A Ordem das Coisas Não Escritas
Boyd K. Packer
do Quórum dos Doze Apóstolos
(BYU Devotional, 15 Out. 1996; no Marriott Center)
1. Hoje, falo a vocês como professor.
Eu reflito a influência de um professor que
conheci à mais de cinquenta anos. Como é
costume, a influência desse professor não se
centrava no assunto que ensinava. O Dr.
Schaefer era professor de matemática na
Universidade Estatal de Washington. Sua
aparência não impressionava. Não lembro de
seu primeiro nome, mas não esqueço da
primeira coisa que ele disse, naquele dia que
nos conhecemos.
Foi durante a Segunda Guerra Mundial.
Éramos pilotos iniciantes em treinamento e
havíamos sido enviados para a faculdade
para receber um ‘curso de impacto’ sobre
metereologia, clima, navegação, física,
aerodinâmica e outros assuntos técnicos.
Pensamos que o título ‘curso de impacto’ não
era muito encorajador para pilotos
amadores. A expressão ‘curso intensivo’
soaria melhor. A pressão era enorme porque
aqueles que fossem reprovados no curso
estariam fora do programa de pilotos. Eu
estava competindo com cadetes, muitos dos
quais frequentaram a universidade, outros
haviam recebido treinamento avançado, e eu
mal havia escapado do colegial.
O Dr. Schaefer era responsável por nos levar
da matemática básica até o cálculo em
apenas poucas semanas. Pensei que seria
impossível, até os primeiros minutos na sala
de aula. Ele começou a aula com este
anúncio: “Enquanto muitos de vocês
frequentaram a faculdade ou tiverem
treinamento avançado naquilo que vamos
estudar aqui, meu objetivo é ensinar os
iniciantes. Peço àqueles que já conhecem o
assunto para serem pacientes enquanto
ensino o básico àqueles que ainda não
sabem”.
Encorajado pelo que ele disse e ainda mais
pela forma como ele ensinou, consegui ser
aprovado no curso com relativa facilidade.
De outra forma teria sido impossível.
Quando decidi ser um professor, o exemplo
do Dr. Schaefer me inspirou a dar o melhor
de mim para ensinar o básico, verdades
simples na sua forma mais clara de
compreensão. Tenho aprendido como é
difícil simplificar.
Vários anos depois da guerra, regressei à
Universidade Estatal de Washington e
encontrei o Dr. Schaefer. Ele, obviamente,
não lembrou de mim. Eu era apenas um dos
centenas de cadetes nas suas classes.
Agradeci pelo que ele me ensinou. A
matemática e o cálculo já desaparecerem da
minha mente à muito tempo, mas não o
exemplo dele como professor.
2. Então, seguindo seu exemplo, hoje quero
dizer-lhes algo sobre a Igreja. As coisas que
quero dizer não estão explicadas nas
escrituras, apesar de estarem de acordo com
os princípios ensinados nas escrituras.
Um princípio é uma verdade permanente,
uma lei, uma regra que vocês podem adotar
para ajudá-los a tomar decisões. Geralmente
os princípios não são expostos
detalhadamente. Isso deixa-os livres para
adaptar e encontrar sua própria aplicação de
uma verdade permanente ou um princípio,
como se fosse uma âncora.
3. As coisas que irei dizer-lhes não estão
explicadas nos nossos manuais de instruções
ou guias. Mesmo que estivessem, a maioria
de vocês não tem os manuais de instruções,
os manuais do Sacerdócio de Melquisedeque
ou da Sociedade de Socorro, porque eles são
disponibilizados somente para os líderes.
Eu falarei sobre o que eu chamo de “A
Ordem das Coisas Não Escritas”. A minha
lição poderia ser intitulada de “As coisas
simples sobre a Igreja que todos os membros
deveriam saber”. Apesar de serem coisas
realmente simples, são, no entanto, muito
importantes!
De alguma forma, pressupomos que todas as
pessoas já sabem sobre as coisas simples. Se
você as sabe, deve ter aprendido pela
observação e pela experiência, pois elas não
estão escritas e também não são ensinadas
nas salas de aula. Assim, ao continuarmos, se
vocês fazem parte do grupo que já sabe tudo,
sejam pacientes enquanto ensino aqueles que
ainda não sabem, e tirem uma soneca.
4. O alicerce básico do conhecimento e do
testemunho nunca muda: o testemunho de
que Deus, o Pai, vive, que Jesus é o Cristo,
que o Espírito Santo nos inspira, que houve
uma restauração, que a plenitude do
evangelho e a mesma organização que
existia na Igreja de antigamente foram
reveladas a nós. Essas coisas são sempre
ensinadas e em todo lugar, nas classes, nas
escrituras, nos manuais de instruções e
outros manuais, e em tudo o que fazemos.
5. As doutrinas e instruções fundamentais
sobre a organização da Igreja também se
encontram nas escrituras. Mas, além disso,
existe outra fonte de conhecimento a respeito
de como a Igreja funciona: Nós aprendemos
por experiência e observação.
Se vocês aprenderem sobre essas coisas que
não estão escritas, ou seja, a ordem das
coisas não escritas, estarão melhor
qualificados para serem líderes, e vocês
serão líderes.
As posições de liderança mais importantes
são no lar: como pai, mãe, esposa, marido,
irmãos mais velhos.
Assim, na Igreja, posições de liderança e
oportunidades de ensino estão disponíveis a
todos como em nenhum outro lugar na terra.
Apesar das coisas que irei ensinar não
estarem escritas, elas podem ser aprendidas
muito facilmente. Somente fiquem atentos à
ordem das coisas não escritas e adquiram
um interesse por elas, e assim fazendo, irão
perceber que sua capacidade e valor
aumentarão perante o Senhor.
6. Antes de dar-lhes alguns exemplos da
ordem das coisas não escritas, deixem-me
lembrar-lhes do que o Senhor disse: “minha
casa é uma casa de ordem, diz o Senhor
Deus” (D&C 132:18). Ele também disse ao
profeta: “vede que todas estas coisas sejam
feitas com sabedoria e ordem; porque não se
exige que o homem corra mais rapidamente
do que suas forças o permitam. E,
novamente, é necessário que ele seja
diligente, para que assim possa ganhar o
galardão; portanto todas as coisas devem ser
feitas em ordem” (Mosias 4:27).
Paulo disse aos Coríntos que todas as coisas
deveriam ser feitas “decentemente e com
ordem” (1 Coríntios 14:40). Voltaremos a isso
daqui a pouco.
7. As coisas que irei lhes dizer não são tão
rígidas a ponto da Igreja desmoronar se não
forem seguidas rigidamente o tempo todo.
Mas elas estabelecem um tom, um padrão de
dignidade e ordem, e irão melhorar nossas
reuniões e aulas, elas irão melhorar nossas
atividades. Se as souberem e
compreenderem, elas irão melhorar
consideravelmente sua vida.
Nossas reuniões devem ser conduzidas de
tal forma que os membros sejam
espiritualmente revigorados e permaneçam
em sintonia com o Espírito enquanto
enfrentam os desafios da vida. Devemos
estabelecer condições nas quais os membros
possam resolver seus próprios problemas
através de inspiração.
Existe algumas coisas simples que podem
ajudar nesse aspecto, e outras que podem
atrapalhar. Alma ensinou: “...é por meio de
coisas pequenas e simples que as grandes
são realizadas; e pequenos meios muitas
vezes confundem os sábios.” (Alma 37:6)
8. Dou-lhes como primeiro exemplo, dessa
ordem das coisas não escritas, algo simples
como isto – Aquele que preside uma
reunião deve sentar ao púlpito e ao lado
daquele que estiver dirigindo – É um pouco
difícil presidir uma reunião quando se está
sentado com a congregação. Aquele que
preside é responsável pela condução da
reunião e tem o direito e a responsabilidade
de receber inspiração, e pode ajustar ou
corrigir algo que esteja acontecendo na
reunião. Isso também se aplica às reuniões
das auxiliares presididas pelas irmãs ou
qualquer de nossas reuniões.
Um novo presidente de estaca pode
perguntar: “Devo sentar ao púlpito em todas
as reuniões da estaca? Não poderei sentar
com a minha família?” A ele eu respondo:
“Enquanto você presidir, deve sentar ao
púlpito”. Fico tentado a dizer: “Se eu não
posso ter esse privilégio, porque você teria?”,
mas não digo.
9. Outro exemplo – Se observarem a
Primeira Presidência, verão que o primeiro
conselheiro sempre senta ao lado direito do
presidente, e o segundo ao lado esquerdo –
Isso é uma demonstração de se fazer as
coisas “decentemente e com ordem”, como
Paulo disse.
10. Geralmente, mas não sempre – quando a
autoridade presidente discursa, ele o faz no
final da reunião – Assim, esclarecimentos ou
correções poderão ser feitas. Já tive esta
experiência muitas vezes no final de
reuniões: “Bem, o irmão ou a irmã ‘x’ disse
isto e isto, mas certamente ele(a) quis dizer
isto e isto”.
11. Outra ilustração – Não almejamos
chamados na Igreja, nem pedimos para ser
desobrigados – Somos chamados para
posições na Igreja através de inspiração.
Mesmo que o chamado seja feito de maneira
desajeitada, não é sábio para nós recusá-lo.
Devemos presupor que o chamado veio do
Senhor. A 5ª regra de fé diz-nos que
devemos “ser chamado por Deus, por
profecia e pela imposição de mãos, por quem
possua autoridade, para pregar o Evangelho
e administrar suas ordenanças”.
Se alguma circunstância dificultar a
continuação do seu serviço, vocês têm a
liberdade de consultar o líder que lhes fez o
chamado. Não fazemos o chamado a nós
mesmos e nem desobrigamos a nós mesmos.
Algumas vezes um líder ou professor aprecia
tanto a proeminencia de um chamado de
destaque, mesmo tendo servido por tanto
tempo nessa posição, que não deseja ser
desobrigado. Isso é sinal de que uma
desobrigação é apropriada. Devemos reagir
da mesma forma de quando fomos
chamados. Devemos aceitar os chamados e
aceitar as desobrigações pela mesma
autoridade.
Quando o Presidente J. Reuben Clark foi
chamado como 2º conselheiro na Primeira
Presidência, depois de servir muitos anos
como 1º conselheiro, ele respondeu na
Assembléia Solene quando a Primeira
Presidência foi apoiada: “No serviço do
Senhor, não importa onde você serve, mas
como. Na Igreja de Jesus Cristo dos Santos
dos Últimos Dias, assumimos o lugar para o
qual somos chamados, lugar esse, que não
aspiramos nem recusamos” (CR, Apr.1951,
p.154). A Igreja aprendeu uma lição muito
valiosa sobre a ordem das coisas não escritas.
Aprendi à muitos anos atrás que nós não
escolhemos onde servimos, somente
aceitamos os chamados. Após o meu
casamento, fui chamado como secretário
adjunto da estaca. O meu Bispo não queria
desobrigar-me como professor da escola
dominical. Ele disse-me que eu tinha muito
mais a oferecer como professor do que numa
posição obscura de secretátio adjunto da
estaca. Mas ele sabia, que sob a ordem das
coisas não escritas, o Presidente da Estaca
presidia e que o chamado que ele fizera tinha
prioridade.
Não consigo dizer-lhes tudo o que aprendi
naquele chamado. Pude aprender como uma
presidência trabalha. Fui testemunha de
revelação no chamado e desobrigação de
pesssoas na estaca e alas. Olhando o nosso
Presidente da Estaca, aprendi por observação
e experiência muitas coisas que não estão nos
manuais de instruções. Foi nesse chamado
que conheci pela primeira vez membros do
Conselho dos Doze e outras Autoridades
Gerais que vinham à nossa conferência. Foi O Elder Lee havia ido ao carro pegar alguma
um período de treinamento na ordem das coisa e estava na calçada quando chegamos.
coisas não escritas. Tenho certeza que ele percebeu que
estavamos bastante emocionados por
12. Certa vez, estava num avião com o
cumprimentar e conversar pessoalmente
Presidente Kimball, que serviu, eu acho, por
com um Apóstolo. Ele apontou para a casa e
19 anos como secretário da estaca. Um
disse, referindo-se à Presidência da Estaca:
membro que vivia na estaca naquela época
“Eles são grandes homens. Nunca falhe em
também estava no avião. Ele disse-me: “Se
aprender com homens como estes”. Naquele
eu soubesse que o nosso secretário da estaca
momento um Apóstolo me ensinou algo
um dia se tornaria o Presidente da Igreja, eu
sobre a ordem das coisas não escritas.
o teria tratado bem melhor”.
Existe tanto que vocês podem aprender
Na realidade, o irmão Kimball estava
observando esses líderes experientes nas alas
servindo na presidência da estaca como 2º
e estacas onde vivem! Existe tanto que vocês
conselheiro quando o secretário se mudou, e
podem aprender ouvindo os irmãos mais
o irmão Kimball acumulou essa
experientes, e as irmãs, que tiveram uma
responsabilidade. O Elder Melvin J. Ballard
vida inteira de experiências na escola das
veio à nossa conferência e disse: “Você não
coisas não escritas!
deve ser o 2º conselheiro e secretário ao
mesmo tempo. Escolha o que você prefere 14. Outra ilustração. Existe uma ordem
fazer.” concernente a quem recorremos em busca
de conselho e bênçãos. É simples,
O irmão Kimball não estava acostumado a
recorremos aos nossos pais.
escolher. Ele quis que o Elder Ballard lhe
dissesse o que fazer, mas ele respondeu: Quando eles não estiverem mais entre nós,
“Não, você escolhe”. Então o irmão Kimball se precisarmos de uma bênção, podemos
disse: “Eu tenho uma máquina de escrever procurar o nosso mestre familiar. Para
(naquela época poucas pessoas tinham uma). conselho, procurem o Bispo. Ele poderá
Eu conheço a função. Acho que posso encaminhar vocês ao seu líder imediato, o
contribuir mais se permanecer como Presidente da Estaca. Mas nunca recorram às
secretário”. E assim foi. Autoridades Gerais. Não devemos escrever a
eles em busca de conselho, nem supor que
Naquela época o secretário da estaca recebia
alguém numa posição mais proeminente
uma pequena ajuda de custo mensal, acho
possa dar uma bênção mais inspirada. Se
que para comprar suprimentos. Uma irmã,
pudermos ensinar isso na Igreja grande
que o conhecia bem, escreveu-lhe dizendo:
poder virá sobre nós.
“Spencer, estou surpresa com você... aceitou
um chamado só porque tem dinheiro O Presidente Joseph F. Smith ensinou que
envolvido!” onde houver doentes numa casa e ali
estiverem presente “apóstolos, ou até mesmo
Depois ela disse: “Se você não mudar sua
membros da Primeira Presidência da Igreja...
attitude, em dois meses irá apostatar da
o pai também está lá. É direito e dever dele
Igreja”. Bem, ela estava um pouco errada!
presidir”. (Doutrinas do Evangelho, p.286)
13. Agora um exemplo. Em certa ocasião o
Elder Harold B. Lee presidiu a nossa
15. Existe um limite para o Bispo, o
Presidente da Estaca, as Autoridades Gerais
conferência de estaca. No intervalo das
e qualquer outra pessoa na nossa linha de
sessões nós almoçamos na casa do
autoridade. Esse limite é a oração ao Pai
Presidente Zundell. Donna e eu chegamos
Celestial. Se usarmos isso, na maioria das
um pouco atrasados porque primeiro
vezes conseguiremos resolver nossos
passamos em casa para ver como estavam as
problemas.
crianças.
16. Outro princípio: A revelação na Igreja é
vertical. Geralmente é restrita aos limites
administrativos ou geográficos, ou às
limitações da designação daquele que foi
chamado. Por exemplo, um Bispo que está
tentando resolver um problema não
conseguirá receber revelação aconselhando-
se com um Bispo de outra ala ou estaca, com
quem tenha amizade ou vínculo profissional.
Minha experiência me ensinou que a
revelação vem de cima, não do lado. Por
mais velho, ou experiente, ou espiritual que
alguém ‘do lado’ possa parecer, é melhor ir
‘para cima’ através dos canais apropriados.
17. Outro princípio: Um atributo primordial
num bom líder, é ser um bom seguidor.
Certa vez, numa reunião com Bispos, um
Bispo novo e esforçado me perguntou:
“Como posso fazer o povo me seguir?
Chamei nove irmãs como Presidente da
Primária e nenhuma aceitou”. Havia um
bom humor e um espírito agradável na
reunião, que tornou aquele momento ideal
para o ensino. Eu respondi que duvidava
que ele tivesse ‘feito o chamado’ a qualquer
uma das irmãs. Provavelmente ele só as
convidou ou pediu.
Eu disse-lhe que se ele tivesse orado com
sinceridade e se aconselhado com seus
conselheiros sobre quem deveria presidir a
Primária, a primeira irmã teria aceitado o
chamado. Talvez na entrevista ele descobriu
alguma razão justificável para ela não poder
servir ou que o momento não era o melhor, e
então a dispensou do chamado. Mas
certamente, isso não iria acontecer com mais
de uma ou duas irmãs. Se todas aquelas
irmãs recusaram o chamado, alguma coisa
estava fora de ordem, da ordem não escrita.
Por o Espírito estar tão bom na reunião, eu
disse-lhe: “Bispo, eu sei algo mais sobre
você. Você não é um bom seguidor, certo?
Não é você que está sempre questionando o
que o Presidente da Estaca pede aos Bispos?”
Os outros Bispos na sala começaram a sorrir
e abanaram a cabeça em sinal afirmativo, era
ele mesmo. Ele também sorriu e concordou
que eu estava certo. Eu disse:
“Provavelmente, a razão pela qual seus
membros não seguem o líder, é porque você
não segue os seus”. Um atributo essencial de
um líder na Igreja é ser um seguidor fiel e
leal. Isso é precisamente a ordem das coisas,
a ordem das coisas não escritas.
18. Quando eu era jovem, o Elder Spencer
W. Kimball veio à nossa conferência e contou
a seguinte experiência: Quando ele era um
Presidente de Estaca em Safford, Arizona,
havia uma vaga de Superintendente dos
Rapazes da Estaca, como era chamado na
época. Um dia ele saiu de seu escritório,
andou um pouco rua abaixo e conversou
com o dono de uma loja. Ele disse: “Jack, o
que acha de ser Superintendente da
organização dos Rapazes da Estaca?”
Jack respondeu: “Oh, Spencer, deve ter se
enganado.”
Spencer retrucou: “Claro que não. Você se
relaciona bem com os jovens”.
Ele tentou convencê-lo, mas o homem
continuou recusando.
Mais tarde naquele dia, depois de sentir
pesar por seu fracasso e lembrando do que
Jacó disse no Livro de Mórmon – “...tendo
primeiramente recebido essa missão do
Senhor” (Jacó 1:17), ele voltou até Jack.
Chamando-o de ‘irmão’ e depois pelo último
nome, disse: “Temos uma vaga em um
chamado na estaca. Eu e meus conselheiros
conversamos sobre isso. Nós oramos sobre o
assunto por algum tempo. No domingo
ajoelhamos e pedimos ao Senhor que nos
inspirasse a saber quem deveria ser
chamado. Recebemos a inspiração de que
você deveria ser chamado. Como um servo
do Senhor, estou aqui para fazer esse
chamado.”
Jack respondeu: Bem, Spencer, se está
colocando as coisas dessa forma...”
“Sim, estou colocando dessa forma!”
Vocês conhecem o resultado. É bom seguir a
ordem apropriada das coisas, sim, a ordem
não escrita.
19. Tenho na minha mesa uma carta de um
irmão que está muito aborrecido porque o
seu chamado não foi feito de forma
apropriada. Ele aceitou o chamado e está
disposto a servir, mas disse que o Bispo não
consultou a sua esposa primeiro e por isso a
situação não foi adequada.
Quando eu lhe responder, vou procurar
ensinar algo sobre a ordem das coisas não
escritas no que diz respeito em ser um pouco
paciente pela forma como as coisas são feitas
na Igreja. Na primeira seção de Doutrina e
Convênios, o Senhor advertiu que cada
pessoa “fale em nome de Deus, o Senhor,
sim, o Salvador do mundo” (D&C 1:20).
Acho que vou lhe lembrar que um dia ele
poderá vir a ser um Bispo, sobrecarrregado
pelos problemas na ala e com um fardo extra
de problemas pessoais, e irei sugerir que ele
dê agora o que irá gostar de receber mais
tarde.
20. Outro aspecto da ordem – Os Bispos não
devem ceder a condução das reuniões para
os membros. Ele não devem ceder a
condução de funerais ou despedidas de
missionários para a família. Não é
apropriado, para a ordem das coisas, que os
membros ou famílias decidam quem vai
discursar e por quanto tempo. Sugestões são
aceites, com certeza, mas o Bispo não deve
entregar a reunião a eles. Estamos
preocupados com a tendência de nossas
reuniões.
Funerais podem e devem ter grande impacto
espiritual. Eles estão se tornando reuniões
informais diante dos membros da ala. Com
frequência o Espírito é repelido por
experiências humorísticas e piadas, quando
na verdade o momento deveria ser dedicado
a ensinar as coisas do Espírito, coisas
sagradas.
Quando a família insiste que vários
familiares discursem em um funeral,
ouvimos mais sobre o falecido do que sobre
a Expiação, a Ressurreição e as promessas
confortadoras reveladas nas escrituras.
Agora, não tem problema em ter um
membro da família discursando em um
funeral, mas se o fizer, seus comentários
devem contribuir para manter o espírito da
reunião.
Já disse aos irmãos dos Doze, que no dia em
que realizarem o meu funeral, se algum
deles falar sobre mim, eu me levantarei e os
corrigirei. O evangelho deve ser pregado.
Não conheço outra reunião em que a
congregação está melhor preparada para
receber revelação e inspiração de um orador,
do que num funeral. Este privilégio está
sendo tirado de nós porque não entendemos
a ordem das coisas, a ordem das coisas não
escritas, que está relacionada à
administração da Igreja e ao recebimento do
Espírito.
Nosso Bispos não devem ceder as reuniões.
Isso também se aplica às despedidas de
missionários. Estamos profundamente
preocupados que elas têm se tornado esse
tipo de reuniões diante dos membros da ala.
A profundidade do ensino e treinamento
espiritual que poderia ocorrer está sendo
perdido. Temos falhado em lembrar que é
uma reunião sacramental e que o Bispo
preside.
21. Há muitas outras coisas que eu poderia
falar, tal como vestir a melhor roupa no
domingo. Sabem o que significa a ‘melhor
roupa de domingo’? Antes era assim. Agora,
vemos roupas cada vez mais informais e até
relaxadas em nossas reuniões, mesmo na
reunião sacramental, o que leva a uma
conduta também informal e relaxada.
22. Incomoda-me, ver anunciado em nossas
reuniões sacramentais, que a Cida, o Zé e o
Chico vão participar. Não deveria ser a
Aparecida, o José e o Francisco? Incomoda-
me ainda mais pedirem-me para apoiar o
Kaká e o Beto para o sumo conselho. Eu só
digo: “Não poderíamos ter o nome completo
nesse registro tão importante?” Existe uma
formalidade e dignidade que estamos
perdendo, e a um preço muito alto. Existe
algo no que Paulo disse sobre fazer as coisas
“decentemente e com ordem”.
23. Bem, tem muito mais que eu quero dizer
a vocês sobre a ordem das coisas não
escritas, mas por outro lado, vocês precisam
aprender essas coisas por vocês mesmos. Se
apenas pudéssemos colocar vocês numa
condição onde começam a observar,
começam a receber esse treinamento, então
saberão como a Igreja opera e por quê opera
dessa forma.
Vocês aprenderão que isso está de acordo
com os princípios descritos nas escrituras. Se
apenas “entesourarem sempre em vossa
mente as palavras de vida” o Senhor os
abençoará e dará “na hora precisa” o que
deverão dizer e fazer (D&C 84:85).
Aprendam sobre este grande padrão – sobre
os ensinamentos que nos vêem apenas pela
observação e participação.
24. Logo após a abertura da Espanha para a
pregação do evangelho, eu estava em
Barcelona. Dois dos primeiros missionários
enviados à Espanha, foram para Barcelona
para abrir a cidade. Eles pediram quarenta
cadeiras ao Presidente Griffin. Ele estava em
Paris na época e não sabia porque eles
queriam quarenta cadeiras, pois não havia
membros ali. Ele hesitou pelo custo, mas
depois pensou que isso encorajaria os
missionários. Então, aprovou as quarenta
cadeiras.
Quando ele chegou na entrada da sala de
reuniões, no andar superior de um prédio
administrativo, as quarenta cadeiras estavam
ocupadas. Pessoas estavam em pé.
Os missionários providenciaram para que o
primeiro converso deles, um homem de meia
idade que trabalhava numa feira de peixe,
dirigisse a reunião. Nós obervámos enquanto
eles o ensinavam o que fazer, às vezes até
levantando e sussurrando para ele.
O irmão Byish, muito nervoso, conseguiu ir
até o fim, com a ajuda deles. Então, ao
encerrar a reunião, o Espírito do Senhor
desceu sobre ele e ele começou a pregar com
grande poder por algum tempo. Foi um
testemunho inspirador, um momento
inesquecível.
Os dois jovens missionários, ambos
conversos da América do Sul, de alguma
forma aprenderam um pouco sobre a ordem
das coisas não escritas.
Eles estavam deixando a Igreja na devida
ordem, em Barcelona. Agora, temos quatro
estacas naquela cidade.
25. E assim vai. O Senhor usa membros
comuns, ‘soldados rasos’, para
impulsionar este trabalho.
26. “Não é estranho que príncipes e reis,
E palhaços que brincam com bondade,
E simples pessoas como você e eu,
Sejamos construtores da eternidade?
A cada um é dado um saco de
ferramentas,
Livro de instruções e um pouco de
cimento,
Para construir aonde a vida nos levar,
Uma pedra de tropeço ou um degrau de
crescimento.”
(R. L. Sharpe, “Stumbling-Block or Stepping
Stone”)
27. A Igreja avançará, e avançará somente
porque os ‘soldados rasos’ aprendem por
observação, aprendem pelo ensino,
aprendem pela experiência. Acima de tudo,
aprendemos porque somos motivados pelo
Espírito. Um dia, certamente, vocês que
agora são jovens, irão liderar a Igreja. Se
nesse período intermediário aprenderem e
estudarem a ordem das coisas não escritas, o
poder do Senhor estará sobre vós até o fim
para que se tornem servos úteis.
Presto meu testemunho que esta é a Igreja
Dele, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias e que, como o Senhor disse:
“Que todo homem, porém, fale em nome de
Deus, o Senhor, sim, o Salvador do mundo”
(D&C 1:20).
Invoco Suas bênçãos sobre vós, e presto
testemunho a vocês, em nome de Jesus
Cristo, amém.