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RESUMO
O desgaste por erosão provoca a progressiva perda de material a partir da superfície da peça, e é um dos limitan-
tes da vida útil dos componentes. A taxa de erosão de três tipos de cerâmicas de Engenharia comerciais, Al2O3
(alumina), ZrO2 (zircônia) e Si3N4 (nitreto de silício), foram relacionadas com suas propriedades mecânicas de
tenacidade à fratura e dureza, quando submetidos às mesmas condições de desgaste por erosão à temperatura
ambiente. As superfícies submetidas ao ensaio foram analisadas em microscópio eletrônico de varredura. O Si3N4
apresentou a menor taxa de erosão dos materiais ensaiados, seguido da ZrO2 e da Al2O3. A taxa de erosão desses
materiais mostrou-se diretamente relacionada com a tenacidade à fratura, mas não com a dureza.
ABSTRACT
Erosion wear causes a progressive loss of material from the surface and it restricts the components useful life.
The erosion rate of three types of Engineering ceramics: Al2O3 (alumina), ZrO2 (zirconia) and Si3N4 (silicon
nitride) was related with their mechanical properties of fracture, toughness and hardness, when submitted to
the same conditions of erosion wear at room temperature. The surfaces submitted to erosion were analyzed
by scanning electron microscope. The Si3N4 presented the lowest erosion rate of tested materials, followed
by ZrO2 and Al2O3. The erosion rates of these materials demonstrate a direct relation with the fracture
toughness, but not with the hardness.
1
Artigo Técnico.
2
Engenheiro Mecânico. Aluno do Mestrado em Ciência e Tecnologia dos Materiais - UFRGS. E-mail: cassiodauber@
ifsul.edu.br
3
Coorientadora. Engenheira de Materiais. Profa. Dra. do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica
e de Materiais - UFRGS. E-mail: annelise.alves@ufrgs.br
4
Orientador. Engenheiro Metalúrgico. Prof. Dr. do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e
de Materiais - UFRGS. E-mail: bergmann@ufrgs.br
178 Disciplinarum Scientia. Série: Naturais e Tecnológicas, Santa Maria, v. 19, n. 1, p. 177-189, 2018.
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
As cerâmicas utilizadas neste trabalho foram a Al2O3 (alumina A-479), ZrO2 (zircônia Z201N)
e Si3N4 (nitreto de silício SN-220). Todos os materiais são comerciais, produzidos pela empresa Kyo-
cera Group - Fine Ceramics (Japão) (KYOCERA, 2017). Os corpos de prova foram cortados nas
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dimensões de 20X20X5 mm, e o acabamento da superfície não foi alterado, mantendo-se conforme
o fornecido pelo fabricante. Na tabela 1 são apresentadas as características dos materiais cerâmico
investigados, sendo os dados fornecidos pelo fabricante.
O material erodente utilizado foi a alumina eletrofundida marrom, produzida pela empresa
Elfusa, de granulação 180, com o tamanho médio das partículas de 98 µm, valor obtido em teste de
granulometria em equipamento por difração de laser Cilas 1180L.
A análise microestrutural foi realizada por microscopia ótica (MO) (equipamento: Olympus,
modelo BXS1M), difração de raios X (equipamento: Phillips, modelo X’Pert) e microscopia eletrônica
de varredura (MEV) com um equipamento ZEISS, modelo EVO.
O equipamento utilizado para os ensaios de desgaste erosivo está baseado na norma ASTM
G76 - 13, que normatiza o ensaio de erosão pelo impacto de partículas sólidas por meio da utilização de
jato de gás (Figura 2). A tabela 2 sumariza os parâmetros adotados na realização dos ensaios de erosão.
A erosão foi realizada com os ângulos de impacto das partículas foi de 90°, 60° e 30° na temperatura
ambiente. Para cada condição, o ensaio foi repetido três vezes e utilizados corpos-de-prova distintos.
Figura 2 - Desenho esquemático do forno de ensaios, tubo acelerador e sistema de medição da velocidade (VICENZI, 2007).
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Tabela 2 - Parâmetros adotados na realização dos ensaios de erosão.
A erosão foi determinada pela perda de volume, a partir da perda de massa, considerando a den-
sidade dos materiais ensaiados. A taxa de erosão foi determinada pela razão entre o volume perdido pelo
corpo de prova no ensaio dividido pela massa de erodente utilizada no ensaio, conforme a equação 1:
(Equação 1)
sendo:
Tvol = Taxa de erosão volumétrica (cm3alvo/gerodente);
mi = massa inicial do corpo-de-prova (g);
mf = massa final do corpo-de-prova (g);
ρa = densidade do material do corpo-de-prova (g/cm3);
me = massa de erodente utilizado (g).
A velocidade das partículas erodentes foi medida com base no método que preconiza a utili-
zação de dois discos giratórios coaxiais, os quais são posicionados no sentido do fluxo das partículas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 4 - Imagens por MEV da superfície das amostras antes dos ensaios de erosão:
Al2O3 (a); ZrO2 (b); e Si3N4 (c). MEV 3000X.
Nas imagens obtidas por MEV da Al2O3 após erosão, a superfície erodida apresenta ir-
regularidades que sugerem um desprendimento de material pela múltipla remoção de grãos, em
fraturas intergranulares (Figura 5). A fratura intergranular caracteriza-se pela formação de trincas
ao longo dos contornos de grãos, que vão propagando-se até ocasionar o desprendimento do grão.
Esse processo é sucessivo, levando à perda de volume do material. A presença de “crateras” nas
imagens por MEV da figura 5, em maiores quantidades para maiores ângulos de impacto do ero-
dente, corresponde à maior severidade do desgaste erosivo. Esta análise está em consonância com
o formulado por alguns autores, como Schwartz (1992), que Al2O3 fratura primariamente via modo
intergranular. Outros materiais podem apresentar fratura primariamente transgranular ou a combi-
nação destes dois processos primários de fratura.
Ao analisar o comportamento do desgaste erosivo da ZrO2 (Figura 6), chama a atenção o
fato da menor taxa de erosão ter ocorrido para o ângulo de impacto de 90°. A explicação para o
fato pode ser o efeito de ricochete das partículas erodentes, que depois de atingirem a superfície da
zircônia são projetadas de volta e atingem outras partículas que estão se dirigindo contra a super-
fície, fazendo que ocorra uma perda de eficiência do processo erosivo. Este fenômeno também foi
verificado para o Si3N4.
Assim, para a Al2O3, que tem resistência mecânica menor, a maior parte energia da partícula
erodente é absorvida pelo material na forma de trincas, enquanto que a ZrO2 e o Si3N4, a maior parte
da energia da partícula é absorvida na forma de deformação elástica e devolvida à partícula, o fará
com que esta ricocheteie.
Nas imagens por MEV da superfície da ZrO2, ficaram mais evidentes as trincas laterais clás-
sicas das fraturas frágeis (Figura 8). Quando a partícula erodente atinge a superfície do material,
provoca uma remoção de parte do material, fraturas radiais e laterais, ou ambas as situações.
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Figura 8 - Imagem por MEV da superfície da ZrO2. Em detalhe, o dano do impacto de
uma partícula e as fraturas laterais a partir do ponto de impacto. Aumento MEV: 3000X.
A ZrO2 é um material cerâmico que à pressão atmosférica pode formar 3 cristais distintos,
dependendo da temperatura: monoclínica, tetragonal e cúbica. Somente a fase monoclínica é estável
à temperatura ambiente, sendo que esta fase é a que apresenta maior volume. Durante as transforma-
ções de fase desse material, por exemplo, no resfriamento após processamento, ocorrem variações de
volume, notadamente a que surge por volta 1.100°C. Essas transformações podem provocar tensões
internas e até a fratura do material.
A ZrO2 investigada é uma zircônia parcialmente estabilizada (PSZ), que apresenta a fase tetra-
gonal à temperatura ambiente, obtido com o uso de aditivos de estabilização desta estrutura cristalina.
Ocorre que, na temperatura ambiente, quando uma trinca se desenvolve na superfície de uma peça
de zircônia com a fase metaestável tetragonal, esta é sujeita a um estresse de tensão macroscópico.
Essa concentração de tensão de tração na ponta da trinca causa a transformação da fase metaestável
tetragonal para a fase cristalina monoclínica. O consequente aumento de volume dos cristais, compri-
midos pelos demais ao redor, resulta em uma tensão de compressão favorável, que age na superfície
da trinca, e, assim, impede sua propagação (KELLY; DENRY, 2008).
A análise por difração de raios X das amostras de zircônia investigada (Figura 9), sugere que
após os ensaios de erosão houve aumento da fase cristalina monoclínica.
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Figura 9 - a) Análise por difração de raios X da zircônia antes do ensaio de erosão. Difratograma conforme ficha CIF
9309161. b) Análise por difração de raios X da zircônia após ensaio de erosão, com ângulo de impacto de 90° e tempe-
ratura ambiente. Verifica-se pequena alteração nas fases, se comparado a análise do material antes do ensaio.
Quanto ao Si3N4, as imagens por MEV (Figura 5) sugerem que sua menor taxa de erosão,
se comparada com os resultados da Al2O3 e da ZrO2 em todas as condições investigadas, pode estar
supostamente associada ao seu menor tamanho de grão, que leva a um menor desprendimento de
material quando da interseção das trincas. Além disso, a maior tenacidade à fratura do Si3N4 também
atuaria contra a propagação e intersecção de trincas, levando a menor taxa de erosão principalmente
para os ângulos de impacto de 30° e 60°.
A maior tenacidade à fratura do Si3N4, segundo Choi et al. (2003), estaria baseada na sua mi-
croestrutura formada tipicamente por grãos aciculares. As trincas propagam-se pelo contorno dos grãos
menores até encontrar um grão maior e, para continuarem a propagar-se, terão de contornar o grão
maior ou provocar uma fratura transgranular. A figura 10 apresenta detalhe que sugere interseção de
trincas, que levariam ao despreendimento de material da superfície durante o processo erosivo do Si3N4.
Figura 10 - Imagem por MEV da superfície do Si3N4 após erosão. Detalhe que sugere interseção de trincas,
que levariam ao desprendimento de material da superfície durante o processo erosivo. MEV 3000X.
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Pode-se constatar que a Al2O3, em ângulos de impacto maiores, o efeito do ataque erosivo tor-
na-se acentuado, o que não só evidenciado pela formação de crateras na superfície após erosão, mas
até mesmo por imagens de MEV, como as apresentadas na figura 11. Antes do ensaio de erosão, era
possível distinguir o contorno de grãos; após o ensaio, a superfície perde uma mais clara definição.
Figura 11 - Imagens por MEV da superfície da Al2O3 antes do ensaio (a) e após
ensaio de erosão a 90° à temperatura ambiente (b). Aumento MEV: 3000X.
Ao analisar a taxa de erosão e a tenacidade à fratura da Al2O3, ZrO2 e Si3N4 (Figura 12) em todas
as condições investigadas de desgaste erosivo. O Si3N4 apresentou menor taxa de erosão e possui o maior
valor de tenacidade à fratura; já a Al2O3 apresentou maior taxa de erosão e menor valor de tenacidade à
fratura, e a ZrO2, cuja tenacidade à fratura situa-se intermediariamente a dos dois outros materiais, tam-
bém apresentou taxa de erosão intermediária a desses materiais. Portanto, obteve-se uma excelente re-
lação entre a tenacidade à fratura e o dano sofrido pelo material cerâmico submetido ao ataque erosivo.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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