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Tanto a violência que Alex comete, quanto a tortura à qual ele é submetido, são
representações de dois extremos. De um lado, a falta exagerada de limites; do
outro, o total condicionamento e falta de controle sobre suas ações, inclusive
quando ele se encontra em situações de perigo. Assim, a crítica às duas situações
fica evidente: tanto à violência gratuita, quanto à maneira como o governo tenta
combatê-la.
Parece então que o ponto central do filme se encontra exatamente aí. Até que
ponto um método de condicionamento pode ser utilizado como meio de contenção
dos atos do homem, mesmo que esses atos não sejam socialmente aceitos como
bons? Até que ponto é possível comparar o homem a um robô ou programá-lo
como uma máquina? Seria possível aceitar a ideia de uma laranja mecânica criada
pelo sistema para ser jogada em uma sociedade infestada de violência?
Quem teria o controle sobre ela? Como pensar uma sociedade sem que todos os
homens sejam dotados de liberdade e respondam por seus atos? ‘Até onde vão os
direitos do Estado sobre o Indivíduo? E ‘até onde o Estado pode/deve intervir
sobre o Indivíduo a fim de garantir o Bem-Estar Social’? Nesse sentido, Laranja
Mecânica é uma obra política, liberal e que defende a supremacia do Indivíduo
sobre o Estado.
E ainda que Alex deLarge e toda a multidão de adolescentes transviados sejam
um malefício, um produto de uma sociedade condescendente, que não reprime
suas ações criminosas, o filme advoga claramente que a ação do Estado sobre o
Indivíduo é altamente prejudicial, e, portanto, danosa também para a sociedade de
modo geral, já que lhe tira o direito às escolhas pessoais, a autodefesa e até
mesmo a autopreservação.
Mas cabe aqui pensarmos: se aqueles senhores, que poderiam ser a elite
intelectual daquela sociedade, assistiram a tudo de forma passiva, como um rapaz
que não teria expectativa de futuro seria diferente? Ele pode ser apenas um
reflexo da sociedade em que vive. Já na segunda parte, quando ele está, digamos,
recuperado, e começa a enfrentar os seus ‘demônios’, se torna mais claro que a
sociedade é violenta e um indivíduo passivo não se enquadra naquela realidade,
sendo Alex vítima de abusos de todos os lados.
Desse modo, o governo poderia até controlar as ações dos indivíduos, mas não
suas vontades. Um outro aspecto interessante do filme é a forma irônica com que
ele trabalha. Um exemplo dessa ironia pode ser percebido quando Alex deLarge
estupra a mulher do escritor cantando Singin´in the Rain (de Catando na Chuva),
também quando ele usa uma peça de arte para assassinar a mulher da casa dos
gatos.
Fonte: http://cabinecultural.com/2011/09/29/laranja-mecanica-de-algoz-a-vitima/