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Machado de Assis

Capítulo 1

Rubião, o protagonista, surge rico, já herdeiro do patrimônio de Quincas Borba, morando numa
grande casa em Botafogo, refletindo sobre seu passado (há um ano era professor de Barbacena, em
Minas Gerais) e sobre seu presente (um capitalista).
Quincas Borba era para ter se casado com Piedade, irmã de Rubião, o que foi fadado ao
insucesso. Ambos morreram e o destino pôs suas mãos em toda a herança, além da parte que seria
sua, caso fosse cunhado de Quincas Borba ,razão pela qual conclui: “Vejam como Deus escreve direito
por linhas tortas...”

Capítulo 2
Tentando controlar o seu coração e voltando-se para uma postura ética, tenta não deixar
transparecer seu prazer egoísta de a irmã ter morrido e não ter tido filhos, pois se assim fosse, ele não
receberia a fortuna de Quincas Borba. Rubião tenta se distrair com uma canoa que passa, pois sabe
que seu pensamento beira à falta de ética e de moral.

Capítulo 3
Enquanto Rubião toma o seu café, surgem dois nomes à sua mente: Cristiano Palha e sua
esposa, Sofia. Conheceu-os na estação de trem, quando da vinda ao Rio de Janeiro para resolver
questões do inventário e já, nesse capítulo, percebe-se que o casal influencia muito Rubião quanto a
certas tomadas de atitude, a saber: diz gostar de prata e ouro, mas Palha o aconselhou a ter adornos
de bronze; não gostava de empregados estrangeiros, mas o amigo recomendou-lhe que tivesse criados
brancos e obtive um, espanhol e o cozinheiro, francês.
Ele pensa em Sofia e mostra-se atraído por ela e pela sua beleza. Julga não ser inteiramente
feliz, mas logo o será. Acredita que ela o ame. Rubião está com 40 anos.

Capítulo 4
Utilizando-se da técnica do “flashback”, o narrador retrocede no tempo e apresenta Quincas
Borba, amigo de Brás Cubas, vivendo em Barbacena – MG. Logo que chegou, interessou-se pela irmã
de Rubião, mas ela era tão acanhada que a doença veio antes do flerte e a levou.
Foi dessa maneira que os dois homens se uniram. Aquele grão de demência que o médico havia
detectado em Quincas Borba, no Rio de Janeiro, não foi notado por Rubião, que o julgava apenas
esquisito. Isso se dá em 1867. Quincas Borba herdou a fortuna do tio e tinha como único amigo Rubião,
que era professor.
Assim que Quincas Borba caiu de cama, Rubião abriu mão de sua profissão e passou a ser
enfermeiro de Quincas Borba, por volta de 5 a 6 meses.
Capítulo 5
Além de Rubião, Quincas Borba tem outro amigo: um cão. Possui o mesmo nome que o dono e,
se porventura o homem morrer, perpetuar-se-á no cão.

Capítulo 6
Rubião diz não entender a teoria filosófica do Humanitismo, cujo autor é Quincas Borba.
O protagonista passa a explaná-la: “Em geral, o Humanitismo se baseia na lei do mais forte e
como essa teoria filosófica é de propriedade de um insano, temos aí a presença do teor satírico em
relação ao positivismo de Auguste Comte, ao Darwinismo, com a seleção natural da espécie, em suma,
ao Cientificismo do século XIX. A teoria do “Ao vencedor, as batatas” ironiza o caráter desumano da lei
do mais forte. Quincas Borba vê como única desgraça do homem o fato de não poder viver; portanto, os
fins justificariam os meios para se lutar pela vida, que “é o maior benefício do universo”. Para ele, a
inveja é um sentimento nobre, pois faz o homem lutar para conquistar o que o outro já tem e melhorar
sua existência; ela propulsiona o progresso. A guerra é, para o Humanitismo, conveniente e necessária,
pois depura a humanidade, selecionando os mais fortes e expurgando os mais fracos. A guerra é,
portanto, um processo fundamental para o fortalecimento da humanidade.” Anderson C. Xavier
Para Quincas Borba, o Humanitismo “... resolve os problemas de qualquer sociedade. A
ideologia do sistema é a extinção da dor a qualquer custo. Todos os atos humanos são justificados
desde que atendam à resolução de sua vontade. Não há uma preocupação com o coletivo, há apenas a
realização pessoal. O que para muitos se configura como egoísmo, para o filósofo não passa da
satisfação de uma necessidade, da vontade de viver... Distanciando-se da concepção cristã do sacrifício
e da dor, o Borbismo é um belo palco para a manifestação da vontade humana. Nele o homem se
mostra por completo, tendo como único empecilho o não-nascimento, encarado pelo sistema positivista
como a única desgraça.” Anderson C. Xavier

Capítulo 7
Depois de discursar, Quincas Borba sente-se exausto. Rubião pede-lhe que descanse, mas
resolve dar um passeio e pergunta ao enfermeiro se ele é seu amigo. Rubião confirma com ternura e
apertam-se as mãos.

Capítulo 8
No dia seguinte, Quincas Borba acorda com planos de fazer uma viagem ao Rio de Janeiro por
um mês e recomenda que Rubião cuide do cão, fazendo-o jurar que teria zelo pelo animal. Vai ao
tabelião, no centro da cidade, registra o seu testamento e parte no dia seguinte, deixando a terra
mineira “... como o derradeiro suor de uma alma obscura, prestes a cair no abismo”. (p.16)

Capítulo 9
Horas depois, Rubião passa a sentir remorso por não tê-lo demovido da ideia da viagem, o que
poderia adiantar sua morte e poderia fazer com que a opinião pública julgasse que ele assim o queria,
para obter parte da herança. Chega a resolver devolver sua parte na herança, se porventura tiver, caso
ele morra no decorrer dessa viagem.
O cão sofre por causa da sua separação e Rubião dá-lhe toda a atenção necessária, chegando
até a virar motivo de chacota, já que os papeis haviam sido trocados: o homem era o guarda do cão. Ele
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mesmo achava essa situação ridícula, mas suportava acreditando ser presenteado por uma pequena
parcela do testamento.

Capítulo 10

Sete semanas passadas, Rubião recebe uma carta do amigo chamando-o ignaro e que ele
descobriu ser Santo Agostinho. Rubião certificou-se, então, da demência do amigo e sofreu diante da
iminente morte do amigo, mas logo veio a lembrança do possível legado.
Lê novamente a carta para ter certeza de que não era uma troça e conclui a alienação mental de
seu patrão. Eis que, nesse momento, surge uma dúvida: e se a doença dele for comprovada, seu
testamento terá validade?
Nesse momento, aparece o médico para obter notícia de Quincas Borba, e Rubião diz não poder
mostrar a carta, por ter assuntos reservados dentro dela. Guarda-a rapidamente, a fim de não deixar
tornar pública a suposta demência de Quincas Borba. Chega a ter arrependimentos por isso, mas eles
são por demais efêmeros.
Rubião chega a pensar numa herança de 10 contos e, com ela, compraria terra, casa. Mas, se
fossem apenas 5 contos, antes pouco do que nada!

Capítulo11
No começo da semana seguinte, folheando os jornais do Rio de Janeiro que Quincas Borba
assinava, lê o necrológio de Quincas Borba.

Capítulo12
Percebe que a matéria não fazia alusão a uma moléstia mental e que delirava à última hora,
efeito da doença. Ele chega a cogitar a possibilidade de ele não ter tido insanidade e que a carta que
lhe mandou era por efeito da troça.
Com o patrão morto, sente-se livre da obrigação de cuidar do cão e decide entregá-lo à comadre
Angélica.

Capítulo 13
A notícia da morte se espalha pela cidade e Rubião recebe uma carta de Brás Cubas dizendo
que, antes de morrer, Quincas Borba pediu que escrevesse a carta a Rubião dando-lhe a notícia e
agradecimentos e “... que o resto se faria, segundo as praxes do foro”.
Os agradecimentos o comoveram e o final da carta restituiu-lhe o sangue. (tanto beira ao bem
como ao mal. Rubião concilia a benevolência com seus interesses sórdidos e egoístas).
Mandou que um escravo levasse Quincas Borba à comadre Angélica, com a recomendação de
tratá-lo bem.

Capítulo 14
Com o testamento aberto, Rubião tem a notícia de ser o único herdeiro de todo o patrimônio de
Quincas Borba, mas havia a condição de ter que cuidar do cão como se fosse gente e, à época de sua
morte, ter sepultura própria e recolher, em tempo hábil, seus ossos, guardando-os numa caixinha no
lugar honrado da casa.
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Capítulo 15
Fica fora de si, não acreditando no seu enriquecimento repentino e passa a achar viável a
condição imposta no testamento, já que ele e o cão eram dois amigos! Não passa pela sua cabeça a ida
do cão à casa da comadre. Começa a calcular a herança, não fazendo ideia do seu montante e
questiona-se se continua morando em Barbacena, para esnobar aqueles que tanto o chacotearam, ou
se se muda para o Rio de Janeiro. Este vence com seus feitiços e mulheres bonitas.

Capítulo 16
Ao chegar a casa, chama pelo cão e só então dá conta do que fez e corre à casa da comadre
para recuperá-lo. Logo pensa na possibilidade de o cão ter fugido ou de algum inimigo seu ter roubado
o cão assim que soube da condição do testamento só para ele não receber a herança.
“Aqui a testa e as costas das mãos do nosso amigo ficaram em água. Outra nuvem pelos olhos...
Rubião pegava-se com os santos, prometia missas, dez missas...” Chega à casa de Angélica,
esbaforido.

Capítulo 17
Quincas Borba mostra-se quieto, deprimido, lamentoso, sem apetite, isolado dos demais. Assim
que Rubião se aproxima dele, reage positivamente, retribuindo as carícias recebidas de Rubião.
Comadre Angélica questiona o recado recebido que dizia ser dela o cão e ele informa que o
recado chegou torto e que era para ela cuidar do cão por um determinado período.

Capítulo 18
Volta para casa com o cão e passa a refletir sobre o Humanitismo, que nunca chegou a entender
bem e murmura baixinho: “Ao vencedor , as batatas!”.
Depois de refletir, como que num estalo, passa a entender a mensagem dessa filosofia e conclui
ter sido sempre um exterminado, mas que, agora, é um vencedor e que sairá de Barbacena para comer
as batatas da capital. “Cumpria-lhe ser duro e implacável, era poderoso e forte.” (p.24)

Capítulo 19
Rubião manda rezar uma missa a Quincas Borba, embora pressentisse que o defunto não era
católico, uma vez que a própria teoria do Humanitismo vai de encontro ao princípio da fraternidade
cristã. Mas, preocupado com as aparências e com a opinião pública, prefere rezar a missa.

Capítulo 20
Rubião parte para o Rio de Janeiro para resolver pendências e pretende retornar a Barbacena
para resolver outras mais, antes de se fixar definitivamente no Rio.

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Capítulo 21
Na estação de Vassouras, entram no trem Cristiano Almeida e Palha e Sofia, sentando-se em
frente a Rubião. Como o professor se mostra plácido, Cristiano puxa-lhe conversa e ficam passeando
por um bom tempo. Rubião começa a se expor demais: fala da vontade de ir para a Europa e, com a
vaidade aflorando, fala da sua condição de herdeiro universal de uma boa fortuna. Antes, quando Palha
percebe que Rubião é de posses, seus olhos brilham. Depois, quando sabe do inventário, seus olhos
ficam reflexivos.
“Rubião metera-se por um mato cerrado, onde lhe contavam todos os passarinhos da fortuna;
regalava-se em falar da herança; confessa que não sabia ainda a soma total, mal podia calcular por
longe...” (p.28)
Palha agradece a confiança que lhe foi dada ao se abrir com ele, mas pede que não fale tudo
isso a pessoas estranhas, pois “discrição e caras serviçais nem sempre andam juntas.” (p.28)

Capítulo 22
Chegando à estação da Corte, despedem-se. Palha oferece a sua casa e Rubião dirige-se ao
hotel.

Capítulo 23
No dia seguinte, Rubião pensa em visitar o recente amigo em Santa Teresa, à tarde, mas não
precisou. Palha procura-o logo de manhã e o leva ao escritório de um parente, que é advogado. Palha
convida-o para jantar em sua casa.

Capítulo 24
Rubião reluta se vai ou não à casa de Palha, uma vez que se considera bronco, não saber tratar
bem as mulheres. Mas, logo pensa na teoria borbista e faz-se forte.
Sofia mostra-se mais à vontade do que no dia anterior, mais atenciosa, mais dona de si, mais
adorável, mais atraente... “Rubião desceu meio tonto.” (p.29)
Ele está se sentindo atraído pela beleza de Sofia.

Capítulo 25
Surge uma denúncia de que Quincas Borba não pudesse testar em virtude de sua demência,
mas logo vai ser destruída e o inventário se resolve com sucesso. Mesmo tímido e acanhado, frequenta
a casa de Palha assiduamente e “Sofia tinha nesse dia os dois mais belos olhos do mundo”.

Capítulo 26
Rubião decide fixar moradia numa das casas herdadas, no bairro do Botafogo. Para decorá-la,
Palha ajuda-o e, em alguns aspectos, é Sofia quem orienta e Rubião, nesse caso, insiste em tê-la perto
de si e ela “deixava-se estar, falando, explicando, demonstrando.” (p.29)

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Capítulo 27
Terminando o “flashback”, o narrador retorna a Rubião, depois do café, pensando em Sofia.
Logo, levanta-se para soltar Quincas Borba.

Capítulo 28
Enquanto solta o cão, Rubião pensa no seu desejo por Sofia, o que não deveria existir, uma vez
que é casada e o marido é seu amigo. Mas ele sente que ela o ama também:
“Ë tão bonita! E parece querer-me tanto! Se aquilo não gostar, não sei o que seja gostar. Aperta-
me a mão com tanto agrado, com tanto calor...” (p.30)
Ele, ingenuamente, acredita na reciprocidade amorosa.

Capítulo 29
O narrador apresenta dois amigos de Rubião ao leitor: Carlos Maria, 24 anos, e Freitas, 44 ou 46
anos, atendo-se ao segundo.
O primeiro, delapida a fortuna da mãe e o segundo não tem mais o que roer.
Rubião oferece-lhe almoços, jantares, os melhores vinhos e licores e Freitas sai com os bolsos
cheios de charutos. Na primeira visita, fica assombrado com a casa, chamando-o fidalgo.

Capítulo 30
Rubião pergunta ao Freitas se o acompanharia a Europa e ele diz que não, pois ele iria querer
visitar apenas ruínas, como ele o é.

Capítulo 31
Nesse capítulo, é apresentado o amigo Carlos Maria: acha-se superior, pedante, mostrando
estar fazendo um favor ao parvo Rubião almoçando com ele. Freitas tenta travar boas relações com ele,
mas é com grande dificuldade, uma vez que o jovem humilha os demais.
O prazer de Rubião é oferecer prazer aos amigos: fartura na comida, na bebida, no charuto.

Capítulo 32
Durante o almoço com os amigos, Rubião recebe uma cesta de morangos com uma carta de
Sofia intimando-o a jantar com o casal.
Freitas e Carlos Maria começam a troçar Rubião, alegando ser a carta fruto de galanteios, mas
que Rubião deveria manter-se discreto, mesmo a mulher sendo solteira, casada ou viúva.
Rubião, diante da carta de Sofia, demonstra comoção, fica confuso e alegre ao mesmo tempo e
não consegue encobrir o seu estado de êxtase.
Depois de esclarecido o fato (era a esposa de um amigo), ele é levado a um sentimento de
vaidade por um suposto adultério e se delicia com o fato de, talvez, ter pairado alguma suspeita na
mente dos amigos:
“Mas também podia acontecer que o próprio calor da negativa deixasse alguma dúvida no ânimo
dos dois, alguma suspeita... Aqui sorriu consolado”. (p.35)
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Capítulo 33
Rubião mostra-se extasiado com o bilhete, julgando haver segundas intenções nas palavras de
Sofia. Como assinasse apenas com o primeiro nome, era como se desprezasse o sobrenome do
marido. Quando escreve “verdadeira amiga”, considera isso uma metáfora, “evidentemente”, e assim
por diante, chegando a beijar a assinatura de Sofia.

Capítulo 34
Rubião chega à casa do Palha por volta das 16h30 e é recepcionado por Sofia, que o repreende
por chegar tão tarde. Na casa, havia convidados de Sofia que queriam conhecer o capitalista Rubião.
Dentre as mulheres, havia uma solteirona, 39 anos, Dona Tonica, que não tirava os olhos de cima dele.
O pai dela, Major Siqueira, era muito palrador e não largava Rubião, que se sentia acuado na conversa.

Capítulo 35
Rubião observa as mulheres da casa e constata ser Sofia a mais bela. Conta com 28 anos e
parece ser uma escultura ainda não acabada, talvez alcançando seu ápice aos 30 ou 33 anos.
Vislumbra a sua beleza cada vez mais, observando a sua perfeição em detalhes que, antes, passaram
despercebidos: os olhos parecem mais negros; a boca mais fresca; até o excesso de sobrancelhas, que
antes era feio, deixa-a com um aspecto particular.
Sofia casou-se aos 20 anos com Cristiano Palha, que, à época, contava com 25 anos. Ele tinha
faro para negócios e em 1864, adivinhou as falências bancárias. O dinheiro entrava, porém, saía mais
facilmente. Frequentava a sociedade não tanto para seu agrado, mas para ostentar a esposa, o que o
envaidecia. Ele gostava de mostrar os dotes físicos de Sofia à sociedade. No começo, ela se sentia
incomodada com isso, mas depois se acostumou e “... ela acabou gostando de ser vista, muito vista,
para recreio e estímulo dos outros”. (p.38)

Capítulo 36
Quando uma das senhoras começa a cantar, sendo acompanhada de Palha ao piano, as visitas
concentram sua atenção no recital, exceto Dona Tonica, que não tira os olhos de Rubião que, por sua
vez, não tira os seus olhos de Sofia e ela também olhava para ele. Ele pensa: “Meu Deus! Como é
bonita! Sinto-me capaz de fazer um escândalo!”. (p.39)

Capítulo 37
Dona Tonica tem esperança de ter Rubião como marido e, observando-o com certa insistência,
percebe que eles se olhavam um para o outro. A suspeita de que pudessem se amar aflige-a muito.

Capítulo 38

Rubião se mostra resoluto em ter relação amorosa com Sofia, acreditando, piamente, na
reciprocidade amorosa.

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Capítulo 39
Rubião e Sofia vão ao jardim apreciar a lua. Dona Tonica fora convidada, mas não os
acompanhou.
Sofia estava tão acostumada com a timidez de Rubião que se surpreendeu quando ele declarou
que as estrelas são os olhos do céu e que seus olhos são as estrelas da terra. Endireitou o corpo e,
sem jeito, disse para não caçoar dela, não querendo animá-lo nessa conversa.
E ele continua seu flerte, falando da formosura de Sofia, deixando-a sem palavras, estupefata.
“Sofia é que não sabia que fizesse. Trouxera do colo um pombinho, manso e quieto, e saía-lhe
um gavião, – um gavião adunco e faminto”. (p.41)
Ela acha dever pará-lo, mas não sabe o que fazer, não sabe se demonstra entender o flerte ou
fazer de conta que não percebeu nada. Esta última hipótese demonstraria tolice da parte dela e, se se
mostrasse entendedora da situação, teria de expulsá-lo de casa e aí é um ponto melindroso.

Capítulo 40
Numa digressão, o narrador aponta as estrelas como puras e elas, ali no jardim, ouviram as
palavras de Rubião e presenciaram um Rubião recatado se transformar num libertino. Ele é como um
demônio travestido de anjo para comprar a alma e o corpo de uma moça.

Capítulo 41
Sofia tenta se desvencilhar de Rubião, porém provido de emoção, retém a mulher segurando-a
pelo braço. Ela não sabe o que fazer e alega o fato de as pessoas perceberem a ausência dos dois.
Quando ela diz “nossa ausência”, ele sente cumplicidade entre eles. Acha viável se separarem,
mas pede para que ela não se esqueça desses minutos sublimes e que em todas as noites, fitasse o
Cruzeiro, pois ele faria o mesmo e sentir-se-iam íntimos.
Seus olhos a devoravam, prendendo-a para não fugir. Sofia tem vontade de dizer alguma
palavra áspera, mas volta atrás, já que é amigo da casa. “... mostrou-se então arrufada, logo depois
resignada, afinal suplicante...” (p.43), mas Rubião mostra-se fora de si.
Quando se inclina para beijar-lhe as mãos, são interpelados pelo Major Siqueira.

Capítulo 42
Major Siqueira os flagra com as mãos presas, com a cabeça de Rubião inclinada, com o
movimento rápido de ambos dada a sua entrada no jardim e comenta estar a lua linda, uma noite típica
para namorados.
Sofia, cheia de domínio, sai pela tangente falando que estavam se referindo a uma piada que
envolvia um padre. O major não conseguia acreditar no que ouvia. Ela, dissimuladamente, não
perdendo o controle, mostra-se impermeável a qualquer situação instável. Rubião, por sua vez, mostra-
se vexado, calado, denunciando essa situação embaraçosa.
De maneira ardilosa deixa os homens no jardim e entra por uma porta que dava na sala de jantar
e, daí, dirige-se para a de visitas, o que dava impressão de ter ido dar ordens para o chá.
Major Siqueira, meio que sarcástico, passa a elogiar Sofia enaltecendo seus dotes, encarando
Rubião. O mineiro vê-se acuado, não sabendo se o major era indiscreto ou não. Encontra uma saída:
passa a elogiar o major, convidando-o para que fosse à sua casa.
Dona Tonica interrompe a conversa, pedindo ao pai que fossem embora devido a uma dor de
cabeça.

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Capítulo 43
Chegando a casa, Dona Tonica não se deita logo e, movida por uma raiva interior, pensa em
contar ao Palha a suspeita de adultério cometido por Sofia. Seu desejo é destruir aquela que abortou
seus planos de obter um casamento e já que não podia rebaixá-la, que fosse rebaixada pelo marido.
A ira vai sendo aplacada e surge a dor de ver a alcova vazia, sentir que os 40 anos se
aproximam e ser a solidão sua companheira.
O que incomoda Dona Tonica é o fato de Sofia já ter um marido e atrair outro homem para
amante, Ela, no entanto, perde a chance de conquistar Rubião, que poderia chegar a ser seu marido.

Capítulo 44
Dona Tonica passa por duas sensações: cólera e dor. Teve ímpetos de estrangular Sofia, mas
não passou de intenção.
“Crede-me: há tiranos de intenção. Quem sabe? Na alma desta senhora passou agora um tênue
fio de Calígula...” (p.47)

Capítulo 45
Enquanto Dona Tonica chora, Rubião ri, lembrando-se da noite. Chega, em alguns momentos, a
se mostrar arrependido pelo que fez, lembrando a resistência cometida contra Sofia, o enfado dela, a
indiscrição e fica aterrado com a ideia de ter passado dos limites e que poderiam fechar a porta da casa
a ele, rompendo as relações.
Logo após, defende-se, lembrando fatos que comprovam as ações de Sofia que o animaram
para tal investida: os olhares frequentes, os cuidados para com ele, a voz adocicada. Ele questiona o
fato de ter sido atrevido, precipitado, segurando-lhe as mãos com força, mas ela foi conivente com a
situação, sendo cúmplice de seus disfarces à época do encontro com o Major Siqueira.
Pensando no Palha, sente remorso, mas logo afirma para si que é Sofia que o desafia, mas que
precisava resistir a isso.
“Confuso, incerto, ia a cuidar na lealdade que devia ao amigo, mas a consciência partia-se em
duas, uma increpando a outra, a outra explicando-se, e ambas desorientadas...” (p.48)

Capítulo 46
Enquanto Rubião pega um tílburi para Botafogo, um mendigo acorda com o rumor e deita-se
novamente nos degraus da igreja, apreciando o céu, sem alarme ou crise.

Capítulo 47
Rubião, vendo o mendigo, sente inveja dele por não ter nada para pensar, ao passo que sua
cabeça fervilha por demais.
Ao pegar o tílburi, relembra um episódio ocorrido quando jovem e pobre. Eis o caso:
Andando pela Rua do Ourives, um amontoado de pessoas chamou-lhe a atenção e percebe
tratar-se de um enforcamento. Não sabia que rumo tomar, se seguiria o seu caminho ou acompanharia
a multidão até o Largo do Moura. Quando se deu conta, estava acompanhando a multidão. À hora do
enforcamento, um pé queria ir embora e o outro ficar. Ele ficou, deu um grito e não viu mais nada.
Essa digressão refere-se à dicotomia de posição, de opinião, de ação que permeia a vida de
Rubião. Ele resiste ou se entrega à paixão? Age de maneira ignóbil ou amigável em relação ao Palha?

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Faz predominar em suas ações o sentimento de nobreza do tempo do professor ou o instinto de prazer
do tempo capitalista?

Capítulo 48
Rubião, no tílburi, volta a si. Lembra-se de Quincas Borba, que ficou sozinho desde a tarde e,
embora o advogado advertia-o de que, no testamento, não há cláusula quanto à perda da fortuna por
motivo de fuga do cão, ele receia que isso aconteça e ele perca o dinheiro. Considerou-se ingrato, por
não pensar no cão por instante sequer. Logo se emenda, pois é mais ingrato ainda por não pensar no
homem Quincas Borba.
Fica receoso de o homem defunto ter transmigrado para o corpo do cão só para vigiar Rubião.
O homem oscila entre deixar o cão fugir, que seria um cuidado a menos e cumprir com o seu
compromisso de honra.

Capítulo 49
Chegando a casa, encontra Rubião e vê, no cão, o olhar de Quincas Borba e como ele fosse
mais crédulo do que crente, tem arrepios com isso.
Não consegue dormir. A consciência lhe dá arrependimento pela ousadia da sua declaração de
amor e a imaginação fá-lo pensar em Sofia o tempo todo. Consegue dormir por volta das quatro horas.

Capítulo 50
Conversando com o leitor, o narrador afirmam não ter ainda findado o dia pois deve-se saber o
que aconteceu em casa de Palha.
Ao apagar o último bico de gás da casa, Palha adia tal intento e chama Sofia para conversar, o
que a faz estremecer, talvez julgando que o marido fosse tirar satisfações quanto ao episódio de
Rubião.
Palha faz comentários gerais e ela diz, acariciando o marido que vai contar o melhor episódio da
noite, mas com a condição de não haver zangas ou barulhos.
Depois da promessa de Palha, Sofia diz ter recebido uma declaração de amor da parte de
Rubião e ainda diz que não foi uma declaração aberta, mas valeu como se o fosse, apertando suas
mãos até o Major aparecer e sugere que tranque a porta da casa a ele, de uma vez ou aos poucos,
como o marido quiser.
Palha pondera o que ouve e percebe não poder romper relações com Rubião, pois está devendo
muito dinheiro a ele, mas não pode transparecer à esposa essa ideia de a vender moralmente e de
fazer vista grossa aos galanteios de Rubião. Ele precisa omitir a conveniência dessa amizade, mas
também tem que defender a esposa moralmente. Pisando em ovos, alega Rubião olhar muito para ela
porque seus olhos são lindos (a culpa é dela!) E Sofia diz que não é tão tolo como parece, convidando a
fitar o Cruzeiro a certa hora para que as almas se encontrassem. Palha julga ser um pedido de alma
cândida e que a culpa é dela por chamá-lo a ver a lua no jardim (a culpa é dela!)
Sofia se defende, dizendo que o próprio marido mandou tratá-lo com atenções particulares e
insiste em romper relações. Palha diz que, se Rubião exagerou, poderia ser o efeito do vinho e que, no
dia seguinte, poderia já estar arrependido de tudo, pois é um homem simplório.
De maneira desesperada, diz à mulher que deve muito dinheiro a Rubião. Sofia concorda em
não romper relações, mas que se mostrará mais fria e Palha fará de conta que nada sabe.
Obs.: Palha, convenientemente, começa a negociar a esposa.

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Capítulo 51
No dia seguinte, Sofia mostra-se arrependida por ter contado tudo ao marido e irritada com as
desculpas dadas por ele. Fica com medo de ser falada na sociedade, já que o Major suspeitara de algo.
“A culpa eram as atenções especiais com o homem, carinhos, lembranças, obséquios familiares,
e na véspera, aqueles olhos tão longamente pregados nele...” (p.57)

Capítulo 52
Sofia, sentada à porta de casa, no jardim, vê um rapaz passar cortejando-a, e ela responde de
maneira igual, não se lembrando de onde o conhece, até que se recorda ter dançado com ele numa
festa e, na ocasião, foi muito elogiada por ele em virtude de seus olhos e de seus ombros. Seu nome é
Carlos Maria, aquele que era amigo de Rubião.
Na festa, assim que a música acabou, Palha sentiu-se orgulhoso por ter sido a sua esposa
galanteada por Carlos Maria. Ele se envaidecia ao expor a mulher e manter-se possuidor dela.

Capítulo 53
Sofia recebe uma carta da roça.

Capítulo 54
Quinze dias depois, Palha dirige-se à casa de Rubião, uma vez que não mais se viram. Rubião
estava com visita. Era Doutor Camacho. Este informa sua saída e Rubião pede para que fique e que
logo a lua iluminaria a bela enseada de Botafogo. Ao mencionar a lua, Palha fica atordoado.
Após um momento, Doutor Camacho vai à janela e anuncia a chegada do luar. Rubião vai para a
janela e Palha tem vontade de esganá-lo. Os dois se contêm, e Rubião anuncia ao amigo a sua partida.

Capítulo 55
Da cólera, Palha passa a sentir um certo pesar pela separação e, do pesar, passa a sentir
desapontamento. A cólera, sentiu-a quando Rubião se dispôs a olhar a lua e, conseguintemente,
lembrar-se-ia de Sofia. O pesar, sentiu-o em virtude da separação dos dois, que julgava ter ele se
arrependido da ousadia que praticara com Sofia. O desapontamento, sentiu-o ao supor que talvez fosse
se casar.
Com ironia, o narrador afirma ser a alma de Palha, uma colcha moral de retalhos, o que é muito
comum existir entre homens.

Capítulo 56
Rubião, vexado em virtude de sua declaração amorosa a Sofia, sente remorsos e decide passar
dois meses em Barbacena. Ao contar seu plano ao Palha, Dr. Camacho interpela-o e diz que só irá a
Minas quando for preciso “... e não se demorará muito que o seja.” (p.61)
Palha analisa Dr. Camacho e chega a ficar admirado diante desse ar de dominação em relação
à pessoa de Rubião.

11
Capítulo 57
Dr. Camacho era homem político. Fez Direito em Recife e, depois de algum tempo formado,
voltou a Pernambuco, escrevera em um jornal político, fundara o seu jornal, fora membro da assembléia
provincial, logo depois da Câmara dos Deputados, presidente de uma província de segunda ordem e
voltou para o Rio de Janeiro, com a pretensão de ser ministro de província, o que não conseguiu:
Camacho não desiste e “... ia-se sentindo cair; para simular influência, tratava familiarmente os
poderosos do dia, contava em voz alta as visitas aos ministros e a outras dignidades do Estado.” (p.62)
Com a advocacia, sustentava a esposa, a filha de 18 anos e o afilhado de 9 anos, mas trazia a política
no sangue.

Capítulo 58
Camacho conhece Rubião em casa de um Conselheiro e passam a falar de política. Rubião
tinha pouca experiência política e fica de vislumbrado ao ser confidente político de Camacho. Rubião
passa a alimentar a possibilidade de ocupar um cargo na câmara, por exemplo.
Camacho procura-o e não o acha. Na segunda tentativa, visita Rubião e é incomodado por
Palha.

Capítulo 59
Tanto Camacho como Palha perguntaram a Rubião qual seria o motivo de ir a Minas e ele diz ter
saudade de sua terra natal, de sua origem.
“Se a alma dele foi alguma vez dissimulada, e escutou a voz do interesse, agora era a simples
alma de um homem arrependido do gozo, e mal acomodado na própria riqueza.” (p.64)
Palha e Camacho se olham, sem trocar palavras, mas ambos demonstram o mesmo interesse:
reter Rubião no Rio.
Concordam com a viagem mas, para mais tarde, e que Palha e Sofia poderiam acompanhá-los,
já que possuem interesse em conhecer Minas e Sofia é boa companheira de viagens. Rubião informa
que as eleições estão próximas e que deveria estar em sua terra natal nesse momento e Camacho
intervém dizendo que se pode esmagar a serpente na capital, no Rio de Janeiro mesmo e que “... não
faltaria tempo depois para ir matar saudades e receber a recompensa.” (p.64)
Rubião, movido pela ambição, acredita que a recompensa seja um diploma de deputado. A
ambição, o amor da glória tomam conta dele.
Camacho parte e Palha diz a Rubião que será esquisito a sua ida a Minas, além de ele ter
pendências financeiras com Rubião. Rubião afirma que as contas são pagas quando é possível e
oferece mais dinheiro ao Palha. Este diz não querer, mas quer propor-lhe um negócio, mas que ficaria
para outra época.
Ao se despedirem, Rubião promete visitar o amigo antes de ir a Minas.

Capítulo 60
Rubião volta para casa embriagado com a ideia de fazer carreira política e com a ideia de viajar
para Minas com Sofia e logo pensa em se desvencilhar dos planos de viagem.
No dia seguinte, recebe um jornal desconhecido, cujo nome era Atalaia. Gosta do jornal e se
dirige à tipografia para assinar a folha e aí, fica sabendo que o redator é Camacho. Dirige-se ao seu
escritório e, no caminho, assiste à cena de um carro descendo sem controle e prestes a atropelar um
menino. Rubião joga-se para salvá-lo, machucando a mão, mas sai da rua com salvas de herói.

12
Capítulo 61
Camacho sabe do ocorrido e pede detalhes para fazer uma matéria. Rubião desconversa diz
querer assinar o jornal.
Camacho deixa subentendido que não precisa de assinatura e, sim, de sócios com capital para a
manutenção do jornal. Eles já eram oito e faltariam duas pessoas.
Rubião aceita entrar com o capital, o que faz Camacho ficar animadíssimo.

Capítulo 62
Na hora em que deixa o escritório, entra uma senhora com ares de riqueza e Camacho a chama
de Baronesa. O seu perfume impregna-se no ar e na rua, Rubião avista um coupé com um lacaio e um
cocheiro, ambos fardados. Ela era rica, mas ele também tinha dinheiro. “Mas o caso particular é que
ele, Rubião, sem saber por que, e apesar do seu próprio luxo, sentia-se o mesmo antigo professor de
Barbacena...”
Ela estava rico; não era rico.

Capítulo 63
Na rua, Rubião se encontra com Sofia acompanhada por uma idosa e uma moça. Falam-se
acanhadamente por alguns minutos e se separam. Após o jantar, reluta em ir à casa de Palha. Vai até
lá.

Capítulo 64
Na casa, Sofia apresenta Rubião à sua tia, Dona Maria Augusta, e à prima, Maria Benedita,
aquelas que a acompanhavam ao passeio. Moravam na roça e a carta que Sofia recebera era da tia,
anunciando a visita.
Maria Benedita não era provida de uma beleza estupenda, mas tinha uma certa graça natural.
Aprendera a ler, a escrever, doutrina e costura. Por insistência, foi à casa da prima para aprender piano,
mas depois de 18 dias, voltou ao interior, com saudade da mãe. Foi uma frustração de Sofia e outra
maior foi não conseguir fazê-la aprender francês.
A mãe não via razão alguma em aprender essa língua, apesar de Sofia dizer ser importante para
conversar, ir às lojas, ler romances. A mãe disse que não lhe faltaria noivo por isso e que ela poderia se
casar e deixar a mãe na roça, jogada às traças, já que a sua outra filha assim o fizera.
Dona Maria Augusta mostrava não se importar caso Maria Benedita se casasse, mas ela tinha
pavor dessa possibilidade e, através de chantagem emocional, tentava, ao máximo, evitar esse
desastre em sua vida, querendo a filha só para si.

Capítulo 65
Rubião fez menção de ir embora e Sofia sequer insiste em que fique. Durante a visita, ela
mostrou-se natural, mas não com o olhar longo como antes. Parecia que nada havia acontecido: os
morangos, os olhares, a lua.
Rubião perde as palavras, ao passo que Sofia encontra todas “... e, se era preciso olhar para
ele, fazia-o diretamente, tranquilamente” (p.70) Ela sempre se mostra mais dominadora que ele.
Assim que ele sai, entra Carlos Maria, e Rubião pensa ser uma visita em virtude da tia e da
prima, mas na hora em que atravessa o jardim, ouve Carlos Maria galanteando Sofia.
13
Capítulo 66
Em casa, Rubião fica estupefato com o galanteio tão natural de Carlos Maria.

Capítulo 67
Num outro dia, ao acordar, Rubião começa a ler o jornal Atalaia e se depara com o seu nome,
numa matéria que contava o caso do salvamento do menino. Irritado por estar exposto, arrependido por
ter sido linguarudo e comentado o caso com Camacho, não lê a matéria. Mais tarde lê a coluna e sente-
se envergonhado com o tamanho dos adjetivos.
Ao café, releu com mais atenção a matéria e percebeu a sinceridade do escritor. Houve alguns
acréscimos, mas a cena e os riscos ocorreram. Começa a se envaidecer do ocorrido, elogia a redação
e, saindo, recebe cumprimentos e conta a cena a outros vivendo seu momento de glória. Procura
Camacho, agradece a matéria “... não sem alguma censura pelo abuso de confiança, mas uma censura
mole, ao canto da boca.” (p.72)
Compra mais exemplares do jornal, para mandar aos amigos de Barbacena e como não saísse
em outro jornal tal matéria, aderindo ao conselho de Freitas, “... fê-la reimprimir nos a-pedidos, do
Jornal do Comércio, terlinhada.” (p.72)
A sede de nomeada se escancara em Rubião, sufocando sua modéstia.

Capítulo 68
Maria Benedita resolve aprender francês e piano. De início, a mãe rejeita tal projeto, dizendo que
sua filha fora criada para a roça, mas Palha a convence da necessidade de ela ter educação de sala,
pois os negócios da Senhora Maria Augusta estavam instáveis e um genro abastado seria boa solução.
Palha chega a comentar ter alguém em vista. Depois de muita conversa, Maria Benedita fica morando
com Sofia e, esporadicamente, vai a Iguaçu ver a mãe para matar a saudade, saudade essa que batia
frequentemente em seu peito, uma vez que a roça era totalmente compatível com a sua natureza.
O tempo passa e Maria Benedita avança em seus estudos e na sua postura, agora adquirida, de
moça da cidade. Passa a chamar a atenção das pessoas, já chegando a competir com Sofia. Ela não
era muito boa na valsa e na polca e nem ousava dançar, talvez porque Sofia fosse exímia nessa dança
e não conseguiria para competir com a prima.

Capítulo 69
Numa noite, à casa de Camacho, Carlos Maria dançou com Sofia por 15 minutos, o que
incomodou tanto Maria Benedita quanto Rubião, sentados um ao lado do outro.
Já faz oito meses que Maria Benedita se encontra na capital. Rubião é sócio de Palha numa
importadora cujo nome é Palha e Cia. Ele reluta em aceitar a sociedade, pois deveria injetar capital e já
tinha grandes despesas, mas as contas e cálculos de Palha o impressionam e é convencido a aplicar no
comércio, apesar de não entender nada disso, além de se tornar sócio do marido de Sofia e ter,
portanto, que manter visitas à casa com assiduidade.
Maria Benedita fica enciumada em virtude de Carlos Maria mostrar-se admirado por Sofia.
Carlos Maria e Sofia, após dançarem, saem para conversar e ele a galanteia, elogiando-a e
dizendo que, na noite anterior, estivera em frente à casa dela (mudara-se para a praia do Flamengo),
pensando nela e lhe faz uma declaração de amor, deixando-a perturbada.

14
Capítulo 70
Carlos Maria nunca soube da paixão do mineiro por Sofia. Rubião esperava momentos do acaso
para vê-la, dava dinheiro à empresa do marido, dormia mal, mas nunca teve ciúme de Palha, o marido
oficial, o seu “legítimo senhor”. “Mas a possibilidade de um rival de fora veio atordoá-lo;aqui é que o
ciúme trouxe ao nosso amigo uma dentada de sangue.” (p.78)
Carlos Maria se retira do baile, o que deixa Rubião incomodado, pois poderia não ter acontecido
nada entre eles. Recorda-se da sua declaração e questiona por que não mais insistiu com Sofia, uma
vez que ela não o maltratava e o marido mostrava não ter percebido nada.

Capítulo 71
Chegando a casa, Sofia vai se preparando para dormir e não conta ao marido nada sobre a
declaração de Carlos Maria, ao contrário do que aconteceu com Rubião. Ao acordar, vendo o mar,
vinha à sua mente o galanteio de Carlos Maria, visualizando-o, há duas noites atrás, parado entre o mar
e a casa dela.

Capítulo 72
Sofia volta à realidade com o marido tocando-lhe no ombro, despedindo-se e dizendo que Maria
Benedita já estava acordada, com ares de aborrecida, dizendo querer voltar à roça.

Capítulo 73
Decide não mais pensar em Carlos Maria e mostra-se arrependida por tê-lo permitido que
chegasse ao fim de seu atrevimento, mas logo se justifica pensando ter evitado um desastre, pois ele
poderia se declarar à frente dos outros.

Capítulo 74
Carlos Maria era muito narcisista e tinha uma grande adoração por si mesmo. A inveja alheia era
um alimento para a sua alma e o fato de ter a mulher mais bela do salão em seus braços, sentia-se
regozijado. Lembrando-se do ocorrido no baile e de sua conversa com Sofia, começa a rir, pois mentira
ao dizer-lhe que estivera no Flamengo, em frente à casa dela. Ele reconhece que a confissão de amor
foi quase que uma obrigação e que deveria ser sustentada. Acha-a bela mas não educada e que sua
educação veio após o casamento ou pouco antes dele, não sendo de berço.

Capítulo 75
Carlos Maria era rodeado de mulheres e Sofia era atraente. Aborrece-se por ter mentido a ela, já
que mentiras combinam com pessoas de baixo nível, e resolve procurá-la. Recua no seu projeto, pois
seria ir muito depressa atrás dela.

15
Capítulo 76
Como tivesse garbo e postura, montava bem e chamava a atenção de todos, o que alimentava a
alma de Carlos Maria.

Capítulo 77
Sofia encontra Maria Benedita amuada, dizendo querer voltar à roça. Sofia diz que a viu
dançando na noite passada, divertindo-se muito, menos dançando polcas e valsas. Maria Benedita,
mordida pelo ciúme, diz ter vergonha de dançar agarrada ao corpo de um homem. Sofia não se deixa
mostrar ofendida e diz já ter um noivo para a prima, que logo saberia seu nome.
Palha tinha planos de casar Rubião com a prima e a fortuna ficaria em casa e Sofia tomou para
si guiar esse negócio, só que não conseguia dizer a Maria Benedita que era Rubião (a vaidade fala mais
alto e não se mostra afeita a perder um fã, um olhar de interesse e de admiração).
Maria Benedita pensa ser seu futuro noivo Carlos Maria e que a prima, ao valsar com ele, ficou
conversando sobre a roceira, arranjando tal casamento.

Capítulo 78
Rubião não tira da cabeça a suspeita do interesse de Carlos Maria por Sofia e vai procurá-lo por
três vezes. Como não o encontra, desiste de cobrar satisfações.
Major Siqueira procura Rubião para informá-lo do seu endereço residencial e elogia a casa de
Rubião, mas informa que, nela, falta uma mulher e que ele deve se casar. Na sua fala, não havia ponta
de sarcasmo (ele constatou Rubião se declarando a Sofia) e nem interesse em empurrar sua filha, que
continuava solteira, já com 40 anos. Ele foi sincero em seu comentário.

Capítulo 79
Rubião pensa consigo mesmo a respeito da sugestão do Major Siqueira e se depara com o cão
olhando para ele, como se perguntasse: “Por que não?” ou como se Quincas Borba, encarnado no cão,
em espírito, fizesse-lhe tal pergunta.

Capítulo 80
Ele começa a cogitar na possibilidade de casamento. Com ele, mataria a sua paixão por Sofia,
que o ia comendo aos poucos e recobraria o laço de unidade que havia perdido após seu
enriquecimento. Deixou sua origem, seus hábitos, seu “modus vivendi”, sua identidade, adquiriu uma
rotina vazia, com amigos de trânsito e, “em verdade, o casamento podia ser o laço da unidade perdida.”
(p.86)
Sofia , na sua vida, não atava e nem desatava, não era acordo fixo e nem desengano perpétuo.
O casamento poderia dar uma razão à sua vida.

Capítulo 81
Rubião, “antes de cuidar da noiva, cuidou do casamento” e passa a imaginar a cerimônia, os
convidados de peso, a festa, o luxo, etc, enfim, sonha com a ostentação.
16
Capítulo 82
Rubião pensa nas mulheres que poderiam ser sua noiva e todas convergem no rosto de
Sofia. Será que, mesmo casando, conseguiria fugir dela?

Capítulo 83
Rubião fica alguns dias longe da casa do Flamengo em virtude do mau humor de Sofia. Indo
ao escritório, sabe por Palha que a mãe de Maria Benedita havia morrido e que a moça ficaria com
Palha em sua casa. Começa a elogiá-la e diz a Rubião que tem o palpite de que ele será o marido de
Maria Benedita. Rubião diz não pensar em se casar e Palha afirma ser só um palpite e pergunta se
Sofia não lhe havia dito nada, o que Rubião responde negativamente. Sofia havia dito ao marido que
falara mas, por vaidade, não dissera nada a Rubião.

Capítulo 84
Rubião deixa Palha e pensa:
– Sofia quer vê-lo casado e fazê-lo primo para descartar-se dele.
– Sofia não falou nada para ele sobre o casamento para que o projeto de Palha fosse abortado,
por gostar dele.
A segunda suposição é a vencedora.

Capítulo 85
Ansioso em ir ao Flamengo e como fosse ainda cedo, vai visitar Freitas, que se encontra
enfermo e doa uma certa quantia em dinheiro para ajudar nas despesas da casa, o que deixa a mãe do
enfermo emocionada.

Capítulo 86
Rubião faz a doação de maneira tão espontânea, que mal dá tempo de refletir sobre isso, mas
sente-se confortado por não ser inválido. Deixa o tílburi e vai caminhando por locais simples e afastados
do centro, vendo a pobreza, as casas aglomeradas, os becos, sentindo “nostalgia do farrapo, da vida
escassa, acalcanhada e sem vexame.” (p.92) Mas logo sente ser muito bom não ser pobre.

Capítulo 87
Depara-se, na rua, com uma moça conduzindo uma criança e logo volta à sua mente a ideia de
casamento. Chega a pensar na filha do Major Siqueira, mas a imagem de Sofia aparece em sua mente.

Capítulo 88
Lembra-se de Freitas, novamente e conclui que dera muito dinheiro à velha, mas logo esquece
esse pensamento.
17
Capítulo 89
Pega o tílburi novamente e diz ter gostado do local e logo vê o cocheiro sorrindo maliciosamente.
Este informa que é comum levar homens elegantes para esses bairros periféricos para se encontrar às
escuras com mulheres. E Rubião arranca dele um comentário sobre um homem elegante, da rua dos
Inválidos, que disse ir visitar uma costureira da esposa e logo surgiu uma mulher disfarçando e entrando
na casa em que estava o jovem, na rua da Harmonia.
Rubião percebe ser Carlos Maria e supõe que a mulher seja Sofia.

Capítulo 90
À noite, em casa, pensa na suspeita e chega a achá-la infundada, uma vez que há várias moças
bonitas na cidade com quem Carlos Maria poderia se encontrar, que não Sofia. O ciúme o embriaga.

Capítulo 91
Assim que soa a campainha do jantar, Rubião vai à sala receber os convidados rotineiros, quatro
ou cinco, e ele tem um impulso inexplicável: dar-lhes a mão para ser beijada. “Reteve-se a tempo,
espantado de si próprio.” (p.96)

Capítulo 92
À noite, Rubião vai à casa de Palha e não pôde falar com Maria Benedita, uma vez que se
encontrava no quarto com algumas moças. Palha havia acabado de chegar e Sofia, cheia de sorrisos,
leva Rubião ao gabinete onde havia costureiras fazendo vestidos de luxo.
Conversando, chega a falar-lhe que está organizando uma comissão de senhoras para trabalho
filantrópico e logo ele encabeça uma lista com uma grossa doação. As costureiras percebem o interesse
de Rubião por Sofia, acompanhando seus olhares.

Capítulo 93
Rubião fica sozinho no gabinete com as duas costureiras, uma vez que Palha está atendendo
um diretor de banco e Sofia foi ver Maria Benedita.
Uma das costureiras diz estar tarde e ter de ir embora, pois mora na Rua da Harmonia.
Rubião fica fora de si.

Capítulo 94
Transtornado, justificando uma dor de cabeça, deixa a casa de Palha.

Capítulo 95
Sai correndo da casa com intuito de alcançar a costureira.

18
Capítulo 96
Rubião, correndo apressadamente, dá um encontrão em um homem, que nada mais é o diretor
do banco que se encontrava com Palha. O diretor nem percebe o empurrão, tão distante estava,
pensando nas duas situações pelas quais ele passou. A primeira, visitou um Ministro que o tratou com
desprezo e, a segunda, visitou Palha, que o tratou com cerimônias. Na segunda situação, observou
para si a petulância encontrada no Ministro e vingou-se da humilhação sentida na primeira situação,
humilhando Palha.

Capítulo 97
Ao se aproximar da costureira, viu que ela conversava com um homem e saiu de braços dados
com ele. Foi para casa sem conseguir dormir. À janela, avistou o cruzeiro e pensou, se Sofia tivesse
aceitado seu cortejo, quanto sua vida seria diferente.
Acordou com um bilhete que lhe levara seu criado espanhol.

Capítulo 98
O bilhete era de Sofia dizendo que todos, na casa, ficaram preocupados com ele e que
mandasse notícias.
Escreve a resposta e manda o moleque retornar com o bilhete, perguntando se as senhoras da
casa tinham passado bem e, dando-lhe gorjeta, informou que, caso precisasse de dinheiro, que o
procurasse. E pergunta novamente se as mulheres passam bem.
Rubião já mostra sinais de insanidade.

Capítulo 99
Assim que o mensageiro parte, no jardim, encontra uma carta perdida pelo menino, de Sofia
para Carlos Maria. Fica curioso e não sabe se lê ou não.
Pensa na possibilidade de ler a carta e queimá-la em seguida, sem testemunhas, mas o
escrúpulo fala mais alto e não consegue pegar para si o que não lhe pertence. Pensa em entregar a
carta a Carlos Maria ou à remetente e decide pela segunda opção, analisando a reação de Sofia,
falando da Rua da Harmonia.

Capítulo 100
Ao almoço, não aparece ninguém para almoçar e Rubião não consegue conviver com a solidão.
A carta o atordoa tanto que maldiz o mensageiro que a perdeu, pois a ignorância seria um benefício.
Reluta em entregar a carta a Sofia com medo de saber a verdade, embora tenha a esperança de ver em
seu rosto a inocência.
Dr. Camacho chega de Vassouras, anunciando que deixara nessa cidade um deputado mineiro
gravemente enfermo e tem projetos de lançar a candidatura de Rubião, só que se faziam necessárias
paciência e firmeza.
Rubião já se vê na câmara, prestando juramento, achando-se grandioso, importante.

19
Capítulo 101
Freitas morre e Rubião assume os gastos com o enterro. O defunto passa a ter mais
consideração pública em virtude da presença de Rubião, com um coupé rico. Ao partir, ouviu
comentários dizendo que ele era senador ou desembargador.

Capítulo 102
Voltando para casa, cruzou com outro coupé ocupado por um ministro que ia para o despacho
imperial e não tirou mais dos seus ouvidos o barulho dos cavalos que era tão igual aos demais, porém
tão distinto!

Capítulo 103
Rubião dirige-se à missa de sétimo dia de Dona Maria Augusta e encontra Carlos Maria. Três
dias depois, pega a carta e vai ao Flamengo. Encontra Sofia sozinha na casa, vestida para sair. Pede
para que se sente e ele diz ter um papel para lhe dar, e pergunta se não perdera uma carta. Ela diz não
ter reparado na perda e, fora de si, Rubião, com os olhos desvairados, começa a desabafar e diz que
ela sabe do seu amor, não o aceita e nem o repele e, por isso, sofre muito. Como alterasse a fala, ela
pede para abaixar o tom e ele não o faz, desatinado. Com medo de escândalo com a criadagem, Sofia
tapou-lhe a boca com a mão e, diante desse contato, Rubião perde a voz. Sofia chega à porta e para.
“Rubião caminhara até à janela, para convalescer da explosão.” (p.106)

Capítulo 104
Sofia pede para que ele se sente e diz que deveria estar zangada com ele, mas como sabe que
é bom, aceitaria seu arrependimento e tudo seria perdoado.
Rubião diz não ter do que se arrepender e é ela que não é sincera e que o tem enganado. Amar
o marido é perdoável mas... ( Ele deixa em aberto a suspeita da traição). Arranca a carta do bolso e dá
à Sofia. Ela pede para ele abrir e ler a carta, mas Rubião parte. Sofia, com medo dos criados, deixa-se
ficar na sala.

Capítulo 105
Ela, nervosa, não se lembrando da carta, abre-a e se depara com a circular da comissão das
Alagoas. Soube que o criado havia perdido-a e que não tinha dito nada à ama com medo de punição.
Ela pensa em guardar para mostrar a Rubião, mas seria em vão: ele julgaria que houvesse substituição
de papeis. Não sabia se havia boatos ou suspeitas na sociedade.
Passa a se lembrar dos galanteios de Carlos Maria, das palavras que lhe tiraram o sono, mas
que se perderam na irrealidade e nunca entendera por que o galanteio não deu em nada e concluiu que
ele tinha por esse motivo, natureza de pelintra, de cínico, de fútil. Julgou que ele a desprezara por ter se
mostrado agradecida, rasteira a ele. Chega a ter por ele nojo e desdém e Rubião faz renascer as
lembranças de Carlos Maria.
Sofia recorda os apertos fortes de mão, as trocas de olhares e depois se lembra de que ele a
visitou e, como estivesse sozinha, mandou dizer que não estava em casa. Talvez, por orgulho, tenha se
afastado dela.

20
Capítulo 106
O narrador faz questão de negar que o cocheiro seja responsável pela calúnia. Ele não proferiu
nomes e só inventou situações para agradar um cliente em potencial (Rubião fica na casa do doente por
duas horas, sem dispensar o tílburi, passeia pelo bairro a pé com o tílburi à sua espera e quando passa
uma mulher, observa-a). Tudo isso foi matéria para a invencionice do cocheiro e quanto ao fato de a
costureira morar na Rua da Harmonia, é pura coincidência.

Capítulo 107
O certo é que Carlos Maria não correspondera às esperanças de Sofia e ela encontra
justificativas para isso, a saber:
 o fato de ela se mostrar rasteira aos seus linjoeiros afetos.
 alguma falta de atenção por parte dela.
 o fato de não ter querido recebê-lo sozinha à casa.
Ela só não cogitou no fato de poder haver outros amores na vida dele, o que talvez fosse a
verdade.

Capítulo 108
Rubião fica alguns meses sem ir à casa de Palha, a fim de evitar Sofia. Continua indo ao
armazém para visitar o sócio, uma vez que ele administra as finanças de Rubião, controlando seus
gastos.
Certo dia, Rubião pediu-lhe 10 contos e Palha questionou o motivo, uma vez que Rubião já tinha
os mesmos dividendos de antes. Rubião diz precisar de um conto e quinhentos para dois empréstimos
seguros e de oito contos e quinhentos para injetar em uma empresa. Palha questiona que empresa é
essa e o alerta de que ele já aplicou em outra empresa que lhe dera um golpe, e não para de emprestar
dinheiro para quem nunca paga, negando, assim, os dez contos, preservando o patrimônio de Rubião e
a saúde da empresa de que são sócios.
Agradece os conselhos de Palha, porém rejeita-os. Palha o convida para ir no dia seguinte, à
noite, à sua casa para pegar os 10 contos. Ele informa que irá, mas talvez pegue o dinheiro cedo no
armazém, pois precisa dele até às duas horas da tarde.

Capítulo 109
No capítulo anterior, Palha indaga a Rubião se as mulheres da casa o maltrataram. Ele informa
que nada fizeram e que não há necessidade de castigá-las. À noite, sonha com Sofia e Maria Benedita
sendo açoitadas por Palha. Rubião manda parar com os açoites, enforcar o Palha e Sofia entra na
carruagem de Rubião com a população aclamando-os.

Capítulo 110
Rubião pega dinheiro para os dois empréstimos e para o negócio, que era uma empresa de
embarques e desembarques no porto do Rio de Janeiro. Um dos empréstimos era pagar a conta
atrasada do jornal Atalaia. Camacho pega o dinheiro e diz ser por uma boa causa: não calar o jornal! E
justifica ter naufragada a candidatura de Rubião em virtude de alguns chefes.

21
Capítulo 111
Rubião, no dia seguinte, lê um artigo de Camacho advertindo o partido para não ceder às
perfídias do poder. Gosta do texto, mas pede para acrescentar um adjetivo. Camacho reluta pela
mudança, mas cede e Rubião sente-se coautor do texto.

Capítulo 112
É um capítulo metalinguístico em que o narrador questiona sua técnica de escrita.

Capítulo 113
Com ironia, continua sua análise metalinguística , fazendo alusão à coautoria de Rubião. Depois
desse episódio, Rubião passa ser autor de todas as obras lidas por ele, pois questiona o que lê e
inventa frases novas, apropriando-se do que nunca foi seu: a própria autoria.

Capítulo 114
Outro capítulo metalinguístico.

Capítulo 115
Rubião continua evitando Sofia. Certo dia, ela passa num carro com uma das damas da
comissão das Alagoas e acena a ele. Rubião não entende seu cumprimento com a mão, pois ela
deveria ter mais brio, já que ele ficou sabendo da carta, do caso com Carlos Maria, etc. Para ele, o
aceno mostra que ela não se incomoda com a denúncia e que estaria disposta a escrever quantas
cartas quisesse.
A caminho do Banco do Brasil, encontra-se com Palha que o convida a passar em sua casa daí
a dois dias, que seria o aniversário de Sofia. Rubião promete jantar com o casal. Mais tarde, vai ao
armazém e pede, dois contos ao Palha. Este “... já não resistia ao desmoronamento do capital”(p.117)
de Rubião e dá-lhe o dinheiro com indiferença.
Rubião compra um diamante e envia à casa de Palha, parabenizando Sofia. Quando ela recebe
o colar, comenta consigo mesmo:
“Aquele homem adora-me.” (p.118)
Rubião vai à casa à noite, suspeitando encontrar Carlos Maria, mas duvida que ele tenha dado
um presente melhor que o seu.
Ao chegar, verifica que havia poucos convidados, porém bem selecionados. Sofia percebe que
Rubião se mostra firme, reto, e não encolhido como sempre. Aperta a mão dele e agradece o presente,
sussurrando. Coloca-o ao seu lado à mesa e ele “... olhava superiormente a tudo.” (p.118). Rubião
percebe que Carlos Maria continua no mesmo canto, conversando com Maria Benedita e com uma
comissária das Alagoas, não olhando para Sofia. Julga ser disfarce dos dois.
Após o jantar, Rubião encontra-se na sala dos fumantes e como os convidados estivessem
entretidos com o piano, Sofia vai até ele e esclarece que a carta era da comissão e lembra que pediu
para ele ler a carta ainda com ela lacrada. Jura sua inocência e chega a chorar, o que comove Rubião.
Nesse ínterim, ela informa que Maria Benedita está de casamento marcado com Carlos Maria, com o
consentimento de Palha e dela, pois ele é um bom homem.

22
Capítulo 116
Rubião percebe a confusão em que se meteu, caluniando Sofia. Era para ele se casar com a
moça, de acordo com as intenções da Palha, mas o destino mostrava ser outro o noivo.
Pensa que o casamento seria luxuoso, uma vez que Palha vive melhor e Carlos Maria é rico.
Pensa em comprar outra carruagem para si e pensar no que presentear à noiva.
Encontra-se com Maria Benedita e passa a elogiá-la e congratulá-la, parabenizando pelo
casamento e desejando-lhe felicidades. Ele assim o faz de maneira exagerada, chegando até a deixá-la
fazê-la corar.

Capítulo 117
O narrador começa a contar o que aconteceu entre os jovens para que chegassem à intenção de
casamento e afirma que a causa foi a epidemia de Alagoas.
Numa digressão, afirma que algumas catástrofes são úteis.

Capítulo 118
Com a comissão das Alagoas formada, uma das participantes era Dona Fernanda, prima de
Carlos Maria. Ela tenta fazê-lo se interessar por uma amiga sua de Pelotas – RS, mas não obtém
sucesso. Conhecendo Maria Benedita, acha-a quieta, melancólica e passa a levá-la para se divertir,
criando laços de amizade entre elas. Na tentativa de dar vida à rotina de Maria Benedita, resolve casá-
la. Maria Benedita confessa amar um homem, mas não tem coragem de dizer seu nome. Dona
Fernanda, pragmática, diz a ela para parar de sonhar, se não o marido voa e que “... um marido, ainda
sendo mau, sempre é melhor que o melhor dos sonhos.” (p.125)

Capítulo 119
Dona Fernanda torna-se pragmática, ao contrário de Maria Benedita, que é idealista. Teófilo, o
marido de Dona Fernanda, diz à esposa que não necessita caçar na sociedade algum bom partido para
a moça, pois “vê-se bem que ela gosta de teu primo.” (p.127)

Capítulo 120
No domingo seguinte, Dona Fernanda encontra Carlos Maria na igreja e confessa que quis casá-
lo com sua patrícia de Pelotas, mas havia uma outra moça apaixonada por ele e, que não lhe daria o
nome. Era preciso conhecê-la.
Carlos Maria mostra-se curioso, querendo saber que mulher seria essa que tanto devota seu
coração a ele. Dona Fernanda confessa ser Maria Benedita e “Carlos Maria folgou em se ver assim
amado em silêncio, e toda a prevenção se converteu em simpatia.” (p.129)

Capítulo 121
Rubião julga ser o casamento de Carlos Maria por demais oportuno. Relembra a lágrima de
Sofia e se mostra confiante, uma vez que ela, costumeiramente, apresenta-se solícita com ele.

23
Capítulo 122
Em três semanas, o casamento se efetiva. A ideia que Carlos Maria tem do casamento é a de
fazer a esposa feliz e ela seria grata a ele eternamente, ficando à sua disposição.

Capítulo 123
Maria Benedita, por sua vez, também julgava que o casamento a faria feliz e se via aos pés de
Carlos Maria, agradecida.

Capítulo 124
Três meses depois do casamento, o casal parte para a Europa. Dona Fernanda mostra-se feliz
pela felicidade dos jovens.

Capítulo 125
Discretamente, Sofia ajudou Maria Benedita no preparo do casamento, mas não quis se
despedir do casal no porto, pois para ela, causava-lhe um pouco de vergonha. Inventou uma doença e
passou o dia no quarto.
Muitos objetos no quarto lembram Rubião, presentes que ele dera e, nesse ínterim, vem à
lembrança uma frase que lhe fora dita por Rubião no dia do casamento:
“A senhora é já a rainha de todas, disse-lhe ele em voz baixa, espere que ainda lhe farei
imperatriz.” (p.132)
Sofia não entende essa frase enigmática e chega a supor que talvez seja um convite para que
ela se tornasse sua amante. Logo descarta essa suposição, pois ele não teria tamanha presunção para
tanto. Galanteios, elas os ouvia de vários homens, até de Carlos Maria, mas todos passavam. Só
Rubião é que insistia. Pensa que talvez ele realmente a amasse.

Capítulo 126
Voltando de uma viagem de paquete, Palha fala a Rubião que quer lhe dizer algo importante.

Capítulo 127
Essa é a primeira vez que Rubião viaja de paquete. Mal conhecia geografia, tinha ideias
confusas a respeito dos países e viajara muito pela imaginação.

Capítulo 128
Palha informa sua recisão de encerrar a sociedade, uma vez que lhe foi oferecida uma vaga de
diretor em um banco. Como Rubião não é do comércio, seria melhor não permanecer com a empresa e
alegou, ainda, que o Dr. Camacho estava esperançoso com a ida de Rubião à Câmara, pois a queda do
ministério era certa.
24
Rubião aceita a recisão societária e indaga se o rompimento se estenderá para o âmbito da
amizade, o que Palha negou veementemente.
Palha gostou da concordância de Rubião, pois como este era um gastão, preocupava-se com o
fato de tê-lo como sócio. A empresa está sólida e assim poderia pagar ao Rubião a sua parte, menos as
dívidas pessoais anteriores que o próprio Rubião deixava-as no esquecimento.

Capítulo 129
Palha mentira a respeito do banco. Como a empresa estava sólida, os negócios corriam
largamente, não querendo dividir os lucros futuros com Rubião. Ele se mostra enriquecido, pensando
em construir um palacete e já pensando, também, num baronato.

Capítulo 130
Rubião, passando pela rua onde se situava a casa do Major Siqueira, entrou para visitá-lo e
Dona Tonica, pega de supetão, ficou no recinto, fazendo sala a Rubião, sem poder sequer pentear o
cabelo.
Major Siqueira desabafa: Palha e Sofia esqueceram a sua família. Ainda diz que, antigamente,
bajulavam-no; hoje, desprezam-no, pois ele é modesto e Palha “... está nas grandezas; anda com gente
fina”.
Palha e Sofia, quando pobres, mantinham relações com a família do major. Agora, enriquecidos,
despreza-a e o major se sente humilhado. Rubião tenta arranjar uma desculpa, quer seja alguma
confusão, quer seja falta de tempo, mas o major não a aceita. Rubião percebe a modéstia da casa e de
seus móveis, porém, asseada, arrumada por Dona Tonica. Segundo o pai dela, ela é mulher digna,
pobre, porém honesta.

Capítulo 131
Rubião para de defender Palha, despede-se do major prometendo retornar para jantar. Dona
Tonica se despede dele ao longe, para que não visse seus sapatos gastos.

Capítulo 132
Dona Tonica pede ao pai para comprar latas de conservas e, assim que Rubião cismar em jantar
com eles, a comida estará garantida. O pai retruca dizendo não ter reservas, senão o dinheiro que seria
gasto com um vestido novo para ela. Dona Tonica diz esquecer o vestido para outra oportunidade.
Preste atenção: ela ainda mostra interessada em Rubião e nutre esperança de poder obter
sucesso quanto a um futuro promissor com ele. Abre mão da vaidade em ter um novo vestido para
investir em comida a fim de recebê-lo bem numa outra oportunidade.

Capítulo 133
Por intermédio de Camacho e por causa da comissão de Alagoas, Rubião fica conhecido na
sociedade, tachado de “ricaço de Minas”. Os amigos se multiplicaram, frequentando sua casa, comendo
bem, bebendo bem, pedindo dinheiro e não pagando, etc.

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Tinham-lhe feito uma lenda: discípulo de um filósofo que morrera e que o fez herdeiro de 1, 3, 5
mil contos.
Os comensais, para agradar-lhe, tratam o cão com mimos e chegam a concordar com ele sobre
a ideia de que o filósofo Quincas Borba estivesse dentro do cão.
Esses comensais começaram a tolher a vida de Rubião. “Recusava jantares, passeios,
interrompia conversações aprazíveis, só para correr à casa e jantar com eles.” (p.138) Até que ele
ordenou à criadagem que servisse o jantar, mesmo sem ele presente, aos amigos. Estes não perdiam
uma noite e logo estavam na casa de Botafogo, comendo do bom e do melhor, restando apenas os
pratos. E Rubião se deliciava com isso.

Capítulo 134
Após o jantar, ausente Rubião, os convivas fumavam seus charutos, até que um dia invadiram o
seu escritório para se apropriarem de seus charutos e os que não conheciam esse compartimento da
casa ficaram admirados com o luxo dos móveis e se depararam com dois bustos de mármore, um de
Napoleão I e outro, do III, achando-os magníficos.
O criado informou-lhes que Rubião havia adquirido essas peças nesse mesmo dia e que passou
um bom tempo admirando-as, disperso do que acontecia a sua volta.

Capítulo 135
Rubião, de maneira pródiga, colaborava com sociedades literárias, com congregações religiosas,
tanto católicas quanto protestantes, assinava jornais sem sequer folheá-los e quando um escritor lhe
dedicava um livro, patrocinava a impressão dos exemplares, delapidando seu patrimônio às
escâncaras.

Capítulo 136
O cobrador de um jornal vai à casa de Rubião para receber a assinatura quando ele fica
sabendo que o jornal é do partido do governo. Rubião fica bravo, xinga o cobrador, mas paga a
assinatura.

Capítulo 137
Rubião substitui o tédio que sentia na vida, o ócio do seu dia a dia por um extravasamento da
imaginação.

Capítulo 138
Sofia, com o enriquecimento, foi filtrando as amizades e cortando relações antigas com pessoas
modestas, agora, aquém do nível social a que ela pertence. No começo, envaidecida, gostava de ser
mirada pelos antigos amigos. Depois, acabando o seu amor pela grandeza, ao encontrar os antigos,
virava duramente os olhos para o outro lado, nem sequer cumprimentando-os.

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Capítulo 139
Rubião pergunta a Sofia se ela e o marido vão ao passeio à Tijuca, o que ela nega, pois Palha
tem que resolver um negócio. Rubião propõe que vão somente os dois e ela fica com muita vontade de
aceitar o convite, pois seria um momento de liberdade e para ser enaltecida, louvada por um homem
que verdadeiramente a ama.

Capítulo 140
Sonha, imagina por minutos montada num cavalo, galopando, em meio à natureza, ouvindo
galanteios e chegando a sentir um beijo na nuca, até que volta à realidade.

Capítulo 141
Sofia volta a si mesma e determina que o passeio se faça na semana seguinte, com a
companhia de Palha. Ficam calados por um tempo e Rubião parte. Sofia acompanha-o até a porta com
indiferença, murmurando ser ele um homem aborrecido. O que a incomoda é o fato de ele a amar com
sinceridade e de manter a esperança de conseguir obter a atenção de Sofia.

Capítulo 142
Sofia continua refletindo sobre o mesmo caso: Rubião a ama, é discreto e merece, pelo menos,
piedade.

Capítulo 143
O passeio à Tijuca é feito com um pequeno incidente: Sofia cai do cavalo, mas cai com graça e
elegância.

Capítulo 144
Ao chegar à casa, indaga ao marido se seu tombo foi indiscreto. Palha nega e diz que, se o
fosse, a natureza ficaria assombrada. Sofia retruca dizendo que, além da natureza como espectadora,
havia Rubião. Palha pergunta se ele não mais a importunou como naquela noite, na casa de Santa
Tereza, o que ela diz que nunca mais. A sós, Palha lamenta ter sido um tombo discreto da esposa, pois
ela é dele e se o tombo tivesse sido desastroso, ele se realizaria ao ver o ar de pasmo de Rubião diante
da beleza de Sofia.
Palha continua gostando de expor publicamente a beleza de sua esposa, alimentando, assim,
sua vaidade.

Capítulo 145
Em janeiro de 1870, dois dias depois do passeio à Tijuca, Rubião chama um barbeiro para lhe
fazer o serviço em domicílio. Chegando lá, entrando no escritório de Rubião, o dono da casa nem lhe dá
27
conta de sua presença, com o olhar vago, distante, alheio à realidade, como se estivesse em marcha
para a lua.
Obs.: Rubião está cada vez mais caminhando para um surto psicótico, afastando-se da
realidade.

Capítulo 146
Rubião pede ao barbeiro tirar-lhe a barba e deixá-lo com o bigode e pera iguais aos de Napoleão
III, apontando no adorno que se encontra no escritório. Após o trabalho cumprido, Rubião lhe paga mais
do que o combinado, satisfeito com o feito.

Capítulo 147
Sozinho, imagina estar na França, ser imperador, tal qual Napoleão, totalmente fora do eixo
consciente.

Capítulo 148
Os comensais comentam que Rubião ficou melhor do que antes, continuando a adulá-lo.
“Sentia-se imperador dos franceses, incógnito, de passeio; descendo à rua, voltou ao que era.”
(p.149) Rubião ora era Napoleão, ora ele mesmo. Os dois se revezavam.

Capítulo 149
Rubião vai visitar Sofia, a qual mostra-se espantada com a nova imagem dele, embora afirme
que ficara-lhe melhor. Ela acredita que ele tenha modificado seu visual por causa dela.

Capítulo 150
Como Sofia estivesse aguardando o carro para sair, assim que ele chegou, Rubião ajudou-a a
subir no carro e, de modo rápido, subiu atrás dela.

Capítulo 151
Sofia, pega de surpresa com a presença de Rubião no interior do carro, pede para ele mandar o
lacaio parar o carro. Como ele não se manifesta, Sofia fica com receio de algum escândalo e pede para
que ele saia do carro, pois é constrangedor que as pessoas os vissem sozinhos. Rubião, para evitar tal
constrangimento, abaixa as cortinas do carro e ficam os dois a sós.
Rubião se acomoda no carro e não diz nada.

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Capítulo 152
Sofia, acanhada, encolhe-se para o canto oposto ao de Rubião. Sente asco dele, repugnância.
Os sonhos de estar com Rubião na Tijuca foram por água abaixo, já que estão perto na realidade,
preocupada com o escândalo social.
Rubião não fala nada e ela supõe que estivesse arrependido diante de tal atitude impetuosa.
Não sabe o que fazer e Rubião diz que podem andar à toa, com os cavalos levando para qualquer
lugar.
Impertinente, fala para Rubião descer ou, na segunda hipótese, ela desceria e o carro o levaria
para a sua casa, o que ele contesta, pois saiu de casa há pouco e quer ir para a cidade. Ainda diz:
“Se é para que não nos vejam, apeio-me em qualquer lugar...” (p.151)
O fato de ele poder descer escondido, num canto qualquer da cidade a preocupava em virtude
de escândalos. Quase se ajoelha a seus pés para ele ir à cidade, o que ele impede de fazê-la. Ela pede
novamente para descer e ele diz não querer ir a pé à cidade, que ninguém os vê e que os cavalos são
magníficos.
Sofia pensa em mandar parar o carro na porta do armazém do marido e contar-lhe o que
aconteceu. Rubião vai quieto, não olha para ela, não pede nada. Não cometeu esse exagero por
vaidade pois fechou as cortinas discretamente. Ele era um homem inexplicável.

Capítulo 153
De maneira totalmente insana, Rubião fala a Sofia que o amor deles jamais vai se definhar e
desfia situações fictícias falando de encontros às escondidas dos dois, das lágrimas de Sofia, da falta
de cautela de ambos em virtude de sua paixão insaciável. De imediato, ela acredita que ele quisesse
caluniá-la a fim de o cocheiro ouvir, no entanto, descartou essa possibilidade, pois ele falava de maneira
discreta e baixinho.
Ela não entende o motivo dessa criatividade em armar situações de aventuras amorosas
mentirosas, fictícias, porém, verossímeis. Ela se cansa, incompreendendo tudo e diz:
“Mas que caçoada é essa? (p.154)
Desligado da realidade, ele cita um concerto em que estavam presentes e que Palha pegou-os a
trocar olhares. Era tanta invencionice, porém, com tantos detalhes que qualquer um, que ouvisse,
acreditaria ser verdade. Pede para chamá-lo pelo nome: Luís, Luís Napoleão.
Sofia, atônita, percebe o delírio do homem e pede para que ele deixe o carro ou vá com ela até o
armazém do marido. Ele julga melhor deixar o carro logo, que é mais seguro e Palha, assim não iria
desconfiar dos dois e não a maltrataria. E diz, ainda, que vai nomear Palha senador. “Tu ainda não
conheces bem o meu poder, Sofia; anda, confessa.” (p.154)
Antes de deixar o carro, oferece-lhe o anel de brilhante que tem em seu dedo, mas ela recusa a
oferta com medo. Ainda diz que vai assinar um decreto dando ao Palha o título de duque. O título é
dado a ele, mas a causa é ela e pede para escolher o título de duquesa e que, no lugar de costume, ao
se encontrarem, ela passaria a ele essa informação.

Capítulo 154
Assim que desce do carro, Rubião volta à realidade, ao passo que Sofia, no carro, reconstrói
todas as invencionices de Rubião, revivendo essas fantasias de modo romântico.

Capítulo 155
A mania de Rubião achar-se Napoleão se espalha no Rio e os conhecidos, quando o
encontravam são, enveredavam para o caminho da França até Rubião mergulhar no delírio.

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Capítulo 156
As crises de Rubião vão ficando mais agudas e frequentes. Os amigos não enfrentam o doente
que achava que tudo que estava ao seu redor era de fina origem. Começa a repetir os discursos
filosóficos de Quincas Borba, mesmo não tendo entendido quando os ouvira.

Capítulo 157
Sofia tinha compaixão por Rubião, principalmente porque ruminava a ideia de ser causadora da
doença do homem, um amor intenso que levou à loucura e isso a envaidecia. Enquanto ela se mostrava
discreta diante das crises de Rubião, Palha se divertia vendo-o subir ao trono ou comandar um exército.

Capítulo 158
Dona Fernanda e marido perguntam ao Palha se não era conveniente tratar Rubião e ele
responde que não parece coisa grave pois, quando passa a crise, ele se mostra saudável. Aproveita e
diz ser ele um gastador, que nunca se preocupou em trabalhar e delapidou a herança recebida.
Sofia recebe uma carta da prima Maria Benedita dizendo que logo voltaria com o marido, que
estava feliz e que seria mãe. Sofia, despeitada, contém-se e disfarça, não deixando transparecer sua
inveja.

Capítulo 159
No dia seguinte, Sofia acorda entediada, sem disposição alguma, consequência da carta do dia
anterior, responsável por recuperar as lembranças de Carlos Maria que a lisonjeou e, em seguida,
deixou-a e as de Maria Benedita, que era uma caipira introduzida na sociedade por Sofia e que, ora,
mostra-se feliz. Pensa em Dona Fernanda que lhe dá a carta para se engrandecer do feito com o
casamento de Carlos Maria. E logo a seguir, pensa no marido de Dona Fernanda que, na noite anterior,
dirigia a ela olhares cobiçosos, recheados de desejo e admiração.

Capítulo 160
Com a cessação da chuva, Sofia pensa em sair para aliviar seu estado de torpor, mas logo o céu
se cobre de nuvens.

Capítulo 161
Sofia lê uma parte de um romance publicada em uma revista e, visto ter dormido mal à noite,
cochilou e sonhou com Carlos Maria fazendo-lhe galanteios iguais aos que Rubião havia lhe feito. Mais
adiante, no sonho, a carruagem em que o casal se encontra é interceptada por mascarados que matam
Carlos Maria. Um dos mascarados revela seu amor por Sofia, dando-lhe um beijo úmido de sangue. Ela
solta um grito e acorda com o marido no quarto. Receosa de ter mencionado o nome de Cralos Maria,
abraça o marido e diz ter sonhado com a morte dele, o que o envaideceu, pois ela se mostra angustiada
diante de sua perda.

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Capítulo 162
Com o sol saindo no dia seguinte, Sofia vai para a rua a fazer visitas, espantando a angústia do
dia anterior.

Capítulo 163
Sofia, nos pensamentos, mostra-se leviana, deixando a vontade do pecado para trás com tanta
facilidade como a de trazê-la de volta.

Capítulo 164
Durante o passeio, comprando um livro, vê Rubião entrar na livraria. Disfarça e rapidamente sai
do local sem ser notada por ele. Dias depois, chegando à casa de Dona Fernanda, vê Rubião saindo da
casa. Cumprimentam-se e se afastam.
Dona Fernanda diz a Sofia que Rubião se mostrava lúcido e que as crises não eram perenes,
havendo, portanto, chance de cura e pergunta por que Palha não intercede junto a ele levando-o a um
médico e tornando-se curador de Rubião, administrando seu dinheiro até a sua melhora, já que Rubião
tem grande apreço pelo Palha.
Sofia conta a conversa ao marido que se mostra muito incomodado em ter que assumir tal
responsabilidade, mas a esposa acha de bom-tom ser generoso, uma vez que a compaixão de Dona
Fernanda foi nobre e distinta e nem amizade com Rubião ela tem.

Capítulo 165
Palha aluga uma casinha para Rubião e o coloca dentro, junto com alguns trastes e com o cão.
Avisa aos comensais da decisão, alegando que Rubião precisava de descanso e, quem sabe, até de
uma reclusão em casa de saúde. Os comensais sentem-se exilados de sua terra.

Capítulo 166
Os amigos-parasitas não mais visitaram Rubião na nova casa. Ele tenta recordar se cometera
algum delito, mas não acha nenhum.

Capítulo 167
Dona Fernanda chama um deputado amigo seu, que é médico, Dr. Falcão, para examinar
Rubião e ele acredita que sua doença tem cura, mas é preciso consultar um especialista. Ainda disse
que acredita ser Sofia a causa da sua moléstia, pois Rubião fala dela com entusiasmo, com paixão,
demonstrando até intimidade. Dr. Falcão acredita que tenha tido um caso, uma paixão violenta, e o seu
fim tenha ocasionado sua doença.
Dona Fernanda não quer acreditar nessa suposição, visto que Sofia sempre se mostra correta e
pura. Saindo da casa da mulher, Dr. Falcão recupera diálogos com Rubião e conclui ter havido, sim, um
caso entre ele e Sofia. De relance, vem outra ideia à sua mente: Dona Fernanda também poderia estar
apaixonada por Rubião e isso comprovaria a sua preocupação com ele, já que ele não era seu familiar e
nem amigo íntimo. Por que não?
31
Capítulo 168
Na manhã seguinte, Dr. Falcão continua acreditando no caso amoroso de Dona Fernanda. Era
muita filantropia, muito altruísmo sem interesse. Como era discreto, guarda suas conclusões para si.

Capítulo 169
Dona Fernanda deixa de se preocupar com Rubião assim que Carlos Maria e Maria Benedita
chegam ao Rio. Dona Fernanda insiste em se certificar de que são felizes, uma vez que foi ela o
“cupido” dessa relação. Carlos Maria, dono de si, narcisista, não poderia conceber outro sentimento
para Maria Benedita do que o da felicidade, já que é ele o marido e se aborrece ao ver a esposa
contando particularidades aos outros. Por ele, nem teria voltado ao Rio, mas foi vontade da esposa em
virtude da gravidez. Por ele, ficariam reclusos, até a criança nascer.

Capítulo 170
Maria Benedita percebe que o marido se aborrece e reconhece ter sido muito extrovertida,
generosa nas suas confidências e lhe pede perdão pela sua tagarelice. Ele, com ar de superioridade,
perdoa-lhe.

Capítulo 171
Na hora da reconciliação, entra na sala Rubião, elogiando a moça e avisando da queda do
ministério. Delirantemente, afirma já estar organizando a pasta e que colocaria o nome de Carlos Maria.
Saiu gesticulando, falando sozinho.
“Da vidraça, miravam o nosso amigo, e, em certo lance grotesco, Maria Benedita não pôde
suster o riso; Carlos Maria, porém, olhava plácido.” (p.169)

Capítulo 172
Marido e mulher conversam e ela conclui que, se realmente houve queda do ministério, Teófilo,
esposo de Dona Fernanda e primo de Carlos Maria, seria o ministro.

Capítulo 173
Maria Benedita continua alimentando o ego do marido, exacerbando seu narcisismo. É o
casamento perfeito: a esposa se submete aos ares de superioridade do marido e alimenta sua vaidade
e imponência.

Capítulo 174
Teófilo não foi escolhido para o ministério, motivo pelo qual passou por um estado depressivo.

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Capítulo 175
Teófilo não se conforma em ter sido esquecido para a pasta do ministério, apesar das palavras
de conforto proferidas pela esposa. Ele, como deputado, sempre trabalhou, deu seu sangue e foi
esquecido.
Dona Fernanda pede que ele se afaste da política por um ano e que vão à Europa passear. Para
ele, afastar-se da política é tirar-lhe a pele.

Capítulo 176
No dia seguinte, Teófilo recebe uma carta do presidente do conselho, marcando uma audiência
para as 14h. Teófilo sabia que as cadeiras e cargos já estavam completos, mas a esperança de um
cargo a preencher permanecia viva em sua mente. Iludindo a mulher, dizia não ser nada importante,
talvez convite para uma conferência ou conversar sobre o orçamento. Não iludia a mulher, mas no
fundo, iludia-se, acreditando num milagre: uma nomeação.

Capítulo 177
Depois da audiência, Teófilo volta feliz por ter aceitado o cargo de presidente de primeira ordem.

Capítulo 178
Teófilo deixou o Rio para assumir o cargo. A separação seria de quatro meses e Dona Fernanda
preferiu ficar na cidade para não interromper os estudos do filho.

Capítulo 179
Rubião, desde a queda do ministério, não mais volta à casa de Dona Fernanda. Vivia com um
criado, que fazia o serviço irregularmente, e com o cão. Visita os amigos, mas eles não têm mais
tolerância com Rubião. Camacho mal conversa com ele, mostra-se impaciente e Rubião deixa o
escritório magoado, pensando no que teria feito para o amigo manter-se tão frio com ele.

Capítulo 180
Rubião encontra-se com o Major Siqueira que o leva à sua casa para contar-lhe uma novidade:
Dona Tonica arranjou um noivo e vai se casar. Era um homem já de meia-idade, condenado à morte,
mas é noivo. Agradece todos os dias à Nossa Senhora e já sonha com um filho, cujo nome será Álvaro.

Capítulo 181
Durante a visita, Rubião tem outro acesso de loucura, assumindo a identidade de Napoleão.

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Capítulo 182
Rubião deixa a casa do Major Siqueira falando alto com uma suposta mulher, a imperatriz, que
fantasiosamente estava dando o braço a ele. As pessoas percebem o delírio e riem dele; os meninos,
curiosos, gritam debochando de sua pessoa. Ao ouvir os gritos, Rubião agradece julgando serem
aclamações.

Capítulo 183
Coincidentemente, um dos meninos que troçava de Rubião era aquele que fora salvo de um
atropelamento pelo Rubião. O pai da criança o reconhece e fica com pena dele. A mãe, com
consciência pesada por ter o filho caçoado de seu salvador, mal dorme a noite.

Capítulo 184
Duas horas depois, ainda em pleno delírio, mas de maneira amenizada, Rubião chega à casa de
Dona Fernanda.

Capítulo 185
Rubião é recolhido a uma casa de saúde. Palha e Dr. Falcão o acompanham, sem resistência
alguma.

Capítulo 186
Dr. Falcão não tira da mente a ideia de que Rubião fora amante de Sofia.

Capítulo 187
Quincas Borba fica com o criado, embora tivesse tido vontade de entrar na carruagem. Os
tempos se parafraseiam: outrora, Quincas Borba se afastou de seu dono, Quincas Borba, que estava
enlouquecido; agora, a cena se repete.
Rubião pede que o cão fique com ele e Dona Fernanda consegue interceder junto ao diretor da
casa e ela mesma procura Sofia para tal intento.

Capítulo 188
As duas mulheres vão à casa de Rubião, que se encontra fétida, suja, apesar de haver um
criado e Dona Fernanda, amável com o cão, dá dinheiro ao criado para dar banho no animal e levá-lo à
casa de saúde.

Capítulo 189
Saem da casa e Sofia convida Dona Fernanda a visitar o seu palacete de Botafogo, que estava
passando por reformas.
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Capítulo 190
Nasce a filha de Maria Benedita, o que faz com que Dona Fernanda se afaste um pouco de
Rubião.

Capítulo 191
Dona Fernanda manda a Sofia uma carta dizendo que o diretor da casa de saúde confiou cura a
Rubião no fim de seis a oito meses e a convida para visitá-lo. Sofia diz não ter muito ânimo para tanto,
pois não suportaria vê-lo doente, já que foi tão amigo da família.
Palha liquida os bens de Rubião e apura três contos e duzentos.

Capítulo 192
Nesses meses, o ministério cai novamente, Teófilo volta para casa, o noivo de Dona Tonica
morre três dias antes de se casar, Sofia inaugura sua casa com um baile, mostrando-se triunfal e os
homens lamentando, a sua fidelidade para com o marido.

Capítulo 193
Teófilo recebe uma carta do diretor da casa de saúde informando a fuga de Rubião e que ele
estava se reestabelecendo e que, em dois meses, teria alta. Dona Fernanda, movida pela bondade,
pede ao marido para escrever ao chefe de polícia afim de tomar providências no intuito de recuperar
Rubião.

Capítulo 194
Uma semana antes, Rubião chamou Palha e, de maneira lúcida, disse ter tido uma crise mental,
mas que já se encontrava bom e gostaria de sair da casa de saúde. Palha disse que providenciaria tal
saída, mas que precisaria de alguns dias. Rubião pediu-lhe cem mil réis para agradecer às pessoas que
o serviram, o que Palha lhe deu prontamente.
O diretor disse a Rubião que precisaria de dois meses para deixá-lo perfeitamente são, no que
Palha concordou.
Rubião e Quincas Borba partiram para Barbacena.

Capítulo 195
Chegando a Barbacena, subindo a Rua Tiradentes, Rubião exclama: “Ao vencedor as batatas!”
Havia se esquecido da lição, da frase que ele havia tomado por lei da vida e da verdade. Havia se
esquecido do sentido de luta da frase.
Chega até a igreja, mas ninguém lhe abre a porta. Do alto da rua reconhece sua cidade e tudo
vem à sua memória. Não há ninguém na rua e ele exclama: “Talvez não saibam que cheguei.” (p.189)

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Capítulo 196
Começa a chover, cai uma tempestade. Os dois descem a rua, o cão o acompanhando, faminto
e fiel. Sem destino, sem rumo, sem pouso ou comida, vão adiante. Rubião se lembra da farmácia onde
ele comprava remédio para o amigo e volta para trás, mas logo esquece o motivo da caminhada e
vagam, alagados, pela rua.

Capítulo 197
Vagam sem destino. O cão, faminto; o homem, ludibriando sua fome com delírios e banquetes.
Durante a noite fria e molhada, o cão só ouvia os murmúrios de seu dono. De repente, Rubião parava;
depois, vagava sem parar. O cão não entendia nada, mas acompanhava seu senhor com medo de
perdê-lo.
O céu se abre e as estrelas brilham. Rubião julga serem lustres de um grande salão; ordena que
sejam apagadas, mas ninguém obedece a seu comando. Dormem na porta da igreja, um grudado ao
outro, como se fossem um só ser.

Capítulo 198
Ao amanhecer, exclama: “Ao vencedor, as batatas!”

Capítulo 199
A comadre de Rubião o reconhece e lhe dá guarida. Rubião tinha febre. Enxuga-se, troca de
roupa, come um pouco e começa a conversar com a comadre. Ela não entende direito o que ele fala e
ao cabo de vinte minutos de conversa, fica com medo, chamando a vizinha, pois o compadre “... parecia
ter virado o juízo.” (p.190)
Rubião, volta e meia, grita seu lema de vida. A sua insanidade foi espalhada pela cidade. Como
estivesse febril, poderia ser delírio da febre. Chamaram o médico, o mesmo que tratara Quincas Borba.
Rubião chegou a reconhecê-lo e disse que havia capturado o rei da Prússia, gritando seu lema.

Capítulo 200
Rubião morre poucos dias depois. Antes de iniciar a sua agonia, fez gestos com as mãos como
se estivesse pegando um objeto pesado e colocou sobre a cabeça, coroando-se. Tentou erguer o
corpo; caiu. “... o rosto conservou por ventura uma expressão gloriosa.
– Guardem a minha coroa, murmurou. Ao vencedor......
A cara ficou séria, porque a morte é séria; dois minutos de agonia, um trejeito horrível, e estava
assinada a abdicação.” (p.191)

Capítulo 201
Três dias depois, Quincas Borba foi encontrado morto na rua. Após a morte de Rubião, o cão
ficou doente, sofreu e saiu em busca de seu dono, morrendo.

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Não esquecer
01 Rubião beira ao ético e não ético; arrepende-se rapidamente de uma atitude torpe e logo volta
atrás tentando convencer-se a si mesmo de que sua atitude é deveras a certa. Ele se mostra
sempre no limiar da solidariedade, da fraternidade, da ética, mas a miséria interior fala mais
alto.

02 Ao primeiro encontro no trem, Rubião já escancara sua pacholice, sua ingenuidade diante de
Palha.

03 Rubião, é um misto de passado e presente.

PASSADO PRESENTE

professor capitalista
moral interesses pessoais
ética conveniência
remorso busca de sucesso
espiritualismo materialismo

04 Três grandes obras de Machado de Assis: Mémórias Póstumas de Brás Cubas, Dom
Casmurro e Quincas Borba. Pontos em comum entre elas:

Capitu

 tema da morte Brás Cubas

Quincas Borba , Rubião

 Personagens que interseccionam as obras (Quincas Borba, Brás Cubas envia uma carta a
Rubião). Seria uma linha de continuidade das duas obras.

 Protagonistas apaixonados por mulheres definidas pela dissimulação (Marcela, Virgília,


Capitu, Sofia)

05 Com a teoria do Humanitismo, Machado de Assis critica o exagero do cientificismo, tão presente
na segunda metade do século XIX, que tenta analisar o homem como um todo. O
Humanitismo, por sua vez, fundamenta-se no homem como indivíduo e defende a
necessidade de se cultivar o individualismo, não havendo espaço para solidariedade ou
fraternidade. Por mais terrível que seja a vida, é melhor do que morrer. Deixar de nascer é
não ser pessoa e, segundo Quincas Borba, “o universo é o homem”. A constituição de uma
sociedade formada pela dicotomia forte/fraco faz parte da existência e o mal justifica a
sobrevivência do melhor.
Como exemplo da teoria humanitista é o fato de Piedade, irmã de Rubião, ter morrido
precocemente e, mais tarde, ter sido a vez de Quincas Borba. Temos o mal que acaba em
bem. Os dois são suprimidos dessa existência para a sobrevivência e ascensão de Rubião.

06 Presença do leitor incluso, influência que Machado herdou de Almeida Garrett. O narrador é
íntimo do leitor, chamando-o para uma conversa.

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07 Segundo a crítica literária Luciana Picchio, as mulheres machadianas aceitam a corte, estimulam
a corte, mas mostram-se tolas, como se fossem seguidas pelo instinto. Virgília aceitou a
corte de Brás Cubas e Sofia alimentou o desejo de Rubião, porém sem ceder a ele.
As mulheres de Machado são a porta para a corrupção familiar, ideia essa que nasce da Bíblia,
em Gênesis.

08 Ao descrever Sofia, o narrador se utiliza de metáforas, a saber: seus olhos eram lanternas que
faziam todos os homens parar diante deles e admirar sua luz. Como Palha gostasse de
ostentar a beleza da esposa, dando-lhe vestidos insinuantes, joias, seu corpo eram janelas
escancaradas para admiração. Mas o narrador afirma que seu coração era uma porta
trancada e retrancada.

09 No “capítulo 42”, Sofia mostra-se desembaraçada diante de um flagrante e, dissimuladamente,


domina a situação disfarçando o que acontecera (Major Siqueira pegou-a com Rubião, no
jardim, em situação comprometedora, pois estavam com as mãos presas e Rubião estava
prestes a beijar-lhe as mãos); Rubião não tem domínio de si mesmo e ele próprio denuncia o
ocorrido por meio de suas reações. Sofia nesse momento, assemelha-se muito com Capitu e
Rubião, por sua vez, com Bento.

10 No “capítulo 134”, os parasitas que frequentavam a casa de Rubião se deparam com os dois
bustos de mármore de Napoleão I e Napoleão III, peças essas adquiridas pelo mineiro e que
o criado afirmou ter ficado o patrão admirando as obras por um grande tempo, desligado de
tudo o que acontecia a seu redor.
Rubião já mostrava momentos de desligamento da realidade. Ele sente admiração pelos
imperadores, o que vai virar uma obsessão ao se tornar insano. Note que antes, durante o
casamento de Carlos Maria e de Benedita, Rubião diz a Sofia que vai fazê-la
imperatriz. O narrador, aos poucos, já vai apresentando sinais de demência e de obsessões
nas atitudes do protagonista.

11 Características estruturais:
a) capítulos curtos
b) digressões
c) intertextualidade (com Shakespeare)
d) leitor incluso
e) ironia

12 Rubião, mudando-se para o Rio de Janeiro, não põe em prática a teoria do Borbismo e,
ingenuamente, deixa-se enganar pelas pessoas interesseiras e oportunistas, com quem vai
travar relações sociais.
Dentro da teoria do Humanitismo, Rubião é o vencido, o explorado, louco, miserável. Ele, por ser
fraco e frágil, foi manipulado por outros que se tornam vencedores, não sobrevivendo nesse
mundo em que impera a lei do mais forte.

13 O romance inicia com Rubião em sua casa em Botafogo. No final, Palha reforma a casa, fazendo
dela um palacete. Palha é o vencedor e passa a usufruir as batatas. Para sobreviver, derruba
os fracos, inclusive Rubião.

14 O encontro de Rubião com o casal na estação de Vassouras é determinante para o desenrolar


da trama. A partir daí, há um desfile de caracteres maus, uma exposição da alma interior do
ser humano. “Cada indivíduo que se aproxima do novo-rico tem uma causa pessoal que
pretende resolver às custas dele. Da chegada ao Rio à volta a Barbacena, o mineiro é
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sempre ludibriado. Porém, Machado não faz do professor vítima simplória de uma sociedade
degradada. Rubião é agente de seu engano, uma vez que se permite ser engabelado por
conta do interesse de Sofia.”
Anderson Xavier, e-scrita, nº 02, 2010, RJ

15 Ponto divergente entre Rubião e Carlos Maria: o primeiro é ingênuo e será sucumbido; o
segundo é esperto. “É assim que Rubião se enreda nas malhas da sedução encenada por
Sofia, ao passo que Carlos Maria maneja com habilidade os truques que o equilibram na
crista do sucesso.”
Ivo Barbieri, Ler e rescrever Q. B., RJ, 2003

16 O espaço do romance: Rubião inicia sua trajetória de vida em Barbacena, de maneira humilde,
alcança, no Rio de Janeiro, dois extremos, a rica mansão de Botafogo e a casinha na Rua do
Príncipe e termina em Barbacena, retomando sua identidade, fechando o ciclo e cumprindo o
seu destino.

17 Dois seres se aproximam de Rubião desprovidos de interesse: Dona Fernanda, cheia de


piedade e benevolência e Quincas Borba, o fiel escudeiro que o acompanha até o fim,
agonizando junto com seu dono.

18 A morte de Quincas Borba foi indiferente a todos, tanto aos homens como aos astros, exceto ao
cão.

19 Analisando o romance sob a ótica da sociologia, apreendemos o quanto o sistema capitalista é


devastador, que todos têm seu preço e que as relações sociais são permeadas de interesses
pessoais não havendo ponto sem nó. A sociedade é egoísta e não existe nenhuma
possibilidade de considerar a vontade alheia.
A exploração de um pelo outro, a luta pela sobrevivência vista pela ótica darwinista são temas
constantes na obra em questão.

20 Não há, no romance, tendência maniqueísta. Ora o personagem é perseguido, ora é o


perseguidor. Rubião quer Sofia; para tanto, agrada ao Palha, não negando-lhe ajuda
financeira; Rubião quer alcançar notoriedade social e política, unindo-se a Camacho que, por
sua vez, explora Rubião. Nesse ínterim, não há vilão ou herói e todos são nivelados a ora
predador, ora predado.

21 “A corte é hipócrita porque o homem o é. O ser humano é movido pelo interesse, que o faz,
quase sempre, representar. Mais vale ser na ideia e na opinião do que na realidade.
Anderson Xavier

22 No início do romance, o filósofo Quincas Borba tentou ensinar uma lição a Rubião: “Faça-se
forte.”. Ele não entendeu a lição, não conseguiu sobreviver numa sociedade egoísta, movida
a interesses particulares e, derrotado, no final da vida, usa a frase humanitista como um grito
de guerra, porém esvaziada de conteúdo. Se ele tivesse aprendido a lição, não teria sido
abatido.

Rosana Sol

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