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adilson gonçalves

introdução
à álgebra

PROJETO

EUCLIDES
ÍNDICE

PREFÁCIO.........cccc eee erra IX

CAPÍTULO I NOÇÕES PRELIMINARES........................... 1


81 Conjuntos...........ccccccccccc cera rare 1
82 Funções..........ccccccc rr 3
$3 Relação de equivalência..............ccccccccccc ecc 7
$4 Produto cartesiano e operação binária em um conjunto.......... 1

CAPÍTULO II OS NUMEROS INTEIROS .......................... 15


$1 Propriedades elementares .............ccccccccccccccceccce 15
$2 Boa ordenação e algoritmo da divisão... ..........ccccccc.. 16
$3 IdeaseM.D.C.......ccccc erre 19
84 Números primos e ideais maximais ............ccccccccc ca 23
85 Fatorizaçãoúnica............ccccccccc 25
$6 OsanéisZ ..........l cce c cics cce err erra 28

CAPÍTULO III ANÉIS, IDEAIS E HOMOMOREISMOS ............. 34


$1 Definição cexemplos.............cccccccccc cce 34
82 Subanéêis .......ccccccccc rear 42
$3 Ideais e anéis quocientes ..........cccccicccccc cerca 46
$4 Homomorfismo deanéis.............cccccccc cce 54
85 Ocorpo de frações de um dominio ..........cccccccccccc 60

CAPÍTULO IV POLINÔMIOS EM UMA VARIÁVEL ............... 63


$1 Definição cexemplos............cccccccccc cce 63
$2 Oalgoritmo da divisão..........cccccccccc rea 66
83 Ideais principais e máximo divisor comum ..................... 72
$4 Polinômios irredutíveis e ideais maximais...................... 76
85 Fatorizaçãounica...........ccccccccccccc ecc crer 79
46 Ocritério de Eisenstein ...........ccccccccc ico 82

CAPÍTULO V EXTENSÕES ALGÉBRICAS DOS RACIONAIS....... 88


$1 Adjunçãoderaizes..........c.ccccccccc cce cerco 88
82 Corpo de decomposição de um polinômio ..................... 91
83 Grau deuma extensão .........ccccccccccccc ecra 96
$4 Construção por meio de régua e compasso ..................... 107

CAPÍTULO VI GRUPOS... reeeeereeeerere rare 119


$1 Definição e exemplos ....................
e eereerereererecererereereranco 119
$2 Subgrupos e classes laterais....................cs
sr eeeeeeeeeeererreerereeeeanea 126
$3 Classes de conjugação ...............cceee
nie erereereeeererreeenenea 136
$4 Grupos quocientes e homomorfismo de grupos.............................. 139
$5 A simplicidade dos grupos An, N25 ...........eeeeeeeeeeeeeeeeeearenos 156
CAPÍTULO VII TEORIA DE GALOIS ELEMENTAR eres rear 167
$1 Extensões galoisianas e extensões normais ..................... 167
$2 A correspondência de Galois ..............cccccccccc cerco. 179
$3 Solubilidade por meio deradicais................ccccccc...... 186
REFERÊNCIAS...............c seara 191

ÍNDICE ALFABÉTICO
PREFÁCIO

Após experiências lecionando na Universidade de Brasilia, e na


Universidade Federal do Rio de Janeiro, pensei escrever um livro que
viesse a ser um texto de Álgebra em nível de bacharelado (ou licen-
ciatura) em Matemática.
Esse planejado texto deveria apresentar, entre outras coisas, um
material elementar de dificuldade crescente, suficientemente interes-
sante tanto para aqueles que fossem prosseguir nos estudos pós-gra-
duados, como para aqueles que fossem se dedicar ao ensino.
Sem dúvida, as noções de conjunto, função, relação de equivalência,
como também anéis, corpos, polinômios e grupos devem estar pre-
sentes em qualquer texto com esses objetivos. Escolhemos o Teorema
Fundamental de Galois (característica zero) como principal objetivo
a ser atingido pois, além de apresentar uma belíssima solução ao his-
tórico problema sobre determinação de fórmulas para expressar raizes
de um polinômio por meio de radicais, exige e aplica todas as noções
elementares anteriormente apresentadas.
Abordaremos também os clássicos problemas da duplicação do
cubo, da quadratura do circulo e da trisseção do ângulo, além de
enunciarmos, sem demonstração, o famoso teorema de Gauss que ca-
racteriza os números naturais n > 3 cujos polígonos regulares de
n-lados no plano podem ser construidos por meio de régua e com-
passo.
As noções de conjunto, função e relação de equivalência foram
intencionalmente apresentadas de modo sucinto no 1.º capítulo. Inclui-
mos um grande número de exercicios complementares esperando que
o aluno, com alguma orientação, entenda equilibradamente a impor-
tância dessas noções preliminares.
Considerando que a formalização envolvida na criação dos con-
juntos N, Z, Q, Re € cabe perfeitamente fora da sequência de Álgebra
(por exemplo, Matemática do Ensino Médio ou Evolução da Ma-
temática, ou outro curso equivalente), penso que, como os analistas,
os algebristas também deveriam usar e abusar da existência desses
conjuntos numéricos, sem perder muito de seu tempo com essas for-
malizações. O teorema fundamental da álgebra é também admitido
sem demonstração.
Dentro desse espírito, toda a teoria de Galois (chamada teoria
de Galois elementar) foi desenvolvida para extensões L> K, onde
C>L>K>0Q.O pouco de Álgebra Linear necessário na parte
de extensões de corpos foi explicitado, embora nem tudo provado.
Nos Capítulos 2 e 4 é feito um estudo comparativo entre os anéis
Z dos inteiros e K[x] dos polinômios em uma variável com coeficien-
tes em um corpo K. À teoria elementar de Anéis foi inserida no Ca-
pitulo 3 para evitar a repetição de tão evidentes analogias.
No Capítulo 5 incluímos importantes resultados a serem usados
no capítulo final do texto, além de apresentarmos os anteriormente
citados problemas clássicos e incluirmos um parágrafo sobre constru-
ção por meio de régua e compasso.
O Capítulo 6, sobre grupos, é o mais extenso embora isto não
signifique que o lá apresentado deixe de ser elementar.

No último capítulo demonstramos os principais teoremas da


Teoria de Galois sobre Q e discutimos o problema da solubilidade
de equações polinomiais por meio de expressões radicais.
Agradeço a contribuição anônima dos meus alunos dos cursos
de Álgebra e em especial agradeço ao corpo editorial do Projeto Eucli-
des por esta oportunidade de realização.

Adilson Gonçalves
INTRODUÇÃO

Dentro da história da Matemática o capítulo referente às equações


polinomiais é certamente dos mais relevantes.
É conhecido que os Babilônios utilizavam, por volta de 1800 A.C,
alguns métodos de resolução de equações do 2.º grau enquanto que
os Egípcios, na mesma época, apenas possuiam métodos de resolução
de equações do 1.º grau.
Os antigos gregos usavam os métodos das Construções Geomé-
tricas para resolverem algumas equações do 2.º grau e até alguns tipos
de equações cúbicas. Dentro dessa linha, os gregos nos legaram os
famosos problemas clássicos da “trisseção do ângulo”, da “duplicação
do cubo” e da “quadratura do circulo”. A importância desses pro-
blemas está no fato que eles não podem ser resolvidos, geometricamente,
por meio dos instrumentos régua (sem marcas) e compasso. Matemá-
ticos de diferentes periodos contribuiram para mostrar a ligação des-
ses problemas com a teoria das equações polinomiais, sendo então,
todos respondidos negativamente [Bourbaki — Elements d'Histoire
des Mathematiques, Herman, Paris pag. 92).
Os Hindus, no início da era cristã, ao contrário dos Gregos, em-
pregaram métodos aritméticos na resolução de equações, os quais
foram desenvolvidos pelos Árabes. Um dos mais significantes resul-
tados desse período Árabe é sem dúvida a solução da equação do
2.º grau ax? + bx + c =0, cujas raízes são dadas pela conhecida fórmula

—b+ /b” — 4c
X1,2 =
Za

Apesar de tudo, as resoluções algébricas para as equações cúbicas


eram desconhecidas. No fim do século XV e início do século XVI
os matemáticos italianos, principalmente de Bologna, descobriram que
a solução da equação cúbica poderia ser reduzida àquelas dos seguin-
tes tipos: x* + px=q,x)=px+ qe x* + q = px (observe que essas
distinções são decorrentes do não reconhecimento dos números ne-
gativos).
Scípio del Ferro, e mais tarde Niccolo Fontana (conhecido como
Tartaglia), descobriram as soluções daquelas equações. Os argumentos
de Tartaglia foram apropriados e divulgados por Cardano em Ars
Magna, 1545, que também divulgou o método de Ferrari de redução
de uma equação do 4.º grau para uma de 3.º grau.
Vamos em seguida, apresentar um argumento (devido a Viete)
para a solução de uma equação do 3.º grau.
Seja F > Q um corpo contendo o corpo dos números racionais e
seja f(x) = ax? + bx? + cx + d um polinômio de grau 3 com coe-
ficientes em F. Substituindo x por y + h segue que o coeficiente de
y* no polinômio f(y + h) é 3ah + b.
Escolhendo h = e dividindo a equação f(x) = O por a te-
3a
remos: y) + py+q=0,p, qeF.
Podemos admitir que esse polinômio é irredutível sobre F, pois
de outro modo ele teria uma raiz em F e as demais seriam raizes de
um polinômio do 2.º grau com coeficientes em F.
o n k -
Usando agora a substituição de Viete: y=z + — a equação
Z
y + py+q=0 torna-se:
k? Ê k
2 43k+3— + os +pz+tp—+q=0

o == 1
Escolhendo k = — eliminamos os termos em z e em —. As-
Z

sim, a substituição y = z— 4 transforma a equação y* + py+q=0


Z
3
na equação 2º — +q =0 que vem a ser uma equação quadráti-
272º
ca em zº. Portanto,

z 3= Datvo 2
Ds 2
onde
D = — (4pº + 279")

Agora se z) =
“q+V/2D
q+ > la7 ez =
“q-J/-D
q , /a7 teremos
pº * daí segue que z,7, = — p3
(z122)) = — 57 À onde À é uma raiz
cúbica da unidade.
21 21 o. Vo
Se w = cos 3 + i sen a € C e substituindo, se necessário, z,

por wz, ou w?z, podemos supor que z,-z, = — p/; e as raízes cúbi-
cas da equação y* + py+ q=0, serão:
J=0+H2, )=wza+wiz, e y; = w?ez, + wz,.

Assim,
3 3 3
- |[DI, [PM Joao [Po 4
nova vota 5 V27 174
que vem a ser uma expressão obtida dos coeficientes através de repe-
tidas adições, subtrações, multiplicações, divisões e extrações de raizes.
Tais expressões são conhecidas como expressões radicais.
A equação geral do 4.º grau pode ser reduzida de modo análogo
ao anterior para uma equação do tipo
(x) v+pl+a+r=0
Seguindo um argumento de Descartes escolhemos uy, v e w tais
2
que (+) se reduz à équação | y? + 2) — (vy + w)? = 0 e daí seguem

as relações:
u2

(++) p=u-v,q=—2wer=——— wi.

As duas primeiras dessas relações nos dão: u=p+v e w=—q/


2
o. u
e substituindo-as em r = 4 — w? obtemos:

vº + 2pvt + (p?—-4r)v? — q? =0, a qual vem a ser uma equa-


ção cúbica em v?.
Assim, a equação do 4.º grau se reduz a uma equação cúbica
e novamente temos que as raizes de uma equação do 4.º grau são
dadas por uma expressão radical.
Ora, já que as raizes das equações de grau < 4 são expressões
radicais, naturalmente a pergunta que segue é inevitável:
Serã que as equações de grau 5 também são resolúveis por meio
de expressões radicais?
Muitos matemáticos importantes atacaram o problema. Euler
não conseguiu resolver o problema porém encontrou novos métodos
para a resolução da equação do 4.º grau. Em 1770 Lagrange conse-
guiu uma etapa que iria contribuir bastante na solução do problema
das equações de grau 5. Ele conseguiu unificar os argumentos nos
casos das equações de grau 3 e 4 e mostrou por que o tal argumento
falhava no caso do grau 5. À partir dai um sentimento de que a res-
posta para o grau 5 seria negativa tomou corpo entre os pesquisadores
da época. Ruffini, em 1813, tentou uma demonstração de tal impos-
sibilidade mas seus argumentos tinham muitas falhas [Bourbaki
— Elements d'Histoire des Mathematiques, Herman, Paris, pg. 103).
Finalmente em 1824 ABEL — provou que a “equação geral” de grau 5
não é resolúvel por meio de radicais. Porém, não ficou estabelecido
quando um polinômio de grau >5 é ou não “resolúvel por meio
de radicais”.
Em 1843 Liouville escreveu para a ACADEMIA DE CIÊNCIAS
DE PARIS anunciando que os trabalhos deixados por Evariste Galois
[1811-1832] continham uma solução que respondia precisamente
quando um polinômio de grau > 5 é ou não “resolúvel por meio
de radicais”.
A solução apresentada por Galois, ao caracterizar os polinômios
resolúveis por meio de radicais através de propriedades do grupo de
automorfismos de um corpo, é considerada uma das mais belas pá-
ginas da História da Matemática e, uma das principais conquistas
dessa ciência no século XIX.
No contexto desse livro introduzimos as noções algébricas neces-
sárias à demonstração do teorema fundamental de Galois (sobre Q)
e provaremos que o polinômio x” — 6x + 3 não é “resolúvel por
meio de radicais” pois o grupo de automorfismo do corpo de raizes
desse polinômio é isomorfo ao grupo Ss, de todas as permutações de
(1,2,3,4,5), o qual não é um grupo solúvel no sentido definido por
Galois.
CAPÍTULO I

NOÇÕES PRELIMINARES

Incluiremos sob o título acima a terminologia de conjuntos e


as noções de função e relação de equivalência. Deixaremos como
exercícios muitas propriedades elementares envolvendo essas noções
básicas.

81 Conjuntos

Entenderemos por conjunto uma qualquer coleção de objetos os


quais chamaremos de elementos do conjunto. O conjunto vazio (isto
é, o conjunto sem elementos) será denotado por 4). Usaremos letras
maiusculas para simbolizar conjuntos e minusculas para simbolizar
elementos (as exceções ficarão claras no contexto do livro).
Se x é um elemento do conjunto 4 escreveremos x € 4 e leremos
“x pertence a A”. Caso contrário escreveremos x É 4 e leremos “x não
pertence a 4”.
Como primeiros exemplos de conjuntos podemos citar os con-
juntos numéricos mais conhecidos, para os quais usaremos a seguinte
nomenclatura:
N = [0,1,2,...,m,...; (números naturais)
Z=[...—k,...,—1,0,1,...,m,...! (n.º inteiros)
m, neZ ,
O = <mpn: (números racionais)
nao
R = (números reais, isto é números racionais e números irracionais)
C + bi abeR
=+ta j:
i=/-1
Sabemos, por exemplo, que /2ER mas /2€0.
Quando todo elemento de um conjunto 4 pertence a um con-
junto B dizemos que À está contido em B ou A é subconjunto de B
e denotamos por 4 c B. Consideraremos o conjunto 4 contido em
qualquer conjunto (raciocine por absurdo).
Dois conjuntos 4 e B são iguais se possuem os mesmos elemen-
tos. Assim temos claramente que 4 = Bse e somentese ACBeBcC A.
2 | Introdução à álgebra

Se o conjunto 4 não estã contido no conjunto B usaremos a


notação 4 & B.
Em relação aos conjuntos numéricos acima temos
NcZcQcRCC.
O conjunto dos elementos que pertencem simultâneamente a um
conjunto 4 e a um conjunto B será denotado por
AnB=([x:xeAe xeB) e chamado de interseção de 4 e B.
O conjunto dos elementos que pertencem a um conjunto 4 ou
a um conjunto B será denotado por
AÚUB=(x:xe4 ou xEB) e chamado de união de A e B.
Claramente temos, quaisquer que sejam os conjuntos 4 e B, as
seguintes propriedades:

AND=D, AUVUD=A
An BCcCA, ACAUB.

Se 4 c B também dizemos que B contém 4 e denotamos por


B> 4.

EXERCÍCIOS
1. Prove que quaisquer que sejam os conjuntos 4,B e C, tem-se:
a) ACA
b)Se4cBeBcCentão4cC
c) Se 4cBeBcA então 4 =B.
2. Prove que quaisquer que sejam os conjuntos 4,B e C, tem-se:
a) ANn(BUC) =(AN BJu(AN CO)
b) AU(BnN O =(A4UÚVB)N (AVC)
c) AUB=BUA; ANB=BnA
d) AV(BUOC) =(AVBUC; AN (BN C)=(An BnC
e) AC B se e somente se AUB=B se e somente se AN B=A
3. Sejam 4,B c 9. Definimos:
Co4 =|(xeN:xéA4); A-—-B=(acA:aéB)
Prove que:
a) CAAUB) = CAN CB; CAN B)=CAUVUCB
b) AnCA =D; AVUCA =Q
c) 4 — B= An CB
d) CACGA)
= A
Noções preliminares 3

. Sejam 4,B e C c 9. Demonstre as afirmações verdadeiras e dê


contra-exemplos para as falsas:
a) Se AcBe B&Centão AFC
b) C(4 —- B)=CçAn B
c)JA-—-(B-C)=A-(BUC)
D(AUVB)-C=(4=OuU(B-C)
e) (4— Bn C=(An OC —-(Bn 0)
. Dê, se possível, uma condição necessária e suficiente para que se-
yam verdadeiras as seguintes afirmações:
Se 4,B são conjuntos então:
a) AU(B-—- A4)=B b) 4-(4-B)=B
. Se 92 é um conjunto, definimos o conjunto das partes de Q2Q por
PO) = (4:4 c Q!. Calcule P(9) para os seguintes conjuntos 9
abaixo:
a) O =D : b) O = (9):
co) OQ = (2,1, (1)): d) N=(xeR:x?<2ex?-4>0).
. Sejam X e Y conjuntos. Demonstre as afirmações verdadeiras e
dê contra-exemplos para as falsas:
a) Se X c Yentão P(X)c P(Y)
b) Se XcYentão PM(Y— X) = P(YW-— P(X).
Escreva os seguintes conjuntos 4 como união de intervalos:
a) A=(xeR:x?>lex?<4).
b) 4=(xeR:xº>4e x?<09).
c) A=(xeR:xº>20ux? > 1).
Sejam 4,B e C conjuntos. É verdade em geral que
a) AVUB=AVC>B=0" b) ANnB=ANC=>B=C"
Justifique!
. Calcule An B nos seguintes casos:
a) Se AUVUB=AUVC então B=C?
b) Se An B= An Centão B=C?

82 Funções
Sejam 4 e B dois conjuntos. Chamamos de função do conjunto
A no conjunto B a uma regra que a cada elemento de 4 associa um
único elemento de B, e denotamos simbolicamente por
f:Ã>B
a no f(a)
4 Introdução à álgebra

onde para cada a€ 4 estã associado um único b = f(a)e B, através


da regra que define f. Chamamos 4 de domínio da função fe B de con-
tra-domínio da função f.
Se XcA4Aef:A- B denotamos por f(X) ao conjunto f(X) =
= (f(x):xe X! - B o qual chamamos de imagem de X pela f. De-
tamos por Im f ao conjunto f(4) o qual chamamos de Conjunto Ima-
gem da f. Dizemos que a função f é sobrejetiva se Im f = B.
Observem que duas funções coincidem se e somente se possuem
os mesmos dominios, os mesmos contradominios e as mesmas regras.
Por exemplo, as seguintes funções abaixo definidas são distintas apesar
de possuirem o mesmo domínio e a mesma regra. Apenas a segunda
delas e sobrejetiva.

f:RSR g:R
> R*
x vox? = f(x) x no x? = g(x)

onde R* = (xeR:x >0).


Sef:A>Be Xc<A denotaremosporf|l,:X->B a função
cujo domínio é o conjunto X, cujo contra-domínio é o conjunto B
e cuja regra é a mesma de /f, isto é, flx) = f(x) qualquer que seja
xe X. Chamaremos f|, de restrição de f à X.
Dizemos que uma função f: A — B é injetiva se quaisquer que se-
jam x, ye 4, se x * y então f(x) £ f(y) (ou equivalentemente, quais-
quer que sejam x, ye 4, se f(x) = f(y) então x = )y).
Se f: A > B é uma função simultaneamente injetiva e sobrejetiva
dizemos que f é uma função bijetiva.
Observe que das funções abaixo
f:RS R* g:R*SR* eh:R>R
x vox? = f(x) x vox] = g(x) x vox) = h(x)

apenas as duas últimas são bijetivas (desenhe o gráfico).


Se f: 4 > B é uma função e y E B, denotamos por f”!(x) ao con-
junto
fm) =ixeA:fo)=)y)
o qual chamamos de imagem inversa de yeB pela f.
Observe que se yeB então f"!(y)c 4 e mais se yé Imf então
=
Noções preliminares 5

Se Yc Bdenotamos porf” !(Yao conjuntof !(Y) = (xe A:f(x)e Y)


e chamamos tal conjunto de imagem inversa de Yc B pela f.
Observe que em nossa terminologia temos,
se yeB, então f (y)=fH(y)).

Por exemplo, se f:R > R temos


XxX v> sen x
f4D= | = 5 + 2kn :ke 2| e
o conjunto fr! (io 1)
é igual a:
5
pe=tnitez)u fe Et UasteZfo je Tt Da iheZ]

Se f:A>Beg:B->C são duas funções denotamos por


gof:A>C a função definida por (gº f)(x) = g(f(x)) qualquer
que seja xe 4, a qual chamamos de função composta de g e f.
A função 1, : 4 > A definida pela regra Iu(x) = x qualquer que
seja xe4 é chamada de função identidade de A.
Observe que se f: 4 — B é uma função bijetiva então existe uma
função g: B > A definida por: se ye B, g(y) = x onde x é o único ele-
mento de A tal que f(x) = y (o elemento x existe pois f é sobrejetiva
e ele é único pois f é injetiva).
É de fácil verificação as propriedades:

gef=I, e fog=ts
A função g com as propriedades acima é dita ser a função inversa
(claro que ela é unica) da função f, e será denotada (não confundir com
imagem inversa) por g=f 1:B>54.
Por exemplo, se f:R > Rº onde Rº = (xeR:x>0)
x no et
então temos que f é bijetiva e mais f !:Rº > R
x vo log x
Se f:R>R com a * O temos que f (uma reta) é
x »oax+b
o , l b
bijetiva e mais f !:R>R é tal que foi(x) = —x — —,
a a
Introdução à álgebra

EXERCÍCIOS
1. Seja f: X — Y uma função e sejam 4,4" c X e B,B' cY. Prove
que:
a ACA>SI(ACTI(A): BB =>f(B)cfHB).
DAVA) =HAUV HA); 1 UBUOB)=fHB)UST(B)
c) f(AN 49) c f(A)n f(A). Se f é imjetiva vale a igualdade
HAN 4) = HA HA).
df UBNB)=f MBNSTHB).
e) f (CB) = Cly“(B).
f) Se f é bijetiva então f(CA) = C f(4).
X Y

Sejam as funções,
fexX>9TgrY>oZ,h:Z>W
Então prove que:

ho(gof) = (hog)of
Se f:X > Y é uma função bijetiva prove que existe uma única
função g:Y> X tal que fog=I,egof=lIy.
Seja f:X — Y uma função. Prove que:
a) f é injetiva se e somente se existe g: Y> X tal que gof = Ix
(i.e. f é invertível à esquerda)
b) fé sobrejetiva se e somente se existe h: Y> X tal que foh=1I,
(1. e., f é invertiível à direita).
Seja f:X — Y uma função. Prove que:
a) f!(Y(4)) > 4 qualquer que seja Ac X; f(f H(B)c B, qual
quer que seja BcY.
b) f (f(4)) = 4 qualquer que seja 4c X se e somente se f
injetiva.
c) f(f”'(B)) = B qualquer que seja Bc Yse e somente se f so-
brejetiva.
Se Q = [1,2,...,n) então denotamos por 5, = (f:N> O:f bijetiva).
Os elementos o de S, são também chamados de permutações de “.
Prove que: S, é um conjunto contendo n! elementos.
7. Dê exemplos de funções f,g:R >R tais que fog £gof.
8. Seja f: (1,2,...,m) > (1,2,...,n) uma função. Prove que:
a) Se f injetiva então m < n.
Noções preliminares 7

b) Se f sobrejetiva então m > n.


c) Se f bijetiva então m = n.
9. Seja f:lx,,X2,-.-,X,) > [X4,X>,-..,
X,) uma função.
Prove que:
a) Se f injetiva então f sobrejetiva
b) Se f sobrejetiva então f injetiva.
Seja f:R> R definida por:
fo)=x]-3x+ 2.
Calcule:
fH0), STO, 00),f “!(— 00,0]) e fr H([1,2])
Seja f:R > R definida por:
fo)=x?-—1.
Dê exemplo de conjunto não vazio Bc R tal que:
a) f'(B) = (D.
b) f”!(B) contém apenas um elemento.
12. Seja f:X — Y uma função e M,NcTY
Prove que:
foHM — N)=f"HM) — foH(N).
13. Para cada uma das 8 leis abaixo especificadas explicite subcon-
juntos não vazios X,Y c R de modo que:
a) y = f(x) defina uma função f:X > 7Y
b) y = f(x) defina uma função f:X — Y sobrejetiva.
c) y = f(x) defina uma função f:X > Y injetiva.
d) y = f(x) defina uma função f:X > Y bijetiva.
onde as 8 leis são as seguintes: y=x*;y) =x; y)=4-— x;
y=e; y=senx; y=sene; y=log e finalmente,
x—3
Voy
9

83 Relação de equivalência

Suponhamos que em um conjunto 4 esteja definida uma rela-


ção entre pares de elementos de 4. Se x,x'€e 4 escreveremos x R x
8 Introdução à álgebra

se x estiver relacionado com x, e x%x' se x não estiver relacionado


com x.
Por exemplo, se 4 é o conjunto de retas do plano, ortogonalidade
define uma relação % entre pares de elementos do conjunto 4. Ana-
logamente, paralelismo define uma relação no mesmo conjunto 4.
Vamos agora definir o que vem a ser uma relação de equiva-
lência em um conjunto 4.
Seja 4 um conjunto e seja % uma relação entre pares de elementos
de 4. Dizemos que % é uma relação de equivalência em A se as se-
guintes propriedades são verificadas quaisquer que sejam x,x e x'€ 4.
| xBRx
2. Se x Rx então x Rx
3. SexAx ex Rx” então x Rx”.
As propriedades acima são chamadas, respectivamente, reflexiva,
simétrica e transitiva.
Observe que 1 não é reflexiva nem transitiva. Se consideramos
duas retas coincidentes como paralelas então paralelismo define uma
relação de equivalência no conjunto de retas do plano.
Quando uma relação à em um conjunto 4 for de equivalência
vamos em geral usar a notação — em vez de 4X.

EXEMPLO 1. Seja f: 4 > B uma função e vamos definir uma rela-


ção de equivalência no domínio 4 da f, do seguinte
modo:
xx €eM, x- x se f(x) = f(x)
A relação acima definida é claramente uma relação de equiva-
lência no domínio 4 da função f. Veremos mais adiante na Propo-
sição 2 que qualquer relação de equivalência em um dado conjunto
A € proveniente de uma certa função como no Exemplo 1.
Seja — uma relação de equivalência em um conjunto A e seja
xe 4. Vamos definir agora o que chamamos por classe de equiva-
lência x do elemento x em relação a —,a qual denotaremos por
x=(ac4:a- x).
Antes de enunciarmos a proposição 1 vamos explicitar o signi-
ficado de alguns dos símbolos matemáticos mais utilizados.
3 — símbolo significando: “Existe”
Y — símbolo significando: “Para todo(s), “qualquer que seja” ou
“quaisquer que sejam”
Noções preliminares 9

p > q-símbolo significando: “Se a proposição p é verdadeira então a


proposição q também o é”.
p <> q-simbolo significando: “A proposição p é verdadeira se e somente
se a proposição q é verdadeira”.

PROPOSIÇÃO 1. Seja — uma relação de equivalência em um conjun-


to A e sejam x, ye 4. Então
=V<>
=y
o À) ma

+ y= ny=D
|
XI

X=A
E A
Bal

Demonstração. 1. (=): Sejam x, ye 4 e x = y. Vamos provar que x — ).


De fato, pela definição de classe de equivalência temos,
=(geA:ia-xi=([zeA:iZz-yp=)
|

e como xe X =) vem imediatamente que x — y.


(<=): Sejam x,ye4 e x- y. Vamos provar que x =) e para
Isso temos que provar que XcCy e yc x.
Vamos primeiramente provar que x cy. Seja a um elemento
arbitrário em x, vamos provar que ae).
Se aex temos a- x e como x - y (por hipótese) segue pela
transitividade que a — y e portanto ae ) como queriamos demonstrar.
Agora, se x — y temos por simetria que y — x e de modo análogo
ao anterior chegamos à inclusão y c x e dai segue que X = y como
queriamos demonstrar.
2. Suponhamos x,ye4 e x * ). Se existisse algum elemento
aexn ) teriamos a- x ea ye, usando a simetria, seguiria x — a
ea- ye pela transitividade teriamos x — y e pelo item 1 dessa pro-
posição xXx = y o que contraria a nossa hipótese, assim XxNn Y=
como queriamos demonstrar.
3. Vamos provar que |) x = 4. De fato, temos primeiramente
XEA

que xc AVxeA e daí segue que |) x < 4. Reciprocamente temos


XxEA

que xexVxe4 e portanto segue que 4 c |) x, e isto completa a


XxEA

demonstração da Proposição 1. E

EXEMPLO 2. Seja 4=Z =f[...,—k,...,— 1,0,1,...,m,...; e seja


n um número inteiro arbitrariamente fixado.
10 | Introdução à álgebra

Vamos definir uma relação de equivalência em Z do seguinte modo:


xx eZ, x- x<>x — x é um multiplo inteiro de n.
Claramente — define uma relação de equivalência em Z. Essa
relação de equivalência recebe o nome de congruéência módulo n e é
geralmente indicada por = (mod n).
Assim, x,x'eZ, x= x (mod n)<>x — x é um múltiplo inteiro
de n.
Vamos agora calcular a classe x, relativamente a = (mod n).
SexeZ, x=(aeZ:a=x (mod n)j eaex<>a =x (mod n)<
<>a-x=k-nkeZ<eoa=x+4 ken, keZ.
Daí segue que: x= (x + kn:keZ).
Observe que se n = O temos que X = (x) e que = (mod 0) nada
mais é do que a relação de igualdade em Z, e nesse caso existe um
número infinito de classes x = (x; em Z. Provaremos mais tarde que
se n>0 a relação = (mod n) nos fornece exatamente n classes dis-
tintas quais sejam 0, 1,...,n
— 1.
Assim, por exemplo, = (mod 3) nos fornece exatamente as clas-
ses O, 1, 2 que são as classes dos números que deixam respectivamente
restos zero, 1 e 2 na divisão por 3.
Agora vamos definir a noção de conjunto quociente.
Seja — uma relação de equivalência em um conjunto 4. Cha-
mamos de conjunto quociente de A pela relação de equivalência —, e
denotamos por A/., ao conjunto de todas as classes de equivalência
relativamente a relação —.
Assim,

Al. =X :xe AJ.

Na relação = (mod n),n >0, em Z temos Z = moan = 10, 1,2,..,n— 1)


que também será representado por Z, = (0,1,2,...,n — 1).
Vamos enunciar agora o resultado que nos diz que toda relação
de equivalência em um conjunto 4 é proveniente (como no Exemplo 1)
de uma função.

PROPOSIÇÃO 2. Seja — uma relação de equivalência em um conjun-


to Aeseja Aj. = 4X:xE AJ o conjunto quociente
de A por =. Seja n:A > A/. definida por n(x) = X,V xe 4 (7 é cha-
mada de projeção canônica).
Então a relação — é proveniente da função n como no Exemplo 1.
Noções preliminares 11

Demonstração. De fato, basta observar pelo item 1 da Proposição 1


que se x,ye4 temos, x- y<>X=y<rn(x) = 7n())
como queriamos demonstrar. E

84 Produto cartesiano e operação


binária em um conjunto
Vamos iniciar esse parágrafo introduzindo a noção de produto
cartesiano de dois conjuntos. Sejam 4, e 4, dois conjuntos não vazios.
Definimos produto cartesiano dos conjuntos 4, e 4, como segue:

A, x 4, =+(a,,45): asA, onde,


i=1,2

(a,, 43) =(bob)<a,; =— b,, | = 1,2.

Se 4, = 4, = 4 denotamos por 4? o produto 4, x 4,.


Usando a noção acima podemos reinterpretar a noção de relação
de equivalência em um conjunto 4.
Seja 4 um conjunto não vazio e seja % um subconjunto do pro-
duto cartesiano 4?. W diz-se uma relação (binária) em A.
Usando a definição: se a, be 4, “a estã relacionado com
b” <> (a, be %, podemos interpretar à como uma relação entre pares
de elementos de A. Assim, para que a relação acima definida seja uma
relação de equivalência é necessário e suficiente que: Va,b,ce4
1) (a,a)e R (reflexividade)
2) (a, be R > (b,a)e R (simetria)
3) (a, be RAR, (bo)jeR => (a, c)JeR (transitividade)
Por exemplo, à = ((a,a):ae A! define a relação de igualdade no
conjunto 4, que é evidentemente uma relação de equivalência em 4.
Se 4 =R então a interpretação geométrica das propriedades 1.
e 2. nos diz que: o subconjunto % do pleano R? contém a reta y = x
e é simétrico em relação a essa mesma reta, diagonal dos 1.º e 3.º qua-
drantes do plano.
Vamos agora definir a noção de operação (binária) em um con-
junto não vazio 4. Chamamos de operação (binária) em A uma função
O:A x A> A
(a, b) »> O(a, b) = al0b.
12 | Introdução à álgebra

A operação O diz-se associativa se Va,b, ce A tem-se a0(b0c) =


= (a0b)0c, e diz-se comutativa se Va,be À tem-se a0b = bla.
Como exemplos de operações associativas e comutativas temos
a soma e o produto nos conjuntos numéricos Z, Q, Re €. É de fácil
verificação que a composição de funções define uma operação não co-
mutativa no conjunto Z(R) de todas as funções f:R>R.
Existe um ramo de álgebra que se dedica ao estudo das estruturas
algébricas não associativas porém ele foge inteiramente aos nossos
propósitos.
É fácil verificar que se 4 = fa,b) e O é a operação definida por:
a0b = bOb = b e ada = bla = a então O é uma operação em 4 não
comutativa e não associativa.
De modo análogo podemos introduzir a noção de produto car-
tesiano de mais de dois conjuntos e deixamos isso por conta do leitor.

EXERCÍCIOS
1. Seja 4 um conjunto não vazio e P(A) o conjunto das partes de 4.
Dizemos que um conjunto não vazio P c P(A) é uma par-
tição do conjunto A se:
() VB, B,ePB,£B>B,NB,=
(ii) (JB=4.
BeP

Prove que: se x, ye 4 e definimos x - y<>IBeP tal que x, ye B,


então — define uma relação de equivalência no conjunto 4. Mais
ainda, A/. = P.
2. Seja A um conjunto não vazio e — uma relação de equivalência
em 4. Prove que 4/. é uma partição do conjunto 4.
3. Sejam 4,,4,,..., 4, conjuntos. Definimos
AxAx...xA=((a,,a,,..sa):aeA,, i=1,2,...,n)

onde,
(a,,a,,..a)=(b,,bo,...,.b)ea,=b, Vie(l,2,...,n).
E chamamos 4, x 4, x ... x A, de produto cartesiano dos con-
juntos 4,,45,...,4, Se A=A,=A4,=...=4A, esse produto
é denotado por 4”. Pergunta-se:
É MR x R)=P(R)x P(R)? Justifique!
Noções preliminares 13

4. Se 4=(0,1) e B= (0,2,3!. Calcule P(A x B) e P(4) x P(B).


5. Dê 3 exemplos de relações binárias no conjunto R dos números
reais tais que no 1.º exemplo, a relação não seja reflexiva; no 2.º
exemplo, não seja simétrica e no 3.º exemplo, não seja transitiva.
6. Seja f: X — Y uma função.
Prove que:

Xp X2€ X, x, — x) <> f(x) = f(x5)


define uma relação de equivalência no conjunto X (Nesse caso
dizemos que — é a relação de equivalência induzida por /).
7. Descreva as classes de equivalência e os conjuntos quocientes em
relação a — induzida pelas seguintes funções:
af:R5>R
xs f(x) =x? — 5x + 6
b)f:Z>Z
x no f(x) =x? — 7x + 10
)f:iRxRSR
(4,7) > f06,)) =»
D)f:RxRSR
Oy) fl y)=+V/xX4 7
. Prove que (x,y) — (x',y) <> xy' = x'y define uma relação de equi-
valência no conjunto Z x Z*? onde Z” = Z — (0).
. Dê exemplo de relações de equivalência - em um conjunto X
tais que:
a) X/. = (4X)
b) x=(x)VxeX
c) X seja um conjunto infinito e o conjunto X/. contenha exata-
mente 11 elementos.
d) X seja um conjunto infinito e X/. também seja um conjunto
infinito.
10. Teste a validade das propriedades reflexiva, simétrica e transitiva
para as relações binárias definidas através dos seguintes subcon-
juntos Oc Rx R =R? (plano real):
a) O=((xyeR?:x>0€e y>0)
b) N=f(xyeR?:y=x)
o) Q=((xyeRt:x<0ey>0
d) DO=((xyjeRZ:x+y?<1)
e) 9) = região dos pontos (x, y) do plano tais que 1>y —-x>-—1
14 || Introdução à álgebra

11. Uma relação < entre pares de elementos de um conjunto A diz-se


uma relação de ordem parcial em A se:
(1) x<xVYxeR
(1)x<yey<x>x=y Yx, yEA
(Wu) x<yey<z>x<z YxyzEA
Uma relação de ordem parcial diz-se total ou linear se (iv)Vx, ye A,
tem-se x<y OU yYy<xX.
Prove que:
a) x< y<>(y— x) é não negativo, define uma relação de ordem
total no conjunto Z.
b) Se 4 = 7(R) é o conjunto de todas as funções reais f:R > R.
Então:
f<gefb)<gb)YxeR
define uma relação de ordem parcial em 4 que não é total em 4.
CAPÍTULO II

OS NÚMEROS INTEIROS

Neste capítulo apresentaremos uma visão algébrica dos números


inteiros e para isso admitiremos conhecidas as propriedades elementares
do conjunto Z.

81 Propriedades elementares
No conjunto Z estão definidas as operações de soma e produto
+:Zx757 e ccifxi5TZ
(O )rox+y (x, 7) > xe)
as quais gozam das seguintes propriedades: Vx,y,z€E Z,
(1) (x+y)+z=x+(y+ z) (associatividade da soma)
(1) 10€eZtalquex + 0 =0+ x = x (existência do elemento neutro)
(11) 3 —xeZ tal que x+(—-x) =(—-x) + x = O (existência de in-
verso aditivo de cada elemento xe Z)
(Iv) x+ y=y + x (comutatividade da soma)
(v) (xe y)-z = x*(y*2z) (associatividade do produto)
(vi) JleZ tal que xl = 1.x =x (existência da unidade em Z)
(vi) xy = ye x (comutatividade do produto)
(viii) x(y+ 2z)=xey+ xe2z (distributividade do produto em relação
à soma)
(ix) xy=0=x=0 ou y = 0 (Z não possui divisores de zero)

Veremos mais tarde estruturas algébricas que não satisfazem a


propriedade (ix), isto é, estruturas com divisores de zero (que são
elementos não nulos a e b tais que a- b = 0). Usaremos a notação xy
em vez de x y, para simbolizar o produto dos elementos x e y em Z.
Por possuir essas 9 propriedades acima dizemos que Z munido
da soma e produto é um domínio de Integridade.
Mais adiante essa noção será definida com toda a generalidade.
16 | Introdução à álgebra

82 Boa ordenação e algoritmo da divisão

Em Z existem as noções de “ordem” < e de módulo | |, as quais


admitiremos com algumas de suas propriedades básicas. Com o obje-
tivo de demonstrar o algoritmo da divisão de Euclides iniciaremos
esse parágrafo admitindo o princípio da boa ordenação em Z.

Princípio da boa ordenação:


Todo subconjunto não vazio S de Z de elementos não negativos
possui um primeiro elemento, isto é, 3 x,€ S tal que x, < xYxES.
Vamos agora provar algumas propriedades de Z usando o prin-
cípio da boa ordenação.

PROPOSIÇÃO 1. Não existe inteiro m tal que O<m< 1.

Demonstração. De fato, suponhamos por absurdo que existe tal me Z,


O<m<il.
Assim o conjunto S= fmeZ:0<m< 1) é não vazio e pelo
princípio da boa ordenação IJ x,eS tal que xy <x YxeS. Como
x9€S temos O < xp < 1 e daí segue que O < xi < xo < 1 e isto con-
tradiz a minimalidade de x,€S. E

PROPOSIÇÃO 2 (Indução — 1.º forma). Suponhamos que seja dada


uma afirmação a(n) depen-
dendo de neN tal que:
(1) a(0) é verdadeira.
(1) Para ke N, a(k + 1) é verdadeira sempre que a(k) for verdadeira.
Então, a(n) é verdadeira YneN.

Demonstração. Seja S o conjunto dos inteiros me N tais que a(in)


seja falsa, e suponhamos que S * (7. Pelo princípio
da boa ordenação 3 x,€ES tal que x, <m YmeS. Como a(0) é verda-
deira, por hipótese temos que 0$S e portanto x, > 1; mais ainda
como xy — 1 ÉS temos que a(x, — 1) é verdadeira. Agora pela hipó-
tese (ii) segue que a(x,) = al(xo — 1) + 1] é verdadeira o que é uma
contradição. Logo $ = (% e a Proposição 2 está demonstrada. E
Os números inteiros 17

PROPOSIÇÃO 3 (Indução — 2.º forma). Suponhamos que seja dada


uma afirmação a(n) depen-
dendo de neN tal que:
(1) a(0) é verdadeira.
(mn) Para cada inteiro m > 0, a(m) é verdadeira sempre que a(k) for
verdadeira para O<k <m.
Então, a(n) é verdadeira YneN.

Demonstração. Seja S o conjunto dos inteiros me N tais que a(m) seja


falsa e suponhamos que S é não vazio. Como acima,
Ixp€ES tal que xy <xYxeEsS, e pela hipótese (1) xy > 0. Portanto,
a(k) é verdadeira Vk, O<k< x, e (ii) nos dá uma contradição.
Observe que as Proposições 2 e 3 poderiam ser enunciadas a
partir do inteiro 1 em vez de zero e nesse caso a hipótese (i) seria a(1)
é verdadeira. As mesmas demonstrações funcionam com as devidas
modificações.

TEOREMA 1 (Algoritmo da Divisão). Sejam n, de N ed > 0. Então


existem únicos q, re N, tais que
=qd+re0O<r<ad.

Demonstração. Provaremos a existência usando indução (2.º forma)


|sobre n.
Se n< dexistem q = 0,r = n, assim podemos assumir n > d > 0.
Então temos O<n— d<n e pela hipótese (ii) de indução (2.º
forma) segue que dlg,,reN'taisquen—- d=q d+ronde0O<r<d
e daí segue que n=(q,+ Id+r onde O<r<d. Assim existem
q=q,/+1 ereN como queriamos demonstrar.
Provaremos agora a unicidade. Suponhamos que existam q,, r,,
Go»r,eNtaisquen=qgd+r,0<r,<den=qad+R,O<r,;<d.
Daí segue que, qd +r,=qd+r,onde0<r,<de0<r,<d.
Como d > 0 suficiente provarmos que r, = r, pois nesse caso teriamos
qd =q,d ou seja q, = q,. Suponhamos por absurdo que r, £r,,
por exemplo r, > r,. Nesse caso teriamos
O<r—r,=(g,— qd.
Mas também r, —-r,<d poisr, <der,<d,e daí segue que:
O<r—-r=(g—qld<d
o que é um absurdo, e isto termina a demonstração do Teorema 1. 8
18 | Introdução à álgebra

Observem que na demonstração do Teorema 1 a afirmação a(n)


usada na indução foi a seguinte:
“Jg,reN tais que n=qgd+r, onde O<r<d”.

EXERCÍCIOS
1. Enuncie as Proposições 2 e 3 a partir do inteiro 1 e prove por indução
as seguintes fórmulas:

a) 1424... 4 n= 05) Yn
> il inteiro.

b) tas + tnenna LD Yn > 1 inteiro.

c) 484 tens = |
2

D)1+3+...+Qn- D=n
2. Prove que o conjunto S= (meZ:7<m<8) é vazio.

3. Sem,neN e n>m definimos Cl=— Bo onde


m (n— mm!
n!=n(n—-1)...3:2:] sen>1e 0! =1. Prove (por indução
sobre n) a seguinte fórmula onde n >m > 1 são inteiros:

4. Se x, yeZ e neN.
(mo) (mn) (1)
m—1
Prove
m
por indução
n
sobre n que:

(x+y=x"+ (1)7» +... + (1) Xi +. +y

(Sugestão: Use o exercício 3)


S. Seja a £0€eZ e meN. Definimos potencia não negativa de a do
seguinte modo:
aà=1l,al=aa"=aa..asem>2.
vo—s
Os números inteiros 19

Prove que:
a) a".g" = qrtr Ym, neN
b) (a”)"
= a” Ym, neN.
6. Prove, por indução sobre n, que nº + 2n é sempre divisível por 3.
7. Se A = (1,2,...,n; denotamos por P(4) o conjunto das partes de
A, ie, P(A) =(B:Bc 4). Prove que |P(4)|=2", onde |X|
denota o número de elementos do conjunto X.
8. Se n é um natural impar. Prove que nº — n é sempre divisível por 24.

83 IdeaseM.D.C.

Neste parágrafo vamos provar a existência de Máximo Divisor


Comum em Ze para isto vamos definir a noção de Ideal do dominio Z.
Seja J c Z. Dizemos que J é um ideal de Z;se as seguintes condi-
ções são satisfeitas:
(1) OcJ
(un) xyeJ=>x+yeJ
(11) xeJ=> —xeJ
(1v) reZ, xeJ=>rxed.
Observe que as condições (1), (ii) e (iii) poderiam ser substituidas
pelas condições
0) JA
(n) xyedJ=>x-—yed.
De fato, se xeJ + então O=x— xeJ por (ii). Agora se
xeJ então —x =0 — x€eJ,e finalmente se x, yeJ temos x, —yeJ
e dai segue x+ y=x— (— y)EJ como queriamos demonstrar.

EXEMPLO 1. Se n é um número inteiro qualquer, então o conjunto


de todos os múltiplos inteiros de n é um Ideal de Z.
De fato, seja J = (nk:keZ) o conjunto de todos os múltiplos
inteiros de n. Então segue que:
(1) 0O=n0EJALD
(un) x=nk, y=nreJ>x-—y=nk-—r)eJ
(iv) reZ, x=nkeJ=>rx=xr=n(kr)eJ
Observe que no Exemplo 1, sen = O temos que J = (0) é um ideal
deZ,esen=1,J=1.Z = Zétambém um ideal de Z. Esses ideais são
chamados de ideais triviais de Z. Se J é um ideal de Z tal que (0) + J * Z
20 Introdução à álgebra

dizemos que J é um ideal próprio de Z. Por exemploJ =2.Z =


= (2.k:keZ) é um ideal próprio de Z. É usual a notação n- Z para o
ideal dos múltiplos inteiros de n.

EXEMPLO 2. Se n,,n,,...,n, são números inteiros quaisquer então


o conjunto de todos os números inteiros da forma
nyr, +... + ny, onde r,,...,r, são inteiros, é um ideal de Z.
De fato, seja J=(nr,+...+ny,:rieZ;. Então segue que:
(1) 0=n,.0 +... +n0eJAD
(uu) x=nr,+...+tnyr, y=ns+.. +nsel=>
=> x—y=n(r,—-sy)+..+nkri— sl
(iv) reZ, x=nr,+...+nreJ=>
> rx=xr=n(rr5y+... + ndrujel.
É usual a notação nZ +... + n;Z para o ideal J
O Ideal ne Z dos múltiplos do inteiro n é também chamado de
Ideal principal gerado por n, enquanto oidealn,Z + ... + n,Z é chamado
de ideal gerado pelos inteiros n,,...,n,.
Antes de demonstrar a existência do Máximo divisor comum em Z
provaremos o seguinte Teorema:

TEOREMA 2 (Z é um dominio principal). Todo ideal de Z é principal.

Demonstração. Seja J um ideal de Z. Se J = (0) então J é um ideal


principal gerado por 0.
Suponhamos que J * (0). Assim existe O £ xe J e pela proprie-
dade (iii) temos — xe J e portanto |x|€J,|x| > 0, ou seja, o conjunto
S dos inteiros > O pertencentes à J é não vazio. Pelo princípio da boa
ordenação 3 de J, tal que d é o menor inteiro > O em J. Vamos provar
que d.Z =J.
Claramente d.Z cJ pois se deJ e neZ então dr =rdeJ
por (iv). Assim é suficiente provarmos que J cd-Z.
Seja x € J. Pela propriedade (iii) temos que | x |€ J e pelo Algoritmo
da divisão temos que dg,reZ tais que:

|xl=qgd+r onde O<r<d


Os números inteiros 21

Daí segue que 0 <r =|x|—- gd < d. Como |x|e q: de J temos


eJe0O<r<a.
Pela minimalidade de d segue quer = Oeportanto|x| = q-ded-Z
> novamente por (iii) teremos xe d-Z (desde que d-Z é também um
ideal), como queriamos demonstrar. E

TEOREMA 3 (Existência de M.D.C. em Z). Sejamn,n,,..., ny inteiros


não nulosesejaJ =n,Z+
+... + nZ o ideal gerado por n,,..., ny.
Se deZ é tal que J) = d-7Z então são válidas as seguintes afirma-
:0€S:
(a) 3r,,...,r,eZ tais que d=n,r, +... + ny,
(b) d é um divisor comum de n,,..., ny.
(c) Se d' é um divisor comum qualquer de n,,...,n, então d' é
ambém um divisor de d.

Demonstração. (a) Sai imediatamente da igualdade d.Z = n,Z +


+... + n,Z e do fato ded-Z.
(b) Sejaie(l,..,kjed.Z=n,Z+...+n,Z então é claro que,
nenZcenZ+.+nZ+..+nZ=dZ
: portanto dr,e Z tal que n, = dr,, isto é, d é um divisor de cada n,,
=1,...,k.
(c) Seja d' um divisor comum qualquer de
nyhno,--on,. Assim, Ir,i=1,2,...,k
al que n,=d'-r, ou seja: nZ cd ZVie(l,2,...,k) e daí segue
mediatamente que:
nZ+..+nZ=dedz
* portanto: de d' Z, isto é, dreZ tal que d = d'r e isto demonstra o
tem c) do Teorema. E
Um número satisfazendo as condições dos itens b) e c) do Teorema
3 diz-se um M.D.C. de n,,n,,...,n, em Z.
Observe que se d é um M.D.C. de n,, n,,...,n, em Z então —d
ambém o é poisd Z = —d Z. É claro também que em Z existe um único
U.D.C. positivo de n,,n,,...,n,, (e nesse caso dizemos o M.D.C. de
145 >, --., ny) O qual denotaremos por M.D.C. (n,, ...,n,). Assim, pelo
tem a) do Teorema 3 se d = M.D.C. (n,,...,n,) então existem inteiro
1, ---sHry tals que d=n,r, +... + ny.
22 Introdução à álgebra

Se 1 =M.D.C. fn,,...,n,) dizemos que n,,...,n, são relativa-


mente primos em Z e pela observação anterior dr,,...,r, tal que:
l=n,r, +... + ny.

EXERCÍCIOS
1. Definindo,
| |:Z 5 N
o ja se a>0
a volal = e a<o0
Prove que:
a) /a/>0 VaeZ; |a/=0+4=0
b) la+b|<l|al+|b| VabeZ
c) ja - b|=[lal- |b| VabeZ
d) la-bl>|al-|bll VabezZ.
2. Dados a, be N — (0). Aplicando sucessivamente o algoritmo de
Euclides temos:
a=qob+rs O<r,<b
b=qar+tr, O<r,<r;,
rr=Qr+trs, O<r;<r

MR =Quairma tra» O<ra<r


como r,>r,>r,>...>r;>r,;, >0 temos que existe um
primeiro inteiro s tal que r,,, = O. Prove que r, = M.D.C. (a, b).
3. Usando o exercício anterior. Calcule M.D.C. (180,2523.
4. Calcule r e seZ tais que M.D.C. (a,b) = ra + sb nos seguintes
casos:
a)a=21; b = 35.
ba=ll; b=15.
c) a = 180; b = 252.
S. Prove quesea,beZ edr,seZ tais que ra + sb = 1 então M.D.C.
(a, b) = 1.
6. Prove que se a>0 e b,ceZ então,
M.D.C. (ab, ac) = a-M.D.C. (b,c).
7. Demonstrar que:
Se M.DC. (a,n) = M.D.C.(a,m) = 1 então M.D.C. (a, mn) = 1.
Os números inteiros 23

8. Demonstrar o algoritmo da divisão quando o divisor d é negativo.


Que nesse caso o resto r satisfaz O<r<|d|.
9. Quais dos seguintes subconjuntos I de Z abaixo são ideais de Z:
a) 1 = (meZ : alguma potência de m é divisível por 64).
b) I=(meZ:MDC.(7,m) = 1).
c) 1 = (meZ:m é um divisor de 24).
d) 1 = (meZ:24 é um divisor de m).
e) 1I=(meZ:Ome24m?.
)I=(meZ:21-m é divisível por 91.
10. Se 1,,1,,...,1, são ideais de Z. Prove que:
a) Lin Ln..n II, é um ideal de Z. |
bDh+L+..+L=b+xMm+. +xxeli,
j=1,2,...,r), é um ideal de Z.
11. Identifique q tal que Z,n Z, = 2Z-q.
12. Se LLchLc...cI,clI,,,<...são ideais de Z. Prove que:
JI,=J é um ideal de Z.
r=1

13. Prove que:selZJeJ ZlIondeleJ são ideaisdeZentãoIUÚJ


não é um ideal de Z.
14. Seja 1 um ideal de Z. Prove que se 1eI então 1 = Z.

84 Números primos e Ideais maximais


Sejam d e n elementos de Z. Dizemos que d é um divisor de n em Z,
e escrevemos dn, se 3 be Z tal que n = d b (nesse caso também dizemos
que n é um multiplo de d). Dizemos que um inteiro p é um número primo
de Z sep* + 1 eos únicos divisores de p são + 1 e + p. Observe
que esta definição de número primo é equivalente a seguinte:
peZ é um número primo se p £ + 1 e toda vez que p = ab, com
abeZ, então a=+loua=+p.
Vamos agora provar duas proposições que nos serão úteis no
próximo parágrafo.

PROPOSIÇÃO 4. Se um número primo p não é um divisor de um


número inteiro n, entãod r,se Z taisquerp + sh = 1.
24 | Introdução à álgebra

Demonstração. Seja d > 00 M.DC. de pen, isto é,d = M.D.C. tp, nj.
Pela definição de M.D.€. temos que d é um divisor
de p e portanto d = 1 ou p. Mas como «Àn e p não divisor de n, temos
que d=1| ea proposição segue pois led.Z =p-Z+4nZ. E

PROPOSIÇÃO 5. Todo número primo que divide um produto divide


pelo menos um dos fatores.

Demonstração. Suponhamos que pub e que p não é divisor de a e


vamos provar que p'b. De fato, pela proposição 1 segue
que Jr,seZ tais que,

pertacs=1
e multiplicando ambos os membros da igualdade por b, temos que,
pelreb+(acb)es=b.
c portanto pib. E
Vamos agora definir a noção de ideal maximal em Z e relaciona-la
com numeros primos.
Um ideal 4 de Z diz-se um idealmaximalem Z se MH £ZeseJ é
um ideal de Z tal que
Mcl]cZentãoJ=á ouJ=fZ.

Em outras palavras, um ideal 4 £ Z de Z é dito maximal se os


únicos ideais de Z contendo 4 são A e Z.

TEOREMA 4. Se peZ eJ=p-Z então as seguintes condições são


equivalentes:
(1) p é um número primo.
(un) J = p-Z é um ideal maximal em Z.

Demonstração. (1) = (ii): Seja p um número primo e J = p-Z. Vamos


provar que J é um ideal maximal em Z. De fato, seja
I um ideal de Z tal que,
JclcZ.
Pelo Teorema 2 do parágrafo 3 temos que existem inteiros n tal
que I=nºZ.
Os números inteiros 25

Assim, pep-Z c nZ, e dai segue p=nk para algum ke Z,


portanto nip e teremos n= +l] ou n= +p.
Sen=+lveml=Zesen=+p vem lI=lJ como queriamos
emonstrar.
(1)= (1). Suponhamos J = pZ um ideal maximal em Z, e seja
um divisor de p, isto é,p = de bonde be Z. Vamos provar que d = +I
ud=+p.
Como J = pZ £ Z segue que p +1.
Agora, seja p = d-b, então é claro que se 1! = d.Zteremos pel
JcleZ.
Como J é maximal, por hipótese, segue que:
J=plZ=dZ=I ou Il=dZ=+7.

Na primeira possibilidade de pZ, ou seja d=p-a, e dai segue


ue p=p-a-b,e como p * O segue a-b = 1,a,b,e Z. Assim, teremos
uea=+1,b=+1,e isto finalmente nos diz que d = + p.
Na segunda possibilidade dZ =Z segue imediatamente que
= + |. Assim acabamos de provar que os únicos divisores de p
ão + le +p, isto é p é um número primo. E

5 Fatorização única

Antes de enunciarmos o teorema principal deste parágrafo, vamos


izer uma observação.
Seja neZ, uel— 1,1; e p,,...,p, números primos positivos.
"amos usar a expressão n = u-p,...p, de tal modo que incluiremos
a mesma a possibilidade n = + 1 no caso de k=0, en=+p,
o caso de k = 1.

EOREMA 5 (Z é um Dominio Fatorial). Todo número inteiro não


nulo n pode ser escrito na
rma,
n=up,...prondeue(l-1Lltep, <p<..< p
Jo numeros primos positivos (não necessariamente distintos). Mais
inda, essa expressão é única.
26 | Introdução à álgebra

Demonstração. Claramente é suficiente provarmos o teorema para


neN — (0! =(1,2,...,m,...; e nesse caso u=1 ea
expressão se reduz a
n=Pp,'P>...PbpP, <P,<.. < p, primos > 0.
Vamos primeiramente provar que n pode ser escrito como acima,
e a demonstração será por indução sobre n.
Se n=1 temos que n=up,...Pppu=lek=0.
Vamos agora supor que todo numero inteiro m, | <m < n pode
ser escrito como produto de primos. Vamos provar que n também
pode ser escrito como produto de primos.
Suponhamos, por absurdo, que n não pode ser escrito como pro-
duto de primos. Então n não é um número primo, e assim existem
divisores de d' de ntais que: n=dd, |I<d, d' <n.
Pela hipótese de indução segue que, d=q,ºG,...G, 4) <G <
<... <q, são primos positivos, d =q9,ºG>...G, q) <q, <...q, São
primos positivos.
Dai segue,
n=dd=(g,...g)(g,...g)

e rearranjando os números primos g,,...,4,,9,,-..,q, podemos es-


crever,
n=p,'p,-..p, onde k=r+s

e DP, <Pp,<...< p, como queriamos demonstrar.

Vamos agora demonstrar a unicidade da expressão n = u* P,... Pr


uel-l,lbep,<...< p, primos > 0.
De fato, sejan=up,...Pp Pi <P; <... < p, primos positivos
en=u-p,...p, PL <p, <.. <p, primos positivos.
Assim,
ueD,..PD;=Uºp..p>u=u
/ 1

e
Pr. Pk = Pi. Ps
Vamos agora provar que isto implica que k = se p,= p,i= 1,2,...,k.
A demonstração será por indução sobre o inteiro k.
Seja k = 1. Nesse caso teremos p, = p,...p, e isso nos diz que
PAP; e como são primos positivos segue que p, =p, e portanto
s=1]=kep,=p+
Os números inteiros 27

Suponhamos agora verdadeira a unicidade toda vez que tivermos


um produto de r fatores primos positivos onde | <r <k e vamos
provar a unicidade para k fatores primos positivos.
Temos, p,*Pp,...Pk=Piº'P>... Pp; k >2. Pela Proposição 5 do
parágrafo anterior segue que dj, | <j<s tal que p,'p;, e como são
primos positivos segue que p, = p; para algum j, 1 <j < s. De modo
análogo p, =p; para algum i, | < i<k.
Ágora como p, <p;<...<p, ep, <p,<..< p, segue que
PD, = Di.
Então teremos, p,...Dp, = P>...p, e daí segue pela hipótese de
indução (r =k — I)que:k — | =s- ]ep, =p5,--..,P, = Py € assim
concluimos que À =s e mais p, = p;, | = 1,2,...,k, como queriamos
demonstrar.
É conveniente reunirmos os fatores primos iguais na expressão
de um inteiro como produto de primos.
Assim, se n> 1, n=p,...p,» podemos reescrever a expressão
acima e obtemos
n=g"g5..g;" onde SEGA S-.. <q,

são os fatores primos distintos de n, e pelo Teorema | os números


inteiros positivos m,,...,m, são univocamente determinados pelo
inteiro n. E

PROPOSIÇÃO 6. O conjunto de números primos é infinito.

Demonstração. É suficiente provarmos que o conjunto de números


primos positivos é infinito.
Suponhamos, por absurdo, que existem um número finito,
Pp, ---,Pn de primos positivos.
Sem =p,...p, + 1, existe pelo teorema 1, um primo p tal que
divide m. Se p = p, para algum 1, então p divide 1, contradição. E
Seja n = pY'...p;” onde p,,..., p, São Os primos divisores distintos
dem, e cadam,>0,i=1,...,r. Sed > 1 é um divisor de n, então é
claro que os fatores primos de d pertencem ao conjunto (p,,..., D,).
Assim, convencionado xº = 1 para x inteiro não nulo, podemos con-
cluir que d pode ser escrito na forma
d=pT'-p5º...p”, onde 0O<m;<m,,
28 Introdução à álgebra

Desses argumentos acima podemos concluir imediatamente a


seguinte proposição:

PROPOSIÇÃO 7. O número de divisores de um número inteiro não


nulo é finito. 8

EXERCÍCIOS
1. Sejam m=qf..qte n=q;'... q! onde q,,...,q, São números
primos e a,,...;a,b,,...;b, são inteiros > 0.
Prove que M.DC.(m,n ) =qji...g; onde C,=min (a, b;).
2. Sejam J,,J,,...,J,... ideais de Z. Prove que:
JjcJ)J,c..cJ],c...=>ImeNtal que J,=J,Vk>m.
3. Se J,=2'.7 Mostre que:
Z2=],32)2]),2...2],3..
> > > > >

4. Generalize o exercício 3 para primos p > 2.

S6 OsanéisZ,
SeJ =nZ,a relação = (mod n) pode também ser definida por,
xx eZ, x= x(modn)<x — x €EJ
e nesse caso usaremos a notação x =x + J=(x+kn:keZ) para
classe de equivalência de x em relação a = (mod n). Usaremos também
LL h ou Z/,.z para simbolizar o conjunto quociente de Z pela relação
= (mod n).

PROPOSIÇÃO 8. Se neN — £0! então Z, = 10,1,...,n— 1) é um


conjunto contendo exatamente n classes de equiva-
lência.

Demonstração. Primeiramente vamos provar que se


O<x<y<nentão xy.
De fato, seja O<x<y<mn. Pela Proposição 1 do parágrafo 3 do
capitulo 1, temos quey = x<>y = x(modn)<>0<y — x =k-n para
algum ke Z.
Os números inteiros 29

Agora como O < x < y<n temos que y — x não pode ser múl-
tiplo de n, ou seja, y £ X.
Assim (0,1,...,n — 1; < Z, é um conjunto contendo exatamente
n elementos. Para provarmos a igualdade Z, = (0, L...on—l) é
suficiente mostrarmos que: se xe Z, então xe (0,1,...,n — 1). Po-
demos escolher k inteiro positivo suficientemente grande tal que
"=x+ ken seja não negativo. Mas é claro que x' = x (mod n). e
dai segue que x' = X.
Assim é bastante provarmos que x e (0,1,...,n— 1! com x'>0.
Pelo algoritmo da divisão temos que, dg,reZ tais que x =qen+r
onde O <r < n.
Mas então x — r=qgn ou x = r(modn) e portanto X = X
e 0<r<n como queriamos demonstrar. 8
Observe que se n = O então = (mod 0) significa igualdade em Z
e Z, = (X:xeZ), é um conjunto infinito. Observe também que
= (modn) define a mesma relação que = (mod —n).

PROPOSIÇÃO 9. Seja neN. Se x=x' (modn) e y=Y (modn),


então:
(a) x+ y=x'+ y (modn)
(Db) xe y=x y (modn).

Demonstração. Por hipótese temos x —- x =keney—y =sen.


()(x+y)- e +y)=(x—->x)+(y—-y)=(k+s)n e portanto
x+y=x' + y (mod n)
(bx y=(x+kn(y +sen)=xy + (sn + (kn + (ksnn.
Portanto,

x y— xy =(xs+ yk+ ksn)n


isto é, xy = x'*y (modn), como queriamos demonstrar. &
Como corolário imediato da Proposição 9 segue a seguinte pro-
posição.

PROPOSIÇÃO 10. Seja neN.Sex=x ey=)y' então:

(a) x+y=x'+y (a classe da soma independe dos repre-


O sentantes das classes das parcelas)
(bD) xey=x'y (a classe do produto independe dos repre-
sentantes das classes dos fatores).
30 Introdução à álgebra

TEOREMA 6. Seja n um número inteiro > 2.


(a) +:Z, x Z, > Z, e ciZxZ>Z,
C)rxty=X+) 6,7) xey =X)
definem duas operações (denominadas soma e produto) no conjunto
Z, = 10,1,...,n—
1).
(b) As. operações acima definidas gozam das propriedades de
(1) até (vil) enunciadas no parágrafo 1 desse capítulo. .
Por isso dizemos que Z,, +, é um anél comutativo com unidade 1.
(c) O anel Z,, +,+ é um domínio de integridade (isto é, sem divi-
sores de zero) <>n é um número primo.
(d) Se n =p é um número primo então Z, = (0,1,...,p— 1)
[além das (IX) propriedades enunciadas no parágrafo 1 desse capítulo]
goza da seguinte propriedade:
(x) Se 0% xeZ, então JyeZ, tal que x-y=Yyex =1 [isto é,os
elementos diferentes de O possuem inverso multiplicativo].
Por isso dizemos que Z, = (0,1,...,p— 1) é um corpo.

Demonstração. (a) Pela Proposição 10, as regras:


X+)=x+y € Xy=xey
definem operações no conjunto Z,.

(b) Vamos provar que Z,, + ,- possui as seguintes 8 propriedades


abaixo: sejam X,),Z€EZ,
(1) associatividade da soma.
(x+)+z=x+(0+42)

Vamos desenvolver o primeiro membro da igualdade e então


chegar no segundo membro, (x +) +zZ=(x+y)+ZzZ=(x+y)+z
e agora pela associatividade da soma em Z temos que (x + )) + Z =
=(x+y+z=x+(y+27)=x+(0W+27)=x+4(y+27) como que-
riamos demonstrar.
(1) Existência do elemento neutro para a soma.
Claramente temos que x + 0=0+x =x e portanto O é o elemento
neutro para a soma em Z,.
(11) Existência de inverso aditivo.
Claramente,
Os números inteiros 31

(iv) Comutatividade da soma.


X+ty=x+ty=y+x=y7+X
(v) Associatividade do produto.

(KDz=(xypz=(yz=x(yez)=x(pz)=x(7-2)
(vi) Existência do elemento unidade.
Claramentex. 1 = 1. x = x e portanto Z, possui unidade 1.
(vii) Comutatividade do produto.
x
"0.000 —

XºY=Xºy=P7ºx =—

*es|
(vii) Distributividade.

X. + 2) = O +z d= od ox vd xa
VY+A+XOZ=Xey+XoZz teu

N
(c) Vamos provar agora que Z,, + ,- não possui divisores de zero
<>n é um número primo.
(=): Suponhamos que n não seja um número primo. Então sabemos
que n=ab onde |<a, b<n. Agora n=a-b implica que
O=ni=a-bondea*0ebzo0,ou seja, sen
> 2 não for primo Z,
possui divisores de zero, ou equivalentemente mostramos a implicação
(=>).
(<=): Suponhamos que n é um número primo, n = p, e sejam a, beZ,.
Se a-b =0 vamos provar que a =0 ou b= fo (isto é, Z, não
possui divisores de zero).
Sea-b = 0 temosa-b =0,ou seja, a- b = O (mod p), ou ainda,
pia-b e pela proposição 5 do parágrafo 4 deste capítulo teremos,
pa ou pib.
Se pia, a=0 e se pib, b = 0, como queriamos demonstrar.
(d) Suponhamos que n=p>2 é um número primo e seja
O * xe Z,. Podemos escolher x tal que O< x <p pois Z, = (0,1,
»p— 1!. Ora, p primo e | <x< p implica que M.D.C. (x,p) = 1
e portanto 3r,seZ tais que xr + pes = 1 e dai segue (passando a
barra) que:
mrdpes=l
e como p =0 teremos finalmente x-F7 = 1, como queríamos de-
monstrar. &
32 | Introdução à álgebra

Observe que O, +,º; R4+,º e €, +, são exemplos de corpos


pois são satisfeitas as propriedades de (1) até (x) para esses anéis, Aca-
bamos de ver que existem também uma infinidade de exemplos de
corpos finitos Z,, p primo > 2. É claro que todo corpo é um domínio
de integridade, ou seja, a propriedade (x) implica na propriedade (ix).
Assim todos os exemplos de corpos também são exemplos de domínio
de integridade. Finalmente Z é um exemplo de domínio de integridade
que não é corpo e Z, quando n > 2 não é primo, é um exemplo de
anel comutativo com unidade porém com divisores de zero, isto é,
não são dominios de integridade.

EXERCÍCIOS
1. Se p é um número primo > 2. Prove que /p 60.
2. Seja Z[/2]=(xeR:x=a+b,/2,a,b,eZ). Defina + e-em
Z[./2] como segue:
(ar+b/D+(c+a/D=[a+)+(b+D)V2]
(a+b/2)-(c+d/2) = [(ac + 2bd) + (be + ad) 2]
Prove que: Va,b,c, de Z,
a) a+b/2=c+d/2+a=c eb=d.
b) Z[,/2], + ,- satisfaz as propriedades (i), (ii), ..., (ix) e portanto
é um dominio de integridade.
c) Generalize o exercício para Z[,/p], p primo > 2.

3. Seja Q[/2] = (xe R:x =a + b.,/2, a, be Q). Defina + e + de


modo análogo ao Exercício 2 e prove que: Va,b,c, de Q,
a) a+b/2=c+dy/2<ea=c eb=d.
b) Q[,/2], ++ satisfaz as propriedades (i), (ii),..., (ix) e (x) e
portanto é um corpo.
c) Generalize o exercício para Q[./p), p primo > 2.
4. Se M.D.C. (a,m) = 1 prove que:
ab = ac (mod m) => b = c (mod m)
5. Se M.D.C. (a,m) = 1, prove que:
3 solução inteira x para a congruência: ax = b (mod m).
Mais ainda, se x, é uma solução, prove que o conjunto 4
de todas as soluções da congruência acima é dado por / = xo +
+ Zm= (xo + km :ke Z).
Os números inteiros 33

. Ache todos os possíveis inteiros x satisfazendo as seguintes con-


gruências:
a) 3x = 2 (mod 5) : b) 7x = 4 (mod 10)
c) 4x + 3 = 4(mod'5) ; d) 6x + 3 = 1 (mod 10)
e) 6x + 3 = 4(mod 10); f) 243x + 17 = 101 (mod 725).
Prove que não existe inteiro x satisfazendo a congruência
x? = 35 (mod 100).
8. Prove que YmeZ tem-se m? = 0 (mod 4) ou m” = 1 (mod 4).
9. Achar x inteiro que satisfaz simultaneamente as congruências:
a) x =2 (mod 5) . b) 3x = 2 (mod 5)
3x = 1 (mod 8)'* 2x = 1 (mod 3)
10. Sejam m, ne N tais que M.D.C. fm,n) = 1 e sejam a, be Z. Mostre
que existe inteiro x satisfazendo simultaneamente as congruências:
x=a (modm)
x = b (mod n).
11. Seja p um primo e | <n< p,n inteiro. Mostre que:

(?) = 0 (mod p).


n

12. Use o Exercício 11 e prove que: se p é um número primo, então:


(x + y?P =x? + y? (mod p) Vx,yeZ.
CAPÍTULO III

ANÉIS, IDEAIS E HOMOMORFISMOS

81 Definição e exemplos

Seja 4 um conjunto não vazio onde estejam definidas duas ope-


rações, as quais chamaremos de soma e produto em A e denotaremos
(como em Z) por + e
Assim,

+: AX ASA e cCAxAM>5A
(ab) wo a+b5 (a,b) » acb

Chamaremos A, +, um anel se as seguintes 6 propriedades são


verificadas quaisquer que sejam a, b, ce 4.
AD (a+b+c=a+(b+4 c) (associatividade da soma)
A2) 30€eAtal quea+0=0+a =a (existência de elemento neutro
para a soma)
A3) Y xe 4 existe um único ye 4, denotado por y = — x, tal que
x+y=y+x=0 (existência de inverso aditivo).
A4) a+ b = b+ a (comutatividade da soma)
AS) (a-b)ec = a-(b-c) (associatividade do produto).
A6G)a(b+co)=ab+a-c; (a+b)c=acc+ bc (distributividade
à esquerda e à direita).
Se um anel 4, +,» satisfaz a propriedade:
AN Jle4,0%1,tal que x1l=1I.x=x Yxe 4 dizemos que
A, +,* é um anel com unidade 1.
Se um anel 4, +,» satisfaz a propriedade:
A8) Vx, ye4,x*y = y*x, dizemos que 4, +, é um anel comutativo.
Se um anel 4, +,-+ satisfaz a propriedade:
A9) x, vEA, x y=0>x=00ou y=o0, dizemos que 4, +,º é um
anel sem divisores de zero.
Se 4, +, é um anel comutativo, com unidade e sem divisores
de zero, dizemos que 4, +, é um dominio de Integridade.
Anéis, ideais e homomorfismos 3h

E finalmente, se um domínio de Integridade 4, +,- satisfaz a


propriedade:
AlO) Vxe4, x£0, 3 yeA tal que xy = yex = 1, dizemos que
A, +,* é um corpo.

EXEMPLOS de Anéis Comutativos. No capítulo anterior vimos os


seguintes exemplos de anéis:

Z,n:Z,2Z, O, R, €, Z[/2], 0[/2].

Observe que todos esses anéis são comutativos e os únicos anéis


dessa lista que não possuem unidade são os neZ, onde n > 2. Por
exemplo, 4 =2-Z (o anel dos inteiros pares) não possui unidade.
Os únicos anéis que possuem divisores de zero da lista acima são
os anéis 4 = Z, onde n > 2 não é um número primo. Por exemplo,
no anel Z, = 10,1, 2,3, 4, 5) temos que 2. 3 =0,istoé,2e 3 são
divisores de zero m Z 6.
ZeZ[/2]=fa+b/2:a,beZ! são exemplos de domínios
de Integridade que não são corpos. E finalmente, Q, R, €, O [2 2)
e Z,, p primo são todos exemplos de corpos, sendo que os Z,, p pri-
mos > 2, nos dão uma infinidade de exemplos de corpos finitos.
É fácil verificarmos que se substituirmos o 2 por um primo p > 2
no exemplo Z [/ 2 )] construiremos uma infinidade de exemplos
Z[/p]=fa+b/p:abeZ) de domínios de integridade que
não são corpos. o
Analogamente, Q [/p], p primo > 2, nos dão uma infinidade
de exemplos de corpos Q[/p]=ta+b Lp “a, be Q) interme-
diários entre Q e R. Por exemplo, sex = a + b Lp * 0em O [VP]

então 3 y =
a-b/p tal que xy
= yex =1.
— pb?
Sei=/-1eCentãoZf[i]=fa+bi:a,beZ) é um domínio
de integridade tal que Z = Z [i] = €. Analogamente, O [i] = (a + bi:
a, be Q) é um corpo tal que O cO[i]<€C.
Observe também que R [i] = (la + bi:a,be RlétalqueC = R [i].
Em capítulos posteriores, veremos uma infinidade de exemplos
de corpos K tais que Q ck cCL.
Vamos ver agora mais um exemplo de anel comutativo com divi-
sores de zero.
36 Introdução à álgebra

Seja 4 = 7 (R) o conjunto de todas as funções f: R > R. Vamos


definir duas operações no conjunto 4 do seguinte modo:
+: Ax 454 , onde (f+g9g)l)=fl)+g(x)
YVxeR
9) mf+g
«o: AxA >A , onde (feg)(x) =f(O)g(x) YxeR.
4,9) mofeg
Observe que a função constante zero é o elemento neutro (em re-
lação a adição) de 4, e a função constante 1 é o elemento unidade de 4.
As demais propriedades que definem um anel comutativo são clara-
mente verificadas. Assim 4 = 7 (R), +, é um anel comutativo com
unidade. Porém se f: R>R é definida por

pos =| O
x
se
se
x<0
x>0

eseg: R>R é definida por


2
(x) = x* se x<0
9 “O se x>0
teremos, denotando a função constante zero por 0,/%0, g+0€e
f-g = 0. Assim, o anel 7 (R) é um anel comutativo com unidade e
com divisores de zero.
Se denotarmos por €(R) (respectivamente 2 (R)) o conjunto de
todas as funções continuas (respectivamente deriváveis) f:R>R,
então de modo análogo ao anterior podemos definir as operações de
+ e - no conjunto €(R) (respectivamente 2 (R)) e também teremos
que €(R), +,- (respectivamente 2 (R), +,-) é uma anel comutativo
com unidade e com divisores de zero.

EXEMPLOS de Anéis não Comutativos. Seja 4 o conjunto de todas


as matrizes reais 2 x 2, isto é,

A 1º irabiadeRp.
c d

O quadro numérico | de números reais diz-se uma matriz


real 2 x 2. é
|

Dizemos que 2 b| ab o JM o b=b


o

d C d| c d c=c, d=d
Anéis, ideais e homomorfismos 37

Vamos agora definir as operações + e « no conjunto 4 acima o


qual denotaremos por Mat, (RR).
Sejam a, bc d, a, b, c, d eR,

a b a b a+a' b+b'
soma: + =
cd c d c+c d+d
5 b a b aa + bc ab + bd
produto: “l, =
c d c d ca + de” cb + dd
Pode-se provar que Mat, (R), +,- é um anel, onde

O 01, 1 0|,
O = 00 e o elemento neutro paraa + ,e 1 = 0 l é a unidade

de Mat, (R), +,.-.


Portanto Mat, (R) é um anel com unidade.
0
Observe que seace Re X, = 0 2| e Mat, (R) então X,: X, =

O 0
=0= o | Va,beR. Assim, o anel Mat, (R), +,- possui uma

infinidade de divisores de zero. Observe também que

O0 0alí = [00 0]
0
4
= U, OU
esSéjá, à Equação
ão X2=0
= possui
infinit
iniinitas

soluções no anel Mat, (R).


1 1 |
Consideremos agora os elementos o | e o | de Mat, (R)

e calculemos,

o ol'lo 1]-Lo o) lo o)-lo al'lo o|


e portanto Mat, (R), +,- é um exemplo de anel não comutativo, com
unidade e com divisores de zero, (generalize esse exemplo para Mat, (R),
n> 2).
Vamos ver agora mais um exemplo de anel não comutativo.
Seja Rº = f(a,b,c,d):a,b,c de R) onde
(abced)=(a,b,co,d)ca=a,b=b,c=ced=d.
38 | Introdução à álgebra

Vamos definir as operações de soma e produto em Rº.


Sejam a, bcd a, b, c, deR.
soma:
(abcd)+(a,b,c,d)=(a+ta, b+b, c+c, d+d)

produto:
(a, be d)(a,b,c,d)=(aa — bb — cc — dd,ab + ba + cd — cd,
ac +a'c+db — d'b, ad + da'+bc
— b'c).
Pode-se provar que R*, +,+ é um anel cujo elemento neutro é
(0, O, Õ, 0) e cuja unidade é (1,0,0, 0).
E facil verificarmos que:

(0, 1,0,0)- (0,0, 1,0) + (0,0, 1,0)- (0, 1,0,0)


e portanto R*, +, « é um exemplo de anel não comutativo com unidade.
Vamos agora fazer algumas identificações.
a es (a, 0, O, 0)
ie (0, 1,0,0)
ie (0,0, 1,0)
k o (0,0,0, 1)

a+bi+ ci+dke (a, b,c,d)


Com essas identificações chegamos ao conjunto fa + bi + cj + dk:
a, b, c, de R) onde
a+bi+c+dk=a+bi+s+cj+dksa=a,b=b,c=ced=d
que será denotado por Quat.
Mais ainda identificando as operações + e - teremos que (verifique)

P==k=—1
Lej=k jei=-—k
jek=i, kej=-i
kei=j) ick=—j
e as operações em Quat são definidas por: sejama, b, c, da, b, c,d ER
soma:
(a+bi+ci+dy)+
(a + bi+cj+ dk) =
=(a+a)+(b+bi+(c+
cy+ (d+ dk
Anéis, ideais e homomortismos 39

produto:
Para efetuarmos o produto é suficiente levarmos em conta as regras
acima e usarmos a distributividade. Assim,

(a+bi+ci+dk)-(a + bi+cj+ dk) =


= (aa' — bb' — cc” — dd) + (ab' + ba” + cd — dei +
+ (ac + ca” + db — bd); + (ad' + da' + be — cbk.
Portanto o anel R*, +, « podeser identificado com o anel Quat, + ,-.
0O=0+0/+0;/+0k e 1=1+0/+0j+Ok são, respectiva-
mente, o elemento neutro e a unidade de Quat, +,
Como i-j * j-i sabemos que Quat, +,- é um exemplo de um
anel não comutativo com unidade. O anel Quat, +, recebe o nome
de anel dos Quaternios.
É fácil provar que se
x=a+bi+cj+ dk + 0 então existe um elemento
- ac bimo-dk em Quat, +,-talque, xy = y:x=1
PO Pybrc+d To MAD HDS ,
Assim, o anel dos quaternios para ser um corpo só falta a propriedade
A8) (comutatividade do produto). Por isso, dizemos que Quat, +,»
é um anel de divisão (ou um corpo não comutativo).
Observe que Quat > Re mais ainda, existem 3 cópias do corpo €
dentro do anel Quat, quais sejam,

fa+bi:zabeR;, (a+r+cj:aceR) e fa+dk:a


de R).

Como última observação podemos dizer que em Quat, +, exis-


tem infinitas soluções para a equação Xº = —1.
Provaremos mais tarde que, em um corpo, o numero de soluções
de uma equação polinomial é limitado pelo grau da equação.

EXERCÍCIOS
1. Prove todas as afirmações feitas nos exemplos do 81.
2. Calcule os divisores de zero nos seguintes anéis:

Lo, Lg, Lig € Loo:


3. Sejanuminteiro > 2esejaxeZ,-— (0,1,..,n—1), 0O<x<n.
Prove que:
40 Introdução à álgebra

3yeZ, tal que xy =y.x=T<M.DC.(x,n) = 1 (isto é, os


elementos x,0 < x <»n, invertíveis em Z, são aqueles tais que
M.D.C. (x,n) = 1)

4. Sejaf:Z — Z uma função tal que f(x+y) =f6)+f(W) Yx, yeZ


ef(xey)=flO)f(y) Vx, yeZ. Prove que ou f =I, é a função
identidade de Z ou f=0 é a função constante zero.

5. Seja f: O > Q uma função


tal que f(x + y) = f(x) + f(y)ef(xe)y) =
=f(6)-f(y) Yx, ye Q. Prove que ouf= ly ouf=0 éa função
constante zero.

6. Sejaf:R > Ruma função tal que, Vx, yeR, f(x+y) = f(x) +
+ f(0) eflxey) = f(x)-f(y). Prove que, se f é continua então ou
f=Iaouf=o0 é a função constante zero.

7. Prove que se 4, +,+ é um anel qualquer então são válidas as se-


guintes propriedades quaisquer que sejam x, y, ZE A:
a) Ox = x:0 =0 mais ainda se 3 1€4
b) —(xey) =(>x)ey = x*(—9) então,
o) (x) (—y)=xºy D(—-1)ex= —x
d) x(y—-27)=xey— xez g (—-D(—-1)=1
e) (y—-2)
x =y'x— zex h)(—-D-(—-x)
=x

8. Seja 4, +,* um anel qualquer. Vamos definir potência de um ele-


mento xe 4 (usando a associatividade do produto) do seguinte
modo:

xi=x x =x X,..ox =x lex,n>2.

Prove as seguintes propriedades Ym, neN — (0)


a) xmtn — xr e x"

b) (xey” =x"ey”" se xey=yºx


Cc) (x")" — mn

n n!
d =>"D—————.,
om (2) (n — i)ti!
Anéis, ideais e homomorfismos 41

Seja p um número primo >2 e seja Z[/p]=fa+bVp:


a, be Q). Vamos definir uma soma e um produto em Z[./p] do
seguinte modo:
soma: (a+b/p)+(c+d/p)=(a+J)+(b+ dp, a, b,
cdeZ
produto: (a+bv/p)(c+d/p)=(ac+ pbd)+ (bc+ ad)./p,
a,b,c, de Z. Proveque: Z [./p |, +,+é um domínio de integridade.
10. Seja p um número primo eseja O[/p]=ta+bV/p:abeQ).
Defina soma e produto como acima e verifique que O [,/p |], +,
é um corpo.
11. Mostre que o anel € [0,1] das funções reais continuas definidas
em [0,1] possui divisores de zero.
12. Seja 4 um domínio de integridade e a, b, ce 4. Prove que, se a * O
eab=ac então b=c.

13. Seja p um número primo > 2 e seja

A = e Q:M.D.C. fp, n) [= l

Mostre que 4 é um anel com as operações usuais de fração.

14. Seja D um domínio de integridade e seja ae D, a * O. Então, prove


que a função q,: D > D é injetiva.
X NS gx
15. Use o Exercicio 14 para provar que todo domínio de integridade
finito é um corpo.
16. Seja 4 um anel tal que x) =x Vxe 4. Prove que 4 é um anel
comutativo.
17. Seja 4 um anel qualquer e xe 4. Se IneN — (0) tal que x" = O
dizemos que o elemento x é nilpotente.
(a) Dê exemplos de uma infinidade de elementos nilpotentes em
um anel não comutativo.
(b) Prove que se x, yE 4, são elementos nilpotentes de 4 e xey =
= y-x então x + y é um elemento nilpotente de 4.
(c) Mostre com um exemplo que a hipótese xe y = y+x é essencial
em (b).
42 | Introdução à álgebra

(d) Seja x um elemento nilpotente em 4. Mostre que, se 4 possui


unidade 1e 4 então o elemento 1 — x possui inverso multi-
plicativo (calcule uma fórmula para esse inverso)
18. Seja 4=Z[i]l=[a+bi:a, beZ) onde? = -—le
a+bi=c+d>wa=ceb=d
vamos definir + e - em A do seguinte modo para a, b, c, de Z
soma: (a+b)+(c+d)=(a+oj)+(b+ di
produto: (a + bi) + (c + di) = (ac — bd) + (ad + boji
Prove que 4 = Z[i], +,+ é um domínio de integridade e calcule
todos os elementos de Z [i] que são invertíveis relativamente ao
produto em Z [i].
19. Seja 4 um anel, B um conjunto ef: B—> 4 uma função bijetiva de
B sobre 4. Se para cada x, ye B definimos
x+y=["UC+S0) e xey=f""(UO)f0)
Então prove que:
(a) B, +,- é um anel
fe +p)=fO)+f0) ef y)=f6)-fW)VxyeB.
20. Prove que se definirmos no conjunto Z (R) de todas as funções
f:R>BR a soma usualde função:
V+9)l)=fO)+g(x) YxEeR, e o produto como (g-f)(x) =
=g9(f(x)YxeR, então 7 (R) +, não é um anel.

82 Subanéis

Seja 4, + ,+ um anel e B um subconjunto não vazio de 4. Supo-


nhamos que B seja fechado para as operações + e « de 4, isto é,

a) x, vyeB=>x+yeB
b) x, veB=>xyeB.

Assim podemos também considerar a soma e o produto como


operações em B. Se B, +, for um anel com as operações de 4 dizemos
que B é um subanel de A.
Vamos agora dar um critério para que um subconjunto de um
anel seja um subanel.
Anéis, ideais e homomorfismos 43

PROPOSIÇÃO 1. Seja 4, +, um anel e seja B um subconjunto de


A. Então, B é um subanel de 4 se e somente se as
seguintes condições são verificadas:
(1) Oe B (o elemento neutro de A pertence a B)
(1) x yeB=>x— ye B (B é fechado para a diferença)
(11) x yeB=>x-yeB (B é fechado para o produto).

Demonstração. (=>) Se B é um subanel então por definição temos cla-


ramente as condições (1), (ii) e (11).
Observe que o elemento neutro O' de B relativamente a adição é
o mesmo elemento neutro O de 4, poissebe B,então0' = b+(—b) = 0.
(<) Suponhamos que B c 4 e as três propriedades (1), (11) e (11)
são satisfeitas.
Por (i) segue que B * 4), e por (i) e (ii) temos que:
(+) sexeBentão —-x=0
-—- xeB.
Agora, por (ii) e por (+) teremos, se x, ye Bentão x+ y =x —
— (— y)e B, isto é, B é fechado para a soma. Por (iii) B é fechado para
o produto.
Como as propriedades associativa, comutativa e distributivas são
hereditárias segue imediatamente que B é um subanel de 4. E

EXEMPLOS. Se B é subanel de 4 vamos usar a notação B< A.


Nos parágrafos anteriores já vimos os seguintes exemplos de
subanéis.
aanZ<Z<Q<R<C<
Quat, onde neN
b) Z(R)< C(R)< 2 (R)
)nZ<Z<z[/p]<OQ[,/p]<R,ondeneNepéum número
primo
> 2.

Por exemplo vamos provar que Z [,/p) é um subanel de R.


De fato, Z[/p]<R e mais:
()0=0+0/peZ[Vp]
(i)x=a+bV/py=c+td/p>x-y=(a-0)+(b-d)Vp
(ii) x=a+b/p,y=c+dV/p=>xey=(ac+
pdb)+ (bc+ad)/p
e portanto Z[/p]=(a+b./p:a,beZ) é um subanel de R.

Se um subanel B, +,+ de um corpo K, +, é também um corpo


dizemos que B é um subcorpo de K. Observe que OQ [./p | é um subcorpo
44 Introdução à álgebra

de R enquanto O [i] é um subcorpo de C. Observe também que Z, =


= (0, 1) não é um subanel de Z, = (0,1,2).
O exemplo 2 Z < Z nos mostra que um subanel de um anel com
unidade não possui necessariamente unidade. Agora vamos ver um
exemplo de um subanel B de um anel 4 tal que a unidade 1º de B é
diferente da unidade 1 de 4.
0
Seja 4 — Mat, (R) e seja B = Io 0 | :iaeR,.
a E | Claramente, B
é um subanel de 4.
Vamos agora mostrar que,

1 0
l = |o | é a unidade de 4 = Mat, (R) enquanto

— [1 0],
| = 00 é a unidade de B. (observe que 1 é B).

De fato,

alo 1] =lo a)[é a)=[5 0] vonaaer


|
PT
O

o)lo o) =lo oJl5 o]=[6 0) vas"


q
PT
o

Vamos mostrar em seguida que essa patologia não ocorre em


anéis sem divisores de zero.

PROPOSIÇÃO 2. As únicas soluções da equação x? = x em um domínio


de integridade são O e 1.

Demonstração. Seja D um dominio de integridade e xe D tal que


x 2 =x.
Assim temos,

x —- x=xex—lex=(x—-
1). x=0
e daí segue que x—-1 = 0 oux =0, isto é, x = 1 ou x = O como que-
riamos demonstrar, E
Anéis, ideais e homomorfismos 45

COROLÁRIO. Seja D um domínio de integridade com unidade 1 e seja


B um subanel de D com unidade 1".
Então 1 = 1”.

Demonstração. Pela nossa definição de unidade 1 e 1" são diferentes


de O e como 1? = 1 e 1? = 1' o corolário segue ime-
diatamente da Proposição 2. E
Observe que no anel, Z, = (0, 1,2,3,4,5) (que não é um do-
miínio) temos que:
0, 1,3 e 4 são raízes da equação x” = x.

EXERCÍCIOS
1. Seja (B,);.x uma segiiência de subanéis de um anel 4. Prove que,
B = () B, é também um subanel de 4.
ieN

2. Seja (B,),.n Uma sequência de subanéis de um anel 4. Prove que,


seB, = B,c..cB,c...entãoB = |) B, é também um sub-
anel de 4. ten

3. Mostre que Z, = (0, Í, 2) não é subanel de Z, = (0,1,2,3, dp.


4. Seja 4 um anele ae 4. Prove que, B = (xe 4:xca = ax) é um
subanel de 4.
5. Seja 4 um anel. Prove que, Z(4) = |xe A: xe y=yex Vye 4;
é um subanel (comutativo) de 4 (Z(4) é chamado o centro de 4)
6. Seja 4 um anel e ace 4. Prove que, B = (xe 4: xa = 0) é um
subanel de 4.
7. Seja (K;),n UMa segiiência de subcorpos de um corpo K. Prove
que, B= () K, é um subcorpo de K.
ieN

8. Seja (K,);-n Uma sequência de subcorpos de um corpo K. Prove


que se K, = K,c...ckK,c... entãoB = J K,
é um subcor-
po de K. EN
9. Seja K um corpo e seja P a interseção de todos os subcorpos de K.
Prove que, P é o menor subcorpo de K (P é chamado de corpo
primo de K).
10. Calcule todos os subanéis de Z,,.
46 Introdução à álgebra

11. Um dominio de integridade D é dito de característica O sem = 0


sempre que ma =0 comaeD,a +0OemeN. D diz-se de caracte-
rística finita se existe ae D, a O, tal que ma = O para algum
inteiro m % O. Nesse caso definimos como a característica de D
o menor inteiro positivo m tal que ma = O para alguma e D,a + 0.
Prove que,
(a) se característica de D é p então pex =0 VxeD.
(b) a característica de D ou é zero ou um número primo.
(Sugestão para o Exercicio 11: pex =(pº'l).ex, Yxe D)
12. Seja 4, +;,+ um anel com unidade le 4.
Vamos definir duas novas operações no conjunto 4, usando
as operações + e. de 4.
aDb-a+s+b+1 VabeA
aOb=abt+a+b Vabe A.
Prove que:
(a) 4, &, O é um anel.
(b) Qual é o elemento zero de 4, &, O.
(co) 4, &, O possui unidade? Qual?
13. Prove que se 4 é um anel de divisão então Z (4) é um corpo.
14. Prove que Z (Quat) = R.

83 Ideais e anéis quocientes

Vamos ver agora uma classe de subanéis que são muito importantes
na teoria dos anéis, que são os ideais de um anel.
Seja 4 um anel e seja 1 um subanel de 4. Dizemos que 1 é um
ideal a esquerda de A se,
(1v) aexel, Vae A, Yxel (ou simbolicamente 4.1] cl).
Analogamente definimos um ideal à direita J de um anel 4 como
sendo um subanel de 4 satisfazendo a condição,
(iv) x aeJ, Vae A, YxeJ (ou simbolicamente J. Ac J).
Se I é um ideal simultaneamente à direita e à esquerda de um
anel 4 dizemos que I é um ideal de A, isto é,
(v) AcIclelAcCI.
Anéis, ideais e homomorfismos 47

Se o anel 4 for comutativo então as condições (iv), (1v) e (v) são


equivalentes e as 3 noções acima coincidem.
Claramente (0) e 4 são ideais de A (ditos ideais triviais de 4).
Os ideais não triviais de 4 são também chamados ideais próprios de A.

b
EXEMPLO 1. Seja 4 o anel Mat, (R) = HE | :a,b, c, de R|

AE Semper reco
e sejam I e J definidos como segue.

Claramente 1 é um ideal à esquerda de 4 e J é um ideal à direita


de 4 mas nenhum dos dois é ideal de 4. Aliás vamos provar agora
que os únicos ideais de 4 = Mat, (R) são os triviais (por isso 4 é cha-
mado de um anel simples).
De fato,
Seja 1 um ideal de 4 = Mat, (R) e vamos assumir que 1 £ (0).
a, a Vo
Assim 4 | 1 “t2|eI onde algum dos a;;s é diferente de zero,
d2, d22
l<ij<2. Sejam e, eMat, (R), | <r,s< 2 as seguintes matrizes:
“no “foi [oo [oo
“1 Clo o| “2 lo 0|' “15 1 0 cc e2=|0o 1]

Através de cálculos é fácil verificar que eaº| ole


, , , , . . a a

Q2, 22
é uma matriz 2 x 2 contendo o elemento a,, na posição (r, n) da matriz.
Assm como 4-IclIeI-Ac I segue que,

a, d,2 Am 0 ,
e1s * Cm = el, onde 1 <s,mx< 2,e também,
Qd), 022) 0 0 |
. " - "
a a O 0
€3,º to ct2 * €m2 E el onde |<sm<2.
(421 d22 | 0 Asm.|

Dai concluimos que Vs,m, |< sm < 2, temos:

Am O | |Im O) |0 0 1,
O am] |O O O ami o
48 Introdução
à álgebra

Escolhamos s, m, | <sm<2 de modo que a, * O. Assim,

[o O | [o 0 lg ei e como
o asilo as] |01
1 0
— —

a b
é a unidade do anel 4 segue imediatamente que [é | =
o0 1
a bl fi 0 | | no
alo 1 EI quaisquer que sejam a,b,c de R, isto é, 1 =
Cc
a)

= Mat, (R). Acabamos de provar então que se 1 * (0) é um ideal


de Mat, (R) então I = Mat, (R) como queriamos demonstrar.
Pode-se provar de modo inteiramente análogo que Mat, (K) de
todas as matrizes n x n com coeficientes em um corpo K é um anel
simples.

EXEMPLO 2. Vamos agora ver um exemplo de ideais no anel 4 =


= € [0,1], das funções contínuas /: [0,1] > R com
as operações usuais de + e - de funções.
Sabemos que 4 é um anel comutativo com unidade 1 (função
constante 1).
Seja be [0,1] e seja 1 = (fe A:f(b) = 0). Provemos primeira-
mente que 1 é um ideal de 4.
De fato,
(1) OE IT pois O é a função constante zero.
(nm) sef, ge I então (f-g)eI pois (f—-g9) (b) =f(b) — g(b) = 0.
(11) e (iv): Seja fe €[0,1] = A4egel. Então, (f-g)(b) =f(b)-g(b) =
= f(b).O = O. Assim I é um ideal de 4. Vamos provar agora que
I é um ideal maximal em A (isto é, 1 * Ae os únicos ideais de 4
contendo I são Ie 4).
De fato,
Se J é um ideal de 4e J>I,J * I temos que JfeJ talque
félI. Assim f(b) = a * O. Denotando por a a função constante a,
temos que:
h=f-aelI pois h(b) - 0

eportantoa =f-heJpoisfeJehel c J. Daí segue que


a função
constante 1 pertencea Jjáquea !ca=1leaeJ.PortantoJ = 4 el
maximal em 4.
Anéis, ideais e homomorfismos 49

Observe que usamos acima o fato de ser € (0, 1] um anel contendo


as funções constantes.

EXEMPLO 3. Seja 4 um anel e x,, x,,...,x,€ 4. É de direta veri-


ficação que o conjunto (denotado é definido por)
Ax,+Aex,+..tAex =lax+..+ta x, ideA)
é um ideal à esquerda de 4, o qual é chamado de ideal à esquerda ge-
rado por X,, X,,-., Xp€ À.
O ideal 1 = 4-x, é dito ideal principal (à esquerda) gerado por
x, € 4. Analogamente pode se definir ideal à direita de 4 gerado por
X,,---, X, € 4 e também ideal principal (à direita) gerado por x, € 4.
Claramente se 4 é um anel comutativo esses ideais são bilaterais,
isto é, à esquerda e direita simultaneamente.
Observe que se 4=2-Z ex, =2€ A então o ideal principal
I=A-x,=4-Z não contém o elemento gerador x,.
É uma imediata consegiiência de considerações anteriores que
se 4 é um anel com unidade então o ideal gerado por x,,...,x, € O
menor ideal de 4 contendo os geradores x,,...;X,.
Agora vamos ver um Teorema caracterizando corpos.

TEOREMA 1. Seja K, +, um anel comutativo com unidade 1e K.


Então as seguintes condições são equivalentes:
(a) K é um corpo.
(b) (0! é um ideal maximal em K.
(c) os unicos ideais de K são os triviais.

Demonstração. (a) > (b). Seja K um corpo e seja J um ideal de K


tal que (0! c J c K. Suponhamos J & (0).
Assim existe0 * ae J.Como K éum corpo existebe Ktalqueb-a = 1
e portanto leJ e dai segue imediatamente que J = K como que-
riamos demonstrar.
(b) > (c). Segue imediatamente das definições.
(c) > (a). Para K ser um corpo falta apenas a propriedade 410,
qual seja, VacekK, a *0, JbeK tal que a-b=ba =1.
Seja 0 £acek,el=kK-ao ideal principal de K gerado por a.
Ora, a = 1.a€ I, nos diz que 1 * (0) e assim pela nossa hipótese
teremos [ = K.
BO Introdução à álgebra

Dai segue,

leK=Kca=>3aIbeK tal que ba = 1


e isto demonstra o Teorema 1. E
Vamos ver agora que a definição de ideal nos permite generalizar
a noção de = (mod n) em Z. Vimos no parágrafo 3 do Capitulo 2 que
seJ=nZex,xeZ,então x=x (modn)<x-—x'eJ (é também
usual se escrever x = x (mod J)) define uma relação de equivalência
em Z e depois construimos o anel quociente Z/J ou Z,. Agora vamos
generalizar essa idéia para um anel qualquer.
Seja 4 um anel qualquer e seja J um ideal de 4. Vamos definir a
seguinte relação em 4,

se xx €4, x=x' (mod J)<> x — x'eJ.


Primeiramente, vamos provar que = (mod J) define uma relação
de equivalência em A.
De fato, quaisquer que sejam x, x,x € 4, temos
(1) x= x(modJ) pois 0 =x —- xeJ
(1) x = x (modJ) > x = x(mod J) poissex — xe Jentãox' — x =
=—(x-x)eJ.
(11) x = x (mod JJex' = x” (mod J) > x = x" (mod J) pois,x — x € J
ex —- x edJ>x—xl=(x-x)+ (x — x9)eJ.

Denotaremos por x = (ye 4:y = x (mod J); a qual chamaremos


de classe de equivalência do elemento xe 4 relativamente a relação
= (mod J).
Agora observe que yex<>y — x€E J, e por isso também deno-
taremos a classe x por x=x+J=(x+z:zeJ). Chamaremos
de conjunto quociente de A pelo ideal J) ao conjunto A/J=(x =x+J:
xe A).
Vamos provar agora uma proposição que nos permitirá definir
operações + e: no conjunto quociente 4/J de modo a torná-lo um
anel (veja a Proposição 9, Capitulo 2, parágrafo 6).

PROPOSIÇÃO 3. Sejam 4 um anel e J um ideal em A. Se = x (mod J)


ey = y' (mod J), então:
(a) x + y = (x + y)(mod J) (b) xy = x y' (mod J).

Demonstração. (a) Basta observar que, (x + y) — (x + y)=(x— x)+


+(y—-))eJ pois x—-
x eJey-—- ye.
Anéis, ideais e homomorfismos 51

(b) Agora seja x=x +a aceJey=y+b, beJ. Então,

Wy-xy=+ad (gy Ab xy =
=xy+xb+ay +ab-xy=xb+ay +acb
e como a, b e J é um ideal de A segue xe y — x'- y' E J como queriamos
demonstrar. EB
Como corolário imediato da Proposição 1 segue a seguinte pro-
posição.

PROPOSIÇÃO 4. Sejam 4 um anel, J um ideal de A.


Sex=x e y=y então
(a) x+y = x +)
(D) 07 = XT /

O item (a) diz que a classe da soma independe dos representantes


das classes das parcelas, enquanto o item (b) diz que a classe do pro-
duto independe dos representantes das classes dos fatores. E

TEOREMA 2. Seja 4 um anel e J um ideal de 4. Sex =x+Je


A/J = (x:x€ Al, então:
(a) +:4/] x A/J> A/J e AJ] x AS] > A/J
E)rxty=X+) E)rxey=X)
definem duas operações (denominadas soma e produto) em A/J.
(b) 4/J, +,+ é um anel (chamado anel quociente de A por J)
(c) Se 1 é a unidade de A então 1 é a unidade de A/J.
(d) Se A é comutativo então A/J é comutativo.

Demonstração. (a) Pela Proposição 4 as regras,

X+)y)y=x+)y e XYy=Xxºy

definem operações no conjunto A/J.


(b) Veja a demonstração do Teorema 1, do parágrafo 6 do Capitulo
2 e demonstre o item (b).
()lex=x|I=x VxeA> l.x=x1=%x, VxeA/J.
(d) Se xey=yex Yx, ye 4 então, claramente, teremos,

XyJ=Ppx VXJYEA/. E
52 Introdução à álgebra

TEOREMA 3. Seja 4 um anel comutativo com unidade 1e A e seja J


um ideal de A. Então:
J é ideal maximal de A <> 4/J é um corpo.

Demonstração. (=>): Suponhamos J ideal maximal de 4, e seja


O * ae 4 = A/J. Temos que provar que Ibe À
tal que à -b = 1. De fato, se L= A-a ideal principal de 4 gerado por
a, teremos que: J+ L=(x+y:xeJ, yeL! é um ideal contendo
J, e mais a *0 <> agJ. Como a=1I-aeLc J+4 L temos que
J+L é um ideal > Jemais J+LAJ.
Pela maximalidade de J segue que 4 =J+ LedaivemleJ+L=
> JueJ, veLtais que |=u+vu.
Mas veL= A-a e temos que v = b-a para algum be 4, ou seja,
IJbe A, JueJ tais que 1=u+b-a.

Ora, passando barra em ambos os membros, segue que, lI=u+bca=


=u+b-a=0+4b-a, isto é bca=a-b = 1, como queriamos de-
monstrar.
(<=) Suponhamos que 4 = A/J seja um corpo. Assim
OIE ADSJXHA.

Se M *J é um ideal de 4eJcMcaA, então teremos que


existe ae M, a É J, ou seja, a +0, ae À. Como
À é corpo Jbe
À tal
que a-b = 1; ou ainda,
b=Ii(modJ)<ab-leJ<IuyeJ tal que

ab — | = u,e isto nos diz que,


= ab
— u.

Como ae M segue abe M e como vueJ - M temos também ue M.


Logo concluimos que 1 = ab — ue M e imediatamente temos M = 4
como queriamos demonstrar. E
Os Anéis Z, = Z/J onde ) =nºZ já foram por nós analisados
no parágrafo 6 do capítulo anterior e até agora são os únicos exemplos
de anéis quocientes apresentados. No próximo capítulo será de grande
importância o estudo dos anéis quocientes do anel de polinômios em
uma variável.
Anéis, ideais e homomorfismos 53

EXERCÍCIOS
1. Mostre que a interseção de ideais de um anel 4 é também um ideal
de 4.
. Seja (J,ynen UMa sucessão de ideais de um anel 4. Prove que,
seJyocJ)c cJ,c enãoJ=l)J,é um ideal de 4.
neN

. Seja p um número primo e seja 4 definido por,

A = jmnim neZ nd |
e MD.C.fpn;=1
(a) Prove que 4 é um subanel de O.

(b) Prove que 1 = fm EA: pm] é um ideal de 4.

Seja4 um anele a E 4. Prove que I = (xe 4:x-a = 0) é um ideal


à esquerda de 4.
Sejam I e J ideais de um anel 4. Prove que,
(a) I+J=ix+y:xel, yeJ) é um ideal de 4.
DERA x,ºy:neN, x,el, e) | é um ideal de 4.
=1

Seja 1 um ideal à esquerda e J um ideal à direita do anel 4. Prove


então que,
IJ é um ideal de 4.
. Seja A um anel comutativo e seja N= (xe 4:x" = 0 para algum
ne N — (03). Prove que N é um ideal de 4 (N é chamado Radical
de 4). Mais ainda; prove que se xe 4/Ne X' = O para algum in-
teiro n > 1 então X = 0. (Sugestão: Prove que se x" e N para algum
n inteiro > 1 então xe N).
Seja 4 um anel comutativo com unidade 1 € 4, e seja P um ideal
de 4. Dizemos que P é um ideal primo de AseP £ AeVx, yÊA,
se x yePentão xePou yeP.
Então prove que,
(a) P é um ideal primo de 4 <> 4/P é um domínio de integridade.
(b) Os únicos ideais primos de Z são f0) e os ideais principais p« Z
onde p é um número primo.
(c) Se P e um ideal maximal de 4 então P é um ideal primo de 4.
B4 | Introdução à álgebra

9. Seja 4 = €[0,1] o anel das funções reais continuas (com as ope-


rações usuais de soma e produto de funções) definidas no intervalo
[0,1].
Prove que,
se M é um ideal maximal de 4 então 3a e [0, 1] tal que
M=ifeA4:
fla) =0).

84 Homomorfismo de anéis

Sejam 4 e 4' dois anéis. Por comodismo vamos denotar as ope-


rações desses anéis pelos mesmos simbolos + e», porém denotaremos
por O o elemento neutro de 4 e por O' o elemento neutro de 4'. Se ambos
anéis 4 4º possuem unidade denotaremos por 1 a unidade de 4 e por
lº a unidade de 4º.
Uma função f: 4 > A' diz-se um homomorfismo de 4 em A' se
satisfaz as seguintes condições:
Dft+y)=fC0)+f0) YxyeA
DD fee y)=fO)f0) YxyeA.
Se f: A> A4' é um homomorfismo bijetivo dizemos que f é um
isomorfismo de A sobre 4”.
Dizemos que dois anéis 4 e 4' são isomorfos (e escrevemos 4 = 4º)
se existir um isomorfismo de 4 sobre 4”.
Os homomorfismos f: 4» 4 também são chamados de endo-
morfismos de A, e os isomorfismos de 4 sobre si mesmo são chamados
de automorfismos de A.
Denotaremos por
End (4) = (f: A> A :f endomorfismo)
Aut (4) = [f: A> A:f automorfismo)
Vamos agora provar algumas propriedades elementares de ho-
momorfismos.

PROPOSIÇÃO 5. Sejam 4 e 4' anéisef: A > A' um homomorfismo.


Então,
(a) f(0) = O
(b)f(—-a) = —f(a) Vac A
(c) Se A e 4' são dominios de integridade então ou f é a função constante
zero ou f(1) = 1º.
Anéis, ideais e homomorfismos 55

(d) Se Ae A' são corpos então ou f é a função constante zero ou f é injetiva.

Demonstração. (a) E claro que em um anel a equação X + X = X tem


o elemento neutro como única solução e assim temos,

0+0=0=/0+0) = f(0) + f(0) = f(0)


e portanto f(0) = O' que é o elemento neutro de 4”.
(b) Seja ace 4. De a + (—a) = O segue pelo item (a) que:

Ha) + f(—a) = 0
ou seja,
f(—-a) = —f(a).
(c) De 1.1'= 1 segue que f(1)* = f(1), isto é, D-((D) — 1) =0.
Agora, A' domínio de integridade nos diz que ouf(1l) = 0'ouf(1) = 1".
Se f(l) =0' então segue que f(x) =f(xeD)=f()-Ff(1) =
=f(x).0 =0 Vxe4, ou seja, f é a função constante zero.
(d) Sejam 4 e 4º corpos e suponhamos que f não é a função cons-
tante zero. Assim, pelo item anterior sabemos que f(1) = 1". Vamos
provar que f é injetiva. De fato, se x, ye 4 e f(x) = f(y) teremos,
f(x— y) = 0". Suponhamos por absurdo que x * y, então x— y*£O
e A corpo nos diz que be 4 tal que b-(x—y) = 1 e daí segue que
f(b)-flx— y) =f(b)-0' = 1º que é uma contradição. EB
Vamos agora ver alguns exemplos de homomorfismos.

EXEMPLOS. Sejam 4 e 4" anéis. Claramente a função constante


zero, isto é, a função h: 4> A4' tal que h(x) = 0
Y x € 4, é um homomorfismo de 4 em 4'. É também imediato que 1,
A > A (a função identidade de 4) é um automorfismo de 4. o
Se J é um ideal de 4 e A = A/J, a projeção canônica 1: 4 > 4
definida por n(x) = XVx€e 4 é tal que:

tTix+y)=x+y=x+y=7n(x)+m(y)

n(xey)=xey=Xyp=n(x)n(y), Vx ye,
ou seja, 7 é um homomorfismo de A4 sobre 4 = A/J.
Observe que pelos Exercícios 3 e 4 do Parágrafo 1 desse capítulo
segue imediatamente que,
Aut(Z) = (I;) e Aut(Q) = (ly.
56 Introdução à álgebra

Agora vamos provar que se D = Z[./p]então Aut D = fIp,0)


ondec:Z[/p]-Z[,/plédefinidaporo(m+n /p)=m-—nV/p
Ym,neZ.
Primeiramente, temos que o(l)=1 pois D=Z[,/p]) é um
domínio, e dai segue imediatamente que oc(m) =m YmeZ.
Portanto se o e Aut (D) vem,

olm+nv/p)=m+no(/p) Ym,nezZ.

Agora, com (/Pp) =p temos (o(/p)? =c(p)=p ou seja


existem duas possibilidades para o(//p) em D, o(/p)=./P ou
c(/p) = — «/p. Na primeira obtemos o = Ip «na segunda obtemos
c(m+n/p)=m- np Ym, neZ como desejávamos mostrar.
Vamos ver a seguir um exemplo que colocaremos sob a forma de
proposição.

PROPOSIÇÃO 6. Aut R = (Ip.


Demonstração. Seja o e Aut R. Como R é um corpo temos que o (1) = 1
e daí segue imediatamente que oc(m)=m YmeZ.
É de fácil verificação que o(r) =r Yre Q. Se soubessemos que o é
uma função contínua teriamos, passando ao limite, que o(x) = x
VxeR.
Primeiramente provaremos que o preserva a ordem em R, isto é,
sea< bentão o(a) < c(b).
De fato,
Sea < btemos0<b-aeentãolaeRtalqueb-a=a” >0
e daí segue que
o (b—a) = o(u?) = o (x)? > 0,ouseja,0 < o(b) — o(a)
e isto nos dá o(a) < o(b).
Agora, se xe R 3 segiiências de racionais fr,kien € LSmimen tais
que r,<x<s,Ym,nex=lmr, = lims,. Assim, teremos
n> 0 m— 0

r,=0c(r)<o(x)<o(sy)=sSm NYmn
e isto nos dá o (x) = lim r, = x como queriamos demonstrar E
n— 00

Vamos terminar esse parágrafo demonstrando o primeiro teo-


rema de homómorfismo.
Anéis, ideais e homomorfismos 57

TEOREMA 4. Sejam 4 e 4' aneis ef: A> A" um homomorfismo.


Então,
(1) Im f = (f(a):ae Ap é um subanel de A”.
(2) N($) = lae A:f(a) = 0 é um ideal de A, efé injetiva <> N(f) =
= 10).
(3) Os anéis A/N(S) e Im f são isomorfos.

Demonstração. (1) De fato, claramente temos:

(1) O =f(0)e Imf.


(11) f(a), f(b)e Im f = fla) — f(b) = f(a— b) e Im f.
(ini) (a), f(b) e Im f = f(a)-f(b) = f(a- b)e Im f.
(2) Vamos provar que N(f) = face A: f(a) = 0 é um ideal
de 4. De fato,

(1) Oe N($) pois f(0) = 0º.


(1) a be N()=>f(a—-b) =f(a) — f(b) =0' — 0" =0,ou se-
ja a— be N(J).
(iii) seja xe 4 e ae N(f) então

Fla e x) = fa) f(x) = 0 f(x) = 0


fixa) =fO)-fla) =f(x)-0 = 0,
ou seja, axe N(f)e x-ae N(/f). Assim N(f) é um ideal de 4.

Ágora,
Se f é injetiva, segue imediatamente que IN (f) = (0) pois f(0) = 0".

Se fl) =f(y), x ye A e N(S) = 10; segue, f(x) —f(y) =0' =


fex-y)=0=>x—-yeN(S) = 40; > x = y e isto demonstra (2).
(3) Vamos definir uma função F: A/N(f) > Im f bietiva, a qual
provaremos ser também um homomorfismo de anéis.

Defina F: A/N(/)> Im f por: F(x) = f(x).


Observe que F esta “bem definida” e é biunivoca pois:
x=y<>x=y(mod N(f)<>x— ye N(J)<=
<o> flo) S()=0<F(5%) = foo)=Ff0)= FO).
58 Introdução à álgebra

Im(F) = LFG):
XE AIN) = Lfb):xe A) = Imf
logo A/N($f) = Im f como queriamos demonstrar. E
O subanel Im f diz-se Imagem de fe o ideal N (f) diz-se Núcleo de f.
Antes de encerrarmos o parágrafo vamos mostrar que se 4 =
=€C[0,1]eIl=(feA4:f(0)=0) então 4/1 = R.
De fato, sabemos que I é um ideal máximo em 4 e portanto pelo
teorema 2, A/I é um corpo.
Agora, seja fe À e f(0)=aeR. Então h=f-a€el e teremos
h=f-a=0,ou seja, f=a, onde aceR.
Evidentemente se a, * a, tem-se a, * a, e dessas considerações
segue que:
R > A4/I é um homomorfismo bijetivo, isto é R = A/I.
ana

EXERCÍCIOS
1 . Calcule End (Z [i]) e Aut (O [i]).
2. Prove que os anéis 27 e 37 não são isomórfos.
3. Prove que os corpos Q[,/2] e Q[,/3] não são isomórios.
4. Seja 4, + um grupo abeliano. Prove que,
(a) sef.g e End (4) então (f+ 9) e End (4) onde (f+ 9) (x) = f(x) +
+ g(x) VxEA.

(b) Sef, ge End (4) então f- ge End (4) onde (f- g)(x) = f(g(x)
VxEA.
(c) End (4), +, + é um anel com as operações definidas em (a) e (b).
S. Sejam 4 e 4' anéis. Defina + e - no conjunto 4x 4' = ((a,a):
ace A, a e 4') de modo que 4 x 4' seja um anel com essas ope-
rações.
6. Se Ax 4º, +,-éo anel definido em 5. Prove que n,: Ax 4/5 4
(a, a)r>a
e mn,: Ax A4'> A são homomorfismos sobrejetivos. Calcule
(a, a) > a'
os núcleos de 1, e 15.
7. Seja f: A > A' um homomorfismo e J' um ideal de 4'. Prove que,
ft HJ)=(aceA: f(ajeJ) é um ideal de 4.
Anéis, ideais e homomorfismos 59

8. Seja F: €[0,1] > R definida por F(f) =f(1/2) Vfe [0,1].


(a) Prove que F é um homomorfismo.
(b) Calcule Im F e IN(F).
(c) Identifique o anel € [0, L]AN()).
. Seja 4 um anel com unidade 1. Se xe 4 ene Z vamos definir nx
do seguinte modo,
0c 4 sen=0€Z
x sen=leZ.
nx = x+... +x n vezes se n >2
(—-x) sen= —1leZ
(xo) +(-x)+... +(—-x) n vezes sen < —2.

Prove que:
(a) m(x+y)=mx+my, YmeZ, YVx, yeA
(b) (mn)l = (ml)-(nl), YVm,neZ e le.
Seja 4 um anel com unidade 1 eseja py: Z —» A definida por q (n) =
=nl VYnezZ.
(a) Prove que y é um homomorfismo.
(b) Prove que me Z: ml =0€ 4! é um ideal de Z.
11. Seja D um dominio de integridade e seja py: Z — D definida por
p(n)=nl YnezZ. Sabemos que N(y) = fmeZ: ml =0€ D)
é um ideal de Z. Se N(qy) = (0! dizemos que a característica do
domínio D é zero.
Se N(q) * (0; existe um único inteiro positivo
p tal que:N (q) = pZ.
Nesse caso dizemos que a caracteristica de D é p. Prove que p é
um número primo tal que pex =0 VYxeD.
12. Seja K um corpo e seja P a interseção de todos os subcorpos de K.
Prove que P é o menor subcorpo de K (chamamos P de corpo
primo de K).
13. Seja K um corpo e seja P o corpo primo de K. Prove que,
(a) se característica de K = O então P = Q.
(b) se característica de K = p então P= Z,.
(c) Prove que se K > Z, e Z, com p, q primos então p = q.
14. Seja 4 um anel com unidade | e 4 e suponhamos que 30 £ ee 4
tal que e? = e (e diz-se um elemento idempotente de 4).
Se 4,=4-e=(ace:aeA) ese A, =A-(l-el=(a-—ae:
ae As, então prove que:
60 Introdução à álgebra

(1) 4, e 4, são subanéis de A tais que 4,0 4, = (0)


2) A=A,BA, (isto é Vae A d únicos elementos a, E 4, é
a,)E A, tais quea=a, + a).
15. Seja 4 um anel com unidade 1€E 4 e sejam e,,...,e e A— 10)
idempotentes de A tais que l =e, +... +e,e; e, = 0Osei *);,
Il <i, j<n Prove que se 4,=4-e=tla-ce,: ae A; então
A=A4,O... DA, (isto é, Vac A 3 únicos elementos qe A,
i=l,...on tais quea=a +...+a,).

85 Ocorpo de frações de um domínio

Neste parágrafo, seguindo a construção do corpo de frações


m Vo
OQ = o mneZ,n+ op a partir do dominio Z, vamos construir

um corpo K a partir de um dado dominio D.


Seja D um domínio de integridade qualquer e seja D*? = D — (0).
Vamos definir uma relação de equivalência no conjunto, 4 = D x DF =
= ((a,b):ae D, be D$). De fato, se (a, b), (c, de 4 então (a, b) —
» (c,d) <> ad = bc, claramente define uma relação de equivalência
conjunto ..
Vamos denotar por ; (em vez de (a, b)) a classe de equivalência

p — (ODE: xb = yal.

Assim,-

C=Íems/- ebx=ay em D.
by
Agora vamos definir operações + e +« no conjunto quociente

LM | no = IpraeD be DA) =
b
Sejam (a, b) e (cd)e D x D?. Então,
soma:
ac ad+bo
b d bd
Anéis, ideais e homomorfismos 61

produto:
a co atc
b d bed

Observe que se b, de D* então b. de D* pois D é um domínio


de integridade.
Como das vezes anteriores em que definimos operações em con-
juntos quocientes, vamos provar que as operações acima estão “bem
definidas” em K.
!

De fato, suponhamos que =ce 4 = z então,

1) 4 cado o
ta via
a ca Cc
2) +. +=
+» d b dd

De j=5 53 segue que: ab = ba e cd = dc em D.

d + bc a'd' + bc a Cc
Agora,
8 + CL
ba bd = bd = —b' +4 <> (ad +
+ bob'd'= (a'd' + b'c”) bd em D <> (ab (dd” + (cd (bb” = (a'b) (dd) +
+ (c'd) (bb') em D e 1) segue das igualdades ab = Pa ecd =c'd.
Para a demonstração de 2) basta observar que o = e o s <>
<> (ab”) « (cd) = (a'b) (c'd) em D e o resultado segue pelas igualdades
ab =a'b e cd = c'd. Vamos denotar por a* =" onde aeDe 1 é
a unidade de D, e denotaremos

D* = as =[racD| ck - (proc D. be Dt

É fácil provar que D* é um domínio de Integridade com unidade


l*e D*. Aliás 1* é tal que,
GC | a

V5EK então 7 + 1* =1*.


| ê
Cc

. . a
vCekt eaj *—0*t4, 0a; =].aj
e mais ainda, , E emos + 0 0* +
62 Introdução à álgebra

Consideremos agora a seguinte função:


p:D
> D*
a noa*,

É de imediata verificação que:


a) Im
q = D*
b) Ny) = face D:a* = 0*) = (0)
c) p(a+b) =(a+b)*=a*t+b* =qp(a)+q(b) Va beD
d) pla-b)=(a-b* =a*t-bt=p(a)-p(b) VabeD

Portanto D= D* cc K.

Observe também que, se 5 * 0* em K, isto é, a £ O em D, então

Deke mais, ab
a b a
Deixaremos como exercício, a demonstração de que K, +, €
um corpo onde o elemento neutro de K é 0* e a unidade de K é 1*.
Como D = D* c K dizemos que D está imerso em K. Observe
também que pe. d = |* se b£0, be D. Assim denotaremos por
b
(b*) | =; se b *£ 0, be D. Agora é fácil provar que:

D*=(at:aeD) cK = fat-(b*)| :ateD*, bte D+).


b* > 0*

O corpo K construido nesse parágrafo recebe o nome de corpo


de frações do dominio D.
Deixaremos ainda como exercicio a seguinte proposição.

PROPOSIÇÃO 7. Seja D um domínio de integridade e D < Londe L


é um corpo. Seja F a interseção de todos os subcorpos
de L contendo D (isto é, F é o menor subcorpo de L contendo D). Então,
F é isomórfico ao corpo quociente de D.
(Sugestão: Prove que F = fab"! :aeD,b + 0! e depois use K =
be D
= ((a*)-(b*) 1: ate D*, bt £ 0%).
b* e D*
CAPÍTULO IV

POLINÔMIOS EM UMA VARIÁVEL

81 Definição e exemplos
Neste capítulo vamos introduzir os polinômios em uma “variável”
(ou “indeterminada”) e desenvolveremos os parágrafos em completa
analogia com o Capitulo 2 (os números inteiros) esperando assim,
entre outros objetivos, atingir também uma maior compreensão
algébrica de Z.
Seja K um corpo qualquer. Chamamos de um polinômio sobre K
em uma indeterminada x a uma expressão formal p(x) = a, + a,x +
+... tax" +... ondea,ceK,VieNeJneNtalquea, =0Vj >n.
Dizemos que dois polinômios p(x) = a, + ax +... +ax” +...
ego)=bo+bix+... + bx*+ ... sobre K são iguais se e somente
sea =b em K,VieN.
Se p(x) =0+ Ox +... + 0x” + ... indicaremos p(x) por Ve o
chamamos de o polinômio identicamente nulo sobre K. Assim um pol-
nômio p(x)=aç+tax+..+açx” +... sobre K é identicamente
nulo <>a,=0€K VieN.
Se a E K indicaremos por a ao polinômio p(x) = a, + ax +... +
+aX” +... onde ay =a ea =0OVi>l.
Chamamos ao polinômio p(x) = a, ae K de polinômio constante a.
Se p(x)=a+ax+...+ax"+... é tal quea,£0 e a,=0
Yj > n dizemos que n é o grau do polinómio p(x), e nesse caso indicamos
p(x)=aç+ax+...+a,x",e o grau de p(x) por ôp(x) = n.
Vamos denotar por K[x] o conjunto de todos os polinômios,
sobre K, em uma indeterminada x.
Observe que não estã definido o grau do polinômio 0, e O pode
ser interpretada como uma função do conjunto de todos os polinômios
* O no conjunto N. Assim,
0:K[x]) -140)>N
p(x) »> Op(x) = grau de p(x)
Agora vamos definir operações soma e produto no conjunto K[x ].
Sejam pv(x)=a+ax+...+aa" +... e qo)=bo+ bx +
+... + bx' +... dois elementos do conjunto K[x).
64 Introdução à álgebra

Definimos
po)+ qo)=c+...+ex+... onde c,=(a;+ b)ekK,
e pO) go) =co+...+ed
+...
onde
co = Godo, C, = 49b, + a,bo, Cc, = agd, + ab, + asbo,...,
Cu=abditadi +... tab i+abo,kenN.
Observe que a definição acima de produto provém da regra
x" ex" = x"*" e da propriedade distributiva. Convencionam-se tam-
bém as regras x) =l ex! =x.
É de fácil verificação que K[x], + ,+ é um domínio de Integridade,
onde o polinômio O é o elemento neutro de K[x] e o polinômio cons-
tante | é a unidade K[x).
Observe que se identificarmos os elementos ae K com os polinô-
mios constantes p(x) = a podemos pensar em K[x] contendo o corpo K.
Segue imediatamente das definições que a função grau O possui
as seguintes propriedades:
(1) AS (x) + g(x)) < max fóf(x), ôg(x)), quaisquer que sejam os
polinômios não nulos f(x), g(x)e K[x] tais que f(x) + g(x) 0.
(11) (f(x) + g(x)) = Of(x) + dg(x) quaisquer que sejam os polinô-
mios não nulos f(x), g(x)e K[x]. Suponhamos que um polinômio
p(x) * O possua um inverso multiplicativo em K[x]. Assim existe
g(x) £ O em K[x] tal que p(x)- g(x) = 1. Pela propriedade (ii) acima
segue que p(x) = a * O é um polinômio constante. Portanto, os únicos
polinômios invertíveis em K[x]| são os polinômios constantes não
nulos.
Convém observar que a notação formal de polinômios aqui
introduzida é bastante conveniente, porém esconde um pouco O sig-
nificado preciso do que seja uma indeterminada “x”. De fato, os poli-
nômios xMx)=ay+a,x+...+ax" +... nada mais são do que
uplas. (a, a,,...,...,a,,...) onde a, * O somente para um número
finito de indices e com a canônica definição de igualdade entre uplas.
A operação de soma de polinômios corresponde a natural operação
de soma de uplas através das suas coordenadas enquanto a operação
de produto de polinômios corresponde a seguinte regra de multi-
plicação
(ao, 44, --> Ap --)* (bo, bp o bp) = (Co Cr. Co)
onde
cu=Gbitabdi+... tab, + aibo, YkenN.
Polinômios em uma variável 65

Agora, identificando:

Ls (1,0,0,....,0,...)
x+ (0,1,0,....,0,...) e

aptax+.. + ax"o (aa, -..,a,0,...) temos uma realização con-


creta, através de uplas, das noções de indeterminada “x” e de polinô-
mios nessa indeterminada.
Isso nos possibilita melhor entender a diferença entre funções
polinomiais (em uma variável) sobre um corpo K e polinômios em uma
indeterminada sobre um corpo K.
Por uma função polinomial (em uma variável) sobre um corpo K
entendemos uma função f:K > K onde existem a,,...,a,EK tais
que f(u)=açtau+... +au',VuckK.
Uma função polinomial f sobre um corpo K é dita identicamente
mula se f(u)=0 VuekK.
Por exemplo, se K = Z,, p n.º primo, sabemos que.u” = uVue K,
ou seja a função polinomial f:Z, > Z, definida por /(y) = y?— y é
a função identicamente nula sobre Z,. Mas é claro pela nossa definição
de polinômios em uma indeterminada x que p(x) =x? — x não é O
polinômio O sobre Z,. Em termos de uplas esse polinômio seria
(0, — 1,0,...,0,1,0,...) onde o 1 figura na (p + 1)-ésima coordenada.
Assim, dois polinômios distintos podem induzir a mesma função
polinomial sobre um corpo K. Veremos mais tarde que no caso de
corpos infinitos essa patologia não ocorre.
Se D é um dominio de Integridade, então de modo inteiramente
análogo à construção de K[x]| onde K é um corpo, podemos cons-
truir o domínio de integridade D[x] de todos os polinômios na inde-
terminada “x” com coeficientes em D. Por exemplo, Z[x] é o conjunto
de todos os polinômios p(x) = ay + ... + a,x”, onde a,e Z. Esses po-
linômios serão estudados no próxgmo capítulo. Um outro exemplo
importante que se consegue através dessa construção é o dominio
K[x, y] dos polinômios em duas indeterminadas “x” e “y” com coe-
ficientes em um corpo K. De fato, para isso é bastante construir o
dominio D[y] em uma indeterminada “y” onde D = K[x] é o domínio
dos polinômios em uma indeterminada “x”, com coeficientes em K.
Observe que pelas nossas considerações anteriores teremos que
x y=y:x em D[y] = K[x,y)].
De modo análogo podemos estender nossa construção para os
domínios K[x,,...;x,]) dos polinômios em n indeterminadas x,,..., X,,
com coeficientes em um corpo K.
66 | Introdução à álgebra

Os respectivos corpos de frações desses domínios serão indicadas


com parênteses em lugar de colchetes. Assim,

“SfC) SW), 96)e Kb]


Koi) e: 909) * 0 )
D(x) = e SÍ (x), g(x)E ui!
gx) JO
SF.) Lo a SO e RD ea
Klcy-..sXn) = agreaão gx, ..., x) £O
Antes de encerrarmos o parágrafo convém observar que certos
teoremas que são válidos para K[x], K corpo (como por exemplo o
algoritmo da divisão de Euclides) não são válidos em geral para os
domínios D[x] onde D é um dominio de Integridade. Pode-se provar
por exemplo que os seguintes domínios K[x, y] e Z[x] não são do-
mínios de ideais principais. De fato, o ideal gerado por “x” e “y” nãoé
principal em K[x,y] e o ideal gerado por “2” e “x” não é principal
em Z[x).
Apesar disso alguns resultados importantes se mantém quando
passamos de um domínio D para o domínio D[x], como por exemplo,
se D é um domínio fatorial então D[x] também o é. Em particular
Z[x] admite fatorização única como produto de certos polinômios
que são os análogos dos números primos em Z.

82 Oalgoritmo da divisão
Seja K um corpo e K[x] o domínio dos polinômios sobre K na
indeterminada x. Vamos agora provar um teorema que diz ser K[x]
um domínio Euclidiano.

TEOREMA 1 (Algoritmo da Divisão). Sejam f(x), g(x)e K[x] e


g(x) * O. Então existem únicos
q(x), r(x)e K[x] tais que:

SO) = q009) - gx) + ro)


onde ou (x) =0 ou óOr(x)< ôdg(x).

Demonstração. Seja fO)=aç+tax+...+ax" e


go) =bo + bx +... + bx” (Og(x) = m)
Polinômios em uma variável 67

Existência:
Se f(x) = O basta tomar g(x) = r(x) = 0. Suponhamos f(x) * O. Assim
grau f=n. Sen<m basta tomar q(x) = 0 e rx) = f(x). Assim po-
demos assumir n>m.
Agora seja f,(x) o polinômio definido por:

FO) = aba! x" « go) + filo).


É fácil observarmos que df, < ôf. Vamos demonstrar o teorema
por indução sobre Of = n.
Sen=0,n>zm=>m=b0e portanto f(x) = a, * 0, gx) = bo £ O
e teremos, f(x) = aobo 'g(x) e basta tomar qg(x) = aob, ! e (x) = 0.
Pela igualdade f(x) = f(x)— ab! x" gl)e Ofi(x) < Of(x) =n
temos pela hipótese de indução que: 1 g,(x), r;(x) tais que:

Ab) = qu(x) * g(x) + ribe)


onde r;(x) =0 ou Or,(x) < dg(x). Dai segue imediatamente que:
f(x) = (gy(x) + abr! x""")glx) + ri(x), e portanto tomando qg(x) =
= qu(x) + abm' x" e r;(x) = r(x) provamos a existência dos poli-
nômios q(x) e r(x) tais que f(x) = q(x) g(x) + r(x), e r(x) = 0 ou
Or(x) < Og(x).
Agora vamos provar a unicidade. Sejam g,(x), q>(x), ri(x) e r>(x)
tais que:
10) = q,009) * go) + rilx) = qulx) * g(x) + rolx)
onde ríx) =0 ou Orix)< ôg(x), i = 1,2.
Dai segue: (qi(x) — q2(0) * g(x) = rx) — ri(%)
Mas se g;(x) * q>(x) o grau do polinômio do lado esquerdo da
igualdade acima é > dg(x) enquanto que o grau O(r,(x) — r;(x)) < dg(x)
o que é uma contradição. Logo q,(x) = qg,(x) e dai segue r,(x) = f(x) —
— qilodglx) = f(x) — q>(x)* g(x) = rx) como queriamos demonstrar.8
Se f(x) =aç+ta;x+... + ax” é um polinômio não nulo em
K[x] euxek é tal que f(x)=a+ar+...+ar =0€K
dizemos que « é uma raiz de f(x) em K. Vamos agora provar uma
proposição que limita o número dessas raízes em um corpo. Observe
que o polinômio x? + | não possui raízes em R.

PROPOSIÇÃO 1. Seja K um corpo e seja fO)=a+ax+...+ax


um polinômio não nulo em K[x] de grau n.
Então,
O número de raizes de f(x) em K é no máximo igual a Of(x) = n.
68 Introdução à álgebra

Demonstração. Se f(x) não possui raizes em K a proposição está


provada.
Suponhamos que «eK seja uma raiz de f(x).
Como g(x) = x — « e K[x] podemos usar o algoritmo da divisão.
Assim Jg(x), r(x)e K[x) tais que: f(x) = qg(x)-(x — a) + r(x) onde
(x) = O ou ôr(x) < dg(x) = 1. Assim, r(x) = by é um polinômio cons-
tante, e temos f(x) = q(x)(x — «) + b, e como f(x) = O segue
que O =0+b,ou seja (x) =0e f(x) = q(x)* (x — «) onde dg(x) = n — 1.
Agora como não existem divisores de zero em um corpo segue
que se Be K é uma raiz qualquer de f/ então, f(B) = (B — a): q(B) =
=0=>8=aou f é também uma raiz de q(x)e K[x). Assim as raizes
de f são a e as raizes de qg(x).
Vamos usar indução sobre Of = n.
Ora sen = O f não possui raizes em K e nesse caso já vimos que
nada hã a demonstrar.
Agora por indução, da(x) < df(x) = n, g(x) possui no máximo
ôg(x) = n— 1 raizesem K e portanto f(x) possui no máximo n raizes
em K, como queriamos demonstrar. E
Esta proposição nos dá alguns corolários interessantes.
Seja K um corpo. Se L > K é um corpo dizemos que L é uma
extensão de K. Observe que o polinômio x? + 1 possui duas raizes
em C5>R.

COROLÁRIO 1. Seja f(x) = ay + ax +... + a,x" um polinômio não


nulo de grau nem K[x]. Então, f(x) possui no máximo
n raizes em qualquer extensão L de K.

Demonstração. Basta observar que se f(x)eK[x]) e KcL então


f(x)e L[x] e agora é só usarmos a proposição anterior
para o corpo L. E
Observe que o polinômio xº — 2 não possui raízes em Q, possui
apenas uma raiz em R e possui 3 raizes em C. Assim, ao extendermos
o corpo podemos conseguir mais raizes de um dado polinômio, porém
esse número de raízes será sempre limitado pelo grau desse mesmo
polinômio. Observe também que o fato de estarmos trabalhando com
corpos é fundamental em relação ao resultado do corolário 1, para
isso recorde que o polinômio x? + 1 possui infinitas raizes no anel
de divisão dos Quatérnios enquanto o polinômio x? + x possui 4
Polinômios em uma variável 69

Seja K um corpo e f(x) = ay +a,x+... + ax” um polinômio


em K[x). Se ue K denotamos por f(u) a expressão f(u) = ay + aju +
+...+tauv ek.
Vimos no Parágrafo 1 que sobre Z, = K existem diferentes poli-
nômios f(x) = x? — xe g(x) = Otais que f(b) = g(b) =0Vbe K = Z,.
Agora vamos provar que isto não ocorre em corpos infinitos.

COROLÁRIO 2. Sejam f(x) e g(x)e K[x] onde K é um corpo com


um numero infinito de elementos.
Então,

fo)=90)< f(b) =g(b)vYbe K.

Demonstração. (=>) trivial pela definição de igualdade de polinômios.


(<=) seja h(x) = f(x) — g(x)e K[x]. Assim, por hipótese,
temos, h(b) =0V be K, e como K é infinito segue imediatamente de
Proposição 1 que h(x) = O ou seja f(x) = g(x) como queriamos de-
monstrar. E
Em outras palavras o Corolário 2 acima nos diz que para corpos
infinitos é válido o “principio de identidade” para polinômios.

EXERCÍCIOS
1. Determine q(x) e r(x) tais que:

SO) = q(x) * g(x) + r(x)


onde r(x) = 0 ou Or(x) < dg(x) e f(x), g(x)e Rfx].
(a) fo)=x+x—1, go)j=x+L
(b) fo) =x*+1 » go)=x+41.
(O fo)=02-1 0, go)=x—1.
(d) fo) =x*—2 » go)=x]-—-2.
(e) fo)=x*-—2 » go)=x— 42.
2. Sejam f(x), g(x)e Z[x]eg(x) = bo + bx + ... + bx” ondeb, = 1.
Prove que Jq(x), rx)eZ[x] tais que: f(x) = g(x)* g(x) + r(x)
onde r(x) = O ou odr(x) < dg(x).
3. Seja f(x)e K[x] — (0!, K um corpo, e seja L > K uma extensão
de K. Prove que, se «ce L é uma raiz de fx) então IJ g(x)e L[x]
tal que f(x) = (x — «)- g(x). [isto é, se a é uma raiz de f(x) em
um corpo então (x — a) é um fator de f(x) nesse corpo).
70 Introdução à álgebra

4. Seja K um corpo. Dizemos que K é um corpo algebricamente


fechado se Y f(x)e K[x]Jae K tal que f(x) = 0. (Por exemplo €
é um corpo algebricamente fechado).
Prove que:
R não é um corpo algebricamente fechado.
. Prove que todo polinômio de grau impar sobre R possui uma raiz
em R [Sugestão: use o teorema do valor intermediário).
Prove que se K é algebricamente fechado, então todo polinômio
HRx)e K[x] de grau n > 1 pode ser fatorado em K do seguinte
modo:

fo)=ci(x-a)(x—a)...(x— a)

onde cekK, e q«,,...,a, EK são raizes de f(x).


Fatore o polinômio x* — 1 sobre o corpo K = € como no Exer-
cício 6.
. Calculea soma e o produto d dos polinômios f(x)= 2. x + 4x? +

E sobre o corpo Z. 2
. Prove que se D é um dominio de Integridade então D[x] é também
um domínio de integridade. Conclua daí que se K é um corpo,
então K[x,, x,,...,x,) é um domínio de integridade.
10. Se 4 é um anel comutativo com unidade 1 e 4 construa o anel
Alx] dos polinômios sobre 4 na indeterminada x. Prove que
A[x] é também um anel comutativo com unidade.
11. Calcule todas as raizesem K = Z, do polinômio f(x) = xº + 3x? +
+ x? + 2xe Z[x].
12. Seja K um corpo e L > K uma extensão de K. Sea e Le f(x)e K[x],
fO)=açtax+..+ax” definmos f(o)=aç+aa+.. +
+ ax eL.
(a) Prove que K[a] = (f(x): f(x)e K[x]! é um dominio de in-
tegridade tal que
Kck[ajcL.
(b) Prove que y: K[x] > K[«] é um homomorfismo sobrejetivo.
SO) no fla)
(c) J = (f(x)e K[x]: f(x) = 0) é um ideal de K[x]
(d) K[x]/J = K[aJ cL.
Polinômios em uma variável 71

13. Prove que Q[/2]=(f(/29: f(x)e Qlx]) é igual a


(x + y/2:x, ye Q). Prove
que o ideal J = (f(x)e Q[x] : f(/2)=0
é um ideal maximal de Q[x] e conclua pelo item (d) do Exercício
12 que Q[,/2] é um corpo (generalize para ./P, p primo > 2)

14. Calcule f(x): g(x), f(x), g(x) e K[x] nos seguintes casos:
(a) f(x) = 5xº +3x—- 4: g(0)=2x —- x+3 onde K =Z..
(b) fo)=7x*-2x]2+3; gx)=3x? +4 onde K =Z,,.
15. Calcular uma outra função polinomial f sobre o corpo K = Z,
que coincida com a função polinomial x? — x + 1 sobre Z..

16. Mostre que a equação X? = 1 possui 4 soluções no anel Z,..


Porque?
17. Sejam D e D' dois domínios isomorfos. Prove que: D[x| = D'[y]
onde D[x] é o dominio dos polinômios sobre D na indeterminada
x, e D'[y] é o domínio dos polinômios sobre D' na indeterminada ».
18. Prove que: se F é o corpo de frações de um dominio D então,

F(x) = D(x),
onde F(x) é corpo de frações de F[x] e D(x) é o corpo de frações
de D[x).

19. Quantas funções f:Z, > Z, existem?


20. Se K é um corpo e ackK,a 0,
(a) Prove que: y: K[x] > K[x] é um automorfismo
plc) > p(a * x)= y(p(x))
de K[x]).
(b) O que acontece se K for substituido no item anterior por um
domínio D? y será também automorfismo?

21. Seja K um corpo e ace kK.


Prove que:

q: K[x]> K[x]
pl) mo p(x + a) = q(p(x))
é um automorfismo de K[x].
22. Seja K um corpo f(x)e K[x] eae K. Prove que o resto da divisão
de f(x) por gx) =x — a é fl(a).
72 | Introdução à álgebra

83 Ideais principais e máximo divisor comum

Seja K um corpo. Como sabemos, um ideal principal de K[x]


é o conjunto dos múltiplos de um elemento p(x) e K[x], isto é, tem a
forma
J = K[x] - p(x) = (f6) plo): flo) K[x])

Neste parágrafo, vamos provar a existência de Máximo Divisor


Comum em K[x] e para isso vamos provar um teorema que diz ser
K[x] um domínio principal.

TEOREMA 2. Todo ideal de K[x] é principal.

Demonstração. Seja J um ideal de K[x]. Se J = (0) então J é gerado


por 0. Suponhamos que J * (0J e escolhemos0 * p(x)e J
tal que ôp(x) seja o menor possivel. Se p(x) = a constante * O então
l=a"l.geJ e assim segue imediatamente que J = K[x] é gerado
por 1e K[x]. Suponhamos então ôp > 0.
Como p(x)eJ claramente temos K[x]- p(x) c J. Agora vamos
provar que J c K[x]- p(x) e isto demonstra o Teorema 2.
De fato, seja f(x)eJ. Pelo algoritmo de Euclides temos que
1 q(x), r(x)e K[x] tais que f(x) = q(x)- p(x) + r(x) onde ou r(x) = 0
ou Or(x) < Op(x).
Agora, como f(x), p(x)€eJ segue imediatamente que r(x) =
= f(x) — q(x)- p(x)eJ e pela minimalidade de nossa escolha do
polinômio p(x)e J segue que r(x) = O e portanto temos f(x) =
= q(x) - p(x)e K[x] - p(x) como queriamos demonstrar. &
Antes de enunciarmos o próximo teorema vamos definir a noção
de divisibilidade em K[x).
Sejam f(x), g(x)e K[x], g(x) * O. Dizemos g(x) é um divisor de
f(x) em K[x] (ou g(x) divide f(x) em K[x)) se IJ h(x)e K[x] tal que,
f 09) = ho) * g09.
Se g(x) é um divisor de f(x) em K[x] escreveremos g(x)Ny (x) em K[x].
Se pi(x) ..., Pmix)€ K[x] sabemos que J = K[x)-p;(x) +... +
+ K[x]- pao) = 1ib)e pil) +... + fx)
é Pao) : flo)e K[x])
i=1,2,..,m
é o ideal de K[x] gerado por p,(x),..., pmx)e K[x].
Polinômios em uma variável 73

TEOREMA 3 (Existência de M.D.C.). Sejam

pal), ..., Pmlx) E K[x] — (0)


e seja o ideal J = K[x]- p;(x) + ... + K[x]- pax) de K[x] gerado
pelos polinômios não nulos | py(x), s PrlX).
Se dx)e K[x] é tal que J = K[x]- d(x) então são válidas as se-
guintes propriedades:
(a) Ir,(x)...,rix)e K[x] tais que
dx) = r100) * pal) +... + ra) * Pabx).
(b) d(x) é um divisor comum de p,(x), pix), ..., Px).
(c) se d(x) é um divisor comum qualquer de p,(x), pa(x), .-., PmkX) então
d'(x) é também um divisor de d(x).
Um polinômio satisfazendo as condições (b) e (c) chama-se um
M.D.C. de p,(x), ..., px) em K[x]. É claro que se d(x) é um M.D.€.
de p,(x),..., px) em K[x] ac k, a * 0 então a-d(x) é também um
M.D.C. em K[x] desses mesmos polinômios.

Demonstração. (a) sai imediatamente da igualdade


K[x] + d(x) = K[x] + pio) + ... + K[x] pal).
(b) seja ietl,...,m! e K[x]- doc) = K[x]-
pj) +... + K[x]- pax).
Então é claro que,

pix)e K[x]- pix) = K[x]+pi(x) + ... + K[x] e pax) = K[x]dios)


e portanto Jr(x)e K[x] tal que pí(x) = rXx)+ d(x), isto é, d(x) é um
divisor de cada pí(x), i = 1,2,...,m.
(c) seja d'(x) um divisor comum em K[x], de p,(x), ..., PmkX), isto é,
Jríx)e K[x] tal que pix) = "9) e d(x),i = 1,2,...,m.
Assim,

K[b] + pl) c Kb) do)Vietl,2,...,m)


e dai segue que,
Kb) + dx) = K[x] + plo) + ... + K[x])e pio) o K[x] e do),
ou seja, 3 r(x)e K[x] tal que d(x) = r(x)+ d(x) e isto demonstra o
Teorema 3. E
Se f(x)=aç+ta;x+...+a,x” é um polinômio não nulo de
K[x] tal que a, = 1 dizemos que f(x) é um polinômio mônico em K[x).
Se pilx),....pix)e K[x] — (0; é claro que existe um único
74 — Introdução à álgebra

M.D.C. mônico de p,(x),..., prtx) em K[x]. Nesse caso dizemos o


M.D.C. de pilx),..., px) em K[x] o qual denotamos por
M.D.C.fp,(x), ..., pmlx)). Se M.D.C. fp,(x), ..., pmlx)) = 1 dizemos que
K[x] K[x]
os polinômios são relativamente primos em K[x], e nesse caso
Ir(x),....ráx)e K[x] tais que r,09)ºp,00) +... + elo) pal) = 1.

EXEMPLO. Vamos provar nesse exemplo que o domínio 4 = Z[x]


não é um dominio de ideais principais.
De fato, seja 1 o ideal de 4 gerado por 2e x, isto é, 1 = 4-2 +
+ 4x = $2p(x) + x- g(x) : p(x), g(x)e Z[x].
Suponhamos por absurdo que 4 é um dominio de ideais princi-
pais. Assim existe d(x)e4 tal que I = A-d(x), e isto nos diz que
A2+ 4x = A-d(x)e portanto dx) é um M.D.C. de 2 e x em Z[x].
Como 2 é um número primo em Z e 2 não é divisor de x em Z[x] pois
1/2$7Z, segue imediatamente que dx) + I.ou seja,

|I=M.D.C./2,x) em Z[x]) e A2+4.x=4.

Assim existem polinômios p(x) e qg(x) com coeficientes inteiros


tais que 1 = 2p(x) + x- q(x) o que nos dá um absurdo pois o termo
independente da expressão 2p(x) + x + q(x), p(x) q(x) e Z[x | é sempre par.
O domínio 4 = Z[x] apesar de não ser um domínio de ideais
principais é um domínio fatorial e isto nos dá imediatamente a exis-
tência de M.D.C. em Z[x]. Apenas o M.D.C. d(x) e Z[x] de polinômios
p(x), q(x) e Z[x] nem sempre pode ser escrito na forma d(x) = r(x) p(x) +
+ s(x) q(x), com r(x), s(x)e Z[x], como acontecia com o M.D.C€. em
K[x], onde K é um corpo.

EXERCÍCIOS
1. Mostre que 3 p(x), q(x) e Z[x] tais que dp(x) = dg(x) = 2ex* + 4 =
= p(x)- q(x).
2. Calcule M.DC.c tf(x), g(x); para os seguintes pares de poli-
nômios em C[x]:
(a) fx) = (x — 2 (x — 5)* (x — i); gl) = (x — Dx — Mx — SP
(b) SO) = (6º + De — 1); go) = (x + Do — 1).
3. Calcule M.D.C.f f(x), g(x)) para os seguintes pares de polinômios
em Q[x].
Polinômios em uma variável 75

(a) fo)=x)-6x +x+4; go)=xº— 6x +41


(b) fo)=m2+1; go0)=x*
+ x) +x+1
Seja f(x), g(x)e K[x] — (0) e seja ae K,a % O. Então prove que:
d(x) é um M.D.C. de f(x) e g(x) em K[x] <> a + d(x) é um M.D.C.
de f(x) e g(x) em K[x).
Seja f(x), g(x)e K[x] — (0) e L > K uma extensão do corpo K.
Prove que:
(a) MPC. 0), 909) = MDC. UC), 900)
(b) f(x) e g(x) são relativamente primos em K[x] = f(x) e g(x)
são relativamente primos em L[x).
Defina a noção de M.D.C. em Z[X] e prove que:
M.D.C.(3,x) = 1.
Z(X)

. Seja D um domínio de integridade. Dizemos que um elemento


ueD é invertivcel em D se JveDtal que ucv=vu=1.
Prove que:
(a) u,v invertíveis em D => u.v invertível em D
(b) u invertível em D<>u divide x,VY xe D.
Seja D = Z[./p] onde p éum número primo. Seye D, y =m + np
defina N(y) =mº — pen?.
(a) Prove que se y,y ED então N(y-y) = N(y): N(y)
(b) Prove que se u é invertível em D então N(u) = +1.
(c) Calcule os elementos inversíveis de Z[./2] e Z[/3].
. Calcular g(x), mx) tais que f(x) = q(x): g(x) + r(x) onde ou
(x) = 0 ou or(x) < dg(x).
(a) fo)=x*—- x + 3x— 5: g(x) = x? + 7€ Q[x].
(b) fo)=xX —-x*+3x—5S; gx) =x — 2€ Q[x].
(o) fo)=x*—- x) +3x— 5; gx) =x + 2€Z5[x]).
(d) fo)=x—-x*+3x—-5S; go)=x* + x— 1eZ;[]).
10. Quais dos conjuntos J) c Q[x] são ideais de Q[x]. Em caso afir-
mativo, calcule p(x) mônico eJ tal que J = Q[x]- p(x). Quais J
são ideais maximais de Q[x]?
(a) 3 = (Ho) QL]: SM) =fM=0)
(b) J=ifl)c Ox]: f0)=0; f(5) £ 05
(0) J = (f(x) Ox] : (43) = 03.
(d) JS =) QL]: HI) =0 e SAO = f(1)s.
76 | Introdução à álgebra

84 Polinômios irredutíveis e ideais maximais

Seja K um corpo e K[x] o domínio dos polinômios sobre K na


indeterminada x.
Nesse parágrafo vamos introduzir os polinômios em K[x] que,
dentro da analogia de K[x] com Z, fazem o mesmo papel dos números
primos em Z. Esses polinômios serão chamados de polinômios irredu-
tiveis sobre K.
Seja f(x)e K[x] tal que df(x) > 1. Dizemos que f(x) é um
polinômio irredutível sobre K se toda vez que f(x) = g(x): h(x),
g(x), h(x)e K[x] então temos g(x) = a constante em K ou h(x) = b
constante em K. Se f(x) for não irredutível sobre K dizemos que f
é redutível sobre K.
Claramente temos que todo polinômio de grau 1 sobre um corpo
M éirredutível sobre M. Observe também que o polinômio f(x) =x” + 1
é irredutível sobre o corpo R porém é redutível sobre C. Asssm um
polinômio f(x)e K[x] pode ser irredutível sobre K e redutível em
uma extensão LO K.
Agora vamos provar um teorema relacionando polinômios irredu-
tíveis e ideais maximais (veja a comparação com números primos em Z).

TEOREMA 4. Sejam K um corpo e p(x)e K[x].


Então as seguintes condições são equivalentes:
(a) p(x) é irredutível sobre K.
(b) J = K[x]-p(x) é um ideal maximal em K[x).
(c) K[x]/J é um corpo, onde J = K[x]- p().

Demonstração. A equivalência (b) <> (c) sai imediatamente do Teorema


3 do Capítulo 3. Assim vamos apenas provar que
(a) «> (b) |
(a) > (b): Suponhamos p(x)e K[x], p(x) irredutível sobre K, e seja
J = K[])- po) = (g(x) * p(x) : g(x) E K[x]!. Como grau
p(x) > 1 temos imediatamente que J * K[x).
Se 1 = K[x]-h(x) é um ideal de K[x] tal que 1 > J vamos provar
que I=Joul=K[x]. (Observe que estamos usando o Teorema 2:
todo ideal de K[x] é principal).
Assim, p(x) E K[x]* p(x) = K[x] - h(x) nos diz que, p(x) = g(x) * h(x)
para algum g(x)e K[x]. Como p(x) é irredutível temos que
g(x) = ae K — (0) constante ou h(x) = be K — (0) constante.
Polinômios em uma variável 77

Se g(x) = a + O constante temos que h(x) = a”! - p(x) e portanto


1 = K[x]-h(x) c K[x]- p(x) = J e isto nos dá 1 =J.
Se h(x) = b 4 O constante temos 1 = K[x]-h(x) = K[x] e isto
termina a implicação (a) = (c).
(b) > (a): Seja J = K[x]- p(x) um ideal máximal em K[x).
Assim J * K[x] nos diz que ôp(x) > 1.
Suponhamos g(x), h(x)e K[x] e p(x) = g(x)- h(x). Assim segue
imediatamente que Jc I=K[x]-h(x) e como J é máximal temos
que J=IoulI=kK[x). Se J=I segue que h(x)eJ = K[x]- pí(x)
e isto nos diz que h(x) = f(x) p(x) para algum f(x)e K[x]. Daí segue
que p(x) = g(x)* f(x) * p(x). Como p(x) * O e K[x] é um domínio de
integridade teremos 1 = g(x)- f(x), isto é, g(x)€e K[x] é um polinômio
invertível em K[x]). Portanto temos imediatamente que g(x) = a £ 0
é um polinômio constante.
Se I = K[x] segue imediatamente que h(x) = b * O constante
ou seja p(x) é irredutível sobre K como queriamos demonstrar. E
Vamos ver aqui alguns exemplos de corpos obtidos através do
quociente de domínio do tipo 4 = K[x], K corpo por um ideal maximal
em 4:

EXEMPLO 1. Primeiramente vamos provar que se 4=R[x] e


I=A-(x? + 1) então 4/1 = €. De fato, como (x? + 1)
é um polinômio irredutível em K[x] segue que L = A/I é um corpo.
Se p(x)e 4 então pelo algoritmo da divisão existem polinômios
q(x), r(x)e4 tais que:
p(x) = q(0o)- (x? + 1) + rtx), onde (x) = bx + a com a, be R.
Passando a barra (congruência módulo 1) e tendo em vista que
(x? + 1) =0 temos,
p=) (x +D)+ro)=n)=bx+a=bex+a
Assim, L = fb-x + ã:a, be R). Observe também que se denotarmos
R=(ã:aeR) então a função barra —:R > R preserva soma e
ana
produto e de fato é um isomorfismo, ou seja R = R.
Agora, como em L,x =« satisfaz a equação z? + 1 =0 pois
x2?+1=x?+ 1 =0 podemos então construir um isomorfismo y
de € sobre L como segue:
78 Introdução à álgebra

y:C>L,e portanto C = L.
a+binsa+ bx
[MSX
ana

EXEMPLO 2. Seja 4=Q[x]e 1=A-(x” — p) onde p é um número


primo positivo. É de fácil verificação que K = fa+
+b/p:a, be O) é um subcorpo de R contendo O e ./P (aliás é o
menor tal subcorpo). Vamos mostrar nesse exemplo que 4/1 = K.
De fato, seja L = A/I = fp(x): p(x)e 4), onde a barra é relativa
a congruência módulo 1. Como ./p$Q sabemos que x? — p é um
polinômio irredutível em Q[x] e portanto L é um corpo.
Se p(x)e4 então pelo algoritmo da divisão existe g(x), r(x) em
Q[x] tais que: P(x) = q(xXx” — p) + r(x), onde r(x) = a + bx,a,be O.
Como no exemplo anterior segue imediatamente que p(x) =
=q0)-(x2-p)+rO)=r(x)=a+b-x e portanto, L=fa+bx :a,be O).
De modo inteiramente análogo ao Exemplo 1 chegamos que a
função barra: — : OQ > O é um isomorfismo ou seja O= 0 = (4: ae O)
e também x =a« satisfaz em L a equação z? —- p=Opoisx?-p=x? —-p=0.
Assim podemos construir um isomorfismo y : K > L como segue:
V:KSL
a+b/proa + bx
ana
X > Jp

EXERCÍCIOS
1. Seja K um corpo e f(x)e K[x] — (0). Prove que, se f(x) é um
polinômio de grau > 2 e possui uma raiz ae K então f(x) é re-
dutível sobre K.
2. Mostre que todo polinômio f(x)e R[x] de grau impar >3 é
redutível sobre R.
3. Determine todos os n de modo que x? + 2 divide
x* — 10x + 122 em Z,=(0,1,..,n— 1).
4. Determine todos os polinômios de grau 2 que sejam irredutível
sobre K = Z,.
5. Determine todos os polinômios irredutíveis de grau < 3 sobre
K=Z,.
Polinômios em uma variável 79

6. Prove que se J = R[x]-(x? + 1) é um ideal maximal de R[x] e


identifique o corpo R[x]/J.

7. Mostre que x?) + x + le Z,[x] é irredutível sobre Z,.

8. Mostre que o polinômio p(x) = x* — 2 éirredutível sobre o corpo O.


9. Seja K um corpo e p(x)e K[x] um polinômio irredutivel sobre K.
Seja f(x)e K[x] — (0). Prove que, se f(x)p(x) então ou f(x) = a
constante não nula ou p(x) = b-f(x) com b £ 0,be K.
10. Prove que f(x) = x* + 4 é um polinômio redutível sobre o corpo O.
11. Seja K um corpo e f(x)e K[x] um polinômio tal que 1 < 0f(x) < 3.
Prove que ou f(x) é irredutível sobre K ou f(x) possui uma raiz
em K. E se grau de f(x) = 4º
12. Seja f(x)e R[x] tal que df(x) = 2.
Prove que, f(x) é irredutível sobre R <> f(x) pode ser escrito na
forma f(x) =(x— a? + b? onde a,beR e b*O0.
13. Seja K um corpo e p(x)e K[x| um polinômio irredutível sobre
K. Se f(9), 909)
€ Kb] e pl)V(9- g(x), prove que pl)V() ou
pogl).
(Sugestão: veja a demonstração análoga feita para números
primos no Parágrafo 5 do Capítulo 2).

85 Fatorização única

Seue K — (0) ese p,(x),..., prlx) são polinômios irredutíveis sobre K


vamos usar a expressão f(x) = ucp,(x)... pmtx) de tal modo que in-
cluiremos na mesma a possibilidade f(x) = u no caso de m = O.

TEOREMA 5. Seja K um corpo. Então todo polinômio f(x)e K[x] — 107


pode ser escrito na forma,
fO) = ue pi0)... palx)
ondeue K — (0! e pi(x), pa(x), ..., PmlX) são polinômios irredutíveis sobre
K. (não necessariamente distintos).
Mais ainda, essa expressão é unica a menos da constante u e da ordem
dos polinômios p,(X), -.., PrX).
80 Introdução à álgebra

Demonstração.Seja f(x)e K[x] — (03.


Vamos provar por indução sobre Of(x) = n.
Sen =0 f(x) =u constante não nula. Assim, podemos assumir
of) =n>1.
Vamos supor pela hipótese de indução que todo polinômio não nulo
de grau menor que n pode ser escrito na expressão desejada, e vamos
demonstrar que f(x) também pode ser escrito naquela expressão.
Suponhamos, por absurdo, que f(x) não possa ser escrito como
produto de irredutiíveis. Então f(x) é um polinômio redutível sobre K.
Assim,

Ig(x), ho)e K[x), 1<ôOg(x)<n, |<oh(x)<n


tais que f(x) = g(x) * h(x).
Agora, por indução temos,
go) = acpi(x)... pix), acK — (0) e pilx)..., px)
polinômios irredutíiveis sobre K. Analogamente,

ho) = bp, +00)... Pax), DEK — 0) e pri)... Pmlx)


polinômios irredutíveis sobre K.
Assim, f(x)=ucpi(x)... páx), onde u=abeK-— (0) e
Pi(x), ..., pix) polinômios irredutiveis sobre K.
Vamos agora demonstrar a unicidade da expressão.
Suponhamos
SO) = ue pl)... pax) = u + pal)... pdx)
onde u,u EK — 10) E pi(X),..., PrlX) Pi(x), -.., páx) são polinômios
irredutíveis sobre K.
Assim, temos,

Pi0)P400) ... pÃx)


e daí segue que JujeK — (0! tal que píx) = u;* p;(x) (nesse caso
dizemos que p(x) e p;(x) são associados em K[x)).
Agora o teorema segue por indução sobre m.
Sem=lep,(x) irredutível temos que necessáriamente s = 1 e
pi(x) e píx) são associados em K[x).
Suponhamos m > 1. De píx) = u;* pi(x) e sendo K[x) um domií-
nio temos que:

ue pa(x) ... Pmlx) = ue u;* pal)... Pio a(X)


e Pis (x)... PÁX)
Polinômios em uma variável 81

e daí segue pela hipótese de indução quem — 1 =s — 1 (istoé,m =)


e mais cada px) está associado com algum píx) através de uma cons-
tante, e isto termina a demonstração do teorema. E

EXERCÍCIOS
1. Se K é um corpo. Prove que K[x] satisfaz a condição da cadeia
uscendente de Ideais (isto é, se (J;+; x é uma sequência de ideais
de K[x)eJ,cJ,/cJ,c..cJ,c... então ImeN tal que
Jm = Ima=J,
m+s
=. VseN)
(Sugestão: Veja o Capítulo 2, Parágrafo 5).
2. Mostre com um contra-exemplo que se K é um corpo então K[x]
não satisfaz a condição da cadeia descendente de ideais.
(Sugestão: Seja J, = K[x]+ x' o ideal gerado por x)
3. Use o teorema da fatorização única para definir M.D.C. e M.M.C.
de polinômios.
4. Decomponha o polinômio x* — 5x? + 6 em produto de fatores
irredutiveis sobre os seguintes corpos K:
(a) K = OQ.
(b) K = 0[2]
(o) K =R.
5. Decomponha sobre o corpo K = Z, os seguintes polinômios como
produto de irredutíveis:
(a) x? +x+1 o (b) x +x+2:
()I3 +) + x+ 1: (d) x* +)
+ x + 1.
6. Prove que o polinômio x? — 3 é irredutível sobre o corpo K = Z..
Mais ainda, se J = Zs[x]-p(x), onde p(x)=x? — 3 então o
corpo Z,[x]|/J possui exatamente 25 elementos.
7. Prove que o polinômio p(x) =x? + x +1 é irredutível sobre
Z , e mostre que o corpo Z,[x]/J possui exatamente 125 elementos
onde J = Z,[x]-p(x) é o ideal principal de Z,[x] gerado por
p(x) = x) + x + 1.
8. Seja p(x) um polinômio irredutível de grau n sobre o corpo Z,,
p primo, e seja J = Z,[x]- p(x). Prove que Z,[x]/J é um corpo
contendo exatamente p” elementos.
82 introdução à álgebra

9. (a) Defina a noção de irredutibilidade em um domínio D.


(b) Prove que Z[./5] = D é um domínio onde não é válido o
teorema da fatorização única.
(Sugestão: Prove que 2,3 + /5 e 3 — ./5 são elementos irredu-
tíveisem De verifique que 4=2.2=(3+ 5)(3—- 5)
(c) Conclua então que em D = Z[,/5] não existe Algoritmo da
divisão de Euclides.
10. (a) Prove que p(x) = x? + 1 é irredutível sobre K = Z, e cons-
trua um corpo contendo 49 elementos.
(b) Prove que p(x) = x? + 1 é irredutível sobre K = Z,, e cons-
trua um corpo contendo 121 elementos.
(c) Prove que p(x) = x? + 1 é redutível sobre K =Z,.
(d) Prove que p(x) = x — 9 é irredutível sobre o corpo K = Z,;
e construa um corpo contendo (31)º elementos.
(e) Prove que p(x) = x* — 9 é redutível sobre Z,,.

86 Ocritério de Eisenstein

A verificação da irredutibilidade de um polinômio sobre um


corpo é, em geral, um problema dificil. Veremos nesse parágrafo um
teorema que nos dá condições suficientes para que um polinômio
f(x)e Q[x] seja irredutível sobre Q. Claramente, multiplicando f(x)
pelo M.M.C. dos denominadores dos coeficientes de f(x), podemos
supor que f(x)e Z[x]. Vamos usar também a notação akb significando
que “a não é um divisor de b”
Primeiramente vamos provar uma proposição (Lema de Gauss)
que nos diz que irredutibilidade sobre Z de f(x)e Z[x] é equivalente a
irredutibilidade de f(x) sobre O

PROPOSIÇÃO 2 (Gauss). Seja f(x)e Z[x] tal que f(x) é irredutível


sobre Z então f(x) é irredutível sobre OQ.

Demonstração. Suponhamos que f(x) seja irredutível sobre Z mas


fx) = g(x)- h(x), onde g(x), ho)e Q[x] e 1 < dg(x),
Oh(x) < Of(x).
Claramente existe inteiro positivo m tal que m f(x) = g,(x)º h;(x)
onde g,(x), hi(x) e Z[x].
Polinômios em uma variável 83

Assim temos,

gilx)=açtax+...+ax, aeZ.
hb)=bo+bx+.. + bx, beZ.
Suponhamos agora que pim, p primo. Vamos provar que
paViell,...,r; ou pbVjefl,...,s).
De fato, se die (l,...,r) e Jje(1,...,s) tais que pka, e pXb, con-
sideremos i e j menores possíveis com esta propriedade.
Ora, como pim temos que p divide o coeficiente de x'*' do poli-
nômio mÃx)= gil) h;(x), isto é, pMbocas;tbDbicas;-1 +... +
+b;yra+...+bu;rca+b;; ao).
Pela nossa escolha de i e j temos que p divide cada parcela, exceto
b;* a;, do coeficiente de x'*? de gy(x)+ hy(x).
Como p divide toda a expressão segue também que pib, * a, € como
p é um número primo temos que pib, ou pla; que é uma contradição.
Assim, se p primo, pim > pla, Vie (1,...,rj ou pib,Vje [1,...,s).
Sem perda de generalidade, suponhamos que pla; Vie (1,2,...,r).
Assim, g;(x) = p* g(x) onde g(x)e Z[x], e sem = pem, temos

pem, f(x) = pe gx) hilx)


mi f(x) = gx) + hy(x).
Como o número de fatores primos de m é finito prosseguindo no
argumento acima (ou por indução sobre o número de fatores primos
de m) chegaremos que:

fl) = 9*00)- h*(x) onde,


9*(x), h*(x) e Z[x]

e g*(x) e h*(x) são multiplos racionais de g(x) e h(x), respectivamente,


contradizendo a irredutibilidade de f(x) sobre Z. E

TEOREMA 6 (Cntério de Eisenstein). Seja f(x) =aç+ ax +... +


+ a,x" um polinômio em Z[x).
Suponhamos que exista um inteiro primo p tal que:
(a) pra,
(b) plao,
44, -..,Gh-1
(c) p'Xao.
Então f(x) é irredutível sobre Q.
84 Introdução à álgebra

Demonstração. Pela proposição anterior é suficiente provar que f(x)


é irredutível sobre Z. Suponhamos por contradição que,

F 6) = g(x) - h(x), 96), hlx) e ZEx]


e 1 < ôg(x), Oh(x) < 0f(x) =n
Seja,
go) =bo + bx +... + bx eZ[x], dg(x) =r
h(x)=co+cx+...+exeZ[x],. Oh(x) =s
Ássm n=r+s.
Agora bo * co = o e assim pib, ou pic, e como p?Xa, segue que
p divide apenas um dos inteiros by, co. Vamos admitir, sem perda de
generalidade, que pib, € DXco.
Agora a, = b,-c, é o coeficiente de x" = x'** e portanto pkb, e
po. Seja b; o primeiro coeficiente de g(x) tal que pkb,.
Agora a=boccit+b,-c ,+...+b;cy e portanto como
Pbo --.,b;-, PXb; e Pc,> pa,>i=n o que é um absurdo pois
Ixixr<nE
Vamos ver alguns exemplos de polinômios irredutíveis sobre OQ.

EXEMPLO 1. Seja f(x) = x* + 2x + 10. O critério de Einsenstein


se aplica para o primo p = 2, portanto f(x) é irredu-
tível sobre Q.

EXEMPLO 2. Agora, seja p um número primo qualquer e seja


p(x) = x" — p um polinômio de grau n > 1 sobre OQ.
Claramente, o próprio primo p se aplica no critério de Einsenstein, e
portanto p(x) é irredutível sobre OQ.

EXEMPLO 3. É de imediata verificação que se K é um corpo e


ac K então,

y: Kb] > K[x]


SO) vo flx + a)
é um automorfismo de K[x).
Assim, não é difícil concluir que se K éum corpo, ae Ke f(x)e K[x]
então f(x) é irredutível sobre K se e somente se f(x + a) é irredutível
sobre K. Vamos usar isto a seguir.
Polinômios em uma variável 85

Seja p um número primo >2 e seja g(x)e Z[x] o polinômio


qo) =x""1 4x2 +... +x"+x+ 1. Vamos provar que q(x) é
irredutível sobre Q. Não podemos aplicar imediatamente o critério
de EFisenstein, porém sabemos pelo argumento acima que g(x) será
irredutível sobre Q se g(x + 1) for irredutível sobre O. Desenvolvendo
ax+D=(x+D7"!+(+41P2+.+(K+DP+(a+D+I é
fácil de ver que o primo p se aplica no critério de Eisenstein e portanto
q(x) é irredutível sobre OQ.
Agora vamos enunciar como proposição mais um critério de
irredutibilidade sobre OQ.

PROPOSIÇÃO 3. Seja p um número primo e seja Z, = (0,1,...,p-D


o corpo contendo p elementos.
Se flx)=a+tax+... + ax"eZ[x] vamos definir o polinômio
f(lO)e Z,[x] do seguinte modo:
f(x) = ag+tax+... + ax”

onde a,=a+p'Z é a classe de equivalência, módulo p, cujo repre-


sentante é ae Z.
Então,
(a) q :Z[x] — Z [x] define um homomorfismo (sobrejetivo) do domínio
SO) no flo)
Z[x] sobre o domínio Z [x].
(b) Se pka, e f(x) é irredutível sobre Z, então f(x) é irredutível sobre Q.
(Observe que se f(x) é mônico, então pXa, = 1 é sempre satisfeita).

Demonstração. (a) a demonstração desse item é direta e deixamos como


exercicio.
(b) suponhamos f(x) =aç+tax+..+a,x"; grau f=nep
primo pXa,.
Suponhamos que f(x)e Z[x] é redutível sobre Q. Então sabemos
(Lema de Gauss) que
Igo)=bo+bix+..+bxeZ[x] grau go) =r, I<r<n
e dh(x)=co+cx+..+cx'eZ[x)] grau h(x)=s, |<xs<n
tais que f(x) = g(x) * h(x).
Imediatamente segue que:

fl) = 9(x) - h(x)


86 Introdução à álgebra

onde g(x)e Z [x] e h(x)e Zp [x].


Mais ainda, como a, = b,* c, e pXa, segue que pxb, e pxc, e por-
tanto b, * 0 e & * O, isto é, grau g(x) = r e grau h(x) = s e portanto
f(x) é redutível sobre Z, e isto demonstra a proposição. E

EXEMPLO 4. Seja f(x) = x* + 10xº + 15x? + 5x + 12€e Z[x].


Vamos provar que f(x) é irredutível sobre OQ.

Como 5kXl pela proposição anterior é suficiente provarmos que


fl) = x* + 2 é irredutível sobre Z,.
A primeira observação que fazemos é que x* + 2 =f(x) não
possui raizes em Z,. Assim a única possibilidade de fatorarmos
f(x) = x* + 2 seria a seguinte:
xt +2=(ax +bx+o(ax? + bx +)

tas é fácil concluir pela impossibilidade dessa última fatoração.


Assim,

fO9) = x* + 10x) + 15x? + 5x + 12


é irredutível sobre OQ.

EXERCÍCIOS
1. Prove que os seguintes polinômios f(x)e Z[x] são irredutíveis
sobre Q.
(a) fo) =x*+ 2x) +2x] + 2x +2
(b)flx)=x'— 31
(c) f(x) = xº + 15
(D)fl)=x)+ 6x] + 5x + 25
(Ofb)=x+8x + x] +2x+5
(O f(x) = x* + 10xº + 20x? + 30x + 22
2. Determine quais dos seguintes polinômios são irredutíveis sobre O:
(a) x*- x+1 (b) x) + 2x + 10;
(0) x*—- 2x? + x + 15; (d) x* + 2
(e) x* — 2 () x*-x+1.
3. Seja flx)=aç+ ax +... + ax"eZ[x] um polinômio de grau n.
Prove que, se f(x) é mônico, então toda raiz racional de f(x) é
inteira.
Polinômios em uma variável 87

4. Prove que f(x) = ax? + bx + ce R[x) é irredutível sobre


R<ob? — 4ac < 0.
5. Determine quais dos seguintes polinômios sobre os seguintes corpos
K são irredutiveis:
(a) x” + 22x) + 11x? — 44x + 33, K =Q
(b) x*— 7x] +3x +3 » K=Q
(O) x*=s5 , K=Z,,
(d) x* —5 , K=Z,,
(e) x* + 7 , K=Z,
CAPÍTULO V

EXTENSÕES ALGÉBRICAS
DOS RACIONAIS

O objetivo principal desse capitulo será a construção de corpos


KO0OcKkKcC através do processo de adjunção de raízes de um
polinômio. Vamos também provar alguns resultados que serão úteis
no desenvolvimento da Teoria de Galóis.

81 Adjunção de raízes

Neste parágrafo, K representa um corpo e L > K uma exten-


são de K.
Dizemos que «eL é algébrico sobre K se 3 f(x)e K[x] — (0)
tal que f(x) = 0. Caso contrário dizemos que «a é transcendente sobre K.
Os elementos algébricos (transcendentes) sobre Q são ditos sim-
plesmente algébricos (transcendentes). Assim, 2 é um elemento al-
gebrico enquanto x é um elemento transcendente. Se «e K, evidente-
mente « é algébrico sobre K pois é raiz de p(x) = x — «e [x].
Se VYVaeL>K, a é algébrico sobre K então L > K diz-se uma
extensão algébrica.
Seja «e L algébrico sobre K e seja p(x) um polinômio em K[x],
mônico, de menor grau tal que p(«) = O. Pela minimalidade do grau
de p(x) segue claramente que p(x) é o único polinômio mônico irredu-
tível em K[x] tal que p(x) = 0, o qual denotaremos por p(x) = irr(x, K).
Se «eL > K definimos K[«] = t f(x): f(x)e K[x]!, e é de fácil
verificação que K[a«] é um subdomínio de L que contém K.
Antes de enunciarmos o próximo teorema vamos dar alguns
exemplos.

EXEMPLO 1. Se à = ZeL =R>Q=K vamos mostrar que


k[«] = 0[,/2] = (a + b/2:a, be Q). De fato, por
definição temos 0[/2] = [f(/2): f(x) e Q[x]). Agora se f(x) e O[x]),
segue pelo algoritmo da divisão que existe g(x), (x) e Q[x] tais que
FO) = go)(x? — 2) + r(x), onde (x) = a + bx,a, be Q, e dai vem que
H/D=H/D)=a+b/2, abeQ.
Extensões algébricas dos racionais 89

EXEMPLO 2. Se à = 2 eL=R>Q=K vamos mostrar que


K[0] = 0[3/2] = fa + b 2 +4]c(3/2): a, b,ceQ).
De fato,
0142] = (4/2): f(x) e QD).
Agora, se f(x)e Q[x] existe qg(x), (x) e Q[x] tais que f(x) =
= g(x)(x* — 2) + r(x), onde (x) = a + bx + cx?,a,b,ce O.
Dai vem imediatamente:

0[4/2] = fa + (3/9) + (3/2): a, b ce O).


Provaremos mais adiante que se «e L > K é um elemento algé-
brico sobre K então K[«] é um subcorpo de L. Em particular, Q[/2]
e Q[$/2] são exemplos de corpos.
O próximo teorema é consequência imediata do 1.º teorema de
homorfismo de anéis e deixamos a demonstração para o leitor.

TEOREMA 1. SeaeL>DKese
Se PF: K[x]> L é definida por PC f (x)) = f(a), en-
tão P é um homorfismo tal que:
(1) Im PVP = K[a), K cv KfaJc L.
(ii) « é transcendente sobre K <>IN(P) = (0).
(111) se « é algébrico sobre K e p(x) = irr(«, K) entâoIN(P) = K[x]- p(x)
é um ideal maximal de K[x]).
(1v) K[Ix]/NCP) = Ka].

Demonstração. Essa demonstração é consequência direta do 1.º teo-


rema de homorfismo de anéis e das definições dadas
nesse parágrafo. E

COROLÁRIO 1. Seja aeL > K. (a) Se a é algébrico sobre K então


K[«] é um subcorpo de L que contém K.
(b) Sea é transcendente sobre K então K[«] é um subdominio de
L isomorfo ao dominio K[x] dos polinômios em uma indeterminada x.

Demonstração. (a) Segue imediatamente de (in) e (iv) do Teorema 1.


(b) Segue imediatamente de (ii) e (1v) do Teorema 1. E

COROLÁRIO 2. Se q, BeL>K são raizes de um mesmo polinômio


irredutível sobre K, então K[x] e K[$] são corpos
isomorfos.
90 | Introdução à álgebra

Demonstração. De nossas hipóteses segue imediatamente que p(x) =


= ira, K) = irr(b, K). Agora, pelos itens (iii) e (iv) do
Teorema anterior temos, J = K[x]: p(x) e K[x] = K[x]/J = K[$]
são corpos. E

PROPOSIÇÃO 1. Seja L > K,«€eL algébrico sobre K. Se o grau do


polinômio irr(a, K) é n, então (a) Vf(x)e K[x]), f(a)
pode ser expresso de modo único na forma f(a) =aç+aa+...+
+a- a"! onde a,e K.
(b) kK[u)=ta+aa-+...+a- ã !:aeK) é um subcorpo
de L que contém K.
(c) se K=Z, então K[«] é um corpo contendo exatamente p”
elementos.
Demonstração. Seja p(x) = irr(x, K). Por hipótese, grau de p(x) é igual
an.
(a)se f(x) e K[x] então pelo algoritmo da divisão 3 q(x), r(x) e K[x|]
tais que: /(0) = g(x)* p(x) + r(x) onde r(x) = O ou O(r(x)) < dp(x). As-
sim (x)=ay+ax+...+a, x”! onde a,ekK, i=0,1,...,n—1.
Agora temos,

Flo) = a(o)* plo) + rx) e plo) = O => fa) = ra)


ou seja fl) =ap+anx+...+a, qo.
Para demonstrar a unicidade da expressão temos: se f(x) = ay +
+aa+...+ta gu! =b+ba+..+bo x !a,beKVie
etl,...,n — 1) segue imediatamente que o polinômio g(x) e K[x] onde
go) =(ao—-b)+(a—- bx+...+(a,—b, )x"”! é tal que
g(a) = 0 e dg(x) < n = O(irr(a, K)). Assim g(x) = O e daí segue a, = b,Y
Viefl,..on-— 1).
(b) esse item é conseqiiência imediata do item anterior.
(c) para demonstrar esse item basta observar que pelos itens ante-
riores temos:
Zoo] =ta+ar+...+a a iaeZ.
Assim existe uma correspondência bijetiva entre Z,[«] e o conjunto de
todas as n-uplas (a,,a,,....a,.,)onde cada a,eZ, = (0,1,...,p— 1)Je
isto demonstra o item (c). B

EXEMPLOS. Seja a = “/pe R, n inteiro >2e p primo > 2. Então


« é uma raiz real do polinômio x” — p que é, pelo cri-
tério de Eisenstein, irredutível sobre OQ.
Extensões algébricas dos racionais 91

Assim x" — p = rr(«, Q) e temos, Q[x] é um subcorpo de R


contendo Q e mais ainda, O[x] = (ap + aa +... +a,ax" !:a,eQ,
i=0,...,n— 1).
Por exemplo,
0-0[/2]=fa+ta,/2:a,,a eQD)<R
Q - 0[42) = (ao + a; /2 + a; (4/2) :49,0,,0,€
O; CR
003] =(aç+ta;3+ a(/32 + ad(/3) :40,41,42,4;€ O; R
Agora se 5 é uma raiz cúbica complexa de 2, BÉR, temos que,
Qc-Q2I<RrRQOcOfp]<c
e mais ainda [4/2] = Q[f] pois /2e Re fe C são raizes do mesmo
polinômio indutível x) — 2 sobre Q.
Se p; é um número primo > 2 vamos definir «, por «, = 2/pe R.
Observe que w,e R é raiz do polinômio x? — p que é irredutível
(Eisenstein) sobre O,VieN.
Assim temos, os corpos K, = Q[a,] onde O c K,c R, e ainda
mais, O=K,cK,cCK,C...ckK,co...cR é uma cadeia ascen-
Oo

dente de subcorpos de R e portanto |) K, é também um subcorpo


i=0
de R.
Agora, seja K = Z, então Z (x), o corpo de frações de Z,[x], é
um corpo infinito de característica p e mais xe Z,(x) é um elemento
transcendente sobre Z,. Vamos provar em seguida que todo corpo
finito F de característica p cujo corpo primo é P = Z, é algébrico
sobre P. De fato, se «e F temos que P[«)] é um subdomínio de F e
como F é finito temos que P[«] é um domínio finito e portanto um
corpo. Pelo Corolário 1 desse parágrafo segue imediatamente que «a
é algébrico sobre P.
Finalmente, observe que R[i] =C e QO[1] = Q[x).

82 Corpo de decomposição de um polinômio

Neste parágrafo consideraremos K um subcorpo de €. Vamos


também admitir que € é um corpo algébricamente fechado, fato esse
conhecido como o “teorema fundamental da Álgebra” e primeiro de-
mostrado por Gauss, em 1799, em sua tese de doutoramento na Univer-
sidade de Helmstadt. Como referências podemos citar: W. K. Clifford,
Mathematical Papers 1968 ou L. H. Jacy Monteiro, Elementos de
Álgebras — IMPA 1969. Assim, se f(x)e K[x] é um polinômio de
92 Introdução à álgebra

grau n>l ea,,a,,...,x, são todas as distintas raízes de f(x) em


C temos que,
fo) =c(x—a)'...(x— a)” em C[x]
onde ceK e r,m,,...,m, são inteiros positivos.
O inteiro m, chama-se multiplicidade da raiz «,. Se m, = 1 dize-
mos que á, é uma raiz simples de f(x).
Se f(x) =a +ax+.. + ax" e K[x) definimos f(x) =
= a, + 2a,x +... + nax""!e K[x] o qual chamamos a derivada de
f(x). Observe que se df(x) =n > 1 entãof(x) £0e0df(x)=n-—1.
Se f(x), g(x)e K[x] e ae K segue imediatamente as seguintes re-
gras:
(09 + 90) = f6) + go)
(a + fd) = af)
69 96) = (6º) go) + FO) g'6g).
PROPOSIÇÃO 2. Seja f(x)e K[x], Of) =n>1 e «EC uma raiz
de f(x). Então,
(a) « é raiz simples de fl) <=>f(a) = 0 e fo) £ 0.
(b) se f(x) é irredutível sobre K então todas as raizes de f(x) são
simples.

Demonstração. (a) Para a demonstração deste item basta observar que


se «e é uma raiz de f(x) de multiplicidade m > 1
então, em C[x], temos a seguinte fatorização:
f(x) = (x — a)”. g(x) onde g(x)e C e g(a) * 0.
Agora em C[x], usando a regra da derivada de um produto temos,

OfO)=me(x— o)”. g(x) + (x — a)” gx).


Portanto, como g(«) * O, temos claramente que m-(x — a)"”1! não é
o polinômio nulo e mais, f (x) = 0 <>m > 2. E isto demonstra o item a).
(b) seja f(x) e K[x] um polinômio irredutível sobre K e «e € uma
raiz de f(x) de multiplicidade m. Vamos provar que m = 1.
Seja p(x) = irr(x, K). Pelo algoritmo de Euclides segue que 3 q(x),
r(x)e K[x] tais que,
Fx) = q(x)- p(x) + r(x), onde n(x) = 0 ou ôOr(x) < ôp(x).
Como r(x) = f(x) — g(x)- p(x) = O segue pela minimalidade do grau
de p(x) = irr(x, K) que m(x) = O e f(x) = q(x)- p(x). Portanto, pela 1r-
Extensões algébricas dos racionais 93

redutibilidade de f(x) segue que 3JaeK tal que gx) =ackK e


fl) = a pl).
Agora se m > 1 segue do item (a) que f(x) = a- p(a) = 0, ou seja
p(x) = O o que contradiz a minimalidade do grau de p(x). Assim,
m=1 ea proposição está provada. 8
Chamamos corpo de decomposição de um polinômio f(x)e K[x]
sobre K, que denotaremos por L = Gal (f, K) ao menor subcorpo de
€ que contém K e todas as raizes de f(x) em C. Observe que tal menor
subcorpo existe e é igual a interseção de todos os subcorpos de €
contendo K e todas as raizes de f(x) em C.
Sejam f(x)e K[x] e «,,...,a, as distintas raizes de f(x) em €.
Veremos agora um modo construtivo de definir Gal(f, K).
Consideremos,
Ko=KckKk,=K[,]|ck,=Ki[u,]Jo.. ck, =K, l0,).
Claramente K, é o menor subcorpo de € contendo K e «,,...,a;
e portanto K, = K,.,[x,] = Gal(f, K).
"* Denotando K, = K[«,,...,«,] temos Gal(f, K) = K[x,,...,a,].
E imediato que qualquer que seja a ordem em que pegamos as raizes
& 1»... X, ainda assim esse processo, chamado adjunção de raizes, nos
levaria a Gal(f, K).
EXEMPLOS. As vezes para pegarmos todas as raizes «,,...,«, não
precisamos das r etapas. De fato, as vezes uma etapa
é suficiente. Ou seja, ao ajuntarmos uma raiz «, as demais ficam auto-
maticamente incluídas.
Por exemplo, sejam 1 =awç,%,,...,%,-, as n raízes em €C do
polinômio x" — 1e Q[x] onde n > 1. E fácil provar que, se « =
21 21 - o
=cos— +isen—e€eC então a" =1 e mais ainda: 1 =0º,a, =
n n
=ga!,u?,...,a"" n-11 são as n distintas raízes de x"— 1 em C. Assim, «, =
= qeQ[ajVie(0,...,n-— 1) e portanto,
Gal(x" — 1,0) = QOfa,).
1 3
Agora seja à = Y2€ER e b= ve(- — + Yiec uma raiz
2 2
complexa de x) —- 2 Q[x]. É fácil verificarmos que «a,B,B =
Í 3
= 2 (- 777 ) são as 3 distintas raízes de x) — 2 em C e nesse
caso necessitamos de duas etapas, isto é,
94 Introdução à álgebra

Gal(x? — 2,0) = QOfa, 8].


n Zn... 21
Vamos mostrar agora que se « = 2 eReu=cos— + isen —
n n
(raiz n-ésima da unidade) então Gal(x" — 2,0) = Q[c,u] = Of, 6]
onde 6 =a-u é uma raiz de x — 2 em €. Primeiramente é claro
queseu =1lea"=2 então B"=2 onde 8 =a-ue mais Q[x,u] =
= Qla, 6]. Pode-se tâmbém provar que:
n-1
x, Qu, au”, ..., QU
n-1
são das distintas n raizes de x” — 2 em C. Observe que 1,u,u”,...,u
são as distintas n raizes de x*— 1 em €.
Agora deixamos como exercício provar que Gal(x” — 2,0) =
= O[x,u] = Oo, 6).
EXERCÍCIOS
1. Construir o corpo de decomposição sobre Q, dos seguintes poli-
nômios:
x —-3,x-3,xº-2ex'—s5.
2. Defina a noção de derivada de um polinômio sobre um corpo
arbitrário e mostre que sobre Z, temos a possibilidade de f (x) = O
onde f(x) é um polinômio não constante sobre Z,.
3. Seja K um corpo de característica zero e f(x)e K[x]. Prove que se
f(x) =0 então f(x) é um polinômio constante.
4. Sejam p e q números primos > 2 ea, É definidos por: « = /ge R
21 À
eu=l[cos—+i-sen— el.
Pp Pp
Prove que:
(a) a, au, qu?,... au?” 1 são as p distintas raizes de x?—-q em €.
(b) ir(, 0) =x-ge iu O) =x"1+x+..+x+1

(c) Gal(x? — q,0) = (ate :A:;€Q O<i<p- |


Todo CO<xj<p-—2
(Sugestão: Gal(x” — q, 0) = O[q,u])
5. Se ae K, f(x), g(x)e K[x], onde K é um corpo, então são válidas
as seguintes regras de derivação:
(a) (009) + 909) = g'6º) + g'09);
(b) (a -f09)) = ac f'69);
(c) 60)- 90) = f(x) + gb) + SO)
+ g'0s).
Extensões algóbricas dos racionais 95

Sejam a = Y2eR e b = a(- + Siec


Então, prove que:
(a) Of] = O[8]
(b) | Aut Q[x]| = 1 (onde | X| = número de elementos do con-
junto X). . .
(c) Gal? — 2,0) = Q[x,8] = O[x,6] = QB, 6).
(d) se L = Gal(xº* — 2m Q) então |Aut L| = 6.
(observe que se ceAut Leu =2 então o(u)” = 2)
. Se L > K é uma extensão de K onde K é um subcorpo de €, então
vamos definir o seguinte conjunto:
Aut;L = (0 =AutL:o(a) =aVack).
Seja f(x)e K[x] e xe L uma raiz de f(x) em L, prove que: o(a)
é também uma raiz de f(x) em L, Voce Autp L.
. Prove que:
(a) | Aut O[4/2]| =2
(b) Gal(x* — 2,0) = Q[42,i]
(c) se L = Gal(x* — 2,0) então | Aut L| = 38.
Seja L um corpo qualquer e P o corpo primo de L. Prove que
Voe Aut(L) então o(a) = aVY ae P. Em particular, se L > Q en-
tão Aut L = Aut L.
10. Seja fl)c Q[x] e L = Gal(f,0Q). Então a raiz de f(x) e
ce Aut L = o(a) é raiz de f. Mais ainda, se f é irredutível sobre
OQ temos Of] = O[o(o)].
11. Prove que:
(a) Gal(xé — 1,0) = Q[x] onde «1 e q =1.
(b) Qluv] = (ay +ax+ aa + a; :a,eQ,i=0,1,2,3)
onde q =1 equal.
(c) se L = Gal(xº — 1,0) então [Aut L| =4.
12. Seja p um número primo > 2. Prove que:
(a) Gal(x? — 1,0) = Q[x] onde = 1 e al
(b) O[a]=(aç+ar+...+a, o? :a,eQO,i=0,...,p = 2).
(c) se L = Gal(x? — 1,0) então [|AutL|=p-— 1.
13. Mostre que no plano R? as raízes n-ésimas da unidade são vérti-
ces de um polígono regular de n lados inscritos em uma circun-
ferência de raio 1.
Generalize o resultado para as raizes n-ésimas de 2. Faça os de-
senhos para n = 3,4,5€6.
96 Introdução à álgebra

83 Grau de uma extensão

Neste parágrafo vamos necessitar de algumas noções básicas de


Álgebra Linear, como espaço vetorial e base. Seremos o mais sucinto
possível e deixaremos como exercicio demonstrações de algumas pro-
posições elementares, as quais poderão ser encontradas em qualquer
livro introdutório de Álgebra Linear.
Seja K um corpo qualquer e seja Vum conjunto não vazio onde
está definida uma operação soma. Suponhamos também que esteja
definida, uma operação de elementos de K por elementos de V. Assim,
estão definidas:
+:VxV5>oV eKxVsovV
(u,v)msu+ (A,
0) > àv
Dizemos que V munido dessas operações é um espaço vetorial
sobre o corpo K se as seguintes propriedades são verificadas quais-
quer que sejam uvweVe AuekK:
E)Ju+(v+w)=(u+v)+ w (associatividade da soma)
E,) 3J0eVtal queu +0=0+u=u (existência de elemento neutro
para a soma)
E,)VxeVIyeV tal que x+y=y+ x =0 (existência de inverso
aditivo)
E) u+v=v+u (comutatividade da soma)
E,) lv = v onde 1 é a unidade do corpo K.
Eç) Mu+v=Au+Avel(u+ Au =uu+Au
E.) Auv) = u(Av) = (Au.

EXEMPLO 1. Seja K um corpo qualquer e K" = Kx...x Ko


conjunto de todas as n-uplas (a,,...,a,) onde cada
a;e K. Assim,
EK
Ke = (lay sa) 6 +
i=l,...,n
Dois elementos (a,,...,a,) e (b,,...,b,) de K” são iguais se a, = b;
Vie(l,...,n).
Se definimos,

(1) (a,, «++ Qh) + (b,, + D,) = (a, + b,, --, 0, + ba),
onde (a,,...,a,)) € (b,,...,b)e
K”.
(2) AMa,,...,a,) = (4a,,...,4a,)
onde 1JleK e (a,,...,a,)e K”.
Extensões algébricas dos racionais 97

Segue imediatamente (verifique) que K” com as operações definidas


acima é um espaço vetorial sobre o corpo K. Em particular R” é um
espaço vetorial sobre R.

EXEMPLO 2. Sejam $ um conjunto não vazio e K um corpo qual-


e quer. Consideremos o conjunto 7(S, K) de todas
funções f: S> K.
Sejam fge /(S, K) e AEK. Definindo:
YU +g9ks)=f(s)+g(s) Yses
(AfXs) = A + f(s) Vses
também temos que 2 (S, K) é um espaço vetorial sobre o corpo K.
Em particular 7 ([0,1], R) é um espaço vetorial sobre R.

EXEMPLO 3. Sejam K um corpo qualquer, L > K uma extensão


e «eL. Verifique que pode se definir operações sobre
K[x] (respectivamente K[x]) de modo que K[x] (respectivamente
K[u] torna-se um espaço vetorial sobre K.
EXEMPLO 4. Finalmente L > K é uma extensão de corpos L pode
ser visto como espaço vetorial sobre o corpo K. De
fato, as operações
LxL>5L ekKkxL5SL
(uv) mou +v) (A, u) > Au
já existem de modo natural no corpo L. A verificação das proprieda-
des que definem espaço vetorial deixamos como exercício.
Até o fim desse parágrafo K representa um corpo e V um espa-
ço vetorial sobre K.
Um subconjunto não vazio W de V diz-se um subespaço vetorial
de V se as seguintes condições são satisfeitas:
SE) v,;,weW=>w, + weW
SE,) 4 K,we W=> Awe W.
Observe que pelas condições acima as operações do espaço ve-
torial Vinduzem operações em We Wé ele próprio um espaço veto-
rial com as operações induzidas.
Se v,,...,v,€ Vdizemos que v,,...,v, são linearmente independen-
n

tes se a equação vetorial >) av, =0,a«,e K é satisfeita apenas para


i—1
os escalares «q, =a«, =... =q«, =0. Caso contrário dizemos que
V1,---,V, SãO linearmente dependentes.
98 Introdução à álgebra

Usaremos simbolicamente L.I. para linearmente independentes


e L. D. para linearmente dependentes. Por exemplo, e, = (1,0,...,0),
e, = (0,1,0,...,0),..., e, = (0,0,...,0,1) são L.IL em K”.
Se us,u,,...,u,€ V então é fácil verificar que

W = Ê qu:mgekK,i=1, cor)
i=1

é um subespaço vetorial de V, o qual chamaremos de subespaço ge-


rado por u,,...,u,. Denotaremos esse espaço por,

W = (us, cs U,).

Se um conjunto (ordenado) v,,...,v,e V for L. I e tal que


(v,,...,U,) = V dizemos que v,,...,v, é uma base de V.
Por exemplo, e,,...,e, é uma base de K”.
Agora vamos enunciar (sem demonstração) o seguinte teorema.

TEOREMA 2. (a) Todo espaço vetorial V sobre um corpo K possui


uma base.
(b) se um espaço vetorial V sobre um corpo K possui uma base
com n elementos então toda base de V possui n elementos. &
Se um espaço vetorial Vsobre um corpo K possui uma base com
n elementos, chamamos ao número n de dimensão de V sobre K e de-
notamos [V:K] =n.
Observe que € é um espaço vetorial sobre R de dimensão 2 pois
l,ieC é uma base desse espaço. Assim [C:R] = 2.
Agora vamos mostrar algumas proposições importantes no de-
senvolvimento da nossa teoria. Antes vamos dar a seguinte definição:
Seja K um corpo qualquer. Uma extensão L > K diz-se finita se
[L:K]=n< 0. Caso contrário L > K diz-se uma extensão infinita.

PROPOSIÇÃO 3. Seja K um corpo e L> K uma extensão de K.


Então,
(a) se L>K é finita então L> K é algébrica.
(b) seae L > K é um elemento algébrico sobre K e grau de irr(a, K)
é igual a n então 1,a,...,a"”! é uma base do espaço vetorial K[a] so-
bre K e [K[a]:K] =n< 00.
(c) se «aeL>DK é um elemento transcendente sobre K então
K[«] > K é uma extensão infinita.
Extensões algébricas dos racionais 99

Demonstração. (a) seja [L:K] =m < co ex«eL > K sendo K[«] um


subespaço de L segue imediatamente que [K[«]: K] <
<m<o. Se [K[«]:K|] =n então 1,a,...,a” são L. D,, pois n é
o número máximo de elementos L. I., e portanto existem escalares
ay, 4,,.-.,4, não todos nulos tais que
agtaa+...+aa” =0
e isso nos diz que « é algébrico sobre K.
(b) seja «e L > K um elemento algébrico sobre K tal que grau de
irr((o, K) = n.
Vimos pela Proposição 1 deste capítulo que todo elemento de
K[x] pode ser escrito de modo único como combinação linear sobre
K de 1,9,...,a""!. Assim 1,9,...,a"”! é uma base de K[0] sobre K
e isto nos diz que [K[a]:K] =n.
(c) Decorre imediatamente do item (a). &
O seguinte corolário decorre imediatamente da Proposição 3.

COROLÁRIO 1. Seja «eL > K. Então as seguintes afirmações são


equivalentes:
(1) a é algebrico sobre K
(1) [K[x]: K] < oo
(in) K[x] é uma extensão algébrica de K.

PROPOSIÇÃO 4. Sejam M>L>K corpos tais que [M:L] e


[L:K] são finitos então [M : K] é finito e
[M:K] =[M:L]-[L:K]
Demonstração. Seja v,,...,v, uma base de M sobre Le seja u,,...,u s

uma base de L sobre K. Vamos provar que:


i=,...r
B = fica 'j — Na

é uma base de M sobre K e isto demonstra a proposição.


De fato, primeiramente vamos provar que 5 é um conjunto LI.
em M sobre K.
Se a;eKlI<i<ri<j<se)a;vu;=0.
LR)

Podemos reescrever essa equação do seguinte modo:


(Xu tau +...+taugdv+...+(e uy +oeu,+...+oarugo =0.
100 | Introdução à álgebra

Ora como os u;s estão em L segue, pela independência linear


dos v;s em M sobre L, que:

CyqUy + Gyguz +... + Mus =0

X jU1 + Xr2U2 +e.+ sus = 0

Agora como os «;;s estão em K segue pela independência linear


dos us em L sobre K que cada «,, =0,] <i<r,l<j<s. As-
sim 5 é um conjunto L. I de M sobre K.
Agora vamos provar que É é um conjunto gerador de M sobre K.
De fato, sejalyeM.
Sendo v,,...,v, Pr
uma base de M sobre L existem 4,,...,4,€L
tais que,
y=Av, +... +4p.
Sendo cada 4,e Leu,,u,,...,u, uma base de L sobre K existem
a;eKl<i<rl<j<s tais que,

À; = GU, + Coy +... + Qi.


Dai segue imediatamente que,
y =D, 4UiU;, «ek, I<i<xrl<j<s,
t,J .

como queriamos demonstrar. &

COROLÁRIO 1. (a) Oç = (xe C :a algébrico sobre O) é um subcor-


po de €, que é uma extensão algébrica infinita de Q.
(b) Op = fue R:a algébrico sobre Q; é um subcorpo de R, que
é uma extensão algébrica infinita de O.

Demonstração. (a) Claramente o subconjunto O« de C contém OQ.


Para provarmos que O é um subcorpo de € é sufi-
ciente provarmos as seguintes três propriedades:
D) ,BeQOç=>a — BeQç
2) aBeO >aBeOç
- l -
3) 0O+4c0Oç>0"! = 4 € de.

Vamos demonstrar simultaneamente 1), 2) e 3). De fato,


Seja K = Q[«] e L = K[B]. Como a é algébrico sobre OQ se-
gue que [K :Q] < 0. Agora claramente sendo f algébrico sobre O,
B também é algébrico sobre K e daí segue que [L:K] < 00.
Extensões algébricas dos racionais 101

Pela proposição anterior temos que,


[L:Q]=[L:K]-[K:0]< o
e pela Proposição 3 temos L > Q é uma extensão algébrica. Agora

o resultado sai imediatamente pois « + BeL,a-BeLe —eLse a + 0.

Imediatamente segue que O, é uma extensão algébrica sobre Q. Agora


se &, = 2/2 e K,=0, K, = Ofa,),...,K, = K;.,[x;] temos que
qo — —
M = |J K; é uma extensão algébrica infinita de O e M c Og c Oç.
i=0

(b) Basta observar que Op = Qcn R e também

M=UKk Gm

COROLÁRIO 2. Seja K > Q tal que [K:0] = me seja p(x)e Q[x]


um polinômio irredutível sobre O de grau n.
Se M.D.C. tm, n) = 1 então p(x) é um polinômio irredutível sobre K.

Demonstração. Seja «e CU uma raiz de p(x). Considere agora os cor-


pos Q[«] = K[«] e suponhamos que [K[«]:K] =r
e [K[«]: O[x]] = s.
Claramente temos [O[«]:0] =ne [K[«]:K] =r =n. De fato,
pela Proposição 6 (veja figura abaixo) segue que

Kla]

Qlo]

nes=mer e como M.D.C. (n,m) = 1 vem ny. Mas r<n nos diz
que n=r e assim p(x) é também irredutível sobre K. E

COROLÁRIO 3. Seja L = Gal(xº — 2,0). Então [L:Q0] = p.(p— 1).


102 | Introdução à álgebra

Demonstração. De fato, sabemos que L = Gal(x? — 2,0) = Q[a,u]


2% 21 ,
onde «= /2€eR e u= (cos + sen ZE Je c é
Pp Pp
uma raiz p-ésima da unidade tal que 1,u,u”,...,u?”* nos dão todas
as distintas raizes p-ésimas da unidade em CU (por isso u diz-se ser
uma raiz primitiva da unidade).
Agora pela Proposição 6,

[L:0] = [L: O[0])-[O[«]: 0].


Pelo critério de Eisenstein temos [O[«]:Q] = p. Agora se K = Q[a]
temos L = K[u] > K > Q. Ainda por Eisenstein temos que u é raiz
de x1 + x2+...+x+ 1 que é polinômio irredutível de grau
p— 1 sobre Q. Como [K:Q] =p e M.D.C. tp,p— 1) = 1 temos
pelo corolário anterior que x"! + x"? +... +x+ 1 é ainda irre-
dutível sobre K tendo u como raiz. Portanto [K[ul:K] =p -— 1 e
isto demonstra o nosso corolário pois
L=kK[uJek=0Ql] a
TEOREMA 3. Seja L>K >Q tal que [L:K|< 0. Então, JueL
tal que L= K[u).

COROLÁRIO 1. Seja L>K>20Q tal que [L:K])< o. Então,


[L:K] >| Aut, L| (onde | Aut L | denota o número
de elementos do conjunto Aut L = |feAut L:f(Ú)=AVÃEK)!).

Demonstração do Corolário. Como [L:K] < oo existe ueL tal que


L = K[u).
Agora se oc € Autp L e p(x) = irr(u, K) segue por um exercício anterior
que u = c(u) é também raiz de p(x), u eL. Ora K[u] Le
[K[u']:K] = [L:K] = ôp(x) nos diz que L = K[u] = K[u']. Como
o(a) =aVae Ko fica completamente determinado pelo valor u' = o(u).
Assim o número | Aut L| é no máximo igual ao número de raizes
u' de p(x) que pertencem a L. Certamente esse número é no máximo
o grau do polinômio p(x) = irr(u, K) = [L: K] e isto demonstra nosso
corolário. E

Demonstração do Teorema 3. A demonstração será por indução sobre


o grau [L:K] < 00.
Se [L:K] = 1 segue que L=K eo teorema é válido trivialmente.
Extensões algébricas dos racionais 103

Suponhamos [L:K] > 1. Assim Ja,EL, q, ÉK.


Seja K, = K[x,]). Se K, = L o teorema está demonstrado. As-
sim, Ja,€EL tal que a, éK,.
Seja K, = K,[x,] = K[x,;x,). Como [L: K] < o conseguimos
41,%2,-::50,,r > 2, elementos de L tais que, L = K[u,,%,,...,4,] €
céEK[a,,.. ua 3] =Ko ,,K,=L2DK,., =
=k[u,,...og Jo... >k,=k[u,])DKk,=K.
Como [K,.,: K] < o temos pela hipótese de indução que I« ce K,.,
talque K,., = K[%] e daí segue imediatamente que L = K, = K[x,a,).
Chamando a, = BEL temos L = K[a, 8].
Agora vamos provar que existe ueL tal que L = K[u].
Sejam p(x) =irr(a, K) e qg(x) = irr(B, K) tais que ôdp(x)=m e
ôg(x) = n. Pela proposição2, item b deste capítulo segue que todas
as raizes de p(x) (respectivamente de qg(x)) são distintas em €.
Sejam à, =a,%,,...,Xm as raizes de p(x) em C e sejam 8, = 8,B,,...,B,
as raizes de q(x) em €. Vamos definir para j * 1 os seguintes núme-
ros complexos,
x; — à
jJHI, A;= EL.
Bb — 6;

ço. - . I<xi<m
Como K é um corpo infinito entãoI AE K tal que efa |
V2<j<n
Agora sejau = a + A48€E Le assim K[u] = L, vamos provar que de fato
L = K[u]. Para isso vamos provar que a, Se K[u).
Seja F = K[u] e seja h(x) = p(u — Ax)e F[x], observe que h()) =
= p(u — A8) = p(x) = 0. Mas $ também é raiz de g(x)e K[x] < F[x].
Portanto (x — f) é um divisor de d(x) = M.D.C. cx) tg(x), h(x)). Vamos
de fato provar que d(x) = x — $, e para isso é suficiente provarmos
que se d(b,) = O então j = 1 já que d(x)ia(x), e q(x) só possui raizes
simples.
Se d(B;) =0 e j * 1 teremos h(B;)) = O ou seja p(u — 48) = 0 0
que nos diz que di, | <i<mtal quea=u-dlb;=a+a4B- dB,
e daí segue que 4 = 4;, contradizendo a nossa escolha de 4. Portanto
x — B = d(x).
Agora se di(x) = M.D.C.p,, ta(x), h(x)) temos por Fc C que
grau d;(x) < grau d(x). Portanto se d,(x) * d(x) teriamos que 1 =
= M.D.C.spy tq(x), h(x); mas então seguiria (prove isto) que d(x) = 1 o
que é absurdo. Logo d(x) = x — 8 = M.D.C.;,y ta(x), h(x); e isto nos
diz que $eF. Agora, «=u— ABEF pois ueF = K[u),BEF,AEK c F
e isto demonstra o Teorema 4. &
104 | Introdução à álgebra

Terminaremos esse parágrafo fazendo algumas observações.


Uma extensão L > K diz-se simples se Jue L tal que L= K[u).
O Teorema 3 que acabamos de demonstrar nos diz que “toda extensão
finita L > K de característica zero é simples” Esse teorema nos será
bastante útil no Capítulo 7 quando desenvolveremos a Teoria de
Galois sobre um corpo de característica zero. Por exemplo, com a
ajuda do Teorema 3 provaremos que se L = Gal (f, K) onde K é um
corpo de característica zero então [L:K] = | Aut, L| (observe que
no Corolário 1 do Teorema 3 nós provaimos que em geral, ss L> K>20
vale a desigualdade
[L:K] > |Aute L|)
No próximo capitulo provaremos que Aut, L é mais que um
conjunto, ele possui a estrutura de um grupo com a operação compo-
sição de funções.

EXERCÍCIOS
1. Complete todas as afirmações deixadas sem demonstração, inclu-
sive a demonstração do Teorema 3.
2. Seja K um corpo e Vum espaço vetorial sobre K. Se v,,...,v,€E V,
prove que:
V1,+--, VU, € uma base de V <> Todo elemento de V pode ser escrito
de modo único como combinação linear sobre K de v,,...,U,

Ê «;v; diz-se uma combinação linear sobre K sea;jeK,i=1,...,n


i=1

3. Seja K um corpo e V um espaço vetorial sobre K. Um subcon-


junto infinito 8 de V diz-se L.I. se toda parte finitá de p é L.I.
Prove que:
(1,x, x2,...,x”,...) é um conjunto L.I. no espaço vetorial K[x]
sobre K.
4. Seja K um corpo e Vum espaço vetorial sobre K. Se É é um con-
junto infinito definimos

(B> = Ê am: ER vEB. nenh isto é,


i=l i=,...,n

(B> é o conjunto de todas as combinações lineares finitas sobre


K de elementos de PB.
Extensões algébricas dos racionais 105

Prove que:
(a) <B> é um subespaço vetorial de V
(b) se B = (1,x,x?,...,x",...) então (B) = K[].
. Seja K um corpo e V um espaço vetorial sobre K. Um conjunto
(não necessariamente finito) 8 c V diz-se uma base de Vse P é
Llec(Bb=vV.
Prove que:
(a) B = (1,x,...,x",...; é uma base de K[x]
(Nesse caso dizemos que [K[x]:K] = 00)
(b) SexeL> K étranscendente sobre K então (1,a,a?,...,0",...)
é uma base de K[a] sobre K.
. Seja K um corpo e V um espaço vetorial sobre K. Um conjun-
to B c Vdiz-se maximal L.I. em VseBéL.lLeseveV, vg então
Bo tv) é L.D. em V. Um conjunto 8 c V diz-se maximal gera-
dor em V seXBb=VeVueB(<B-— (uv.
Prove que se É é um subconjunto de V então as seguintes condi-
ções são equivalentes:
(a) 6 é uma base de V
(b) 8 é um conjunto maximal L. I.
(c) 6 é um conjunto maximal gerador.
. Seja K um corpo e V um espaço vetorial de dimensão [V:K]
finita. Prove que:
(a) Todo subconjunto L.I. de V pode ser extendido para uma
base de V.
(b) De todo subconjunto finito gerador de V podemos extrair uma
base de V.
(c) Se W é um subespaço de Ve W Ventão [W:K]< [V:K].
. (a) Defina homorfismos e isomorfismos de espaços vetoriais sobre
um mesmo corpo K.
(b) Prove que: se K” é isomorfo a K” então m = n.
. Seja K um corpo e Ve V' espaços vetoriais sobre K. Prove que:
se v,,...,U, é uma base de Ve u,,...,u, são elementos quaisquer
de V' então existe um único homomorfismo T:V> V' tal que
T(v,) = Ui, 1 — l,...,n.

10. Seja K um corpo e V um espaço vetorial sobre o corpo K. Se W


é um subespaço vetorial de V defina o espaço vetorial quociente
V/W. Prove que:
se [V:K] finita então [V/W:K] = [V:K] - [W:K)].
106 Introdução à álgebra

11. Seja K um corpo e Ve V' espaços vetoriais sobre K. Se T:V> V


é um homomorfismo então
(a) Im T=(T(v):veV) é um subespaço vetorial de V', e mais
T é sobrejetiva <> Im(T) = V'
(b) MT) = (ve V:T(v)=0' = elemento neutro de V') é um
subespaço vetorial de V, e mais Té injetiva <> N(T) = (0).
(c) V/N(T) é isomorfo a Im(T) [e daí segue como corolário que
[V:K] = [Im(T):K] + [MT :K).
12. Sejam K e L corpos e seja OH «eL>DK. Se f(x)e K[x] é tal
1
que f(x) =0, calcule um polinômio g(x)e K[x] tal que o(=) = (.

13. Seja K um corpo e L > K uma extensão de K. Se «e L. Prove


que:
(a) « é algébrico sobre K <>[K[a«]:K] <
(b) « é transcendente sobre K <> [K[«]:K] = c0.
14. Calcule [L:Q] para as seguintes extensões L > Q.
(a) L = Gal(x* — 2, O); (b) L = Gal(xº — 3,0);
(c) L = Gal(xº —- 2, O); (d) L= Galx' —- 2,0);
(e) L = Gal(xº — 2, O).
15. Achar ue Ola, B] = L de modo que O[a, 8] = Qf[u]:
(a) «= 2, B=i; (b) «= 2, B= 4/2;
Da=-)5,B=/-2; (Da=-/8,68=3+50;
(Ja=2,Bétal que B!+66+2=0.
16. Em cada item do exercicio anterior, calcular
[O[a, 8]:0)?
17. Seja L = K[x,,...,x,] onde cada «,e € é algébrico sobre K,., =
= K[x,,...,x;.1] então L é um corpo e L > K é uma extensão
finita.
18. Seja p(x) um polinômio de grau impar irredutível sobre o corpo
K>QeseL>K é uma extensão finita de grau potência de 2,
então p(x) é ainda irredutível sobre L.
19. Responda se os seguintes polinômios f(x)e K[x] são irredutíveis
sobre K:
(a) fo) =x? + 3: K = Q[,/5]
(b)flb)=x)+8x— 2; K = Q[,/2]
()fO)=x*+3xº—9x— 6: K = 0[/7,,/5,i]
Extensões algébricas dos racionais 107

20. Sea =7nº + 5nº — 1 responda se q é algébrico ou transcendente


(sobre Q).
21. Calcular cos 30 em função de cos 60.
22. Seja K um corpo qualquer e L> K tal que [L:K] =p é um
número primo.
Prove que:
L=kK[ulVueL,ugkK.
23. Prove que não existe elemento ue Q(x) tal que u? = x.
24. Seja K um corpo e L > K uma extensão. Um elemento ae L al-
gébrico sobre K diz-se separável sobre K se 3 f(x)e K[x] tal que
S(a) = O e f(x) não possui raizes múltiplas em nenhuma extensão
de K.
L>K diz-se separável sobre K se todos os elementos de L
são separáveis sobre K.
Um corpo K diz-se perfeito se todas as extensões finitas de
K são separáveis.
Prove que:
Todo corpo de característica zero é perfeito.
25. Seja L > K uma extensão finita.
Prove que:
Se L>K é separável então L = K[u] é uma extensão simples
(Sugestão: veja a demonstração do Teorema 4).
26. Se Lo K é uma extensão e x, BEL são tais que, q ou É é sepa-
rável sobre K então K[a,B] = K[u) é uma extensão simples.
27. SeK=K,ck,c...cK,=Lsãocorpose[L:K] < co temos,
[L:K]=[K,:K, 4]... [K,:K,]-[K,: Ko).
28. Seja K um corpo qualquer e L > K uma extensão de K. Se f(x),
g(x)e K[x] então, prove que,
(a) MDC.o (fl) go) =1<>Ia(x), b(x)eL[x] tais que
a(x)- f(x) + b(x)
+ g(x) = 1.
(b) MDC qm (16) 90) = 1 MDCrç (fl), 909) = L
34 Construção por meio de régua e compasso
Neste parágrafo mostraremos a impossibilidade de construções
com o uso apenas dos instrumentos régua e compasso. Aqui, a régua
108 | Introdução à álgebra

considerada não possui qualquer marca, é apenas um instrumento


que nos permite ligar dos pontos do plano R?.
Veremos os problemas clássicos da duplicação do cubo e da tris-
secção do ângulo. Convém observar que se admitirmos uma régua
com marcas indicando segmentos de um certo comprimento, então
é possivel trissectar um ângulo [veja a construção feita no Exemplo 1).
Seja ? um subconjunto do R? contendo pelo menos dois pon-
tos distintos. Dizemos que uma reta r de Rº é uma reta em ? se r con-
tém dois distintos pontos de 7, e dizemos que uma circunferência
cem Rº é uma circunferência em ? se o centro de c pertence a ? e um
ponto de ? pertence a c.
Chamaremos (0), (ID, (III) abaixo, de operações elementares em 2:
(I) Interseção de duas retas em 2.
(Il) Interseção de uma reta em 7? e uma circunferência em 2.
(III) Interseção de duas circunferências em 2.
Um ponto 4€E R? diz-se construtível a partir de ? se podemos
determinar A através de uma dessas operações elementares em 2.
Denotaremos por (<?> o subconjunto dos pontos de R? que são cons-
trutíveis a partir de 2.
Por exemplo,
Se %=10,U; onde 0 =(0,0) e U = (1,0) então, (75) =
= (0,U, 4,, 44, 43, 4s:, como na figura abaixo, onde 4, = (— 1,0),
o
A, = (2,0), as
LINA
(5. ve, As
1
(5-5)
5
A3

Ai 0

Ag

Nesse parágrafo consideraremos sempre O = (0,0) e U = (1,0).


Agora, seja PAU, P=(P9) PP Ds Pra (P,
YnenN.
Extensões algébricas dos racionais 109

Assim temos,

PcePCPC.LcPcPac..
cR?

Seja P, = U P ,. Claramente temos que ?,, é um conjunto in-


n=-

finito embora cada ?, seja um subconjunto finito do R2. É imediato


também que (P,)=P. elm)eP,VYmeZ,VvezZ.
Os pontos do plano que pertencem a 2, são chamados de pon-
tos construtíveis e as retas em 27 ., isto é, contendo dois distintos pon-
tos construtíveis, são chamadas de retas construtíveis. Um número
real a diz-se construtivel se (a,0)c
P ..

PROPOSIÇÃO 5. (a) Se 4 e B são distintos pontos construtíveis então


o ponto médio M do segmento AB é construtível e
as retas perpendiculares a AB passando pelos pontos 4, Be M também
são construtiveis.
(b) Sejam A e r, respectivamente, um ponto construtível e uma reta
construtível tais que A Er.
Se Be C são pontos construtíveis então existe um ponto constru-
tível X tal que X Er e os segmentos AX e BC possuem o mesmo com-
primento.

Demonstração. (a) Usando duas circunferências centradas em cada um


dos pontos e passando pelo outro, como na figura
abaixo, fica provado o item (a) pois os pontos C, D, E, F são cons-
trutíveis e mais ainda 4 é o ponto médio de EB e Béo ponto médio
de AF.
110 | Introdução à álgebra

(b) Usando circunferências centradas em B e centradas em 4


podemos assumir que 4,B e € pertencem a reta r.
Agora, seja M o ponto médio de BC e Ner um ponto constru-
tível tal que |AB|=| BN| (isto é, os segmentos AB e BN possuem
o mesmo comprimento).
Assim, 4,B,C,M, Ner são pontos construtiveis.
Seja X€er o ponto construtível, como na figura abaixo, tal que
NM | =|MX1.

Ne
Segue imediatamente da nossa construção que | 4B| = |BN|=|XC|
e portanto | 4X | = |BC|, como queriamos demonstrar. 8

PROPOSIÇÃO 6. (a) Sejam 4, Be C 3 pontos construtíveis não ali-


nhados. Então existe um ponto construtível D tal
que 4, B, Ce D formam um paralelogramo. Em particular a reta pas-
sando por € e paralela ao segmento AB é construtivel.
(b) Um ponto A =(a,b)eR? é construtível se e somente se as
suas coordenadas a,be R são números construtiíveis.

Demonstração. (a) Sejam r e s as retas suportes, respectivamente, dos


segmentos AB e CA. Aplicando o item (b) da propo-
sição anterior para Ber encontramos um ponto construtível Xer
tal que |BX| =| 4C| e aplicando o mesmo resultado para CEs en-
contramos um ponto construtível Yes tal que |CY| =| 4B|. Agora
o ponto D é encontrado, como na figura seguinte, interceptando as
circunferências C, de centro em B e passando por X e C, de centro
C e passando por 7.
(b) (=): Seja 4 = (a, b) um ponto construtível e seja M o ponto
médio do segmento 04.
Extensões algébricas dos racionais 111

Segue imediatamente da geometria elementar que o ponto 4, = (4,0)


é a interseção a reta OU e da circunferência C de centro M passando
por 4 como na figura abaixo.
Achado o ponto 4, = (a,0) pertencente a reta OU podemos pelo
item (b) da proposição anterior encontrar o ponto Bo = (b,0) tra-
çando a partir de O uma circunferência de raio | A4|.

Ala, b)

0 U Aota, 0)

(<=): Reciprocamente suponhamos a e b construtíveis, isto é,


(a,0) e (b,0)c 2 +. É fácil ver que a reta determinada por O e por (0, 1)
é construtível. Assim sabemos construir (0, b) a partir de (b,0). Como
sabemos traçar paralelas (ou perpendiculares) segue imediatamente a
construção de (a, b) a partir de (a,0) e (0,b), e isto prova a Proposi-
ção 6. E
Observe que pela Proposição 6 os números construtíveis são exa-
tamente às coordenadas dos pontos construtíveis..
112 | Introdução à álgebra

TEOREMA 3. €p = (XE R:a construtivel) é um subcorpo de R con-


tendo Q.

Demonstração. Sabemos que Z c €p. Temos que provar,


(DN) beCr=>b-—-neCn
(2) abeCn=>« BeCn
I
(3)0%24«ctp=>—ECp.
a
Vamos assumir, sem perda de generalidade, 5 > a > 0. Seja
A =(%,0) e B = (8,0). Pelo item (b) da Proposição 5 segue imedia-
tamente que podemos construir X à direita de O sobre a reta OU tal
que |0X| =| 4B| e isto nos diz que X = (f — «,0) e isto demons-
tra (1).
Antes de demonstrar a validade de (2) e (3) observe que existem
retas construtivas contendo O além das retas OU e OT onde T = (0, 1).
Seja r uma reta construtível como na figura abaixo e sejam 4,,
B,€r construidos de modo que |04,| = |04| =a, e reta BB, seja
paralela a reta UA,. Por semelhança de triângulos temos que - =

— 10B|| e isto nos diz que |OB, | = «- É e daí segue imediatamente


B
que «-f é construtível.

B,

ox Ju 4 | (af, 0)
Na figura acima seja U, er tal que |OU,| = 1 e XE OU tal que
XU, seja paralela a UA,. Segue imediatamente da semelhança de
1 1
triângulos que |0X| = — e portanto = * construtível. E isto de-
monstra o Teorema 5. &
Extensões algébricas dos racionais 113

Antes de demonstrar o próximo teorema vamos dar algumas


definições.
Se 4 =(u,v)e ?, dizemos que u e v são coordenadas de ?,, e
denotaremos por &, o conjunto de todas as coordenadas de 2,.
Sabemos pela Proposição 8 que 4, cCpYneN.
Seja K,=0,K, =Q[4,),...,K, =Q[4,),...
Como A,cAd,C..cd,c...cCre Qcér, temos:
Q=K,cKcK,;C..ck,CK
Cc... cr
Observe também que se «ce €p então («,0)e ?, para algum n, isto
ê, «ess, para algum n, e portanto «e K,. Dai segue imediatamen-
te que:

Ke= UK, =€a


n=0

Nós vamos usar essa interpretação de 6a para provarmos o teorema


crucial desse parágrafo.

TEOREMA 4. €n é uma extensão algébrica dos racionais tal que


Vae€a temos que o grau [Q[«]:Q] é uma potên-
cia de 2.

Demonstração. É bastante provarmos que Vae€6a tem-se que


[O[«]:0] = 2" para algum ref.
De fato, seja ae €a = U K,. AssimIne Ntal queae K, = Q[4,).
Como [Q[a]: Q] divide [K, : Q] (pela Proposição 4) é suficiente pro-
varmos que [K,:Q] — 2º para algum se N.
Vamos provar que [K, : Q] é potência de 2 por indução sobre n.
Se n=0 temos K, = Q e o teorema é válido. [se n = 1 temos que
K, = Q[,/3] e o teorema também é válido].
Vamos supor por indução que [K, : 0] é potênciade 2 VO< i< nn,
e vamos provar que [K,:Q] é potência de 2.
Como K,., ck, e [K,:0] =[K,:K, ;]-[K,.,:Q] temos
que é suficiente provarmos que [K,:K,.,] é potência de 2.
Seja L=K, e L;=XK,.,. Sabemos que L=Lç[4,). Se
Sd, = fa,,...,&,) temos então que L = Lo[%,,02,-..,04).
Se denotarmos, Lc L, =Lo[g])cL,=Li[m]Jc..cL;=
= L; [x;]c...<L, = Lentão é suficiente provarmos que [L;:L,.,]
é potência de 2.
114 | Introdução à álgebra

De fato, vamos provar que [L;:L, ,|])=1l ou2,I<i<k,L,=


= Lo [u)eqwes,. Assim df,esZ, tal que 4,=(2,,8;) ou B, =
= (Bb, x)e?,. Sem perda de generalidade vamos supor que 4, =
= (a, b)e?,.
Como 2, =<(?,.,) temos que 4, = (x;, $;) é obtido por uma
das 3 operações elementares em 2, ,. Pode-se provar sem grandes
dificuldades que a, terá que satisfazer uma equação de grau menor
ou igual a 2 (será grau 1 na operação elementar 1) com coeficientes
sobre o corpo K,., = Q[4,.,).
Ora, como K,., =L,cL,., l<i<k segue que a, é raiz
de um polinômio de grau 1 ou 2 sobre o corpo L,., e isto nos diz que
[L;:L;.,] = 1 ou 2 como queriamos demonstrar. E

PROPOSIÇÃO 7. (a) Se n é um número ímpar >3 e p um número


o primo > 2 então /p não é construtível. Em par-
ticular Y 2 não é construtível.
21. o, ,
(b) u = cos +g não é construtivel.

(c) Se r > 0 é um número construtível então Jr também é cons-


trutível. Em particular 2/m é construtivel Vi,me'N.

Demonstração. (a) Se a = Yp n impar > 3, p primo > 2, então


irr(x, O) = x" — p e portanto [O[«]:Q] =n impar e
assim a não é construtível.
2 2 1
(b) Se O = E então 30 = — Sabemos que, 7 = cos 30 = 4

cos*0 — 3 cos0 e daí segue, 8 cost — 6 cos O — 1 =0, isto é, u =


= cos EE é raiz do polinômio p(x) = 8x? — 6x — 1. Como p(x) é ir-
redutivel sobre Q, temos [Q[u]:Q] = 3 e portanto u não é cons-
trutível.
(c) Seja R =(r,0) e seja R, = (1 + 1,0). Assim, como r é cons-
trutível segue que R e R, são construtíveis. Seja s a reta (construti-
vel) perpendicular a OU passando por U e seja M o ponto médio do
segmento OR,.
Pela geometria elementar o ponto Xe? 00º como na figura se-
guinte, é tal que [UX| = +.
Assim segue imediatamente pelo item (b) da Proposição 8 que
r é construtível, como queriamos demonstrar.
Extensões algébricas dos racionais 115

Os problemas clássicos da duplicação do cubo, da quadratura


do círculo e da trissecção do ângulo, que por muito tempo foram
preocupações dos gregos serão respondidos no seguinte teorema.

TEOREMA S5.-(a) face 6a, tal que o volume do cubo de aresta & seja
o dobro do volume do cubo de aresta 1.
(b) fue 6 r, tal que a área do quadrado de lado à seja igual a área
do circulo de raio 1.
(c) E impossivel, com o uso apenas de régua (sem marcas) e com-
passo, trissectar o ângulo de 60º.

Demonstração. (a) Claramente «* =2, ou seja irr(x, 0) =xº* —- 2 e


[0[«]:0] = 3 e pelo teorema anterior segue que à
não é construtivel.
(b) Como «* = 7 e 7 é transcendente sobre OQ, segue que r$Cp
e portanto xɀ6a.
27
(c) Se O = 18 € ÉR podemos ver facilmente que u = cos0 tam-

bém seria construtivel, mas isto contraria o item (b) da proposição


anterior. E

EXEMPLO 1. Vamos ver agora, como exemplo, a construção da


trissecção de um ângulo 8 usando régua (com marcas,
indicando segmentos de comprimento igual a r) e compasso.
Na figura seguinte seja O o ângulo AOB e consideremos os pontos
X e Y como na figura seguinte onde [0X |=|0Y|=r.
Provaremos que é possível marcar pontos € e D como na figura
seguinte onde |CD| =r.
De fato, mantendo uma extremidade da régua no ponto X temos
que a distância entre pontos alinhados com X, um sobre a circun-
116 || Introdução à álgebra

B 0 —— y DN
ferência e outro sobre a reta OY, varia de zero (quando ambas coin-
cidem com Y) até co (no caso em que a régua passando por X está
paralela a O01Y).
Assim, por continuidade 3 D, C como na figura tais que |CD| = r.
Seja « o ângulo CDY da figura acima. Vamos provar que « = -

Basta observar na figura que, O=a«a+ Le fB=-2a, ou seja, O = 3a


como queriamos demonstrar.
Para encerrar o capitulo falaremos brevemente sobre polígonos
regulares.
Um polígono diz-se construtível se todos os seus vértices são
pontos construtíveis de Rº.
Assim segue imediatamente que, um polígono regular de n lados
21 21 1,
é construtivel se e somente se o ponto 4, = | cos —,sen — | é um
n n
ponto construtível de Rº2.

PROPOSIÇÃO 8. (a) Todo polígono regular de n = 2" lados é cons-


trutível.
(b) Se um polígono regular de n lados é construtível então o poli-
gono regular de 2n lados também é construtível.
(c) Se p é um número primo > 3 e um poligono regular de p lados
é construtível então 3se N tal que p= 2? + 1. Em particular o heptá-
gono regular não é um poligono construtivel.

Demonstração. Os itens (a) e (b) seguem diretamente dos seguintes


fatos:
(1) o quadrado é um poligono construtível.
(ii) É possível bissectar um ângulo com régua e compasso.
Agora vamos provar o item (c).
Extensões algébricas dos racionais 117

21 Zn 1, .
Como (cos pº sen =) é construtivel então segue pelo Teore-
2 2
ma 6 que [O[4,8]:0] = 2” onde a = cos e Bb = sen.
Agora se i=./— | temos que [O[«,), i]:Q0] = 2”"*! onde
Olxb,i) <€.
2 2
Agora ( = cos“ +isen TT =o + iBe Qf[a, B,i] e daí segue
p p
que Q[0] - O[e, B,i] e [O[0]:0] = 2" para algum ren.
Ora sabemos que irr(l,Q0] =x?"1 + x?2 +... +x+1e por-
tanto segue que p— 1 =2, isto é, p=2'+1.
Vamos provar que r = 2º para algum se N. De'fato, se t é um
fator impar de r com t> 1 temos r =tev.
Dai segue,
p=27+1=(2)'+4+ 1 onde t é impar >1
e temos,
p=" +I(27"!-QY2 +07... +1)
contradizendo o fato de p ser primo, e isto demonstra a Proposição 8. &
Enunciaremos agora sem demonstração o seguinte teorema:

TEOREMA 6 (Gauss). Um poligono regular de n lados é construtivel


«en=2Y.p,...p, onde reN e p,,...,p, São
distintos primos impares na forma p,=2"'+ 1, I<i<k, sen.
Os números F, = 2?” + 1 são chamados de números de Fermat.
Em 1640 Fermat anunciou que F,=3, F,=5, F,=17,F,=257
e F, = 65537 eram números primos. Em 1732 Euler provou que F,
é divisível por 5-2" + 1. Os únicos números primos de Fermat co-
nhecidos são aqueles anunciados pelo próprio Pierre de Fermat.

EXERCÍCIOS
O e U serão considerados sempre O = (0,0) e U = (1,0).
1. Prove que <P.) = 2. e que (m,0)cP, YmeZ.
2. Seja 4, o conjunto de coordenadas de 7, e K, = Q[.4,). Prove
que K, = 2[3] emais K, = UK, = a:
n=0
3. Se 4, Be? prove que d4,, Be? tais que: 4,, B, estão
sobre a reta OU e |AB|=|4,B,|.
118 Introdução à álgebra

Prove que um quadrilátero ABCD em R* que possui lados opos-


tos iguais é um paralelogramo.
- Seja (, B)eP,=(P,1) e K, , = Q[.4,.,] como no Exerci-
cio 2. Prove que [K,. ,[a]:K,.,]=1 ou 2.
Prove que um poligono regular de n lados no plano é constru-
27 Zn,
s—
— sen
tivel<>o ponto | co |é construtivel.
n n

. Prove que os poligonos regulares de 3 e 5 lados (respectivamente,


o triângulo e o pentágono) são construtíveis. Prove também que
sen =2"-3 ou 2"-5 então o polígono regular de n lados é cons-
trutivel.
Prove que um eneágono regular não é construtível.
. Prove que um polígono regular de 15 lados é construtível. (suges-
(ã 21 47 21
ão: use — =— — — , € use O Exercicio 7).
2 5 5 3
10. Mostre que a construção abaixo não trissecta o ângulo de 60º.
sejam AOB = 60º, |4AA4, | =| 4,4, | =| 4,4; | e seja BA, parale-
la a CA,. (Prove então que d = AOM + 209).

11. Se um polígono regular de n lados é construtível e m é um di-


visor de n, então podemos construir um poligono regular de m
lados.
(Sugestão: escolha (entre os vértices do polígono de n lados) ade-
quadamente os vértices do poligono de m lados).
12. Prove que se um polígono regular de m lados e um polígono re-
gular de n lados são construtíveis e M.D.C. (m, n) = 1 então um
polígono regular de men lados também é construtível.
o 21 21 21
(Sugestão: escreva — = as» + be onde a, be Z e expres-
mn m n
21
se cos — |.
mn
CAPÍTULO VI

GRUPOS

Neste capítulo temos como objetivo introduzir os aspectos ele-


mentares da teoria dos grupos que serão usados no capítulo seguinte
onde demonstraremos o teorema fundamental da Teoria de Galois.

81 Definição e exemplos

Seja G um conjunto não vazio onde está definida uma operação


entre pares de G, denotada por,
*. GxG>5>G
(x, y) wo x*y
Dizemos que o par G, * é um grupo se são válidas as seguintes
propriedades:
G)ar(b+=c)=(axb)sc Va,b,c,€EeG
G,)) dJeeG tal que are =exa, VaeG
G)VYaceG, dbeGtal que asb=b+rsa=e.
A propriedade G,) é a associatividade da operação +, enquanto
que o elemento e em G,), pode-se provar facilmente que é único, recebe
o nome de identidade de G, +.
Agora se a+b,=b/+a=e, axb,b=b,*a=e segue que
b=exb,=(b,+a)xb, =b,=b,*(a+b,)=b,, e portanto em
G,) existe um único elemento be G tal que axb=b+a=e. Tal
elemento b é denotado por a! e recebe o nome de inverso. de a em
relação a operação +.
Se em um grupo G, + verifica-se a propriedade:
Gyasb=bra, VabeG
dizemos que o grupo G, + é um grupo abeliano (em honra ao matemático
Norueguês N.H. Abel — 1802-1829).
A fim de simplificar notações usaremos G em vez de G, +, para
denotar um grupo. Usaremos também ab, em vez de a + b, para repre-
sentar o resultado de a operado com b. A operação de G será sempre
120 | Introdução à álgebra

explicitada no contexto, e usaremos a notação aditiva a+b = a+b


apenas para grupos abelianos e nesse caso a identidade será represen-
tada por O.

EXEMPLO 1. Z é um grupo aditivo infinito.

EXEMPLO 2. Se n > 1 é um número inteiro então o conjunto Z,


dos inteiros módulo n, é um grupo aditivo contendo
exatamente n elementos.

EXEMPLO 3. Seja S um conjunto não vazio e seja


G=(f:S>5S:f bijetiva).
Se + € a operação composição de funções, isto é, +:G x G>6G
(9) me gof
então G, x é claramente um grupo tendo Is: S > S como identidade.
X NS x
Esse grupo é chamado de grupo das Permutações do conjunto S. Se
S = [1,2,..., n) denotaremos esse grupo por S,, e temos que o número
de elementos de S, é exatamente n!.
Agora vamos mostrar que Os grupos $S,, n > 3, são exemplos de
grupos não abelianos.
De fato, sejam f,g€E S, definidas como segue:

fALAI.sn> (1,23... n)
HD=2 íH(D=1 Ffo)=x Yx, 3<x<n

9: 41,2,3,..,n)>1(1,2,3,...,n)
9()D=2, 90)=3, g3)=lesen>24 g(x)=x Yx, 4<xx=<n
Ora, como

(ge (1) = 90/01) = 902) = 3.


Fon) =fg(1) =f(2) = 1.
teremos que gºf £gºg.
Em particular S, é um exemplo de um grupo não abeliano com
exatamente 6 elementos. No próximo parágrafo provaremos que:
“se um grupo G possui no máximo 5 elementos então G é um grupo
abeliano”.
Grupos 121

É usual denotar um elemento f do grupo S, por,


1=( l 2 3... 2)
DO SO SO. Fu
Assim o grupo S, é composto dos seguintes 6 elementos:

fd 3 “q

NO)
NO YO


ey 3 hn,

Cmt,
|
O

|
ma
1 3

(4d
À


|
Cmt,
= (1 5) = 128: = (5

DS

|
o
N9

ba
Lv

l 3 “1. o l

N9
NO

p=, = 15": = (5
vo

ma
EXEMPLO 4. Seja G o conjunto de retas no plano R? com coeficiente
angular não nulo, isto é,

G=if:R>R:flix)=ax+b, QqH<abeR)

Sef(x)=ax+tba*0Oeg(x)=cx+d, c*O então


+ d), ac £ 0
(ge f)(x) = g(S(x) = acx + (bc
ou seja a composição de funções o define uma operação em G que é
evidentemente associativa.
Agora, e = Ip: R> R é um elemento de G e mais se f !(x) =
X NS X

lb a * 0, temos:
a a

flof=fof"! =Ip onde f(x) =ax+b, a 0.

Assim, G, e é um grupo onde o é a operação composição de funções.

Se f(x)=2x+ 4 e g(x) = 3x + 2 temos,


(go f)(x) = 9/09) = g(2x + 4) = 6x + 14
Fog) =f(3x+2)=6x+8

Portanto G, o é um exemplo de um grupo não abeliano contendo um


número infinito de elementos.
122 Introdução à álgebra

EXEMPLO 5. Vamos definir agora o seguinte subconjunto Q; do


anel dos Quatérnios visto no Capítulo 3.
Seja OQ; =(1,—1,i, jk —i —j, —k; = Quat
E fácil de ver que Q, é um grupo com a operação de multiplicação
de Quat pois,
C =) =k=-|xl=lex=xYxegQg,

iej=kjck=i, kei=j,joi=—k, kej= — 1, Iek = —)

Além disso, jp 1 =jP=-jkl=-kitl=-i


Assim Qs,, * é um grupo não abeliano contendo exatamente 8
elementos.

EXEMPLO 6. Seja 4, +,- um anele G = Aut 4 o conjunto de todos


os automorfismos do anel 4.
Primeiramente observem que seg, feGea, be 4, então (gºof)
(a+b) = glf(a+b)] = gl) +f(b] = ga] + glf(b] =
= (go f)(a) + (go f)(b).
Analogamente (g o f)(a-b) = (go f)(a)-(g o f) (b), ou seja, a com-
posição de funções define uma operação entre pares de elementos
de G = Aut 4.
Observem também que
e=I,:4> A é um elemento de G.
XxX NX
Como composição de funções é uma operação associativa para que G, o
seja um grupo é suficiente mostrarmos que G é fechado para o inverso
de cada elemento, isto é, se fe G então a função g = f”! (existe pois f
é bijetiva) é também um automorfismo do anel 4. De fato, seja fe G
eg: A > A definida por fog = gºof = Iy. Vamos provar que ge G.
Se x, y € 4 então temos que provar que:
(1) gl + y) = 90) + 90)
(1) gy) = gx) - 9).
Agora se x', y E 4 efbijetiva então 3x, ye 4 tais que x = f(x) e
y =f() (e portanto x = g(x) e y = g(y)).
Assim,
Dao +)=9460)+fS0)=9Uk+y)=x+y=906)+ 90)

1) gx) =940) 10) =900 7) = xºy = 96): 90)


Grupos 123

e isto prova que G = Aut 4, o é um grupo onde o é a operação com-


posição de funções.
Observem que já calculamos, no 84 do Capítulo 3, o grupo G =
= Aut 4 para alguns anéis. Por exemplo, Aut Z = (1,), Aut O = (lg),
Aut R = (Ig) e Aut Z [/p] = (1267; 7) onde p é um número primo
ec(a+bvVp=a-bv/pYa, bezZ.

EXEMPLO 7. Seja G um grupo e xe G. Se ne Z definimos x” como


segue:
e se n=0
x =x" lex se n>oO0
(x)! se n<o0

Se m, neZ pode-se provar, usando indução, as seguintes pro-


priedades:
(1) x" e x" — xm+n

(11) (MP = x”
Se denotarmos (0) = |(x":me Z; c G então como xº = e,
(Mm) =x" exTex" = x"*" segue imediatamente que (x) é um
exemplo de grupo abeliano. O grupo (x> é chamado de Grupo cíclico
gerado pelo elemento xe G. Assim todo grupo cíclico é abeliano.
Pode-se verificar facilmente que os grupos aditivos Z e Z,, citados nos
exemplos 1 e 2, são cíclicos.
Vamos ver em seguida um exemplo de um grupo abeliano não
cíclico.

EXEMPLO 8. Sejam G, c e H, 4 dois grupos cujas identidades re-


presentaremos respectivamente por eg € eg.
Seja Gx H=((g,h):geGeheH! o conjunto produto carte-
siano de G e H. Vamos definir uma operação x entre pares de elementos
de G x H através da regra,

(g,h)+(g,h)=(gog,h4Ah) Vga,g EG, YhheH.


É fácil verificar que e = (eg, en) é tal que, (g,h)xe=ex(g,h) =
=(g, hY(gheoxHee=(gh+(g!hD=(g'!h'D)+(g,h)
V(gheG x H.
Assim, como a transitividade da operação * decorre imediatamente
da transitividade das operações o e 4 temos que G x H, * é um grupo
com identidade e = (ec, ey).
124 | Introdução à álgebra

Observem que se G, c e H, 4 são grupos abelianos então G x H, +


também é um grupo abeliano.
Se G,ºe H, 4 são grupos aditivos usaremos também a notação
aditiva para G x H,+.
Assim se G, + € H, + são grupos, então G x H, + é também um
grupo onde,

(9h +(9,h)=(g+9,h+h), VggeG, YhheH.


Sabemos que Z,, + é um exemplo de um grupo cíclico contendo
exatamente 4 elementos. Vamos agora dar um exemplo de um grupo
abeliano não cíclico contendo também 4 elementos.
SeG=Z,xZ,, +. Assim os elementos de G são (0,0), (0, 1),
(1,0) e (1, 1). Observe que e = (0,0) é a identidade desse grupo G
e pode-se verificar facilmente que: V (a, b) e G tem-se:
(a, b? = (a,b) + (a,b) = (0,0) = e.
Portanto G = Z, x Z,, + é um grupo abeliano não cíclico.
Do mesmo modo que introduzimos o grupo G x H poderiamos
introduzir o grupo G, x G, x... x G, que é chamado de produto
direto (externo) dos grupos G,,..., G,.

EXERCÍCIOS
|. Seja G um grupo e xe G. Prove que
a) x!ex" = x"*" Ym,neZ
b) (x”" = x"" Ym,neZ
2. Seja G um grupo. G diz-se cíclico se 3x e G tal que G = (x),e o
elemento x chama-se um gerador de G.
Prove que:
a) Todo grupo cíclico é abeliano.
b) Z, + é um grupo cíclico tendo 1 e —1 como geradores.
co) Z, = (0,1,...,p—1), + com p primo é um grupo cíclico
tendo 1, 2,... p—1 como geradores.
3. Seja G é um grupo abeliano. Prove que: Sex, yeGeme Z então
(xy)” = x". y”
4. Seja G um grupo tendo e como elemento identidade. Prove que:
Se x?= e YxeG então G é um grupo abeliano.
S. Seja G um grupo. Prove a unicidade do elemento neutro de G.
Grupos 125

6. Determine f,ge S, tais que:


a) (fog fog”
Db) Vog? *Sºog”
. a) Determine todos os elementos fe S, tais que
fº=e fe.
b) Determine todos os elementos fe S, tais que
f*=e fe.
. Seja V = (e,f,9,h) o seguinte subconjunto do grupo S,:
1239/1234
e=l 2345 f=l4 143
1230 (1234
9 la4 12) "Cl4 321
a) Prove que V, o é um grupo contendo 4 elementos onde o é a
operação de S,.
b) Prove que V, o é um grupo abeliano não cíclico.
. Seja G um grupo e x,y, z€E G. Prove que:
a) xy=x2> y=2
b) px e (leis do cancelamento)
=2 y=2
co) (xy)1 = y ex!
d) (xD)1 =x
10. Seja G um grupo contendo exatamente 2n elementos, n > 1 inteiro.
Prove que, 3x * e tal que x? = e onde e representa a identidade
de G.
11. Seja G um conjunto não vazio finito e + uma operação associativa
em G.
Prove que:
Se são válidas em G, + as leis do cancelamento então G, + é um grupo.

eZ,M.D.C. (pm) =
12. Seja G, = tneN D.C. tp*, m) | onde p é um número
primo fixo. É G,» + um grupo? Se J
E G, + calcule o grupo (5)
p
Calcule também (5) , (5) 5.0. (1) onde neN.
Pp p Pp
126 | Introdução à álgebra

13. Calcule Aut 4 para os seguintes anéis:


a) A =Zl[i] onde i? = -—1
b) 4 = Qfi]
co) 4=Q[Y2] onde Y2 =«eR, q” = 2.
14. Quais dos seguintes subconjuntos G de Z,, = (0,1,2,..., 12:
são grupos com a operação de multiplicação?

)G=[1,3,5,8,9)
15. Seja G, + um grupo e a, b, ce G. Prove quea equação x xa + x *b =
= x*c possui uma única solução em G.
16. Prove que G = (zeC:|z| = 1) é um grupo abeliano com a
operação de multiplicação de números complexos.

82 Subgrupos e classes laterais

Sejam G um grupo e H um subconjunto não vazio de G. Dizemos


que H é um subgrupo de G se H for ele próprio um grupo com a mesma
operação de G. Assim para que H seja um subgrupo de G são neces-
sárias as condições (1) eeHe (ii) sea, be H então abe H. Em geral
essas duas condições não são suficientes para que H seja um subgrupo
de G(H =N cZ = G satisfazas duas condições acima onde a ope-
ração é soma, porém não é um subgrupo de Z, +). Provaremos agora
uma proposição que fornece as condições necessárias e suficientes para
que um subconjunto H de um grupo G seja um subgrupo de G. Se H
for um subgrupo de G denotaremos H < G.

PROPOSIÇÃO 1. Seja G um grupo e H um subconjunto de G. As


seguintes condições são equivalentes:
(a) H é um subgrupo de G.
(b) ()eeH
(n) Va, be H tem-se ae H
(11) Vac H tem-se a tleH.
()H+tZHeVa,beH tem-se ab 1eH.

Demonstração. (a) = (b): Segue imediatamente das definições e da


unicidade da identidade e da unicidade do inverso
de cada elemento de G.
Grupos 127

(b) > (a): Basta observar que a condição (1) (H é fechado para a
operação de G) nos diz que a operação de G induz uma operação em H
e essa operação será também associativa pois a operação é associativa
em 6.
(b) > (c): Primeiramente, se e e H então H * $,ese be H então
bi1eH por (ii).
Assim, sea, be H temosa,b ! ce He por (ii) segue ab” * e H como
queriamos demonstrar.
(co) => (b): Se HA então JaeH. Portanto, e= aa !cH.
Agora, se acH segue a ! =ea! EH, e finalmente se a, be H
tem-se a, b !1e He daí teremos ab = a(b !) !e H e isto termina a
demonstração da Proposição 1. &

EXEMPLO 1. H=Z-m=(m:reZ), meZ, é um subgrupo do


grupo aditivo dos inteiros.

EXEMPLO 2. Seja G um grupo e xe G. Então (x> = H é um sub-


grupo de G.

EXEMPLO 3. Seja G um grupo e x e G. Então, Cg(x) = (ye G:yx =


= xy; é um subgrupo de G. (Cg(x) é denominado o
centralizador de x em G).

EXEMPLO 4. Seja G um grupo. Então,


Z(G) = [faeG:aex=xea VxeG;
é um subgrupo G. (Z(G) é denominado de centro do grupo G). Observe
que Z(G) é um subgrupo abeliano do grupo G.

EXEMPLO 5. Sejam H,,...,H, subgrupos de um grupo G. Então,


H=H,n..nH,
é um subgrupo de G.
De fato,
()eceH+ 4 poisecehH, pes e
Viell,..
(i)abeH=>ab'lehH, Viell, 2,..;ny)>ab!eH.

EXEMPLO 6. Seja G um grupo e x,, x,,..., x, E G. Seja4 a familia


de todos os subgrupos de G contendo X1,--, Xy, IStO É,
P=IK<G:x,,..,X,€
K).
128 | Introdução à álgebra

Ora Ge Z, assim 4 + 9. Agora vamos definir H do seguinte modo:


H = () K,e provaremos em seguida que H é o menor subgrupo de
Ke

G que contém x,,..., X,.


Primeiramente H é um subgrupo de G.
De fato,
()eceH*AD poiseekK VKEeZ.
(i)abeH >abekKYVkeFf=>a b lek, VkeFf > ab lek,
VkKkeZ >ab!eH,eassim H<G.
Agora provaremos que H é o menor subgrupo de G contendo
X 15 000 Xp
De fato,
Seja L< Gtalquex,,..., x, € L. Assim, Le 4 e portanto H < L.
Denotaremos H por H = (x,,...,x,). Observe que se n=1
então essa definição coincide com a de grupo ciclico gerado por x,.

EXEMPLO 7. Sejam H, cH,<...cH,c H,,, S ... subgrupos


de um grupo G. Então,

H = UH,
i=1

é um subgrupo de G.
De fato,
()eeHt% poiseeH,cH.
(i)abeH=>aeH,,aeH,, onde r,se(1,2,...,n Dl
Sem perda de generalidade podemos assumir que r < s e nesse caso
teremos,

a beH pois H,c<H..

Dai segue que ab !'cH,c H.

EXEMPLO 8. Seja G o grupo aditivo dos racionais e


m meZ, MDC.fp;m! =1
H = p* "xeN

onde p é um número primo fixo. Vimos no parágrafo anterior que


H < G. Agora vamos definir os seguintes subgrupos de H:
EXEMPLO 9. Seja G o conjunto de todas as retas do plano Rº com
coeficiente angular não nulo. Sabemos que, G = ff:
R>R:f(x)=ax+b,0%a,beR) é um grupo com a operação com-
posição de funções. Se H é o conjunto das retas do plano Rº com coe-
ficientes angular 1 então é fácil verificar que H é um subgrupo de G.

EXEMPLO 10. Seja (1,2,3,...,n), n>3, o conjunto de vértices


de um polígono regular de n lados como nas figuras
abaixo:
n=5

Ày


me
eme

e
1

“XY




Ay
3 2
130 | Introdução à álgebra

Considerando S, o grupo (veja Exemplo 3 do 81) de todas as per-


mutações do conjunto de vértices (1, 2, 3, ..., n) vamos agora ver um
exemplo de um subgrupo de S,, não abeliano, contendo exatamente
2n elementos.
Seja 0 e S, a permutação determinada pelo efeito de uma rotação
27
de um ângulo de rd no sentido trigonométrico, isto é,

p=(! 2 3 e n=lon
2340. na
Consideremos re S, a permutação determinada pelo efeito de
uma reflexão da figura em torno do eixo ox, isto é, se n é par r fixa os
n+4 2
vértices 1 e e é representada por
2
n 2
+

2
+

n
| n n—l
2
se n é impar r fixa apenas o vértice 1 e é representada por
(123 nl n
CMnnt.o 3 25
Agora, seja D, = <r, 8> o menor subgrupo de $, contendo r e 6.
Vamos provar que D, = fe, r, 0, 02,...,0""!, rô, r8?, ..., r0"”!1 onde
1 2 3... n—1
e=(, 3 No 1) é a identidade de S,.

Para isto é suficiente provarmos que H = fe,r,0,02,..., 0""!,ro0,


r9º,...,r8"-!) é um subgrupo de S,. Como a identidade pertence ao
conjunto H temos que provar que:

()abeH=>abelH.
(1) aeH=>a!leH.
Primeiramente observe que como r *=ee6" =e então temos,
() = fr":meZ) = fe, r)
(0) =(0":meZ) = (e,0,0º,...,0""1)
Grupos 131

É também imediata a verificação das seguintes leis:


(1) r.6' = 9"*er VieN
2) 0'er=r:0"! VjeN
ou equivalentemente,
(3) rc07=0"".r YmeZ
Usando esta lei provaremos inicialmente
(11) acH=>aleH.
sea=080<k<n-lentãoa!=69"*eH
sea=r-608 0<kx<n-l então teremos,
a? = (r0%) (10%) = r(0r)0* = r20"*0* = 1º =.
Assim a=a!eH e (ii) está provada.
Agora vamos provar (ii) a beH > abe H.
Observe que 0" e <0> = fe, 0,...,0""!) YmeZ.

Caso 1: ae(0>, be H.
a=0', 0O<j<n-l.
Se be<0> então abeX0D) <= H
se b&(0> então b = 18º, 0 <i<n—1 e nesse caso teriamos ab =
= 0º(r0') = r0'"º e como 0'"/e <60> segue abe H.
Caso 2: aé<0>, be H.
a = r0'
Se be<0), b=60' e ab = (r0)0' = r0't' e como 0'*'e (05 segue
ab e H.
Se b&L0D, b="r0' e ab =(r0)(r0)) = 1207"! =07'e(0)cH e
isto demonstra que H = D, é um subgrupo de S, contendo exatamente
2n elementos. Como n>3 er6 = 0"!.r * Or segue imediatamente
que D, é um grupo não abeliano contendo 2n elementos.
Chamamos o grupo D, de grupo ihedral de ordem 2n ou grupo
de simetrias do poligono regular de n lados.
Observe que o grupo D, de simetrias do quadrado é um exemplo
de um grupo não abeliano contendo exatamente 8 elementos.
Observe também que em D, existem 6 elementos satisfazendo a
equação x? = e enquanto que em Q, existem apenas dois elementos
satisfazendo a mesma equação.
132 | Introdução à álgebra

EXEMPLO 11. O conjunto G = GL(n, K), n > 2, de todas as ma-


trizes n x n invertíveis com coeficientes em um corpo
K é um exemplo de um grupo (não abeliano), em relação a operação
produto de matrizes
H = (A4€eGL(n,
K): det 4 = 1)
e um subgrupo de GL(n, K) que é usualmente denotado por H =
= SL(n, K).

EXEMPLO 12. Seja L > K uma extensão de corpos e seja G o grupo


dos automorfismos de L, isto é G = Aut L.
Pode-se provar facilmente que

H =AutpL=Í0eG:o(a)=a VaekK;

é um subgrupo de G.

EXEMPLO 13. Nesse exemplo introduziremos o grupo 4, das per-


mutações pares.
SejaP = P(x,,..., x,)O seguinte polinômio nas variáveis x,, ..., X,,
onde xx, = xx; Vi jell,..., n,
P=(x,—-x)(x,;—x5)... (x,—x,) (x,4—X3) ... (x,)— x)... (x, 04—X,)
o qual denotaremos por,
P= [| (x;
— X;).
iI<xi<j<n

Se qe S, denotaremos por P”º o seguinte polinômio,

Pº = [HI (Xaci) = Xo()).


I<i<j<n

Claramente temos P? = + P.Se P” = P dizemos que a permutação


o é uma permutação par ese P? = — P dizemos que o é uma permutação
impar.
É fácil verificar que seo, TES, então (P”)' = p'º* e dai segue
imediatamente que o conjunto 4, de todas as permutações pares é um
subgrupo de S,.
Por exemplo,

A; = le ff)
Grupos 133

onde

No NO
pa

OQ
Pet

pe(4)
ae
a,
|
NO

o
rea)
1 (123

NO)
p=
De fato, se P = (x, — x2)(x, — xa) (x, — xs) então, P' = (x,64,— X,(2))
Cry XX Xra) = (02 —x)(x,— x) — x)... P/=P
Analogamente P/“! =P
Observe que o número de permutações pares coincide com o
número de permutações impares e temos então,
n!
| An| = 2
Antes de demonstrarmos o próximo resultado (Teorema de La-
grange) vamos fazer algumas considerações.
Seja G um grupo e seja H um subgrupo de G.

PROPOSIÇÃO 2. x, yeG, x=y (mdH)exy !eH define uma


relação de equivalência no conjunto G.
Demonstração.
(i) x=x(mod H) VxeG poise =xex !eH.
(ii) x = y(mod H) > y = x(mod H) pois se xy !cH então yx”! =
=(xy )leH.
(ni) x = y(mod H) e y = z(mod H) > x = z(mod H) pois,
xy !eHeyz !eH=>x7!=(xy D(yz MeH.
e isto demonstra a Proposição 2. &
Consideremos agora a classe de equivalência X = (ye G:y = «x
(mod H)).
Assim, yex<>y =x (mod H)<=yx !=heH,p/algumheH<y =
= hx para algum he H.
Se denotarmos Hx = (hx:heH) então temos que X = Hx,
chamada uma classe tateral (à direita) de H em G. Representaremos o
conjunto quociente (X :xe G) por G/H, isto é, G/H = (Hx :xeG)
é o conjunto de todas as classes laterais (à direita) de H em G.
134 | Introdução à álgebra

Suponhamos que G/H possui exatamente n classes laterais, assim


G/H = (Hx,, Hx,, ..., Hx, onde x,, ..., x, € G. Como (Hx,, ..., Hx,)
é uma partição de G temos que: Hx,N Hx, = sei * je mais ainda
G = Hx, w ... tw Hx, (união disjunta).
Se X é um conjunto finito representaremos por | X | o número
de elementos de X. Se G é um grupo finito definimos ordem de G como
sendo o número |G| de elementos de G.
Provaremos agora o Teorema de Lagrange:

TEOREMA 1 (Lagrange). Se G é um grupo finito e H é um subgrupo


de G então |H| é um divisor de |G| (isto
e, a ordem de H é um divisor da ordem de G).

Demonstração. Definindo em G a relação de equivalência = (mod H)


e sendo G um grupo finito segue imediatamente que
o conjunto G/H das classes laterais (a direita) de G é finito. Digamos que
|G/H|=n e G/H = (Hx,,...
Hx,).
Assim,
G — Hx (e) Hx» Wc... o) Hx,

(união disjunta) e portanto segue que,


|G|=|Hx,|+ |Hx,| +... + | Hx, |
Afirmação: |G| =n-|H| (e isto demonstra o teorema). De fato,
basta demonstrarmos que |Hx,|=|H| Vi I<ix<n.
Seja y: H5> Hx, I<i<n.
h no hx,
y é evidentemente sobrejetiva, e mais se y(h) = y(h”) tem-se
hx, = h'x,= h = h' ou seja y é bijetiva e portanto | H | = | Hx,| qual-
quer que seja i, | < i<n, como queriamos demonstrar. E

COROLÁRIO 1. Todo grupo finito de ordem prima é cíclico (em par-


ticular é abeliano).

Demonstração. Seja G um grupo e |G| = p onde p é um número primo.


Se xe G, x * e então (x> é um subgrupo de G con-
tendo o conjunto (e, x). Assim, pelo Teorema de Lagrange |(x)| é
um divisor de |G| =p e |Xx>|>1. Portanto |<x>| = p e isso nos
diz que G=(x>. E
Grupos 135

COROLÁRIO 2. Se G é um grupo tal que |G| < 5 então G é abeliano.

Demonstração. |G|=1=> G=([e5|6|=2,30u5 > |G| = primo >


=> G cíclico => G abeliano. |G| = 4:seIx te, xeG
tal que <x) = G então G é cíclico e portanto abeliano.
Suponhamos então que: Vx€eG, x * e, temos <x) £ G. Ora
pelo Teorema de Lagrange segue imediatamente que | (x) | = 2. Assim,
x =e, YxeG,

Assim se x, yeG tem-se xy = (xy) !=y!.x! =y.xouseja G


é abeliano (observe que nesse caso G é do tipo Z, x Z,, +).

EXERCÍCIOS
1. Prove todos os detalhes deixados por fazer nos exemplos desse
parágrafo.
2. Prove que:
a) Z(S;) = te)
b) Z(09) = 11, —1)
c) Z(D,) = te, 9º;
(e) se n impar.
d) 2 Dm = E 9"2) se n par.
e) Z (As) = te).
3. Prove que fe, r, 62, r0º) é um subgrupo abeliano (não cíclico) de
D..
4. Prove que Cj) = Os = Cj k> = Ci, k).
5. Descreva todas as permutações de A,.
6. Calcule todos os subgrupos dos seguintes grupos:
a) Z, x Z,,+ b) S,; c) D,
d) Os; e) Ds; D) As
7. Se G é um grupo e H < G tal que | G/H | = n dizemos que o índice
de H em G é igual a n.
a) Calcule o índice de H = Zmn Zn no grupo G = Z-+ onde
m, n são inteiros > 1.
b) seH,K<Ge|G/H|=me|G/K]| = m. Proveque |G/Hn K| <
<men.
c) Calcule o índice de 4, em S,, e prove que |4,| = n!/2.
Grupos 137

De fato,
sey=g !Ixgez =h !yhondeg,he Gtemosz = u!xuondeu = gh,
e isto demonstra a Proposição 3. E
Se x; ) dizemos que x e y são elementos conjugados em G.
Se denotarmos g !xg = xº são válidas as seguintes propriedades:
(a) x =x VxeG
(bD)y=x=>x=y7! VxygeG
(0) (1) = xP VYxgheG.
A classe X=ly:ixsy)=(xº:geG) é chamada classe de
conjugação (em G) determinada pelo elemento xe G. Vamos denotar
a classe X por C,.
Se G é um grupo finito e existem n classes de conjugação (em G)
com representantes x,, X,,..., X, então
G=C VC UC
(união disjunta) e assim chegamos a chamada equação de classes:

(1) |G|=|Cal+ICa|+..
+I]C|
Observem que xe Z(G)<=C, = (x) e a equação de classes
torna-se:

2) el=|Zzg|+ 3 IC.
x :€2(6)

PROPOSIÇÃO 4. Seja G um grupo finito e xEG. Então, o índice


|G/Cg| é igual ao número de elementos |C,|
da classe de conjugação C,. Em particular, |C,| éum divisor de|G| Va e G.

Demonstração. Seja H=Co(x)=(geG:gx=xg) =(geG:x!=x) e


seja G/H = (Hg :g e G) o conjunto de todas as classes
laterais (à direita) de H em G.
Pelo Teorema de Lagrange temos |G| = |G/H| |H|. Agora
consideremos a função,
vv: GHS5SC,
Hg no xº
Claramente y é sobrejetiva, mais ainda: se Y(Hg,) = W(Hg,) >
> x! =x? x 2 >-x>gg;1eCdx) = H=> Hg, = Hg,. Assim

y é bietiva e |G/H|=|C,|= 161 como queríamos demonstrar. E


HH
138 | Introdução à álgebra

Antes de provarmos o principal teorema desse parágrafo vamos


dar a seguinte definição.
Seja p um número primo e G um grupo. Se | G| = p",n e N dizemos
que G é um p-grupo. Pelo teorema de Lagrange um subgrupo de um
p-grupo é também um p-grupo.

TEOREMA 2. Se G é um p-grupo e |G| =p" > 1 então |Z(G)| =


=p”">l.

Demonstração. Pela equação de classes temos, |G| =|Z(G)| +


+ > I|C,louainda,|Z(G)|=|G|- 3 I|c,l.
x182(6) x1$2(6)
Ora V x, É Z(G) temos |C,.| > 1 e sendo |C,.| um divisor de |G| =
= p" segue imediatamente que | C,.| = O(mod p) Vx,$ Z(G)e|G|=0
(mod p) e pelo teorema de Lagrange segue que: |Z(G)|=p" > 1
como queriamos demonstrar. E

COROLÁRIO 1. Se p é um número primo e |G| = p? então G é um


grupo abeliano.

Demonstração. Se|G| = p? temos pelo teorema anterior que | Z(G)| =


=p" >1. Se |Z(G)|=p' então G=Z(G) e G é
abeliano. Suponhamos, por absurdo, que Z(G) < G. Assim 3 a€eG
tal que a &Z(G). Assim H=Cala)=ig:ga=ag) 2 Z(G), acl,
e a éZ(6).
PortantoH ZZ(G,|H|=p' >|Z(G|=p=|H|=p'eH=
= G. Mas, isto é uma contradição pois C(a) = G => ae Z(G), e isto
demonstra o Corolário 1. E
Observem que provamos anteriormente que se |G| = p então G
é cíclico e agora acabamos de demonstrar que se |G| = p? então G
é abeliano (observem que Z, x Z,, + é um exemplo de um grupo
abeliano não cíclico de ordem p”).

EXERCÍCIOS
1. Calcule todas as classes de conjugação para os seguintes grupos:
a) G = Zs, + d) G = Qs
b) G=s5, e) G = D,
c) G =D,
2. Seja G um grupo e C, uma classe de conjugação contendo exata-
mente n elementos. Prove que 3H < G tal que |G/H| = nn.
Grupos 139

3. Seja p um número primo e G um p-grupo de ordem p* Prove que,


se G é não abeliano, então | Z(G)| = p.
4. Seja G um grupo e ge G. Definimos a função
Y,:6G>G
x no yo(x) =xº =g7“xg
1

a) Prove que y, é uma função bijetiva tal que

Vol) = Yo) by) Ve, ve G.


b) se H <G prove que Y(H)=lg !-h-g:he H; é também um
subgrupo de G.
S. Se G é um grupo finito contendo apenas duas classes de conjugação.
Prove que | G | = 2, isto é, G é um grupo cíclico de ordem 2.
6. Se G é um grupo finito contendo apenas 3 classes de conjugação.
Calcule as possibilidades para ordem de G. Mostre que no caso
|Z(G)| = 1 existe a possibilidade | G| = 6. Quais são os números
de elementos de cada classe?
7. Estude as possibilidades para ordem de G se G contém exatamente
4 classes de conjugação.
8. Determine todas as classes de conjugação dos grupos A,, Dç € S3,.

84 Grupos quocientes e homomorfismo de grupos

Introduzimos no parágrafo anterior a importante noção de classe


de conjugação em um grupo. Nesse parágrafo vamos introduzir a noção
de subgrupos normais (ou invariantes) e grupos quocientes.
Seja G um grupo e seja H < G. Se ge G definimos a função y,
(conjugação pelo elemento ge G) por,
Y,:G>G
xo bx) =xº=g |xg
Observe que y,(H) = ty,(h):he H) = hº = g *hg:he H! que
denotaremos por Hº ou g ! Hg. É fácil provar que Hº é também um
subgrupo de G pois:
(1) e = ee Hº
(1) h$, he Hº => h$-h$ = (h,h,ºe Hº
(ni) he H' => (hn)! =(h'yeH.
140 | Introdução à álgebra

Assim a função conjugação transforma subgrupos de G em sub-


grupos de G.
Dizemos que um subgrupo H < G é normal (ou invariante) em
Gse y(H)=H'cH YgeG.
Observe que
H'cH VgeG=>H'=H VgeG.
Por exemplo, se G é o grupo das retas do plano R? com coeficientes
angulares não nulos (veja Exemplo 9 do 42) e H é o subgrupo de G das
retas de R? com coeficientes angulares iguais a 1, então H é um sub-
grupo normal de G. De fato, é bastante observar que: se g(x) = ax + b,
a£0eh(xg)=x+centão (g!-h-g)(x) =x+—.
Se H é um subgrupo normal de G denotaremos por H 3G.
Claramente (e; e G são sempre subgrupos normais de G. Se G
é um grupo abeliano então qualquer subgrupo H de G é normal em G
pois, VgeG, H'=(g!.h.g:heHj=(h:heH)=H.
Dizemos que um grupo G * (e; é simples se os únicos subgrupos
normais de G são (e! e G. Assim os únicos grupos simples abelianos
são os cíclicos de ordem prima.
O grupo Q, dos quaternios de ordem 8 é um exemplo de um grupo
não abeliano onde qualquer de seus subgrupos é normal em Qs,.

PROPOSIÇÃO 5. Seja G um grupo. Então,


(a) N3G<o Ng =9N VYgeG onde gN = (gn:neN) é uma
classe lateral (à esquerda) de N em G.
(b) N,N, 4G=>N,nN,4aG.
()H<GeNaG=>HN=(hen:heH,nenN! é um subgrupo
de G.
() N IGN IGSN,N,3IG.
()JH<6G N43G=>HnNaH.

Demonstração.
(a) Basta observar que Nº =g |INg=N<oNg=9N, VgeG.
(b) Sexe N,n N,egeGentão,xe N, exe N,. Assim, xº€ N$ =
=N,exºeN3=N,ou sea x EN,N N.,. Assim (N,N N;)P =
=N,nN YgeG.
(c) Seja H<Ge NG. Vamos provar que L= HN = (hn:
he H, ne N) é um subgrupo de G.
Grupos 141

De fato,
(1) e=ecee HN
(11) hm,, hm,eL = (hymy(homo) = hy(hohz)nçho)n, = (hn)
(hono) = (hçho) (hz *nçho)n, = (hyho) (ny)? + n2), e se denotarmos
h=h,h,,n=nf-n,teremoshe H,ne Nº =Nen=nt.n,EN
e assim,
(hiny)(h,n,) = hne L= HN.
(ii) x=hneL=> xl =n"lhl=h(hen!en!.
Mas h!eHeh-n!.h!i=(n Dent =Ne portanto
x1e L= HN e isto demonstra o item (c).
(d) Basta observar que VgeG tem-se:

(NN)* = 9 "(NNdg =(g 'Ng)(g !N,9) = N4N$


ecomo N$ = N,,N$S =N, Yge Gsegueque(N,N,) = N,N, VgeG.
(e) Seja xeHn Ne heH, então xeN e x*eN* = N. Como
x, he H segue imediatamente que xX*e Hn N Yhe Heisto demonstra
o item (e). E
Agora vamos definir a noção de grupo quociente. Seja G um grupo
e N um subgrupo normal em G. Sabemos que, x,y e G,x = y(mod N) <>
<> xy 1e N define uma relação de equivalência em G e G/N =
= (9:9€G) é o conjunto quociente de G por esta relação de equivalência
onde g = Ng = ing :ne N) é a classe de equivalência módulo N
tendo g como representante.
Sendo N = G vamos agora introduzir de modo natural uma
operação no conjunto das classes G/N de modo que G/N seja um grupo
com esta operação. Este grupo receberá o nome de grupo quociente
de G por N.

PROPOSIÇÃO 6. Seja G um grupo e NG. Então, Vx, yEG,


xey = xºy define uma operação no conjunto das
classes G/N e mais ainda G/N é um grupo com essa operação.

Demonstração. Para demonstrarmos que x-y = xy define uma ope-


ração em G/N temos que provar que a definição acima
não depende da escolha dos representantes das classes. De fato, se
x=aey=b provaremos que xy=a-b, isto é, xy=acb.
Para isso é suficiente provarmos que Nxy= Nab ou ainda
(xy) (ab) 1 e N. Mas xy-(ab)1 = xyb la lex =a,y = b nos diz
que xa le N, yb!
142 Introdução à álgebra

Se xa !=n,eN,yb ! =n,€EN então, (xy)(ab)! = x(n))ja! =


=(nya)(n)a! =n,(an,a”!) e como n,€N e ana te NS = N
segue imediatamente que
(xy) (ab)! EN

e nossa definição não depende da escolha dos representantes


Agora, se e é a identidade de G então
(1) e = Ne = Néo elemento identidade de G/N poise.x = e.x =
=x=xºe=xeºe, VxeG/N.

()xbeD=x()=x (pe) =(xy)ez=(xey)ez =


=(X)Z VX)2Z€G/N
(iii) se xe G/N então x! x
Assim G = G/N é um grupo com a operação definida pela regra
XYy=Xxºy, VXx, vyeG. E

so ;
PROPOSIÇÃO 7. Seja G um grupo e N 4G. Então
(a) Se G abeliano, então G = G/N é abeliano.
(b) Se G é cíclico, então G = G/N é cíclico.

Demonstração. º
(a) Seja X, peG = SIN Então,

J=XºV=)X=)Yex
(b) Se G = Oo) = n :imeZl então Vy = Nye G = G/N temos
que: yeG = (x> ec assim y = x” para algum me Z e dai segue que:
p=x"=x"e (x) = (x'reZ;
e assim G = (<X> como queríamos demonstrar. E
Se G é um grupo aditivo e N = G então denotaremos também
aditivamente o grupo quociente G/N. Assim
x+y=x+),
onde
e X=N+4x=(n+x:nenN)

p=N+y=(n+4y:nenNs.
Grupos 143

PROPOSIÇÃO 8. Seja G um grupo, NI Ge G =G/N o grupo


quociente de G por N. Então,
t:G>6G
x no t(x)
= &
é uma função sobrejetiva (projeção canônica) tal que:
a) r(xy) = n(x)en(y) Vx,yeG
b) N=(xeG:n(x) = & onde e é a identidade de G e é é a identidade
de G.

Demonstração.
a) n(xy) =xy=xy =n(x)en(y) Vx,ye6.
b) r(x)=e<x =e<> xe Neisto demonstra o item b). E
Agora vamos definir a noção de homomorfismo de grupos. Sejam
Ge G' grupose y: G > G' uma função de G em G..
Dizemos que y é um homomorfismo se Y (xy) = YO) y(y) Vx, ye 6.
Observe que a projeção canônica 7: G > G = G/N definida na
Proposição 8 é um homomorfismo de G sobre G. |
Se o homomorfismo y: G > G' for bijetivo dizemos que y é um
isomorfismo e nesse caso dizemos que G é isomorfo a G' e denotamos
por G=G.
Um isomorfismo y: G >» G diz-se um automorfismo de G.
As funções y,:G — G conjugação pelo elementos ge G são
exemplos de automorfismos de G, chamados automorfismos internos
de G. Denotaremos por Aut G o conjunto dos automorfismos de G
e Inn G o conjunto dos automorfismos internos de G.

PROPOSIÇÃO 9. Se G é um grupo e f,, E Aut G então:


a)f,of,e Aut G
b)fj'e Aut G, onde f,! é a função inversa de f,.

Demonstração.
a) (fe fly) — flfby) = A050): 0) = AU) f50) =
= (nº f)b):(f0f)(9) Yx, YEG, e como a composição f, o f,
de funções bijetivas é também bijetiva temos f, o f, E Aut G.
b) Sef, e Aut Gentão Vx', y E G existem x, ye G tais que x = f, (x)
ey =f()).
144 Introdução à álgebra

Assim, se h =f,! temos,

hOcy) = h(f 69) fo 00) = h(f 6) = (he fi) (xy) = xy = he) h(y),
e isto demonstra que /,! = he AutG. E

COROLÁRIO 1. Se G é um grupo então Aut G é também um grupo com


a operação de composição de funções.

Demonstração. Usando a proposição anterior é bastante observar


que e = Iç:G> G é um automorfismo de G e que
a composição de funções é associativa. EE

PROPOSIÇÃO 10. Se G é um grupo então Inn G é um subgrupo nor-


mal de Aut G.

Demonstração. Primeiramente, se g,, 9) € G, então


Vo Va = Wog, POIS Voa9,1X) =
= (9,91) "x(g,9) = 91 (92 xg))g, VxeG.
Assim Inn(G) é um subconjunto fechado em relação a composição
de funções. Como y, = Ie Inn(G) e (y;))! = y,-.E Inn(G) Vge G
segue imediatamente que Inn G é um subgrupo de G.
Agora se ge G, c E Aut G, então

(0! oyo o)(x) =0"!(g"! -o()-g) =(07“(g)


! xo (9) =
= Yo -s «gn (X) VxeG6,

ou seja, o !-y,-ceInn(G) Voe AutG, VgeG, e isto demonstra


a Proposição 10. E

TEOREMA 3 (1.º Teorema de homomorfismo).


Sejam G e G' grupos
com identidades e e e
respectivamente e y:G — G' um homomorfismo. Então
a) Im y = y(G) = fy(g):ge G) é um subgrupo de G.
b) N(y) = (ge G:y(g) = e) é um subgrupo normal de G (chamado
de núcleo do homomorfismo) e mais,
y é injetiva <> N(y) = te)
e) G/N(y) = Im y.
Grupos 145

Demonstração.
a) Primeiramente, (1) e = y(eJe Im y pois ee = e=> y(e) y(e) >
= y(e) = e e Im y, logo Im y £
(11) gy) Yg)eIimy => ya) Wg,) '=Wlgig; DelmyVYgeG.
e isto demonstra o item a), pela proposição 1 da pág. 120.
b) (1) ce N(y) pois y(e) = e
(1) 9, 92 NG) => Ylg,g)) = Ylg)cylgo) = ce =e >
= 9,92 € N().
(ii) ge NG) => Wlg"!) = Wlg"! = e! = é > gen).
Agora se ne N(y) e geG temos,

Wg "eng =Wg) cy(n- blg) = Wg)"ce -ylg) = e,


ou seja, g !.ncge N(J). Yne N(y)), VgeG.
Assim N(y) é um subgrupo normal de G.
Agora, se x, yeG Wi) = Wy)
e pl) y(y)| =e e y(xyT!) =
=e <> xy ! e N(y), e daí segue imediatamente o item b) do Teorema 3.
c) Seja G = G/N(y) e N = N(y) 4 G. Vamos definir
y: G > Im(y).
9 => y(g)
Primeiramente y está bem definida pois,
9g=h>gh' en) => Wlgh') =e => y(g) = W(h)
Agora, Im y = Im y e portanto a função é sobrejetiva.
Se x YeG =G/N temos,
VET) = VCD) = yo) = YO) 40) = VOC) WD)
ou seja, y é um homomorfismo sobjetivo.
Mais ainda,

WO) =esyx)=esxeNoex=a.
Dai segue que N(y) = (e) ey é injetiva. Assim y é um isomorfismo
de G sobre Im (1y) e portanto G = Im y, eisto demonstra o Teorema 3. EB

COROLÁRIO 1. Seja G um grupo finito e y: G> G' um homomor-


fismo de grupos. Então,
(a) [W(G)| é um divisor de |G|
(b) se G é um p-grupo então W(G) = Im y é também um p-grupo.
146 | Introdução à álgebra

Demonstração. Basta observar que G/N = WG)=|G/N|=[W(G)|


onde N = N(y) é o núcleo de y. m

COROLÁRIO 2. Seja G um grupo e Z(G) o centro do grupo G. Então,


Inn G = G/Z(6).

Demonstração. Basta observar que a função, y: G > Inn G é um


go Wa
homomorfismo tal que: Im(y)= Inn G e N(y)= Z(6).
De fato, y é um homomorfismo pos Wlgh) = Van € Ygn 10X) =
=(gh)-x-(hig D=ghexeh De gr! sy b)=Y,- (Wa 1(x)),
VxeG.
Assim, y(gh)=vy(g)-y(h) Yg, heG. Agora, Im(y)= Inn(G)
eNW=igeG:y,-i=Ig o NW=igeG:gixg |=xVxeGj=
= (geG:gx=xg VxeG)..N(y) = Z(6). E isto demonstra o Co-
rolário 2. E

TEOREMA 4 (Teorema da Representação). Seja G um grupo e H um


subgrupo de G de indice
[G:H] =n. Então, INS H,|N 4 G tal que G/N é um grupo isomorfo
a um subgrupo do grupo S,.
Mais ainda, N é o “maior” subgrupo normal em G que está contido
em H.

COROLÁRIO 1 (Teorema de Cayley). Se G é um grupo de ordem


|G|=n então G é isomorfo
a um subgrupo do grupo S,.

Demonstração do Corolário 1 — Basta fazer H = (e) no enunciado


do Teorema 4. E

Demonstração do Teorema 4 — Seja S = G/H = (Hx,, Hx,, ..., Hx,).


e 2(S) o grupo de permutações do
conjunto S. Seja a seguinte função,

y:G>7(S) onde Y(g):S 5>5S


g > y(g) Hx; vo Hxg”!
Primeiramente, se g€e G,

V (9) (Hx;) = W(g) (Hx)


<> Hxg”! = Hxg”" «> Hx, = Hx;=> y(g)
Grupos 147

é injetiva e |S|=n=> y(g)e (8).


Assim, Y(g)e P(S) VgeG.
Agora, W(gh) (Hx) = Hxi(gh)! = Hxh''g"' = (W(g)oy(h))
(Hx)Yg,heGeVYHx,eS. Portanto y é um homomorfismo y : G > Z(S).
Vamos calcular o núcleo de y:
NwW)=(geG:y(g) =Is)=(geG:Hxg!=Hx,Vi=1,2,...,n)
Assim, ge N(y) <> Hxg ! = Hx,Vi = 1,..,n< Hx, = HxgVi =
=14,...ncoH=H(xgx; )Vi=),...neoexgx !/eHVi=l,...,n<s
ogex Hx, = Hº Vi=1,2,..,n.
Ora como G = Hx; w ... w Hx, (união disjunta) e como Hi =
= H*i VheH segue imediatamente que:
geN(W)
<> geH* YxeG<ege(] H*
xeG

Portanto, N(y) = () H*.


xeG

Se N= (| HentãoN <GpoisN = N(yetambémH=H'DN.


xeG

Agora, se LJ GeLCH segue que: E =LCH*VxeG e dai teremos


Le N=f()H* Portanto, N=()Héo'“maior” subgrupo normal
xeG xeG

de G contido em H.
Ora como o grupo Z(S) = S, o teorema segue imediatamente. E

COROLÁRIO 2. Seja G um grupo finito e H < G tal que [G:H]=n.


Seja N = () H* o maior subgrupo normal em G
xeG

contido em H.
Se |G| não divide n! então Ne).

Demonstração. Basta observar que pelo Teorema de Lagrange e pelo


teorema anterior temos que | G/N | é um divisor de n!. E

COROLÁRIO 3. Seja G um grupo finito e p o menor divisor de |G|.


SeexisteH <Gtal que [G:H] =pentão H 3G.

Demonstração. Se N = 1, H* então pelo Teorema de Lagrange e


xeG

pelo teorema anterior temos que |G/N | é um divisor


de p!.
148 | Introdução à álgebra

Ora como p é o menor primo divisor de | G| então pelo Teorema


de Lagrange p é o menor primo divisor de | G/N |. Assim a única pos-
sibilidade de termos |G/N| dividindo p! é |G/N| = p.
MasNcHcGe[G:H]=[G:N]=pnosdizque|N|=|H 9

ou seja, N= HG, como queriamos demonstrar. E

COROLÁRIO 4. Seja G um grupo e H<G tal que [6:H] =2,


então H 3 G. Em particular, A, SOIS, E

COROLÁRIO 5. Todo subgrupo H de indice p primo em um p-grupo G


é normal em G.

Demonstração. Segue imediatamente do Corolário 3. E

COROLÁRIO 6. Se G é um grupo simples e H é um subgrupo de G


tal que [G:H] =n > 1. Então G é isomorfo a um
subgrupo do grupo S,. Em particular um grupo simples infinito não con-
tém subgrupo próprio de índice finito.

Demonstração. Se N= [) Ha Ge HG, G símples então N = (e)


xeG

e nesse caso G/N = G e o corolário segue imediata-


mente do Teorema 4. E

TEOREMA 5 (Teorema da Correspondência).


Sejam G e G' grupos
e y:G>G' um ho-
momorfismo sobrejetivo tal que N = N(y). Então:
(a) VH<G tem-se H'=yWH)=iWylh):heH;<G'. Mais ainda
Ha6G6=>H'4G.
(b)VH' <G' JúnicoH=y (H)=igeG:WgeH!2N,H<G
tal que W(H) = Hº.
Mais ainda Ha9G >H 396.

COROLÁRIO 1. Seja G um grupo e N 4 G. Então, todo subgrupo do


grupo quociente G = G/N é do tipo H = H/N onde
H é o único subgrupo de G contendo N tal que H)=H onde
T:6>6G=G/N é a projeção canônica (H recebe o nome de pré-imagem
de H em G). Mais ainda,
Ha6esHSIG.
Grupos 149

Demonstração do Corolário 1. Basta considerar na parte (b) do


Teorema 5
y=n:6>6=G =G/N. p

Demonstração do Teorema 5.
(a) Seja H < 6.
Considerando y = PE H>G' a restrição de y ao subgrupo
H de G temos claramente que y: H > G' é ainda um homomorfismo
e pelo 1.º teorema de homomorfismo segue que y(H)= Imya G.
Seja H IG e H =y(H). Vamos provar que H' 3 G'. De fato,
se g€eG' =Im y temos que g' = W(g) para algum geG. Assim,
Vh'eH' =yWH)JheH tal que ylh)=h eVg'eG' Jg'eG tal que
g' = y(g). Dai segue que:

chego =Wg)! ylh)-ylg)= Wlg”! «h-g)


ora H 3 G “implica que g!-hegeHº'=H e daí temos,
g”"-heg =yWg!-hgewH)=H,VgeG,vheH'
ousea HIG=>H'26G' =YW(6).

(b) Seja H' <G eH=y KH)=igeG:yg)eH'.


Ora como e'€e H' segue imediatamente que

N=Ny=igeG:Wg)=e=H=y"(H),
Claramente temos y(H) = y(y” (H”) = H'. Vamos provar agora
que y(H) = H'. De fato, se he H' então IxeG:y(x) =h' pois y é
sobrejetiva. Então xey HH)=H e mais h = y(x)eW(H) e isto
prova que W(H) = H'.
Se H3sG, H=y (H)aG=y MG) pois, VgeG,VheH
temos

Wlg"!-h-9)= Wg)"! uh) Wg)e HO = H'


e portanto g !-hegeH =y HH).
Agora se H'<G eL<G, L2DN tal que W(L) = H' então
L=H=yH), pois W(L)=H' nos diz de imediato que
Lc H=y (H). Por outro lado, se heH = y”"HH' temos que
ylh)e H' = W(L), isto é JfEeL tal que y(h) = YW(f) e daí temos:
W(hf!) =e' ou seja hf 1eNCL ou ainda, hf"!EL e portanto
he Le? = L,eisto demonstra a unicidadede H 2 Ntalque (H)=H'.m
150 | Introdução à álgebra

Antes de encerrarmos esse parágrafo vamos demonstrar o Teorema


de Cauchy e enunciar, sem demonstração, o Teorema de Sylow. Esses
Teoremas foram os primeiros resultados da Teoria dos grupos relativo
ao problema da Existência de subgrupos em grupos Finitos.

TEOREMA 6 (Cauchy-1842). Seja p um divisor primo da ordem de um


grupo finito G. Então JaeG tal que
a ordem de a é igual a p.

Demonstração. Vamos demonstrar por indução sobre |G|. Se |G|=1


o teorema é verdadeiro pois não existe primo dividindo
|G| = 1. Vamos então assumir o teorema verdadeiro para todos os
grupos L tais que | <|L|<|G|.

Caso | — G grupo cíclico.


Seja G = (x> e seja p um divisor primo de |G|.
Nesse caso sabemos que (x) = p'-m onde r> 1 ea = xP tem
é tal que a” = e,a £ e como queriamos demonstrar.

Caso 2 — G abeliano não cíclico.


Seja p um divisor primo de |G| e seja xeG x £ e. Se p divide
| <x> | então pelo caso anterior Ja e<x)> tal que O(a) = p e o teorema
está provado.
Suponhamos então que p não divide |N| onde N = (x). Pelo
Teorema de Lagrange temos que p divide a ordem do grupo quociente
L = G/N (observe que N <G pois G é abeliano). Como |L|<|G|
temos pela hipótese de indução que JgeLtal quegHeeg'=e
ou seja 9º = e ou ainda gÉ N, gE N. Agora se | N | =n temos então
que (9? = g”" = e, portanto p divide | <g>| e novamente pelo caso 1
Jae(g> tal que O(a) = p e o teorema está provado.
Caso 3 — G não abeliano.
Assim Z = Z(G) % G. Se p divide | Z | temos o teorema provado
pelo Caso 2. Assim podemos assumir que p não divide |Z|.
Pela equação de classes temos,

|Gl=|Z|+ »
x;€ Z(6)
[G:Cob)]
Como p divide |G| e p não divide | Z | segue que 3 x,é Z(G) tal que p
não divide [G: Cdx))).
Grupos 151

Portanto p divide |H| onde H = Ce(x;) £ G. Como |H|<|G|


pela hipótese de indução temos que dae H tal que ((a) = pe o teorema
está demonstrado. E

COROLÁRIO 1. Se G é um grupo de ordem 6 então ou G é cíclico


ou Gs.

Demonstração. Seja G um grupo e |G| = 6, então pelo teorema de


Cauchy Ix,yeG tais que, (x) =2, Oy) =3. Se
N=(y)=(e,y,)') segue que [6:N]=2 e portanto N 3 G. Em
particular x! yexeN = (e,y,y?) e daí segue que ou x !.yex =»
(e nesse caso xy=yx) ou x l.yex=y! (e nesse caso
G=(c,x,y,)y),xy, xy”) onde yx = xy )).
No primeiro caso sea = x y é fácil ver que ((a) = 6e G = (a> é
cíclico. No segundo caso a correspondência: rs x e 0» y, define
um isomorfismo entre, D;=S, e G pois Or =r0"! e yx=xy!.
Observe que já classificamos todos os grupos de ordem até 6.
Os grupos de ordem 1,2, 3e 5 são grupos cíclicos. Os grupos de ordem 4
são ou abelianos cíclicos (isomorfos à Z,, +) ou são abelianos iso-
morfos à Z, x Z,, +. Os grupos de ordem 6 são de dois tipos, ou
abelianos cíclicos (isomorfos a Z,, +) ou não abelianos isomorfos à S,.
O problema de classificar todos os grupos finitos é o problema
central da Teoria dos grupos finitos e é extremamente difícil. Apenas
para dar uma idéia, podemos informar que existem 14 tipos distintos
de grupos de ordem 16 sendo 5 abelianos (apenas 1 cíclico) e 9 não
abelianos. Os grupos de ordem 8 e 12 são mais tratáveis do que àqueles
de ordem 16 e poderiam mesmo serem aqui apresentados, mas nos
restringiremos à mais uma informação através da seguinte proposição.

PROPOSIÇÃO 11. Seja G um grupo de ordem 8 então G é isomorfo


à um dos seguintes grupos:
(1) 6 = Z5, +
(A) G Abeliano: 2) G=2Z, x Z,,+
3)G=Z,x2Z,x Z,,+
(4) G = D, (Dihedral)
(B) G Não Abeliano: 4
(5) G = Qs (Quaternios)
Para concluir o parágrafo 4 vamos enunciar, sem demonstração,
o Teorema de Sylow, cuja demonstração é em geral apresentada em
um primeiro curso de Algebra do Mestrado.
152 | Introdução à álgebra

TEOREMA 7 (Sylow-1872). Seja G um grupo finito, |G|=p*em


onde M.D.C.ipm! = 1, ea > 1. Então,
a)VrlI<r<xaIH=<Gtalque|H|=p.
b) Quaisquer dois subgrupos H, e H, de G de ordem igual a pº
são conjugados em G (ie., IgeG tal que H;=H,).
c) O número n, de subgrupos de G de ordem pº* é do tipon, = kp + 1
onde kEN, e n,| |Gl.
(os subgrupos de G de ordem p” são chamados de p-Sylow subgrupos
de G)

EXERCÍCIOS
1. Calcule todos os subgrupos normais dos seguintes grupos:
S3, Da, Og, As € Sa.
2. Mostre com um contra-exemplo que:
N,496G, N,46G,, NA=N,e S S2 não implica que G, =G..
No N
3. Calcule Aut G para os seguintes grupos 6:
a) G=Z,x Z,,+

b) G=Z,+
c) G = Z,,+
d) G=2Z,x Z,,+
e) G=Z,,+
DG6=sS;
8) 6 =D,
h) G = O;
) G=A,
) G = 4
4. Prove que quocientes e subgrupos de grupos abelianos são ainda
grupos abelianos.
5. Prove que quocientes e subgrupos de p-grupos são ainda p-grupos.
6. Seja S, = fe,x,y, V, xy, xy”) =G onde Ox) =2 e Cy) = 3. Se
N =fe,y,y”! então N é abeliano, G/N é abeliano mas G não é
abeliano.
7. Seja G um grupo e N < G. Prove que, se G/N e N são p-grupos
(para algum primo p) então G é também um p-grupo.
Grupos 153

8. Prove que se G £ te; é um grupo simples abeliano então G é um


grupo cíclico de ordem prima.

. Seja G um grupo e H um subgrupo de G.


Se NH) = (geG:Hº = H) então prove que:
a) Nco(H) é um subgrupo de G contendo H e Z(G).
b) Ha Nç(H)e se L é um subgrupo de G L2 Htalque H<L
então Lc NH).
c) O índice [G: NH)] é igual ao número de subgrupos Hº
conjugados ao grupo H. (considere aqui G um grupo finito).
)HaGeSNdH)=6.
(Nc(H) é chamado de normalizador de H em G)

10. Sejam N,, N, subgrupos normais de um grupo G tais que:


G=NN,eNnN,=te.
Prove que: sege Gexiste Únicos n, e N,,n,€ N, tais que:g =n,n..

. Um subgrupo K de um grupo G diz-se característico em G se


Vae Aut G tem-se Kº = iu(k):ke K) = K. Prove que:
a)seK <N<6G,K característico em Ne N 3 Gentão K IG.
b) se K<Lx<GeK característico em Le L característico em G
então K é também característico em G.
c) de um contra-exemplo mostrando que:
NON, e NIGAN, IG.
d) se K é característico em G então K IG.

12. Seja G um grupo abeliano finito e seja n um inteiro > 1 tal que
M.D.C.fn,|G|) = 1. Prove que:
y:G>G
x no x”
é um automorfismo de G.

13. Sejam M,N a G. Prove que:


MN/N = M/Mn N

Sugestão: Considere o homomorfismo definido por:


y:M — MN/N e mostre que y é sobrejetivo e mais
m vo Nm
N(y) =MnN.
154 Introdução à álgebra

14. Seja G um grupo e seja € o seguinte subconjunto de G:


C=ilxyl=x!.y lexeyox, yeG!
([x, y] chama-se um comutador de G e € é o conjunto de todos
os comutadores de G).
Vamos definir G' como o subgrupo gerado por C, isto é,
G' = <€> é o menor subgrupo de G contendo C. Prove que:
a) G abeliano
<> G' = tel.
b) G' é um subgrupo característico em G.
c) G/G' é um grupo abcliano.
d) se Na Ge G/N é abeliano então ND G.
ebseH<GeHDG' então HG
15. Se G é um grupo tal que |G| >3 então |AutG| > 2.
16. Seja G um grupo tal que |G| = 2+p onde p é um número primo.
Então 3H «G tal que |[H| =p.
17. Seja G um grupo tal que |G| = p-q onde p e q são primos. Prove
que:
a) Se G é abeliano e p £ q então G é cíclico.
b) Se p <q então 3 subgrupo Q <G tal que |Q|=q.
18. Seja G um grupo de ordem 15. Prove que G é cíclico.
19. Seja G um grupo não abeliano de ordem 10. Prove que G = Ds.
20. Seja G um grupo tal que G/Z(G) é cíclico. Prove que G é abeliano.
21. Prove que se G é um grupo de ordem 28 então G possui um sub-
grupo normal de ordem 7.
22. Seja G um grupo tal que 3H < G onde [G:H] =. Prove que
então 3N 1 G tal que [G:N]< co.
23. Seja G um grupo e H<G.
a) Prove que C(H) = (ge G:gh=hg Vhe H) é um subgrupo
de G contendo Z(G) e contido em NH).
b) Prove que CH) 3 NH).
c) Prove que Nç(H)/Cc(H) é isomorfo a um subgrupo do grupo
Aut (H).

(Sugestão: considere o homomorfismo:


Y:NdH) > Aut(H) onde y:H>H
9 "bg hnoh' =g” 1 “heg
Grupos 155

24. Seja G=0,+ eH=Z,+. Assm H 6. Considere o grupo


G = G/H e prove que G é um grupo abeliano infinito tal que todos
os seus elementos (distintos da identidade) possuem ordem finita.
25. No exemplo anterior descreva o subgrupo de G contendo todos os
elementos de ordem potencia de um dado número primo.
26. Seja G um grupo e M £ G um subgrupo maximal normal em G
(isto é, não existe subgrupo N SG tal que MG NG G). Então
prove que G/M é um grupo simples.
27. Seja P um p-sylow subgrupo de um grupo finito Ge seja N = N(P).
Prove que o grupo N/P não possui elementos (distintos da identi-
dade) com ordem potencia do primo p.
28. Seja G um grupo finito e P um p-sylow subgrupo de G.
Se N a G, prove que Pn N é um p-sylow subgrupo de Ne PN/N
é um p-sylow subgrupo de G/N.
29. Seja G um grupo de ordem |G| = 2p onde p é um primo impar.
Prove que: ou G é cíclico ou G = D, o grupo dihedral de ordem 2p.
30. Seja G um grupo de ordem 12 tal que G £ A, (G não é isomorfo
ao grupo 4,). Então prove que 3yeG tal que ((y) = 6.
31. Seja G um p-grupo não abeliano de ordem |G| = p”. Prove que
Z(G) = G' é um subgrupo de ordem p.
32. Seja P um p-sylow subgrupo de um grupo finito G e seja H um
subgrupo normal de G. Então, se Pa H temos P 36.
33. Se G é um grupo cíclico infinito então G é isomorfo ao grupo aditivo
dos inteiros.
34. Seja G um grupo cíclico finito de ordem n. Prove que se d é um
divisor de n então existe um único subgrupo H de G de ordem d.
Em particular,
Todo subgrupo H de um grupo cíclico G é característico em G.
35. Seja T um subgrupo cíclico normal em G. Prove que: se U <T
então U SIG.
36. Seja G um grupo abeliano finito de ordem |G| = pr'-p?...pY
onde p,,...,p, são os distintos primos divisores de |G| e
4, ...,4,€ N — (0). Prove que:
a) G, =ixeG:x”” =e para algum inteiro m >0; é um sub-
grupo de G.
b) segeG JúnicosgeG,,i=1,...,rtais que: g =9,º92--- 9,
156 Introdução à álgebra

Cc) 6=6G, x G,,X.. x G,


d) |G,| =p; e G,, é o único p-sylow subgrupo de G.
= G/N
37. Se Na Gee N<H<Gentão—-—=G/H.
então HIN /

38. Se G = Z,, +, p primo então Aut G é um grupo cíclico de ordem


igual a p— 1.

85 A simplicidade dos grupos A, n >b


Nesse parágrafo apresentaremos a noção de solubilidade e pro-
varemos a simplicidade dos grupos 4,, n 2 5. Em particular teremos
a não solubilidade dos grupos $S,, n > 5.
Um grupo G diz-se solúvel se existem subgrupos (e; = 6, <G, <
<G,<...<6,.,<G,=G tais que:
(1) G, OGViefl,2,...,n)
(2) G;/G,.., é abeliano Vie (1,2,...,n).
Assim, grupos abelianos e p-grupos são exemplos de grupos
solúveis. Os grupos S,, 4, e S, são também exemplos de grupos solúveis
embora não sejam nem abelianos nem que se H é um desses 3 grupos
acima então Z(H) = (e).

PROPOSIÇÃO 12. a) Todo subgrupo de um grupo solúvel é solúvel.


b) Todo quociente de um grupo soluvel é solúvel.
c) Seja G um grupo e N 4 G. Então, G/N solúvel e N solúvel > 6
solúvel.

Demonstração.
a) Seja G um grupo solúvel e tLe)=6,<6G,<6,<... <
<G,., <G, = G uma “cadeia solúvel” de G, isto é,
(1) G., IG, Viell,2,...,n)
e (2) G;/G,., abeliano Vie (1,2,...,n).
Seja L um subgrupo qualquer de G e defina L,= LN 6,
Vief0,1,...,n). Claramente temos L;=le;j<L,<..<L,1,<
<L,=LnG=L.
Primeiramente vamos provar que L,., SL, Viefl,2,...,n).
Grupos 157

De fato, se xeL,.,=G. ,jnLegeL,=GnL então xeG,., e


xeL,geG, e geL. Assim, x) =g !.x-geL e como G,.,, 46,
também temos x'=g !.x-geG,., ouseja, XEL, ,=G,,NL.
Agora para provarmos que L;/L,., é abeliano basta observar que:

V;:L;> G/G,.4
x vo ylx) = G,.,ºx
é um homomorfismo cujo núcleo é exatamente
N(y;) = fxe L,:xeG;.4) = LL...
Assim pelo 1.º Teorema de homomorfismo teremos:
L;/L,., = Imy,< G;/6,.4
e como G;/G;,., é abeliano segue imediatamente que L,/L,., é também
abeliano Vie (1,2,...,n) e isto demonstra o item a).
b) Seja NI Gn:G>G=G/N a projeção canônica. Supo-
nhamos G solúvel. Vamos provar que r(G) = G é também solúvel.
Sejaley=6,<6,<...<G,.,<6G<...<G,,<G,=6G
tal que:

(D) Ga SG Viell,2,...,n)
(2) G;/G;,., abelianos Vie [1,2,...,n).
Se G;= 7(G) = (9; = n(9)):9,€ G,) então temos que:
()=6<6,<... I—>1 <6,.,<6<...<6,.,<6,=6

Vamos provar que:

(1) 6-4 3G; Vie(1,2,...,n)


(2) G;/G,., abeliano Vie (1,2,...,n).
De fato, seja ie (l,2,...,n).
(1) se 7, = 7le,:G;> G, é o homomorfismo restrição (é sobre-
Jetivo) temos pelo teorema da correspondência que: G,.,96G,=
> 14G;-1) = G, e isto demonstra (1) pois 7(G,.|) = H(G;.|) = 6...
(2) sejam u, ve G;/G,., = r(G))/n(G,.,). Vamos provar que uv =
= vu e isto nos diz que G;/G,., é abeliano.
De fato,

u= 76,1) n(gi) para algum n(g;)e n(G;), g;e G;.


v = 71(G;.
|): n(h;)) para algum r(h)e n(G;), h,E G..
158 Introdução à álgebra

Observe que G,/G,., é abeliano e assim temos que:


(Gi 9) (Gs *h) =(G;., *h)(G, 4 eg)

ou seja, Gi-stgih;= Gi ºhi; gi.


Dai segue imediatamente que:
3x;-,/€G,., tal que: g;ch, = x; (h;g;).
Agora,
uv =7(G,.,) m(g;)- r(h) = m(G, d)(g;*h;)) =
= m(G,
9) m(x;-,)ºn(h; gi)
ora como r(x,.
,)e m(G,.,) temos que:

uv = m(G;.4)* rh) t(g;) = v.u


e isto demonstra o item b).

c) Seja G um grupo, Na Geseja 7:G>G/N =G a projeção


canônica.
Suponhamos que G = G/N e N sejam solúveis.
Assim existem (pelo teorema da correspondência) subgrupos
N=6€C6,C6G,€<€...€G6G,.,,€6G,=6
tais que:
(1) G;., = G,.4/N 4 G;/N Vie(l,2,...,n)
(2) G;/G,., abeliano Vie (1,2,...,n).
Ainda pelo teorema da correspondência temos que:
(1) G,., IG, Vie(l,2,...,n),
e por um exercício do parágrafo anterior temos também que:
G;/N
(2) 6i/6,., = = G,/G;.., abeliano Vie f1,2,...,n).
G;-4/N
Mais ainda como N é solúvel segue que:
Ily=N<N<. <N,., <N,=N
tais que:
(1)” Ni, 9N, Vje(l,2,...,r)
2)" N;N;., abeliano Vje (1,2,...,r)
Portanto existem subgrupos No,...; N,, Go,... G, tais que:
Grupos 159

<N,<N=
lej=N<N<..<N,. ,=6
=60<6,<...<6G,,,<6

nas condições (1), (2) e (1)” e (2)”, ou seja, G é solúvel. B


Na classe dos grupos solúveis estão os grupos abelianos, os p-grupos
e entre outros grupos S,, 4, e $,. Como o produto direto de grupos
solúveis é ainda solúvel podemos, a partir de todos esses grupos, montar
infinitos outros exemplos de grupos solúveis. Enunciaremos agora
dois resultados famosos na Teoria dos grupos finitos, o primeiro
provado por W. Burnside no início do século e o segundo, no início
da década de 1960, por W-Feit, e J. Thompson.
No início do século o matemático W. Burnside provou, usando
a técnica de representar o grupo por grupos de matrizes, o seguinte
teorema:

TEOREMA 8 pº-q” (Burnside). Todo grupo finito cuja ordem é divisi-


vel no máximo por dois primos é
solúvel.
Burnside também conjecturou algo que parecia tarefa impossivel
de ser vencida em nosso século.
Conjectura de Bumside:
Todo grupo de ordem impar é solúvel.
Os matemáticos W. Feit e J. Thompson, no trabalho mais cele-
brado da Teoria dos grupos finitos, responderam na afirmativa tal con-
jectura num trabalho de mais de 200 páginas publicado no Pacific
Journal of Mathematics em 1963.

TEOREMA 9 (W. Feit & J. Thompson).


Todo grupo de ordem impar
é solúvel.
Antes de provarmos a simplicidade dos grupos 4, n >, pre-
cisamos desenvolver algumas definições e proposições sobre permuta-
ções.
Dizemos que uma permutação ces, é um r-ciclo de S, r>2
se Ji,,i,,--.,1, distintos elementos de (1,2,...,n) tais que:

o(i,) — lo, o(i>) — la, ...34 o(i, 1) = Ô,, o(i,) = by

o) =) Vjell,2,..,n) — fipis, si).


Nesse caso usaremos a notação o = (i,,i,,..., i,)€ S, em vez da notação
anterior de permutação. Observem que usando essa notação de ciclos
160 | Introdução à álgebra

temos que especificar os grupos $, a que elas pertencem. Por exemplo,


os ciclos (123) se considerados como elementos de S, fixam apenas
o simbolo 4 enquanto que considerados em Ss, fixam os simbolos 4 e 5.
Observem também que um r-ciclo de S, pertence ao grupo 4, <>r
éimpar. Sejamo = (iji,...i)et = (jjjz --.j)doisciclosdeS,. Dizemos
que
o e 7 são dois ciclos disjuntos se lis, iz, si) O rj csjy =D.
Observe que se o e T são dois ciclos disjuntos de S, então como
permutações de S, eles comutam entre si, isto é, coT = Too. Para
ver isto basta observar que os simbolos do conjunto (1,2,...,n) que
são movidos por o são necessariamente fixados por 7 e vice-versa.
Por exemplo, os elementos do grupo S, são: e, (12), (13), (23),
(123) e (132) e os elementos do grupo A, são: e, (12X34), (13/24), (1423),
(123), (132), (124), (142), (134), (143), (2,3,4) e (243). Aqui o elemento
(12X34) representa a seguinte permutação ceS, produto dos dois
2-ciclos (12) e (34) de S,:

e=(4 233) -um0s


Observe também que (12) representa a permutação de S, fixando
os simbolos 3 e 4 e movendo os simbolos 1 e 2, enquanto que (34)
representa a permutação de S, fixando os simbolos 1 e 2 e movendo
os simbolos 3 e 4. Ambos os 2-ciclos (12) e (34) são permutações impares
porém o = (12/34) é uma permutação par como produto de duas
permutações impares.
Provaremos agora um teorema relativo a essa idéia de repre-
sentar uma permutação como produto de ciclos.

TEOREMA 10. Toda permutação e £+0€S, pode ser escrita de modo


unico (à menos da ordem) como produto de ciclos
disjuntos.

Demonstração. Antes de iniciarmos a demonstração do teorema acima


observe que:
O único elemento de S, é a identidade e; os únicos elementos
de S, são e e (12); os 6 elementos de S, são e, (12), (13), (23), (123) e
(132); e finalmente os 24 elementos de S, são: e, (12/34), (13/24), (14/23),
(123), (132), (124), (142), (134), (143), (234), (243), (12), (13), (14), (23),
(24), (34), (1234), (1432), (1324), (1423), (1243) e (1342).
Grupos 161

Seja c€ S,, 0 * e. Vamos a Seguir definir a seguinte relação entre


pares de elementos do conjunto (1,2,3,...,n). Sex, ye (1,2,3,...,n),
x>y<oImeZ tal que y=o"(x).
Afirmamos que > define uma relação de equivalência no conjunto
(1,2,3,...,n).
De fato, se x,y,z€(1,2,3,...,n)
(1) x > x pois x = 0x)
(1) x7)y=>)y7xpoisyp=0c"0)=>x=o"())
(1) xz»,y532>x5%2zpoisy=0"(x),z=c(y)=>z=0"*"(x).

Assim determina uma partição no conjunto (1,2,...,n através


do conjunto quociente.
Sejam 1, = ixe(l,2,...,nixo id...
p=txel?.sn:xojysti=ixell,2.snixot)
as distintas classes de equivalência relativamente a > (com represen-
tantes i,,...,jy---,€,) contendo mais de um elemento.
Assim [|>1,...lil>1,...,
pois o * e).
Se Z é o subconjunto de (1,2,...,n); tal que o(z) = z VzeZ,
então temos que:
LMAsnh=Z0i 0. vjjov.. of, (união disjunta)
SeH=(0o)=(o":meZ)<sS, então a relação de equivalência
» poderia também ser definida por,
x>y<d]JheH tal que y = h(x).
Como S, é um grupo finito temos que |H | = k < co e mais ainda
H=(0)= fe,0, 02, ..., 081
Portanto nossa relação de equivalência poderia ainda ser definida
por:
x7ye)m,0<m<k-—ltal que y=o"(x).

Assim, oi) = i,,.. 0) =jp-.. 6f,)) = €,. Vamos definir


os seguintes numeros:
Seja r o menor inteiro, | < r < k, tal que o(i,) = i,; etc, etc, ....
Seja s o menor inteiro, 1 < s < k tal que o“(j,) = j,, etc, etc, .... Seja t
o menor inteiro | <t<k tal que o(f,) = €..
Ora, comoi, = fi, o(i), oi,), ...s,etc, ..,ji = Up 0), 001) -..),
etc, etc, ...,t, = ff, o(f,), 07 ,),...; segue imediatamente que:
162 | Introdução à álgebra

ij=fipo(i),oAi,),...,0" Mi,)), etc, etc....,


Ji = Gp 0(j,,0j,),...,0” *(j,)), etc, etc...,
C= UC) (ED... 0 (E)
são as classes contendo mais de um elemento.
Definindo oi) = im» Cy) =jp+s» C(f,) = €,+1 onde
O<m<r-—-1l,0<p<xs-le0O<g<t-—l nós temos que:
i, — tip lo, lá, ...4 >, etc, etc, sdi = Uvipijs sis

etc, etc,...,t, = (0,,02,03,-..,?,) são as classes contendo mais de


um elemento e mais ainda:
o(i)=i,, o(ij)=is..., o(i .j)=i, o(i)=i, etc, etc,..., olj)=j»
o(j2) = j3, tee o(js-1) =Js o(s) =J1 etc, etc, e. o(f 1) = (+, o(f 2) =], ...2

dt )=t f)=t,
Afirmamos agora que:
(+) o = (i, l2 ac) Gijaja JD (Êta 03... L9)

De fato, G=ZUlipipsijoco soe) UV.


Ut à 00).

Se xe Z ambos os membros da igualdade (+) fixam o elemento


xe fl,2,...,
nº.
Se xéZ então x está em alguma classe, digamos j,, assim
xe Vrja--.sjy. Se 0, =(jyj,-.. j) é O ciclo definido pela classe j,,
então claramente temos que: o|lz =; e portanto a igualdade (*) se
verifica quando aplicada ao elemento xe [1,2,...,n). Assim fica
provada a primeira parte do teorema com a validade da igualdade (x).
Deixamos como exercício a prova da unicidade da decomposição
(a menos da ordem dos ciclos). E
Se o e 7 são duas permutações em S, tais que:
o=(ij.i).Gj). (tl) e
T=(, ai) jo...)
e dizemos que o e T possuem a mesma estrutura de ciclos.

PROPOSIÇÃO 13. Sejam certTeEsS,. Então, oc e T são conjugados em


Seo e possuem a mesma estrutura de ciclos.

Demonstração.
(=): Seja feS, tal que t=o/ =f"logcofe seja
c=(ii Di it t,...€)
Grupos 163

então é suficiente provarmos que:


SS =S DSL)
GDS TG) SG). .
SED MED. STE).
De fato,

se o(x)=y então of
o) =(f7! e =f"Ho(x) =f(9)
(<=): Selo (aba D..Grjo-. Ml... t)er=(i..i)...
Gi. e, (0 -..€) A duas permutações de S, com
mesma estrutura o ciclos então segue imediatamente que: T = 0º
onde gesS, definida por:
gli) = i, I<k<r, etc, etc, ...
IUm) = jm l<m<s, etc, etc, ...
gt) = º, I<g<t.
e g (arbitrariamente) definido nos restantes simbolos não envolvidos
na definição acima. E
Observe que (123) e (132) não são conjugados em 4, mas pela
proposição anterior são conjugadas em S,. Daremos o nome de trans-
posição em S, a qualquer 2-ciclo (ij) do grupo S,.

PROPOSIÇÃO 14. à) O grupo S,n >2 é gerado pelo conjunto de


todas as transposições de S,.
b)ceS,n>23épar <> éum produto de um número par de trans-
posições.
c) O grupo A, n 23, é gerado pelo conjunto de todos os 3-ciclos
de S,-

Demonstração. a) Pelo Teorema 11 é suficiente provarmos que um


r-ciclo (ij i,...i,), r>3, é produto de transposições
e isto segue imediatamente da igualdade:

(is l2 .. 1) = (i, 1) (i, L,-1) e. (i,i>)

b) (=): seo =T,*tT,...7,,€ES, temos que se


P=P(x,..x)= [] (x-—x) então, P'=(-1)H.P=P
Í<i<j<n

e portanto ce ,.
(=>): Seja TA É Pelo Teorema 11 podemos escrever:
o=(iii.ci) jr j).. (Mto...)
164 | Introdução à álgebra

Ora sabemos que:


(isi,...i,) é impar <> r é par <> (r— 1) é ímpar e mais ainda:
(iniz...i)=(ii)(isi,- 4)... (iy i,), ou seja, (i, i, ... i;) é um produto de
(r— 1) transposições.
Como em uma permutação par o número de ciclos não perten-
centes a 4, deve aparecer um número par de vezes o item b) segue.
c) Pelo item b) é bastante observar que:
(ab) (cd) = (bdc) (acb)
(ab) (ac) = (acb)

e isto demonstra a Proposição 14. E

COROLÁRIO 1. Os ciclos (12) e (12...n) geram o grupo S,.

Demonstração. Seja t=(12)ea=(12...n) eseja G = (a, t) o grupo


gerado por a e t.
Assim, a ita = (23), a ?ta? = (34), etc, etc,...(m,m + 1) estão
em 6.
Portanto, G contém as transposições:
(223X12) = (13), (13/3413) = (14), etc, ... (Im)
Dai segue que: Vm,re (1,2,...,ny m £r (Im(lrXIm) = (mr)eG
e pela proposição anterior tem-se G=S,. E

PROPOSIÇÃO 15. Sejam a, be $1,2,...,nl,a £ bfixos. Então, o grupo


Ap n>3, é gerado pelo conjunto de todos os
3-ciclos de S, do tipo (abk), onde I<k<n ka, kb.

Demonstração. Sabemos que 4, é gerado por todos os 3-ciclos (efg)


de S,. Agora, (efg) = (agf) (aef Xaeg) e assim é sufici-
ente provarmos que os 3-ciclos do tipo (a/fg) podem ser escritos como
produto de 3-ciclos do tipo (abk), |I<k=< nkzxa, kb.
Assim, se f = b nada temos à demonstrar, e se g = b também
temos (afg)= (afb)= (abf)? = (abf)(abf) e também nada temos a
demonstrar. Suponhamos agora que: f + be g £ b. Nesse caso basta
observar que:

(afg) = (abg) (abg) (abf) (abg)


e isto demonstra a Proposição 15. E
Grupos 165

TEOREMA 11. O grupo 4, n>5, simples.

COROLÁRIO 1. O grupo S, n>5, não é solúvel.


Demonstração do corolário. Basta observar que 4, <S, e 4, é não
solúvel.

Demonstração do Teorema 12. Seja lei £ N 3 A,. Vamos provar


N=A,
Caso 1: N contém um 3-ciclo (abc).
Assim N contém (bac) = (abc)*. Agora se o =(ab)(ck)e 4, e
N < A, temos que:

Vkefl,2,...,n)
= o"A '(bac)joe
(abk) N ktak+b

Pela Proposição 14 então N = 4,.


Agora para completar a demonstração vamos produzir um 3-ciclo
(abc)e N.
Como N % (fe) podemos escolher TE N, 1 % e, fixando o número
máximo possível de símbolos. Vamos provar que Tt é uma 3-ciclo.
Suponhamos por absurdo que 7 não é um 3-ciclo. Assim pelo
menos 4 simbolos aparece na representação de 7 como produto de
ciclos. Portanto temos duas possibilidades
(D) x =(abcdf...)... (já que (abcd)Ê A4,)
ou
(2) Tt = (ab) (cd)...
Agora seja o = (cdeje 4,. Então teremos,
(D) t;=cteo!=(cdfYabcdf...)...(ced=7, =(abdfc...)...eN
MD r=oteo! =(abkdf)...eN
Em ambos os casos Tt £ T,. Agora consideramos y = 1"! .tT,EN.
Como 1 r, segue quey Zee S,emais ainda verifica-se que y = 11.7,
fixa mais elementos do que 7 o que é uma contradição.
Portanto 7 = (abc) é um 3-ciclo em N e pelo caso | N = 4, de-
monstrando o Teorema 12. &

EXERCÍCIOS
1. Seja G um grupo. Defina, 6º = G, G'? = [G,G] = 0 grupo gerado
por todos os elementos [x,y] = x”!y”!xy (chamado o grupo
comutador de 6), 6? = [G1D,G11),...GM = [GG DG" DI, n>1.
166 | Introdução à álgebra

Prove que:
G é solúvel <> In inteiro >1 tal que G” = te).
2. Prove que se G é solúvel Ifei £M 3 G, M abeliano.
3. Prove que os seguintes grupos são solúveis: S,, A,, D, n >3, S4.
4. Prove que se G é um grupo tal que Aut G é solúvel então G é também
solúvel
5. Sejam H e K subgrupos solúveis de um grupo G. Prove que:
se K < G então HK é também um subgrupo solúvel de G.
6. Prove que se n > 5 então 4, é o único subgrupo normal de S, di-
ferente de fe) e S,.
7. Prove que S, é isomorfo a um subgrupo do grupo 4,,..
8. Seja S = (1,2,...,n,...; e seja (abc) um 3-ciclo no grupo Z(S) das
permutações de S, (isto é, (abc) fixa |) VjeS — (a,b,c)).
Defina 4.. como o subgrupo de Z(S) gerado por todos os 3-ciclos
(abc) e P(S).
Pergunta-se:
(a) É 4, um grupo simples?
(b) Se G é um grupo finito simples então G é isomorfo a um sub-
grupo de 4,
(Sugestão: Usar o Teorema de Cayley e o Exercicio 7).
CAPÍTULO VII

TEORIA DE GALOIS ELEMENTAR

Nesse capitulo provaremos o teorema fundamental de Galois


para extensões L > K finitas tais que COLO K OQ. Exibiremos
também um polinômio de grau 5, com coeficientes inteiros, que não
é soluvel por meio de radicais. Todas extensões L > K aqui con-
sideradas são subcorpos de € contendo OQ.

81 Extensões galoisianas e extensões normais

Dizemos que uma extensão finita L > K e uma extensão galoi-


siana se Jf(x)e K[x] tal que L = Gal(f, K), e dizemos que uma
extensão algébrica L > K é normal se V g(x)e K[x], irredutível sobre
K que possui uma raiz «e L possui todas as suas raizes complexas
em L.
Observe que se L> M > K são extensões tais que L> K é
galoisiana então L > M é também galoisiana, porem M > K não é
necessariamente galoisiana como mostra o exemplo L = Gal(xº — 2, Q),
M=0[/2]e k=0.
Vamos mostrar nesse parágrafo que uma extensão finita LO K
é galoisiana se e somente se L > K é normal. Mas antes vamos dar
algumas definições e provar alguns resultados sobre extensões de
isomorfismos.
Sejam K,K' 2 Q corposeo: K > K um isomorfismo de
asa
K sobre K'. Sex) = ay + ax + ... + a,X" é um polinômio em K[x]
definimos f(x) = ap +ajx +... + ax"e K'[x] onde a; = o(a;):
i=0,1,...,n.
Observe que se f(x) = f(x): fú(x)... f4x) onde f(x)e K[x] são
irredutiveis sobre K,j=1,....k então fO)=fi0) f5009)... fik)
onde fi(x)e K'[x] são irredutíveis sobre K',j = 1,...,k.
Em particular se todas as raizes de f(x) estão em K temos que
cada fíx) possui grau 1 e portanto cada f“(x) também possui grau 1,
e dai segue imediatamente que todas as raizes de /º estão em K..
168 | Introdução à álgebra

PROPOSIÇÃO 1. Sejam K,K' > 0 corpose o: K > K' um isomor-


fismo, e h(x)e K[x] um polinômio irredutível so-
bre K.
Se « é uma raiz de h(x) em € e 6 é uma raiz de h(x) em €, então
existe um único isomorfismo 6: K[«] > K'[B] tal que (x) =P eô|k=0.

Demonstração. Seja x uma raiz qualquer de h(x)e K[x] e 5 uma raiz


de h(x)e K'[x]. Sabemos do Capítulo 5 que K[«] e
K'[$] são corpos e mais ainda se grau h(x) = grau h(x) = r segue
que:
(Dk[]=la+tags+...+ra x iaek)eloa?,...,a”
é uma base do espaço vetorial K[x] sobre o corpo K.
2) KI[b]= fa +ab+...+ra Briaek) e 1,B,B2,...,p'!
é uma base do espaço vetorial K'[/] sobre o corpo K”.
Agora é fácil ver que 6: K[x]— K'[f] definido por o(a, + ax +
+.e+ta sx Y=o(a)+oa)b+...+o(a, .,))p”!* é um isomor-
fismo do corpo K[%] sobre o corpo K'[)] tal que d(x) = Be ô|p =,
e claramente 6 é o único com essas duas condições. E

PROPOSIÇÃO Z: Sejam K,K' 2 Q corpos, 6: K > K' um isomorfis-


mo, f(x)e K[x] e « uma raiz qualquer de f(x) em €.
Então 3 B raiz de f(x) em U e existe um isomorfismo

c,: K[x] > K'[5]


tal que:
olo)=Beol|k=0.

Demonstração. Seja f(x) = f(x)! fx)” ... fáx)”"" onde f,(x),..., SAX)
são os distintos fatores irredutíveis de f(x) em K[x].
Assim f(x) = fS0)”! ... filx)”"“ onde fI(x), ..., filx)são os distin-
tos fatores irredutíveis de f(x) em K'[x).
Se « é raiz de f(x) podemos assumir que a é raiz de f,(x) irredu-
tível sobre K. Assim se 5 é qualquer raiz do polinômio f(x) irredu-
tiveis sobre K' a Proposição 2 segue imediatamente da Proposição 1. E

TEOREMA 1. Sejam KK' 20 corpos, 6:K > K' um isomorfismo,


S(ix)e K[x]e «,,...,2, as distintas raizes de f(x) em €.
SeL=GalfK)e L=Gal(fº,K” então 36:L > L um isomor-
fismo tal que 6 | k = 6 e mais ainda d(x,), ..., S(x,) são as distintas raizes
de f(x) em CL.
Teoria de Galois elementar 169

Demonstração. Se f(x)e K[x] possui uma única raiz «, então temos


fO)=(x—a,)” em C[x], mas isto implica que «, e K
e portanto o(x,)e K' é a única raiz de f(x) em UC e teremos L=K,
'(=K'eg=o:L5SL.
Agora se f(x) = fi(x)”"'... f4x)”"* onde f(x)e K[x] são distintos
polinômios irredutiveis sobre K temos que f(x) = A(O)” ... SO)”
onde fi(x)e K'[x] são distintos polinômios irredutíveis sobre K”.
Sabemos pela Proposição 2 do Capítulo 5 que o número r de
raizes distintos de /(x) em C é igual a soma dos graus dos polinômios
fiO), -.., fáx) e portanto temos como consequência que o número de
raizes distintas de f“(x) em € é também igual a r.
Sejam f,,B,....,b, as r distintas raizes em € do polinômio
fx) K'[x).
Seja K, = K[x,],K, = K;[0,],...,K, = K,-i[0,)
Assim temos que L = K[x,,...,x,])=K,.
Pela proposição anterior JfBe(f,,...,6,,) e 3 isomorfismo o:
K[x,]- K'[f]tal queo;(x,) = eo,|, = o. Chamando B, =o,(x,) = À
temos então que 3 $, e 1f,,..., B,) e Jisomorfismo o, : K[x,]>K'[f,]
tal que:
c(x)=B/eolç=0.
Seja K'[h,] = K,. Assim 36,:K, > K; isomorfismo tal que
oi(x,) =b, e Ok = 0.
Ora, como f(x)eK[x] e o,|, = o segue imediatamente que
fo)e Ki[x] e fT0) = fx).
Aplicando novamente a Proposição 2 deste capítulo para os cor-
pos K,K,/20 eo,:K,> K, chegamos que 15€ce(f,,5>,...,By
(o qual chamaremos de $,) e J0,: K,[«,] > Ki[/,] isomorfismo tal
que: o)(x,) = B, e 04], = 04. (Observe que o, isomorfismo e a, * «,
implica que 5, = o(x,) £ o(x,) = B,).
Ora, como c,|, = o segue imediatamente que,
C,| | =0ceolx)=bB,, cdx,) = 6,
e c,: K[x,,04,)]) > K'T$,,6,] é um isomorfismo.
Supondo que Jo, 4: K[x,,...,0,-4)> K'[B,,...,B,;-1) isomor-
fismo tal que: 0, . ;(%;) = Bi =1,2,...,k-— leo, |, = 0 temos que:
fode Kb] e SO) = 9
Aplicando a Proposição 2 para os corpos K,., = K[%,,...,%,-14]
e K,.,= KIB,,...,B;-,j)como,.,: K,., > K;-, temos que 3 8 (que
denotaremos por f,) raiz de f(x) e 3 isomorfismo o,: K,. [4%] —
> Ki -1LB;) tal que Oilky1 = 0-1 € Si) — Br
170 | Introdução à álgebra

Daí segue que: 3J0,: K[x,,...,0,) > K'[B,,...,


B,] isomorfismo
tal que: o(a) =B;Viell,2,...,k) e ol, =6. Como L=K, =
= K[a,,...,%x,] O teorema segue imediatamente. E

COROLÁRIO 1. Seja L > K uma extensão galoisiana e sejam M,M'


subcorpos de L contendo K. Seo:M > M' é um iso-
morfismo tal que o(a) = a Vac K então J6€ Auty L tal que 6|y = 0.

Demonstração. Se L = Gal(f, K) então a demonstração é conseqiuên-


cia direta do teorema anterior pois f(x) = /(x) e
L-Ga(L,M)=L=Ga(f,M). m

COROLÁRIO 2. Seja L > K uma extensão finita. Então, L> K ga-


loisiana <> L > K normal.

Demonstração. (<=): Suponhamos L > K normal. Como Lo K finita


segue do Teorema 2 do Capítulo 5 que L = K[u).
Agora como L > K normal segue imediatamente que L = Gal(h, K)
onde h(x) = rr(u, K).
(=): Suponhamos agora L > K galoisiana com L = Gal(f, K).
Seja g(x) e K[x] um polinômio irredutível tal que J« E L, g(x) = O.
Vamos provar que VBeC, g(b) = O tem-se PEL.
De fato,
Seja 9 £ a uma raiz de g(x) em €. Sabemos pela Proposição 1
que Jc: K[x]-— K[f] isomorfismo tal que o(x)=f, e o(a) =aVaekK.
Sejam M = K[a], M' = Kk[B] e L = Ga(f,M).
Primeiramente observemos que, como KcMcLeKcM
temos
(1) L = Gal(f,K) = Gal(f,M).
(2) L=Ga(LK)cL=Ga(fM).
Agora, o(a) =aV ae K nos diz que fº =f e, pelo Teorema 1,
existe um isomorfismo
6:L=Ga(ft,M)>L =Gal(fº,M')
tal que 6|u =0,ouseja d(a)=a Vack.
Em particular temos,
(3) [L:K]=[L:K].
Assim, (2) e (3) implicam que: L = L e isto termina a demons-
tração do Corolário 2 pois BeL.
Teoria de Galois elementar 171

COROLÁRIO 3. Se L > K galoisiana então (a) [L:K] =| Autk L|.


(b) SeaeL— KIceAutkL tal que o(a) * a.

Demonstração. (a) Seja L = K[u]. Se h(x) = irr(u, K) então pelo coro-


lário anterior L = Gal(h(x), K) e L contém todas as
raizes de h(x).
Se grau h(x) = n temos [L:K] =n e pela Proposição 2 do Ca-
pítulo 5 temos que h(x) possui exatamente n raizes distintas u, =
=U Uso, cs Up
Agora Vie (1,2,...,n) 3 isomorfismo (pela Proposição 1 deste
capítulo) c;: K[u] > K[u,] tal que o(u) = ue o(a) =a Vac K. Pelo
Corolário | segue que 16,€ Auty L tal que 6,| ku) = Fi» OU Seja exis-
tem pelo menos n automorfismos 6,,6,, ..,8,€ Auty L. Como, pelo
Corolário | do Teorema 2 do Capítulo 5 |AutyL|<[L:K] =n
segue imediatamente a igualdade desejada.
(b) Seja xe Lag K. Se g(x) = irr(x, K) segue que grau g(x)=r >2
e pela Proposição 2 do Capitulo 5, 18 £ a tal que g(5) = O. Pelo
Corolário 2 deste Capitulo BeL (L é normal).
Agora pela Proposição 1 36: K[x] > K[f] isomorfismo tal que
o(a) =a VackK e o(x) = B * q.
Pelo Corolário 1 J6€e Auty L,ôlxa — O e isto demonstra o
item (b). E

TEOREMA 2. Se LM >oK são extensões finitase Lo K é Ga-


loisiana, então as seguintes afirmações são equivalentes:
(a) M > K galoisiana
(b) (AM) M Voe AutkL
(c) Auty L S Autp L.

Demonstração. (a) > (b): Seja vue L tal que M = K[u]. Se M > K ga-
loisiana segue pelo Corolário 2 anterior que M > K
é uma extensão normal.
Agora, se h = rr(u, K) e ce Autp L sabemos que v = o(u) é tam-
bém raiz de h(x) e pela normalidade de M > K temos v = o(u)eM,
ou seja, o(K[u]) = K[u] como queriamos demonstrar.
(b)
=> (a): Seja ueL tal que M = K[u) e seja h = irr(u, K).
Vamos provar queseo(M) = MY ce Autp LtemosM = Gal(h, K).
172 | Introdução à álgebra

Seja v raiz de h(x), e seja M' = K[v]. Pela Proposição 1 existe


isomorfismo, o,:M > M' tal que
o(u)=ve o(a) =a Vaek.

Pelo Teorema 1 existe ce Auty L tal que o|y = 6. Como


d(M)=M e ueM teremos v=o(u)jeM e isto prova a implicação
(b)> (a).
(b)
= (c): Sejam ce Aut, L e ye Auty L. Vamos provar que se
dQ(M)<M então o loyoce Aut, L.
De fato, se (M)cM em = o(m), meM temos:

Am) =m' e (67 !oyco)(m) = 0"*(Xm)) =0"Hm) =m


e isto demonstra a implicação (b) => (c).
(c) => (b): Suponhamos por absurdo que. Joe Aut, Le JueM
tal que o(u) = véM. Como L > K Galoisiana temos L> M galoi-
siana e pelo Corolário 3, item (b), segue que: Jy€e Auty L tal que
vv) * v.
Assim, (6 !oyoco)(u)=o"!(y(v) £o"!(v)=uousejao !oyocé
Aut, L contrariando a hipótese Aut, L <AutpL. E

TEOREMA 3. Seja L> K uma extensão finita. Então as seguintes


condições são equivalentes:
(D) L>K galoisiana.
2) LO K normal
3) VaeL— K IoeAut,L tal que o(x) £ 7.
(4) [L:K] = | Auty L|

Demonstração. (1) > (2): segue imediatamente do Corolário 2 do Teo-


rema 1.
(2) => (3): segue imediatamente dos Corolário 2 e 3 do Teorema 1.
(3)
=> (4): Sabemos do Corolário | do Teorema 2 do Capitulo
5 que [L:K] >| Aut, L|. Suponhamos (3) e, por absurdo, [L:K] >
> | Aut, L|.
Seja Aut, L=(9,=1,,P,.P3.---.Y, onde I, representa o
automorfismo identidade de L.
Se [L:K] >n então 3 u,,u,,...,U,, U,+1€ L linearmente inde-
pendentes sobre o corpo K:
Consideremos agora o seguinte sistema linear homogêneo com
n equações e (n + 1) incógnitas a,,a,,...,.4,,, em L:
Teoria de Galois elementar 173

pituda, +Pilud)a,+...+pdua;+...+P
lada, + Pilu,, )an+ 1 =0
paula, +Pua,+...+pua;+...+plaa,+ Plus, )a,+ 4 =0
(lotto
piluda +Puda+...+p(uda+...+Pua+P (u,s)a+, =0

Palua, + Palus)a, +... + Patu


a ;+... + Pnkun)a+ Paltns DA,+14 =O
Como o numero de equações de (*) é menor do que o número de in-
cógnitas então (+) admite uma solução a,, «,,...,c,,, não todos nulos.
Consideremos agora uma solução não trivial de (*) com o maior
número de zeros possivel e denotaremos os à;s não nulos dessa so-
lução por a,,a,,...,a,.
Multiplicando por a;! se necessário podemos assumir que a, = 1.
Assim 1,a,,a3....,a, não nulos são tais que 1 q, a, ... a 0...0 é
uma solução de (+) com um número máximo de valores zeros.
Então temos,
Viell,2,...,ni,pkuy) + phuo)a, + ... + Phuda, =0.
Como py, =I,€eu,,...,u,,...,u, São linearmente independentes so-
bre K então segue que Ja,e L tal que «,É K. Seja a,É K. Assim por
(3) doe Aut, L tal que:
o(a,) £ a,.
Dai segue que:

VielL2...,n),
(co pu) + (co pu) o(a) + ... + (00 pu, o(a,) = 0.
Como Aut, L é um grupo e ce Aut, L segue imediatamente que:

Aute L=iPy Ps Pa =1TP TP3 OP)


Portanto se cy; = y, teremos,
Vhe!1,2,...,n),
Pdu) + puuola,) + ... + pduol(a,) = O
Viell,2,...,n),
pÁu) + phua, + ... + pÁua, = O
Dai segue que:
Vjetl,2,...,n)
plulola;) —- a) —- a) +... + pluloa)-— a)-a)=0
174 | Introdução à álgebra

Como o(a,) — a, * O temos uma contradição pela nossa escolha dos


a;s com número máximo de zeros e isto demonstra que (3) = (4).
(4) > (1): Suponhamos L > K extensão finita e [L:K] = |Auty L|.
Yamos provar que LD K é galoisiana.
Seja L = K[u]. Sabemos que se h(x) é definido por h = irr(u, K)
então Voe Aut, L tem-se o(u)e L e o(u) raiz de h(x). Assim, |Auty L|
é menor ou igual ao número de raizes de h(x) em L. Agora, se [L:K] =
= | Aut, L| então | Aut, L| = grau de h(x) e portanto igual ao nú-
mero de raizes de h(x) em L. Daí segue imediatamente que L contém
todas as raizes de h(x), ou seja, L = Gal(h, K) como queriamos de-
monstrar. E
Antes de encerrar esse parágrafo vamos ver alguns resultados
úteis na determinação da estrutura do grupo G = Aut, L.

PROPOSIÇÃO 3. Se L>K é uma extensão galoisiana de grau n


então G = Aut, L é isomorfo a um subgrupo de S,.

COROLÁRIO 1. Se L = Gal(x* — 2, Q) enão Autg L=Ss.


Demonstração do Corolário 1. Pelo Corolário 3 da Proposição 4 do
Capítulo S sabemos que [L:Q] — 6
onde L = Gal(x* — 2,0) e portanto |Auty L|= 6 e como |S,| = 6
o corolário segue imediatamente da Proposição 3. EB

Demonstração da Proposição 3. Seja L= K[ul, h=irr(u, K), [L:K] =


= grauh(x)=n,€0= lu, =u, 42, Un)
o conjunto de todas as raizes complexas de h(x). Como LDK ga-
loisiana temos Q c L. Sabemos também que VocceG = Aut, Le
VujeS) tem-se o(u)e9) e como 92 é um conjunto finito e o Injetiva
segue que 0, = olo:9 > OQ define uma permutação do conjunto O.
Se 242) denota o grupo das permutações do conjunto º então é su-
ficiente provarmos que G é isomorfo a um subgrupo de (9) pois
PM =s,.
Agora, é fácil verificar que (prove isto) a seguinte função y de-
fine um homomorfismo de grupos, pois (6º 7)lo = clo*Tlo-
y:G> HO)
o 09 =0la
Mais ainda, se o, = 6 |p = lo (identidade em 92) segue que o(u) = u
e isto nos diz que o = L,.poisVbeL,b=a+au+.. + a quo!
Teoria de Galois elementar 175

onde ae K eVoceG = Aut, Ltem-se: o(b) = a, + a,o(u) + ... +


+asdu"!=a+.. +a- quo! =b.

Portanto y é injetiva e portanto pelo 1.º teorema de isomorfismo


de grupos temos, G = y(G) < (0) como queriamos demonstrar. E

PROPOSIÇÃO 4. Se L = Gal(x" — 2,K) onde K > Q contém uma


raiz € primitiva, n-ésima, da unidade, então G =
= Aut,L é um grupo abeliano.

- 21 21 -
Demonstração. Seja à = 2 eRel=cos— + isen — então «a, aí,
n n
al?,... al"! são as n distintas raízes de x — 2 em €.
Sabemos que L = K[a,0] = K[0,2] = K[u] pois Cek.
Assim, se o,TE Aut, L eles são determinados completamente
pelos valores o(a) e t(x). Ora, o, te Auty L = o(x) = a(' para algum
iet(a) = al para algum j. Daí segue, considerando (E K, que:

(o e 2)(0) = a(at?) = o(a) = ati


(To o)(a) = (at) = c(a)t = at
Assim cot(x) =Toc(x) Vo, TEG = Aut, L esto prova a proposição
pois como L = K[%] os automorfismos y em G = Aut, L são deter-
minados pelos valores (x).

PROPOSIÇÃO 5. Seja p um número primo e f(x)e Q[x] um polinó-


mio irredutível sobre Q de grau p. Se f(x) possui
exatamente duas raizes não reais então Auta L = S, onde L = Gal(f, Q).

Demonstração. Seja L = Gal(f, Q). Como grau f(x) = p e f(x) irredu-


tivel sobre Q, f(x) possui exatamente p raizes distin-
tas e pela Proposição 3 G = Auto L é isomorfo a um subgrupo H
de S,. |
Se q é uma raiz de f(x) então Qc Q[o])cLe|G|=|H|=
= [L:Q] = [L:O[«]][0[04]:0]. Portanto [Q[4]:Q] = p divide |H|.
Como H <$S, segue imediatamente pelo Teorema de Cauchy que
daeH tal que Ca) = p. Como a€EsS, a só pode ser um p-ciclo. Sem
perda de generalidade vamos denotar a = (1,2,...,p).
Se K = Q[x,,...,u,-2] onde «,,...,&,-> são as raízes reais de
f(x) então segue imediatamente que L = K[$] onde 8 é uma raiz
complexa de f(x). Claramente Joe Aut, L tal que o(f) = B pois
176 | Introdução à álgebra

[L:K] =|Autk L|=2e B, 6 são as raízes complexas, não reais, de


f(x) e B é o complexo conjugado de $. Portanto, o E Autg L e o(a; = a;
Vi=1,...,p-—2, e o(B) = B. Renumerando os índices das raízes se
necessário segue que a imagem de o em $, é uma transposição que
podemos notar por (12)ce H.
Ora (1,2,...,p) e (12)eH < $, implica pelo Corolário da Pro-
posição 14 do Capítulo 6 que G = H = $, como queriamos demons-
trar. E

COROLÁRIO. Seja f(x) = x* — 6x +3€ Q[x] e L = Gal(f, 0). En-


tão G = Auty L = Ss. Em particular Auty L não é
um grupo solúvel.

Demonstração. Pelo critério de Eisenstein f(x) é irredutível sobre OQ.


Como grau f(x) = 5 é um número primo, é suficiente provar-
mos que f(x) possui exatamente 3 raizes reais.
Agora, com a ajuda do cálculo, observando também os valores:
HM D=-1,HM-D=8 H(0=3, 01) = —-2 e HD=23, fb)
como função real possui um gráfico do tipo abaixo, o que demonstrar
o corolário: EB

A Sm o

Antes de encerrarmos esse parágrafo, vamos calcular G = Auty L,


em alguns casos particulares.

EXEMPLO 1. Seja L = Gal(x* — 2, Q). Seja «a = 2. Como x* — |


fatora-se em x*-1=(x-—-D(x + D=(x-—1)
(x + 1) (x? + 1) temos imediatamente que L = Q[a,i] onde ? = — 1.
Teoria de Galois elementar 177

Assim, [L:Q] = | Auto L| = 8. Vamos calcular os 8 elementos de


G = Auty L e provaremos que G é um grupo não abeliano de or-
dem 8 (mais precisamente G = D,).
Sabemos que VoeG, o fica determinado completamente pelos
vetores o(a) e ali), já que 1,u,a?,u?,i, ai, «?i, a*i é uma base de L so-
bre OQ.
Agora, sabemos que: VccG o(a)" =2 e o(i)? = — 1. Assim, se
ceG as possibilidades para o(«) são a, — a, ai, — ai, e para o(i) são
i —i, e G é então determinado pelo quadro abaixo:

Il, | 0, 03 O4 Os 06 04 Og

E fácil observar que o, e o, são os únicos elementos de ordem


4, enquanto que os demais, diferentes de 1,, possuem ordem 2. Observe
também que:

(05º C6)(a) = o sai) = o s(oJo sli) =(2i)i=-—a


(06º 05)(x) = cai) = co sli) = (ai). — i=a.
ou seja 0,º06 É 06º05 e G é não abeliano de ordem 8. Como Q,
(quaternios de ordem 8) possui um único elemento de ordem 2 então
segue que G = D,, o grupo dihedral de ordem 8. Para isso observe
que:
— 4 02 — = 9a
G=(05,0,:04=02=1,,0,)º0,5=05".6,)

EXEMPLO 2. Seja h(x) = xº + px + g€ Q[x] um polinômio irredu


tivel sobre Q, e seja D= — 4p" — 279? E Q. Denotu-
remos L = Gal(h,Q) e G = Auty L.
Se (%1,42,%43) = 92 é o conjunto das 3 raízes (distintas) de h(x)
sabemos que:

q +ta+a,=0
(*) L%, + L&s + Gs =P
AXkz = — q
178 | Introdução à álgebra

Seja A = (x, — a,)(x, — as)(x, — xs)€ L. Usando as relações (*)


acima pode-se provar que:
D=A?,i1e,A4= /D onde D= —4p' — 27).
Sabemos que podemos identificar G (atraves de um isomorfismo)
com um subgrupo do grupo Z(9) = S, das permutações do con-
junto “2.

Se À = /DeQ temos que Aº = À VoecG, ou seja, as permu-


tações induzidas pelos elementos de G são todas pares pois A = (x, — ,)
(x, — as)(x, — à).
Como [L:Q] >3 temos imediatamente nesse caso que,
G = Às.
Se A=/DgQ então QI /D]<L pois A = ./DeL, e daí segue
que 2 divide [L:Q]. Como evidentemente 3 divide [L:Q] temos
nesse caso que G = 5$,.
Em particular, se h(x) = x? — 3x — 1 e Q[x] temos que h(x) é irre-
dutível sobre OQ.
Como À = JD = 481 eQ segue que nesse caso particular
tem-se G = 4,, e portanto L é uma extensão galoisiana de grau 3
sobre OQ.

EXERCÍCIOS
1. Prove que:
Se L> K é tal que [L:K) =2 então Lo K é galoisiana.
2. Prove que:
Se L = Gal(x” — 1,0) então Aut; L é abeliano.
3. Prove que:
Seae K,L = Gal(x” — a, K)e K contém uma raiz primitiva n-ésima
da unidade, então Aut, L é abeliano.
4. Calcule Auto L para as seguintes extensões L abaixo:
a) L= Ola), «= 3€R.
b) L= Qf[a], «= /2€R.
9)d) L=Q[V2 VI]
L = Q[u], u é raiz de xº — 3x? + 3€ Q[x]
e) L=0[/2, 43, 45].
)L=0[/2, 45]
Teoria de Galois elementar 179

5. Prove que:
Q[4/2] é normal sobre Q[,/2], Q[,/2] é normal sobre Q mas
QO[2] não é normal sobre Q.
6. Dê exemplo de extensão L> Q,L & R tais que:
a) L=O[Y2]cR
b L=0[$3]cR.
co) L=-O[Y5]Jc<R.
7. Seja L = Gal(x* — 2,0). Calcule todos os corpos intermediários
NL>O N>Q tais que N > Q é uma extensão normal.
8. Mesmo exercicio do item anterior para a extensão
L = Gal(x* —- 2, Q).

82 À correspondência de Galois

Seja M > K uma extensão finita. Dizemos que L é um corpo


intermediário de M > K se L é um subcorpo de M contendo K, ou
seja, MODLOK.
Se G = Aut,M usaremos as seguintes notações:
I(M, K) = |L: corpo intermediário de M > K)
S(G) = (H: H subgrupo de G).
Se He Z(G) então L=faeM:y(a)=a VyeH! é um corpo
intermediário de M > K. De fato, obviamente 0,1leL e mais:
(1) se xyeL então x -—- y=yb)—- My)=x-—y VyeH.
(n) se x yeL então xy) =y0x)- NM) = xy, VyeH
e
(iii) se xeL,x *£0 então x D=yx) 1=x"! VyeH
e como G = Auty Me H < G segue imediatamente que L é um corpo,
M> Lo K. Esse corpo L é chamado de corpo fixo de H.
Consideremos agora as seguintes correspondências:

HM, K) v, 6),

0
AG) > HM,K)
H oH)=(aeM:y(a)=a Vye H!, o corpo fixo de H.
180 | Introdução à álgebra

Observemos agora algumas propriedades elementares dessas cor-


respondencias
(1) UK) = AuteM = G
(2) UM) = AutyM = Uy)
(3) ly) =(aeM:Ida)=a)=M
(4) HG) =(aeM:ya)=a VyeG|! 2K, e pelo Teorema 3 temos
ainda que:
(6) = K<>M > K galoisiana.

PROPOSIÇÃO 6. Mantendo as notações acima, temos: (a) se L,,


LeHXM,K)eL, CL, então WL,) > W(L,)
(b) seH, HeMG) eH,<H, então HH))2 H,)
(c) VLEHM,K) tem-se (00 W)(L) O L.
(d) YHe SG) tem-se (4 00YH) > H.

Demonstração. (a) Sejam L,,LLE MM,K) e L, c L,. Então,


V(L |) = Aut,, M > Aut,, M = Y(L,)

(b) Sejam H,,H,eS(G) e H, <H,. Então,


HH)=(aeM:ya)=aVyeH,jc(taeM:ya)=aVyeH,|=9H,)
(c) Seja LE MM, K). Como Y(L) = Aut, M a inclusão L < (00yXL)
segue imediatamente das nossas definições.
(d) Seja He SG) Se N= HH) = (aeM:YMa) =aVye H) então
segue imediatamente que H < Aut,M = y((H)) e isto demonstra a
Proposição 6. E
As figuras abaixo nos dão uma idéia gráfica das correspondências
y e O (invertendo a ordem inclusão). Nas figuras estamos também
considerando,
KCL CL cMe(luy<xH,<H,<G=aAutyM.

M Ed ly) M qb Um)
09(H5)

L; L dy,- Auty, M H

y 0 (H1) PO
L, de H, = Auty M H,

9(6) «
K P Jdc- Autp M Pd
K
Teoria de Galois elementar 181

Nós provaremos a seguir que se M > K é uma extensão galoi-


siana então YoO = 916) € 0oy =I Sm, kp OU seja, y é bijetiva (ten-
do 6 como inversa) e portanto existe uma correspondência bijetiva
entre (M, K) e 4(G), chamada correspondência de Galois da extensão
M > K. Nesse caso temos a seguinte representação gráfica:

Om =M p— >* Um)= UM)

0(H) = L; em 1H = Aut M= (Lo)

0(H)=L, te —>tH = Aut M=Y(L)

(GO) =k LL 4 G= AuteM=y(K)

Agora vamos demonstrar o Teorema fundamental da Teoria de


Galois para extensões M > K > Q. Para isso vamos manter as no-
tações desse parágrafo.

TEOREMA 4 (Teorema Fundamental de Galois). Se M > K é uma


extensão galoisia-
na, então:
(a) VLe SM,K) tem-se [M:L] = |W(L)| e [L:K] = [G:W(D)] (o in-
dice de W(L) em G)
(b) YVHe S(G):tem-se [M :0(H)] = |H| e [(H):K] = [G:H] (o indice
de H em 6)
(CO) vob=Isgedcy=Ima
(d) VLEHMM,K), L>K galoisiana > Y(L) = Aut, M 4 G.
(e) Seja LEHM,K). Se L>K galoisiana então [L:K] = | Auty L|
e G/y(L)= AutyL

Demonstração. (a) Seja LEHMM,K,MOD LOOK


Ora M > K galoisiana implica que M > L é galoisiana e pelo
Teorema 3 segue que:

[M:1] = |Aut, M| = |U)


e como [M:K] = |AutkM| = [M:L]-[L:K] nós temos que:
“[L:K]
182 | Introdução à álgebra

e daí vem que: [L:K] = [G:y(L)] como queriamos demonstrar.


(b) Sejam H <GeL = GH). Como |G|=[M:K] = [M:6KH)]-
-[9(H):K] então a fórmula [9(H):K] = [G:H] segue imediatamente
da primeira parte [M :0(H)] = |H| e é essa que vamos demonstrar
a seguir. Vamos praticamente repetir o argumento usado no Teorema 3.
Sabemos pelo item (a) que:
[M:L] =| WL)| onde L = 4H).
Assim [M :9(H)] = | W(9(H)) | e pela proposição anterior tem-se:
[M :9(H)] >| H|. Suponhamos por absurdo que:
[M :(H)] > |H|
e suponhamos que H = (fp, = Iy, P2,93,---, Pni. Como [M :6(H)] =
=[M:L] >n então existem (n + 1) vetores u,,u,,U3,..., Un Un+1
que são L.I. sobre corpo L = 6H).
Agora de modo totalmente análogo ao que fizemos no Teorema 3
chegamos a uma contradição e o item b está demonstrado.
(c) Seja He S(G) E Le HM, K). Sabemos da proposição ante-
rior que:

H <y(H) e L<OW(L).

Pelo item (a), temos: [G:y(9(H))] = [9(H):K] e pelo item (b),


temos: [9(H):K] = [G:H]). Dai segue imediatamente que y(9(H)) = H.
Analogamente, pelo item (b): [M:9(W(L))] = |W(L)| e pelo item (a)
temos | Y(L)| = [M:L]. Daí segue imediatamente que:
Oo (W(L) = L.
Portanto fica demonstrado o item (c).
(d) Consequência imediata do Teorema 2.
(e) Pelo item (a) sabemos que [G:y(L)| = [L:K] portanto é su-
ficiente provarmos que: VLe HM, K)L > K galoisiana implica que:
GAL) = Aut L.
De fato, como L > K galoisiana sabemos do Teorema 2 que,
VoeG = AutkM tem-se o, =0|, € Aut, L, portanto podemos de-
finir a seguinte função:
D:G > Aut, L
o 09 =0|,
Teoria de Galois elementar 183

D é evidentemente um homomorfismo de grupos, cujo núcleo N(D) =


= (0€G:o)=0|L=1I,)=Aut,M=y(L).
Agora pelo Teorema da extensão sabemos que PD é também so-
brejetiva e o resto segue do 1.º teorema de isomorfismo. E
Antes de encerrar esse parágrafo vamos usar o teorema funda-
mental de Galois para calcularmos, como exemplos, o conjunto /(M, K)
em alguns casos particulares.

EXEMPLO 1. Seja M = Gal(xº — 2,0). Vamos calcular &M, Q).


As raízes de x*—- 2 são q) = /2€R, x, =ajl,

43 = 414” onde
,
€ = — 7 + 5!
1 y3.. e uma
io
raiz cubica primitiva da
unidade.
Se 92 = tx,,%,, x3| sabemos que G = Autg M = Z(9) grupo das
permutações de £$). Se denotarmos essas permutações como ciclos
então os 6 elementos de G, como permutação de 9, são:

e = lo, (x,a,), (2,03), (02%3), (X,02X3), (003%2)


e os subgrupos de G são:
G, tes, te (mx); = Ap, te(x,0,)) = A,,
te (0,%))) = 4, e B= le (M,0,03), (0/0505).

Pelo teorema fundamental de Galois os corpos L, intermediá-


rios de M > Q são:
O=H6),M= 69.3), O[4,] = N4,), O[x,] = H4,), O[x,]
= HA)
e finalmente (45 1- 9(B). Entre esses, apenas QO,M e 6(B) são
extensões normais de OQ.

EXEMPLO 2. M = Gal(x' — 1, Q). Sabemos que se é é uma raiz


primitiva 7-ésima da unidade temos:
M =Q[t] e [M:Q0] =6. Portanto se G = Auty M temos |G| = 6. Po-
rém por um exercicio anterior temos que G é abeliano, logo G = Z,
grupo ciclico de ordem 6.
Assim, como G é cíclico de ordem 6 existem apenas 4 subgrupos
de G,1e;,G,4 e Bonde |4| =3 e |B|=2 e teremos,

Como G abeliano todos os corpos Le M, Q) são normais sobre Q.


184 Introdução à álgebra

Os elementos de G fica determinados por:

os subgrupos 4 e B são:
A=te,0o,0,))e B=te,os)
e finalmente os elementos de M,Q) são O = 6), M = O(fes),
(4) = Qu] onde u=C + 0 + (* e 6(B) = Q[v] onde v = (+ ۼ.
EXEMPLO 3. Seja M = Gal(xº — 2, Q). Sabemos que G = Auty M =
= D, € que os elementos de G são determinados pelos
efeitos sobre « = /2eRei=,/-— 1€€, segundo o quadro abaixo:

X%— x A — & — | 4] 64] — qi — qi

os subgrupos de G e os corpos intermediários são (verifique isto)


ordem 8:G = D, HG) =
ordem 4:4, = (6,05,05,05) 2/4) 9(A,) = Qfi]
A,=te,05,0,,050,)) = 27, x 2Z, H(A,) = QL2]
A, = fe, CipUsO mos = Z,x2Z, HA) = QfiV2]
ordem 2:B, = 11,05) = MG) = Z, O(B,) = = OLi 42]
B.=(oji= 7, 9(B,) = Qfo]
B,=tlL,o56,j= 'z, 9(B,) - Q[(i + ide)
B,=(1,0;0,)) = Z, 9(B,) = Qfia]
Bs =(1,o$o,))=Z, (Bs) = Q[(I — io]
ordem Í:fe 1 te) =M
Os corpos intermediários que são normais sobre OQ são: O,M,
NA), HMA.) KAs) e OB).
Teoria de Galois elementar 185

EXERCÍCIOS
1. Seja M = Q[,/2,,/3]. Prove que:
a) M > Q é galoisiana.
b) G=AuaM=Z,xZ,
e use a correspondência de Galois para calcular todos os elemen-
tos de XM,OQ) e de (6).

. Seja M = Q[,/2,/3, 45]. Prove que:


a) M > Q é paloisiana
b) G=AutogM =Z,xZ,xZ,
e use a correspondência de Galois para calcular todos os elemen-
tos de H(M,OQ) e de (6).

. Seja M = Gal(xº — 2,0) e K = Q[i] onde é é uma raiz quinta,


primitiva, da unidade.
a) Prove que M > K é galoisiana e calcule G = Aut; M.
b) Use a correspondência de Galois para calcular os elementos
de HM, K) e de 6).

. Mesmo exercício do item anterior para a extensão M = Gal(xº — 3,


Q), K = Q[0] onde é é uma raiz sexta, primitiva, da unidade.

- a) Se L, e L, são subcorpos de um corpo M, definimos, (L,, L,>


como a interseção de todos os subcorpos de M contendo L, e L,.
Prove que: <L,, L,> é o menor subcorpo de M contendo Le L..
b) Se H, e H, são subgrupos de um grupo G, definimos, (H,, H,>
como a interseção de todos os subgrupos de G contendo He H.,.
Prove que: <H,, H,> é o menor subgrupo de G contendo H,
e H.,.
. Seja M > K uma extensão galoisiana. Prove que: (usando as no-
tações do último parágrafo)
a) se L,,L,e “M,K) então JCL,,L,)) = WL)N WL,)
b) se H,,H,e (6), G = Aut,M então,
(CH, H) = HO HH).
. Seja M = Gal(x* — 3x? + 4,0). Estude XM,0O) e 6), G =
= AutoM através da correspondência de Galois.
. Mesmo exercício do item anterior para a extensão M =Gal(x* — 3,
O[i) > kK = Qfi].
186 Introdução à álgebra

9. Seja L uma extensão galoisiana sobre K de grau [L:K]=p”-q


onde p e q são primos.
Prove que se p > q então existe uma extensão Ne /(L, K) tal que
N > K é normal, e [N:K] = q. (use Teorema de Sylow e corres-
pondência de Galois).
10. Seja L > K uma extensão galoisiana ta! que [L: K] = p”"-n onde
p é primo e p'n. Prove que 3 Ne /L,K) tal que [N:K] =n
(use Teorema de Sylow e correspondência de Galois).
11. Seja L > K uma extensão galoisiana tal que [L:K] = p” onde p
é um número primo. Prove que 3N,,N5,...,Nm = Le SL, K)
tais que: [N;:K]=p' e mais: KCN,CN,C...cN;CN,,c
c...cL onde N,>K normal Viefl,2,...,m).

83 Solubilidade por meio de radicais


Neste parágrafo vamos definir rigorosamente a noção de polinó-
mio solúvel por meio de radicais, e daremos um critério (através dos
grupos de automorfismos) para que as raizes de um polinômio sejam
expressas por meio de radicais.
Por exemplo, suponhamos que uma raiz « de f(x)e Q[x] seja
expressa por meio dos seguintes radicais:
f-Ni+ys3
Co Ao
se denotarmos a, = 5, a =-/l1-a, a =2, a =-/2- as,
as = /3, teremos:
Q=K< Kola]=K,c Kila]=Kk,< Ki[a;] =
= K; S Ksla,) = K, < Kylas]) = ks.
Mais ainda, ate K,, aJekK,, aek,, agek, e aGEkK,,
«ek, = Ola,,a,,0,,0,,45).
Assim dada a expressão radical acima conse, uímos uma extensão
K,, contendo a, com certas propriedades.
Vamos agora definir a noção de extensão radical. Dizemos que
MoOK finita é uma extensão radical sobre K se da,,a,,...aeM
tais que:
(a) K = Ko <K,=kla)ckKk, —-Kila]jce..ck,=
=K,ilajo..ck=M.
Teoria de Galois elementar 187

(b) Vie (1,2,...,r) In,eN tais que ajiek,.,.


Observe que como aj: = b, ,€e K,., podemos também denotar
K;=k; 1[%/b;-,), ou seja K, é obtido de K,., por adjunção de uma
raiz do polinômio x"'—b, ,E K, [x].
Agora, se f(x)e K[x] e uma raiz « de f(x) está numa extensão
radical M = K[a,,a,,...,a,) como acima, então:
a pode ser expresso como uma expressão polinomial p(a,,a,,...,a,)
com coeficientes em K, isto é,

a =pa,,a,,...,a)eK[a,,a,,...,a,).
Mantendo a notação acima: a, =2Y/bo, à = VYb,,..., a =YbD,.|
onde bc K,, j =0,1,...,r — 1 e teremos também:
x = peyDo» b,, ...14 n/B,-1),

que é uma expressão polinomial radical.


Observe que,
d, = Wbo a, = n di (1/bo), as = q. (y di (1:/Do)),
etc., etc.,... onde q,,4,,... são polinômios com coeficientes em K,
e assim « poderia se reduzir a uma expressão radical envolvendo po-
linômios e raizes de bçe K.
Observe também que existe extensões radicais, como M = 0[/2],
que não são normais e vice-versa, se L = Gal(x? — 3x — 1,Q) então
como as 3 raízes de x* — 3x — 1 são reais segue (prove isto) que
[L:0] =3 e L não é uma extensão radical de OQ.
Agora vamos definir a noção de polinômio solúvel por meio de
radical.
Seja f(x)e K[x] e L = Gal(f, K). Dizemos que f(x) é um po-
linômio solúvel por meio de radicais sobre K se 3 uma extensão ra-
dical M>K tal que MO2DLOK.
Pelas observações anteriores as raízes «eL c M poderão ser
expressas como polinômios envolvendo certos radicais.
Antes de demonstrarmos o principal teorema desse parágrafo,
vamos demonstrar a seguinte proposição.

PROPOSIÇÃO 7. Seja L> K > Q uma extensão radical sobre K.


Então existe uma extensão MD L>K tal que M
é radical e Galoisiana sobre K.
Demonstração: Como L > K é uma extensão radical podemos es-
crever
188 | Introdução à álgebra

K=bcL,C..cLycL=L
onde
L;=L, a; q raiz de x" — gel, (x).

Seja n=n,:n,*...:n, e é uma raiz primitiva n-ésima da uni-


dade. Substituindo, se necessário, L por L[C] e K por K[<] podemos
assumir que L> K e K contém as raizes n-ésimas da unidade.
Assim L, > Lo = K é normal pois contém, raizdex"' — a, e K[x].
e K contém as raizes n,-ésimas da unidade. De fato, temos
L,=Gal(x”" — a,.,K)
Seja gi(x) = [E (x"? — o(a,)). Pelo Teorema 3 temos que
ce Aut(Li/K)
gi(x) E K[x]. Agora, juntando-se todas as raizes dos polinômios
x! — a,, e gi(x) ao corpo K conseguimos uma extensão galoisiana.
L$ > K onde L$ c L,. Seguindo indutivamente esse processo con-
seguimos a desejada extensão M.

TEOREMA 5. Sejam K > 0, f(x)cek[x]) e L= Galf,K). Se f(x)


é solúvel por meio de radicais sobre K então o grupo
G = Aut; L é solúvel.

Demonstração. Pela Proposição 7 existe MD L>K tal que M é ra-


dical e galoisiana sobre K.
Assim como LD K é normal segue pelo teorema fundamental
de Galois que:
G — Autk L = Aut; M/Aut, M

Portanto será suficiente provarmos que Aut, M é solúvel.


Agora, consideremos C uma raiz primitiva n-ésima da unidade,
onde:
n=n,n..n, M=kKla,,a,,...,a,)

e utek,.,,K,= K, ,[a;] como nas notações anteriores.


Considerando M* = M[C], K* = K[C] e se ceAut;M con-
sideramos,
0* e Auty M*
tal que:
o*lu=0 e o*0) = É.
Teoria de Galois elementar 189

Claramente se o £ 7 temos 0c* * 1* e portanto a função abaixo


D: Aut; M > Auty M*
O 5 g*

define um homomorfismo injetivo. Daí segue que Aut, M = D(Aut, M)<


< Auty. M* e portanto Aut, M será solúvel se Autp. M* for solúvel.
Assim podemos assumir que K contém uma raiz primitiva n-ésima,
é, da unidade.
Agora,
se M =kK[a,,a,,...,a,] é uma extensão radical sobre K,n=n,+*n,...n,,
onde a;'e K,.,, e K contém uma raiz primitiva n-ésima da unidade,
vamos provar por indução sobre r que Aut, M é um grupo solúvel.
Se r=l,então M=kK[a,),aj'=bye K e como K contém uma raiz
primitiva n,-ésima da unidade segue que M = Gal(x"' — b,, K) €
Aut, M é um grupo abeliano (veja Proposição 4).
Pela hipótese de indução vamos admitir que Aut, M é solúvel
onde M = K;[a,,43,...,4,).
Como K, = Gal(x”' — bo, K) é normal sobre K a função
y: Aut; M — Aut, K, define um homomorfismo (de grupos) cujo nu-
o wroly =0
cleo N(y) = Aute M.
Assim, pelo teorema de isomorfismo, temos:
Aut; M/Aute M = W(Autk M) < Aut K,
Como Auty K, é abeliano e por indução Auts M € solúvel então
temos que Aut;M é solúvel e isto demonstra o teorema. E

COROLÁRIO. O polinômio f(x) = x* — 6x + 3€ Q[x] não é solúvel


por meio de radicais sobre OQ.

Demonstração. Sabemos pelo corolário da Proposição 5 que


AutoL = S, não solúvel, onde L = Gal(f,Q), e o re-
sultado segue imediatamente. E
Vamos encerrar o capitulo com o exemplo do polinômio geral
de grau n.

EXEMPLO. Seja L = Q(x,,x>,..., X,) O corpo das funções racionais


com coeficientes sobre OQ nas “variáveis independentes
X to X9, 000, Xh
hÃh)
190 | Introdução à álgebra

Se definimos:
S4 =X, + X +. +X,
S2=XX, E XX +. + XX Te. + XX

Sp = X4 X2 -.. Xn

então K = Q(s,,5,,...,5n) é chamado o corpo das funções racionais


simétricas sobre O.
Agora é fácil ver que x,,x,,..., x, São elementos algébricos so-
bre K (embora transcendentes sobre Q) pois L = Gal(f, K) onde
fd)="—-strt+strr+..+(— Is ekft.
Assim, x,, ..., X,Sãoasnraizesdef(t)emais, L = K[x,,X5,...,Xn] =
= Gal(f, K).
Pode-se provar (verifique isto) que cada permutação o, do con-
junto Q = fx,,x,,...,x,s das raizes de f dá origem a um elemento
ceAutrL, ou seja, [L:K] =n! e Autp LOS.
O polinômio ” — st"! +... +(— 1)'s, = f(t) chama-se o poli-
mio geral de grau n sobre Q e portanto:
O polinômio geral de grau n sobre OQ, n >5, não é solúvel por
meio de radicais sobre o corpo das funções racionais simétricas.

EXERCÍCIOS
1. Prove que os seguintes polinômios f(x) e Q[x | não são solúveis por
meio de radicais sobre OQ:
a) fO)=x— 20x] +55
bD/l)=xº—4x+2
f(x) =x) — 4x2 +12
Dfl)=xº — 6x2 +3
Sfb)=x'-—- 10x) + 15x +5
2. Resolva a equação 1º +21 —- 5"! +9 —-S"+2t+1=0 por

meio de radicais | sugestão: u = t + ,

3. Prove que:
se p(x)€ K[x] é irredutível sobre K e uma raiz de p(x) é expressa
por meio de radicais, então p(x) é solúvel por meio de radicais.
4. Determine extensões radicais sobre CQ contendo os seguintes ele-
mentos de C..

a) (MS
/13 — 45
b) (/2+2 93%.
Referências 191

REFERÊNCIAS

. B. L. Yan der Waerden, Modern Algebra, vol. I — Frederick Ungar Publishing Co,
New York, 1949.
. G. Birkhoff & S. Mac Lane, A Survey on Modern Algebra, The MacMillan Com-
NO

pany, 1941.
. Ian Stweart. Galois Theory.
. 1 Kaplansky, Introdução a Teoria de Galois, Notas de Matemática n.º 13 - IMPA —
+

1958.
. I. N. Herstein, Topics in Algebra, Blaisdell Publishing Company, 1964.
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. J. Rotman, Allyn & Bacon, The Theory of Groups, and introduction, Inc. 1965.
. L. H. Jacy Monteiro, Elementos de Algebra, Elementos de Matemática, IMPA,
=]

1969.
. S. Lang, Algebraic Structures, Addison-Wesley Publishing Company, 1968.
Oo
192 Introdução à álgebra

ÍNDICE ALFABÉTICO

Adjunção de raizes, 93 laterais, 126


Algoritmo da divisão, 16, 17, 66 Comutador, 154
Anéis, 34, 35 Congruência
automorfismo de, 54, 55, 56, em um anel, 50
endomorfismos de, 54 módulo n, 10
primeiro teorema de homomorfismo de, Conjunto, 1
56, 57 intersecção de, 2
não comutativos, 36, 37 imagem, 4
quocientes, 46, 50, 51 partição de um, 12
Zn» 28, 29, 30, 31 vazio, 1
Anel, união de, 2
característica de um, 46 Contido, 1
comutativo, 34, 35 Coordenadas, 113
congruência em um, 50 Corpo,
das funções continuas, 48, 49 algebricamente fechado, 70
de divisão, 39 com p” elementos, 81
dos polinômios com coeficientes em um de decomposição de um polinômio, 93
domínio, 65 de frações de um domínio, 60
dos quatérnios, 39 infinito de característica p
grupo dos automorfismos de um, 122 não comutativo, 39
homomorfismo de, 54, 55, 56 perfeito, 107
ideais de um, 46, 47 Corpos
ideal principal de um, 49 fixos, 179
imagem de homomorfismo de, 56, 58 intermediários, 179
de matrizes, 36 Correspondência de galois, 179
radical de um, 56
simples, 47, 48 Derivada de um polinômio, 92
Automorfismo,
Divisores de zero, 15, 31, 32, 34
de grupos, 143
Duplicação do cubo, 115
internos, 143 Dominio
de anéis, 54, 55, 56 anel do polinômios com coeficientes em
um, 65
Base de um espaço vetorial, 98 caracteristica de um, 59
Boa ordenação, 16 corpo de frações de um, 60
Burnside, 159 de integridade, 15, 34
de uma função, 4
Cadeia fatorial, 25
ascendente de ideais, 81 não principal, 66
descendente de ideais, 81 principal, 20
Característica
de um anel, 46
de um domínio, 59 Endomorfismos de anéis, 54
Cauchy, 150 Eisenstein, critério de, 82, 83
Cayley, 146 Elementos
Centro de um grupo, 127 algébricos, 88
Ciclos disjuntos, 161 ordem de um, 136
Classes, nilpotentes, 41, 42
de conjugação, 136 transcendentes, 88
de equivalência, 8 Equivalência
Índice alfabético 193

classes de, 8 Homomorfismo, 34


relação de, 7, 8 de anéis, 54, 55
Espaço de grupos, 139
vetorial, 96, 97 imagem de, 145
quociente, 105 núcleo de, 56, 58, 144
Euclides, 16, 92
Euler, 117 Ideais, 34
Extensão cadeia ascendente de, 81
grau de uma, 96, 98 cadeia descendente de,
finita, 98
de um anel, 46, 47
infinita, 98 maximais, 23, 24, 25, 76, 77
radical, 186 principais, 72
separável, 107 triviais, 19
simples, 104
Ideal
Extensões
gerado, 20
algébricas, 88
principal, 20
galoisianas, 167
principal de um anel, 49
normais, 167
próprio, 20
Imagem
conjunto, 4
Fatorização única, 25, 79 de homomorfismos, 145
Função de homomorfismo de anéis, 56, 58
bijetiva, 4 inversa, 4
composta, 5 Indução, 16, 17
identidade, 5 Intersecção de conjuntos, 2
injetiva, 4 Inverso multiplicativo, 30
inversa, 5
polinomial, 65 J. Thompson, 159
sobrejetiva, 4
Lagrange, 134, 135
L.H. Jacy Monteiro, 91
Galois.
correspondência de, 179 M.D.C., 19,21, 22
extensão de, 167 de polinômios, 73
teorema fundamental de, 181 Multiplicidade de raiz, 92
Gaus, 82, 91, 117
Grau N.H. abel, 119
de uma extensão, 96, 98 Normalizador, 153
de um polinômio, 63 Núcleo
Grupo de homomorfismo, 56, 58, 144
Abeliano; 119 Números
centro de um, 127
construtíveis, 109, 110
ciclico, 123, 128 inteiros, 15
das permutações pares, 132, 133 primos, 23, 24, 25
de matrizes, 132
de permutações, 120
dihedral 129, 130, 131 Operação
dos automorfismos de um anel, 122 associativa, 12
dos quatérnios, 122 binária, 11
homomorfismo de, 139 comutativa, 12
“p-grupos” 138 Operações elementares, 108
produto cartesiano , 123 Ordem
simples, 140 de um elemento, 136
quocientes, 139, 141 parcial, 14
solúveis, 156 total, 14
194 | Introdução á Álgebra

Partição de um conjunto, 12 primitiva da unidade, 102


Permutação, 159 multiplicidade de, 92
Permutações, 6
Pertence, 1 Radical de um anel, 53
Pierre de Fermat, 117 Reflexividade, 11
Poligono Régua e compasso, 107
construtível, 116, 117 Relação de equivalência, 7, 8
regular, 116, 117 Restrição, 4
Polinômios
constante, 63 Simetria, 11
corpo e decomposição de um, 93 Simplicidade dos grupos A,, 156
derivada de um, 92 Solubilidade por meio de radicais, 186, 187
em uma variável, 63 Subanéis, 42, 43, 44, 45
geral de grau n, 189 Subcorpo, 43, 44, 45
grau de um, 63 Subgrupo
indenticamente nulo, 63 característico, 153
indeterminada, 63, 65 maximal normal, 155
irredutiíveis, 76 normal, 140
mônico, 73 Subgrupos, 126, 127
raiz de um, 67, 68 Sylow, 152
Pontos construtiveis, 109, 110
Teorema
da correspondência, 148
Produto cartesiano, 11 fundamental da algebra, 91
de grupos, 123
fundamental de galois, 181
Projeção canônica, 143 Transitividade, 11
Transposição, 163
Quadratura do circulo, 115 Trisecção do ângulo, 115

União de conjuntos, 2
r-ciclos, 159
Raiz W. Feit, 159
de um polinômio, 67, 68 W.K. Clifford, 91
razoável, embora hoje não passe
adilson gonçalves de um torcedor do Flamengo.
Na Matemática, foi bem mais longe.
Depois de licenciar-se pela então
Faculdade Nacional de Filosofia,
obteve o grau de Mestre pelo IMPA,
e de Doutor pela Universidade de
Chicago. Trabalha em Álgebra, mais
precisamente em Teoria dos Grupos.
Foi professor na Universidade de
Brasília, na Universidade Federal do
Rio de Janeiro e atualmente pertence
à Universidade Federal de
Nasceu em Bangu, RJ, onde fez Pernambuco. É autor de um texto sobre
seus estudos primário e secundário, Representação de Grupos e
soltou pipas e jogou muita pelada, co-autor de um livro de Álgebra
chegando a ser um ponta direita Linear

introdução à álgebra

impa
Instituto de Matemática Pura e Aplicada

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