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COMPANHIA DAS LETRAS
Copyright © 2005 by Rebecca Goldstein
Atlas Books, L.L.C./ W.W. Norton & Company, Inc.
Publicado originalmente nos Estados Unidos.
TÍTULO ORIGINAL
Incompleteness - The proof and paradox of Kurt Gõdel
FOTO DE CAPA
© Bettmann/ Corbis/ LatinStock
PREPARAÇÃO
Leny Cordeiro
REVISÃO TÉCNICA
Iole de Freitas Druck
(professora do Instituto de Matemática
e Estatística da Universidade de São Paulo)
ÍNDICE REMISSIVO
Luciano Marchiori
REVISÃO
Carmen S. da Costa
Valquíria Della Pozza
08-08147
[2008]
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA SCHWARCZ LTDA .
Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32
04532-002 - São Paulo - SP
Telefone: (11) 3707-3500
Fax: (11) 3707-3501
www.companhiadasletras.com.br
Para Yael
a filha é conselheira da mãe
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 Um platônico entre positivistas ... .............. ...... ...... ... .. .. ...... ...... 45
Notas .. . 221
Agradecimentos . . . 231
,
E final de verão nos subúrbios de Nova Jersey. Dois homens cami-
nham por uma rua isolada, mãos entrelaçadas atrás das costas, con-
versando tranqüilamente. Sobre a cabeça deles, a copa espessa das
árvores os protege do céu. Mansões antigas erguem-se bem afastadas
da rua, enquanto do outro lado, logo depois dos olmos, se estende o
tapete verde e luxuriante de um campo de golfe, as vozes enfraquecidas
dos jogadores chegando como que de uma longa distância.
Mas, contrariando as aparências, não se trata de mais um dos encla-
ves suburbanos, povoados estritamente pela elite econômica, homens
deslocando-se diariamente ao centro da cidade para garantir sua
riqueza. Não, esta é Princeton, Nova Jersey, sede de uma das grandes
universidades do mundo, e portanto freqüentada por uma população
bem mais eclética do que se afigura à primeira vista. Neste momento
em que esses dois homens caminham de volta para casa por uma rua
tranqüila, a população de Princeton se tornou ainda mais cosmopolita,
com muitos dos melhores cérebros da Europa fugindo de Hitler. Nas
palavras de um educador americano: "Hitler sacode a árvore, e eu colho
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* Daí não se segue que essas crenças sejam inatas, ou seja, que nascemos com elas.
Obviamente, precisamos primeiro adquirir os conceitos, e a língua para expressá-los,
antes que possamos vir a acreditar que 5 + 7 = 12. A idéia de inato é psicológica,
enquanto a aprioricidade é um conceito epistemológico, relacionado à forma como a
crença é justificada, quais são os indícios a favor e contra ela.
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mundo, dados básicos que não precisariam ser dados. Em outras pala-
vras, o mundo jamais, nem sequer uma vez, falará para nós do jeito como
um pai exasperado falará com seu adolescente rebelde: "Quer saber por
quê? Vou dizer. Porque eu disse!': O mundo sempre tem uma explicação
para si, ou, nas palavras do companheiro de caminhada de Einstein: Die
Welt ist vernünftig, o mundo é inteligível. As conclusões que emanam da
aplicação rigorosamente sistemática deste "axioma interessante" a qual-
quer tema que ocorra a um lógico-da relação entre corpo e alma à polí-
tica global ou à própria política local do Instituto de Estudos Avançados
- costumam divergir radicalmente das opiniões do senso comum. Mas
o lógico não está nem aí para essa divergência. É como se um dos costu-
mes adquiridos de seu processo de pensamento fosse: se o raciocínio e o
senso comum divergirem, então ... tanto pior para o senso comum! O que
é, a longo prazo, o senso comum além de comum?
O homem mais jovem é bem menos conhecido, em sua época e na
nossa. No entanto, seu trabalho foi, à sua própria maneira, tão revolu-
cionário quanto o de Einstein, a ser incluído no pequeno conjunto das
descobertas mais radicais e rigorosas do século passado, todas com
conseqüências que pareciam transbordar para bem além de seus cam-
pos respectivos, infiltrando-se em nossos pressupostos mais básicos.
Pelo menos no campo das ciências matemáticas, o primeiro terço do
século xx fez das revoluções conceituais quase um hábito. O teorema
desse homem é a terceira perna, junto com o princípio da incerteza de
Heisenberg e a relatividade de Einstein, do tripé de cataclismos teóri-
cos cujas perturbações se fizeram sentir no cerne dos fundamentos das
"ciências exatas': As três descobertas parecem nos levar a um mundo
pouco familiar, tão contrário aos nossos pressupostos e intuições ante-
riores a ponto de, quase um século depois, continuarmos lutando para
entender onde, exatamente, aterrissamos.
A natureza arredia tanto do homem como de sua obra impede que
ele atinja o status de celebridade de seu colega de caminhada de Prin-
ceton e do autor do princípio da incerteza, a essa altura da história
quase certamente engajado no esforço para produzir a bomba atômica
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* Antes que Gõdel entrasse em cena, os lógicos tendiam a ser membros de um departa-
mento de filosofia. Simon Kochen, um lógico do departamento de matemática da Uni-
.versidade de Princeton, observou para mim que "Gõdel pôs a lógica no mapa matemá-
tico. Todo departamento matemático importante agora tem um representante da lógica
em sua equipe. Podem ser apenas um ou dois lógicos, mas pelo menos haverá alguém"
(maio de 2002).
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Ele [Gõdel J é o diabo para a matemática. Após Gõdel, a idéia de que a matemá-
tica não era apenas uma linguagem de Deus, mas uma linguagem que podía-
mos decodificar para entender o universo e entender tudo ... isso já não fun-
ciona mais. Faz parte da grande incerteza pós-moderna em que vivemos. 5
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de Gõdel todas eram inferidas. Einstein de fato não se importava com aquilo,
achava até divertido. A não ser da última vez em que o vimos em 1953, quando
disse: "Veja bem, Gõdel está totalmente maluco". Ao que perguntei: "Bem, o
que ele fez de tão ruim?". Einstein respondeu: "Ele votou em Eisenhower". 7
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Einstein me contou várias vezes que, nos últimos anos de vida, procurava cons-
tantemente a companhia de Gõdel, a fim de ter discussões com ele. Certa vez, ele
me disse que seu próprio trabalho já não significava muito, que ele viera ao ins-
tituto meramente um das Privileg zu haben, mit Godel zu Fuss nach Hause gehen
zu dü1fen [ou seja, para ter o privilégio de caminhar para casa com Gõdel]. 12
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*Godel produziu uma solução bem original para as equações de campo da relatividade
geral de Einstein, como uma surpresa para o aniversário de setenta anos de Einstein. Na
solução de Godel, o tempo é cíclico. Ver capítulo 4.
** Hao Wang ( 1921-95), lógico da Universidade Rockefeller, dedicou-se a compreender
as idéias de Gódel sobre tudo, da natureza da intuição matemática à transmigração das
almas, e produziu três livros com base no material coletado.
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Bohr: Ela [a mecânica quântica] funciona, sim. Mas isso não é o mais impor-
tante. Porque você vê o que fizemos nesses três anos, Heisenberg? Sem exagero,
viramos o mundo pelo avesso. Sim, escute, é agora que vem a parte importante.
[... ] Trouxemos o homem de volta ao centro do universo. Ao longo da história,
vivemos nos achando deslocados. Vivemos nos exilando para a periferia das
coisas. Primeiro, nos transformamos num mero acessório dos propósitos
incognoscíveis de Deus. Figuras minúsculas ajoelhando na grande catedral da
criação. E assim que nos recuperamos, no Renascimento, assim que o homem
se tornou, como anunciara Protágoras, a medida de todas as coisas, fomos
jogados de novo para escanteio pelos produtos de nosso raciocínio! Somos de
novo apequenados à medida que os físicos constroem as novas catedrais para
contemplarmos - as leis da mecânica clássica que nos antecedem desde o iní-
cio da eternidade e que sobreviverão a nós até o fim da eternidade, que existem
quer existamos ou não. Até chegarmos ao início do século xx, quando somos
subitamente forçados a nos erguer de nossa posição ajoelhada.
Heisenberg: A coisa começa com Einstein.
Bohr: A coisa começa com Einstein. Ele mostra que a medição - a medição
de que depende toda a possibilidade da ciência-, a medição não é um evento
impessoal que ocorre com universalidade imparcial. É um ato humano, reali-
zado de um ponto de vista específico no tempo e no espaço, do ponto de vista
específico de um observador possível. Depois, aqui em Copenhague, naqueles
três anos em meados da década de 1920, nós descobrimos que não existe um uni-
verso objetivo precisamente determinável. Que o universo só existe como uma
série de aproximações. Só dentro dos limites determinados por nossa relação
com ele. Só pela compreensão alojada dentro da cabeça humana. 14
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Einstein às vezes fala da realidade objetiva como o que está "lá fora",
e nas ''Notas autobiográficas" que forneceu, com seu bom humor auto-
depreciativo típico, ao Festschrift que P. A. Schilpp publicou em home-
nagem ao aniversário de setenta anos do físico,* ele explicitamente
identifica sua crença nessa realidade como o centro espiritual de sua
vida como cientista:
Está bastante claro para mim que o paraíso religioso da juventude, assim per-
dido, foi uma primeira tentativa de me libertar do "meramente pessoal", de
uma existência dominada por desejos, esperanças e sentimentos primitivos. Lá
fora havia esse mundo im enso, que existe a despeito de nós, seres humanos, e
que se acha diante de nós, qual enorme e eterno enigma, ao menos parcial-
mente acessível ao nosso exame e pensamento. A contemplação desse mundo
acenava para uma nova forma de libertação. [... ] A compreensão mental desse
mundo extrapessoal, dentro das possibilidades existentes, se afigurou à minha
imaginação, em parte consciente e, em parte, inconscientemente, como o obje-
tivo supremo. [... ] O caminho para esse paraíso não era tão tranqüilo e sedu-
tor como o caminho para o paraíso religioso; mas provou ser confiável, e eu
nunca me arrependi de minha escolha. 16
* "Aqui estou para escrever, com a idade de 67 anos, algo semelhante ao meu próprio
obituário. Faço isso não apenas porque o dr. Schilpp me persuadiu a fazê-lo; mas por-
que, na verdade, acredito que é bom mostrar aos que se empenham ao nosso lado como
o empenho e o rigor parecem em retrospecto." (Schilpp, p. 3)
** Contrastemos essas palavras, por exemplo, com a afirmação de Werner Heisenberg:
"A idéia de um mundo real objetivo cujas mínimas partes existem objetivamente no
mesmo sentido em que pedras ou árvores existem, a despeito de serem observadas ou
não[ ... ] é impossível".
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* Por proposição descritiva entende-se uma proposição que não seja verdadeira (ou falsa)
em virtude apenas de seu significado. As proposições cujo valor de verdade (verdade ou
falsidade) é uma função apenas de seu significado são chamadas de "analíticas" ou, às
vezes, "triviais". Assim, por exemplo, "todas as pessoas bilíngües falam pelo menos duas
línguas" é analítica. Uma proposição que seja, por outro lado, descritiva não é verdadeira
ou falsa apenas em virtude de seu significado, mas também em virtude dos fatos. Assim,
a proposição "eu sou bilíngüe" é falsa em virtude de seu significado e dos fatos.
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Acredito que a realidade matemática reside fora de nós, que nossa função é des-
cobri-la ou observá-la, e que os teoremas que provamos, e que descrevemos
grandiloqüentemente como nossas "criações", não passam de anotações de
nossas observações. Essa visão foi defendida, de uma forma ou de outra, por
m u itos filósofos renomados, de Platão em diante, e usarei a linguagem que é
natural a um homem que a defenda. [... ]
Essa visão realista é muito mais plausível em relação à realidade matemá-
tica do que à física, porque os objetos matemáticos são bem semelhantes ao que
. parecem. Uma cadeira ou uma estrela são bem diferentes do que parecem ser;
quanto mais pensamos nelas, mais indistintos se tornam os seus contornos na
bruma da sensação circundante; mas "2" ou "317" não têm nada a ver com a
sensação, e suas propriedades se destacam mais claramente quanto mais perto
os examinamos. Pode ser que a física moderna se encaixe melhor na estrutura
da filosofia idealista - não acredito nisso, mas existem físicos eminentes que
dizem isso. A matemática pura, por outro lado, parece-me uma rocha onde
todo idealismo soçobra: 317 é primo, não porque pensamos assim, ou porque
nossas mentes são constituídas dessa ou daquela maneira, mas porque é assim,
porque a realidade matemática está estruturada desta maneira.**
* É interessante que isso se aplique até a David Hilbert, cujo formalismo se opunha fron-
talmente ao platonismo (ver capítulo 2).
** As circunstâncias da redação do clássico de Hardy são tão comoventes quanto incomuns.
Hardy perdera a criatividade matemática, o que tende a acontecer com matemáticos rela-
tivamente jovens. Um matemático de quarenta anos provavelmente já viveu seus melhores
anos, razão por que o prêmio mais prestigioso para matemáticos (não existe prêmio Nobel
de matemática), a Medalha Fields, é concedido a alguém com até quarenta anos. Hardyten-
tou o suicídio, sobreviveu à tentativa, e foi persuadido por C. P. Snow a escrever um livro
explicando a vida de um matemático. O resultado, A mathematician's apology, é incompa-
rável. Logo após terminá-lo, Hardy voltou a tentar o suicídio, dessa vez com sucesso.
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* Eis a referência textual da qual deriva o paradoxo: "Um dentre eles, seu próprio profeta,
disse: 'Os cretenses são sempre mentirosos'. [... ] Este testemunho é verdadeiro" (Tito
1:12-3).
** O fato de as conclusões matemáticas terem a capacidade de nos surpreender pode
parecer paradoxal. Tudo bem que o mundo frustre as nossas expectativas, nosso con-
tato experimental com ele levando a abruptos despertares. Mas como isso pode ocorrer
com conclusões atingidas puramente pela razão a priori? Se verdades a priori são-por
definição - imunes à revisão empírica, não é alguma experiência inesperada do
mundo que dá o tranco. Nós próprios devemos deduzir a confusão, e isso à primeira
vista parece estranho. Essa questão metamatemática também é abordada pelo prolixo
primeiro teorema de Gõdel. Para Gõdel, a realidade da matemática independente, da
qual nossos axiomas são apenas descrições incompletas, elimina a surpresa da sur-
preendente matemática.
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CAPÍTULO 1.
UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
PRIMEIRO AMOR
urt Gõdel tinha dezoito anos quando chegou a Viena para iniciar
K seus estudos na universidade. Embora tivesse nascido na Morávia,
hoje pertencente à República Tcheca, mas na época parte do Império
dos Habsburgo, sua chegada a Viena deve ter dado a sensação de uma
volta ao lar. Ele se considerava um exilado mesmo na terra natal.
Gõdel nasceu em 28 de abril de 1906, em Brno, que alemães e aus-
tríacos chamam até hoje de "Brünn". Seus pais, Rudolf e Marianne,
eram de origem alemã, e não tcheca, e se davam exclusivamente com os
demais alemães dos Sudetos que dominavam Brno. A cidade era o cen-
tro da indústria têxtil do Império dos Habsburgo. * Portanto, como
Rudolf não revelou pendores para os estudos humanísticos na escola
* É interessante que ela também abrigava o mosteiro agostiniano onde Gregor Mendel
( 1882-4) realizou seus experimentos extremamente tediosos e importantes com ervilhas,
que resultaram na descoberta das leis da dominância e recessividade em hereditariedade.
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primária, foi matriculado, aos doze anos, numa escola de tecelões, onde
descobriu sua vocação. Ele completou seus estudos ali com distinção e
obteve um emprego na fábrica têxtil de Friedrich Redlich, onde traba-
lhou até morrer. Fez uma carreira rápida e acabou se tornando diretor
e um dos sócios. Por isso, a família vivia com conforto e acabou com-
prando uma mansão num bairro elegante.
A mãe de Gódel, Marianne, era bem mais instruída e culta do que o
pai, o que não era incomum entre a burguesia do Império. Também era
usual a escolha do cônjuge resultar de preocupações práticas, e não de
inclinações românticas, o que parece também ter acontecido no casa-
mento dos Gódel. Como acontece nesses casos, os vínculos emocionais
mais fortes da mãe foram estabelecidos com os filhos: Rudolf, nascido
um ano após o casamento, e Kurt, nascido quatro anos depois e bati-
zado como Kurt Friedrich, o nome do meio em homenagem ao empre-
gador do pai, que foi o padrinho. Por algum motivo, o lógico abando-
nou o nome do meio ao se tornar cidadão americano em 1948.
Quase tudo que sabemos da infância de Kurt Gódel, embora seja
pouco, advém do irmão mais velho Rudolf, que escreveu uma breve
«História da família Gódel", bem como das respostas de Rudolf às per-
guntas dos lógicos Hao Wang e John Dawson sobre a infância de seu
irmão mais novo. (Rudolf foi físico, nunca se casou e permaneceu na
Áustria. Morreu em 1992, aos noventa anos.) 1
Sabemos através de Rudolf que Kurt fazia tantas perguntas que foi
apelidado de der Herr Warum, ou «sr. Por quê?". Quem convive com
crianças pequenas sabe muito bem que elas tendem a insistir nas per-
guntas. Nascemos com uma espécie de assombro ontológico (thaumá-
zein) que cai no esquecimento à medida que nos acostumamos com a
realidade do mundo. O thaumázein intenso da infância de Gõdel per-
sistiu por sua vida adulta. Desse modo, a criança que era chamada de
Herr Warum tornou-se o homem que iniciou os catorze princípios de
seu credo particular com Die Welt ist vernünftig: o mundo é racional.
Como muitos matemáticos brilhantes, Gódel alcançou certo nível de
maturidade precoce ainda na infância; então, tendo atingido aquele
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
* Aristóteles costuma ser reconhecido como pai da lógica. Sua obra de lógica está
exposta na Analítica anterior, que faz parte da coletânea póstuma conhecida como
Organon. O filósofo teve o insight seminal de que, em um argumento da lógica dedutiva,
algumas palavras são logicamente relevantes, enquanto outras não. As palavras irrele-
vantes podem ser eliminadas, tornando-se variáveis. Assim, por exemplo, no silogismo
clássico se todos os homens são mortais, e Sócrates é um homem, então Sócrates é mortal,
as palavras "homens': "mortal" e "Sócrates" são dispensáveis. Esse silogismo particular
é apenas uma instância do silogismo-esquema mais geral: se todos os Xs são Y, e i é um X,
então i é um Y. Denotar palavras logicamente irrelevantes por variáveis foi uma passa-
gem para a m aior generalidade e, portanto, para a ciência da lógica. Aristóteles, porém,
generalizou demais, afirmando que todo raciocínio dedutivo é silogístico. Os avanços
modernos do século x1x, mais especificamente do alemão Gottlob Frege ( 1848-1952 ),
revelaram a variedade maior dos argumentos dedutivos.
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vista ficas agora aturdido e disposto, tu como outros muitos, contanto que vejam
seus amados e sempre estejam com eles, sem comer nem beber, se de algum
modo fosse possível, mas só contemplando e estando ao seu lado! Que pensamos
então que aconteceria': disse ela, "se a alguém fosse dado contemplar o próprio
Belo, nítido, puro, simples, e não repleto de carne humana, decores e outras mui-
tas ninharias mortais, mas a própria Beleza divina e única? Acaso imaginas",
disse, "que é mesquinha a vida de um homem que, de olhos voltados nessa dire-
ção, contempla a dita Beleza da maneira certa e desfruta a sua presença? 9
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viado para a lógica matemática é intrigante. Hao Wang não fez a per-
gunta subseqüente: exatamente quando Gõdel vislumbrou que a lógica
poderia fornecer as conclusões matemáticas que vinha buscando?
É tentador especular a respeito, e a especulação esclarecida é o
máximo de que dispomos. Não temos uma idéia clara do caminho que
o levou aos seus teoremas, por meio de uma argumentação engenhosa
nunca vista antes.
Em contraste, sabemos muita coisa sobre as preocupações que leva-
ram Einstein à sua teoria da relatividade restrita. Está tudo nos regis-
tros públicos do cientista que desempenhou o papel de gênio profissio-
nal na imaginação coletiva do mundo. Sabemos como, a partir dos
dezesseis anos, ele costumava realizar experimentos de pensamento,
imaginando-se pegando carona num raio de luz, ou apostando corrida
com ele, tentando deduzir qual seria o aspecto das leis da física do
ponto de vista de um observador movendo-se à velocidade da luz.
Mas a genialidade de Gõdel nunca foi objeto de exibição pública
como a de Einstein. As fontes de sua inspi;ação, o mecanismo mental,
revelando como paradoxos antigos puderam se transformar em uma
prova, com conclusões permeadas de metaconotações, são desconheci-
dos. Ele deve ter vislumbrado o potencial metamatemático da lógica,
mesmo quando a lógica ainda era bem menos respeitável matematica-
mente do que se tornaria com seu trabalho. Não sabemos com precisão
quando ele obteve sua primeira prova da incompletude. O orientador de
sua dissertação (havia então avançado para a pós-graduação) nem
sequer sabia o que ele estava cogitando. Mas sabemos que, em 7 de outu-
bro de 1930, Gõdel obteve a prova do primeiro teorema da incompletude.
O lógico Jaakko Hintikka escreveu:
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numerosos cafés que até hoje parecem exibir a essência da vida vie-
nense. Muita coisa mudou na cidade, e no país como um todo, após a
Primeira Guerra Mundial e o colapso do Império dos Habsburgo em
1916. Mas Viena permaneceu, em sua atmosfera, uma pequena cidade
grande: o centro cultural indiscutível de seu país. A sensação de que ela
era quase uma entidade totalmente fechada em si mesma dentro do
país mais amplo, compartilhando pouco em termos de perspectiva
com o resto da população, talvez tenha um correspondente na relação
da atual Nova York com os Estados Unidos, embora a descontinuidade
entre a cidade e a cultura geral pareça ter sido bem maior no caso de
Viena e Áustria.
Na época de Gõdel, Viena ainda tinha a única universidade real da
Áustria, que cabia quase inteiramente em um único prédio. Essa con-
centração física da vida acadêmica refletia a vida intelectual em geral.
Tratava-se de uma cidade cujos pensadores pareciam se conhecer, ao
menos ligeiramente, influenciando o pensamento uns dos outros atra-
vés das diversas disciplinas, de modo que matemáticos, físicos, histo-
riadores, filósofos, romancistas, poetas, músicos, arquitetos e artistas
estavam envolvidos, em certo sentido, na mesma conversa. O tema
geral: a morte e decadência moral e intelectual de tudo que viera antes,
e a necessidade de construir metodologias, formas e fundamentos
inteiramente novos. Foi esse tema sustentado, em tantos campos dife-
rentes, que provocou o surgimento do que viemos a chamar moderni-
dade, e até pós-modernidade: em literatura, música, arquitetura, arte,
filosofia, psicologia, e, até certo ponto, ciência.
A Viena pós-1918 proporcionava uma grande arquibancada da
qual contemplar a rápida desintegração dos anacronismos. O Império
dos Habsburgo, aquela variação elaborada de temas do status quo e do
patriarcado, implodira com o fim da Grande Guerra. Onze nacionali-
dades diferentes - alemães, rutenos, italianos, eslovacos, romenos,
tchecos, poloneses, húngaros, eslovenos, croatas, transilvanos, saxões e
sérvios - estavam reunidas no império desgracioso; a entidade resul-
tante carecia, significativamente, de um nome aceito por todos. Seu
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último líder foi Francisco José, imperador da Áustria desde 1848 e rei
da Hungria desde 1867, que reinou por um longo período. E a capital
do reino sem nome era Viena. Embora uma consciência unificadora se
sobrepusesse às várias nacionalidades do império, a "Cidade dos
Son hos", como Viena foi apropriadamente apelidada, conseguiu de
fato alcançar algo como aquela consciência cosmopolita supranacio-
nal imposta pelo mito do império.
Viena, no apogeu, havia sido uma capital imperial governando
cerca de 50 milhões de súditos. Agora estava reduzida à capital de uma
pequena e arruinada república alpina com pouco mais de 6 milhões de
cidadãos, quase todos alemães. (Muitos dos tchecos que viviam na
cidade partiram, o que atenuou um pouco a falta de moradia.) Mas, se
Viena caiu em termos políticos, sua importância como uma capital
intelectual do mundo era inigualável. A própria sensação de um
colapso espiritual e cultural (cuja iminência havia sido evidente aos
pensadores vienenses mesmo enquanto a dinastia dos Habsburgo
sobrevivia) intensificou a necessidade de buscar novas bases. A cons-
ciência coletiva dos cidadãos mais esclarecidos da cidade estava per-
meada de uma espécie de intensidade nervosa, o surto de idéias irrom-
pendo como a sintomatologia do gênio doentio.
Assim, encontramos em Viena não apenas o berço do sionismo, na
figura de Theodor Herzl, mas também das manifestações mais extre-
mas daquelas idéias em reação às quais surgiu o sionismo: o nazismo.
A cidade proporcionou o terreno fértil para a teoria de Freud do
inconsciente, da repressão, da histeria e da neurose. Foi lá que Klimt,
Schiele e Kokoschka pintaram as telas exuberantes e sensuais da Seces-
são.* Arnold Schõnberg e Alban Berg criaram a música atonal, e
* A Secessão foi fundada em 1897 por artistas que divergiam das políticas do establishment
artístico vienense. Um salão de exposições para os secessionistas foi inaugurado em 1898.
O pai de Ludwig Wittgenstein, o riquíssimo magnata do aço Karl Wittgenstein, foi um dos
três "benfeitores" cujos nomes foram gravados na placa após a entrada. Os outros dois
nomes pertencem a artistas famosos na época: Rudolf von Alt e Theodor Hõrmann.
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O CÍRCULO DEViENA
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1926 e 1928. O interessante é que 1928 foi o ano em que ele se voltou para
a lógica matemática, que lhe renderia sua famosa prova. Não é de admi-
rar que ele deixasse de ter tempo ou motivação para as sessões semanais.
Sua associação com os positivistas lógicos levou à falsa crença de
que ele próprio foi um positivista e de que seus teoremas da incomple-
tude são uma conseqüência dos princípios positivistas. Os teoremas da
incompletude de Gõdel ainda costumam ser considerados um dos
maiores sucessos do positivismo lógico: o resultado revolucionário
da aplicação de seus princípios à matemática. Assim, por exemplo,
no recente Wittgenstein's poker [O atiçador de Wittgenstein], David
Edmonds e John Eidinow escrevem:
A voz do Círculo ainda pode ser ouvida em uma série de epônimos filosóficos. Em
1931, Gõdel publicou seu teorema que frustrou quaisquer tentativas de desenvol-
ver um fundamento lógico para a matemática. Ele mostrou que é impossível
demonstrar a consistência de um sistema aritmético formal dentro dele mesmo.
Seu artigo de quinze páginas provou que parte da matemática não podia ser pro-
vada - que quaisquer que fossem os axiomas aceitos na matemática, sempre
haveria algumas verdades que não poderiam ser validadas a partir deles. 14
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* Jean Cocteau escreveu em 1926 que "A pior tragédia para um poeta é ser admirado
embora mal entendido". Para um lógico, especialmente um com a delicada psicologia
de Gõdel, a tragédia é talvez ainda pior.
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* O aluno, Johann (ou Hans) N elbock já havia sido duas vezes internado em clínicas psi-
quiátricas por ameaçar Schlick. Ele desenvolvera um delírio em que o influente filósofo
era responsável não apenas por seus problemas sentimentais, mas também por suas
dificuldades em arranjar emprego. Ele atirou em Schlick na escadaria central do prédio
principal da universidade (uma placa de latão ainda marca o local) quando o filósofo se
apressava para dar uma aula. Os nazistas de Viena, já numerosos em 1930, aplaudiram
o assassino psicótico pela vitória na batalha pela higiene demográfica, sendo Schlick,
um protestante alemão, pintado nos jornais diários como um judeu ateu. Ateu ele era,
mas judeu nem um pouco. Na verdade, ele descendia da pequena nobreza prussiana.
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
WITTGENSTEIN E O CÍRCULO
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INCOMPLETUDE
* Era uma família extremamente musical. O irmão do filósofo, Paul, era um pianista
clássico que perdeu o braço direito na Primeira Guerra Mundial. Desenvolveu tamanha
capacidade com o braço esquerdo que conseguiu prosseguir a carreira. O famoso Con-
certo para a mão esquerda de Ravel foi composto para Paul Wittgenstein.
76
CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
* Alusão ao canário que os mineiros costumavam levar para dentro das minas para saber
quando os níveis de oxigênio estavam baixos demais. A morte do canário era sinal de
que estava na hora de abandonar a mina. (N. T.)
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INCOMPLETUDE
* Eis por que se pode provar qualquer coisa a partir de uma contradição. A regra de infe-
rência conhecida como modus ponens diz que, de uma proposição condicional da forma
se p, então q (onde p e q são proposições aleatórias quaisquer) e da proposição p, você
pode deduzir q. Proposições da forma se p, então q são falsas se pé verdadeira e q é falsa,
e verdadeiras em todos os demais casos. Logo, caso p seja uma contradição, se p, então q
será verdadeira para qualquer q que se queira escolher. Portanto, da afirmação de uma
contradição p, qualquer coisa pode ser inferida.
** Outro conjunto gerador de paradoxo é o conjunto de todos os conjuntos, conhecido
como o conjunto universal. O matemático Georg Cantor (1845-1918) provou que o
conjunto das partes de um conjunto (formado de todos os seus subconjuntos) sempre
78
CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
tem uma cardinalidade maior que a do próprio conjunto original. Mas consideremos o
conjunto universal. É claro que nenhum conjunto poderia ter uma cardinalidade maior
que a do conjunto universal. Entretanto, seu conjunto das partes teria - uma contra-
dição. Isso é conhecido como o paradoxo de Cantor, e as regras da teoria dos conjuntos
precisam impedir a formação do conjunto universal.
* Ele foi, pelo menos após a morte do irmão mais velho, o terceiro conde de Russell. Seu
avô, lorde John Russell, introduziu a Reforro Bill de 1832 e serviu como primeiro-minis-
tro sob a rainha Vitória. Bertrand Russell foi um ativista político, em particular um paci-
fista. Foi preso duas vezes: primeiro, em 1918, durante seis meses, por um artigo supos-
tamente difamatório em uma revista pacifista, e de novo em 1961, aos 89 anos, por uma
semana, devido à sua campanha pelo desarmamento nuclear.
79
INCOMPLETUDE
sinto no íntimo que ele deve estar certo, e que ele viu algo que me passou des-
percebido. Se eu também conseguisse ver, não me importaria, mas nessas cir-
cunstâncias a questão é preocupante e acabou com meu prazer de escrever -
só posso me basear no que vejo, mas sinto que provavelmente está tudo errado,
e que Wittgenstein me achará um patife desonesto se eu prosseguir com isso. 27
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
um homem justificar sua vida (para uma mulher, não existe maneira)
é adquirindo e cultivando a genialidade. 30 Weininger optou por se
matar com um tiro na mesma casa onde Beethoven, o gênio que ele
reverenciava acima de todos os demais, havia morrido. O próprio Witt-
genstein acalentou idéias suicidas por nove anos (seus três irmãos mais
velhos se suicidaram, também um ato quintessencialmente vienense),
até vir a Cambridge e ser declarado gênio por Russell. 31
Lá em Viena, Wittgenstein, in absentia, também vinha exercendo
uma profunda influência. Sua primeira obra publicada, Tractatus logico-
philosophicus, em parte escrita nas trincheiras da Primeira Guerra Mun-
dial, impressionara singularmente o grupo de Schlick. Tão estilística-
mente interessante quanto seu criador, a obra alcançou, em sua elegância
austera, uma espécie de poesia.* A ferramenta tradicional do filósofo-
º argumento - é dispensada. Cada afirmação é apresentada, como
observou certa vez Russell, "como se fosse um decreto do czar". A obscu-
ridade de sentido do poeta é preservada apesar da (por meio da?) preci-
são formal de seu sistema de numeração esmerado, que organiza hierar-
quicamente suas afirmações.Assim, digamos, a proposição 3.411 (Tanto
na geometria como na lógica, um lugar é uma possibilidade: algo pode exis-
tir nele) é uma elaboração da proposição 3.41 ( O sinal proposicional com
coordenadas lógicas - tal é o lugar lógico), que é uma elaboração da 3.4
( Uma proposição determina um lugar no espaço lógico). O sistema de
numeração foi copiado do matemático Peano, que o empregara na axio-
matização da aritmética, e é o sistema de numeração que Russell e Whi-
tehead também empregaram nos Principia mathematica.
O filósofo de Cambridge G. E. Moore sugeriu o título, inspirando-se
no Tractatus theologico-politicus de Spinoza. Bertrand Rus~ell escreveu a
* Que era uma espécie de poesia foi o elogio condenatório de Frege: "O prazer de ler seu
livro, portanto, não pode mais ser despertado pelo conteúdo, já conhecido, mas
somente pela forma peculiar dada pelo autor. O livi"o, assim, torna-se uma realização
artística, e não científica". (De uma carta de Frege a Wittgenstein de 16 de setembro de
1919, tradução inglesa em Monk 1990, p. 174.)
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
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INCOMPLETUDE
6.2323 Uma equação apenas marca o ponto de vista do qual considero as duas
expressões; ela marca a sua equivalência de significado.
6.2341 Constitui a característica essencial do método matemático o
emprego de equações. Pois é devido a tal método que toda proposição da mate-
mática é óbvia.
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
6.54 Minhas proposições são elucidativas pelo fato de que aquele que me
entende acaba por reconhecê-las como contra-sensos, após se ter alçado atra-
vés delas - como degraus - para além delas. (Deve-se, por assim dizer, jogar
fora a escada após se ter subido por ela.)
* Talvez por isso achasse as conversas com eles tão infrutíferas que, nas ocasiões em que
concordava em se encontrar com alguns, muitas vezes simplesmente se voltava para a
parede e lia em voz alta a poesia de Rabindranath Tagore, "um poeta indiano muito em
voga em Viena naquela época, cujos poemas expressam a visão mística diametralmente
oposta à dos membros do Círculo de Schlick". 35
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
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INCOMPLETUDE
kann, darüber muss man schweigen, ou: aquilo de que não podemos
falar devemos consignar ao silêncio. O Círculo de Schlick interpretou
o enunciado conclusivo de Wittgenstein, bem como todo o seu livro,
como afirmação de que o uso impróprio das condições da linguagem
não apenas (tautologicamente) acaba em contra-senso, mas também
que, fora dos limites do dizível, nada existe. Mas para Wittgenstein exis-
tia realmente "aquilo de que não podemos falar': O ético ou - o que
representa a mesma coisa para ele - o místico é aquilo de que não
podemos falar. O ético, o místico, é ao mesmo tempo real e inexprimí-
vel. Ele acreditava ter explicado tudo que pode ser dito no Tractatus,
mas, como contou a um editor potencial ( que acabou aprovando o
livro), o que ele não dissera no Tractatus - porque não podia ser dito
- era mais importante do que aquilo que dissera:
Certa vez quis escrever algumas palavras no prefácio que acabei omitindo, mas
que escreverei para você agora porque podem ser uma chave para você: eu que-
ria escrever que meu trabalho consiste em duas partes: aquela que está aqui e
tudo que não escrevi. E exatamente essa segunda parte é a importante. Pois o
Ético está delimitado de dentro, por assim dizer, em meu livro; e estou conven-
cido de que, estritamente falando, só pode ser delimitado desta maneira. Em
suma, eu penso: tudo aquilo que muitos estão balbuciando hoje eu defini em
meu livro mantendo silêncio a respeito. 42
Ele julga ter demonstrado que é muito pouco o que pode ser dito ao
se dizer tudo que pode ser dito.
A pergunta é se o silêncio necessário, imposto pela proposição 7,
oculta absolutamente nada ou, pelo contrário, oculta todas as coisas
mais importantes. Os positivistas certamente interpretavam Wittgens-
tein dentro da primeira alternativa, o que é quase certamente um dos
motivos de ele achar que não entenderam nada do seu pensamento.
Ironicamente, o Círculo de Viena, unido por sua aversão profunda
ao mistério, vinha aceitando um pensador comprometido com o mis-
tério, pelo menos na medida em que questões de ética, estética, metafí-
90
CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
Quando ele começava a formular sua visão sobre algum problema filosófico
específico, costumávamos sentir a luta interna que o acometia naquele exato
momento, uma luta pela qual ele tentava penetra~ da escuridão até a luz sob
uma tensão intensa e dolorosa, que chegava a ser visível em seu rosto tão
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INCOMPLETUDE
Do lado pessoal, eu mencionaria que Gõdel, junto com outro estudante mem-
bro do Círculo, Marcel Natkin ( originário de Loclz, Polônia), e eu viramos
grandes amigos. Encontrávamo- nos com freqüência para passear nos parques
de Viena e, é claro, tínhamos discussões intermin áveis sobre questões lógicas,
matemáticas, epistem ológicas e de filosofia das ciências nos cafés - às vezes
até altas horas da noite.
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
Karl Menger, num curso de teoria das dimensões que vinha minis-
trando, teve um aluno chamado Kurt Gõdel, "um homem jovem,
magro e anormalmente quieto. Não me lembro de ter falado com ele
naquele tempo". 43 Foi através das reuniões regulares do Círculo que
Menger começou a se relacionar com Gõdel, que, embora atribulado,
persistiria até o fim da vida de Gõdel.
Quase todos que participavam daquelas reuniões descreveram
Gõdel nos mesmos termos, como evidentemente brilhante ( embora
nos perguntemos se essa evidência surgiu em retrospecto, depois de
plenamente compreendidas as implicações do anúncio de 1930), mas
sempre calado, sem confiar nos outros. Gõdel era, de acordo com Feigl,
"um trabalhador muito modesto e diligente, mas sua mente era clara-
mente de um gênio de primeira". 44 "Nunca ouvi Gõdel falar nessas reu-
niões nem participar das discussões; mas ele demonstrava interesse
mediante ligeiros movimentos da cabeça que indicavam aprovação,
ceticismo ou discordância': disse Menger, que também relata:
Após uma sessão em que Schlick, Hahn, Neurath e Waismann haviam falado
sobre linguagem, mas na qual Gõdel e eu não falamos nenhuma palavra,
comentei no caminho para casa: "Hoje mais uma vez superamos esses witt-
gensteinianos em seu wittgensteinismo: ficamos em silêncio". "Quanto mais
penso na linguagem", respondeu Gõdel, "mais me surpreendo com o fato de as
pessoas conseguirem entender umas às outras."
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INCOMPLETUDE
* Nas páginas citadas, Gõdel expõe diretamente suas convicções platônicas, usando a
indecidibilidade da hipótese do continuum de Cantor (de que não existe nenhum con-
junto que seja ao mesmo tempo maior que o conjunto dos números naturais e menor que
o conjunto dos números reais no sentido da cardinalidade), um resultado matemático
que ele ajudou a provar, como provocação: "Pois se os significados dos termos primitivos
da teoria dos conjuntos [... ] forem aceitos como corretos, segue-se que os conceitos e teo-
remas da teoria dos conjuntos descrevem alguma realidade bem determinada, na qual a
conjectura de Cantor precisa ser verdadeira ou falsa. Logo, a sua indecidibilidade com base
nos axiomas aceitos atualmente só pode significar que esses axiomas não contêm uma
descrição completa daquela realidade. Tal convicção não é irreal, pois é possível mostrar
formas pelas quais a decisão de uma questão, que é indecidível com base nos axiomas
usuais, poderia não obstante ser obtida':
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
Está tudo dito naquela carta não postada. Gõdel havia se tornado
um realista matemático em 1925, havia participado das reuniões do
Círculo de Viena entre 1926 e 1928, e em 1928 começara a trabalhar na
prova do primeiro teorema da incompletude, que ele interpretou
como refutador de - um princípio central do Círculo de Viena, exata-
mente o princípio que fizera com que acrescentassem o termo cclógico"
à visão de Mach do positivismo. Ele usara a lógica matemática, a
menina dos olhos dos positivistas, para destruir a posição antimetafí-
sica positivista. No entanto, lá estava ele, em 1974, ainda tendo de expli-
car, em cartas que nunca enviou, que não era um positivista, que a
intenção de seus célebres teoremas havia sido, na verdade, provar que
os positivistas estavam errados. Os positivistas haviam endossado a
visão dos sofistas de que o homem é a medida da verdade. Gõdel ten-
tou defender o antagonista implacável dos sofistas: Platão.
Gõdel, ao contrário do amigo Einstein, não tinha um senso de iro-
nia bem desenvolvido, o que, no fim das contas, é uma lástima.
GÕDEL E WITIGENSTEIN
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INCOMPLETUDE
Extraí as amígdalas e jazia no hospital Evelyn Nursing Home com pena de mim
mesma. Wittgenstein veio me visitar. Reclamei: "Sinto-me como um cão que
foi atropelado". Ele se indignou: "Você não sabe como se sente um cão que foi
atropelado".47
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
Quanto ao meu platonismo "puro': não é mais "puro" que o do próprio Russell
em 1921, quando, na Introdução [àfilosofia matemática, publicada originalmente
em 1919] ele disse que "A lógica está tão interessada no mundo real quanto na ver-
dade o está a zoologia, embora com suas características mais abstratas e gerais':
Naquela época, Russell havia encontrado o "não" até mesmo neste mundo,
porém mais tarde, sob a influência de Wittgenstein, resolveu ignorá-lo.
Vindas de Gõdel, essas são palavras incisivas, motivo por que estão
mofando até hoje numa pasta na Biblioteca Firestone.
Um pouco mais do ressentimento latente durante décadas veio à
tona - dessa vez intencionalmente - quando seu velho conhecido
dos tempos de Viena, Karl Menger, mostrou algumas passagens da obra
póstuma de Wittgenstein, Bemerkungen über die Grundlagen der
Mathematik [Observações sobre os fundamentos da matemática], em
que Gõdel é mencionado. 48 Escreve Menger:
No que diz respeito aos meus teoremas sobre proposições indecidíveis, a passa-
gem citada deixa claro que Wittgenstein não os entendeu (ou fingiu não entendê-
los). Ele os interpreta corno urna espécie de paradoxo lógico, quando na verdade
ocorre o contrário, a saber, um teorema matemático dentro de urna parte abso-
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INCOMPLETUDE
* Gõdel cita aqui uma observação entre parênteses na passagem 1, 17: "Die aberglaubis-
che Angst und Verehrung der Mathematiker von dem Widerspruch : O medo e veneração
supersticiosos dos matemáticos em face da contradição". Gõdel também escreveu para
Abraham Robinson, um jovem lógico matemático que Gõdel tinha em alta estima, que
o comentário de Wittgenstein sobre sua prova constitui uma "interpretação errônea,
totalmente trivial e desinteressante" de seus resultados.
100
CAPÍTULO 1. UM PLATÔNICO ENTRE POSITIVISTAS
coisa, porque ele sabia muito pouco a res_peito e o que sabia estava con-
finado à linha de produtos de Frege-Russell". 51 Kreisl também conde-
nou a influência transformadora de Wittgenstein sobre os estudantes,
inclusive ele próprio.)
Mas, num nível mais profundo do que os fundamentos da matemá-
tica, havia mais afinidade entre as idéias iniciais de Wittgenstein e o
resultado de Gõdel do que a compreensão (equivocada) que o Círculo
de Viena teve de Wittgenstein deixa transparecer. Wittgenstein na ver-
dade não foi positivista, como anunciou de modo insistente. E sua pro-
posição 7 do Tractatus representa uma versão de sua própria tese da
incompletude. Claro que, para apreciar plenamente a natureza do
desacordo e da afinidade entre Wittgenstein e Gõdel, é preciso enten-
der o que Gõdel de fato fez. Portanto, retornaremos à relação espinhosa
entre Wittgenstein e Gõdel mais tarde, após a apresentação das provas
dos teoremas da incompletude.
De qualquer modo, apesar da presença marcante de Wittgenstein
no círculo de homens entre os quais Gõdel passou seus anos intensa-
mente formativos, acaba sendo um mistério até que ponto o jovem
lógico e platônico convicto levou Wittgenstein a sério. Acima de Witt-
genstein se erguia a figura do matemático mais influente da época,
David Hilbert, uma figura que Gõdel não poderia descartar como
matematicamente incapaz. Como as de Wittgenstein, as idéias de Hil-
bert sobre a natureza da matemática não poderi~m ser mais incompa-
tíveis com o resultado matemático que o jovem Gõdel logo apresenta-
ria a um mundo pego de surpresa.
101
CAPÍTULO 2.
HILBERT E OS FORMALISTAS
A INTUIÇÃO DE UM MATEMÁTICO
102
CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
103
INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
uns dentro dos outros, quando necessários para provar com rigor perfeito um
teorema difícil sobre a continuidade de funções ou a existência de pontos de
acumulação? Quem dispensaria a figura do triângulo, o círculo com seu cen-
tro, ou a cruz de três eixos perpendiculares? 1
Dado que até o mais rigoroso dos matemáticos recorre a esses auxí-
lios da razão pura, pode acontecer de apelarmos, em nossa prova, a um
detalhe inteiramente acidental de nosso desenho, ou que os desenhos
dêem a impressão de que algo é de todo óbvio, quando na verdade não é.
Digamos, por exemplo, que você queira provar que os ângulos da
base de um triângulo isósceles são iguais. Apelando para o desenho l,
isso parece simplesmente óbvio, não precisando de prova. Ou digamos
que você queira provar que todos os ângulos de triângulos são agudos
(têm menos de 90 graus). Com essa "verdade" em mente, você só dese-
nha triângulos (desenho 2) que se conformem ao que quer provar.
Esses são os únicos triângulos que ocorrem a você.
Em outros campos do pensamento também - por exemplo, e
notoriamente, na ética - as pessoas podem ter a ilusão de "intuições".
Na ética, essas intuições ilusórias podem causar grandes tragédias no
mundo real. Einstein e Gõdel estavam naquele caminho tranqüilo em
Princeton porque parecia tão intuitivamente óbvio, a um grande
número de pessoas na Alemanha de Einstein e na Áustria d.e Gõdel, que
a coisa certa a fazer era purificar as nações arianas do mundo de seus
elementos não arianos. A matemática não é a única área onde as coisas
podem parecer intuitivamente óbvias e serem totalmente falsas. Mas a
matemática parece ser singular, porque ela, e só ela, parece oferecer um
método de depuração da verdade: o sistema axiomático. Não admira
que um racionalista como o filósofo do século xvu Spinoza, cuja famí-
lia de judeus portugueses estava vivendo em Amsterdã por motivos
semelhantes aos que trouxeram Einstein e Gõdel para Princeton, qui-
. sesse apropriar-se do método axiomático da matemática e aplicá-lo à
ética humana. O desejo de universalizar o rigor depurador da verdade
do método matemático é precisamente o que caracteriza o movimento
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Desenho 1
Desenho 2
CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
* Essas regras de inferência são leis perfeitas de herança de verdade. A verdade perten-
cente aos ancestrais (os axiomas) não pode deixar de ser legada aos descendentes (os
teoremas). Assim, se você sabe que todos os x's são P' s, e sabe que certo indivíduo, i, é um
x, então, pela regra de inferência conhecida como "instanciação universal': você sabe
que i é um P. Por exemplo, digamos que você tenha certeza de que todos os matemáti-
cos realizam sua obra principal antes dos quarenta anos, e sabe também que Gõdel era
um matemático. Então você sabe também que Gõdel realizou sua obra principal antes
dos quarenta anos.
107
INCOMPLETUDE
nunca têm o mesmo sucessor. Todos os três parecem triviais, que é exa-
tamente como queremos os nossos axiomas. Os axiomas são tão tri-
viais que podemos pressupor que sejam verdadeiros sem prová-los,
com todo o resto decorrendo deles, como uma enorme planta serpen-
teante brotando de uma simples semente. Se queremos que toda a vege-
tação luxuriante seja garantida, não pode haver nenhuma dúvida pos-
sível sobre a verdade dos axiomas - e este "nenhuma dúvida possível"
é basicamente o que queremos dizer com "intuitivamente óbvio" ou
"dado básico", "trivial" ou "auto-evidente".
Os teoremas de um sistema axiomático, por outro lado, só são
aceitos como verdadeiros depois de provados, derivados dos axio-
mas ou derivados de outros teoremas, mediante regras de inferência
que preservam a verdade. Vejamos uma analogia: os axiomas são
como os primogênitos clássicos nas famílias: adorados simples-
mente por existir. Os teoremas são os filhos que vêm depois, aqueles
que têm de provar serem dignos de aceitação. (Os primogênitos podem
ignorar a analogia. Para mim, terceira a nascer, a metáfora exerce
certa atração.)
Portanto, em um sistema axiomático (esses sistemas foram origi-
nalmente concebidos pelos gregos antigos, em particular, Euclides),
começamos com poucos axiomas ( quanto menos, melhor, porque
queremos apelar ao mínimo à intuição para maximizar a certeza). Em
vez de uma política libertária de "vamos confiar nas boas intenções
(intuições) dos cidadãos (matemáticos) para fazer a coisa certa", o sis-
tema axiomático impõe alguns controles "governamentais" rígidos.
Em vez dos apelos aleatórios a intuições, precisa haver um consenso
geral sobre quais são os dados básicos imediatos - o fundamento-,
com todo o resto sujeito à regulamentação da regra axiomática. Você
pode imaginar a axiomatização como uma espécie de "grande governo
da matemática". A motivação subjacente ao sistema axiomático é maxi-
mizar a certeza minimizando os apelos a intuições, restringindo-as aos
poucos axiomas não elimináveis. Mas estes são cruciais porque, afinal,
precisamos partir de algum ponto.
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CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
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INCOMPLETUDE
* O quinto dos cinco postulados de Euclides era o famoso postulado das paralelas,
segundo o qual, por qualquer ponto fora de uma reta, uma única reta pode ser dese-
nhada paralela à reta original. O próprio Euclides não ficou tão satisfeito com esse
último postulado, achando-o muito diferente dos demais, com sua referência velada ao
infinito, e sempre que pôde evitou empregá~lo em suas demonstrações. Por que o pos-
tulado das paralelas invoca o infinito? Duas retas são paralelas se, e somente se, nunca
se cruzam. Mas, se você tomar uma região finita do espaço, poderá traçar, por um ponto,
mais de uma reta paralela à outra linha (no sentido de não cruzar com ela). Portanto, o
postulado das paralelas faz referência implícita ao infinito, e quaisquer intuições sobre
o infinito despertam, com razão, desconfiança. A suspeita de Euclides sobre aquele ele-
mento de seu sistema (sua obra-prima intitulou-se Os elementos) perdurou ao longo
dos tempos, com diferentes matemáticos tentando converter o axioma problemático
em um teorema, deduzindo-o dos outros quatro axiomas. Até que, no século x1x, os
matemáticos mudaram de tática: tentaram mostrar que o quinto postulado decorria
dos outros quatro indiretamente, tomando os quatro e a negação do quinto para ver se
uma contradição poderia ser deduzida. Em vez de uma contradição, uma geometria
totalmente nova e consistente foi encontrada! Três matemáticos chegaram de modo
independente à geometria não euclidianas: o incomparável Carl Friedrich Gauss
(1777-1855), conhecido como "o príncipe dos matemáticos"; Nikolai lvánovitch
Lobatchevski (1792-1856); e o jovem János Bolyai (1802-60), o qual, ao topar com
aquele novo mundo matemático em 1823, escreveu ao pai, Farkas Bolyai, ele próprio
um matemático amigo de Gauss: "Descobri coisas tão maravilhosas que fiquei perplexo.
[... ] Do nada criei um estranho mundo novo". Quando lhe mostraram os resultados,
Gauss escreveu: "Considero esse jovem geômetra Bolyai um gênio de prin1eira gran-
deza". Mas teve de informar ao jovem gênio que ele não fora o primeiro a encontrar um
tal estranho mundo novo. O próprio Gauss o fizera, mas abafara os resultados por achá-
los controvertidos demais.
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CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
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INCOMPLETUDE
* O conceito matemático tão útil de função recursiva foi definido a primeira vez por
Gõdel em sua prova do primeiro teorema da incompletude.
** Apalavra deriva do nome do matemático persa do século rx Abu Ja'far Muhammad
ibn Musa al-Khwarizmi, que escreveu um importante livro de matemática em torno de
825 que se chamou Kitab al jabr w'al-muqabala [Livro da completude e do balancea-
mento]. Também derivamos nossa palavra "álgebra" do título de seu livro.
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CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
convicção com tão pouca inclinação para defendê-la pelos meios nor-
mais de que somos dotados, a saber, a fala.
A ironia é que, embora os teoremas de Gõdel fossem aceitos como
da máxima importância, os outros nem sempre ouviram o que ele ten-
tava dizer neles. Eles ouviram- e continuam ouvindo - a voz do Cír-
culo de Viena ou do existencialismo ou do pós-modernismo ou de
qualquer outra tendência em voga no século xx. Ouviram tudo, menos
o que Gõdel estava tentando dizer.
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 2. HILBERT E OIS FORMALISTAS
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
* Alusão ao poema "How do I love thee?", de Elizabeth Barrett Browning: "How do I lave
thee? Let me count the ways./ I lave thee to the depth and breadth and height! My sou! can
reach, when feelingoutof sight / For the ends ofBeingand ideal Grace." (N. T.)
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
Temos de admitir que o estado atual das coisas, em que topamos com os para-
doxos, é intolerável. Pense bem: as definições e métodos dedutivos que todos
aprendem, ensinam e empregam em matemática levam a absurdos! Se o pen-
samento matemático é falho, onde encontraremos verdade e certeza? 5
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INCOMPLETUDE
* Ao falarmos de sistemas formais até aqui neste livro, viemos falando de sistemas for-
mais finitários apenas, ou seja, sistemas formais com um alfabeto de símbolos finito ou
enumerável (ou contável), fórmulas de comprimento finito e regras de inferência
envolvendo apenas um número finito de premissas. (Os lógicos também trabalham
com sistemas formais com alfabetos não enumeráveis, fórmulas infinitamente longas e
provas com um número infinito de premissas.)
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CAPÍTULO 2. HILBERT E OS FORMALISTAS
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CAPÍTULO 3.
A PROVA DA INCOMPLETUDE
GÕDEL EM KÕNIGSBERG
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CAPÍTULO 3. A PROVA DA INCOMPLETUDE
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INCOMPLETUDE
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CAPÍTULO 3. A PROVA DA INCOMPLETUDE
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INCOMPLETUDE
coisa mais fácil que podemos dizer na lógica límpida é que algum indiví-
duo satisfaz algum predicado: P(a). Lemos isso como: P de a (P satizfaz
a). Um pouco mais complicado é afirmar que algum indivíduo a possui
uma relação particular com outro b: R(a b). Depois talvez queiramos
dizer algo como: existe um ou outro indivíduo que possui uma proprie-
dade particular. Isso é simbolizado como :3xP(x), que se lê: existe um x
tal que P de x. Ou talvez queiramos dizer que todos os indivíduos satisfa-
zem P. Na lógica límpida isso é simbolizado como (x)P(x), e se lê: dado
qualquer x, P dex. Uma proposição logicamente verdadeira, ou uma tau-
tologia, é aquela que é verdadeira para quaisquer significados que atri-
buirmos aos termos não lógicos. (Como "logicamente verdadeiro" faz
referência a significados-algo é logicamente verdadeiro se é verdadeiro
para quaisquer significados atribuídos aos seus termos não lógicos - ,
trata-se de uma noção semântica, e não sintática.)
Assim, por exemplo, suponhamos que queremos dizer que, se algo
satisfaz dois predicados específicos, então satisfaz um daqueles predi-
cados. O simbolismo seria:
(x) (P(x) e Q(x)) ~ Q(x)*
Isso se lê assim: dado qualquer x, se x tem a propriedade P ex também
tem a propriedade Q, então x tem a propriedade Q. Isso é logicamente
verdadeiro e gerará um monte de proposições verdadeiras, formadas
pela substituição de P e Q por significados particulares.
Eis outra proposição logicamente verdadeira da lógica límpida:
(x) (y) ((x=y)~ (P(x) ~P(y)))
Isso significa: para todo x, para todo y, se x é igual a y, então x tem a pro-
priedade P se e somente se y tem a propriedade P. Não é preciso quebrar
a cabeça para ver que isso tem de acontecer: se duas coisas na verdade não
são duas, mas a mesma, então todas as propriedades de uma são as pro-
* Observe o papel dos parênteses na pontuação da lógica límpida. -(p & q) ou "p e q não
são ambos verdadeiros" é uma proposição totalmente diferente de -p & q, ou "não p é
verdadeiro e q também". Assim, "o presidente não é ao mesmo tempo afável e estúpido"
não é a mesma afirmação que "o presidente não é afável, e ele é estúpido':
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* Godel escreveria a Wang muitos anos depois que sua prova da completude para o cál-
culo dos predicados - o problema de sua dissertação - também havia sido inspirada
por suas convicções platônicas: "O teorema da completude, matematicamente, não
passa de uma conseqüência quase trivial de Skolem 1922 ['Algumas observações sobre
a teoria dos conjuntos axiomatizada' ]. Contudo, o fato é que, naquela época, ninguém
(incluindo o próprio Skolem) chegou a essa conclusão. [ ... ] Tal cegueira é surpreen-
dente. Mas creio que a explicação não é difícil de encontrar. Reside numa falta generali-
zada, naquela época, da atitude epistemológica necessária em relação à metamatemá-
tica e ao raciocínio não finitário. O raciocínio não finitário em matemática só era
considerado amplamente significativo na medida em que pudesse ser 'interpretado' ou
'justificado' em termos da metamatemática finitária. (Observe-se que isso, na maior
parte, se revelou impossível em conseqüência de meus resultados e trabalhos subse-
qüentes.) De acordo com essa idéia, a metamatemática é a parte significativa da mate-
mática, através da qual os símbolos matemáticos (em si sem sentido) adquirem algum
substituto do significado, a saber, as regras de uso. Claro que a essência desse ponto de
vista é uma rejeição de todos os tipos de objetos abstratos ou infinitos, dos quais os sig-
nificados prima facie dos símbolos matemáticos são instâncias".2
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CAPÍTULO 3. A PROVA DA INCOMPLETUDE
Gõdel não deu nenhum sinal da revolução que ocultava sob a manga
até o último dia do congresso, reservado à discussão geral dos artigos
dos dois dias anteriores. Ele esperou até que a discussão geral estivesse
bem avançada e, então, mencionou, numa única frase perfeita, que
proposições aritméticas verdadeiras, mas não dedutíveis, eram possí-
veis, e ele provara que elas existiam:
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Gõdel começa sua prova expondo seu sistema formal, que consiste,
como todos os sistemas formais, em um alfabeto de símbolos, regras
para combinar esses símbolos em fórmulas bem formadas, um con-
junto especial de fórmulas chamado "axiomas" e um aparato dedutivo
para deduzir ( como "conseqüências lógicas") fórmulas de outras fór-
mulas que devem ser axiomas ou conseqüências de axiomas.
Na maioria dos sistemas da lógica formal, convém dispor de símbo-
los para "e" (conjunção) e "ou" (disjunção), bem como para as expres-
sões "se ... então ..." (implicação material) e"... se e somente se ..." (equi-
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* A ópera Os palhaços é sobre uma trupe de comediantes numa aldeia. No segundo ato,
eles encenam uma peça dentro da ópera. Em meio à peça acontece uma tragédia da "vida
real" - ou seja, teatro e "realidade" se confundem. (N. T.)
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* Compare-se isso com o paradoxo de Richard (nota de rodapé anterior), que Gódel
cita, junto com o paradoxo do mentiroso, como uma ajuda heurística para entender a
prova. O paradoxo de Richard também dá a sensação (ilusória) de atribuir uma pro-
priedade forjada, ou irreal, aos números (a propriedade de ser richardiano), que um
número terá ou não devido às atribuições arbitrárias de números a propriedades.
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Trabalhar com o infinito só pode se tornar seguro através do finito. O papel que
resta para ser desempenhado pelo infinito é puramente o de uma idéia -
entendendo-se por uma idéia, na terminologia de Kant, um conceito da razão
que transcende toda experiência e que completa o concreto como uma totali-
dade-, o de uma idéia, ademais, em que podemos confiar firmemente dentro
do arcabouço erigido por nossa teoria. 8
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A DIFUSÃO DA INCOMPLETUDE
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* O lógico Stcphen Kleene, por exemplo, contou como Gódel "entrou na minha vida
intelectual. [... ] Um dia, no outono de 1931, o orador no colóquio de matemática de
Princeton foi John von Neumann. Em vez de falar de seu próprio trabalho (que era
abundante), ele abordou os resultados do artigo de 1931 de Gódel, que acabara de sair
na Monatschafte, mas que Church e nós em seu curso ainda não havíamos notado. Von
Neumann tivera uma prévia da primeira daquelas verdades (acompanhada de um
intercâmbio intelectual com Gódel) no encontro de Kónigsberg de setembro de 1930.
Após o colóquio, o curso de Church continuou se concentrando em seu sistema formal;
mas como atividade paralela lemos o artigo de Gõdel, que me revelou todo um mundo
novo de idéias e perspectiva fascinantes. A impressão que aquilo causou em mim foi
ainda maior devido à concisão e incisividade do tratamento de Gódel". 15
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que possuímos não pode ser captado em um sistema formal. É isso que
o primeiro teorema da incompletude de Gõdel parece informar. Mas
são os sistemas formais que captam a computação dos computadores,
razão por que conseguem descobrir as coisas sem recorrer a quaisquer
significados. Os computadores funcionam de acordo com algoritmos,
o que aparentemente não acontece conosco, donde se conclui que nos-
sas mentes não são computadores.
O primeiro dos argumentos que alegam uma ligação entre o pri-
meiro teorema da incompletude de Gõdel e a natureza da mente foi
publicado em 1961 pelo filósofo de Oxford John Lucas:
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FLAMINGO COR-DE-ROSA
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* No Nachlass, existe uma folha de papel em que Godel listou, provavelmente em 1970
de acordo com Hao Wang, toda a sua obra inédita, a partir de 1940. 2 Ela diz mais ou
menos isto:
1. Cerca de mil páginas estenográficas de 15 X 20 cm de anotações filosóficas ( = afir-
mações filosóficas) claramente escritas.
2. Dois artigos filosóficos quase prontos para publicação. [Seu artigo sobre a relativi-
dade e a filosofia de Kant e seu artigo sobre sintaxe e matemática, originalmente
escrito para o Festschriftde Carnap, mas nunca publicado.]
3. Alguns milhares de páginas de fragmentos filosóficos e [anotações sobre] literatura.
4. As provas claramente escritas dos meus [seus] resultados ontológicos.
5. Cerca de seiscentas páginas claramente escritas de resultados, perguntas e conjectu-
ras de teoria dos conjuntos e lógica ( até certo grau superados por evoluções recentes).
6. Muitas anotações sobre intuicionismo e outras questões fundamentais.
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O que, porém, mais do que qualquer outra coisa, justifica a aceitação desse cri-
tério de verdade na teoria dos conjuntos é o fato de que apelos constantes à
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intuição matemática são necessários não apenas para obter respostas inequívo-
cas às perguntas da teoria dos conjuntos transfinitos, mas também para a solu-
ção dos problemas da teoria dos números finitária (do tipo da conjectura de
Goldbach [que, você deve lembrar, afirma que todo número par maior que dois
é a soma de dois primos]), em que o sentido e a exatidão dos conceitos estão
acima de quaisquer dúvidas. Isso decorre do fato de que, para todo sistema axio-
mático, existe um número infinitamente grande de proposições desse tipo.
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Gõdel estava mais reservado do que nunca após seu retorno dos Estados
Unidos; mas ele ainda conversava com os visitantes do Colóquio. [... ] Com
todos os membros do Colóquio, Gõdel foi generoso com opiniões e conse-
lhos em questões matemáticas e lógicas. Ele sistematicamente percebia pon-
tos problemáticos com rapidez e minúcia e dava respostas com a máxima pre-
cisão e o mínimo de palavras, muitas vezes revelando aspectos novos ao
perguntador. Ele expressava tudo isso como se fosse tudo algo natural, mas
muitas vezes com certa timidez, cujo encanto despertava o calor humano em
muitos ouvintes. 5
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Viena. Ele estava contrariado porque sua Dozentur corria o risco de ser
revogada pela Nova Ordem, e achou que deveria voltar correndo para
garantir que seus direitos não fossem violados. Menger, um admirador
de Gõdel, ficou decepcionado.
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Sua mãe teria que vir para Princeton, como fez várias vezes, para se
verem de novo. Na verdade, ao contrário do acadêmico peripatético
típico, ele raramente, nos próximos 38 anos de vida, saiu do município
de Princeton.
Nem sequer conseguiram convencer Gõdel a fazer o trajeto, facil-
mente percorrível a pé, até a Universidade de Princeton, quando, em
1975, esta enfim lhe ofereceu um título de doutor honoris causa. Ele já
possuía este título de Harvard, Yale, Amherst e Rockefeller. Foi basica-
mente pelos esforços de Paul Benacerraf que a universidade decidiu
reconhecer o gênio que se tornara uma espécie de Greta Garbo do
mundo intelectual, em seu desejo de não ser incomodado. Entretanto,
com a aproximação do dia da cerimônia, o prazer inicial de Gõdel deu
lugar à sua tergiversação bem mais característica, que continuou até a
manhã do evento. Benacerraf e Simon Kochen ofereceram-se para
levá-lo de carro à cerimônia e cuidar de todas as outras preocupações,
mas Gõdel acabou não comparecendo à homenagem. Talvez ele esti-
vesse aborrecido por ela ter vindo tarde demais. "Dez anos atrás", ele
contou a Morgenstern, "tal coisa [... ] teria sido apropriada." A única
condição para se receber o título de doutor honoris causa é comparecer
à cerimônia. Portanto, embora no programa constasse que Gõdel rece-
bera o título de Doutor em Ciência, o programa mentiu. Ali, porém,
está a citação amável:
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Assim que este adentrou o carro, Einstein, sem lhe dar nenhuma
chance de falar, saudou-o com uma piada.
"Você está preparado para sua penúltima prova?"
"O que você quer dizer com 'penúltima'?"
"Muito simples. A última será quando você entrar no seu túmulo."
Humor do Velho Mundo.
Einstein continuou contando uma história após a outra, inclusive
uma sobre um recente caçador de autógrafos. Ele observou que tais
pessoas são os últimos dos canibais, pois procuram se apossar das
almas de quem eles ingerem. Assim, os três membros do Instituto de
Estudos Avançados conseguiram chegar ao palácio da Justiça Federal
de Trenton. Havia vários candidatos na frente, de modo que Einstein se
resignou a continuar suas brincadeiras diversionistas. Mas por sorte
descobriram que o juiz, de nome Philip Forman, era o mesmo que
ministrara o juramento de cidadania a Einstein alguns anos antes, e ele
conduziu imediatamente os três homens à sua sala.
Einstein e Forman conversaram um pouco e Gõdel, sentado tran-
qüilo e esperando a sua vez, parecia ter sido esquecido. Mas Forman
acabou chegando ao que interessava.
"Até agora você teve a cidadania alemã."
De imediato, Gõdel corrigiu o erro do juiz: cidadania austríaca.
Devidamente corrigido, o juiz prosseguiu.
"De qualquer modo, foi sob uma ditadura cruel. Por sorte, isso não
é possível nos Estados Unidos."
Aquela era exatamente a deixa pela qual o lógico aguardava.
"Pelo contrário", objetou ele. "Sei precisamente como isso pode
acontecer aqui", e começou sua exposição sobre a falha na Constitui-
ção. Forman, Morgenstern e Einstein trocaram olhares significativos, e
o juiz interrompeu a peroração de Gõdel com um sumário "Não há
necessidade de entrar nesses detalhes" e conduziu a conversa para
temas menos perigosos. Algumas semanas depois de prestar o jura-
mento, Gõdel descreveu Forman, em carta para a mãe, como "uma pes-
soa bem simpática".
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CAPÍTULO 4. A INCOMPLETUDE DE GÕDEL
A morte de Einstein claro que foi um grande choque para mim, pois eu não a
esperava. Exatamente nas últimas semanas Einstein deu a impressão de estar
completamente saudável. Ao caminhar comigo por meia hora até o instituto,
ao mesmo tempo que conversava, não mostrava nenhum sinal de fadiga, ao
contrário do que acontecera em muitas ocasiões anteriores. Em termos pes-
soais, perdi muito com a sua morte, especialmente porque, em seus últimos
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INCOMPLETUDE
dias, ele me tratava ainda melhor do que antes, e tive a sensação de que queria
se abrir mais do que antes. Ele preferia não compartilhar muitos dos seus pro-
blemas pessoais. Naturalmente meu estado de saúde piorou durante a última
semana, em especial o sono e o apetite. Mas tomei uma pílula forte para dor-
mir algumas vezes e estou agora mais sob controle.
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A lógica era simplesmente estranha. Não podia haver discussão, nem mesmo
uma forma comum de discutir o assunto. Ele estava sempre a favor da autori-
dade. Deane Montgomery e eu estávamos conversando com Gõdel, e a lógica
era totalmente absurda. Ali estava um homem que teve de fugir dos fascistas no
poder na Áustria. No entanto, por sua lógica, não se deve desafiar a autoridade.
A lógica era simplesmente absurda. A situação no departamento ficou tão
ruim que decidimos, por unanimidade, que dali em diante a lógica seria tra-
tada em separado.
O que isso significava era que Gõdel não seria mais incluído nas dis-
cussões dos matemáticos sobre nomeações: ele deixou de receber os
currículos dos candidatos, sua opinião não foi mais solicitada, nem
esteve mais presente nas reuniões. Foi exilado no seu próprio campo: a
lógica. Ele decidiria sobre a nomeação de lógicos, junto com o matemá-
tico Hassler Whitney.
Isso foi em 1961, e depois daquilo quase toda conversa entre Gõdel e
os demais matemáticos cessou. Apenas Whitney manteve certo contato
com Gõdel. E o contato era somente do tipo mais profissional, tal como
Gõdel queria.No serviço religioso em memória de Gõdel, Whitney lem-
brou que, certa vez, ao fazer uma visita a Gõdel, este ficou surpreso, já
que nenhum "assunto preciso" trouxera Whitney à sua porta.
Gõdel também desenvolveu uma forte preferência por realizar todas
as conversas pelo telefone. Ainda que um colega estivesse a curta distân-
cia de seu escritório no instituto, Gõdel pedia que usasse o telefone.
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* Alguns meses após a palestra, Robinson sucumbiu ao câncer pancreático, uma morte
que, segundo os relatos, abalou Gõdel.
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Hoje[ ...] Kurt Gõdel telefonou de novo[ ... ] e falou comigo uns quinze minu-
tos. [... ] Após perguntar rapidamente como eu estava e afirmar que[ ... ] meu
câncer não apenas seria detido, mas recuaria [... ] passou a falar de seus próprios
problemas. Ele afirmou que os médicos não estão dizendo a verdade a ele, que
eles não querem lidar com ele, que ele está numa situação crítica (exatamente o
que me contou, com as mesmas palavras, algumas semanas atrás, alguns meses
atrás, dois anos atrás), e que eu devia ajudá-lo a se internar no Hospital Prince-
ton. [... ] [Ele] também me garantiu que[ ... ] talvez dois anos atrás, dois [... ]
homens apareceram alegando ser médicos. [... ] Eles eram trapaceiros [que]
estavam tentando interná-lo no hospital[ ...] e ele[ ... ] teve grande dificuldade
em desmascará-los. [... ] É difícil descrever O" que tal conversa [... ] significa para
mim: eis um dos homens mais brilhantes do nosso século, muito ligado a mim,
[... ] [que] está claramente com uma perturbação mental, sofrendo de certo tipo
de paranóia, contando com minha ajuda,[ ... ] e eu não consigo dar essa ajuda.
Mesmo quando eu podia me locomover e tentava ajudá-lo[ ... ] não conseguia
nada. [... ] [Agora,] ao se agarrar a mim - e ele não tem mais ninguém, isso está
claro - ele aumenta o fardo que estou carregando. 17
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Num dos últimos telefonemas antes de sua morte (em julho de 1977), Mor-
genstern descreveu um fato que me despertou lembranças de acontecimentos
que, tempos atrás, haviam de algum modo me afastado de Gõdel* - mas
despertou-as por seu contraste com aquelas lembranças, de modo que a histó-
ria de Morgenstern me comoveu muito. De novo, estavam em questão os direi-
tos de Gõdel, em que sua meticulosidade não conhecia limites. O que aconte-
ceu foi que Gõdel, aparentemente muito doente, procurou o Hospital
Princeton e foi admitido, mas logo depois insistiu que não tinha direito a um
dos benefícios oferecidos, já que sua apólice de seguro não o previa. Ele por-
tanto se recusou a aceitar o benefício. Os detalhes do caso me escapam agora,
embora eu esteja claramente convencido de que a lógica de Gõdel, ao interpre-
tar o contrato de seguro, foi superior à do hospital. Mas seja o que for, em sua
precisão jurídica, Gõdel inabalavelmente defendeu sua posição.
* Menger se refere aqui à indignação de Gõdel porque seus direitos como docente uni-
versitário haviam sido ameaçados pelo Terceiro Reich.
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CAPÍTULO 4. A INCOMPLETUDE DE GÕDEL
ria da prova, a teoria dos modelos, a teoria da recursão, a teoria dos con-
juntos, a lógica intuicionista, todas haviam sido transformadas pelo
trabalho de Gõdel ou, em certos casos, se originaram desse trabalho.
Kochen então comparou o trabalho de Gõdel com o de Einstein, em
termos da forma como ambos resultaram da reflexão profunda sobre
os fundamentos. "Aquela foi uma comparação óbvia de se fazer",
Kochen me contou.
O mais surpreendente é que ele também comparou o trabalho de
Gõdel com o de Kafka, sem saber que o próprio Gõdel admirava o escri-
tor.* Ambos os homens combinaram sua inclinação fortemente "lega-
lista", nas palavras de Kochen, com uma capacidade sobrenatural,
quase surreal, de criar mundos independentes, mundos que podem
parecer, à primeira vista, contrários à lógica, mas que se compõem do
próprio material da lógica. "Existe um quê de Alice no País das Mara-
vilhas no trabalho de ambos os homens", disse-me Kochen.
Kochen contou-me que, se tivesse tido tempo para preparar suas
observações, é provável que jamais tivesse feito a analogia com Kafka.
Só porque teve de produzir algo rapidamente é que lançou mão
daquela vaga impressão que o trabalho de Gõdel sempre lhe dera, mas
na qual nunca se aprofundara. Mas todos com quem falei que estive-
. ram presentes ao serviço 'em memória de Gõdel se lembram da obser-
vação de Kochen. A comparação com Kafka, outra mente sui generis da
Europa Central, conseguiu captar algo de surpreendente e verdadeiro.
* Godel escreveu para sua mãe, em 4 e 19 de julho de 1962, sobre sua "descoberta
recente" do "poeta moderno': Franz Kafka. Godel também apreciava pintura abstrata
e surrealista. Em outros aspectos, seus gostos culturais são notáveis pelo infantilismo.
Além de preferir contos de fadas a Goethe e Shakespeare, escrevendo à mãe que
somente naquelas histórias o mundo está representado como deveria, também era fã
d9s filmes de Disney e viu Branca de Neve pelo menos três vezes.
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CAPÍTULO 4. A INCOMPLETUDE DE GÕDEL
* Um artigo no New York Times, publicado, de modo bem apropriado, no dia do Ano-
Novo, delineou admiravelmente o fosso entre o tempo subjetivo e objetivo: "Cem anos
atrás, faltavam ainda dezoito meses para a descoberta da relatividade restrita, e a ciên-
cia adotava a descrição newtoniana do tempo. Agora, porém, a noção de tempo da física
moderna opõe-se claramente àquela que a maioria de nós internalizou. Einstein rece-
beu a incapacidade da ciência de confirmar a experiência familiar do tempo com uma
'resignação dolorosa mas inevitável'. Os progressos desde a sua era apenas ampliaram a
disparidade entre a experiência comum e o conhecimento científico.A maioria dos físi-
cos lida com essa disparidade compartimentalizando: existe o tempo entendido cienti-
ficamente, e existe o tempo experimentado intuitivamente. Durante décadas, procurei
trazer minha experiência para mais perto de minha compreensão". 21
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INCOMPLETUDE
presente e futuro. Ou, como Einstein contou a Rudolf Carnap, "a expe-
riência do agora significa algo especial para o homem, algo essencial-
mente diferente do passado e futuro, mas essa diferença importante
não ocorre, nem pode ocorrer, dentro da física".
Entendendo a teoria da relatividade como se implicasse a inexistência
de um agora absoluto que flui numa onda implacável de temporalidade,
Einstein, vivendo "sob a espada de Dâmocles': parece confortar-se em sua
visão de uma objetividade física não flexionada. Em carta de condolên-
cias à viúva de Michele Besso, seu velho amigo e colega físico, Einstein
escreveu: "Ao deixar este mundo estranho, ele mais uma vez me precedeu
por pouco. Isso não significa nada. Para nós, físicos convictos, a distinção
entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão, embora persistente':
É uma visão de objetividade impessoal suficiente para tornar
menos amargo, pelo menos para Einstein, um dos pensamentos mais
desagradáveis: o pensamento de nossa própria morte pessoal. A impas-
sibilidade de Einstein nos lembra, em sua transcendência, a morte de
Sócrates, que tanto inspirou Platão e, através de Platão, toda a civiliza-
ção ocidental. Trata-se de realismo científico levado a alturas heróicas.
O físico que discutiu o sentido do tempo em suas caminhadas diárias
com o lógico estava morrendo, e sabia disso.
Gõdel, não menos que Einstein, acreditava que o tempo é bem dife-
rente do que parece para nós. Sua personalidade pode não ter sido do tipo
que permitisse usar sua visão do tempo para superar os temores- reais
e imaginários- que atormentavam sua existência mortal, mas talvez
essa visão tenha oferecido algum grau de consolo. Seu próprio trabalho
em teoria da relatividade forneceu-lhe um modelo do tempo de que
parece ter gostado profundamente, por se harmonizar com a própria
essência do homem, à semelhança de sua adoção do platonismo.
Gõdel, é claro, tinha um antigo interesse em física. Ele ingressara na
Universidade de Viena pretendendo estudar física, o que fez nos primei-
ros dois ou três anos de estudante, antes de mudar para a matemática.
Seu relacionamento com Einstein reavivou o antigo interesse em física,
e a certa altura Gõdel começou a refletir sobre a teoria da relatividade.
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CAPÍTULO 4. A INCOMPLETUDE DE GÕDEL
* Schilpp havia abordado Gõdel pela primeira vez em 1946 para que contribuísse com
um ensaio naquele Festschrift em homenagem a Einstein. Gõdel imediatamente con-
cordou, mas a entrega do artigo definitivo sofreria muitos adiamentos. Schilpp esperava
ter seu volume pronto para o septuagésimo aniversário de Einstein (14 de março de
1949). Gõdel só terminou seu artigo um mês antes e mesmo então não o entregou.
Schilpp fez Gõdel concordar em presentear Einstein com o artigo na festa de aniversá-
rio de gala oferecida a ele no Princeton Inn em 19 de março. Pouco depois, Schilpp rece-
beu ·uma cópia do artigo.
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INCOMPLETUDE
Constatamos que ele próprio, como um passo preliminar para obter alguns
indícios, havia apanhado o grande atlas das galáxias de Hubble. Gõdel, que
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CAPÍTULO 4. A INCOMPLETUDE DE GÕDEL
você imagina como o matemático dos matemáticos, pegara uma régua, obti-
vera o ângulo, calculara uma estatística daqueles números e concluíra que,
dentro da margem de erro estatística, não existia um sentido de rotação prefe-
rencial. [... ]
Cerca de um ano após nossa visita a Gõdel, eu estava no fim do corredor
aqui, no escritório de Jim Peebles [um astrofísico proeminente de Princeton]
conversando sobre cosmologia, quando um estudante entrou e atirou na mesa
um calhamaço. "Aqui está, professor Peebles!" Então eu disse para ele: "O que
é isto?': Ele respondeu: "É minha tese". "Sobre o quê?" "É sobre a possível exis-
tência de um sentido de rotação preferencial nas galáxias:' "Que maravilha",
disse eu, "Gõdel ficará muito contente:' "Quem é Gõdel?" "Veja bem': respondi,
"se você o chamar de o maior lógico desde Aristóteles, ainda será pouco." "Você
está brincando?" "Não, não estou." "Em que país ele vive?" "Bem aqui em Prin-
ceton", respondi. Então peguei o telefone e liguei para Gõdel, encontrei-o em
casa e contei sobre aquilo. Logo suas perguntas chegaram num ponto em que
eu não conseguia responder. Passei o fone para o estudante, e logo elas chega-
ram ao ponto em que ele não conseguiu responder. Ele passou o fone para Pee-
bles, e quando Peebles enfim desligou, disse: "Puxa, deveríamos ter conversado
com Gõdel antes de realizar o trabalho". 24
217
INCOMPLETUDE
Ele também procurou (sem conseguir obter) uma epifania (uma revelação ou
iluminação súbita) que lhe permitisse ver o mundo a uma luz diferente. (Em
suas con~ersas comigo, ele disse várias vezes que Platão, Descartes e Husserl
tiveram tal experiência.)26
218
CAPÍTULO 4. A INCOMPLETUDE DE GÕDEL
219
NOTAS
221
INCOMPLETUDE
222
NOTAS
223
INCOMPLETUDE
31. "Os pensamentos suicidas recorrentes de Wittgenstein entre 1903 e 1912, e o fato de
que esses pensamentos só diminuíram depois do reconhecimento de sua geniali-
dade por Russell, indicam que ele aceitou esse imperativo (de Weininger) em todo
o seu rigor assustador." Monk, op. cit., p. 25.
32. Jaakko Hintikka, op. cit., p. 3. Hintikka fala aqui de modo mais amplo, não só da
lógica; ele está falando de toda a matemática.
33. Remarks on the foundations of mathematics. Cambridge, MA: MIT Press, 1967, p. 11 O.
34. Ele escreve, por exemplo: "A maldição da invasão da matemática pela lógica mate-
mática é que agora qualquer proposição pode ser representada em simbolismo
matemático, e isso faz com que nos sintamos obrigados a entendê-la. Embora esse
método de escrita não passe de uma tradução obscura de prosa banal". Wittgenstein,
op. cit.,p.155.
35. Monk, op. cit., p. 243.
36. Eckehart Kõhler, "Gõdel and the Vienna Circle: platonism versus formalism", em
History oflogic, methodology, and philosophy ofscience, seção 13. Vienna Institute for
Advanced Studies. Mais tarde citado em S: G. Shanker (org.), Godel's theorem in
focus. Londres: Croom Helm, 1988.
37. Citado em Janik e Veigl, op. cit., p. 63.
38. Monk, op. cit., p. 284.
39. Feigl, op. cit., p. 638.
40. Menger, op. cit., p. 66.
41.Ibid.
42. Carta a Ludwigvon Ficker, citada em Monk, op. cit., p. 178. A carta está sem data, mas
Monk informa que quase certamente foi escrita em 19 de novembro de 1919.
43. Menger, op. cit., p. 201.
44. Feigl, op. cit., p. 640.
45. A logical journey from Godel to philosophy. Cambridge, MA: MIT Press, 1996.
46. Bertrand Russell para Ottoline Morrell, 23 de abril de 1912.
47. Fania Pascal, "Wittgenstein: a personal memoir ", em Recollections ofWittgenstein, R.
Rhees (org.). Oxford: Oxford Press, 1984, pp. 28-9.
48. Menger, op. cit., p. 230.
49. A passagem está em Observações sobre os fundamentos da matemática, apêndice 1,
p. 19: "Você diz: [...],portanto Pé verdadeiro e improvável. Isso presumivelmente
significa: Portanto P. Tudo bem para mim - mas com que finalidade você escreve
essa 'afirmação'? (É como se alguém tivesse extraído de certos princípios sobre for -
mas naturais e estilo arquitetônico a idéia de que no monte Everest, onde ninguém
consegue viver, caberia um chalé no estilo barroco.) Como tornar a verdade da afir-
mação plausível para mim, se ela não tem nenhuma utilidade a não ser esses peque-
nos truques lógicos?".
50. Menger, op. cit.,p. 231.
51. Georg Kreisl, "Wittgenstein's 'Remarks on the foundations of mathematics"'. British
Journal for the Philosophy of Science, rv, 1958, pp. 143-4.
224
NOTAS
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NOTAS
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SUGESTÕES DE LEITURA
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SUGESTÕES DE LEITURA
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INCOMPLETUDE
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AGRADECIMENTOS
Se falta alguma coisa a Tina Bennett para ser a agente literária perfeita, é
algo que não consegui descobrir. O projeto atual serviu para revelar
aspectos novos das formas de Tina apoiar irrestritamente seus escritores.
Sou extremamente grata às seguintes pessoas que compartilharam
comigo suas lembranças de Kurt Gõdel: John Bahcall, Paul Benacerraf,
Armand Borel, Thomas Nagel, Morton White. Todos me dedicaram
um tempo enorme. Simon Kochen, além de falar longas horas comigo,
também leu generosamente meus originais, detectando alguns erros
técnicos, pelo que sou profundamente grata, e respondendo a consul-
tas adicionais por e-mail. Berel Lang também leu os originais, e seus
comentários, também, foram profundos, substantivos e úteis.
Agradeço a John Dawson não apenas pelo trabalho hercúleo que
realizou como arquivista de Gõdel, que possibilitou o trabalho de
todos os estudiosos subseqüentes, mas também às suas respostas ime-
diatas a todas as perguntas que surgiram.
Como sempre, o físico-filósofo Sheldon Goldstein teve idéias que
foram preciosas. Ele, mais que ninguém, me ajudou a retornar à lógica
231
INCOMPLETUDE
· matemática. Aposto que não há ninguém neste mundo capaz como ele
de lembrar alguém da beleza e elegância do pensamento abstrato. Ste-
ven Pinker generosamente leu alguns capítulos ainda incipientes,
quando eu estava treinando a "escrita técnica popular", e seus comen-
tários e encorajamentos me deram a maior força. E, quando quase
desisti, Yael Goldstein calmamente me fez voltar ao teclado, oferecendo
o tipo de conselhos sábios e críticas e orientação substantivas sem os
quais este livro não teria sido escrito.
Por isso, dedico este livro a ela, com gratidão, amor e admiração.
232
ÍNDICE REMISSIVO
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INCOMPLETUDE
234
ÍNDICE REMISSIVO
Eisenhower, Dwight D., 26 Frege, Gottlob, 47, 68-9, 77, 81, 94, 101,
Elementos (Euclides), 110 109,122,183,225
empirismo, 65,223 Freud, Sigmund, 59- 60
Encyclopedia ofphilosophy, 20, 22 From a logícal point ofview (Quine), 180
Epimênides, 140 From mathematics to philosophy (Wang),
epistemologia, 21, 23-5 94,225
Equivalents ofthe axiom ofchoice (Rubin Fuld, sra. Felix:, 12-4, 28, 199-200, 212
e Rubin), 189 "Fundamentos intuicionistas da mate-
Estrutura das revoluções científicas, A mática, Os" (Heyting), 125
(Kuhn), 136 Furtwangler, Phillip, 49, 52, 98, 173,
Euclides,108,109,116,157,189 187
evolução, 27, 168
existencialismo, 115, 159 galáxias, rotação das, 216-7
experimentos de pensamento, 55-6 Gauss, Carl Friedrich, 11 O
Geertz, Clifford, 203
Fackel, Die, 60 Gentzen, Gerhard, 156
Feferman, Solomon, 222 geometria,52,62, 72,81, 107,109,111,
Feigl, Herbert, 70-2, 89, 92, 93, 115, 116, 120, 189
135,180,191,223-4 geometria não-euclidiana, 110
Fermat, Pierre de, 131 Gõdel, Adele Nimbursky (Porkert),
Fermat, último teorema, 131 187-9,192-3,208,209
filosofia, 17, 20, 24, 32, 39, 50, 52, 58, 60, Godel, Escher, Bach: Um entrelaçamen-
62,64,68, 74,80,83,85-7,92,96, to de gênios brilhantes (Hofstadter),
98,99, 100,114,164,170, 178-81, 23
194, 218 Gõdel, Kurt: "axioma interessante", 17,
física, 16, 17, 24-5, 29, 31, 34.,9, 49-50, 18,25,26,40, 198;ambição,25, 40,
55,58,68,72,74,103,124,171,180, 43,51,54,100,158,164,187,217-8;
182,192,199,213,214,217 antecedentes alemães, 45-9, 105;
Flexner,Abraham, 12-7,28, 184, 192-3, aparência física, 12, 178, 191-2;
199,205 auto-inanição, 178, 208-9; casa-
formalismo, 20, 39, 113, 115-6, 118, mento, 28,175, 188-9, 192-3,209;
120,122,125,136-7,141,158,166- como cidadão norte-americano,
7,184 46, 195-6; como exilado político,
Forman, Philip, 196 ll -2,29,45,49,105,l84-6,l89-96;
fórmulas, 72,111,120,122,142, 144-7, como lógico,, 17 -20, 26, 40-3, 48-50,
151,153 55,63-4,98, 117,177,184, 195-6,
Francisco José, imperador da Áustria, 198,201,21 7; como platônico, 37-
59 40,50,52-4,62-3, 73-4,88,93-5,98,
Frayn, Michael, 31, 222 99,130,156,162,164, 179,181-4,
235
INCOMPLETUDE
236
ÍNDICE REM ISSIVO
Hintikka, Jaakko, 55-6, 83, 124, 222, K. -K. Staatsrealgymnasium mit deuts-
224-5 cher Unterrichtssprache, 49
Hirshfeld, Leon, 190 Kafka, Franz, 143,211
"História da família Gõdel" (R. Gõdel), Kant, Immanuel, 62, 15 7, 179
46 Kaysen, Karl, 177, 203-5
História da filosofia ocidental (Russell), Kesten, Herman, 5 7
86 Khwarizmi,Abu Ja'far Muhammad ibn
Hitler,Adolf, 11,189,191 Musa al-, 112
Hofstadter, Douglas, 23 Kleene,Stephen,165,210,226
Homem sem qualidades, O (Musil), 49 Klepetaf, Harry, 49
Hõrmann, Theodor, 59 Kochen,Simon,20,143,158,194,202,
Hume, David, 65 210,211
Kraus, Karl, 57, 60
Império dos Habsburgo, 45, 58 Kreisl, Georg, 100--1, 224
infinito, 110, 117, 121-2, 156-7, 166-7, Kuhn, Thomas, 136,164,225
189
instanciação universal, 107 Language, truth, and logic (Ayer ), 74, 180
Instituto de Estudos Avançados: direto- Leibniz, Gottfried Wilhelm, 23, 27, 40-
res, 16-7,28, 177,184,193, 199-200, l, 52,116,176, 198, 206-7
203 -5; Einstein como membro, Leoncavallo, Ruggero, 149
16-7, 40, 196-9; exilados políticos, Lewis, Clarence I., 69
11-2, 29; faculdade de matemática, linguagem: "jogos" de, 34, 85; abstra-
14-7, 26, 136, 165, 193, 198-205; ção e, 11, 60-1, 66, 133; paradoxos,
fundação, °12-3; Gõdel como mem- 42, 86-7, 160; significado e, 66, 72-
bro, 12, 17-9,26-8,40,174, 177-8, 3, 93, 127-30;sintaxe, 72-3,84,87,
181, 184, 187-9, 193-4, 197-209; 91,95,160;verdadee,83,88,160
nomeações para, 193, 198-205 Lobatchevski, Nikolai Ivánovitch, 110
inteligência artificial, 170 lógica: "límpida", 127-30, 134, 186-7;
Introdução à filosofia matemática (Rus- contradição na, 77, 79, 85-6, 100,
sell), 99 113 -4, 118-20, 162, 166; dedução
intuição, 29, 34, 84, 102-4, 108-14, 157, na,34,47, 115, 121, 142;formal,20,
167, 182-3 68, 77, 96, 142,202; natureza abs-
intuicionismo, 121, 125, 179 tratada,60,66,99, 130, 168-73,218;
Irrational man: A study in existentialist natureza sintática, 72-3, 84-5, 87,
philosophy (Barrett) , 33 91,95, 128-30, 138, 144-5, 148-9,
153-4, 159-60; paradoxos na, 41-2,
jogo,85,103,113,115,120,160,166 55-6, 76-8,83-4,86-7,99- 100,120-
judeus,67,82,98,105,190-2 l, 123, 138,140, 152, 156,160,162,
166-7; predicados na, 126-30; pro-
237
INCOMPLETUDE
posições na, 37, 66, 71-2, 78, 82-7, 130, 142, 167; teor descritivo, 72-4,
127-30; provas na, 122, 166; regras, 93, 115, 119, 158; teoremas, 99, 107-
84-6, 129-30; silogística, 47; simbó- 8, 111, 113-4, 119, 169; verdade da,
lica, 69, 145-6; tautologias na, 72, 72-3, 82-6, 91-3, 116, 118-9, 125,
83-4, 90, 104, 125, 127; variáveis na, 133-4, 159, 172-3; ver também arit-
127-8, 146;verdadena,37-8,42,82- mética; geometria; lógica
6, 98, 99, l28-30, l66, 224 Mathematician's apology, A (Hardy), 39
"Logical positivism: a new movement Mauthner, Fritz, 87
in European philosophy" (Blum- mecânica quântica, 32, 34, 37, 171
berg e Feigl), 71 Medalha Fields, 39
Loos, Adolph, 60-1 Mendel, Gregor, 45
Lucas, John, 169-70, 178,226 Menger, Karl, 70, 93, 99, 126, 133, 185,
luz, propriedades, 29, 38, 72 189-91,205-7,210,223-4;226
Mente nova do rei, A (Penrose), 21, 170
Mach,Ernst,68,71,72,95 mente ver cognição
Marchet,A., 192 metafísica, 38, 63, 90, 93, 136, 181
Marx, Groucho, 23 Milnor, John, 200-1
matemática: axiomas, 63, 94, 103-13, Misner, Charles, 216
118-9, 122, 137, 156-8, 169, 182, misticismo, 90,116, 161-2
189, 194; combinatória, 100, 138, modus ponens, 78
17l;comociência pura, 14,22-3, 72, Monk, Ray, 125
83-4; diagramas e esboços, 104-5; Montgomery, Deane, 200-1
filosofia e, 24, 50, 52-4, 85-6, 164; Moore, G. E., 81,223
física comparada com, 25, 30-1; for- Morgenstern, Oskar, 28, 40, 177-8, 188,
malismo, 22, 39, 73-4, 83-6, 109, 193-6,206-10,226
111, 113-22, 125, 136; influência de Morrell, Ottoline, 79,224
Gõdel sobre a, 18-9, 32-3, 50, 54, Musil, Robert, 49
135, 174, 183 -7, 193-4; metamate- mutação genética, 27
mática,22,33,39-42,53,56, 75, 113-
4, 121, 125,130,132,153,160,163- Nagel, Ernest, 132
7;naturezaapriori, 14-5,23-4,41-2, Nagel, Thomas, 27
65,72, 102-3, 112-3,218;natureza Natkin, Marcel, 92
sintática, 84-5, 95, 111, 159, 168; "Natureza da matemática: o ponto de
provas na, 64, 97, 103, 116, 121, 133, vista de Wittgenstein, N' (Wais-
167; realidade da, 37-40, 54, 103, mann), 125
113, 114, 119; realidade objetiva na, nazismo, 16, 19, 28, 59, 67, 180, 190-1,
24, 31-40, 94; regras, 85-6, 103, 107 - 193
12, 115-6, 130, 144, 167, 169-71; Nelbõck, Johann (Hans), 67
símbolos, 72-3, 85,104, 111-2, 116, Neurath, Olga, 69
238
ÍNDICE REMISSIVO
239
INCOMPLETUDE
realidade: abstrata, 37, 38, 43, 53-4, 180; sociologia, 21, 204
como incognoscível, 91; contingên- Sócrates, 47, 53, 83,214
cia e, 17-8, 27; delírio versus, 171, sofistas, 52, 71, 95,204
172-3; empírica, 27, 42, 64-7, 71 -5, Solovay, Robert, 21 O
91, 93, 116, 181, 216-7, 223; mate- Spencer, Herbert, 71
mática,37-40,56, 103,114,159, 161 - Spinoza, Benedictus, 23, 81, 105, 168,
3; objetiva, 19-24, 31-40, 43, 52-4, 174
94,111,113, 118-9,159, 171 -3,180, Sprache, Die (Kraus), 60
213; percepção da, 39, 71, 94, 103, Sprachkritik (Mauthner), 87,223
114, 182; significado e, 37, 66-8, 71 - Stálin, Iossíf, 27,191,202
2, 82, 84-5, 94,110, 119, 162; subje- Straus, Ernst Gabor, 17, 25, 26, 29
tiva, 21, 24, 31-3, 53, 71-5, 171-3; Survey ofsymbolic logic (Lewis), 69
transcendental, 75,162, 214-5, 218
Redlich, Friedrich, 46 Tagore, Rabindranath, 87
Reichenbach, Hans, 69, 124, 134, 180, Tarski, Alfred, 74
183,225 Taussky-Todd, Olga, 91, 173, 184
Reidemeister, Kurt, 82 tempo, natureza do, 29, 35, 38, 212 -8
religião, 162, 188, 203-4 teorema da extensão de Hahn-Banach,
Richard, Jules, 140 69
Robinson,Abraham, 100, 202 "Teorema de Gõdel" (Encyclopedia of
Rorty, Richard, 175 philosophy), 20
Rubin, H., 189 teoremas da incompletude, 131-58;
Rubin, J., 189 analogia musical, 132, 149; aritme-
Russell, Bertrand: Gõdel e, 98-9, 181-3, tização de Gõdel nos, 56, 132, 137,
190; paradoxo formulado por, 76- 141, 143-51; como "logische Kuns-
7, 85 -6, 120, 122; Wittgenstein e, tstücken", 99, 100, 160, 224; como
78-81,86,91,95, 101,224 modelos conceituais, 22; comple-
"Russell's Mathematical Logic" (Gõdel), tude versus consistência, 19-20, 56,
181 118-22, 129-31, 135, 137, 141-2,
148, 153-8, 162, 166-7, 186; con-
Schilpp, P. A., 36, 91,215, 221-3, 227 texto cultural vienense, 56-86; con-
Schimanovich, Werner, 186 tradizendo o positivismo lógico,
Schlick,Moritz, 62, 67-72, 74, 81-2, 87- 63, 88, 95,135,159,16 1,223; defini-
90, 93, 99,125,180,185,191 ções preliminares para, 139; desen-
Schõnberg, Arnold, 59 volvim ento, 19, 30, 40, 50, 55-6, 63,
Secessão, 59 131-5, 218; divulgação pública, 56,
Shadows ofthe mind (Penrose), 22, 170, 63,93, 124-6, 131-6, 165,170,184;
226 enunciado, 20, 22, 63,131; explica-
Snow, C. P., 39 ção da autora, 139-58; formalismo
240
ÍNDICE REMISSIVO
e, 113-4, 123, 126, 136-8, 141-2, de campo para, 29, 214-6; geral, 16,
148-50, 154-8, 167,170,172,184; 35,215; interpretação popular errô-
fórmulas nos, 142-7, 151; impactos nea, 32-3, 212; realidade objetiva e,
científicos, 18-9, 136, 158, 164-5, 31-2, 35-6, 71,212; restrita, 16, 29,
167-73, 194; implicações filosófi- 35, 55; sistema de coordenadas na,
cas, 24, 57, 162, 168-73, 178; impli- 35; trabalho de Gõdel na, 29, 179,
cações matemáticas, 21, 24, 43, 63, 212-8
133-8;158, 160, 186-7, 194,210-1, teoria dos conjuntos transfinitos, 182
218; implicações metamatemáti- teoria dos jogos, 28, 34, 85
cas, 22-4, 3 l -3, 42, 88, 100-1, 138, teoria dos modelos, 41, 158, 164, 211
143-9, 158-64, 167-73, 187; inter- teoria dos tipos, 78, 84, 122
pretação de Turing, 165,167; inter- teoria molecular, 68
pretação popular errônea, 20-2, 32- terceiro excluído, lei do, 121
3, 52, 63-4, 133,223; justaposição termodinâmica, 68
de dígitos, 145-7; lema diagonal, "Tertium non datur" (Hilbert), 184
152-4; objetividade e, 32-3, 43; thaumázein (assombro ontológico), 46
paradoxos e, 41-2, 55-6, 83, 138-9, Thorne, Kip, 216, 217
152, 156; primeiro teorema, 20, 30, Time, 186
33,42,55,63,114,133,137,139-54, Tractatus logico-philosophicus (Witt-
167, 171, 178, 202, 225; procedi- genstein), 81
mentos mecânicos nos, 143-9, 154; Tractatus theologico-politicus (Spi-
propriedades dos números nos, noza), 81
145-7,150-5,158;prova,56,63,97, triângulo isósceles, 105
99, 129-30, 133, 136-8,141-4, 148- Turing,Alan, 140,160, 165-7, 184,186
55, 158, 166; publicação (1931), 20, "Two dogmas of empiricism" (Quine),
140, 165, 167; reação de Von Neu- 180
mann, 136, 137, 158; reação de
Wittgenstein, 75, 83-4, 86, 95-101, "über formal unentscheidbare Satze der
133, 159-65, 183; relações sintáticas Principia Mat:hematica und ver-
nos, 144-5, 148-9, 153-4, 159;se- wandter Systeme I" (Gõdel), 20; ver
gundoteorema,20,30,63, 135,137, também teoremas da incompletude
155-8, 178; teoria da relatividade Universidade de Princeton, 11-2, 14,
comparada com, 31-3 16-20,25-6,29,31,37,43,50-l,57,
teoria da prova, 122,211 74,105,131,136,165, 174-5, 181,
teoria da recursão, 41, 164, 211 184-5, 188-94, 199-200,203,206,
teoria da relatividade: como revolução 208-10, 215,217
conceitua!, 18, 31-6, 71; continuum
de espaço-tempo na, 35, 38, 213-8; Veblen, Oswald, 16, 184, 185,190,193
desenvolvimento, 29, 55; equações verdade: absoluta, 96, 105; beleza e, 24,
241
INCOMPLETUDE
242
Esta obra foi composta em Janson
por Osmane Garcia Filho e impressa
pela Prol Editora Gráfica em ofsete
sobre papel Pólen Soft da Suzano
Papel e Celulose para a Editora
Schwarcz em setembro de 2008.