Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O tema Autismo, ainda é pouco conhecido por profissionais da área da educação, bem como,
por demais profissionais que tem a responsabilidade de lidar com o transtorno. Porém é um
tema que vem sendo discutido com maior frequência e que atualmente, devido à demanda de
alunos com autismo que são inseridos em ambiente escolar regular, muito vem se especulando
sobre sem que haja um foco que defina o que realmente é o autismo e como se deve realizar a
educação deste aluno. Por este motivo, o presente trabalho, visa averiguar as dificuldades que
os professores do Atendimento Educacional Especializado de Lins/SP encontram para realizar
a educação do aluno diagnosticado com este transtorno. Para tanto, foi realizado o estudo de
caso com dois professores do Atendimento Educacional Especializado, que atuam em sala de
recurso na Rede Municipal de Ensino de Lins e que atendem aluno com autismo. Levantou-
se, através da aplicação de questionário, as dificuldades da prática pedagógica com este aluno,
para verificar que demanda é exigida do professor. Verificou-se que os professores
encontraram dificuldades em lidar com as características do transtorno e que precisam estar
fundamentados em uma linha de pensamento (currículo pedagógico), que oriente sua prática
pedagógica para realizar o ensino estruturado de modo a oferecer ao aluno a possibilidade de
desenvolvimento. Para suprir essa condição, faz-se, necessário, orientar o professor dentro de
uma perspectiva psicoeducacional adequada aos aspectos do transtorno.
1. Introdução
1 Pós-graduanda
1
em Educação pela FAESPE.
1
A inclusão escolar tem como objetivo inserir, sem distinção, todas as crianças e
adolescentes com variados graus de comprometimento social e cognitivo em ambientes
escolares tradicionais, com intuito de diminuir o preconceito e estimular a socialização das
pessoas com desenvolvimento atípico para que desfrutem dos espaços e ambientes
comunitários.
Contudo, o professor que se depara com tal demanda, tem a obrigação de educá-la, em
um ambiente onde já esteja estabelecida uma metodologia de ensino específica, criada para
um padrão de aluno. Portanto, ao se deparar com a criança com autismo e com o cenário que
ela compõe, levanta-se a hipótese de que os professores possam não estar aptos para suprir as
necessidades expressas pelo aluno com autismo, suas próprias dificuldades a fim de supri-las
frente a este desafio.
Ciente do Decreto nº 6.094/2007 que regulamente e delimita o trabalho do professor
em prol da inclusão e do desenvolvimento da criança, a realidade institucional, emocional, e a
expressa pelo aluno com autismo, pode apresentar uma realidade distante daquelas que as leis
determinam para promover a educação do aluno com autismo. Portanto, faz-se necessário
averiguar se os professores estão aptos a incluir tal demanda e educá-las adequadamente.
De acordo com Paulon, Freitas, e Pinho (2005, p. 9):
Diante das afirmações do autor, acredita-se que o professor para estar apto para
receber a demanda de alunos com autismo, gerada pelo processo de inclusão na Rede
Municipal de Ensino, deve receber formação específica teórica e prática, para lidar com as
situações do dia-a-dia. Então, diante desta dimensão, ele poder gerir adequadamente a série de
dificuldades enfrentadas na prática pedagógica com a criança com autismo.
Para auxiliar o professor na sua tarefa de educar o aluno com autismo, de modo que
ele desenvolva adequadamente as competências cognitivas e sociais, existem diversas formas
de ensino estruturado que visam orientar o professor com a demanda trazida por pessoas com
autismo, nos diferentes graus apresentados pelo Transtorno.
Para Silva (2012, p. 109):
2
Para crianças com autismo clássico, isto é, aquelas crianças que tem maiores
dificuldades de socialização, comprometimento na linguagem e comportamentos
repetitivos, fica clara a necessidade de atenção individualizada. Essas crianças já
começam sua vida escolar com diagnóstico, e as estratégias individualizadas vão
surgindo naturalmente. Muitas vezes, elas apresentam atraso mental e, com isso, não
conseguem acompanhar a demanda pedagógica como as outras crianças. Para essas
crianças serão necessários acompanhamentos educacionais especializados e
individualizados.
Neste sentido a preparação do professor para lidar com os alunos com autismo é de
suma importância, pois este profissional é um dos principais responsáveis pela construção do
conhecimento pedagógico no aluno, bem como, os valores e as normas sociais.
O presente trabalho abrange o levantamento das dificuldades enfrentadas pelos professores
de AEE, identificando sua preparação para lidar com a demanda de alunos com autismo, a
interação com o aluno, a esfera educacional, e a metodologia de ensino escolhida para o
desenvolvimento da criança.
2. Perspectiva Histórica
O Transtorno do Espectro Autista teve sua descoberta há pouco tempo na história das
psicopatologias do desenvolvimento. Inicialmente foi considerado pelo psicanalista Bruno
Bettelheim, como uma doença relacional, com o foco do problema na relação diática, mãe
bebê, originando a expressão “mãe geladeira”, e sua causa associada a fatores ambientais.
Porém, na atualidade, considera-se o autismo como de ordem multifatorial, com etiologias
variadas e de origem neurológica (MOREIRA, 2005).
Orrú (2012), apresenta o estudo do psiquiatra austríaco, Leo Kanner, residente nos Estados
Unidos, médico do departamento de psiquiatria infantil do Hospital Johns Hopkins, que
publicou, por volta de 1943, o artigo intitulado: Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo.
Neste artigo, descreve o caso de onze crianças com quadro de autismo severo, marcado por
características de obsessividade, estereotipias e ecolalia bem acentuados. Outro traço
importante percebido por Kanner em seu estudo foi que o distúrbio afeta a interação da
criança com seu ambiente, e pessoas desde o início de sua vida.
Os traços apresentados pelo grupo de crianças observado por Kanner eram, de acordo com
Orrú:
3
Seu estudo apontou para uma sintomatologia, que acompanha a criança desde o
nascimento: não ter ou manter contato com o ambiente, não apresentar mudanças na
expressão facial diante de estímulos advindos do ambiente, não manter contato visual,
problemas na aquisição da fala, dificuldade de generalizar conceitos, de usar o pronome eu, o
uso da prosódia, tendência a ignorar o que lhe é perguntado, recusa determinados alimentos,
apresenta pica, palavra dada ao ato de ingerir objetos não comestíveis, como, giz e sabonete,
por exemplo, comportamento repetitivo, criação e manutenção de rotinas, sensibilidade
aguçada, para mais ou para menos, dos sentidos, ser suscetível a crises ansiosas diante de
mudanças ou alterações bruscas dos ritos.
Cunha (2012), comenta que Kanner apropria-se do termo autismo pelo psiquiatra suíço
Bleuler, empregado pela primeira vez em 1911, cuja finalidade era descrever a fuga da
realidade e o retraimento interior dos pacientes acometidos de esquizofrenia.
Segundo Cunha (2012, p. 20), “o termo ‘autismo’ deriva do grego ‘autos’, que
significa ‘por si mesmo’ e, ‘ismo’, condição, tendência”. As crianças observadas pelo
psiquiatra austríaco apresentavam as características de isolamento, igualmente demonstrada
pelos esquizofrênicos, dando a impressão de que eles estavam presos em si mesmos. Porém, o
diferencial era que no autismo esta condição já estava presente desde tenra idade.
A princípio, notou-se que o autismo tinha maior incidência em lares considerados com
problemas afetivos e, que por isso, durante longo tempo, pensou-se que a causa do transtorno
estivesse relacionada a problemas psicodinâmicos, uma vez que não era possível encontrar
fatores biológicos, que incidissem em testes médicos existentes na época.
Embora, Kanner, em seus artigos, não afirmasse a posição psicodinâmica como sendo
a origem do autismo, levantou esta possibilidade, pois, as crianças observadas não possuíam a
capacidade inata para estabelecer contato afetivo e biologicamente previsto no
desenvolvimento, sem estimulação, devido a esta condição, ressaltou a possibilidade delas
não serem receptivas às personalidades dos pais, gerando a hipótese da etiologia deste
transtorno ser de natureza psicodinâmica (BRASIL, 2013).
A partir dos estudos de Kanner surgiram outros pesquisadores que tentaram encontrar
a etiologia desta síndrome, passando a registrar suas ideias sobre a origem do Autismo e
4
formando seus conceitos a partir de suas experiências no cuidado dessas pessoas. Autores,
estes, abordados a seguir.
O médico vienense, Hans Asperger, apenas um ano após a publicação do trabalho de
Kanner, divulga seu artigo em 1944, intitulado “Psicopatologia autística na infância”. Ao
contrário de Kanner, ele não especula a atribuição da causa do autismo como de ordem
psicodinâmica, ele atribui a causa do autismo a uma deficiência biológica, especialmente
genética (BRASIL, 2013, p. 25).
Porém, o trabalho de Hans Asperger permaneceu desconhecido até meados de 1980,
quando Lorna Wing, desterra os artigos de Asperger, e passa a estabelecer semelhanças entre
os dados obtidos pelo grupo de crianças estudadas por ele, e os estudos que estavam sendo
produzidos nos Estados Unidos e Inglaterra. Ela reconhece que ambos os estudos
apresentavam pontos em comuns basicamente a mesma tríade sintomática.
De acordo com Brasil (2013), Lorna, em um de seus artigos descreve o conceito de
espectro autista, que será adotado para se referir a sintomatologia presente no transtorno, e seu
trabalho contribuiu para incorporar a Síndrome de Asperger ao Transtorno Global de
Desenvolvimento (TGD), que passou a constar na classificação psiquiátrica.
De acordo com Orrú (2012) o autismo atualmente é considerado como:
Silva (2012), salienta esta nova perspectiva sobre o autismo como sendo de fatores
originadores e de desenvolvimento, respaldados nas neurociências, cujo estudo tem
demonstrado:
O mesmo autor discorre que as “várias patologias associadas com o TEA suportam a
hipótese de que as manifestações comportamentais no autismo podem ser secundárias a uma
grande variedade de insultos ao cérebro” (ROTTA, 2007, p. 427).
O mesmo autor ressalta que:
Hoje, sabe-se que o autismo não é uma doença única, mas sim um distúrbio de
desenvolvimento complexo, que é definido de um ponto de vista comportamental,
que apresenta etiologias múltiplas e que se caracteriza por graus variados de
gravidade (ROTTA, 2007, p. 423).
A terapia cognitiva teve origem a partir dos trabalhos realizados sobre depressão de Aaron
T. Beck. Ele descobriu que os processos cognitivos de perceber, pensar e raciocinar, incidem
diretamente sobre o comportamento e sobre a emoção. Ele chegou a uma importante diretriz,
a de que o indivíduo constrói um sistema de crenças a partir de suas vivências e que elas
podem ser acessadas através do relato de si mesmo.
Terapia cognitiva
De acordo com esta abordagem a cognição se relaciona ao modo como percebemos e
interpretamos os acontecimentos. Isso envolve uma série de fatores, tais como: pensar,
planejar, resolver problemas do cotidiano, atribuir causas aparentes aos acontecimentos;
desenvolver autopercepção e autoestima, além de formar e manifestar várias atitudes
(FARRELL, 2008).
A premissa desta abordagem está relacionada com os fenômenos internos, perceptuais e
mnemônicos, gerados por experiências vivenciadas, principalmente na primeira infância, que
influenciam de forma direta o comportamento manifestado no presente, por compor seu leque
comportamental adquirido e mantido por experiências reforçadoras.
As experiências vão se acumulando e tecendo a consciência pessoal e ambiental do
indivíduo. Esse armazém de experiências serve para buscar características, por assimilação,
semelhantes àquelas que o indivíduo está experimentando de modo a responder as exigências
ambientais de forma flexível e intuitiva.
A educação mediática é importante para esta abordagem porquê ela acredita que o ser é
um agente participante ativo em seu processo de aprendizagem e, por esta medida, o professor
deve incentivar seu aluno de forma adequada, influenciando-o a explorar espontaneamente
para adquirir informação, aprender e formar conhecimento.
Farrell (2008), caracteriza:
Aquilo que uma pessoa faz e diz. Ele é uma ação (“chorar”) e não uma característica
da pessoa (“alta”). Aquelas coisas que estão “na sua cabeça”, como pensamentos,
intenções, ideias, planos, etc., não são comportamentos (LEAR, 2004, pag. 21).
Faz-se necessário que a avaliação seja realizada por profissionais credenciados e com
experiência para que a estratégia seja traçada de maneira a controlar as possíveis variáveis e
que a técnica seja empenhada de forma adequada.
O assessoramento de um profissional competente é fundamental para o bom
desempenho, pois ele saberá o momento apropriado para manejar as contingências, controlar
os reforçadores em sua intensidade, aumentando-os ou os retirando, assim por diante. A
supervisão do profissional é a garantia que o comportamento indesejado seja substituído por
outro desejável de forma eficaz.
Avaliação na abordagem comportamental
Para se realizar a mudança do comportamento é preciso que se conheça o comportamento
indesejado, identificando sua contingência, seus reforçadores etc. Para que isso ocorra o
psicólogo comportamental lança mão de uma ferramenta: a avaliação comportamental.
Mayer (1995 apud SILVARES, 2008), discorre:
4. Conclusão
porém, ela ainda é bastante excludente quando não são receptivas as características e
condições especiais do autismo.
O educador, para desenvolver um perfil de aprendizagem individualizado, tem que criar
parcerias para estabelecer uma matriz de tomada de decisão, que deve ser organizada pelos
sintomas apresentados pelo autista. Esta organização permite que os sintomas sejam
reinterpretados em termos de limitação especificas para receber, processar, armazenar ou
recuperar a experiência com significado (GABBARD, 2009).
Notou-se que direcionar o atendimento prestado pelo professor no AEE necessita a adoção de
uma estrutura organizada e sistemazida, para não permitir que o atendimento seja apenas uma
forma de contenção do aluno durante aquele momento, mas que constituísse um espaço que
fornecesse a ele meio para aprender, atribuir significado e generalizar conceitos.
Conclui-se que, diante da complexidade educacional que o transtorno apresenta, faz-se
necessário realizar a orientação e a capacitação dos educadores dentro de sistemas de apoio
que sirvam de diretriz para realização do processo ensino-aprendizagem do aluno com
autismo, na desmistificação das representações preconcebidas e não científicas que interferem
na atuação do educador, melhorando a eficácia dos profissionais e, com isso, a possibilidade
do aluno autista adquirir novas habilidades que o ajude no seu desenvolvimento. Muito
embora tenhamos encontrado estes dados, é necessário que outros estudos sejam realizados
nessa área, por tratar-se de campo amplo e recente na história educacional do país.
Referências