Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Doutora em Ciências da Educação pela Universidad Jaén
(UJAEN) – Espanha. E-mail: marciacade@ifes.edu.br
9
ABSTRACT 1 INTRODUÇÃO
This paper presents an analysis about the Nos últimos anos percebemos os avanços
insertion of students with intellectual disabilities in das políticas públicas voltadas para as pessoas com
a youth and adult class from a regular state school necessidades educacionais especiais. No Brasil, a
of the city of Alegre, located in the Espirito Santo educação inclusiva tornou-se uma obrigação legal,
state, Brazil. This investigation aims at analyzing how garantindo atendimento para essas pessoas que
these students’ insertion in EJA took place, trying foram excluídas da educação formal na infância e
to understand the challenges and the perspectives adolescência.
that characterize it, as the researched institution
welcomes many students who have never gone A Constituição Federal de 1988 estabelece
to a regular school. The proposal of inclusion que a educação é direito de todos e dever do
created by the Brazilian Ministry of Education is Estado e da Família, e assegura atendimento
an advancement on what regards the need to educacional especializado aos “portadores
guarantee the inclusion of people with intellectual de deficiência”, preferencialmente na rede
disability in the schools, and it is a challenge to regular de ensino. Em 2010 a Resolução nº 4
comply with the Ministry’s resolutions in a short do Ministério da Educação estabeleceu que
period, as there is not an effective preparation alunos com deficiência, transtornos globais do
of the institutions, its professionals as well as the desenvolvimento e altas habilidades devem ser
society. After acknowledging this, this study has matriculados nas classes comuns do ensino regular
considered the teachers’ opinion in order to identify e no atendimento educacional especializado. As
the challenges and perspectives regarding these entidades filantrópicas, tais como Associação de
students’ educational process. This paper’s target Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE e Pestalozzi,
audience are the teachers who have received the que funcionavam como unidades educacionais
students with special educational needs from APAE, especializadas, passaram a fazer atendimento
who were inserted in youth and adults educational complementar, duas ou três vezes por semana, em
method, supported by the 2010 nº4 Resolution from horário contrário ao da escola regular.
the Ministry of Education. This work has adopted
a qualitative approach as investigation method, Assim, amparado pela resolução, o
aiming at understanding the teacher’s perception atendimento escolar aos alunos com deficiência
about the insertion of students with intellectual intelectual e/ou física no município de Alegre-ES
disabilities in EJA, enhancing the knowledge about deixou de ser oferecido exclusivamente na instituição
the challenges and perspectives of this inclusion. especializada (APAE) e os alunos foram incentivados
The data was collected through a semi-structured a se matricularem também no ensino regular, pois
interview, from the pilot study with three teachers. caberia à escola regular dar o atendimento escolar
Afterwards, we have included two teachers who e à APAE o atendimento educacional especializado.
have received the students group at the school. The Até 2010, a APAE, em Alegre, absorvia os alunos
data was presented and analyzed linking the results com deficiência, funcionando como unidades
with the objectives, setting some criteria to be educacionais e, depois da resolução, a maioria
analyzed in a future proposal. The data analysis has desses alunos matriculou-se na EJA.
revealed some aspects that concern how teachers
conceive this partnership, pointing out its challenges A proposta de inclusão do Ministério
and perspectives. da Educação foi um avanço no sentido de as
pessoas com deficiência terem a garantia de
Keywords: Intellectual disability; inclusion; EJA; direitos na sociedade, mas a lei foi imposta num
challenges; perspectives. curto espaço de tempo, sem que se fizesse uma
efetiva preparação das instituições escolares,
dos profissionais e da sociedade em geral. Como
pesquisadora da Educação de Jovens e Adultos,
essa nova realidade fez surgir dúvidas sobre como
se dava essa inserção dos alunos com necessidades
10 Revista Dialogos: extensão: metodologias e inclusão, Brasília, v.20, n.1, nov, 2016
educacionais especiais na EJA, pois na instituição de Jovens e Adultos ganha destaque, passando
pesquisada, muitos adultos que eram atendidos a ser considerada uma modalidade de ensino,
pela APAE não haviam frequentado a escola regular. ganhando corpo a partir da Constituição Federal
de 1988, quando o ensino fundamental para este
Segundo a APAE, em nível nacional, cerca grupo passa a ser tratado como um direito, sendo
de 10% do total de alunos matriculados em 2006 esta uma reivindicação antiga dos movimentos
simplesmente desapareceram em 2009. Teria organizados como aborda Osmar Fávero in Cosme
havido uma redução de 60.906 do total de alunos (2010, p. 3):
no período, a partir de 2007. Neste sentido, cabe
uma reflexão sobre a forma como a lei vem sendo O autor procura destacar
implementada e se de fato essas pessoas estão das propostas das campanhas e
tendo seus direitos garantidos. movimentos da educação de jovens e
adultos, a partir da década de 1940,
A opção pelo desenvolvimento da e das informações sobre as ações por
pesquisa em uma escola regular da rede estadual eles desenvolvidas algumas lições
do município de Alegre, localizada no Estado que ajudem a melhor entender as
do Espírito Santo, ocorreu em função de ser necessidades dessa educação no
professora da EJA e perceber essa nova realidade momento atual e questionar as
que se delineou a partir da resolução federal, a propostas atuais. É nesse sentido que
qual se quer conhecer a partir das percepções dos analisa, entre outros, a Campanha
professores envolvidos. de Educação de Adolescentes e
Adultos (CEAA) da década de 1940,
A metodologia de investigação é qualitativa o Movimento da Educação de Base
numa perspectiva exploratória e busca responder a (MEB), o Movimento de Cultura
seguinte questão: Qual a percepção do professor Popular (MCP), o Sistema Paulo Freire
sobre a inserção dos alunos com necessidades de Alfabetização, do fim da década de
educacionais especiais na EJA? Diante dessa 1950 e início da década de 1960 e a
questão, outra pergunta se coloca: Quais são Cruzada Ação Básica Cristã (Cruzada
os desafios e as perspectivas dessa inclusão? ABC) e o Movimento Brasileiro de
Procurando responder a essas questões, os Alfabetização (MOBRAL), considerado
dados foram coletados através de uma entrevista o maior movimento de alfabetização
semi-estruturada com os professores que atuam do país, com inserção de praticamente
nesta modalidade de ensino na busca de uma todos os municípios brasileiros.
compreensão ampla desse processo de inclusão.
A educação de jovens e adultos na
contemporaneidade não trata apenas de inclusão
nas escolas, mas sim nas sociedades democráticas
2 EJA E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: e, para tanto, há um caminho: pelo direito. “...os
A DIVERSIDADE EM DIFERENTES direitos do homem, por mais fundamentais que
CONTEXTOS sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em
certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em
defesa de novas liberdades contra velhos poderes,
O Brasil vem se destacando pela
e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez
efetivação do direito de todos à educação, e nem de uma vez por todas. ” (BOBBIO, 1992, p. 5)
conforme estabelecido na Constituição
Federal de 1988, ocorrendo através da O documento base do Programa de
formulação e implementação de políticas Integração da Educação Profissional ao Ensino
públicas que visam à inclusão social. Médio na Modalidade de Jovens e Adultos – PROEJA,
de 2007, caracteriza o sujeito da EJA como:
Tomando por base a legislação educacional
brasileira, podemos perceber que, a partir da Lei [...] sujeitos marginais ao sistema,
de Diretrizes e Bases Nacional 9.394/96 a Educação com atributos sempre acentuados
Revista Dialogos: extensão: metodologias e inclusão, Brasília, v.20, n.1, nov, 2016 11
em conseqüência de alguns fatores julgados incapazes de expressar suas
adicionais como raça/etnia, cor, próprias ideias sobre o contexto escolar
gênero, entre outros. Negros, que estava inserido.
quilombolas, mulheres, indígenas,
camponeses, ribeirinhos, pescadores, A inclusão dos alunos com necessidades
jovens, idosos, subempregados, educacionais especiais não se impõe pela
desempregados, trabalhadores legalidade, mas sim pela atenção especializada que
informais são emblemáticos vai além das adaptações físicas das escolas.
representantes das múltiplas
apartações que a sociedade brasileira,
excludente, promove para grande 3 SUJEITOS DA PESQUISA E ESCOLA
parte da população desfavorecida
econômica, social e culturalmente.
PESQUISADA
(BRASIL, 2007, p. 4).
A escolha dos sujeitos da pesquisa foi
intencional por se tratar de uma escola onde as
É interessante observar que, mesmo citando
professoras atuam na parceria da EJA e deficiência
os diferentes sujeitos, não encontramos os deficientes
intelectual.
no texto, talvez porque estes podem (ou pelo menos
deveriam) estar sendo vistos dentro de cada grupo
desses sujeitos marginais. Cabe, portanto, à escola Quadro 1. Caracteríscas das professoras
romper com este processo de estigmatização e exclusão,
como sugere Antunes (apud CARVALHO, 2006, p. 3) PROFESSORAS FORMAÇÃO
12 Revista Dialogos: extensão: metodologias e inclusão, Brasília, v.20, n.1, nov, 2016
estadual da escola em estudo. As professoras atendem 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
alunos do 1º segmento da EJA (1ª a 4ª série) na zona
urbana do município de Alegre, compreendendo duas
Realizou-se uma pesquisa de natureza
turmas multisseriadas com o total de 41 alunos, sendo
qualitativa numa perspectiva exploratória. Os
destes 11 com deficiência intelectual, 2 com deficiência
dados foram coletados por meio de entrevista
física e 1 com deficiência física e intelectual. A idade
semiestruturada, após estudo piloto, com duas
varia entre 16 e 65 anos. Quanto ao gênero, apenas 2
professoras de uma escola estadual do município de
mulheres fazem parte desse grupo.
Alegre-ES que, mesmo de forma não intencional,
tornou-se referência na parceria da EJA e deficiência
A organização curricular é dividida em três
mental. A análise e discussão dos dados foram
áreas de conhecimento: linguagens, códigos e suas
embasadas no estudo das percepções dessas
tecnologias; ciências da natureza, matemática e suas
professoras e nas leituras realizadas.
tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias.
Mesmo o currículo oficial contemplando as disciplinas
de artes e educação física, essas não são ofertadas.
5 RESULTADO E DISCUSSÃO
Os professores elaboram os planos de ensino
a partir do Currículo Básico Escola Estadual lançado no A entrevista possui cinco perguntas que serão
ano de 2009, pois, apesar da Secretaria de Educação apresentadas a seguir juntamente com as respostas
ter um caderno de diretrizes da EJA, elaborado em de cada professora e a análise realizada, tomando por
2007 com a participação de alguns professores e base materiais de referenciais teóricos. As questões
profissionais da rede, ainda não existe uma proposta foram agrupadas envolvendo as percepções da equipe
curricular específica para a EJA. docente conforme descrito nos seguintes quadros.
Revista Dialogos: extensão: metodologias e inclusão, Brasília, v.20, n.1, nov, 2016 13
Ambas concordam com a matrícula dos As professoras apresentam a falta de
alunos com deficiência na EJA e que essa inclusão organização e o descaso por parte do sistema de
deva assegurar uma resposta educativa adequada ensino no acolhimento inicial dos alunos. Apesar da
aos alunos, sendo necessárias modificações na lei prever a formação continuada dos professores,
estrutura pedagógica da escola, na formação não lhes foi ofertada sequer a formação inicial e
específica do professor e na maneira de se pensar não se apresenta uma preocupação no acolhimento
um novo currículo para garantir uma melhor destes alunos. Ao professor cabe recebê-los sem ao
formação para os alunos. Sugerem trabalhos menos saber sua trajetória, suas especificidades, o
diversificados e também acolhimento dos que necessita ser construído ao longo do trabalho.
professores como metodologia educativa. Kruppa Um conhecimento prévio iria proporcionar maiores
(2005, p. 37) afirma que: possibilidades de atendimento, pois partiriam da
necessidade ou possibilidade que o aluno já possui.
Implantar a Educação de Jovens e Da forma como tem sido feito, se faz necessário
Adultos (EJA), no Brasil, nos termos investir um grande tempo construindo esse perfil
defendidos por Paulo Freire, a partir inicial além das adaptações curriculares.
de seu conceito de dialogicidade, que
pressupõe o alfabetizando sujeito de Quadro 4. Percepções dos professores
seu saber é uma proposta político- sobre as perspec
vas da inclusão
pedagógica baseada em relações
de cooperação e solidariedade é QUESTÃO 3
uma opção política e de política Quais as perspec vas dessa
educacional. inserção dos alunos na sua sala?
PROFESSORA A PROFESSORA B
O fato é que os alunos têm condições Desenvolver, na parte de Eles surpreendem com a
arte, trabalhos manuais. Eles vivência de mundo. O rótulo
de aprender, dentro das suas possibilidades, não são incapazes, acaba quando trabalha pela
mas é necessário que o Estado oferte uma conseguem decorar poesias, vivência de mundo, superam
cantar. O trabalho com alguns `normais´.
estrutura melhor, com pessoas de apoio, oficinas iria ajudar. Eles se
professores capacitados. Portanto, se por um sentem iguais e respeitados
lado as classes de Educação de Jovens e Adultos aqui.
14 Revista Dialogos: extensão: metodologias e inclusão, Brasília, v.20, n.1, nov, 2016
romper com a lógica excludente é dar voz a da EJA lidam com uma elevada evasão, sendo essa
todos que ali se relacionam, conforme aborda uma das características desta modalidade, e sabem
Kruppa: que se tiverem um número reduzido correm o
risco de terem seu contrato cancelado, no caso dos
Os jovens e adultos estão imersos contratados em designação temporária, ou ficarem
no mundo social e cultural. Ao excedentes tendo que mudar seu horário ou local
trabalhar com adultos mais velhos, de trabalho no caso dos efetivos.
essa perspectiva cultural/social se
faz presente com mais força. [...]. O cuidador relatado pela professora B é
Há outro gosto que permeia as o profissional existente na escola que tem como
situações de sala de aula, o gosto função o auxílio na higienização e alimentação dos
humano da convivência, que se alunos que apresentam um comprometimento
revela em diferentes situações, e dependência maior. A formação exigida é de
nas estórias de vida e no desejo ensino médio. Apesar de trabalharem com este
de continuar a conviver no grupo, grupo específico de alunos e permanecerem na
independentemente da conclusão do sala de aula, não possuem formação na área de
curso. (2005, p. 36) educação e não passam por formação específica.
Neste grupo existe um cuidador que é responsável
Trazer para dentro da sala a realidade por um aluno que além do comprometimento
não apenas dos alunos com deficiência, mas de mental também é deficiente físico.
todos, como forma de valorizar o cotidiano e
assim perceberem que são produtores de cultura Quadro 6. Percepções dos professores sobre
e conhecimentos, é um grande desafio, mas ao as possibilidades de aprendizagem.
mesmo tempo é um possível caminho para um
trabalho com vistas à inclusão. QUESTÃO 5
Quais as possibilidades de aprendizagem
que você proporciona a eles?
Quadro 5. Percepções dos professores
sobre os desafios da inclusão. PROFESSORA A PROFESSORA B
Trabalho com o codiano Procuro trabalhar avidades
QUESTÃO 4 deles. Ensino a reconhecer diversificadas e coisas do dia
Quais são os desafios dessa dinheiro, a lidar com o a dia, conhecimento de
inserção dos alunos na sua sala? mundo. mundo. O Estado não treina,
mas oferece material
PROFESSORA A PROFESSORA B didáco, eu percebo a
necessidade de buscar, fazer
diferente e não me
A escola não se preocupa Falta de preparo do acomodar.
com o atendimento deles, profissional. A gente se sente
não tem estrutura, falta de pés e mãos atados,
vontade e tem muito poderíamos desenvolver
descaso. algumas potencialidades. O
Estado joga nas costas da
Esta questão visou trazer uma reflexão
gente, nem o cuidador é do próprio trabalho do professor frente a esses
capacitado. alunos. Se nas questões anteriores foi dada
abertura para emergir as (ir)responsabilidades
do sistema, dos responsáveis pela elaboração e
Fica clara nesta resposta a angústia que em parte da efetivação de políticas públicas para
as professoras sentem diante da realidade que educação especial, nessa questão as professoras
estão vivendo. Elas indicam como desafios não as tomaram para si a responsabilidade no processo
características dos alunos, mas a falta de estrutura de aprendizagem.
da escola para um atendimento de qualidade,
ficando claro que o foco do sistema está na garantia As professoras apontam novas
de acesso sendo a permanência responsabilidade possibilidades na concepção do currículo, buscando
única do professor. De forma geral os professores se aproximar da realidade desses alunos e
Revista Dialogos: extensão: metodologias e inclusão, Brasília, v.20, n.1, nov, 2016 15
proporcionando situações que visam a autonomia. conceito, a vivência das relações
Elas nos mostram que percebem a capacidade de interpessoais entre alunos e membros
aprender presente no trabalho que realizam e que da escola. O compartilhamento de
em situações envolvendo a vivência dos alunos valores, sentimentos, atitudes, ritos,
eles se mostram capazes de corresponderem às conhecimentos e ações, nos tempos
expectativas tanto quanto os outros alunos. Elas já e espaços educativos. Enfim, inclusão
apontam a direção que devem seguir, mas por falta no currículo, a ser construído para os
de apoio do sistema não conseguiram encontrar o estudantes e desenvolvido com todos
caminho. eles. [...]
Contribui para a constituição da
O Currículo Básico da Escola Estadual subjetividade do aluno, por meio da
(2009, p. 39) enfatiza que: criação de espaços sociais interativos
favoráveis às relações de alteridade
Pensar um currículo de abordagem no contexto escolar. Possibilita a
inclusiva é considerar os diferentes emergência de sentimentos de
espaços-tempos da escola autoestima e valorização pessoal,
como essenciais no processo de bem como a oportunidade do aluno
ressignificação das práticas educativas. levar para casa experiências de êxito,
Dos diferentes aspectos que precisam conquistando reconhecimento e
ser notados na construção de um estímulo familiar.
currículo inclusivo destacamos: a
colaboração entre profissionais Além disso, demonstram a inquietude
do ensino comum e da educação diante da falta de formação oferecida pelo Estado,
especial, um trabalho colaborativo não se conformam e buscam novas formas de
que deve ocorrer em momentos aprender e ensinar lançando mão do material que
de planejamentos, intervenções está acessível.
em classe, formação continuada, e
outros (espaços- tempos da escola;
o planejamento e a formação 6 CONCLUSÃO
continuada, o espaço-tempo de
planejamento deve ser concebido A partir da análise das opiniões das professoras
como lugar de (re)construção de envolvidas nesta formação, sendo aprofundadas as
nossos saberes e fazeres. observações sobre a realidade dessa modalidade
de ensino na escola pública, as principais
Mesmo que as falas das professoras e as constatações sobre as perspectivas e os desafios
observações realizadas no cotidiano da escola que caracterizam a parceria entre a educação dos
mostrem que isso está apenas no âmbito legal e alunos com deficiência intelectual e Educação de
distante do real, a postura das professoras diante Jovens e Adultos retiradas da investigação foram:
do currículo vai além do prescrito, até mesmo
porque tiveram a sensibilidade de perceber que Perspectivas:
para esses alunos muitos conteúdos não fazem • Interesse dos professores em receber
sentido. Então lançam mão do currículo vivido, os alunos e principalmente oferecer um ensino de
trazem o cotidiano dos alunos para sala para que, qualidade;
dessa forma, interajam com os demais e produzam • Possibilidade de desenvolvimento
novos conhecimentos, visando a acessibilidade de todos os sujeitos presentes na sala de aula,
curricular que Carvalho (2006, p. 1) define como independente do seu histórico, através da
valorização das histórias de vida;
[...] A possibilidade de participação • Rompimento de preconceitos e estigmas
do aluno nas atividades pedagógicas em relação aos alunos com deficiência intelectual;
e apropriação dos conhecimentos • Inclusão social dos alunos com deficiência
e saberes escolares. Insere-se no intelectual.
16 Revista Dialogos: extensão: metodologias e inclusão, Brasília, v.20, n.1, nov, 2016
Desafios:
• Necessidade da (re)construção de uma Dessa forma, podemos ver a
proposta curricular que vise ao atendimento das possibilidade de transportar para além da sala
necessidades pedagógicas de todos alunos; de aula este trabalho, proporcionando o contato
• Ausência de políticas de acolhimento e com uma realidade diferente de sua cultura
permanência dos alunos; e um diálogo que predomina relações sociais
• Falta de formação específica dos valorizando a trajetória de vida dos alunos,
professores para o atendimento dos alunos jovens enfrentando um processo educativo juntamente
e adultos com deficiência intelectual; com a valorização dos conteúdos e dos saberes
que os alunos trazem de sua prática social. Assim
A oportunidade de os alunos com sendo, sua organização cria condições para o
necessidades especiais de educação estarem no estabelecimento de demandas de aprendizagem
meio dos outros jovens e adultos, convivendo compatíveis com as habilidades e condições dos
num mesmo ambiente, é importantíssima. alunos.
Todos ganham com esta parceria. Se por um lado
pode-se observar um avanço no que se refere O modelo de escola que vivenciamos
à garantia de acesso, se antes esses alunos atualmente, o qual ignora as diferenças,
eram atendidos exclusivamente na instituição promove a produção e reprodução de um
especializada, hoje também frequentam a sala processo de exclusão ou inclusão que permite
de aula da rede regular, por outro lado ainda há compreender as formas de tratar a diversidade. A
um longo caminho a percorrer no que se refere constituição destes sujeitos é fundamental para
à qualidade no atendimento desses alunos. Se o comprometimento da comunidade educativa
depois de tantos anos a EJA ainda não conseguiu com a organização das atividades pedagógicas
garantir a permanência de seus alunos e ainda considerando a diversidade, pois essa é capaz
busca a garantia de qualidade, este grupo, de de relacionar-se com a realidade, promovendo
certa forma novo nesta realidade, persegue os mudanças na cultura organizacional,
mesmos objetivos dos demais sujeitos da EJA. considerando a multiplicidade de aspectos que
compõe o universo organizacional.
Diante da fala das professoras podemos
observar que apesar de concordarem com a O planejamento sistematizado de ações
permanência desses alunos, elas se mostram que possibilite a definição de responsabilidades
muito angustiadas, pois não receberam nenhuma proporciona maior segurança na tomada
formação inicial por parte do Estado para de decisões, possibilitando a construção e
realizar um trabalho adequado e continuam sem discussão da prática (individuais e coletivas)
receber a formação continuada. Por sentirem realizada dentro e fora da escola, facilitando
a necessidade de formação, buscam por conta um debate mais amplo sobre a educação
própria, mas até pelo fato de ser um município inclusiva, viabilizando experiências como esse
afastado do grande centro, o acesso a essa relato que permite reflexão e a certeza de que
formação não é fácil. No ano de 2010 foi aberta a mobilização educativa da escola, em geral de
a primeira turma de especialização em PROEJA forma integrada e planejada, possibilita levar
ofertada pelo IFES no pólo do município, mas, conhecimento com sucesso a esse novo público
segundo as professoras, não houve divulgação que vem conquistando seu espaço no ensino
e a maioria das vagas foram preenchidas por regular. Enfim, o papel do educador nesse
pessoas de outros municípios. processo faz com que a escola em geral se torne
uma referência viva dessa mudança, onde outras
O acesso curricular é a única forma modalidades de ensino têm grande importância
efetiva para empreender um itinerário escolar, para o êxito da construção do saber, permitindo
onde se cria a possibilidade do aluno alcançar atingir os objetivos educacionais além de
metas e finalidades educativas para constituição contribuir para a solidificação do processo de
de sua subjetividade por meio da criação de inclusão.
espaços sociais interativos favoráveis as relações
de valorização pessoal.
Revista Dialogos: extensão: metodologias e inclusão, Brasília, v.20, n.1, nov, 2016 17
7 REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do COSME, Gerliane Martins. Fundamentos Filosóficos
Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto. e Sociológicos da EJA. In: FREITA, Rony. C. O.;
gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%c3%a7ao. PAIVA, Maria Auxiliadora Vilela; JORDANE, Alex.
htm>. Acesso em: 18 abr. 2010. Especialização PROEJA. Serra-IFES, 2010.
Espírito Santo. Secretaria da Educação. Ensino
_____. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. fundamental: anos iniciais. Currículo Básico Escola
Estabelece as diretrizes e bases da educação Estadual. Vitória: SEDU, 2009.
nacional. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
arquivos/ppdf/1db.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2007. KRUPPA, Sonia Maria Portella. Educação de Jovens e
Adultos – Possibilidades e Desafios Presentes. Salto
_____. Decreto nº 5.478, de 24 de junho de 2005. para o futuro, boletim 17, set. 2005. Disponível em:
Institui, no âmbito das instituições federais de <http://www.forumeja.org.br/files/programa%204.
educação tecnológica, o programa de integração pdf>. Acesso em: 19 jul 2010.
da educação profissional ao ensino médio na
modalidade de educação de jovens e adultos – MAFFEZOL, Roberta Roncali; GÓES, Maria Cecília
proeja. Disponível em: Rafael de. Jovens e adultos com deficiência mental:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- seus dizeres sobre o cenário cotidiano de suas
2006/2005/decreto/d5478.htm>, Acesso em: 18 relações pessoais e atividades. In: reunião anual da
fev. 2010. associação nacional de pós-graduação e pesquisa
em educação, 27, 2004, caxambu (mg). Anais
_____. Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006. eletrônicos. Disponível em: </n.15http://www.
Institui o PROEJA. Disponível em: <http://www. anped.org.br/reunioes/27/gt15/t159.pdf>. Acesso
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2006/ em: 10 ago. 2010.
decreto/d5840.htm>. Acesso em: 16 maio 2007.
PADILHA, Anna Maria Lunardi. Bianca: O ser
_____. MEC/SEE. Marcos Político-Legais da simbólico: para além dos limites da deficiência
Educação Especial na Perspectiva da Educação mental. 2000. Tese (Doutorado em Educação)
Inclusiva. Brasília: SEE/MEC, 2010. – Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
_____. MEC/SETEC/PROEJA. Documento Base. 2000.
Programa Nacional de Integração da Educação
Profissional com a Educação Básica na Modalidade TOMAINO, Giorgia Caroline. Do ensino especializado
de Educação de Jovens e Adultos. Brasília: SETEC/ à educação de jovens e adultos: análise das
MEC, 2007. trajetórias escolares na perspectiva dos alunos,
familiares e professores. Dissertação (mestrado em
_____. Resolução CEB/CNE nº 4, de 02 de outubro educação escolar) - Faculdade de Ciências e Letras,
de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o UNESP, Araraquara, 2009.
Atendimento Educacional Especializado na Educação
Básica, Modalidade Educação Especial. Brasília: SEB/
MEC, 2009.
18 Revista Dialogos: extensão: metodologias e inclusão, Brasília, v.20, n.1, nov, 2016