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UNIJUÍ- UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E ENGENHARIAS

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

ERICSON DIEGO DOS SANTOS TRINDADE

ESTUDO DAS CÉLULAS A COMBUSTÍVEL DO TIPO MEMBRANA DE TROCA DE


PRÓTONS (PEMFC), MODELAGEM E SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

Ijuí- RS
2020
ERICSON DIEGO DOS SANTOS TRINDADE

ESTUDO DAS CÉLULAS A COMBUSTÍVEL DO TIPO MEMBRANA DE TROCA DE


PRÓTONS (PEMFC), MODELAGEM E SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

Trabalho apresentado como requisito para


aprovação na disciplina de Trabalho de
Conclusão de curso de Engenharia Elétrica da
Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul.

Orientador: Prof. Mestre Eliseu Kotlinski

Ijuí- RS
2020
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por conceder-me paciência, força e perseverança na


busca de concretizar minhas metas e realizar este trabalho com o máximo de empenho e
dedicação.

Agradeço aos meus pais, Adriana e Dilmar Trindade que não mediram esforços para
que eu pudesse realizar meus objetivos, que sempre me apoiaram e me incentivaram ao
máximo, pela compreensão e ajuda durante esse período.

Também gostaria de agradecer a todos os professores e funcionários do curso de


Engenharia Elétrica da UNIJUÍ, por todo o empenho, dedicação e o conhecimento repassado,
que contribuíram para a minha formação tanto profissional como pessoal, durante todo o
período da minha graduação.

Agradecimento em especial ao meu professor orientador Me. Eliseu Kotlinski por todo
o empenho e auxílio prestado ao longo da elaboração deste trabalho, onde a sua contribuição e
conhecimento compartilhado foi de fundamental importância para o desenvolvimento e
organização do trabalho.

Por fim, gostaria de agradecer também a todos os meus colegas do curso e amigos, que
de alguma forma contribuíram para a minha formação durante todo o período de graduação.
“ Nenhum obstáculo será grande se a sua vontade de
vencer for maior. ”

Autor desconhecido

“O sucesso nasce do querer, da determinação e


persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não
atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no
mínimo fará coisas admiráveis.”

José de Alencar
RESUMO

TRINDADE, Ericson Diego dos Santos. Estudo das Células a Combustível tipo Membrana
de Troca de Prótons (PEMFC), modelagem e simulação computacional. 2020. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica) – Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUÍ, Ijuí, 2020.

Atualmente, o modelo de geração de energia elétrica a base de combustíveis fosseis vem


gerando bastante discussão no mundo devido aos diversos impactos causados ao meio
ambiente. Por isso, a utilização de fontes de energia renováveis estão cada vez mais ganhando
espaço na matriz energética mundial. Uma dessas novas tecnologias são as células a
combustível que são dispositivos que convertem a energia química diretamente em energia
elétrica, através de reações eletroquímicas envolvendo os gases hidrogênio e oxigênio, sem
haver combustão. Assim, as células a combustível podem ser uma ótima alternativa aos
combustíveis fósseis. E devido a isso, a realização desse trabalho tem como objetivo fazer um
estudo sobre as células a combustível, trazendo os principais conceitos, principais tipos
existentes, além de fazer uma análise mais aprofundada sobre as células a combustível do tipo
PEMFC, realizando a modelagem matemática e simulações no MATLAB/Simulink, buscando
demonstrar sua potencial aplicação no setor de energia elétrica, mais especificamente, na
modalidade de geração distribuída para o atendimento a consumidores residenciais.

Palavras-chaves: Energia Renováveis, Células a combustível, Energia elétrica, Geração


Distribuída.
ABSTRACT

TRINDADE, Ericson Diego dos Santos. Estudo das Células a Combustível tipo Membrana
de Troca de Prótons (PEMFC), modelagem e simulação computacional. 2020. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica) – Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUÍ, Ijuí, 2020.

Currently, the electric power generation model based on fossil fuels has been generating
a lot of discussion in the world due to the various impacts caused to the environment. Therefore,
the use of renewable energy sources is increasingly gaining space in the global energy matrix.
One of these new technologies are fuel cells that are devices that convert chemical energy
directly into electrical energy, through electrochemical reactions involving hydrogen and
oxygen gases, without combustion. Thus, fuel cells can be a great alternative to fossil fuels.
And because of this, the accomplishment of this work has as objective to make a study on the
fuel cells, bringing the main concepts, main existing types, besides doing a more in-depth
analysis on the fuel cells of the PEMFC type, performing the mathematical modeling and
simulations at MATLAB / Simulink, seeking to demonstrate its potential application in the
electric energy sector, more specifically, in the distributed generation modality for serving
residential consumers.

Keywords: Renewable Energy, Fuel Cells, Electricity, Distributed Generation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Esquema básico de uma Célula a Combustível ........................................................ 19


Figura 2- Processo de conversão de energia ............................................................................. 21
Figura 3- Reações que ocorrem uma PEMFC .......................................................................... 26
Figura 4- Estrutura básica de uma PEMFC .............................................................................. 27
Figura 5- Interligação de células em série ................................................................................ 29
Figura 6- Gráfico dos três tipos de perdas ................................................................................ 38
Figura 7- Desempenho de uma Célula a Combustível e suas perdas ....................................... 39
Figura 8- Regiões de operação das Células a Combustível ...................................................... 39
Figura 9- Efeito da dupla camada na superfície do cátodo....................................................... 41
Figura 10- Circuito equivalente simplificado de uma Célula a Combustível........................... 42
Figura 11- Eficiência em células a combustível ....................................................................... 42
Figura 12- Modelo da Célula a Combustível externamente ..................................................... 48
Figura 13- Modelo da célula a combustível internamente ....................................................... 49
Figura 14- Diagrama para as Perdas por Ativação ................................................................... 50
Figura 15- Diagrama para as Perdas Ôhmicas.......................................................................... 51
Figura 16- Diagrama para as Perdas por Concentração ........................................................... 51
Figura 17- Tensão e Potência de Saída da célula ..................................................................... 52
Figura 18- Modelo completo da célula a combustível desenvolvida ....................................... 53
Figura 19- Curvas de polarização para a tensão e para a potência obtidas .............................. 54
Figura 20- Curvas das Perdas de uma célula a combustível obtidas ........................................ 54
Figura 21- Influência da Temperatura na Tensão de saída ....................................................... 56
Figura 22- Influência da temperatura na potência de saída ...................................................... 57
Figura 23- Influência da Pressão do Hidrogênio na tensão de saída ........................................ 58
Figura 24- Influência da pressão do hidrogênio na potência de saída ...................................... 59
Figura 25- Influência da pressão do Oxigênio na tensão de saída............................................ 60
Figura 26- Influência da pressão do oxigênio na potência de saída ......................................... 60
Figura 27- Influência do coeficiente de carga na tensão de saída ............................................ 62
Figura 28- Influência do coeficiente de carga na potência de saída ......................................... 62
Figura 29- Influência da densidade de corrente de troca (Io) na tensão de saída ..................... 64
Figura 30- Influência da densidade de corrente de troca na potência de saída ........................ 64
Figura 31- Influência da resistência na tensão de saída............................................................ 65
Figura 32- Influência da resistência na potência de saída ........................................................ 66
Figura 33- Influência do corrente limite na tensão de saída ..................................................... 67
Figura 34- Influência da corrente limite na potência de saída .................................................. 67
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Tipos de Células a Combustível ............................................................................... 22


1
Tabela 2- 𝛥𝐺 para a reação 𝐻2 + 𝑂2 → 𝐻2𝑂 para diferentes temperaturas ..................... 32
2

Tabela 3- Máxima Tensão e eficiência para células a combustível para diferentes temperaturas

.................................................................................................................................................. 43

Tabela 4- Parâmetros da Célula a Combustível utilizados ....................................................... 55

Tabela 5- Corrente de troca para diferentes materiais .............................................................. 63


LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AFC Alkaline Fuel Cell- Célula a Combustível Alcalina

DMFC Direct Methanol Fuel Cell- Célula a Combustível de Metanol Direto

GD Geração Distribuída

MATLAB Matrix Laboratory

MCFC Molten Carbonate Fuel Cell- Célula a Combustível de Carbonato Fundido

MEA Membrane Electrode Assembly

PAFC Phosphoric Acid Fuel Cell- Célula a Combustível de ácido fosfórico

PEMFC Proton Exchange Membrane Fuel Cell- Célula a Combustível de membrana

trocadora de prótons

SOFC Solid Oxid Fuel Cell- Célula a Combustível de óxido sólido


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................. 13
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .......................................................................................... 13
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 15
1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................. 15
1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................ 15
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................. 16
1.4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 17
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................ 18
2.1 INTRODUÇÃO AS CÉLULAS A COMBUSTÍVEL ................................................ 18
2.2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO...................................................................... 19
2.3 TIPOS DE CÉLULAS A COMBUSTÍVEL .............................................................. 21
2.4 PRINCIPAIS APLICAÇÕES ................................................................................... 24
2.5 CÉLULA A COMBUSTÍVEL DE MEMBRANA DE TROCA DE PRÓTONS
(PEMFC) ............................................................................................................................ 25
2.5.1 Características Operacionais de uma PEMFC ...................................... 26
2.5.2 Estrutura de uma PEMFC ........................................................................ 26
2.5.2.1 Membrana Polimérica e Eletrodos.............................................................. 27
2.5.2.2 Placas Bipolares ............................................................................................ 27
2.5.2.3 Canal difusor de gás ..................................................................................... 28
2.5.2.4 Células de Refrigeração ............................................................................... 28
2.5.3 Interligação de Células em série ............................................................ 28
2.5.4 Gerenciamento de água .......................................................................... 29
3. MODELAGEM MATEMÁTICA DAS CÉLULAS PEMFC.................. 31
3.1 DESEMPENHO IDEAL ........................................................................................... 31
3.2 PERDAS EM UMA CÉLULA A COMBUSTÍVEL .................................................. 34
3.2.1 Perdas por Ativação ................................................................................ 35
3.2.2 Perdas Ôhmicas ....................................................................................... 36
3.2.3 Perdas por Concentração ....................................................................... 37
3.3 CURVA DE POLARIZAÇÃO E TENSÃO REAL DE SAÍDA ............................. 38
3.4 DINÂMICA DAS CÉLULAS A COMBUSTÍVEL ................................................ 40
3.5 EFICIÊNCIA TEÓRICA .................................................................................... 42
3.6 CONSUMO DOS REAGENTES E PRODUTOS .............................................. 44
3.6.1 Consumo de Hidrogênio ............................................................................ 44
3.6.2 Consumo de Oxigênio e Ar ........................................................................ 45
3.6.3 Produção de Água ...................................................................................... 45
3.6.4 Produção de Calor ...................................................................................... 46
4. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL ................................................... 47
4.1 CONSIDERAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO MODELO ................. 47
4.2 SOFTWARE MATLAB/SIMULINK ......................................................................... 47
4.3 IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO ......................................................................... 48
4.4 VALIDAÇÃO DO MODELO DESENVOLVIDO ..................................................... 53
4.5 SIMULAÇÕES REALIZADAS ................................................................................ 55
4.5.1 Influência da Temperatura de operação ................................................ 56
4.5.2 Influência da pressão do Hidrogênio (PH2) ........................................... 58
4.5.3 Influência da pressão do Oxigênio (PO2) .............................................. 60
4.5.4 Influência do coeficiente de transferência de carga (α) ....................... 61
4.5.5 Influência da densidade de corrente de troca (Io) ................................ 63
4.5.6 Influência da resistência interna ............................................................ 65
4.5.7 Influência da corrente limite (ILIM) ......................................................... 66
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. 68
5.1 CONCLUSÕES ................................................................................................ 68
5.2 SUJESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................ 69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 70
ANEXOS .............................................................................................. 73
13

1. INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O acelerado processo de crescimento econômico e industrial, juntamente com o franco


crescimento da população mundial vem impulsionando um significativo aumento na demanda
energética mundial (CAIXETA, 2010). Assim, o maior desafio encontrado hoje é de como
contornar de forma eficaz esse aumento de demanda gerada pelas indústrias, comércio e
residências, ou seja, como disponibilizar energia elétrica futuramente (FRANCHI, 2009).

Tendo em vista que o atual modelo de geração de energia elétrica a base de combustíveis
fosseis, principalmente o petróleo, vem gerando bastante discussão no mundo, devido aos
grandes índices de poluição, dos impactos causados no meio ambiente, além da diminuição das
reservas desses recursos, é necessário pensar em novas fontes de geração de energia que sejam
provenientes de recursos renováveis e também que sejam eficientes. Por isso, a utilização de
fontes de energia renováveis, como a energia eólica e a energia solar estão cada vez mais
ganhando espaço na matriz energética mundial. Mas além dessas mais conhecidas, existe uma
outra fonte de energia limpa, com alta eficiência que deve ganhar espaço nos próximos anos,
que é a tecnologia das Células a Combustível.

A tecnologia de células a combustível traz uma nova perspectiva tecnológica, ainda


pouco estudada nas esferas da engenharia elétrica (COSTA, 2005). Desde então, o
desenvolvimento dessa tecnologia vem evoluindo, porém ainda é necessário realizar um maior
número de pesquisas nessa área nos dias atuais, para a sua efetiva aplicação comercial em
grande escala.

Em geral, as células a combustível são dispositivos que convertem a energia química


diretamente em energia elétrica, através de reações eletroquímicas envolvendo os gases
hidrogênio e oxigênio, sem haver combustão, e também apresentam elevada eficiência se
comparada com outras tecnologias de geração de energia elétrica (LOPES, 2013), e devido a
essa alta eficiência, e por não haver combustão durante o seu processo de conversão de energia,
essa tecnologia surge como uma das mais promissoras fontes de geração de energia para os
próximos anos.

Nesse contexto, Campos (2009) argumenta que, as células a combustível surgem como
uma excelente alternativa aos combustíveis fósseis, sendo suficientemente versáteis para serem
aplicadas tanto em centrais de geração de energia elétrica como em veículos, chegando até a
14

serem aplicadas em equipamentos elétricos portáteis. Com grande versatilidade, disponível em


vários tamanhos e gamas de potências, as células a combustível estão cada vez mais a afirmar-
se como uma tecnologia do futuro.

A partir disso, é importante se encontrar novas maneiras de se gerar energia,


principalmente a partir de recursos renováveis, devido ao aumento da preocupação com impacto
que o modelo energético atual a base de combustíveis fósseis causa ao meio ambiente. Assim,
as células a combustível podem ser uma ótima alternativa aos combustíveis fósseis.

No entanto, a questão econômica sempre foi um fator predominante na escolha do


melhor tipo de fonte para a geração de eletricidade (DILL, 2008). Algumas das principais razões
que limitam a utilização das células a combustível é o seu elevado custo e uma das principais
soluções para minimizar este problema é o estudo e desenvolvimento de novas tecnologias,
equipamentos e componentes com um preço mais acessível, porém com a mesma eficiência
(FRANCHI, 2009).

Devido a isso, essa forma de geração de energia merece maior atenção, onde é preciso
realizar mais pesquisas nessa área, estudar mais afundo sobre os tipos e as aplicações de células
a combustível, buscando alternativas para reduzir seu custo, pois é de grande importância para
se analisar o seu potencial e para a utilização na matriz energética mundial em um futuro
próximo. De acordo com Costa, 2005, para que isso possa ser feito de maneira eficiente, é
necessário o desenvolvimento de modelos computacionais que simulem, com a maior
fidelidade possível, o complexo comportamento das células combustíveis somente através da
definição de suas características, eliminando assim a necessidade da montagem de um número
excessivo de protótipos durante seu desenvolvimento.

Porém, apenas encontrar novas tecnologias para a geração de energia não é suficiente,
é preciso também encontrar novas maneiras para se utilizar essas novas fontes, a fim de
melhorar a qualidade da energia.

Atualmente, a maneira convencional de geração de energia elétrica é conhecida como


Geração Centralizada (GC), ou seja, através de fontes de grande porte de geração, como as
usinas hidrelétricas e termelétricas. Como se sabe, estas usinas estão limitadas a se instalarem
em locais apropriados, o que torna necessária a utilização de longas linhas de transmissão para
a distribuição de energia para lugares afastados (BOEFF, 2013).
15

Uma alternativa é a Geração Distribuída (GD) que está em crescente desenvolvimento


no mundo. Trata-se da geração de energia elétrica por pequenas fontes, propositalmente
instaladas próximo das cargas para minimizar o uso de linhas de transmissão. A GD serve ainda
como solução para quando há falta de energia proveniente da rede elétrica. Ainda, em certos
casos para locais isolados, pode ser a melhor opção economicamente viável para a
universalização do fornecimento de energia elétrica (BOEFF, 2013).

Além disso, os impactos ambientais oriundos da construção e operação de instalações


de geração distribuída de energia elétrica são, em geral, muito menores do que os ocasionados
por centrais de grande porte. As vantagens supracitadas aceleram o desenvolvimento de certas
tecnologias e têm permitido a diversas tecnologias de geração distribuída compensar seus gastos
de escala em relação às grandes centrais geradoras (MOKWA et. al, 2007).

Essa nova tendência de geração de energia abre espaço para a utilização de fontes
provenientes de recursos renováveis na matriz energética, como a energia solar fotovoltaica e a
eólica, sendo as principais utilizadas atualmente e quem sabe para os próximos anos, as células
a combustível.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

A realização desse trabalho tem como objetivo geral o estudo sobre a modelagem
matemática de células a combustível, buscando realizar a sua implementação em softwares
computacionais, fazendo simulações destes dispositivos, mais especificamente de uma célula
do tipo Membrana de Troca de Prótons (PEMFC), visando a sua aplicação para a utilização
como geração distribuída.

1.2.2 Objetivos Específicos

De modo a alcançar o objetivo principal proposto, definiu-se os seguintes objetivos


específicos:

• Revisar a bibliografia existente sobre células a combustível.


• Fornecer, através dos modelos e das simulações propostas, subsídios para uma
compreensão mais aprofundada sobre os princípios de células a combustível.
16

• Demonstrar através dos conceitos trazidos, sua potencial aplicação no setor de energia
elétrica, mais especificamente, na modalidade de geração descentralizada ou distribuída
para o atendimento a consumidores residenciais.
• Desenvolver e validar o modelo computacional, de modo que possa representar sistemas
de geração de energia elétrica através de células a combustível.

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho encontra-se dividido em cinco capítulos, conforme descrito:


O Capítulo 1 em sua introdução descreve sobre o tema que estará sendo abordado ao
longo deste trabalho. Descreve também os objetivos visados a serem alcançados com a
realização desse trabalho.
No Capítulo 2 faz-se uma revisão bibliográfica sobre o tema proposto, trazendo os
principais conceitos sobre células a combustíveis, o que são e seu princípio de funcionamento,
um breve histórico, os principais tipos existentes, algumas aplicações, as vantagens e as
desvantagens da sua utilização, entre outros conceitos. Também, traz-se em destaque o tipo de
célula a combustível escolhido para a realização desse trabalho, as células de Membrana de
Troca de Prótons (PEMFC).
No Capítulo 3 é feito todo o estudo sobre a modelagem matemática do tipo de célula
escolhido, detalhando como é o comportamento de uma célula a combustível, quais os
fenômenos que influenciam no seu desempenho, as perdas que afetam esse desempenho, entre
outros fatores.
No Capítulo 4 é desenvolvido o modelo de simulação através do software
MATLAB/Simulink, trazendo as considerações feitas e os parâmetros utilizados. Além de
mostrar os resultados obtidos através das simulações realizadas, analisando a influência dos
diversos fatores envolvidos em uma célula a combustível.
O Capítulo 5 traz a análise final do estudo realizado, buscando responder a problemática
inicial desse trabalho, a qual é como as células a combustível podem ser utilizadas na geração
distribuída como fonte de energia elétrica. Além disso, é apresentado sugestões para a
elaboração de trabalhos futuros.
17

1.4 METODOLOGIA

A metodologia empregada para a realização desse trabalho será especialmente através de


pesquisas bibliográficas, utilizando artigos, livros, teses acadêmicas, entre outros meios, onde
primeiramente será feita uma revisão da bibliografia existente sobre células a combustível,
mostrando os principais conceitos, seu princípio de funcionamento, principais tipos existentes,
suas aplicações, suas vantagens e desvantagens, etc. Também será feita uma análise mais
detalhada das células a combustível do tipo Membrana de Troca de Prótons (PEMFC), o qual
é o foco desse trabalho. Desse modo, o objetivo dessa etapa é proporcionar um embasamento
teórico necessário para o desenvolvimento do trabalho e o entendimento do leitor sobre o tema.

Logo depois será feito um estudo sobre a modelagem matemática das células a
combustível do tipo PEMFC, trazendo as principais equações que descrevem o comportamento
desse tipo de células, e após será desenvolvido um modelo com base nas equações apresentadas,
onde para a realização das simulações computacional será utilizado o software
MATLAB/Simulink.

A literatura traz inúmeras propostas de ferramentas computacionais idealizadas para as


mais diversas aplicações, onde diferentes softwares poderiam ser utilizados para o
desenvolvimento do modelo de célula a combustível proposto para esse trabalho. Porém, com
base no estudo das bibliografias utilizadas e do meu conhecimento dessas ferramentas, foi
escolhido o MATLAB juntamente com o Simulink, que é um software de computação numérica
de análise e visualização de dados, onde sua interface permite trabalhar com programação de
alto nível por linguagem de blocos através do Simulink e, lhe permite também, trabalhar com
uma linguagem derivada do C/C++ em suas interfaces de código.

Por fim, será feita a análise através de gráficos dos resultados obtidos na simulação
utilizando o modelo desenvolvido, onde através dessas análises será feito as considerações
finais sobre o trabalho desenvolvido.
18

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste capítulo faz-se uma revisão da literatura existente sobre as células a combustível,
onde será descrito os principais conceitos, seu princípio de funcionamento, os principais tipos
existentes, algumas aplicações, suas vantagens e desvantagens, entre outros conceitos.

2.1. INTRODUÇÃO AS CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

A primeira demonstração de uma célula a combustível foi feita pelo cientista britânico
William R. Grove em 1839 (LOPES, 2013), onde a partir de um experimento simples, ele
descobriu que a eletrólise da água em ácido sulfúrico diluído era reversível. Para tal
experimento, utilizou dois eletrodos de platina parcialmente mergulhados numa solução aquosa
ácida, separando estes eletrodos em dois reservatórios com hidrogênio e oxigênio. Assim,
através desse experimento, ele verificou que o sistema fazia fluir uma pequena corrente para
uma carga externa (CAIXETA, 2010).
As Células a Combustível são definidas como sendo dispositivos eletroquímicos que
produzem energia elétrica através de reações químicas, utilizando um combustível, geralmente
empregado o hidrogênio ou um gás rico em hidrogênio, sem que haja combustão.
A utilização de hidrogênio em uma célula a combustível, quando combinado com
oxigênio, resulta apenas na liberação de energia elétrica, de calor e de água, assim, não existindo
quase nenhuma emissão de gases poluentes. Além disso, ele também apresenta uma alta
eficiência em relação aos outros combustíveis existentes, o que o torna o principal combustível
utilizado nas células a combustível.
As principais vantagens da utilização de Células a Combustível para geração de energia
elétrica estão na sua alta eficiência na conversão de energia, alta confiabilidade e qualidade de
energia, flexibilidade quanto ao combustível, pouca manutenção, ausência de ruídos na
operação, baixa emissão de poluentes, grande flexibilidade em relação a aplicações (DOS REIS,
2011). Devido a essas vantagens, de acordo com Nascimento (2017), as Células a Combustível
possuem potencial para competir com os meios convencionais de geração de energia, já que
não apresentam limitações geográficas, podendo ser instaladas em qualquer local do sistema de
distribuição.
Porém, apresentam algumas desvantagens, sendo as principais: o custo do investimento
para instalação dessa tecnologia ainda é muito elevado; sensibilidade a contaminação;
necessidade da utilização de metais nobres, como a platina; a produção do hidrogênio ainda é
muito dependente dos combustíveis fósseis.
19

2.2. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO

A ideia básica de funcionamento de uma célula a combustível é de uma pilha ou bateria


de funcionamento contínuo, produzindo corrente contínua (DOS REIS, 2011). A diferença é
que na célula a combustível, o fornecimento e consumo dos agentes redutores e oxidantes é
contínuo, garantindo o seu funcionamento por muito mais tempo, já que não haverá
esgotamento de seus reagentes, ou seja, a eletricidade é gerada indefinidamente enquanto
houver combustível e oxidante injetados nos eletrodos da célula. Já nas pilhas e baterias a
energia é armazenada nos componentes no seu interior.

Uma célula a combustível é constituída por dois eletrodos, o ânodo (polo negativo),
onde ocorre a oxidação do hidrogênio, e o cátodo (polo positivo), onde ocorre a redução do
oxigênio, que são separados por um eletrólito, que é um composto material que permite o fluxo
dos íons entre os eletrodos, mas por sua vez impede a passagem de elétrons, os quais são
obrigados a percorrer por um circuito elétrico externo, produzindo assim uma corrente elétrica
(DOS REIS, 2011). Outro componente importante em uma célula a combustível é o catalisador,
o qual tem a função de acelerar as reações. A figura 1 mostra o esquema básico de uma célula
a combustível.

Figura 1- Esquema básico de uma Célula a Combustível

Fonte: (LOPES, 2013)


20

Conforme é mostrado na figura 1, o funcionamento de uma célula a combustível


acontece da seguinte forma: O combustível, sendo o gás hidrogênio (H2 ), é fornecido para a
célula pelo lado do ânodo. Então, depois de atravessá-lo, o hidrogênio se dissolve e reage,
formando íons H + e liberando elétrons, conforme mostra a equação a seguir:

H2 → 2H + + 2e− (1)

Continuando o processo, os elétrons são conduzidos até o cátodo pelo circuito elétrico
externo, e o íons H + através do eletrólito. Então, no lado do cátodo é fornecido um gás rico em
oxigênio, onde ele reage com os elétrons e os íons H + vindos do ânodo, assim formando água
e gerando calor. A equação a seguir descreve esse processo:

O2 + 4e− + 4H + → 2H2 O (2)

Por fim, a reação total que descreve o funcionamento de uma célula a combustível,
considerando as semi-reações (1) e (2) é dada pela seguinte equação (CAIXETA, 2010):

2H2 + O2 → 2H2 O + calor + energia elétrica (3)

Resumidamente, conforme é mostrado na equação (3), quando acontece a reação do


hidrogênio com o oxigênio, a reação química resultante desse processo produz, além de energia
elétrica, calor e água pura.

Em relação ao processo de conversão de energia, ao contrário do que ocorre em sistemas


de geração de energia elétrica baseados em máquinas térmicas, que requerem etapas
intermediárias de conversão de energia, as células a combustível convertem a energia química
do combustível diretamente em energia elétrica, sem haver combustão, o que faz com que esse
processo de geração seja muito mais eficiente (LOPES, 2013). Esse processo pode ser
visualizado na figura 2.
21

Figura 2- Processo de conversão de energia

Fonte: (DOS REIS, 2011)

2.3. TIPOS DE CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

As células a combustível são geralmente classificadas pelo tipo de eletrólito utilizado,


visto que o eletrólito estabelece o princípio de operação e características da célula, mas também
podem ser classificadas pelo tipo de íon transferido e pelo intervalo de temperaturas de
funcionamento da célula. Outra classificação é quanto ao íon transferido por meio do eletrólito,
onde as células a combustível podem ter transferência de ânions ou de cátions. (DAHER, 2016).

Outro tipo de classificação das células a combustível é quanto à temperatura. Há células


de baixa e alta temperatura, bem como células a temperatura intermediária. As de baixa
temperatura operam entre 60°C e 120°C, as intermediárias abaixo de 220°C, enquanto que as
de alta temperatura entre 600°C e 1000°C (DAHER, 2016).

Atualmente existem em torno de seis tipos principais de células a combustível. A tabela


1 mostra os principais tipos de células e suas características básicas, como o tipo de eletrólito e
combustível usado, além da temperatura que cada uma opera.
22

Tabela 1- Tipos de Células a Combustível

Temperatura de Combustível e
Tipo de Célula Íon Tipo do Eletrólito
operação (°C) Oxidante

KOH ou solução de
Alcalina (AFC) OH⁺ ≈ 60 -120 H₂, O₂
sódio

Ácido Fosfórico
H⁺ Ácido Fosfórico ≈ 160 - 220 H₂ puro
(PAFC)

Carbonatos
Lítio ou carbonato H₂, CO, CH₄ e outros
Fundidos CO₃⁻² ≈ 600 - 800
de potássio hidrocarbonetos
(MCFC)
Membrana de
Polímero Sólido
Troca de prótons H⁺ ≈ 80 H₂
(Nafion®)
(PEMFC)

Óxido Sólido
O⁻² Zircônia (ZRO₂) ≈ 800 - 1000 H₂, CO
(SOFC)

Metanol direto
H⁺ Polímero Sólido ≈ 80 Metanol
(DMFC)

Fonte: (Autor), adaptado de (DAHER, 2016)

As células alcalinas - AFC (do inglês Alkaline Fuel Cell), utilizam como eletrólito um
material alcalino, usualmente empregado uma solução de hidróxido de potássio (KOH) ou
também hidróxido de sódio. Trabalham com baixas temperaturas, em torno de 60ºC a 120ºC.
Para Dos Reis (2011), as AFCs possuem algumas aplicações remotas estratégicas, como em
missões espaciais, submarinas e militares. O grande problema das AFCs é devido ao fato da
contaminação do seu eletrólito com CO₂, assim formando carbonato.

As células de Ácido Fosfórico- PAFC (do inglês Phosphoric Acid Fuel Cell), utilizam
como eletrólito ácido fosfórico puro. Operam com temperaturas entre 160ºC e 220ºC. Sua
principal aplicação é para geração em unidades estacionárias com potência de 50KW a 1MW,
usados em instalações nas dependências dos consumidores. As PAFC segundo FRANCHI
(2009), foram as primeiras a ser produzidas comercialmente e apresentam uma ampla aplicação
a nível mundial, sendo essa tecnologia a mais avançada comercialmente.
23

Nas células de Carbonatos Fundidos- MCFC (do inglês Molten Carbonate Fuel Cell), o
eletrólito utilizado é composto por uma solução de carbonatos de lítio, potássio e sódio fundidos
em alta temperatura. Trabalham com temperaturas elevadas, em torno de 600ºC a 800ºC, o que
permitem funcionarem sem a necessidade de catalisadores, além de permitir o uso de outros
combustíveis como o gás natural e etanol sem utilizar reformadores. Possuem aplicação em
unidades estacionárias de médio e grande porte com potência superior a 1MW.

As células de Membrana de Troca de Prótons- PEMFC, utilizam como eletrólito uma


membrana polimérica a base de politetrafluoroetileno. Operam em baixas temperaturas, em
torno de 80ºC. Tem sua principal aplicação na indústria de veículos em geral, podendo substituir
os motores de combustão interna, mas também podem ser usadas para a geração de energia para
consumidores e em equipamentos portáteis. Esse tipo de célula a combustível será melhor
detalhada a seguir.

Nas células de Óxido Sólido- SOFC (do inglês Solid Oxid Fuel Cell), o eletrólito
utilizado é geralmente um material a base de Zircônia (ZrO₂). São classificadas como células
de alta temperatura, onde operam na faixa de 800ºC a 1000ºC, o que dispensa o uso de
catalisadores. Possuem aplicações em unidades estacionárias de 10kW a 1MW e para a
produção de calor residual em sistemas de cogeração de energia.

As células de Metanol Direto- DMFC (do inglês Direct Methanol Fuel Cell), utilizam
como eletrólito um material de polímero sólido e operam com temperaturas de 80ºC assim como
as células PEMFC. No entanto, segundo LOPES (2013), seus eletrodos são feitos de forma
diferenciada para a utilização de metanol como combustível ao invés do hidrogênio puro, além
de usarem dois metais como catalisadores (Platina e Rutênio), enquanto as PEMFC utilizam só
a platina. Sua potencial aplicação é na indústria automobilística e em equipamentos portáteis.
24

2.4. PRINCIPAIS APLICAÇÕES

As células a combustível são bastantes versáteis, podendo ser aplicadas em diversos


setores comerciais, possuindo três grandes frentes de utilização que são: as unidades
automotoras, as unidades estacionárias e os dispositivos portáteis.

• Unidades Estacionárias: Este tipo de aplicação caracteriza-se pela capacidade de


geração de energia elétrica em local próximo ao centro de carga, onde tem-se o sistema
de células a combustível conectado à rede provendo assim energia adicional ao sistema
ou funcionando de modo isolado como fonte independente (NASCIMENTO, 2017),
principalmente em situações que necessitem baixo nível de ruído com hospitais e
laboratórios (COSTA, 2005). Aqui se destaca a aplicação como fonte de geração
distribuída de energia, onde as células a combustível são utilizadas em paralelo com a
concessionária de energia, podendo ser usadas em falta de suprimento da mesma, ou
ainda em horários de pico.

• Unidades Automotoras: No setor automotivo, estão sendo desenvolvidos e testados


modelos de veículos utilizando células a combustível. Alguns modelos já estão
disponíveis no mercado e são comercializados por fabricantes como Honda e Toyota
desde 2008. São veículos considerados altamente eficientes, reduzindo a emissão de
CO2 e a poluição sonora (NASCIMENTO, 2017). A indústria automobilística tem
buscado cada vez mais alternativas para os motores a combustão, sendo uma das
principais linhas de pesquisas adotadas o desenvolvimento de células a combustível
(COSTA, 2005).

• Dispositivos Portáteis: Com o grande avanço dos equipamentos portáteis, como


smartphones e notebooks, além dos problemas ambientais causados em relação do
descarte dessas baterias convencionais, assim surge a necessidade de buscar novas
alternativas de baterias de alta eficiência e com maior vida útil. E devido a isso, o
segmento de aplicação portátil deverá ser a primeira aplicação para as células a
combustível a chegar ao mercado comercial em grande escala.
25

2.5 CÉLULA A COMBUSTÍVEL DE MEMBRANA DE TROCA DE PRÓTONS


(PEMFC)

Este trabalho centra-se exclusivamente em realizar a modelagem e a simulação de uma


célula a combustível do tipo Membrana de Troca de Prótons, conhecida como PEMFC (do
inglês Proton Exchange Membrane Fuel Cell). Assim, nesta seção será entrado em detalhes de
como é constituído uma PEMFC, principais características, seu funcionamento, principais
componentes, entre outros.

Foi escolhida esse tipo de célula devido a sua simplicidade e versatilidade, além de
poderem ser aplicadas em diversas situações, desde a utilização em veículos, em equipamentos
portáteis, e até para a geração de energia para consumidores residenciais. Desse modo, Campos
(2009) cita as seguintes vantagens que fazem as células do tipo PEMFC se destacar em relação
aos outros tipos existentes:

• Sistema que permite um projeto compacto;


• Funcionamento a baixas temperaturas (80ºC);
• Rápido arranque quando do uso de hidrogénio puro;
• Possibilidade de usar metanol como alternativa ao hidrogénio puro;
• Boa relação energia por peso;
• Elevada potência de saída;
• Elevada eficiência (50%);
• Longo tempo de vida;
• Grande flexibilidade de aplicação como geração aceitável de energia, automóveis e
equipamentos elétricos portáteis.

Devido a essas características, a PEMFC atrai muito interesse na geração distribuída


devido à alta densidade de energia, alta eficiência e baixa temperatura de operação. Nos últimos
anos, foram coordenadas muitas pesquisas a fim de melhorar o desempenho da PEMFC. Os
resultados dessas pesquisas possibilitaram a redução do custo do kW e o aumento da densidade
de potência para a PEMFC, o que contribuiu para que essa tecnologia ganhasse espaço
significativo no mercado (NASCIMENTO, 2017).
26

2.5.1 Características Operacionais de uma PEMFC

Como o combustível utilizado nas PEMFC é o hidrogênio, então o seu funcionamento


acontece da mesma forma o qual foi explicado anteriormente. Resumidamente, no ânodo, a
molécula de hidrogênio é dividida em íons e elétrons. Os íons atravessam o eletrólito até ao
cátodo enquanto os elétrons passam pelo circuito externo ao qual fornecem energia elétrica. O
oxigênio do ar é fornecido ao cátodo e combina-se com os elétrons e com os íons de hidrogênio
para formar água (MOKWA et. al, 2007). A figura 3 mostra as reações químicas que ocorrem
em uma PEMFC, incluindo o transporte de íons H⁺ pela membrana e os elétrons (e− ) pelo
circuito externo.

Figura 3- Reações que ocorrem uma PEMFC

Fonte: (CAIXETA, 2010)

As PEMFC são ideais para o funcionamento em baixas temperaturas de operação, em


torno de 80ºC, e devido a isso, o início do seu funcionamento é bem mais rápido do que os
outros tipos de células. Porém surge a necessidade de se utilizar um catalisador de platina, para
tornar mais rápidas as reações químicas, elevando o seu preço.

2.5.2 Estrutura de uma PEMFC

A estrutura da PEMFC é similar à das outras Células a Combustível, com a exceção de


que o eletrólito utilizado é uma fina membrana porosa onde as mais usadas atualmente são um
polímero sólido a base de politetrafluoroetileno, sendo mais pesquisadas em Nafion®
(NASCIMENTO, 2017).
A estrutura básica de uma PEMFC é composta por três partes principais: O conjunto
membrana e eletrodos, conhecido como MEA (Membrane Electrode Assembly), que consiste
em uma “folha” única composta pela membrana polimérica com os eletrodos em suas laterais,
27

e dois conjuntos formados por um suporte difusor de gases e uma placa separadora (Placa
Bipolar) de cada lado da MEA (COSTA, 2005). Na figura 4 é mostrado a estrutura básica de
uma PEMFC.

Figura 4- Estrutura básica de uma PEMFC

Fonte: (FRANCHI, 2009; ELETROCELL, 2009)

2.5.2.1 Membrana Polimérica e Eletrodos

A membra polimérica é o eletrólito da célula a combustível, com espessura geralmente


entre 12 e 210 μm (COSTA, 2005). Essa membrana é permeável a prótons/íons (H+), ou seja,
permite a passagem desses prótons pelo eletrólito, porém impede a passagem de elétrons. Costa,
2005 comenta que a membrana é constituída de um polímero orgânico sólido, geralmente um
ácido politetrafluoroetileno, que necessita estar em solução aquosa para a realização da
condução protônica, sendo a mais utilizada atualmente é a Nafion®.
Já os eletrodos do ânodo e cátodo possuem uma estrutura porosa, com espessuras entre
250 e 450 pm. possibilitando a difusão gasosa tanto do hidrogênio como do oxigênio, são
condutores elétricos e possuem em sua estrutura o elemento catalisador, geralmente utilizado a
platina (COSTA, 2005). Juntando a membrana e os eletrodos, formam a MEA, conforme
descrito anteriormente.

2.5.2.2 Placas Bipolares

As placas separadoras, também conhecidas como Placas Bipolares, tem como funções
básicas prover a rigidez mecânica, além de propiciar o encaminhamento dos gases através da
célula. Elas também constituem os terminais elétricos de uma célula isolada, portanto são
28

construídos de materiais rígidos, impermeáveis aos gases, condutores elétricos, e, se possível,


de baixo peso, onde os materiais geralmente utilizados são metais, grafite ou compostos a base
de carbono (COSTA, 2005).

2.5.2.3 Canal difusor de gás

O Canal difusor de gás é um material poroso com três funções básicas, sendo elas:
Propiciar o contato elétrico entre os eletrodos e as placas separadoras, fazer uma melhor difusão
gasosa dos reagentes (hidrogênio e oxigênio) e permitir somente ao trânsito de vapor de água,
mantendo a umidade necessária para o transporte iônico na membrana confinada à MEA.
Possuem espessura entre 300 e 400 μm, sendo constituídos de um material condutor elétrico,
geralmente papel carbono poroso ou tecido a base de carbono (COSTA, 2005).

2.5.2.4 Células de Refrigeração

Outro componente importante são as células de refrigeração. Como a reação que ocorre
na célula é exotérmica, então o calor em excesso produzido deverá ser retirado. Caso isso não
seja feito, a temperatura da célula PEMFC pode ultrapassar a temperatura de vaporização da
água (≈100°C), provocando o ressecamento da membrana, parando o transporte protônico,
interrompendo assim a reação na célula (COSTA, 2005).
Por isso, utiliza-se células de refrigeração intercaladas com as células a combustível
para realizar esse controle da temperatura, que são responsáveis pela circulação de uma
substância refrigerante, geralmente utilizado a água.

2.5.3 Interligação de Células em série

A tensão gerada por uma única célula a combustível é bem pequena, na faixa de 0,4V e
1,2V. E Como a maior parte dos dispositivos eletroeletrônicos não operam em um nível de
tensão tão reduzida, a solução adotada é a conexão de várias células unitárias em série. Onde
ao conjunto de duas ou mais células a combustível, interligadas em série é denominado
empilhamento de células (em inglês Stack) (CAIXETA, 2010).

A forma mais usual de realizar essa conexão é utilizando as chamadas placas bipolares
(CAIXETA, 2010), as quais foram descritas anteriormente. Essas placas conectam a superfície
de um cátodo ao ânodo da célula, e servem como vias de alimentação de hidrogênio para o
29

ânodo e de oxigênio para o cátodo, provendo assim a todas as células, quantidades homogêneas
e suficientes de ambos os gases, conforme essa interligação pode ser vista na figura 5.

Figura 5- Interligação de células em série

Fonte: (CAMPOS, 2009)

O valor da tensão de operação de uma pilha de combustível é determinado pelo número


de células a combustível que a constitui, e pelas perdas internas, determinadas pelos materiais
e métodos construtivos, bem como pela intensidade da corrente elétrica imposta pela carga e
pelos procedimentos operacionais (COSTA, 2005).

2.5.4 Gerenciamento de água

Durante a operação de uma célula a combustível, os íons H + “carregam” de uma até


cinco moléculas de água quando são transferidos do ânodo para o cátodo (LARMINE e DICKS,
2003). Com isso, fica claro que a mobilidade dos prótons através da membrana, e
consequentemente o bom desempenho de uma célula, é fortemente dependente do nível de
hidratação da mesma (CAIXETA, 2010).
O gerenciamento de água nas células a combustível é de extrema importância para o
bom o funcionamento desse sistema, onde a membrana deve estar úmida o suficiente para
garantir a eficiência no transporte do íon hidroxônio (H3O+) através do seu grupo sulfônico
(DA SILVA, 2007).
30

A umidade da membrana é garantida através dos gases de entrada tanto no cátodo como
no ânodo que são umidificados com fator próximo a 100% (DA SILVA, 2007). Em LARMINE
e DICKS (2003) é proposto que a umidade relativa do ar que deixa a célula a combustível deve
estar entre 80% a 100% para que a mesma possua boa condutividade de prótons e
consequentemente um bom desempenho. Assim, quando necessário, o ar e/ou o hidrogênio
devem ser umidificados antes de serem fornecidos à célula.

A desidratação da membrana leva a um aumento da resistência ao fluxo de prótons,


principalmente quando altas correntes são requeridas pela carga. Por outro lado, um excesso de
umidificação acarreta em uma obstrução no canal dos gases combustíveis, bloqueando
parcialmente a difusão de oxigênio pelo eletrodo poroso (CAIXETA, 2010). Além disso, pode
dificultar no transporte de massa no interior da membrana.
31

3. MODELAGEM MATEMÁTICA DAS CÉLULAS PEMFC


Como escrito anteriormente, o objetivo desse trabalho está voltado em realizar a
Modelagem e a Simulação computacional de uma célula a combustível do tipo PEMFC, nesse
capítulo será desenvolvida a modelagem matemática da célula a combustível em estudo. Para
isso, é de extrema importância conhecer como é o comportamento de uma célula a combustível,
quais os fenômenos que influenciam no seu desempenho, as perdas que afetam esse
desempenho, entre outros fatores.
Assim a modelagem matemática tem um papel muito importante hoje na representação
dos mais variados e complexos sistemas. Para Lopes Filho (2011), a modelagem matemática
permite, dentro das suas limitações, o estudo de diversas propriedades de sistemas sem que seja
necessária a construção de protótipos físicos, diminuindo custos e tempo de desenvolvimento.

3.1. DESEMPENHO IDEAL

Para o estudo do desempenho das células de combustível, inicialmente é necessário


definir como é o seu desempenho ideal, também conhecido como Tensão de circuito aberto.
Mas antes de definir o seu desempenho ideal, para um melhor estudo e entendimento do
funcionamento, sabendo que as células a combustível são dispositivos eletroquímicos, é
necessário trazer alguns conceitos importantes da eletroquímica.

A tensão de circuito aberto de uma célula a combustível envolve a avaliação de


diferentes energias entre o estado inicial dos reagentes no processo (𝐻2 𝑒 𝑂2) e o resultante final
(𝐻2 𝑂) (DA SILVA, 2007), onde a energia química disponível em uma célula a combustível é
definida pela Energia livre de Gibbs, que é a quantidade de energia disponível em um sistema
termodinâmico para realizar trabalho (NASCIMENTO, 2017).

A energia livre de Gibbs (ΔG) relaciona-se com a Entalpia (ΔH), definida como a
quantidade de energia contida em uma determinada substância que sofre reação (CAIXETA,
2010) e com a Entropia (ΔS), definida como energia que não pode ser convertida em trabalho
de um sistema, conforme mostra a seguinte equação (DA SILVA, 2007):

ΔG = ΔH − TΔS (4)
32

Partindo que para cada molécula de hidrogênio que reage e para cada molécula de água
produzida, ocorre o deslocamento de dois elétrons. O trabalho elétrico realizado ao mover dois
elétrons por um potencial elétrico (𝐸𝑟𝑒𝑣 ) é expresso por (NASCIMENTO, 2017):

Welétrico = −2𝐹𝐸𝑟𝑒𝑣 [Joules] (5)

Onde:
F é a constante de Faraday, igual a 96485 Coulombs/mol.

Como explicado anteriormente, sabe-se que a variação da energia livre de Gibbs (ΔG)
é definida como sendo a energia disponível para realizar trabalho externo. Assim, em uma
célula a combustível, esse trabalho corresponde a circulação de elétrons por um circuito
externo, onde se não tiver perdas no sistema, ou seja, se o processo é reversível, toda a energia
de Gibbs é convertida em energia elétrica (LOPES, 2013). Então o trabalho elétrico realizado
é igual à variação da energia livre de Gibbs (Welétrico = ΔG− ), assim isolando 𝐸𝑟𝑒𝑣 da equação
(5), temos:
ΔG−
𝐸𝑟𝑒𝑣 = − 2∗𝐹 [𝑉𝑜𝑙𝑡𝑠] (6)

Onde ΔG− é a variação da energia livre de Gibbs. A equação (6) representa o potencial

reversível (𝐸𝑟𝑒𝑣 ) de uma célula a combustível a uma certa temperatura e pressão. A tabela 2
mostra o valor de ΔG− para determinadas temperaturas.

1
Tabela 2- 𝛥𝐺 − para a reação 𝐻2 + 𝑂2 → 𝐻2 𝑂 para diferentes temperaturas
2

Fonte: (Traduzido de LARMINE e DICKS, 2003)


33

Como pode ser visto na tabela 2, para uma temperatura de 25ºC e pressão de 1 bar, ou
seja, em condições ambientes, a energia livre de Gibbs (Δ𝐺 ⁻⁰ ) é igual a -237,2 kJ mol⁻¹. Então
o potencial elétrico máximo que pode ser gerado por uma célula a combustível é 1,229 Volts,
conforme calculado através da equação (7):

0 Δ𝐺 ⁻⁰ −237,2𝑘
𝐸𝑟𝑒𝑣 =− =− = 1,229 𝑉𝑜𝑙𝑡𝑠 (7)
2∗𝐹 2∗96485

A variação da energia livre de Gibbs, e consequentemente, o potencial reversível,


variam de acordo com a temperatura. Já a pressão dos reagentes e dos produtos na reação
influência diretamente o valor do potencial nos terminais de uma célula a combustível (LOPES,
2013). Assim, considerando o efeito da temperatura (T em Kelvin), o potencial elétrico gerado
por uma célula a combustível é dado pela seguinte equação (CAIXETA, 2010):

0
𝐸𝑟𝑒𝑣 = 1,229 − 0,85𝑥10−3 ∗ (𝑇 − 298,15) (8)

Como descrito anteriormente, a pressão também tem influência direta na tensão


disponível pela célula. O aumento da pressão ocasiona uma redução no espaço entre as
moléculas envolvidas na reação, aumentando a atividade da reação, e essa variação na atividade
afeta na variação da energia livre de Gibbs da reação (LOPES, 2013). A equação a seguir mostra
a influência da pressão:

1

− ⁻⁰ 𝑎𝐻2 .(𝑎𝑂2 ) 2
ΔG = Δ𝐺 − 𝑅𝑇 ∗ 𝑙𝑛 [ 𝑎 ] (9)
𝐻 𝑂
2

As variáveis 𝑎𝐻2 , 𝑎𝑂2 , 𝑎𝐻2 𝑂 , correspondem a atividade do hidrogênio, oxigênio e da

água (na forma de vapor), respectivamente. No caso de gases ideais, essas variáveis são dadas
pelas equações:
𝑃𝐻2 𝑃𝑂2 𝑃𝐻 𝑂
2
𝑎𝐻2 = , 𝑎𝑂2 = , 𝑎𝐻2𝑂 = (10)
𝑃𝑜 𝑃𝑜 𝑃𝑜

Onde:
• 𝑃𝐻2 , 𝑃𝑂2 , 𝑃𝐻2 𝑂 : Pressões parciais do hidrogênio, oxigênio e da água, respectivamente;

• 𝑃𝑜 : Pressão atmosférica;
34

Agora, definido alguns conceitos importantes para o entendimento, é possível definir


como é o desempenho ideal de uma célula a combustível, ou seja, sem considerar as perdas
envolvidas no processo.

O desempenho ideal de uma célula a combustível é definido pelo seu potencial de Nernst
que é representado como tensão da célula. Essa equação fornece a relação entre o potencial
ideal padrão, ou seja, o potencial à pressão de uma atmosfera e temperatura ambiente de 25ºC
para a reação da célula e o potencial ideal de equilíbrio a outras temperaturas e pressões parciais
dos reagentes e produtos (CAMPOS, 2009). Em resumo, o desempenho ideal de uma célula a
combustível depende principalmente das reações eletroquímicas que acontecem entre o
oxigênio, o hidrogênio e a água produzida.

Assim, o potencial de Nernst, ou seja, a tensão ideal ou também chamada de tensão de


circuito aberto de uma célula a combustível, considerando o efeito da pressão demonstrado
anteriormente através das equações (9) e (10) e considerando que a pressão atmosférica 𝑃𝑜 = 1
bar, é dado pela seguinte equação:

1
𝑅𝑇 𝑃𝐻2 .(𝑃𝑂2 ) ⁄2
𝐸𝑁𝑒𝑟𝑛𝑠𝑡 = 𝐸⁰𝑟𝑒𝑣 + 𝑙𝑛 [ ] (11)
2𝐹 𝑃𝐻2 𝑂

Onde:
• 𝐸⁰𝑟𝑒𝑣 : Potencial reversível a pressão atmosférica;
• R: Constante universal dos gases nobres, igual a 8,314 J mol⁻¹K⁻¹;
• T: Temperatura que ocorre a reação (Kelvin);
• 𝑃𝐻2 , 𝑃𝑂2 , 𝑃𝐻2 𝑂 : Pressões parciais do hidrogênio, oxigênio e da água, respectivamente;
• F: Constante de Faraday, igual a 96485 Coulombs;

3.2 PERDAS EM UMA CÉLULA A COMBUSTÍVEL

A tensão de saída de uma célula a combustível é afetada por perdas, ou seja, uma parte
do potencial elétrico é perdido quando se adiciona uma carga nos terminais de saída da célula.
Assim, segundo Caixeta (2010), as perdas representam o processo irreversível nas reações que
envolvem células a combustível, sendo responsáveis em causar quedas no potencial elétrico
disponível para um circuito externo.
35

As perdas de uma célula a combustível geralmente são denominadas como perdas por
polarização, sobre potencial (overpotential) ou sobre tensão (overvoltage) (CAMPOS, 2009).

Em geral, as células a combustível possuem perdas relacionadas à ativação da reação


química (perda por ativação), à resistência elétrica de seus componentes (perda ôhmica), e ao
transporte do gás (perdas por concentração) (DAHER, 2016). A seguir será explicado cada uma
dessas perdas.

3.2.1 Perdas por Ativação

As perdas por ativação ocorrem devido à energia consumida na realização das reações
químicas no ânodo e no cátodo, e no transporte de elétrons pelos eletrodos (LOPES FILHO,
2011), ou seja, esse tipo de perda acontece devido à baixa velocidade das reações eletroquímicas
que ocorrem na superfície dos eletrodos. Para Nascimento (2017), os fatores que influenciam
as perdas por ativação são os reagentes da reação química, o catalisador utilizado e a densidade
de corrente na superfície dos eletrodos. Em geral, de acordo com Caixeta (2010), as perdas de
ativação são mais significativas ao se trabalhar com baixas correntes e possuem característica
altamente não-linear. Em geral, as perdas por ativação são expressas através da equação de
Tafel, conforme descreve (LOPES, 2013):

RT I RT I
Eativ = ln ( )+ ln ( ) (12)
nαA F I0,A nαC F I0,C

Onde:
• R: Constante dos Gases Nobres, igual a 8,314 J mol⁻¹K⁻¹;
• T: Temperatura que ocorre a reação, em (Kelvin);
• n: Número de elétrons produzidos;
• I: Densidade de corrente atual da célula, em (A/cm²);
• 𝛼𝐴 : Coeficiente de transferência de carga no anodo;
• 𝐼0,𝐴 : Densidade de corrente de troca no anodo (A/cm²);
• 𝛼𝐶 : Coeficiente de transferência de carga no catodo;
• 𝐼0,𝐶 : Densidade de corrente de troca no catodo (A/cm²);

A primeira parte da equação (12) refere-se as perdas por ativação no ânodo e a segunda
as perdas por ativação no cátodo. O parâmetro 𝐼0 (𝐼0,𝐴 𝑜𝑢 𝐼0,𝐶 ) é denominado densidade de
36

corrente de troca, que pode ser entendida como a corrente a partir da qual as perdas por ativação
começam a sair do zero (LOPES, 2013). Em geral, a densidade de corrente de troca no ânodo
é muito maior que a no cátodo, e devido a isso, o potencial de ativação no ânodo é muito menor
em relação ao cátodo, assim a equação (12) pode ser simplificada desconsiderando a parte do
ânodo, conforme a equação abaixo:

RT I
Eativ = ∗ ln ( ) (13)
αnF I 0

3.2.2 Perdas Ôhmicas

Outro tipo de perdas que ocorre em uma célula são as perdas ôhmicas, ou também
conhecidas como perdas por resistividade. Essas perdas são ocasionadas devido à resistência
que o eletrólito oferece para a passagem do fluxo de íons e pela resistência ao fluxo dos elétrons
através dos componentes condutores da célula a combustível (FRANCHI, 2009), ou seja, são
perdas relacionadas devido à resistência do cátodo, do ânodo e dos elementos de conexão do
circuito (ZANETTI, 2016). Assim, as perdas ôhmicas são dadas segundo a lei de Ohm:

𝐸𝑜ℎ𝑚 = 𝐼. (𝑅𝑀 + 𝑅𝐶) (14)

Onde:
• I: densidade de corrente da célula;
• 𝑅𝑀: resistência do eletrólito (Membrana);

• 𝑅𝐶 : resistência do conjunto dos eletrodos;

A resistência RC depende do tipo de material que é utilizado nos eletrodos, tanto no


ânodo quanto no cátodo. Já a resistência RM é devido à resistência que o eletrólito oferece para
o fluxo de prótons ou íons. Assim, para o cálculo da resistência equivalente da membrana, é
utilizado a seguinte equação: (CAMPOS, 2009)

𝜌𝑀∗𝑙
𝑅𝑀 = (15)
𝐴

Sendo: A é a área ativa da célula (cm²), l é a espessura da membrana (cm) e 𝜌𝑀 é a


resistividade específica da membrana para o fluxo de elétrons (Ω.cm), que é calculada através
da seguinte equação (CAMPOS, 2009):
37

2 2.5
181.6∗[0.03∗(𝐼⁄𝐴)+0.062∗(𝑇⁄303) ∗(𝐼⁄𝐴) ]
𝜌𝑀 = 303 (16)
𝜓−0.634−3∗(𝐼⁄𝐴)∗𝑒 4.18∗(𝑇− ⁄𝑇)

Onde: 𝜓 é um parâmetro ajustável com um valor máximo de 23, influenciado pelo processo de
preparação da membrana, T é a temperatura, A é área e I é a corrente da célula.

3.2.3 Perdas por Concentração

As perdas por concentração, também conhecidas como perdas por transporte de massa,
são resultantes da variação da concentração efetiva dos gases reagentes na superfície dos
eletrodos durante a operação da célula a combustível, sendo mais relevantes ao se trabalhar com
altas densidades de corrente (CAIXETA, 2010).

Para Franchi (2009), a perda de tensão por concentração está associada a dois fatores,
sendo o primeiro devido ao fato de que a área do eletrodo não é uniformemente porosa e o
segundo fator está relacionado com a densidade de corrente, que não é uniforme na superfície
do eletrodo. Assim, as perdas por concentração podem ser obtidas a partir da seguinte equação
apresentada por (LARMINIE E DICKS, 2003):

𝑅𝑇 𝐼
𝐸𝑐𝑜𝑛𝑐 = ∗ ln [1 − ] (17)
𝑛𝐹 𝐼lim

Onde:
• I: Densidade de Corrente atual da célula;
• 𝐼𝑙𝑖𝑚 : Densidade de corrente que começa haver queda pronunciada na tensão terminal
da célula.

Na figura 6 pode ser visualizado o comportamento de cada uma das perdas de potencial
elétrico em uma célula a combustível. É possível verificar que no início da reação, ou seja, para
pequenas correntes, a queda de tensão é mais influenciada pelas perdas por ativação, no meio
da reação são predominantes as perdas ôhmicas e para maiores correntes, a queda de tensão é
mais influenciada pelas perdas por concentração (SMARSSARO, 2007).
38

No início da reação, percebe-se que as perdas por ativação crescem rapidamente,


mantendo-se estável até o final. Em relação as perdas ôhmicas, nota-se que seu comportamento
é estável durante toda a reação, devido ao seu comportamento ser linear. Já as perdas por
concentração crescem rapidamente no final da reação, sendo estável no início da reação.

Figura 6- Gráfico dos três tipos de perdas

Fonte: (FRANCHI, 2009, BARBIR 2005)

3.3. CURVA DE POLARIZAÇÃO E TENSÃO REAL DE SAÍDA

Na figura 7 é mostrada a curva característica de desempenho de uma célula a


combustível (Tensão x Densidade de corrente), conhecida como Curva de Polarização, onde é
mostrado o seu potencial elétrico gerado, juntamente com cada tipo de perdas que ocorre em
uma célula, as quais foram mostradas anteriormente.
39

Figura 7- Desempenho de uma Célula a Combustível e suas perdas

Fonte: (CAMPOS, 2009)

Já o gráfico da figura 8, é mostrada a mesma curva da figura 7, porém destaca a


existência das três regiões distintas de operação da Célula a Combustível, que são caracterizadas
pelo tipo de perda, ou seja, na região mais significativa tem as perdas por ativação, a região do
meio tem as perdas ôhmicas, e a região menos significativa tem as perdas por concentração.

Figura 8- Regiões de operação das Células a Combustível

Fonte: (NASCIMENTO, 2017; LARMINIE E DICKS, 2003)


40

Por fim, agora que se conhece o desempenho ideal e as perdas que ocorrem nas células
a combustível, pode-se calcular o desempenho real da célula, ao qual se subtraí as perdas
mostradas anteriormente do seu potencial de Nernst. Então, a tensão de saída da célula
(𝐸𝑆𝑎í𝑑𝑎 ) pode ser obtida através da seguinte equação:

𝐸𝑆𝑎í𝑑𝑎 = 𝐸𝑁𝑒𝑟𝑛𝑠𝑡 − (𝐸𝑎𝑡𝑖𝑣 + 𝐸𝑜ℎ𝑚 + 𝐸𝑐𝑜𝑛𝑐 ) (18)

E para obter a tensão de um empilhamento genérico, formada por n células conectadas


em série, basta multiplicar a tensão de saída de uma única célula (𝐸𝑆𝑎í𝑑𝑎 ) pelo número de células
(n), conforme mostra a equação:

𝐸𝑃𝑖𝑙ℎ𝑎 = 𝑛 ∗ 𝐸𝑆𝑎í𝑑𝑎 (19)

3.4. DINÂMICA DAS CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

Nas células de combustível, existe um fenómeno denominado por “charge double layer”
(CAMPOS, 2009), traduzindo para o português, esse fenômeno é conhecido como dupla
camada de carga.

A formação da dupla camada de carga é um fenômeno que ocorre nos eletrodos, sendo
importante para entender a dinâmica do comportamento elétrico das células a combustível.
Quando dois materiais diferentes estão em contato, ocorre o acúmulo de carga nas superfícies
ou a troca de carga entre os materiais. Em sistemas eletroquímicos, esse carregamento em dupla
camada se forma em parte devido aos efeitos de difusão e também por conta das reações entre
os elétrons e os eletrodos e entre os íons no eletrólito (NASCIMENTO, 2017; LARMINIE e
DICKS, 2003).

Nas PEMFC, os elétrons fluem do ânodo para a carga externa e se acumulam na


superfície do cátodo, para onde os íons H+ são atraídos, formando assim a dupla camada
eletroquímica: duas camadas carregadas com polaridades opostas na fronteira entre o cátodo
poroso e a membrana (NASCIMENTO, 2017). Esse fenômeno pode ser visto na figura 9.
41

Figura 9- Efeito da dupla camada na superfície do cátodo

Fonte: (NASCIMENTO, 2017; LARMINIE E DICKS, 2003)

A dupla camada de prótons e elétrons formada na interface eletrodo-eletrólito armazena


carga e energia elétrica e, como tal, se comporta como um capacitor, onde percebe-se que a
capacitância de dupla camada influência a resposta dinâmica da célula a combustível (LOPES,
2013). Assim pode-se dizer que o efeito capacitivo assegura um bom desempenho dinâmico da
célula, uma vez que a tensão transita suavemente para um novo valor em resposta aos pedidos
de corrente (CAMPOS, 2009).

Ao ocorrerem alterações de tensão, estas vão demorar algum tempo a serem sentidas e
a gerarem alterações de corrente. Tal atraso afeta as perdas de ativação e de concentração,
porém não afeta as perdas ôhmicas, visto que estas, só dependem da corrente, ou seja, não são
afetadas pelas alterações nos valores de tensão (CAMPOS, 2009).

Uma maneira de representar o fenômeno da dupla camada de carga é através de um


capacitor inserido em um circuito equivalente (LOPES, 2013), conforme mostra a figura 10.
42

Figura 10- Circuito equivalente simplificado de uma Célula a Combustível

Fonte: (LOPES, 2013)

Conforme mostra a figura 10, a tensão sobre a resistência 𝑅𝑎𝑡𝑖𝑣 e sobre o capacitor
corresponde as perdas por ativação e 𝑅𝑜ℎ𝑚 representa as perdas ôhmicas. Também pode ser
inserido as perdas por concentração (𝑅𝑐𝑜𝑛𝑐 ) em série com 𝑅𝑎𝑡𝑖𝑣 nesse circuito (LOPES,2013).

3.5. EFICIÊNCIA TEÓRICA

A eficiência de qualquer sistema de conversão de energia é definida como a relação


entre a entrada e a saída de energia do sistema (FRANCHI, 2009). A figura a seguir mostra
como é esse processo nas células a combustível.

Figura 11- Eficiência em células a combustível

Fonte: (FRANCHI, 2009)

Nas células a combustível, a eficiência teórica é definida como a quantidade de energia


útil produzida devido à variação de entalpia, ΔH, entre produtos e reagentes. No caso ideal, a
variação da energia livre de Gibbs (Δ𝐺 − ) da reação é tida como a potência elétrica útil na
43

temperatura de operação. A eficiência teórica máxima de uma célula a combustível é expressa


por (NASCIMENTO, 2017):

Δ𝐺 − TΔ𝑆
𝜂𝑚á𝑥 = =1− (20)
Δ𝐻 Δ𝐻

A Tabela 3 mostra o valor da eficiência máxima ideal e da tensão ideal para as células
a combustível em diferentes temperaturas.

Tabela 3- Máxima Tensão e eficiência para células a combustível para diferentes temperaturas

Estado da água Temp. 𝚫𝑮− Máx. Máxima


produzida (ºC) (kJ 𝒎𝒐𝒍−𝟏) Tensão (V) Eficiência (%)
Líquida 25 -237,2 1,23 83
Líquida 80 -228,2 1,18 80
Gás 100 -225,2 1,17 79
Gás 200 -220,4 1,14 77
Gás 400 -210,3 1,09 74
Gás 600 -199,6 1,04 70
Gás 800 -188,6 0,98 66
Gás 1000 -177,4 0,92 62

Fonte: (Traduzido de LARMINE e DICKS, 2003)

Conforme pode ser visto na tabela 3, nas condições padrões de 25°C (298°K) e 1
atmosfera, sabe-se que a energia térmica liberada (∆H) na reação hidrogênio/oxigênio é -285,8
kJ/mol e a energia livre disponível para o trabalho é -237,2 kJ/mol. Então a eficiência máxima
ideal de uma célula a combustível em condições padrões seria (LAMA, 2006):

Δ𝐺 − −237,2 kJ/mol
𝜂𝑚á𝑥 = = = 0,83 𝑜𝑢 83% (21)
Δ𝐻 −285,8 kJ/mol
44

Já a eficiência real de uma célula a combustível é frequentemente expressa em termos


da razão entre a tensão real da célula (𝐸𝑠𝑎í𝑑𝑎 ) e sua tensão ideal (𝐸𝑁𝑒𝑟𝑛𝑡 ), conforme a equação
abaixo (LAMA, 2006):

𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝐸
𝑠𝑎í𝑑𝑎 ∗𝐼 𝐸𝑠𝑎í𝑑𝑎
𝜂𝑟𝑒𝑎𝑙 = Δ𝑔− = (𝐸𝑁𝑒𝑟𝑛𝑡 ∗𝐼) = ∗ 𝜂𝑚á𝑥 (22)
⁄𝜂𝑚á𝑥 ⁄𝜂 𝐸𝑁𝑒𝑟𝑛𝑡
𝑚á𝑥

3.6 CONSUMO DOS REAGENTES E PRODUTOS

3.6.1 Consumo de Hidrogênio

A corrente produzida pela célula está diretamente ligada ao consumo de hidrogênio, já


que ele é a única fonte de elétrons livres do sistema (ZANETTI, 2016). Então, partindo da
operação básica da célula de combustível, vista anteriormente na semi-reação (2), observa-se
que para cada mol de hidrogênio presente, dois elétrons são transferidos. Assim, a carga elétrica
total transferida pela reação química pode ser calculada:

𝑄𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 2𝐹 ∗ 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝐻2 (23)

Derivando a equação (21) no tempo e reorganizando, é obtida a vazão molar de


hidrogênio (𝑛̇ 𝐻 2 ), em moles/s, gasto na semi-reação (2), relacionada com a corrente (Carga pelo
tempo) (ZANETTI, 2016; LARMINE e DICKS, 2003).

I
𝑛̇ 𝐻 2 = (𝑚𝑜𝑙/𝑠) (24)
2F

Utilizando a relação da massa molar de hidrogênio (𝑀𝐻 2 ) que é igual a 2,02𝑥10−3


kg/mol na equação (22), é possível obter uma nova relação para utilização de hidrogênio em
uma unidade mais prática de trabalho, em Kg/s. (CAIXETA, 2010).

𝑀𝐻 2 ∗I
𝑛̇ 𝐻 2 = (𝐾𝑔/𝑠) (25)
2F
45

3.6.2 Consumo de Oxigênio e Ar

A taxa de uso de oxigênio é derivada de forma semelhante ao hidrogênio, exceto que


para o oxigênio são quatro elétrons transferidos para cada mol de oxigênio.

I
𝑛̇ 𝑂 2 = (𝑚𝑜𝑙/𝑠) (26)
4F

Da mesma forma que foi feito para o hidrogênio, utilizando a relação da massa molar
de oxigênio (𝑀𝑂 2 ) que é igual a 16g/mol na equação (24) (CAIXETA, 2010), tem-se a vazão
molar de oxigênio em Kg/s.

𝑀𝑂 2 ∗I
𝑛̇ 𝑂 2 = (𝐾𝑔/𝑠) (27)
4F

Caso o gás oxidante a ser utilizado for o ar ambiente ao invés de oxigênio puro, utiliza-
se uma constante de proporcionalidade que representa a porcentagem da contribuição do
oxigênio no ar atmosférico (ZANETTI, 2016). Ou também, a expressão da vazão mássica pode
ser obtida considerado a massa molar (igual a 28,97𝑥10−3 kg/mol) e a fração molar de O2 no
ar seco (21%) (CAIXETA, 2010).

𝑀𝑂 2 ∗I 1
𝑛̇ 𝑂 2 = ∗ (𝐾𝑔/𝑠) (28)
4F 0,21

3.6.3 Produção de Água

Como foi mostrado anteriormente, sabe-se que o produto da reação química em uma
célula a combustível é a água, conforme pode ser visto na semi-reação (3). O cálculo para água
produzida é similar ao realizado para o consumo de oxigênio/ar e hidrogênio. Onde para cada
dois elétrons liberados, um mol de água é formado (CAIXETA, 2010), logo:

I
𝑛̇ H2O = (𝑚𝑜𝑙/𝑠) (29)
2F

Ou também pode ser obtido em Kg/s, considerando que a massa molecular de água é de
18,02𝑥10−3 Kg/mol.

𝑀H2 O ∗I
𝑛̇ H2O = (𝐾𝑔/𝑠) (30)
2F
46

3.6.4 Produção de Calor

Sabe-se que durante o funcionamento de uma célula a combustível não existem perdas
devido a vibração ou ruídos, assim toda a energia perdida durante o processo será dissipada em
forma de calor. Então a potência dissipada na forma de calor (𝑃𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟 ) pode ser obtida através de
um balanço energético conforme a equação a seguir (COSTA, 2005):

𝑃𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟 = 𝑃𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝑃𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑎 = (𝐸 0 ∗ 𝐼) − (𝐸𝑆𝑎í𝑑𝑎 ∗ 𝐼) (31)

𝑃𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟 = (𝐸 0 − 𝐸𝑆𝑎í𝑑𝑎 ) ∗ 𝐼 [W] (32)


47

4. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL
Neste capitulo será desenvolvido a metodologia utilizada para a realização das
simulações da célula a combustível em estudo, demonstrando os meios utilizados, as
considerações e parâmetros utilizados, a implementação do modelo desenvolvido, além de
trazer os resultados e fazer a análise desses resultados obtidos com as simulações realizadas.

4.1 CONSIDERAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO MODELO

Serão feitas algumas considerações em relação ao funcionamento da PEMFC e para o


desenvolvimento do modelo, a fim de se obter um modelo mais simplificado, conforme
proposto por (ZANETTI, 2016; NEHRIR e WANG, 2009):

a) Como as células PEM operam em temperaturas abaixo de 100ºC, então o produto


da reação sai na forma líquida, assim a pressão da água é igual a 1 (𝑃H2 O = 1);

b) Os gases são tratados como ideais e tem distribuição uniforme;


c) Tratamento unidimensional do fluxo de gases da célula;
d) Pressão é constante nos canais de fluxo de gás;
e) Tanto H2 e O2 são umidificados;
f) Para os cálculos que utilizam a temperatura, será utilizado a temperatura média da
célula, sendo desconsideradas as variações de temperatura dentro da célula e o calor
especifico médio da célula é considerado constante;
g) Será utilizado o ar presente na atmosfera como fonte de oxigênio (𝑃𝑂 2 = 0,21);

4.2 SOFTWARE MATLAB/SIMULINK

As simulações da célula a combustível em estudo, serão realizadas através do software


MATLAB/Simulink da desenvolvedora MathWorks. Conforme MathWorks (2005), o
MATLAB é uma linguagem de alto desempenho para computação técnica. Ele tem a
capacidade de integrar computação, visualização e programação, onde problemas e soluções
são expressos em notação matemática familiar, sendo assim, uma poderosa ferramenta
matemática e desenvolvimento. Sua interface permite trabalhar com programação de alto nível
por linguagem de blocos através do Simulink e, lhe permite também, trabalhar com uma
linguagem derivada do C/C++ em suas interfaces de código.
48

4.3 IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO

A implementação dos conceitos anteriormente expostos começou na geração de um


modelo de simulação no Simulink com base nas equações apresentadas e explicadas no capítulo
3 - Modelagem Matemática das Células PEMFC. Vale ressaltar, que a simulação trata apenas
a célula em regime permanente, e pela forma temporal que o Simulink trabalha, entrando de
acordo com a curva de polarização típica de células a combustível.

Na figura 12 está representado o modelo da parte externa de uma célula a combustível


do tipo PEM, que foi desenvolvido no Simulink, onde são disponibilizados os parâmetros de
entrada da célula, sendo a pressão do hidrogênio, a pressão do oxigênio e a temperatura. E como
grandezas de saída tem-se a tensão e a referência da célula.

Figura 12- Modelo da Célula a Combustível externamente

Fonte: (Autoria própria, 2020)

Já na figura 13, está representado o modelo desenvolvido de uma célula a combustível


internamente, onde nele está representado os quatro principais componentes, sendo eles, a
tensão ideal da célula (ENernst), as perdas por ativação, as perdas ôhmicas e as perdas por
concentração.
49

Figura 13- Modelo da célula a combustível internamente

Fonte: (Autoria própria, 2020)

Como pode ser observado na figura 13, o modelo está dividido em cinco subsistemas,
sendo eles: a tensão ideal da célula está representado em cinza claro, as perdas por ativação em
azul, as perdas ôhmicas em vermelho, as perdas por concentração em verde e em cinza mais
escuro, o cálculo da tensão de saída da célula. Na saída, a célula é multiplicada pelo o número
de células presentes, caso for necessário (Neste trabalho foi considerado apenas uma única
célula). Foi utilizado um bloco elétrico de uma fonte de tensão, pois era necessário para se
conseguir fazer a conexão com a carga, que será mostrado no fim dessa seção.

O primeiro componente representado no modelo é a tensão ideal da célula, ou também,


o potencial de Nernst (em cinza). Para isso, foi utilizado um bloco especial do Simulink, o
“MATLAB function”, onde nele foi desenvolvido um código (disponível no Anexo A para
visualização) onde nele é calculado a tensão de Nernst ou ideal da célula através das equações
(8) e (11), a partir dos parâmetros de entrada, sendo a temperatura, a pressão do hidrogênio e a
pressão do oxigênio.
50

O segundo subsistema (em azul) representa as perdas por ativação, o qual foi
desenvolvido o diagrama de blocos baseados na equação (13). A figura 14 mostra o diagrama
de blocos interno desse subsistema.

Figura 14- Diagrama para as Perdas por Ativação

Fonte: (Autoria própria, 2020)

O terceiro subsistema (em vermelho) representa as perdas ôhmicas, o qual foi


desenvolvido o diagrama de blocos baseados nas equações (14), (15) e (16). Para fazer o cálculo
da resistência da membrana também foi utilizado o bloco “MATLAB function”, onde o código
desenvolvido pode ser visualizado no Anexo B. A figura 15 mostra o diagrama de blocos
interno desse subsistema.
51

Figura 15- Diagrama para as Perdas Ôhmicas

Fonte: (Autoria própria, 2020)

O quarto subsistema (em verde) representa as perdas por concentração, o qual foi
desenvolvido o diagrama de blocos baseados na equação (17). A figura 16 mostra o diagrama
de blocos interno desse subsistema.

Figura 16- Diagrama para as Perdas por Concentração

Fonte: (Autoria própria, 2020)


52

Por fim, no último subsistema é feito o cálculo da tensão de saída da célula baseado na
equação (18), onde os valores dos três tipos de perdas são subtraídos do seu potencial de Nernst,
assim resultando na tensão de saída real da célula. A figura 17 mostra o diagrama de blocos
interno desse subsistema.

Figura 17- Tensão e Potência de Saída da célula

Fonte: (Autoria própria, 2020)

Para conseguir realizar a simulação da célula a combustível, foi necessário utilizar uma
fonte de corrente controlada e limitada, representando assim uma carga. Para a corrente da
célula foi utilizada um sinal de rampa, que faz com que a corrente aumente o seu valor em um
para cada segundo de simulação, onde no bloco saturador está limitado o valor da corrente em
no máximo 1.8 A. Essa limitação tornou-se necessário para fazer a demonstração da limitação
física da produção da corrente da célula a combustível, pois sabe-se que cada tipo de célula tem
sua própria limitação de corrente. Essa carga foi desenvolvida baseada nos trabalhos de
(SMARSSARO, 2007) e também de (ZANETTI, 2016), com algumas alterações.

Utilizando os “Scopes”, que são blocos para gerar os gráficos, foi possível obter os
gráficos da tensão de saída (“Scope” em verde) do modelo de célula desenvolvido. Também foi
possível obter as curvas de potência de saída da célula (“Scope” em cinza), multiplicando a
tensão de saída pela corrente. E através dos blocos de medição “To Workspace”, que são
utilizados para enviar os dados obtidos no Simulink para a área de trabalho do MATLAB, assim
53

foi possível detalhar os gráficos obtidos com mais informações das simulações realizadas, os
quais serão mostrados na próxima seção.
Assim, o modelo completo da célula a combustível junto com a carga desenvolvido no
Simulink pode ser visualizado na figura 18.

Figura 18- Modelo completo da célula a combustível desenvolvida

Fonte: (Autoria própria, 2020)

4.4 VALIDAÇÃO DO MODELO DESENVOLVIDO

Antes de realizar as simulações propostas neste trabalho, de forma a verificar a eficácia


e o funcionamento do modelo desenvolvido, foi feita a validação do modelo, onde foi obtido as
curvas de polarização típica de uma célula a combustível para a tensão e para potência, além
das curvas das perdas por ativação, ôhmicas e por concentração, comparando os resultados com
os gráficos das bibliografias pesquisadas presentes nesse trabalho. E também foi feita a
comprovação do modelo por via matemática, substituindo os valores nas equações apresentadas
no capitulo 4. Assim, verificou através da utilização de displays no modelo, que os valores
calculados coincidiam com os valores obtidos na simulação. Deste modo, foi possível fazer a
validação do modelo desenvolvido nesse trabalho. As curvas de polarização da tensão e da
potência obtidas na simulação do modelo desenvolvido são mostradas na figura 19.
54

Figura 19- Curvas de polarização para a tensão e para a potência obtidas

Fonte: (Autoria própria, 2020)

Em relação as perdas de uma célula a combustível mostradas na figura 20, é possível


verificar que as curvas obtidas confirmam o comportamento da curva Tensão X Densidade de
corrente para cada tipo de perdas representadas nesse trabalho, que foram mostradas
anteriormente na figura 6.

Figura 20- Curvas das Perdas de uma célula a combustível obtidas

Fonte: (Autoria própria, 2020)


55

4.5 SIMULAÇÕES REALIZADAS

Nesta seção será detalhado os resultados obtidos através da simulação utilizando o


modelo desenvolvido anteriormente, em relação da variação dos parâmetros empíricos da célula
(Temperatura, pressão do hidrogênio e pressão do oxigênio) e dos demais fatores que afetam
no desempenho de uma célula a combustível, como a influência da corrente de troca, da
resistência interna e do coeficiente de transferência de carga (α).
Para a realização dessas simulações foram utilizados alguns dados os quais foram
apresentados em (SMARSSARO, 2007) e outros dados de escolha própria, depois de analisar
as bibliografias estudas, os quais estão apresentados na Tabela 4. É importante ressaltar que
esses parâmetros foram mantidos constantes durante todas as simulações realizadas, variando
apenas o parâmetro em análise para cada situação que serão apresentadas a seguir.

Tabela 4- Parâmetros da Célula a Combustível utilizados

Parâmetro Símbolo/ Unidade Valor

Temperatura T (K) 343.15


Pressão do Hidrogênio 𝑃𝐻2 (atm) 1.5
Pressão do Oxigênio 𝑃𝑂2 (atm) 0.21
Corrente de troca Io (A/cm²) 5𝑥10−4
Coeficiente de
Alpha ou α 0.5
Transferência de carga
Corrente limite Ilim (A) 1.6
Área A (cm²) 50.6
Espessura L (cm) 178𝑥10−4
Resistência dos
RC (Ω) 0.0003
eletrodos
Coeficiente da
Psi ou ψ 23
membrana

Fonte: (Autoria própria, 2020, adaptado de Smarssaro, 2007)


56

4.5.1 INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE OPERAÇÃO

A temperatura é um fator de extrema importância, sendo o parâmetro operacional de


maior abrangência, pois tem influência em todos os outros processos internos que ocorrem em
uma célula a combustível, afetando diretamente no seu desempenho. Por isso, ter o
conhecimento do comportamento da célula em função da temperatura de operação é de extrema
importância para o desenvolvimento de projetos para aplicações práticas desses sistemas.
Assim, para realizar a análise da influência da temperatura na tensão e na potência de
saída de uma célula a combustível do tipo PEM, foram realizadas simulações usando diferentes
valores de temperatura, entre 0ºC e 100ºC, onde os resultados obtidos podem ser visualizados
nas figuras 21 e 22.

Figura 21- Influência da Temperatura na Tensão de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)


57

Figura 22- Influência da temperatura na potência de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)

Analisando as curvas obtidas na figura 21, é possível notar que para temperaturas
menores, maior é a tensão de saída de uma célula a combustível. E conforme vai aumentando
a temperatura, menor é o aproveitamento da célula, inviabilizando a sua utilização. O mesmo
acontece com a potência de saída da célula, conforme pode ser visto na figura 22. Esse
comportamento é característico de uma PEMFC e por isso esse tipo de célula trabalha com
baixas temperaturas, entre 60ºC e 80ºC, para se obter um maior aproveitamento na saída. Por
isso é fundamental manter essa temperatura constante, e também as células PEMFC devem
possuir um sistema eficiente de refrigeração. Vale ressaltar que dependendo do tipo de célula,
o aumento da temperatura pode ocasionar um melhor aproveitamento da célula.
58

4.5.2 INFLUÊNCIA DA PRESSÃO DO HIDROGÊNIO (PH2)

O principal combustível utilizado em uma célula a combustível é o Hidrogênio. Para


realizar a análise da influência da pressão do hidrogênio em uma célula a combustível, foram
realizadas simulações usando diferentes valores de pressões. Onde as figuras 23 e 24 mostram
a influência da pressão do hidrogênio na tensão e na potência de saída, respectivamente, em
função da densidade de corrente.

Analisando as curvas obtidas, percebe-se que com o aumento da pressão do hidrogênio,


tanto na tensão, como na potência de saída da célula acontece um aumento para um mesmo
valor de corrente, ou seja, quanto maior for a pressão do hidrogênio, melhor é o desempenho
de uma célula a combustível. Porém, percebe-se que para um grande aumento na pressão, o
aumento da tensão e da potência é bem pequeno, e dependendo da situação, não seria
interessante elevar a pressão, pois poderia se gastar mais energia para conseguir uma maior
pressão, tornando o sistema menos eficiente.

Figura 23- Influência da Pressão do Hidrogênio na tensão de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)


59

Figura 24- Influência da pressão do hidrogênio na potência de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)

É importante salientar que os valores de pressão do hidrogênio são significativos em


dois fatores internos da célula, nas quedas de tensão devido às perdas por ativação e na definição
da corrente limite dos eletrodos (COSTA, 2005). Esse aumento na tensão e na potência da célula
devido ao aumento da pressão do hidrogênio, pode ser explicado devido ao fato de que ocorre
a diminuição das perdas por ativação por causa do aumento da cinética das reações ocorridas
nos eletrodos, produzindo um maior número de prótons. E também produz um acréscimo no
valor da corrente suportada pelos eletrodos, causando assim, uma diminuição nas perdas por
concentração. Já nas perdas ôhmicas não tem nenhuma influência.
60

4.5.3 INFLUÊNCIA DA PRESSÃO DO OXIGÊNIO (PO2)

Em relação a influência da pressão do oxigênio na tensão e na potência de saída da


célula, foi feita a comparação entre a utilização do oxigênio puro (PO2 = 1 atm.) e o ar ambiente
(PO2 = 0,21 atm.). As curvas obtidas podem ser visualizadas nas figuras 25 e 26.

Figura 25- Influência da pressão do Oxigênio na tensão de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)

Figura 26- Influência da pressão do oxigênio na potência de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)


61

Analisando as curvas das figuras 25 e 26, percebe-se que a diferença na utilização do ar


ambiente e oxigênio puro é bem pequena, onde acontece uma pequena perda de eficiência ao
se utilizar o ar ambiente em vez do oxigênio puro. Essa perda de eficiência acontece devido a
dois fatores, sendo o primeiro devido a menor concentração de oxigênio na composição do ar
atmosférico, assim maior é as perdas por ativação no cátodo. Já o segundo fator é devido as
perdas por concentração no cátodo, onde com a diminuição da concentração de gás, a corrente
máxima possível nesse eletrodo também diminui.

Porém, mesmo com uma pequena perda de eficiência, na prática em aplicações


comerciais, a utilização do ar ambiente em uma PEMFC é mais vantajosa em relação ao
oxigênio puro, pois evitaria que sejam necessários o transporte e a estocagem do oxigênio, que
é uma das principais dificuldades encontradas atualmente em relação as células a combustível.

4.5.4 INFLUÊNCIA DO COEFICIENTE DE TRANSFERÊNCIA DE CARGA (α)

O coeficiente de transferência de carga está relacionado diretamente com as perdas por


ativação. Este parâmetro varia entre 0 e 1, e diz a respeito à proporção de energia elétrica que é
empregada na mudança de velocidade da reação química, ou seja, indica a eficiência na
transferência de carga elétrica no cátodo e no ânodo da célula, e depende do tipo de material do
eletrodo e da reação envolvida. Para a simulação da influência desse parâmetro, foram
utilizados diferentes valores para o coeficiente alpha, onde as curvas obtidas podem ser
visualizadas nas figuras 27 e 28.

Analisando as curvas obtidas, percebe-se que esse parâmetro tem uma maior influência
na curva de polarização no valor da tensão e potência para pequenos valores de densidade de
corrente. Assim é possível verificar que quanto menor for o coeficiente de transferência de
carga, maiores serão as perdas no início da ativação da célula a combustível. Por isso é
importante que esse parâmetro seja o maior possível. Geralmente o valor utilizado para esse
coeficiente fica em torno de 0.5.
62

Figura 27- Influência do coeficiente de carga na tensão de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)

Figura 28- Influência do coeficiente de carga na potência de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)


63

4.5.5 INFLUÊNCIA DA DENSIDADE DE CORRENTE DE TROCA (Io)

A densidade de corrente de troca (Io) é um parâmetro que afeta diretamente na ativação


da célula, onde esse valor depende do tipo de catalisador utilizado nos eletrodos, na área efetiva
desses eletrodos, na temperatura, entre outros fatores. E devido a isso, geralmente é empregado
metais nobres como catalisadores dos eletrodos, como por exemplo, a platina. Então, para
demonstrar a influência desse parâmetro na tensão e potência de saída de uma célula a
combustível, foi utilizado alguns materiais, onde cada tipo apresenta diferentes valores de
densidade de correntes de troca, os quais estão mostrados na Tabela 5.

Tabela 5- Corrente de troca para diferentes materiais

Metal Io (A/cm²)

Pd (Paládio) 4𝑥10−3
Pt (Platina) 5𝑥10−4
Ni (Níquel) 6𝑥10−6
Ag (Prata) 4𝑥10−7
Zn (Zinco) 3𝑥10−11

Fonte: (Adaptado de Larminie e Dicks, 2003)

Assim, as figuras 29 e 30 mostram as curvas obtidas na simulação utilizando os valores


apresentados na tabela 5. Como descrito anteriormente, percebe-se que esse parâmetro tem
influência direta na ativação da célula, então é possível afirmar que quanto maior é a densidade
de corrente de troca, mais ativo é o eletrodo e mais facilmente as reações ocorrem em sua
superfície, ou seja, menor é as perdas por ativação em uma célula a combustível, e maior é a
tensão de saída. Isso explica o porquê da utilização de metais nobres como catalisadores, já que
apresentam um valor de Io maior em relação a outros tipos de materiais.

A figura 30 mostra a influência da densidade de corrente de troca na potência de saída


de uma célula a combustível. Nessa simulação também é possível verificar que quanto maior
for a corrente de troca, maior será a potência disponibilizada na saída da célula.
64

Figura 29- Influência da densidade de corrente de troca (Io) na tensão de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)

Figura 30- Influência da densidade de corrente de troca na potência de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)


65

4.5.6 INFLUÊNCIA DA RESISTÊNCIA INTERNA

Outro fator importante que influência no desempenho de uma célula a combustível é as


perdas ôhmicas devido à resistência dos componentes da célula, ou seja, do cátodo, do ânodo,
da membrana e dos elementos de conexão do circuito. Analisando as curvas obtidas nas figuras
31 e 32, nota-se que a resistência interna de uma célula a combustível afeta diretamente na
inclinação da curva, iniciando a condução praticamente do mesmo ponto de partida. Assim
percebe-se que quanto maior for a resistência interna, maior serão as perdas ôhmicas,
diminuindo assim o aproveitamento na saída de uma célula a combustível. Por isso é importante
utilizar em seus componentes, materiais de alta qualidade, que apresentam baixa resistência,
diminuindo assim as perdas ôhmicas em uma célula a combustível, e aumentando o seu
aproveitamento.

Figura 31- Influência da resistência na tensão de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)


66

Figura 32- Influência da resistência na potência de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)

4.5.7 INFLUÊNCIA DA CORRENTE LIMITE (ILIM)

Outro parâmetro que influência no desempenho de uma célula a combustível é a corrente


limite, que é a densidade de corrente onde começa haver queda pronunciada na tensão terminal
da célula, tendo relação direta com as perdas por concentração. Para a simulação da influência
desse parâmetro foi utilizado valores entre 0.8 e 1.8 A/cm², onde os resultados obtidos podem
ser visualizados nas figuras 33 e 34.

Analisando as curvas obtidas, percebe-se que a corrente limite como o próprio nome já
diz, é um fator limitante superior de condução de corrente, ou seja, é o valor máximo de corrente
que a célula é capaz de produzir, onde quando essa corrente chega no valor que foi limitado, a
tensão e a potência efetiva da célula caí bastante, indicando que não é mais possível de se
conduzir mais corrente. Assim é possível verificar que as perdas por concentração só se tornam
mais significativas em condições de operação próximo a corrente limite da célula, ou seja, em
condições extremas de operação.
67

Figura 33- Influência do corrente limite na tensão de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)

Figura 34- Influência da corrente limite na potência de saída

Fonte: (Autoria própria, 2020)


68

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 CONCLUSÕES

Com a realização deste trabalho de conclusão de curso, buscou-se fazer um estudo sobre
os principais conceitos, o princípio de funcionamento e fazer a análise do comportamento de
uma célula a combustível, através da modelagem matemática e da simulação computacional
com o software MATLAB/Simulink.

As células a Combustível são fontes de geração de energia elétrica, e apresentam


características de energia limpa e renovável. Porém, avanços tecnológicos e diminuição de seu
custo são necessários para a sua aplicação como fonte de geração distribuída em sistemas de
distribuição de energia elétrica, o que pode viabilizar o fornecimento deste insumo para
instalações residenciais de baixa tensão. Neste cenário, o suporte de simulação através de
modelos computacionais fiéis ao comportamento das células reais é de extrema importância.

Conhecer os fatores que afetam o desempenho de uma célula a combustível é


fundamental para fazer o estudo do comportamento dessa tecnologia e viabilizar a sua utilização
prática. Por isso, através da modelagem matemática e do modelo de simulação desenvolvido,
foi de grande importância para a verificação da influência dos diversos fatores e parâmetros
envolvidos em uma célula a combustível e como a variação de cada um desses parâmetros
afetam na tensão e na potência de saída disponibilizada por uma célula para o caso da conexão
de uma carga externa em sua saída.

Através da análise desses parâmetros envolvidos em uma célula a combustível através


das simulações realizadas, foi possível verificar que a variação dos parâmetros empíricos da
célula (Temperatura e as pressões do hidrogênio e do oxigênio), e dos outros fatores
característicos dos materiais que são utilizados, afetam diretamente no desempenho de uma
célula a combustível. Assim, torna-se necessário investir no monitoramento e controle desses
parâmetros, manter a temperatura e as pressões dos gases constantes, fazer o controle da tensão
de saída, além de usar materiais com melhores qualidades, como a platina por exemplo, afim
de se obter um maior aproveitamento possível das células a combustível para assim viabilizar
a sua utilização em aplicações práticas.
69

Buscando responder sobre a utilização das células a combustível na geração distribuída


de energia, sabe-se que seria necessário fazer a interligação de várias células em série para se
conseguir tensão útil para essa aplicação, já que uma única célula fornece em torno de 0,7 V.
Além disso, sabe-se que para essa aplicação é necessário operar em corrente alternada, e como
as células a combustível produzem corrente continua, torna-se necessário a utilização de
inversores de frequência para a fazer essa conversão CC/CA e um sistema de controle para
realizar a interligação com a rede de distribuição como fonte de geração distribuída, ou até
mesmo com dispositivos que fazem uso da energia elétrica da rede.

Porém, para a utilização das células a combustível como fonte de geração de energia
distribuída, ainda é necessário um maior estudo e desenvolvimento nessa área. Ainda existe
diversos fatores que impedem a utilização dessa tecnologia em grande escala, como por
exemplo, encontrar um meio eficiente e seguro para o armazenamento do hidrogênio, além do
seu alto custo. Conseguindo encontrar soluções para esses problemas, as células a combustível
seriam umas das melhores formas de geração de energia limpa e renovável e de alta eficiência,
causando uma grande revolução na forma de se gerar energia elétrica dos dias atuais.

5.2 SUJESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Para a realização de trabalhos futuros, deixo algumas sugestões:

• Realizar a modelagem matemática e a simulação dos outros tipos existentes de célula


a combustível;
• Melhorar o modelo desenvolvido neste trabalho, considerando mais fatores que
influenciam no desempenho de uma célula a combustível;
• Realizar testes em células a combustível reais, buscando fazer uma análise mais
aprofundada dos parâmetros apresentados nesse trabalho;
• Realizar um estudo do comportamento da dinâmica da célula quando conectada com a
rede elétrica, tanto com carga como sem carga.
• Fazer o estudo dos efeitos da utilização de células a combustível em paralelo com
outros tipos de fontes de energia elétrica, como por exemplo a energia solar
fotovoltaica;
70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Tese (Mestrado de Engenharia Eletrotécnica) - Instituto Superior de Engenharia do Porto, Porto,
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Combustível para a geração de energia em instalações de baixa tensão. 2016. 58 f. Tese
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71

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geração auxiliar em instalações elétricas de grande porte. 2009. 88 f. Tese (Mestrado de
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LAMA, Alessandro. Análise de desempenho de uma Célula de combustível tipo PEM de 5


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malha fechada para atendimento da demanda de potência para uso automotivo. 2011. 204
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Mathworks, Inc: © Copyright 1984 – 2005 The Mathworks, Inc., 2005. 187 p. Disponível em:
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72

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Carlos, SP, 2016.
73

ANEXOS
74

ANEXO A – Código para calcular a tensão de Nernst da célula


a combustível do modelo desenvolvido no Simulink

function ENernst = Nernst(PH2,PO2,Temp)

%Declaração das Constantes


n=2; %Numero de elétrons envolvidos
R=8.31446221; %Constante Universal dos Gases
F=96485; %Constante de Faraday

%Potencial elétrico gerado pela célula


Erev=(1.23-(0.85e-3*(Temp-298.15)));

%Equação de Nernst
ENernst= Erev +((R*Temp)/(n*F))*log(PH2*sqrt(PO2));

end
75

ANEXO B – Código para calcular a resistência da membrana


da célula a combustível

function RM = ResRM(IFC,Temp,A,l)

%Parâmetro ajustável da fabricação da membrana


psi=23;

%Resistividade da Membrana
pM=181.6*[1+0.03*(IFC/A)+0.062*((Temp/303)^2)*((IFC/A)^2.5)]/
[[psi-0.634-(3*(IFC/A))]*exp(4.18*((Temp-303)/Temp))];

%Resistência do Eletrólito
RM=(pM*l)/A;

end

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