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12° Congresso Brasileiro de Polímeros (12°CBPol)

ESTUDO DO USO DE PLA EM HOT MELT PSA PARA INDÚSTRIA DE CALÇADOS

Juliana Sperb1 e Vanusca Dalosto Jahno1*

1
Mestrado Profissional em Materiais e Processos Industriais - FEEVALE – RS (vanusca@feevale.br)

Resumo – Este estudo avaliou a viabilidade do uso de poli (ácido láctico) (PLA) em uma formulação de adesivo hot
melt sensível à pressão (HMPSA), aplicado ao mercado calçadista, nas proporções de 1 parte e 3 partes de PLA para
cada 100 partes da formulação original do adesivo. As amostras preparadas, denominadas PLA1C e PLA3C
respectivamente foram caracterizadas em relação às suas propriedades físicas de cor, odor, viscosidade e ponto de
amolecimento e em relação às suas propriedades de colagem através de Peel Test 180 °, Holding Power, Shear
Adhesion Failure Temperature (SAFT) e Loop Tack , em comparação à formulação padrão. Verificou-se que em relação
às propriedades físicas as amostras pouco variaram em relação ao padrão, visualmente aparentando boa miscibilidade na
formulação. Já em relação às propriedades de colagem, foi observada a redução de resistência e tack em praticamente
todas as avaliações, indicando ser necessárias adequações nas formulações para correção destas características.

Palavras-chave: Adesivo, PLA, Hot Melt PSA.

Introdução
Nas indústrias que utilizam processos de colagem é cada vez mais frequente o uso da tecnologia de adesivos
termofusíveis, também denominados adesivos hot melt (HMA). De uma forma geral estes adesivos se apresentam na
forma sólida e são aquecidos no momento de uso para que se tornem líquidos e possam ser aplicados sobre as peças que
se deseja colar. Os adesivos hot melt que apresentam tack (pega) permanente são denominados hot melt pressure
sensitive adhesive (HMPSA), ou seja, adesivos sensíveis a pressão [1].

Segundo o Pressure Sensitive Tape Council (PSTC), adesivos sensíveis à pressão, pressure sensitive adhesives (PSA),
são uma categoria distinta de adesivos que apresentam na sua forma seca (filme livre de solvente ou água) forte e
permanente tack à temperatura ambiente e que adere a diferentes tipos de superfície com o mero contato promovido
pela simples pressão de um dedo ou mão [2]. Diferenciam-se dos adesivos de contato, pois podem ser usados sendo
aplicados em apenas um dos substratos, nos dois substratos ou ainda em um suporte, com é o caso de fitas adesivas [1].

Os HMPSAs apresentam um amplo mercado de aplicação como em fitas adesivas (para fechamento de embalagens,
curativos, materiais de escritório), etiquetas e rótulos (permanentes, removíveis, com resistência a baixas temperaturas)
[3], no mercado calçadista (colagem de palmilhas, dublagem de forros, preparação de cortes) [4] e no mercado de
estofados e colchões (para colagem de espumas).

Em geral os HMPSAs são constituídos de polímero base, resinas, plastificantes e antioxidantes [1,3].

O poli (ácido láctico), PLA, do inglês poly (lactic acid), é um polímero biodegradável, termoplástico, muito versátil,
que pode ser obtido de fontes vegetais como o milho, por exemplo [5,6].

O PLA pode ser usado na manufatura de embalagens de comidas frescas, copos, talheres e pratos, além de vasta
aplicação na área clínica, devido ao fato de ser biorreabsorvível, onde é utilizado na fabricação de pinos, fios de suturas,
placas, suportes para transporte de células, etc [5,6]. Além destas aplicações, Viljanmaa, Södergard e Törmälä relatam o
uso de copolímeros baseados em poli(L-lactídeo) (PLLA) e poli(ε-caprolactona) (PCL) em adesivos hot melt usados
para fechamento de embalagens de papel [7].

O objetivo do presente trabalho foi avaliar a possibilidade de uso de PLA em uma formulação de HMPSA para o
mercado de calçados.

Parte Experimental

Foi utilizado o PLA (Ingeo 4043 D) da Nature Works na preparação dos adesivos, sendo esta realizada em duas etapas.
Na primeira foi realizada a preparação do adesivo padrão, adesivo contendo uma parte de PLA (PLA1C) e adesivo
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contendo três partes de PLA (PLA3C). E na segunda foram feitas as caracterizações das propriedades físicas e de
colagem.

Para preparação dos adesivos (Tabela 1) foram utilizados recipientes metálicos de aproximadamente 200 mL.

Tabela 1 – Fórmula Padrão HMPSA Calçado.

Matéria-prima Fórmula Padrão para 100 g de HMPSA Calçado


Óleo Mineral 15,50 g
Antioxidantes 0,50 g
SIS 16,00 g
EVA 12,40 g
Resina Hidrocarbônica 25,70 g
Resina Éster de Breu 19,10 g
Resina de Breu 4,00 g
PIB 6,70 g
TOTAL 100,00 g

Inicialmente foi adicionado o óleo mineral naftênico e a mistura de antioxidantes (primário e secundário). Esta mistura
foi aquecida em banho de aquecimento a 150 °C, por 5 minutos, com agitação esporádica. Após este período foram
adicionados o SIS e o EVA a qual ficou por 30 minutos até completa homogeneização, agitando-se esporadicamente.
Posteriormente adicionou-se a quantidade de PLA em avaliação (1 ou 3 g). No padrão não foi adicionado PLA (branco).
Ao final, adicionaram-se lentamente as resinas (hidrocarbônica, éster de breu e breu) e o PIB. Aguardaram-se mais 15
minutos até completa homogeneização, agitando-se esporadicamente.

Depois de concluídas as misturas, os experimentos foram transferidos para pequenas formas de silicone.

Na segunda etapa da parte experimental, os adesivos (padrão e amostras contendo PLA) foram caracterizados quanto as
suas propriedades físicas de aspecto, odor, viscosidade Brookfield e temperatura de amolecimento.

A metodologia usada para determinar a viscosidade foi baseada na norma ABNT NBR 9393:2008 - Adesivos de fusão -
Determinação da viscosidade - Método do viscosímetro Brookfield[8].

Já para determinação do ponto de amolecimento de adesivos hot melt, o método utilizado foi baseado na ABNT NBR
9424:2008 - Adesivos de fusão - Determinação do ponto de amolecimento - Método do anel e da esfera. O teste
consistiu em adicionar uma pequena quantidade de adesivo fundido a um anel, sobre o qual foi colocada uma esfera de
aço inox de peso e tamanho padronizado. O conjunto anel e esfera foram aquecidos em banho de glicerina, onde a
temperatura teve taxa controlada (5 °C/min). No momento que a bola atravessou a camada de adesivo obtivemos a
temperatura de amolecimento [9].

Também na segunda etapa foram avaliadas as propriedades de colagem, onde foram determinadas resistência de
descolagem através de Peel Test 180°, Holding Power e Shear Adhesion Failure Temperature (SAFT), e tack através do
teste de Loop Tack.

O Peel Test consisteiu em determinar a resistência necessária para descolar um substrato flexível de outro substrato
rígido ou flexível, através de máquina universal de tração. A descolagem foi realizada através de diferentes arranjos
(diferentes ângulos e formas de fixação dos corpos-de-prova). Para o teste a 180 º seguiu-se a norma ASTM D-3330-
04 [10].

O método de Holding Power, norma de referência ASTM D-3654-06, teve como objetivo determinar a coesão de um
adesivo PSA. Este método determinou a resistência ao cisalhamento do adesivo, quando a colagem foi submetida a um
peso estático a temperatura ambiente (23°C / 50% umidade). O final do teste se deu quando ocorreu o descolamento
total da fita adesiva, sendo o resultado expresso em horas [10].

Já o teste de SAFT (Shear Adhesion Failure Temperature) foi baseado na norma ASTM D-4498-07. Nesse ensaio os
corpos-de-prova com os adesivos em avaliação aplicados foram posicionados no interior de um forno juntamente com
um peso suspenso de massa conhecida. O forno, que apresentou temperatura inicial entre 25 – 40°C foi programado
para que a temperatura subisse a um gradiente de 30 °C/hora. Quando ocorreu a queda do peso, momento em que
ocorreu o rompimento da adesão foi registrado a temperatura. A temperatura foi aumentada até que o último peso caísse
[10].
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O ensaio do Loop Tack teve como norma de referência a ASTM D 6195-03 – Método A. Foram realizados com tiras de
poliéster específicas previamente adesivadas, com dimensões de 25 x 300 mm. As extremidades das tiras foram unidas
na forma de loop e presas ao equipamento. Ao se iniciar o teste o loop desceu-se até encostar-se a uma placa de aço,
subindo logo em seguida. O equipamento registrou a força necessária para remover a tira da placa, logo imediatamente
após o toque da fita na mesma [10].

Resultados e Discussão

Conforme pode ser observado na Tabela 2, todos os adesivos apresentaram resultados de viscosidade Brookfield dentro
da faixa de especificação atual do produto padrão. O mesmo não ocorreu para o ponto de amolecimento, onde a amostra
PLA1C apresentou valor levemente abaixo do mínimo especificado para esta propriedade. Esta variação pode estar
relacionada ao mau dimensionamento da faixa de ponto de amolecimento atual aplicada para o produto (por se tratar de
um produto novo), visto que os valores obtidos para o padrão e para PLA3C também estão próximos ao mínimo.

Tabela 2 – Resultados da avaliação das propriedades físicas.

Adesivo Odor Média Desvio Média Desvio Padrão


Viscosidade Padrão Ponto de Amolecimento
Brookfield (cP) (1) (°C) (2)
Característico de
Padrão 4.950 1343 70 2
breu
Característico de
PLA1C 4.500 990 68 4
breu
Característico de
PLA3C 5.350 71 71 1
breu
1
Conforme boletim técnico do adesivo padrão, a viscosidade Brookfield é especificada entre 4.000 e 7.000cP.
2
Conforme boletim técnico do adesivo padrão, a temperatura de amolecimento é especificada entre 70 - 85°C

Em relação à coloração, os resultados foram considerados excelentes, pois não foram observadas diferenças
significativas entre o aspecto do adesivo padrão e as amostras PLA1C e PLA3C (Fig. 1).

(a) (b) (c)

Figura 1 – Aspecto dos adesivos: (a)Padrão, (b)PLA1C e (c)PLA3C.

Na Tabela 3 constam os resultados obtidos nos testes de caracterização de propriedades de colagem. Para a comparação
dos valores obtidos para as amostras, PLA1C e PLA3C, em relação à formulação padrão, foi realizada uma comparação
das médias através do programa IBM SPSS Statistics 19, por análise de variância (One-Way ANOVA), com nível de
confiança de 95%.

Para todos os testes se obteve valores de significância menores que 0,05 indicando que existe diferença entre as médias
dos experimentos em todos os testes realizados, quando considerado nível de confiança de 95%.
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Para verificação de quais grupos apresentam diferenças significativas de médias, realizou-se teste de Post Hoc com
método de Tukey, onde as médias dos experimentos foram comparadas somente em relação ao padrão. Os valores
marcados em amarelo na Tabela 3 indicam quais experimentos apresentam variação significativa em relação ao adesivo
padrão.

Tabela 3 – Resultados da avaliação das propriedades de colagem.


Teste Padrão PLA1C PLA3C
Peel Test 180 ° Média 19,5 15,0 8,9
(N/ 25 mm) Desvio Padrão 0,9 0,5 1,0
Loop Tack Média 7,9 6,2 2,9
(N/ 25mm) Desvio Padrão 0,9 0,9 0,4
Holding Power Média 35,8 30,1 8,7
(h) Desvio Padrão 0,9 1,0 0,7
SAFT Média 48,9 40,3 42,4
(°C) Desvio Padrão 0,1 0,4 0,9

Através da análise estatística das médias dos testes relativos às propriedades de colagem pode ser observado que as
amostras PLA1C e PLA3C apresentaram redução de tack e resistência em relação ao padrão calçados em quase todas as
avaliações, exceto PLA1C em relação ao Loop Tack. Isto indica que o PLA apesar de não ter modificado o aspecto
visual das amostras, apresenta um efeito negativo sobre as características relacionadas à colagem.

Conclusão
Os resultados indicam que o PLA é uma matéria-prima potencial para uso em formulações de HMPSA em função de as
amostras de adesivos contendo a mesma não terem apresentado variações significativas nas propriedades físicas.

Em relação às propriedades de colagem, verificou-se que o uso de PLA reduz resistência de colagem e tack, porém
acredita-se que realizando ajustes nas quantidades das demais matérias-primas das formulações base seja possível obter
produtos aplicáveis ao mercado de calçados.
Agradecimentos
Agradeço à empresa Killing SA Tintas e Adesivos e à Universidade Feevale por terem disponibilizado suas estruturas
para realização deste trabalho.
Referências
1. E. M. Petrie, Handbook of Adhesives and Sealants, 2. ed., Mcgraw-hill, New York, 2007.
2. Pressure Snesitive Tape Council - PSTC. Glossary. Disponível em: <http://www.pstc.org/i4a/pages/index.cfm?
pageID=3336>. Acesso em: 28 mar. 2012.
3. I. Skeist, Handbook of Adhesives, 3. ed., Van Nostrand Reinhold Co, New York, 1989.
4. L. J. Coelho, Adesivos para Calçados: Produtos e Aplicações, Assintecal, Novo Hamburgo, 200-.
5. Environmental Protection Agency - EPA (Estados Unidos). Waste Reduction Model: Polylactide (PLA)
Biopolymer. Version 12 - Fevereiro 2012. Disponível em: <http://www.epa.gov/climatechange/wycd/waste
/downloads/PLA.pdf>. Acesso em: 06 maio 2012
6. P. A. Gunatillake; R. Adhikari, European Cells and Materials. 2003, v. 5, p.1-16.
7. M. Viljanmaa; A. Södergard; P. Törmälä, International Journal of Adhesion & Adhesives. 2002, n. 22, p.219-
226.
8. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9393: Adesivos de fusão - Determinação da
viscosidade – Método viscosímetro Brookfield. Rio de Janeiro, 2008.
9. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9424: Adesivos de fusão - Determinação do
ponto de amolecimento - Método do anel e da esfera. Rio de Janeiro, 2008.
10. ASTM INTERNATIONAL. Annual Book of ASTM Standards: Section 15 - General products, chemical
specialties, and end use products. West Conshohocken: Astm International, 2010. 12 v.

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