descontinuidade está antes da vizinhaça 𝛿 de 𝑎 𝑛 . ∀𝑛, 𝛿 : 𝑐 ⩽ 𝑎 𝑛 + 𝛿. Concluimos que ∀𝑛 ∈ ℕ, 𝑎 𝑛 ⩽ 𝑐 ⩽
𝑎 𝑛 + 𝛿, ∀𝛿 > 0 =⇒ 𝑎 𝑛 → 𝑐. A demonstração é análoga para os casos em que 𝑐 = 𝑎 e 𝑐 = 𝑏.

16
2.6 Sequências Cauchy
Definição 2.6.1: Sequência Cauchy

Uma sequência {𝑥 𝑛 } 𝑛∈ℕ ⊂ 𝑋 é Cauchy quando:

∀𝜖 > 0 : ∃𝑛1 ∈ ℕ, ∀𝑛, 𝑚 > 𝑛1 : |𝑥 𝑛 − 𝑥 𝑚 | < 𝜖

X é um espaço métrico completo se toda sequência Cauchy converge.

Question 9

Convergência =⇒ Cauchy

Question 10

(ℝ, 𝑑), 𝑑(𝑎, 𝑏) = |𝑏 − 𝑎| é completo

Question 11
p
(ℝ, 𝑑), 𝑑(𝑎, 𝑏) = (𝑎1 − 𝑏1 )2 + (𝑎 2 − 𝑏 2 )2 é completo

Definição 2.6.2

Sejam (𝑋 , 𝑑 𝑥 ) e (𝑌, 𝑑 𝑦 ) espaços métricos. dizemos que 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 é completo quando

𝑥 𝑛 → 𝑥 =⇒ 𝑓 (𝑥 𝑛 ) → 𝑓 (𝑥)

Question 12

Provar que a definição de função contı́nua é equivalente

∀𝑥0 , 𝜖 > 0 : 𝑑 𝑥 (𝑥 0 , 𝑥) < 𝛿 =⇒ 𝑑 𝑦 ( 𝑓 (𝑥0 ), 𝑓 (𝑥)) < 𝜖

Example 2.6.1
A função 1-Lipschitz
𝑑( 𝑓 (𝑥 𝑛 ), 𝑓 (𝑥)) = 𝑑(𝑥 𝑛 , 𝑥)

é contı́nua.

17
Chapter 3

Topologia dos Espaços Métricos

3.1 Bola Aberta e Bola Fechada


Definição 3.1.1: Bola Aberta

Denotamos por 𝐵𝑋 (𝑥, 𝑟) ou 𝐵(𝑥, 𝑟) a bola aberta de centro 𝑥 e raio 𝑟 definida por:

𝐵(𝑥, 𝑟) B {𝑦 ∈ 𝑋; 𝑑(𝑥, 𝑦) < 𝑟}.

Definição 3.1.2: Bola Fechada

Denotamos por 𝐵𝑋 [𝑥, 𝑟] ou 𝐵[𝑥, 𝑟] a bola fechada de centro 𝑥 e raio 𝑟 definida por:

𝐵[𝑥, 𝑟] B {𝑦 ∈ 𝑋; 𝑑(𝑥, 𝑦) ⩽ 𝑟}.

Observação
Estamos sobre o espaço 𝑋 com a métrica 𝑑 𝑥 . Para simplificar a notação, omitimos o ı́ndice.

Example 3.1.1 (Bola Aberta em ℝ)


𝐵ℝ (𝑥, 𝑟) = (𝑥 − 𝑟, 𝑥 + 𝑟).

Example 3.1.2 (Bola Fechada em ℝ)


𝐵ℝ [𝑥, 𝑟] = [𝑥 − 𝑟, 𝑥 + 𝑟].

Observação
Seja 𝑟 > 𝑟 ′ > 0, temos que ∅ = 𝐵(𝑥, 0) ⊂ {𝑥} = 𝐵[𝑥, 0] ⊂ 𝐵(𝑥, 𝑟 ′) ⊂ 𝐵(𝑥, 𝑟) ⊂ 𝐵[𝑥, 𝑟].

3.2 Conjunto Aberto e Conjunto Fechado


Definição 3.2.1: Conjunto Aberto

Seja 𝐴 ⊂ 𝑋, dizemos que 𝐴 é um conjunto aberto se dado 𝑎 ∈ 𝐴 existe 𝛿 > 0 tal que 𝐵(𝑎, 𝛿) ⊂ 𝐴
.

18
Definição 3.2.2: Conjunto Fechado

Um conjunto 𝐹 ⊂ 𝑋 é dito fechado se 𝑋 \ 𝐹 é aberto.

Observação
Perceba que, apesar de termos usado os nomes sugestivos como bola aberta e fechada, não provamos nada
sobre a topologia desses conjuntos.

Proposition 3.2.1
𝐵(𝑥, 𝑟) é aberto.

Proof: Dado 𝑦 ∈ 𝐵(𝑥, 𝑟) tome 𝛿 = 𝑟 − 𝑑(𝑥, 𝑦), queremos mostrar que ∀𝑧 ∈ 𝐵(𝑦, 𝛿) =⇒ 𝑧 ∈ 𝐵(𝑥, 𝑟), i.e.,
𝑑(𝑥, 𝑧) < 𝑟. Dado 𝑧 ∈ 𝐵(𝑦, 𝛿) : 𝑑(𝑦, 𝑧) < 𝛿, segue da desigualdade triangular 𝑑(𝑥, 𝑧) ⩽ 𝑑(𝑥, 𝑦) + 𝑑(𝑦, 𝑧) e da
hipótese que
𝑑(𝑥, 𝑧) < 𝑑(𝑥, 𝑦) + 𝛿 = 𝑑(𝑥, 𝑦) + [𝑟 − 𝑑(𝑥, 𝑦)] = 𝑟

Logo, 𝐵(𝑦, 𝛿) ⊂ 𝐵(𝑥, 𝑟).

Proposition 3.2.2
𝐵[𝑥, 𝑟] é fechado.

Proof: Seja 𝑦 ∈ 𝑋 \ 𝐵[𝑥, 𝑟], então 𝑑(𝑥, 𝑦) > 𝑟. Queremos verificar que ∀𝑧 ∈ 𝐵(𝑦, 𝛿) =⇒ 𝑧 ∉ 𝐵[𝑥, 𝑟], então dado
z tal que 𝑑(𝑧, 𝑦) < 𝛿. Pela desigualdade triangular

𝑑(𝑥, 𝑦) ⩽ 𝑑(𝑥, 𝑧) + 𝑑(𝑧, 𝑦)

Aplicamos os resultados, fazendo 𝛿 = 𝑑(𝑥, 𝑦) − 𝑟 > 0

𝑑(𝑥, 𝑧) ⩾ 𝑑(𝑥, 𝑦) − 𝑑(𝑧, 𝑦) ⇐⇒ 𝑑(𝑥, 𝑧) > 𝑑(𝑥, 𝑦) − (𝑑(𝑥, 𝑦) − 𝑟) = 𝑟

Assim, 𝑑(𝑧, 𝑦) > 𝑟 =⇒ 𝑧 ∉ 𝐵[𝑥, 𝑟]. Concluimos que 𝑋 \ 𝐵[𝑥, 𝑟] é aberto e, então, 𝐵[𝑥, 𝑟] é fechado.

Proposition 3.2.3
Seja Δ uma famı́lia de abertos de um espaço métrico (𝑋 , 𝑑), então ∪𝐴∈Δ 𝐴 é aberto.

Proof: 𝑥 ∈ ∪𝐴∈Δ 𝐴 =⇒ ∃𝐴0 ∈ Δ : 𝑥 ∈ 𝐴0 =⇒ ∃𝛿 > 0 : 𝐵(𝑥, 𝛿) ⊂ 𝐴0 =⇒ 𝐵(𝑥, 𝛿) ∈ ∪𝐴∈Δ 𝐴

Proposition 3.2.4
Se 𝐴1 , . . . , 𝐴𝑚 ⊂ 𝑋 são abertos, então ∩𝑚 𝐴 é aberto.
𝑖=1 𝑖

Proof:
𝑥 ∈ ∩𝑚
𝑖=1 𝐴 =⇒ 𝑥 ∈ 𝐴 𝑖 , ∀𝑖 ∈ [𝑚] =⇒ ∃𝛿 𝑖 > 0 : 𝐵(𝑥, 𝛿 𝑖 ) ⊂ 𝐴 𝑖

Tome 𝛿 = min 𝛿 𝑖
1⩽ 𝑖 ⩽ 𝑚
𝐵(𝑥, 𝛿) ⊂ 𝐵(𝑥, 𝛿 𝑖 ), ∀𝑖 ∈ [𝑚] =⇒ 𝐵(𝑥, 𝛿) ⊂ ∩𝑚
𝑖=1 𝐴

19
Observação
Perceba que 𝑚 → ∞ se š𝛿 = min 𝛿 𝑖 > 0 =⇒ 𝛿 = 0
1 ⩽ 𝑖<∞

Question 13

∅ e 𝑋 são abertos e fechados

Question 14

Todo subconjunto de 𝑋 é aberto se a métrica for a métrica discreta.

3.3 Caracterização Métrica

Proposition 3.3.1
Um subconjunto 𝐹 ⊂ 𝑋 é fechado se, e somente se, lim 𝑋𝑛 ⊂ 𝐹 sempre que {𝑥 𝑛 } 𝑛∈ℕ ⊂ 𝐹.

Proof: ( ⇐= ) {𝑥 𝑛 } ⊂ 𝐹, 𝑥 𝑛 → 𝑥, 𝑥 ∈ 𝐴. Como A é aberto, ∃𝛿 > 0 : 𝐵(𝑥, 𝛿) ⊂ 𝐴 =⇒ {𝑥 𝑛 } ∩ 𝐵(𝑥, 𝛿) = ∅, pois


{𝑥 𝑛 } ∉ 𝐴. 𝑥 𝑛 → 𝑥, então ∃𝑛0 (𝛿) ∈ ℕ : 𝑛 ⩾ 𝑛0 =⇒ |𝑥 − 𝑥 𝑛 | < 𝛿, contradiz 𝐵(𝑥, 𝛿) ⊂ 𝐴.
( =⇒ ) Se F não é fechado, A não é aberto.

∃𝑥 ∈ 𝐴 : ∀𝛿 > 0 : 𝐵(𝑥, 𝛿) ∩ 𝐹 ≠ ∅

Tome 𝛿 = 1
𝑛    
1 1
∀𝑛 : 𝐵 𝑥, ∩ 𝐹 ≠ ∅ =⇒ ∃𝑥 𝑛 ∈ 𝐵 𝑥, ∩𝐹
𝑛 𝑛
Afirmação: 𝑥 𝑛 → 𝑥
1
0 ⩽ 𝑑(𝑥 𝑛 , 𝑥) < →0
𝑛

Theorem 3.3.1
São equivalentes

1. 𝑓 é contı́nua;

2. 𝑓 −1 (𝐴) é aberto em 𝑋, sempre que 𝐴 é aberto em 𝑌;

3. 𝑓 −1 (𝐹) é fechado em 𝑋, sempre que 𝐹 é fechado em 𝑌;

4. ∀𝑥 ∈ 𝑋 e 𝜀 > 0, ∃𝛿 > 0 tal que

𝑑(𝑥, 𝑥 ′) < 𝛿 =⇒ 𝑑( 𝑓 (𝑥), 𝑓 (𝑥 ′)) < 𝜀

Proof: (1) =⇒ (2): {𝑥 𝑛 } ⊂ 𝑓 −1 (𝑥), por (1) temos que f é contı́nua, então 𝑓 (𝑥 𝑛 ) → 𝑓 (𝑥) e 𝑓 (𝑥) ∈ 𝐹, pois F é
fechado. Então 𝑥 ∈ 𝑓 −1 (𝐹) =⇒ 𝑓 −1 (𝐹) é fechado.
(2) =⇒ (3): Dizer que A é aberto é o mesmo que 𝑌 \ 𝐴 ser fechado. Por (2), 𝑓 −1 (𝑌 \ 𝐴) é fechado, logo 𝑓 −1 (𝐴)

20
é aberto. [Aqui foi usado que 𝑓 −1 (𝑌 \ 𝐴) = 𝑌 \ 𝑓 −1 (𝐴)]
(3) =⇒ (4): 𝑥 ∈ 𝑓 −1 (𝐵 𝑦 ( 𝑓 (𝑥), 𝜖)) é aberto, logo ∃𝛿 > 0: 𝐵(𝑥, 𝛿) ⊂ 𝑓 −1 (𝐵( 𝑓 (𝑥), 𝜖))
(4) =⇒ (1) :
∃𝛿 > 0 : 𝐵(𝑥, 𝛿) ⊂ 𝑓 −1 (𝐵 𝑦 ( 𝑓 (𝑥), 𝜖))

∃𝑛0 ∈ ℕ : ∀𝑛 ⩾ 𝑛0 : 𝑥 𝑛 ∈ 𝐵 𝑥 (𝑥, 𝛿)

Observação

Definição 3.3.1: Interior

Seja (𝑋 , 𝑑) um espaço métrico. O interior de 𝑆 ⊂ 𝑋 denotado por 𝑆0 é defenido por:


Ø
𝑆0 := 𝐴
𝐴⊂𝑆

Definição 3.3.2: Fecho

O fecho do conjunto 𝑆𝑋 denotado por 𝑆 é definido como


Ø
𝑆 := 𝐹
𝐹⊃𝑆

Definição 3.3.3: Pontos de Acumulação

O conjunto dos ponto de acumulação de S, denotado por 𝑆′ é o conjunto dos pontos x tal que ∀𝑟 > 0

(𝐵(𝑥, 𝑟) ∩ 𝑆) \ {𝑥} ≠ ∅

Question 15

Prove que 𝑥0 ∈ 𝑆 0 ⇐⇒ 𝐵(𝑥0 , 𝛿) ⊂ 𝑆 para algum 𝛿 > 0

Question 16

ℕ, ℚ ⊂ ℝ: ℕ′ = e ℚ′ = ℝ

Example 3.3.1
Dados dois intervalos com pelo menos um ponto em comum, a união e a intersecção também é um intervalo.
Dado 𝑧 ∈ 𝐼1 ∪ 𝐼2 :
Para o outro caso em que 𝑧 é o máximo e o mı́nimo, o intervalo é degenerado. Se 𝑧 não for cota, então
existem 𝑥 ∈ 𝐼1 e 𝑦 ∈ 𝐼2 tais que 𝑥 ⩽ 𝑧 ⩽ 𝑦 implica que [𝑥, 𝑧] e [𝑧, 𝑦] são intervalos, então [𝑥, 𝑦] é um
intervalo. Assim, dados dois pontos na união, todo número entre eles também está na união.
Analogamente, 𝑧 ∈ 𝐼1 ∩ 𝐼2 , temos:
Se 𝑧 não for cota, então existem 𝑥, 𝑦 ∈ 𝐼1 ∩ 𝐼2 tais que 𝑥 ⩽ 𝑧 ⩽ 𝑦. Isto é, 𝑧 ∈ [𝑥, 𝑦] ⊂ 𝐼1 ∩ 𝐼2 . Para o caso
em que 𝑧 é o máximo e o mı́nimo, o intervalo 𝐼1 ∩ 𝐼2 é degenerado.

21
Claim 3.3.1 Generalização
Seja ℐ a coleção de intervalos tais que 𝐼, 𝐽 ∈ ℐ : 𝐼 ∩ 𝐽 ≠ ∅. Então
Ø
𝐼
𝐼∈ℐ

é um intervalo.

𝐴= 𝐼, 𝑎 = inf 𝐴 e 𝑏 = sup 𝐴. Sabemos pelo exemplo anterior que (inf 𝐴, sup 𝐴) ⊂ 𝐴. Verificaremos
Ð
Proof: 𝐼∈ℐ
que a união é um intervalo. Dados 𝐼, 𝐽 ∈ ℐ, temos que existe 𝑧 ∈ 𝐼 ∩ 𝐽 e 𝑧 não é cota desses conjuntos, então
existem 𝑎 1 ∈ 𝐼 e 𝑏2 ∈ 𝐽, tais que 𝑧 ∈ [𝑎1 , 𝑏2 ] ⊂ 𝐴. Mostramos que dado dois elementos da coleção, todo elemento
entre eles está na coleção.

Theorem 3.3.2
Todo conjunto aberto de ℝ é união enumerável de intervalos abertos disjuntos.

Solution: ℐ = {𝐼 ⊂ 𝐴 : 𝑞 ∈ 𝐼 ∩ ℚ}. Temos que 𝐼 𝑞 = 𝐼 é o maior intervalo que contém q.


Ð
𝐼∈ℐ𝑞

Claim 3.3.2
𝐼 𝑞 ∩ 𝐼𝑟 ≠ ∅ =⇒ 𝐼 𝑞 = 𝐼𝑟

Se a intersecção dos intervalos que contém 𝑞 e 𝑟 não são vazias, então a união também é um intervalo. Por
definição 𝐼 𝑞 ∪ 𝐼𝑟 ⊂ 𝐼 𝑞 e 𝐼 𝑞 ∪ 𝐼𝑟 ⊂ 𝐼𝑟 isso só é verdade quando 𝐼 𝑞 = 𝐼𝑟

Claim 3.3.3

Ø
𝐴= 𝐼𝑞
𝑞∈ℚ∩𝐴

𝐼 𝑞 ⊂ 𝐴: 𝐴 é aberto, então 𝐼 𝑞 ⊂ 𝐴, ∀𝑞 ∈ 𝐴.
Ð
Solution: I)
II) 𝐴 ⊂ 𝐼 𝑞 : Dado 𝑥 ∈ 𝐴 segue do fato que 𝐴 é aberto que existe uma vizinhança de x contida no conjunto
Ð

aberto 𝐴. Pela Densidade de ℚ sobre ℝ, temos existe um número racional 𝑞 dentro da vizinhança. Assim, 𝑥 ∈ 𝐼 𝑞 .
Concluimos que 𝑥 ∈ 𝑞∈𝐴∩ℚ 𝐼 𝑞
Ð

Definição 3.3.4: Distância entre ponto e conjunto

Sendo (𝑋 , 𝑑 𝑥 ) um espaço métrico e dado um conjunto 𝑆 ⊂ 𝑋 definimos

𝑑(𝑥, 𝑆) = inf 𝑑(𝑥, 𝑆)


𝑠∈𝑆

a) 𝑥 ↦→ 𝑑(𝑥, 𝑆) é contı́nua.
b) 𝑆 ≠ ∅, 𝑆 = {𝑥 ∈ 𝑋 : 𝑑(𝑥, 𝑆) = 0}

22
3.4 Conexidade
Definição 3.4.1: Cisão

Dado 𝑌 ⊂ 𝑋, dizemos que 𝐿 ∪ 𝑅 é uma cisão se:


1) 𝐿 ∪ 𝑅 = 𝑌
2) 𝐿 ∩ 𝑅 = ∅
3) 𝐿 ∩ 𝑅 = ∅
E dizemos que a cisão é trivial se 𝐿 = ∅ ou 𝑅 = ∅ (𝑅 = 𝑌 ou 𝐿 = 𝑌 respectivamente).

Definição 3.4.2: Conjunto Conexo

Um conjunto 𝑌 ⊂ 𝑋 é conexo quando só admite a cisão trivial. Caso contrário, 𝑌 é desconexo

Observação
A cisão é trivial, então 𝐿 = 𝐿 e 𝑅 = 𝑅

Question 17

(𝑋 , 𝑑) é conexo ⇐⇒ os únicos conjuntos que são fechados e abertos (ao mesmo tempo) são ∅ e 𝑋.

Proof: Vamos mostrar a ida primeiro. Sabemos que o espaço métrico 𝑋 é conexo e queremos muito mostrar que
os únicos conjuntos que são simultaneamente abertos e fechados são o próprio 𝑋 e o conjunto vazio. Sabemos pela
definição que, se 𝑋 é conexo, 𝑋 só admite a cisão trivial. Suponha que 𝐿 = ∅ e 𝑅 = 𝑋. Agora, pela observação
acima, podemos afirmar que 𝐿 = 𝑋 = 𝐿. Note então que 𝐿, um conjunto fechado (por ser a interseção de fechados),
é exatamente igual ao nosso 𝑋. Assim, 𝑋 deve ser fechado. Como 𝑋 é fechado, o seu complementar, o conjunto
vazio, deve ser aberto. Mas note que podemos fazer um argumento análogo para 𝑅. Perceba, 𝑅 = 𝑅 = ∅, então
∅ é fechado e 𝑋 é aberto. Por essa lógica, tanto 𝑋 quanto ∅ são simultaneamente abertos e fechados. Como essa
é a única cisão que existe no espaço métrico, podemos concluir que esses são os únicos conjuntos para o qual esse
resultado é válido. Boa sorte dormindo com essa.

Proposition 3.4.1
Sejam 𝐿, 𝑅 ⊂ 𝑋. Então 𝐿 ∩ 𝑅 = ∅ se, e somente se, toda sequência {𝑥 𝑛 } 𝑛∈ℕ , 𝑥 𝑛 → 𝑥, 𝑥 ∈ 𝑅 existe 𝑛0 ∈ ℕ
tal que 𝑥 𝑛 ∉ 𝐿 para todo 𝑛 ⩾ 𝑛0 .

Proof: ( =⇒ ) 𝐴 = 𝑋 \ 𝐿 é aberto e 𝑅 ⊂ 𝐴. Então ∃𝛿 > 0 : 𝐵(𝑥, 𝛿) ⊂ 𝐴. Como 𝑥 𝑛 → 𝑥, existe 𝑛0 ∈ ℕ tal que


𝑑(𝑥 𝑛 , 𝑥) < 𝛿 para todo 𝑛 ⩾ 𝑛0 . Ou seja, 𝑥 𝑛 ∈ 𝐵(𝑥, 𝛿), ∀𝑛 ⩾ 𝑛0 .
( ⇐= ) Se ∀𝑛 ⩾ 𝑛0 : 𝑥 𝑛 → 𝑥, 𝑥 ∈ 𝑅, então ∃𝜖 > 0 : ∀𝑛 ⩾ 𝑛0 : 𝑑(𝑥 𝑛 , 𝐿) > 𝜖. Portanto, nenhum ponto de
acumulação de R está em L. Isto é, 𝐿 ∩ 𝑅 = ∅.

Theorem 3.4.1 Princı́pio de Conexidade


Seja 𝑌 ⊂ 𝑋 , 𝑌 ≠ ∅. 𝑌 é conexo se, e somente se, toda função 𝑓 : 𝑌 → {0, 1} contı́nua é constante ({0, 1}
métrica discreta).

Proof: Sejam 𝐿 = 𝑓 −1 ({0}) e 𝑅 = 𝑓 −1 ({1})

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Claim 3.4.1
𝐿∩𝑅 =∅

Solution: Dado {𝑥 𝑛 } ⊂ 𝑌 e 𝑥 ∈ 𝑅, com 𝑥 𝑛 → 𝑥, ∃𝑛0 ∈ ℕ : 𝑥 𝑛 ∉ 𝐿, ∀𝑛 ⩾ 𝑛0 . Como f é contı́nua, então


𝑓 (𝑥 𝑛 ) → 1 ⇐⇒ ∃𝑛0 : 𝑓 (𝑥 𝑛 ) = 1, ∀𝑛 ⩾ 𝑛0 ⇐⇒ 𝑥 𝑛 ∈ 𝐿. F é constante ⇐⇒ 𝑌 = 𝑓 −1 ({0}) ou 𝑌 = 𝑓 −1 ({1})

Theorem 3.4.2
Sejam (𝑋 , 𝑑 𝑥 ) e (𝑌, 𝑑 𝑦 ) espaços métricos e 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 contı́nua. Se 𝑍 ⊂ 𝑋 é conexo, então 𝑓 (𝑍) ⊂ 𝑌 é
conexo.

Proof: Verificar que 𝑔 ◦ 𝑓 : 𝑍 → {0, 1} constante implica que 𝑔 é constante, sendo 𝑔 : 𝑓 (𝑍) ⊂ 𝑌 → {0, 1}.

Theorem 3.4.3
Seja ℱ uma coleção de conjuntos conexos em (𝑋 , 𝑑) tal que quaisquer 𝐴, 𝐵 ∈ ℱ são tais que 𝐴 ∩ 𝐵 ≠ ∅.
𝐴 é conexo
Ð
Então 𝐴 𝑖 ∈ℱ

Definido uma função 𝑓 : 𝐴 → {0, 1} contı́nua. Como os conjuntos são conexos, 𝑓 | 𝐴 → {0, 1} é
Ð
Proof: 𝐴 𝑖 ∈ℱ
contı́nua e constante.

Claim 3.4.2
𝐴, 𝐵 ∈ ℱ =⇒ 𝜆𝐴 = 𝜆𝐵

Solution: Os conjuntos são conexos, então ∀𝐴 ∈ ℱ , ∃𝜆𝐴 : 𝑓 | 𝐴 (𝑥) = 𝜆𝐴 , ∀𝑥 ∈ 𝐴. A intersecção não é vazio, então
𝑥 ∈ 𝐴 ∩ 𝐵 : 𝑓 | 𝐴 (𝑥) = 𝜆𝐴 , 𝑥 ∈ 𝐴 ∩ 𝐵 : 𝑓 | 𝐴 (𝑥) = 𝜆𝐵 e f é função, então 𝜆𝐴 = 𝜆𝐵

Theorem 3.4.4
Os subconjuntos conexos de ℝ que não são vazios são precisamente os intervalos.

Proof: Para a primeira parte da prova, vamos provar que se um conjunto 𝐸 não é um intervalo, então ele não
é conexo. Perceba, se 𝐸 não é um intervalo, então existe um 𝑥0 ∈ (inf 𝐸, sup 𝐸) tal que 𝑥0 ∉ 𝐸. Além disso,
definiremos os conjuntos

𝐿 = (−∞, 𝑥0 ) ∩ 𝐸
𝑅 = (𝑥 0 , +∞) ∩ 𝐸.

Com isso em mãos, queremos provar que 𝐿 ∪ 𝑅 é uma cisão não trivial.
É fácil ver que 𝐿 ∪ 𝑅 = 𝐸. Resta mostrar que 𝐿 ∩ 𝑅 = ∅ e que 𝐿 ∩ 𝑅 = ∅. Vamos mostrar o primeiro deles.
Como 𝐿 é fechado e contém todos os elementos de 𝐿, podemos deduzir que 𝐿 ⊂ (−∞, 𝑥0 ]. Mas, (−∞, 𝑥0 ] ∩ 𝑅 = ∅,
então 𝐿 ∩ 𝑅 = ∅. Analogamente, mostra-se que 𝐿 ∩ 𝑅 = ∅.
Portanto, 𝐿 ∪ 𝑅 é uma cisão não trivial e 𝐸 não é conexo.
Para a segunda parte da prova, precisamos mostrar que se um conjunto 𝐸 é um intervalo, então ele é
conexo. Como sabemos que todo intervalo é a união de intervalos fechados com um ponto em comum, é suficiente
mostrar que 𝐸 = [𝑎, 𝑏].

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Suponha que exista 𝑓 [𝑎, 𝑏] → {0, 1} contı́nua mas não constante. Tome dois pontos 𝑥 1 , 𝑦1 ∈ [𝑎, 𝑏] tal que
𝑎 ⩽ 𝑥1 ⩽ 𝑦1 ⩽ 𝑏 e 𝑓 (𝑥1 ) ≠ 𝑓 (𝑦1 ). Sabemos que esses dois pontos com imagens diferentes existem pois a função não
é constante. Considere o ponto médio entre 𝑥1 e 𝑦1 . Certamente, a imagem dele dever ser igual a imagem de um
𝑥1 +𝑦1
dois pontos anteriores. Suponhamos que a imagem dele seja igual a imagem de 𝑦1 . Assim, definiremos 𝑦2 = 2
𝑥 𝑛−1 +𝑦𝑛−1
e 𝑓 (𝑦2 ) = 𝑓 (𝑦1 ). Também definiremos 𝑥2 = 𝑥1 . Recursivamente, definimos 𝑦𝑛 = 2 , com 𝑓 (𝑦𝑛 ) = 𝑓 (𝑦1 ), e
𝑥 𝑛 = 𝑥 𝑛−1 , com 𝑓 (𝑥 𝑛 ) = 𝑓 (𝑥1 ), para todo 𝑛 ⩾ 2. Se tomarmos as duas sequências monótonas e limitadas formadas
{𝑥 𝑛 } (constante) e {𝑦𝑛 } (decrescente limitada por 𝑥 1 ) podemos concluir, pelo axioma fundamental da análise, que
𝑥 𝑛 → 𝑥 1 e 𝑦𝑛 → 𝑥1 . Por outro lado, como 𝑓 é contı́nua, então 𝑓 (𝑥 𝑛 ) → 𝑓 (𝑥1 ) e 𝑓 (𝑦𝑛 ) → 𝑓 (𝑥1 ) o que é absurdo
pois, por construção, | 𝑓 (𝑥 𝑛 ) − 𝑓 (𝑦𝑛 )| = 1 para todo 𝑛 ∈ ℕ.
Logo, um subconjunto dos reais é conexo se, e somente se, ele for um intervalo.

Corollary 3.4.1 Teorema do Valor Intermediário (outra demonstração)


Seja 𝑎, 𝑏 ∈ ℝ, 𝑎 < 𝑏 e 𝑓 : [𝑎, 𝑏] → ℝ contı́nua. Se 𝑓 (𝑎) ⩽ 0 ⩽ 𝑓 (𝑏), existe 𝑐 ∈ [𝑎, 𝑏] tal que 𝑓 (𝑐) = 0.

Proof: Se 𝑓 é contı́nua e [𝑎, 𝑏] é um sunconjunto conexo da reta, então a imagem da função é conexa. Em
particular, como 𝑓 (𝑎) e 𝑓 (𝑏) pertencem a imagem, e todo conexo na reta é um intervalo, podemos deduzir que
o intervalo [ 𝑓 (𝑎), 𝑓 (𝑏)] está contido na imagem. Pela nossa hipótese, 𝑓 (𝑎) ⩽ 0 ⩽ 𝑓 (𝑏), ou seja, o zero pertence a
imagem. Portanto, existe 𝑐 ∈ [𝑎, 𝑏] tal que 𝑓 (𝑐) = 0.

Definição 3.4.3: Conjunto Conexo Por Caminhos

Dado (𝑋 , 𝑑 𝑥 ) espaço métrico. 𝑌 ⊂ 𝑋 é dito conexo por caminhos se, para todo 𝑎 e 𝑏, existe 𝛾 : [0, 1] → 𝑌
contı́nua com 𝛾(0) = 𝑎 e 𝛾(1) = 𝑏.

Example 3.4.1 (𝐵(𝑥, 𝑟) e 𝐵[𝑥, 𝑟] são conexos por caminhos no ℝ𝑛 )


Dados dois pontos 𝑎, 𝑏 ∈ 𝐵(𝑥, 𝑟), existe a função 𝑓 : [0, 1] → 𝐵(𝑥, 𝑟) que leva 𝑡 ↦→ (1 − 𝑡)𝑎 + 𝑡𝑏. É possı́vel
visualizar esse exemplo intuitivamente com um cı́culo, mas seria necessário mostrar que todo ponto na
forma 𝑡 ↦→ (1 − 𝑡)𝑎 + 𝑡𝑏 ainda pertence a bola para que isto seja uma demonstração rigorosa.

Observação
Mais geralmente, todo conjunto convexo é conexo por caminhos.

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