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AUTISMO e

EDUCAÇÃO
EM MEIO AO DEBATE SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA E EDUCAÇÃO
ESPECIAL, O PROFESSOR CARLO SCHMIDT APRESENTA
INTERESSANTES QUESTÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DE PESSOAS QUE
FAZEM PARTE DO ESPECTRO AUTISTA

D E N T R E AS PRINCIPAIS Atualmente, qual é a orientação legal


QUESTÕES S O B R E A EDUCAÇÃO para o ensino de portadores de neces-
D E PESSOAS COM AUTISMO, sidades psicológicas especiais? Há di-
B E M COMO A EDUCAÇÃO D E PESSOAS ferenças entre as orientações estadu-
COM N E C E S S I D A D E S E S P E C I A I S E M ais, municipais e federais?
G E R A L , ENCONTRA-SE O D E B A T E
S O B R E AS POSSIBILIDADES DA Conforme o documento expedido pelo MEC,
EDUCAÇÃO INCLUSIVA - D E N T R O em 2007, intitulado "Política Nacional de Educação
na Perspectiva da Educação Inclusiva", os sistemas
DAS SALAS D E A U L A DO ENSINO
de ensino são orientados a promover respostas às
BÁSICO NORMAL, JUNTO COM
necessidades educacionais dos alunos com defi-
OS ALUNOS S E M N E C E S S I D A D E S
ciência. Transtornos Globais do Desenvolvimento
E S P E C I A I S - F R E N T E À CHAMADA
(como o autismo) e Altas Habilidades/Superdotação
EDUCAÇÃO E S P E C I A L , E M Q U E O
no ensino comum. Dentre outros, oferece o Atendi-
ENSINO É R E A L I Z A D O POR M E I O D E
mento Educacional Especializado (AEE) e formação
C L A S S E S E ATIVIDADES VOLTADAS
de professores para qualificar o atendimento a es
E S T R I T A M E N T E PARA E S T E PÚBLICO
tes alunos.
ESPECÍFICO.
Para apresentar este e outros temas relativos Muitas pessoas criticam a inserção d e s -
à educação de autistas, conversamos com o profes- tas pessoas no Ensino Básico da rede
sor Carlo Schmidt, que se posiciona favoravelmente pública, em detrimento da valorização
a uma articulação entre a inserção no Ensino Básico do ensino em instituições específicas,
e a realização de atividades específicas. Carlo Sch- como a APAE (Associação de Pais e
midt é professor adjunto do Departamento de Educa- Amigos dos Excepcionais). Qual é o seu
ção Especial, na Universidade Federal de Santa Ma- posicionamento sobre Isso?
ria. É psicólogo desde 1997, especialista em Psicologia
Hospitalar (2000), mestre e doutor em Psicologia do A perspectiva da educação inclusiva entende
Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio que a educação especial, enquanto organizada de
Grande do Sul (2002-2009). Dentre seus trabalhos modo paralelo à educação comum, separava aque-
realizados na área, o professor coordenou um cen- les alunos que não se adequavam a este sistema
tro de atendimento a pessoas com autismo (entre de ensino. Por essa razão, a educação especial foi
2000 e 2009). Atualmente, é coordenador do Grupo reestruturada para não mais se contrapor à esco-
de Pesquisa Educação Especial e Autismo, da Uni- larização básica, mas para integrar a proposta pe-
versidade de Santa Maria (EdEA). dagógica da escola regular, ampliando a estrutura

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"Em determinados casos, o acompanhamento deste aluno por um acompanhante especializado se Jaz
necessário. Inclusive já existe amparo legal para isso, por meio da Lei 12.764 de 2012, que prevê este
auxílio."

e função da escola. ampla avaliação dos recursos e dificuldades de cada


pessoa com autismo para identificar e atuar sobre as
Quais são os argumentos favoráveis e barreiras que estão impedindo ou dificultando sua
contrários à educação especial e à edu- participação e aprendizagem na escola.
cação inclusiva?
No que diz respeito à educação, como li-
O que se observa são posicionamentos de gru- dar com a multiplicidade de característi-
pos, mais comumente formados por associações de cas também dentro do chamado espectro
pais de pessoas com necessidades educacionais es- autista?
peciais, em defesa de uma educação separada do
ensino comum, argumentando que a escola regular Os estudos desenvolvidos pelo nosso grupo de
não está oferecendo respostas adequadas às neces- pesquisa têm mostrado casos em que os professores
sidades de seus filhos. De fato, a inclusão exige mu- descobrem alternativas pedagógicas muito interes-
danças profundas no sistema escolar que dependem santes, que promovem interação e aprendizagem des-
do aprimoramento das ações políticas e pedagógicas, tes alunos no âmbito escolar Estas iniciativas partem,
assim como a capacitação do corpo docente escolar por vezes, de um planejamento baseado nas poten-
Tais mudanças ainda encontram-se incipientes, com cialidades destes sujeitos, ou seja, o que eles conse-
lacunas importantes a serem preenchidas. guem fazer mais do que o que eles não conseguem.
A habilidade dos professores em identificar possibi-
Diante da multiplicidade de necessida- lidades e recursos parece constituir uma chave de
des psicológicas especiais, quais são as acesso importante em que as alternativas pedagógi-
especificidades dos autistas e quais in- cas tomam espaço.
tervenções educacionais específicas este
público demanda? Qual formação os professores do Ensi-
no Básico precisam ter para acolher os
O autismo recentemente recebeu alterações em portadores de necessidades psicológicas
sua nomenclatura, sendo hoje concebido como Trans- especiais? Isso ocorre na prática?
tornos do Espectro do Autismo. Essa nova concepção
entende que o autismo pode se manifestar de formas A formação principal é a educação voltada para
muito diversas de um sujeito para outro. Enquanto as diferenças. No caso das pessoas com autismo, elas
alguns têm determinadas habilidades presentes, ou- frequentemente apresentam habilidades específicas
tros podem não desenvolver a fala e assim necessitar que podem ser superiores às dos outros alunos, ao
de recursos muito diferentes. Esta variabilidade com passo que, em outras áreas, estas são muito limitadas.
que se expressa o autismo não permite que se ado- Para que o professor consiga promover avanços edu-
tem intervenções educacionais centradas no diagnós- cacionais com esses alunos é preciso que ele esteja
tico, mas que sejam ajustadas individualmente a cada apto a identificar tanto as dificuldades quanto os re-
sujeito que tenha autismo. Tornase necessária uma cursos. O que tem acontecido com alguma frequência
é a identificação apenas dos déficits presentes no au- "Os estudos desenvolvidos pelo nosso grupo de
tismo, reduzindo possibilidades de intervenção. Por pesquisa tem mostrado casos em que os profes-
isso, a formação voltada para a compreensão da dife- sores descobrem alternativas pedagógicas muito
rença parece importante. interessantes, que promovem interação e aprendi-
zagem destes alunos no âmbito escolar."
É interessante o acompanhamento indivi-
dualizado destas pessoas por parte de
um profissional exclusivo denfro da sala
de aula?

Em determinados casos, o acompanhamen-


to deste aluno por um acompanhante especializado
se faz necessário. Inclusive já existe amparo legal
para isso, por meio da Lei 12.764 de 2012, que pre-
vê este auxílio. O importante é que este profissional
também tenha uma formação adequada para atuar
nesse contexto. O objetivo não é que este acompa-
nhante seja responsável exclusivo por este aluno, já
que ele continua pertencendo à classe comum, sob
responsabilidade do professor e do regente. O ideal
é uma interação estreita entre o educador especial,
o professor regente e o acompanhante especializado,
colaborando de modo interdisciplinar para a inclusão
do aluno com autismo. O autismo, seja na clínica ou
na escola, exige o acompanhamento por uma equipe
multidisciplinar

Quais são as Intervenções extraescolares


interessantes no caso do autismo?

Essas dependerão de cada caso. Alguns pre-


cisam, em determinado momento do seu desenvol-
vimento, de uma fonoaudióloga que auxilie na fala.
Outros irão necessitar de um psicólogo ou neurope-
diatra. Enfim, as necessidades mudam com o tempo,
sendo importante que os professores e pais devem
estar atentos a estas demandas.

Como os educadores podem contribuir


para o surgimento de relações harmonio-
sas entre os portadores de necessidades
especiais e os alunos não portadores?

O professor é uma peça fundamental no pro-


cesso de aceitação desses alunos por parte da turma.
Este pode favorecer atividades coletivas que aproxi-
mem o aluno com autismo do grupo, mediando suas
relações. Quando a turma reconhece o valor desse
sujeito, os benefícios não ocorrem somente para ele, Política Nacional dos Diretos da Pessoa com Transtor-
mas para a turma toda. Alguns estudos mostram que no do Espectro do Autismo, estabelecendo diretrizes
a convivência positiva com a diferença pode favore- para a sua consecução. Além desta, a nota técnica N.o
cer o desenvolvimento de valores humanitários. 24/2013/MEC/SECADÍ/DPEE orienta os sistemas de en-
sino para a implantação desta lei, considerando, entre
Quais são as políticas públicas atuais outros, a pessoa com TEA como pessoa com deficiên-
voltadas para este público? cia, estimula sua inserção no mercado de trabalho,
bem como a formação e capacitação de profissionais
As mais recentes são a Lei 12.760, também especializados para este tipo de atendimento.
conhecida como lei Berenice Piana, que institui a

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n GRANDES TEMAS D O CONHECIMENTO

PSICOLOGIA
ESPECIAL A U T I S M O
COMO NASCE
UM AUTISTA?
Hoje em dia, graças a dezenas
de estudos em curso, as causas
do autismo estão na mira de
terapeutas e pesquisadores

O ESPECTRO
DA SÍNDROME
Identificar os sintomas
da doença se tornou
essencial na busca por
terapias adequadas
e efetivas

TRATAMENTOS
E A SOCIEDADE
Uma ação terapêutica
intensa desde os primeiros
sintomas pode minimizar
os efeitos e melhorar a
interação social

MITOS AUTISTAS
O cinema e a literatura sempre expuseram
os portadores da síndrome como pessoas
de dons extraordinários. Contudo, a realidade N» 0 5 - R $ 1 4 , 9 0 - € 9 , 5 0

não é exatamente essa


iiilliilíi

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