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PONTIFICIA UNIVERSITÀ LATERANENSE

FACULDADE CLARETIANA DE TEOLOGIA


FABIANO DE LIMA

RESENHA DO FILME “PRETO E BRANCO”

CURITIBA
2019
1. RESENHA

O filme Preto e Branco, como o próprio nome já sugere, fala de preconceito racial,
também trata das diferenças entre as classes sociais, ou seja, o abismo que existe entre as
classes. O filme se passa nos Estados Unidos, onde dois avós disputam a guarda da neta, uma
garotinha de mais o menos sete anos de idade. O avô materno que é sócio de um escritório de
advocacia, tem a pele branca, nos passa a imagem de uma pessoa bem-sucedida. A avó paterna
é de classe média, uma mulher batalhadora que sustenta a sua família, mas é negra. No início
do filme aparece esse contraste de realidades, que em certo sentido reflete um pouco de nossa
realidade, ou melhor, os que os meios de comunicação querem nos mostrar.
Nas primeiras cenas o avô, que se chama Elliot, está em um hospital vivendo um drama,
a sua esposa morre no início do filme. Chega um amigo que trabalha com Elliot e se oferece
para ajudar, Elliot agradece e vai para casa onde acaba se embriagando. No dia seguinte pela
manhã, com uma grande ressaca, Elliot é acordado por batidas na porta e uma voz que chama
“vovó, vovô”. Ainda meio tonto Elliot fala para a menina entrar, é a primeira vez que Eloise
aparece em cena. A menina pede onde está a sua avó, porém o avô inventa uma mentira sobre
o paradeiro da vovó. Então a menina diz que o avô precisa leva-la para a escola. Eloise não tem
mãe, pois a mãe morreu no parto e o pai esteve sempre ausente da vida dela.
Após o avô levar Eloise na escola, Rick o amigo de Elliot conversa com ele falando se
não é o caso de ligar para a avó paterna que se chama Rowena, apelidada de We-We. Algo que
chama a atenção no filme, os personagens vão aparecendo no decorrer do filme, onde são
apresentadas as suas características. Apesar do conselho do amigo Elliot afirma que jamais vai
ligar. O pai da menina é um pobre coitado, se chama Reggie, nas palavras de Elliot é a ovelha
negra em uma família de pessoas boas. É viciado em drogas, já esteve preso três vezes, não
esteve presenta na vida da filha, segundo a fala de Elliot.
Como apresentamos acima a mãe de Eloise morreu no parto, quando tinha dezessete
anos, desde então Eloise foi criada pelos avós maternos, mais precisamente pela avó que falece
no início do filme. Eloise foi fruto de uma aventura de adolescentes, a mãe por volta dos
dezesseis anos de idade, e o pai seis anos mais velho.
A menina ama seus avós maternos, os quais foram os pais dela. O avô pouco participou
da criação da menina, pois saia cedo para trabalhar. Algo que fica claro no filme quando manda
a menina escovar os dentes, e até mesmo ao pentear o cabelo da menina, o avô não sabe o que
fazer.
O filme passa um choque de duas realidades quase que opostas, a primeira e mais
marcante é em relação as casas das famílias. O avô, agora viúvo, mora em um bairro rico em
uma mansão, já a avó paterna mora em uma casa em um bairro de classe média onde morram
pessoas negras, uma casa simples, mas toda a família mora junta.
Os dois avós aparecem juntos em uma cena após o funeral da esposa de Elliot. O filme
mostra que as duas avós de Eloise tentaram ao longo dos anos, manter uma relação familiar
afetiva da menina com ambas as famílias. Quem buscava manter essa relação era a avó materna,
que tinha falecido, com esse incidente surge uma grande distância entre as famílias.
A família paterna de Eloise é numerosa, percebemos a presença de várias crianças, nesse
sentido, as crianças não são responsáveis pelas “burradas” que seus pais fazem, algo que o filme
quer ressaltar com clareza. Começam as disputas pela guarda da menina, ao invés de os adultos
entrarem em um acordo bom para ambas as partes, o Estado precisa decidir com quem a menina
vai ficar.
Rowena tem um irmão advogado, que quer transformar a questão da sobrinha neta em
um tema de conflito racial. Contra o avô usa o argumento que ele é preconceituoso, não
permitindo que Eloise conviva com o lado negro da família. A juíza cabe decidir com quem a
menina vai ficar sendo descendente de pessoas de pele branca e negra. Mas a da defesa do avô
é descobre um “problema”, a juíza que está encarregada do caso é negra, os advogados do avô
consideram a causa perdida por se tratar da causa contra uma mulher negra, nesses casos a
justiça sempre está do lado da mulher, afirmam os advogados de Elliot. Mas no transcorrer da
audiência a jiza não parece simpatizar com o pedido da avó, já que não existem elementos que
deponham contra o avô.
A juíza poderia ouvir Eloise para que ela fale com quer ficar, ou com quem ela quer
viver, mas ela não faz isso. Exige que os psicólogos do Estado façam uma avaliação da menina.
Mas a quantidade de perguntas acaba deixando a menina abalada, ou ainda, acaba deixando a
menina confusa. Eloise diz que quer continuar morando com o avô, mesmo após a morte da
avó.
Mas ao mesmo tempo que quer ficar com o avô, ela sente a falta da presença paterna. A
justiça parece não querer saber o que a menina quer, ou com quem ela quer realmente ficar.
Com o avô que está sozinho, quase perdendo o sentido se sua vida. Ou com a família paterna,
uma grande família alegre, mas que o pai nunca esteve presente na vida da menina.
Mas contra o avô paterno, o advogado de Rowena tem alguns argumentos: Elliot bebe
demais, isso acaba piorando com a morte da esposa; mora sozinho, apesar de ter uma
empregada. O que está ao seu favor é o padrão de vida que Eloise leva, sem contar que a própria
menina quer continuar morando com o avô. Já em favor da avó o fato de a família ser grande,
Eloise teria muitos primos para conviver juntos, é um ponto positivo.
Mas o ponto negativo é o fato do pai nunca ter estado presente na vida da menina, isso
ele tem consciência. O filme termina com uma reviravolta na vida de ambos envolvidos na vida
de Eloise, tanto o pai como a avó paterna reconhecem que o melhor para Eloise é permanecer
com o avô paterno. Mas a avó fala que desde que ele pare de beber, algo que reconhecido por
Elliot.

2. COMENTÁRIO

O filme nos apresenta uma realidade cada vez mais comum em nossa sociedade, avós
que acabam cuidando de seus netos, se tornando os verdadeiros pais das crianças. Algo que
encontramos com frequência em nossas pastorais, por exemplo, são os avós que vem pedir os
Batismo da criança, ou ainda são eles os responsáveis pela criança na catequese. O filme
também chama a atenção para outro ponto muito delicado que é o preconceito racial, as pessoas
brancas aparecem com bem-sucedidas, uma família pequena e morando em condomínios
fechados. Já os negros são pobres ou de classe média, vítimas de violência como é o caso do
pai de Eloise envolvido com drogas, e famílias numerosas.
Mas por outro lado o filme mostrou, em certo sentido, uma boa convivência entre as
famílias, deixando claro que é necessário que se busque sempre o diálogo entre as partes
envolvidas. Após o falecimento da esposa de Elliot não se tinha mais o diálogo, foi preciso
buscar através do Estado uma pessoa fosse a moderadora, no caso o papel desempenhado pela
juíza, para que se chegasse a um acordo bom para ambas as partes. O diálogo é essencial para
as relações humanas, pois não existe uma pessoa capaz de adivinhar os pensamentos da outra.
O que acaba refletindo em problemas em nossas comunidades, nos mais variados âmbitos da
pastoral.
Algo que chamou a atenção no filme foi a posição da juíza, em nenhum momento
expressa as suas preferências, se mantém neutra ouvindo todas as partes, mas ao mesmo tempo
quando tinha os exageros ou ofensas ele intervinha para que os ânimos fossem acalmados. Que
em ser sentido também se reflete no papel do padre em uma paróquia, diante de um problema
o padre deve ouvir ambas as partes, mostrando a elas qual é a solução para aquele problema.
Quando conseguirmos agir dessa forma estaremos realizando aquilo que o Papa Francisco nos
pede, para sermos misericordiosos como o Pai é misericordioso.
Assim as nossas paróquias deixam de ser um “tribunal” onde se decretam sentenças,
passando a ser ainda nas palavras do Papa um hospital de campanha, que faz o primeiro
atendimento para as pessoas mais necessitadas. O filme retrata uma realidade humana, uma
realidade que se torna cada vez mais comum em nossa sociedade secularizada. Mas ao mesmo
tempo nos mostra que existe sempre uma saída para todos os problemas, a solução é dialogar.

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