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Centr o de Estudos e Pesquisas

do
MEC/IBC/DTE/DDI Instituto Benjamin Constant
ANO I
NÚMERO 6
JUNHO/JULHO 2014 Divisão de Pesquisa, Documentação e Informação

TROCANDO IDEIAS

PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS
PARA A SURDOCEGUEIRA

M
arcia Noronha de Mello é professora do Ins- nais, oralização, tadoma, entre outros –, observando
tituto Benjamin Constant, atuando na área os que serão absorvidos pela criança, direcionando
de surdocegueira. Mestre em Educação pela o trabalho para o sistema que apresentar mais faci-
Universidade Estácio de Sá, na linha de pesquisa lidade. Na maioria dos casos, o sistema empregado
sobre Políticas Públicas e Gestão. Possui especia- é a língua de sinais.
lização em Saúde Mental da Infância e da Adoles-
cência e graduação em História pela Universidade Quais são as opções para a criança com surdo-
Santa Úrsula. cegueira ser escolarizada?
Nesta conversa, a professora destaca que
existem mitos em torno da surdocegueira que pre- Antes de falar das opções, vou falar das condi-
cisam ser desconstruídos, dentre eles o de que o ções de escolarização. Aqui no IBC, por ser um pro-
trabalho com pessoas com surdocegueira seja muito grama de reabilitação, a meta é o encaminhamento
difícil. Ela também ressalta a necessidade de uma para o mercado de trabalho. Para isso, a pessoa
conscientização da sociedade para a existência da atendida precisa ter um sistema de comunicação e,
pessoa com surdocegueira e para a importância de em seguida, ser escolarizada. O currículo para esse
políticas públicas que atendam a essa população. público tem caráter funcional, diferenciando-se, em
alguns casos, do currículo da escola regular. Quanto
Como se estabelece o processo de comunicação às opções, pela lei, seria a inclusão total, o aluno
com a pessoa com surdocegueira? com surdocegueira deveria frequentar normalmen-
te as salas de aula regulares, da creche ao ensino
O programa de surdocegueira do Instituto médio. Na prática, nem sabemos onde esses alu-
Benjamin Constant é de reabilitação, ou seja, aten- nos estão. O próprio diagnóstico da surdocegueira
de pessoas maiores de 16 anos com um sistema de não é fechado nas crianças. O que há é um encami-
comunicação implantado. Essas pessoas podem ser nhamento da fala dos profissionais diagnosticando
oralizadas, usar a LIBRAS ou algum sistema de co- uma criança surda com baixa visão ou uma criança
municação familiar, como escrita cursiva no braço cega com dificuldade auditiva. Com isso, a criança
ou no rosto. No caso do atendimento à criança, é com surdocegueira fica perdida na escola regular,
preciso verificar como a surdocegueira está se im- com comportamentos considerados, muitas vezes,
plantando: se a criança tem um resíduo auditivo, ela socialmente inadequados, sendo enquadrada como
será oralizada; se ela é inicialmente surda, apren- autista, deficiente intelectual... Quando, na verdade,
derá a língua de sinais. Hoje, nos programas inter- é uma pessoa angustiada que não sabe se expres-
nacionais, o atendimento à criança é realizado por sar. Quando se estabelece uma linguagem, a comu-
profissionais da terapia ocupacional. É um trabalho nicação é possível e a escolarização pode ser reali-
de estimulação em que se experimentam todos os zada. O trabalho de escolarização pode ser auxiliado
sistemas disponíveis de comunicação – língua de si- pela tecnologia assistiva. Na área da surdocegueira,
temos a famosa linha Braille, que possibilita a quem atendimentos está direcionada, atualmente, para
já é alfabetizado e sem comprometimento cognitivo pessoas com surdocegueira congênita associada a
o acesso aos programas de computador, ao e-mail, outros comprometimentos.
à Internet. São importantes, na escola regular inclu- Em uma escola regular, o currículo é um só
siva, o professor de apoio, o intérprete de língua de para todos os alunos; o processo educacional deve
sinais e a sala de recursos, conforme previsto pela contemplar o currículo definido nos Parâmetros
lei. Há uma grande discussão em torno do professor Curriculares Nacionais. O atendimento de apoio ou
de apoio: quem é ele, quais são suas atribuições... atendimento educacional especializado é um supor-
Nós estamos vivendo uma mudança de paradigma te, não trabalha com currículo. Por isso, o planeja-
no sentido de realizar, na sala de aula inclusiva, um mento é individual, visando a atender as necessi-
trabalho compartilhado entre os profissionais de dades do educando e possibilitando o acesso ao
educação envolvidos no processo de aprendizagem. conteúdo curricular. Todavia, há uma confusão em
relação a isso, uma expectativa das famílias e da
Como é o trabalho desenvolvido pelo IBC no escola de que esse atendimento especializado dê
atendimento à pessoa com surdocegueira? conta também do conteúdo curricular.

Aqui desenvolvemos um programa de reabili- Qual o panorama de pesquisas em surdoceguei-


tação. A primeira coisa que tem que se compreender ra no Brasil e no mundo?
é que a reabilitação tem como proposta dar à pes-
soa atendida meios de adquirir uma autonomia, ter No exterior, mais especificamente Estados Uni-
acesso a uma escolaridade, e, finalmente, encami- dos e Europa, o que observei é que as pesquisas
nhá-la ao mercado de trabalho. Para isso, a equipe se concentram na área médica. Nos congressos in-
desenvolve um trabalho que inclui orientação e mo- ternacionais, a maioria dos trabalhos apresentados
bilidade, aprendizado de LIBRAS e/ou Braille, com é de profissionais da Terapia Ocupacional, sobre
o auxílio das tecnologias assistivas. Há também as propostas alternativas de reabilitação e atendimen-
oficinas que possibilitam a integração das pessoas to domiciliar. A parte pedagógica é considerada na
com surdocegueira na comunidade (grupo das pes- escola regular, porque essas pessoas são incluídas.
soas com cegueira que frequentam as atividades da Esses sujeitos estão na escola, seguindo o currículo
reabilitação no IBC). Temos na equipe uma intér- de acordo com suas condições cognitivas. Quando
prete de LIBRAS, que dá suporte na aquisição da eles não têm condições de acompanhar o currículo
linguagem, e uma terapeuta ocupacional que foca escolar, são encaminhados, na fase adulta, para re-
as atividades da vida diária. É um trabalho de equi- sidências abrigadas ou instituições abrigadas, que
pe. Hoje, contamos também com o suporte de uma não são internatos. Nesses locais, eles terão uma
psicóloga, da equipe da enfermagem e ainda com vida independente e o apoio de profissionais, como
a participação dos profissionais (professores e te- médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais,
rapeutas ocupacionais e fisioterapeutas) da reabili- enfermeiros. Há uma estrutura voltada para esse
tação que fazem a inclusão de nossos reabilitandos atendimento. Nós, no Brasil, estamos longe disso.
nos grupos da DRT. Aqui, as pesquisas estão mais concentradas em São
Paulo e no sul e se caracterizam como estudos de
Como seria o planejamento de uma aula para a caso, devido às peculiaridades, cada indivíduo é úni-
pessoa com surdocegueira? co na surdocegueira. Não há estudos de larga esca-
la, não há dados seguros de população com surdo-
O planejamento é sempre individual. Aqui, por cegueira no Brasil. Isso é um campo de estudo a ser
exemplo, temos uma aluna com 20 anos e um aluno explorado. Quando entrevistada pelo censo, a pes-
com 96. Obviamente, o que vou propor para uma soa com surdocegueira se identifica como cega com
pessoa da terceira idade é diferente do que vou pro- problemas auditivos ou como surda com problemas
por para uma pessoa de meia idade e do que vou de visão, dificultando a estatística referente a essa
propor para uma pessoa de 20 anos. É um trabalho população. A pesquisa em surdocegueira passa pela
que necessita de uma anamnese bem minuciosa, formação dos profissionais da área, pelas políticas
cada caso é discutido com a equipe. Nós temos uma públicas e, principalmente, pela ética. A surdoce-
reunião semanal em que buscamos trocar ideias gueira é uma área que está sendo descoberta. Em
sobre as melhores abordagens. Vamos trabalhan- São Paulo, temos a professora Elcie Masini, que é
do com esse sujeito, respeitando suas aptidões e uma pioneira na área. No Rio de Janeiro, universi-
interesses. São oferecidas na reabilitação oficinas dades como UNIRIO, UFRJ, UFF já têm estabeleci-
de música, artesanato, reciclagem, desenho, entre do parcerias com o IBC, mas ainda são movimentos
outras, são várias opções de atividades, além do pontuais. Aqui, no IBC, por ser um centro de referên-
atendimento focado na comunicação. Hoje, no setor cia, seria interessante ter um programa de Mestrado
de surdocegueira do IBC, estamos percebendo uma e a nossa linha de pesquisa deveria contemplar ce-
alteração de perfil do público atendido. A maioria dos gueira, baixa visão e surdocegueira.

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SOCIALIZANDO CONHECIMENTOS

Pesquisador: Maria Apa- reta e análise de documentos. A Trazer considerações a respei-


recida Cormedi fundamentação teórica resgatou to de um tema pouco abordado
Título: Alicerces de significados concepções de vários autores nas pesquisas brasileiras re-
e sentidos: aquisição de lingua- dentre os quais: sobre surdoce- veste este estudo de significa-
gem na surdocegueira congênita gueira: Alsop, Brown, MacInnes, tiva relevância, especialmente
Tipo de Pesquisa: Doutorado Orelove, Riggio, Sobsey e Treffry; quando nos reportamos a uma
em Educação referente à linguagem e à comu- sociedade ‘dita’ inclusiva. A sur-
Instituição de Ensino: Universi- nicação: o interacionismo social docegueira pode se referir à im-
dade de São Paulo -histórico-cultural de Vygotsky e possibilidade total de ver e ouvir,
de Bakhtin; referente ao perceber, no entanto, deve ser levada em
A surdocegueira refere-se à con- situar-se no mundo, compreender consideração a possibilidade de
dição do déficit simultâneo da e comunicar-se: Amaral, MacLin- existirem resíduos visuais e/ou
audição e da visão, cuja combi- den, Masini, Miles, Reys e Sacks. auditivos que, apesar de existi-
nação leva a uma privação dos Foram descritas e analisadas as rem, não resultam na possibili-
dois sentidos responsáveis pela relações das duas jovens surdo- dade de usá-los de forma similar
recepção de informações à dis- cegas com o outro e com o que ao que não possui a(s) dificulda-
tância, de ordem temporal, dire- as cercavam e seus processos de des indicadas. Na realidade, é
cional e simbólica. Caracteriza a aquisição de linguagem e comu- uma condição em que se com-
surdocegueira o fato de não ha- nicação linguística. A análise dos binam transtornos visuais e au-
ver compensação do déficit visu- dados identificou as etapas de ditivos em diversos níveis, que
al pelo sentido da audição e nem aquisição das formas comunicati- produzem problemas na sua co-
do déficit auditivo pelo sentido vas pré-linguísticas até as formas municação com a sociedade. A
da visão. A compensação senso- linguísticas, bem como os fatores criança surdocega tem uma das
rial se dá por meio do sentido do que possibilitaram a aquisição deficiências menos entendidas
tato e do sistema proprioceptivo, da linguagem e a comunicação pela sociedade em geral. Não é
que compreende os sentidos ci- linguística, evidenciando suas uma criança cega que não pode
nestésico e vestibular. A surdoce- formas linguísticas de comunica- ouvir, ou uma criança surda que
gueira pressupõe uma das mais ção língua de sinais tátil, língua não pode ver. É uma criança com
complexas questões perceptuais: de sinais e Tadoma. Os resulta- privações multisensoriais, que
as especificidades da comunica- dos evidenciaram os fatores que apresentará restrições para o
ção de cada pessoa surdocega e alicerçaram a linguagem e a co- uso simultâneo dos dois sentidos
a aquisição da linguagem. Esta municação pela língua de sinais distais, ou seja, terá dificuldade
tese propôs: pesquisar a trajetó- das jovens pesquisadas: a identi- em expressar o seu pensamen-
ria de duas pessoas que compen- dade assumida como sujeito sur- to e entender o pensamento do
saram a surdocegueira, adquirin- docego; o desenvolvimento das outro, através dos canais usuais.
do linguagem e comunicando-se habilidades sensoriais e moto- Não podemos deixar de consi-
por língua de sinais; desvelar o ras; o contexto histórico familiar, derar que comunicação é uma
desafio referente à barreira da educacional, social e cultural, de necessidade básica de todo ser
comunicação, do ponto de vista consideração e incentivo à ação humano e, no caso da surdoce-
dessas pessoas que a supera- e interação; a oportunidade de gueira, se reveste de peculiarida-
ram. O objetivo geral foi identifi- disporem de mediador; as rela- des praticamente desconhecidas
car os fatores que possibilitaram ções com outros, atentos às suas da sociedade. Portanto, crianças
a aquisição da linguagem até o formas de comunicação expressi- surdocegas deverão apresentar
uso da língua de sinais por essas va e de comunicação receptiva. dificuldades que, provavelmen-
duas jovens com surdocegueira te, irão atrasar sua trajetória
total congênita. O procedimen- Pesquisador: Sueli Fer- para se tornar um membro ativo
to metodológico foi o estudo de nandes da Silva Rached na sociedade. No entanto, essa
caso, de modalidade qualitativa, Título: Ver e ouvir a surdoceguei- criança é capaz de exprimir-se e
de cada uma das duas jovens ra: o emergir da comunicação também receber as mensagens
surdocegas congênitas. O caráter Tipo de Pesquisa: Mestrado que lhe enviamos. O objetivo
inovador desta pesquisa foi o de Acadêmico em Ciências da Lin- deste trabalho é “ver e ouvir” a
entrevistar diretamente as duas guagem surdocegueira, voltando-nos
jovens, familiares e profissionais, Instituição de Ensino: : Univer- para a análise das formas de co-
complementando esses dados sidade Católica de Pernambuco municação de crianças surdoce-
com registros de observação di- gas pré-linguísticas. Para funda-

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mentar esse estudo destacamos surdocegueira e de crianças com favorecendo a autonomia para
as contribuições de Vygotsky, deficiência múltipla sensorial no escolher, recusar ou querer mais
Bruner, Tomasello e Chomsky, brincar. Constitui a sistematiza- da atividade. No que diz respei-
dentre outros, que oferecem ção e análise de dados registra- to ao brincar, foram ressaltados
subsídios para entendermos me- dos de um programa de recrea- autores que enfatizam o brincar
lhor as peculiaridades da aquisi- ção, ocorrido no período de 2007 como prazer, por meio do qual
ção da linguagem dessa criança. a 2009, na AHIMSA - Associação é possível ampliar a interação
Participaram da pesquisa dez Educacional para Múltipla Defi- e comunicação, dentre os quais
surdocegos pré-linguísticos na ciência. O objetivo central foi o Vygotsky, Winnicott. Maturana,
faixa etária de três a dez anos, de analisar se a brincadeira e o Kishimoto e Zöller. Com base
pertencentes a uma única insti- brincar dessas crianças foram nesses autores, foi possível ob-
tuição de Pernambuco. Os pro- facilitadoras da interação en- servar que o brincar evidenciou a
cedimentos metodológicos obe- tre elas e os adultos significati- promoção da comunicação e in-
deceram às recomendações do vos (familiares, professores e teração e, assim, o diálogo, por
que a pesquisa qualitativa deve voluntários da instituição), me- meio da comunicação tátil, am-
apresentar. A coleta de dados re- lhorando a eficiência das suas pliando a comunicação expressi-
alizou-se através de três fontes: comunicações. Teoricamente va e receptiva dos participantes
entrevista com pais, mapas de fundamentou-se em autoridades e a importância dos contextos
comunicação e observação di- nas áreas que compõem este ob- naturais para promover esses
reta dos sujeitos em interações jeto de estudos. No que diz res- comportamentos. A pesquisa é
sociais. A análise dos dados co- peito às definições e terminolo- constituída por uma análise em
letados foi realizada individual gias de surdocegueira, dentre os profundidade de registros - escri-
e coletivamente, demarcando o vários autores estão os membros tos, fotográficos e filmados - do
perfil das formas comunicativas das organizações internacionais brincar de três crianças com sur-
dos sujeitos. As considerações como Deafblind International, docegueira ou com deficiência
finais revelaram que as formas Centro Nórdico de Formação múltipla sensorial, de um progra-
de comunicação variam de sujei- Pessoal de Serviços para Pes- ma de recreação ocorrido no pe-
to para sujeito, independente da soas Surdocegas e, no Brasil, ríodo de 2007 a 2009 nas depen-
faixa etária, mas existe um con- o Grupo Brasil de Apoio ao Sur- dências da escola, play ground
junto de formas comunicativas docego e ao Múltiplo Deficiente da comunidade, praças públicas
mais ou menos comuns, expres- Sensorial, e da deficiência múlti- e no buffet infantil. São descritos
sas pelo grupo, o que nos per- pla estão Clarice Nunes, Center o processo das 11 escolhas dos
mitiu elaborar um perfil do seg- for Children and Youth with Disa- participantes, dentre crianças de
mento, além de apontar para o bilities e o Grupo Brasil de Apoio 0 a 5 anos com surdocegueira e
uso de estratégias que facilitem ao Surdocego e ao Múltiplo De- com deficiência múltipla senso-
essas aquisições. Esperamos ficiente Sensorial. No que diz rial, seus familiares e os profes-
com este trabalho contribuir para respeito à interação, dentre os sores do programa de educação
a renovação do panorama de vários autores estão John McIn- infantil da escola Ahimsa - Asso-
atenção às crianças que apre- nes, Inger Rodbroe e Marleen ciação Educacional para Múltipla
sentem surdocegueira, trazen- Janssen. No que diz respeito à Deficiência.
do demonstrações concretas do comunicação e linguagem, den-
seu desenvolvimento, mostrando tre os vários autores estão Jean Pesquisador: Izabeli Sa-
ainda a importância das intera- Van Dijk e Pilar Gomes Viñas. les Matos.
ções sociais para a aquisição da Foi evidenciada a promoção do Título: Formação continuada
linguagem. diálogo por meio da comunica- dos professores do AEE - sabe-
ção tátil, focalizando a comuni- res e práticas pedagógicas para
Pesquisador: Shirley Ro- cação expressiva e a comunica- a inclusão e permanência de alu-
drigues Maia ção receptiva dos participantes nos com surdocegueira na esco-
Título: Descobrindo crianças e a importância dos contextos la
com surdocegueira e com defici- naturais para promover esses Tipo de Pesquisa: Mestrado
ência múltipla sensorial no brin- comportamentos. Autores como Acadêmico em Educação
car Inger Rodbroe, Marleen Jans- Instituição de Ensino: Universi-
Tipo de Pesquisa: Doutorado sen e Jean Van Dijk, afirmam dade Estadual do Ceará
em Educação que a interação e a comunica-
Instituição de Ensino: Universi- ção com parceiros significativos Este estudo teve como objetivo
dade de São Paulo têm por função promover à me- maior analisar a formação conti-
diação para informação e apoio nuada do professor do AEE, re-
Esta tese trata das interações e na participação dos alunos no lacionando-a com seus saberes
comunicações de crianças com desenvolvimento das atividades, e práticas pedagógicas, ante a

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proposta de inclusão educacio- rísticas individuais dos alunos, interpessoais de surdocegos,
nal e da permanência de alunos embora desconsiderem as impli- especialmente em relação à co-
com surdocegueira, nas escolas cações da dupla privação senso- municação e locomoção e as
de ensino fundamental da rede rial. Em relação ao planejamento repercussões da surdocegueira
pública no Município de Forta- e conteúdo desenvolvidos, hou- nestes aspectos. Métodos: Rela-
leza. Trata-se de uma pesquisa ve divergência de respostas en- to de série de 11 casos realizado
descritiva de abordagem quali- tre as duas professoras; uma de- a partir de entrevistas semiestru-
tativa, que opta pelo estudo de las não associa o planejamento turadas com questões relativas à
caso múltiplo, como método de ao que é desenvolvido em sala funcionalidade da comunicação,
pesquisa. Foi realizada em duas de aula comum. Desenvolvem envolvendo os aspectos de vida
escolas regulares da cidade de parcerias com instituições espe- pessoal, social e profissional,
Fortaleza, com duas professoras cializadas, tendo-as como fortes pré e pós-diagnóstico, com por-
do Atendimento Educacional Es- aliadas no processo educacio- tadores da Síndrome de Usher,
pecializado-AEE. Os critérios de nal, e afirmam que a inclusão com idades entre 20 e 57 anos,
seleção dos sujeitos, para parti- de seus alunos ocorre de forma que frequentaram um ambulató-
cipar da pesquisa, foram: atuar incompleta. Para as professo- rio especializado em um serviço
nas salas de recursos multifun- ras, os saberes relevantes a sua universitário e o Grupo Brasil de
cionais, em ‘escolas comuns’ da prática estão relacionados às Apoio ao Surdocego e ao Múlti-
rede pública municipal de For- especificidades da deficiência, plo Deficiente Sensorial, durante
taleza; desenvolver práticas de como a comunicação, linguagem o ano de 2007. As respostas fo-
atendimento educacional espe- e ‘orientação e mobilidade’, as- ram analisadas qualiquantitativa-
cializado com alunos surdoce- pectos relacionados ao agir e mente pela técnica do Discurso
gos; e ter atuação, nessa área, interagir com o aluno. Com rela- do Sujeito Coletivo (DSC). Re-
por, no mínimo, um ano. Para ção às contribuições da forma- sultados: Todos os entrevistados
obtenção dos dados que atende- ção continuada para a inclusão referiram que os sintomas visu-
ram ao objetivo da investigação, e permanência dos alunos e sua ais e auditivos tiveram início na
foram realizadas observações atuação diante deles, apesar do infância. Dos 11 entrevistados,
sistemáticas do contexto escolar depoimento afirmando a deman- 6 sentiram que a doença afetou
(Observação I) e da prática do- da por saberes específicos para negativamente suas atividades
cente (Observação II); análise de sua realização de forma ade- cotidianas, 6 sentiram dificulda-
documentos; aplicação de ques- quada, a prática das professo- de no trabalho, 2, no lazer. Qua-
tionários e realização de entre- ras denota o empenho para que tro relataram que houve mudan-
vistas. Foi utilizada para o pro- se estabeleçam a inclusão e a ça no relacionamento familiar e
cessamento das informações, a permanência dos alunos no con- 5 relataram que não houve mu-
categorização analítica. O ques- texto educacional. Mais que boa dança na interação com a família
tionário e a observação I trouxe- vontade, entretanto, é essencial e com os amigos. Na análise do
ram as primeiras aproximações que o professor do AEE tenha discurso, quase 30% dos entre-
com o sujeito e subsídios para uma formação específica, para vistados relataram utilizar-se de
análises posteriores. A entrevis- que o aluno seja compreendido formas alternativas de comuni-
ta, os documentos e as obser- na sua inteireza e que seja res- cação; 40% afirmaram que se
vações II foram analisados com peitada a realidade do contexto deslocam sozinhos se o trajeto
suporte no Software QSR Nvivo em que se encontra. for previamente conhecido. Ape-
9, um programa para análise nas um dos onze entrevistados
qualitativa de dados. Os resulta- Pesquisador: Marilia Zan- afirmou não pedir ajuda quando
dos indicam que as professoras non de Andrade Figueiredo necessário. Conclusões: Quase
demonstram disponibilidade e in- Título: Surdocegueira pós-lin- 30% dos entrevistados relataram
teresse pela formação continua- guística em Síndrome de Usher: utilizar-se de formas alternativas
da, embora estas formações não estudo observacional retrospec- de comunicação. Quanto à loco-
contemplem ainda suas necessi- tivo moção, quase 40% afirmaram
dades ante suas práticas peda- Tipo de pesquisa: Mestrado deslocar-se sozinho (seja a pé,
gógicas e não trazem elementos Acadêmico em Distúrbios da Co- de metrô ou de ônibus) se o tra-
suficientes para auxiliar a inclu- municação Humana (Fonoaudio- jeto for previamente conhecido.
são educacional e permanência logia) Todos os entrevistados afirma-
de alunos com surdocegueira na Instituição de Ensino: Universi- ram ter sentido um impacto ne-
escola. Quanto às suas práticas, dade Federal de São Paulo gativo da doença nas suas vidas,
elas atuam na sala de recursos ao menos em um dos aspectos
multifuncionais, em espaços e Objetivos: Caracterizar a comu- levantados.(atividades cotidia-
com recursos nem sempre ade- nicação e os principais mecanis- nas, trabalho, lazer e relaciona-
quados; consideram as caracte- mos de facilitação nas relações mentos interpessoais).

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E NO IBC?

Flávia Pereira, Rodrigo des do aluno com deficiência visu- Os médicos residentes do
Cardoso e Thiago E. dos Santos, al?; (3) O que move os professores Centro Oftalmológico do Insti-
alunos do curso de Licenciatura a procurarem os cursos do IBC?; tuto Benjamin Constant Julia F.
em Matemática da UFRJ, de- (4) Em que medida os cursos de Heringer, Heron G. Correia, Jo-
senvolvem o tema “Combinató- curta de duração do IBC propor- ana de Farias e Marcus Vinicius
ria no Ensino Fundamental”. A cionam experiências formativas Salady, coordenados pelo Dou-
pesquisa, vinculada ao Projeto transformadoras nas trajetórias tor Abelardo de S. Couto Júnior,
Fundão “Matemática para Defi- dos professores? ” realizam a pesquisa “Eficácia
cientes Visuais e Surdos”, des- da superposição de imagens na
tina-se a aplicar atividades que “Currículo de Arte/Educação detecção de alterações estrutu-
envolvam técnicas de contagem, para Alunos Cegos e com Visão rais do disco óptico”. Segundo
princípio aditivo e multiplicativo, Reduzida” é a pesquisa elabora- os pesquisadores, esse projeto
utilizando recursos adaptados da por Natalia Allão, graduanda pretende “testar uma nova forma
para o deficiente visual. do Curso de Pedagogia da UFRJ. de acompanhar o disco óptico,
A investigação tem como objetivo podendo auxiliar na detecção de
Elise de Melo B. Ferreira, identificar a importância das Artes/ pequenas alterações” em sua
professora do Instituto Benja- Música como um recurso de apren- estrutura “de forma mais pre-
min Constant, realiza pesquisa dizado para crianças cegas ou com coce e, quem sabe, se mostrar
de Mestrado em Educação pela baixa visão. promissor para detecção de pro-
Universidade Estácio de Sá. O gressão do glaucoma, auxiliando
título do trabalho é “Formação “A utilização de materiais na prevenção da cegueira”.
de professores na área da defi- grafotáteis como facilitadores na
ciência visual: narrativas de pro- aprendizagem da cinemática” é Maria Luisa G. da Fonse-
fessores egressos dos cursos o tema da pesquisa de Vagner ca, médica residente do Cen-
do Instituto Benjamin Constant”. S. da Cruz, professor do Institu- tro Oftalmológico do Instituto
Segundo a autora, tal estudo to Benjamin Constant. O escopo Benjamin Constant, elabora a
busca analisar as seguintes do trabalho é preparar gráficos pesquisa “Síndrome Ocular de
questões: “(1) Como se formam do movimento em materiais mul- Blefarocálase”. O estudo objeti-
os professores para atuarem na tissensoriais para pessoas com va discutir essa síndrome oftal-
área da deficiência visual?; (2) deficiência visual, possibilitando a mológica rara, para facilitar seu
Quais as dificuldades que eles esse público a exploração de tais diagnóstico e tratamento, divul-
encontram na prática pedagógi- recursos como uma complementa- gando os resultados entre os
ca para atender às especificida- ção do ensino da cinemática. médicos oftalmologistas.

O QUE HÁ DE NOVO?

A TECNOLOGIA A FAVOR DA MOBILIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

F elizmente, muitos cientistas e


estudantes têm desenvolvido
projetos para trazer boas solu-
de “olho biônico”, usa a mesma
técnica dos morcegos que emitem
ondas de ultrassom. Ao encontrar
de som e transmite esse sinal
para o sensor auditivo do defi-
ciente visual, orientando ele so-
ções ao dia a dia do deficiente. obstáculos, essas ondas retornam. bre a distância, se é um buraco, a
Muito deles já estão em estágio Com base no tempo desse retorno, que distância está esse buraco”,
avançado de pesquisa e outros é possível calcular a distância até explica Ricardo Valentim, coorde-
ainda são protótipos, mas com o objeto. nador do projeto.
grandes promessas de darem O sistema utiliza três senso-
certo res: um instalado na aba do boné.
Pesquisadores da Univer- Outro na altura da cintura, na pró- Fonte:
sidade Federal do Rio Grande pria bengala; e o terceiro na pon- http://www.fundacaodorina.org.
do Norte criaram uma ferramen- ta da bengala. Os alertas sonoros br/blog/2014/08/a-tecnologia-a-
ta que faz os cegos enxergarem são emitidos por um aplicativo no favor-da-mobilidade-das-pesso-
pelo ouvido. O projeto, apelidado celular. “Ele pega aquela emissão as-com-deficiencia-visual/

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Aplicativo para celulares identifica objetos para deficientes visuais

T apTapSee é um aplicativo desenvolvido para o


sistema iOS, do iPhone, que possibilita a qualquer
pessoa com deficiência visual identificar objetos sem
está crescendo cada vez mais. Nós estamos traba-
lhando para melhorar a tradução do aplicativo, o que
nos ajudaria a fazer o aplicativo crescer internacio-
precisar da presença de alguém, o que lhes propor- nalmente.
ciona maior independência.
O aplicativo é capaz de identificar desde uma PJ ESPM-SP: Qual o seu projeto para o futuro?
simples caneta até uma marca de notebook ou re-
frigerante. Depois de aberto, é necessário simples- Dmitriy: Nós estamos focando nosso desen-
mente tirar uma foto de qualquer ângulo e esperar a volvimento do TapTapSee para lança-lo no Android
identificação, que é mostrada na tela do smartphone em um futuro próximo
e falada para o usuário cego com a ajuda do VoiceO-
ver (recurso de acessibilidade da Apple, que permite PJ ESPM-SP: Quantos funcionários vocês pos-
aos cegos utilizar o smartphone com autonomia. suem?
O Portal conversou com o diretor executivo de
marketing da start-up que desenvolve o app. Dmitriy: Nossa empresa é uma start-up, então
nosso grupo é pequeno, mas estamos extremamen-
Portal de Jornalismo ESPM-SP: A identificação do te motivados e prontos para o trabalho. Nós somos
objeto é feita por humanos ou por computadores? um grupo de 8 pessoas.
Como é esse processo?
PJ ESPM-SP: Como vocês se mantêm financeira-
Dmitriy Konopatskiy: Nós usamos nossa mente?
tecnologia patenteada que utiliza a computação grá-
fica juntamente ao nosso banco de dados. Quando Dmitriy: Nossa companhia é mantida através
o computador falha na identificação da imagem, ele do dinheiro vindo de investidores.
envia para um humano e isso é o que garante nosso
grande nível de acerto. PJ ESPM-SP: Que contribuição você acha que a
tecnologia proporciona para os cegos? Nesse sen-
PJ eESPM-SP: Quando um objeto não é identifica- tido, o que você acredita que possa existir em um
do pelo sistema e é destinado para um ser huma- futuro?
no identificar, essa pessoa é paga para realizar esta
ação? Qualquer um pode participar do serviço? Dmitriy: A tecnologia está dando cada vez
mais independência para a comunidade de deficien-
Dmitriy: Quando um objeto não é identifica- tes visuais. É incrível ouvir histórias da melhoria que
do e vai para um humano identificá-lo, o pessoal do nosso aplicativo fez na vida das pessoas. Por exem-
nosso grupo é quem faz essa identificação. Estamos plo, uma pessoa nos contou que, com nosso aplica-
sempre treinando nosso pessoal rigorosamente, e tivo, ela consegue ir ao mercado sozinha pela pri-
quem estiver interessado vai passar por um forte pro- meira vez em sua vida. Graças ao nosso aplicativo o
cesso seletivo. Nós não contratamos voluntários. cliente pôde identificar os itens e julgá-los necessário
ou não. Acredito que os avanços tecnológicos estão
PJ ESPM-SP: Você conhece outros aplicativos que crescendo cada vez mais rápido, portanto não me
auxiliam os cegos? surpreenderia se nos próximos 3 ou 5 anos cientistas
descobrissem um modo de combater a cegueira ou
Dmitriy: Existem muitos aplicativos dispo- alguma forma de criar um headset que fale para você
níveis, que ajudam em diversos propósitos. Al- o que está em sua frente.
guns deles são: Voice Dream, MBraille, flesky and O TapTapSee é gratuito e pode ser encontrado
textgrabber. na appstore.

PJ ESPM-SP: Quantos usuários você tem no mun-


do? E no Brasil?

Dmitriy: Nós temos aproximadamente 100 mil Fonte: http://jornalismosp.espm.br/geral/aplicati-


usuários no mundo e a participação dos brasileiros vo-identifica-objetos-para-deficientes-visuais

IBC - DTE - DDI 7


• As palestras serão realizadas no IBC, Acompanhe também pela internet:
sempre de 14h30 às 16h, na sala 251.
ibc.gov.br
Em razão do funcionamento
da instituição, nos meses de
conversandocomoautor
• Haverá distribuição de certificados. junho, julho, janeiro e fevereiro,
@IBConstant
o boletim será bimestral.
• As inscrições serão realizadas no local.

EXPEDIENTE
Contatos
Direção Geral do Instituto Benjamin Constant Comissão Editorial IBC - DDI
Maria Odete Santos Duarte Daniele de Souza Pereira
Morgana Ribeiro dos Santos Avenida Pasteur, nº 350,
Centro de Estudos e Pesquisas Urca-RJ
Gabinete do Instituto Benjamin Constant Paolla Cabral Silva Brasil Rio de Janeiro
Allan Paulo Moreira dos Santos
Maria da Gloria de Souza Almeida Rodrigo Agrellos Costa CEP: 22290-240
Angélica Ferreira Beta Monteiro
Vitor Alberto da Silva Marques
Fabiana Alvarenga Rangel tel. (21) 3478-4517
Departamento Técnico Especializado
Márcia de Oliveira Gomes
Ana Lúcia Oliveira da Silva Email:
Rachel Maria C. M. de Moraes Diagramação
ddicentrodeestudo@ibc.gov.br
Domingos Octávio D.F. Souza
Divisão de Pesquisa, Documentação e Informação
Jornalista responsável Tiragem
Claudia Lucia Lessa Paschoal 300 exemplares
Domingos Octávio D.F. Souza

Remetente:
Destinatário:

Instituto Benjamin Constant


Avenida Pasteur, nº 350,
Urca-RJ
Rio de Janeiro
CEP: 22290-240

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