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Cadernos PDE
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Autora: Ivonethe de Almeida Gonçalves
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Orientadora: Vera Lúcia Ruiz Rodrigues da Silva
Resumo
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Graduada em Letras–Inglês com especialização em Língua Portuguesa e Educação Especial
Inclusiva. Professora da Rede Pública do Estado do Paraná. Aluna do Programa de Desenvolvimento
da Educação – PDE, sétima turma 2013/2014.
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Professora orientadora. Pedagoga. Mestre em Educação. Coordenadora do Programa Institucional
de Ações Relativas às Pessoas com Necessidades Especiais (PEE) da Unioeste. Membro do Fórum
Estadual e Municipal em Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Cascavel.
1 Introdução
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Para efeito deste artigo, compreende-se como “inclusão” a necessidade de prover o acesso à (...).
Por exemplo: a questão da inclusão educacional refere-se à necessidade de assegurar as condições
educacionais específicas para o aluno que necessita deste serviço, objetivando acesso ao
conhecimento científico em sala de aula e à superação das barreiras atitudinais. Por outro lado, a
inclusão escolar, além da necessidade de assegurar estas especificidades, apresenta também as
questões de superar as barreiras físicas.
regular de ensino, escola ou centro de educação especial, classe hospitalar,
atendimento domiciliar e ainda conta com o Centro de Apoio Pedagógico para
Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual – CAP.
Já no Estado do Paraná, salvo algumas exceções de algumas escolas criadas
recentemente denominadas de Educação Básica na Modalidade de Educação 11
Especial4, como: Escola Professor Osny Macedo Saldanha - Ensino Fundamental,
na Modalidade Educação Especial Curitiba; Escola Professora Julita - Ensino
Fundamental, na Modalidade Educação Especial - Guarapuava; Escola Professor
Carlos Neufert - Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial -
Jacarezinho; Escola Chico Xavier - Ensino Fundamental, na Modalidade Educação
Especial - Londrina; Escola Professor Orlando Chaves - Educação Infantil e Ensino
Fundamental, na Modalidade Educação Especial – Curitiba e Escola Hermann
Gorgen - Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial – Curitiba5, o
aluno com deficiência visual, cego e com baixa visão, frequenta a rede regular de
ensino e pode ter o apoio em Salas de Recursos Multifuncionais por meio do
Atendimento Educacional Especializado – AEE, nos Centros de Atendimentos
Especializados à Deficiência Visual – CAEDVs. Como já referenciado, contam
também com os serviços de cinco Centros de Apoio Pedagógico para Atendimento à
Pessoa com Deficiência Visual – CAPs, que produzem materiais em Braille e
contribuem para formação de seus professores, dentre outros serviços oferecidos.
Tendo como base os estudos realizados pelos pesquisadores Carvalho,
Rocha e Silva (2006, p.15-17), podemos constatar que a educação das pessoas
cegas passou por um processo idêntico ao das outras deficiências. De acordo com o
período, as crenças, as concepções, os conceitos foram modificados.
Na Idade Média, entre os Séculos V – XV, com o advento do Cristianismo, as
pessoas com deficiência6 passaram a ser alvo de proteção, caridade e compaixão.
Ao mesmo tempo, há uma tentativa de se explicar a deficiência ou pela expiação de
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O Estado do Paraná sempre teve o atendimento da pessoa com deficiência visual no Ensino
Regular, exceto os alunos cegos matriculados no Instituto Paranaense de Cegos, que foi fundado em
1939, sendo a escola especial institucionalizada em 1940. Mais recentemente, nos ajustes da política
de inclusão, o Estado transformou instituições de educação especial em Escolas de Educação Básica
na Modalidade de Educação Especial, a princípio na área intelectual e mais recentemente na área
visual.
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Dados fornecidos por e-mail pelo Departamento de Educação Especial e Inclusão – DEEIN.
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Sassaki (2003, IN: SILVA, 2013, p. 24) informa que, após 1981, as nomenclaturas começaram a
sofrer mudanças e passou-se a utilizar expressões tais como “deficiente” e “pessoa deficiente”. A
partir de meados de 1990, os documentos oficiais e a sociedade civil começaram a usar o termo
“pessoa com deficiência”.
pecados ou como um passaporte para o reino dos céus. Surgem, naquele período,
com o objetivo de dar assistência e proteção às pessoas com deficiência, as
primeiras instituições asilares (BRASIL, 2001, p. 24.).
Mais tarde, na Idade Moderna, Séculos XV-XVIII, com a evolução da ciência,
surgem as primeiras iniciativas de se tentar educar as pessoas com deficiência sob
o enfoque no sistema orgânico. Essa perspectiva estava centrada na capacidade da
percepção visual, auditiva e as deficiências físicas. Nessa lógica, por muito tempo, a
educação trabalhou com a surdez tentando fazer com que os surdos falassem, e
assim a apropriação do conhecimento foi secundarizada para o mesmo.
Em relação aos cegos, as iniciativas que se tem conhecimento datam do
Século XVI, com o médico italiano Girolínia Cardono, o qual descobriu que o tato era
a via de aprendizado da leitura para essas pessoas. No século XVIII, Valentin Haüy
desenvolveu um método educacional para os cegos, um sistema de letras em relevo
que possibilitava que fossem alfabetizadas, mas apenas tendo acesso à leitura, pois
esse sistema não possibilitava a escrita. Em 1784, Haüy inaugurou, em Paris, a
primeira escola para cegos - Instituto Real dos Jovens Cegos - onde aplicou seu
método. A descoberta de Haüy seguiu como proposta educacional até 1825 quando
o Sistema Braille foi oficialmente reconhecido como forma de leitura e escrita para
as pessoas com deficiência visual (BRASIL, 2001; SILVA, 1987).
No Brasil, a história da educação dos cegos ganhou força com José Álvares
de Azevedo, quando retornou de Paris. Jovem cego que estudou no Instituto dos
Meninos Cegos de Paris e que, ao retornar, ensinou o Sistema Braille à filha de um
médico da corte, Adele. A menina foi levada à presença do imperador D. Pedro II por
Dr. Sigaud e pelo Barão do Bom Retiro. Após esse fato, ocorreu a criação de uma
escola para cegos no Brasil, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 17 de
setembro 1854, primeira escola para atendimento aos cegos na América Latina, hoje
Instituto Benjamin Constant (BRASIL, 2001).
Sobre a criação deste instituto, Jannuzzi (2006, p. 20-21) destaca que em
1874 eram atendidos 35 alunos cegos em um universo, em 1872, de 15.848 cegos
no País. Para essa pesquisadora, em uma sociedade agrária e iletrada, à época,
provavelmente o objetivo de se educar uma minoria de cegos foi motivado por
interesses políticos e particulares, inclusive vínculos familiares ligados à corte. Ainda
sobre o processo histórico da pessoa cega, SIERRA destaca como Vigotski
descreveu esse período:
Por meio de uma retrospectiva histórica, Vigotski mostrou como se deu a
passagem da visão popular para outra concepção acerca dessa temática
que, na Antiguidade e na Idade Média, era sustentada por fundamentos
religiosos e não pela experiência dos próprios cegos. Estes eram vistos com
certo misticismo; a cegueira poderia ser um grande infortúnio, um castigo
dos céus ou até mesmo uma dádiva divina. Existiam sentimentos
contraditórios sobre essas pessoas: ou eram temidos ou endeusados;
muitos consideravam os cegos, pessoas iluminadas, sábias, pois
acreditavam que tinham uma vida interior mais rica. Do misticismo da
Antiguidade e da Idade Média, constitui-se, com a Idade Moderna, a visão
biológica e mais tarde a sócio psicológica, que abre a possibilidade à
experiência e ao conhecimento (SIERRA, 2005, p. 41).
7
A referência de Vigotski (1997) é da tradução do grupo de estudos Educação da Pessoa com
Deficiência em Vigotski/Unioeste/PEE, da obra de VIGOTSKI, L. S. Fundamentos de Defectologia.
Tomo V. Obras completas. Havana: Editorial Pueblo y Educación, 1997.
uma superestrutura psíquica que tende a garantir o organismo no ponto
fraco ameaçado (VIGOTSKI, 1997, p. 77).
[...] não atenuar as dificuldades que surgem do defeito, mas tencionar todas
as forças para sua compensação, apresentar somente as tarefas e em uma
ordem que respondam ao caráter gradual do processo de formação de toda
a personalidade sob um novo ponto de vista (VIGOTSKI, 1997, p. 46).
É importante para o cego que, durante sua formação, esse possa desenvolver
funções que superem o defeito, e busque soluções e formas favoráveis para o pleno
desenvolvimento do mesmo como meios para vencer o isolamento e a superação da
limitação, do defeito do organismo. A partir de uma mediação eficiente transforma-se
a debilidade em força motriz para o desenvolvimento.
A compreensão incorreta da psicologia do defeito talvez tenha sido uma das
causas do fracasso da educação tradicional dos cegos. A validez social é um ponto
importante e, segundo esse autor soviético, é o objetivo maior da educação, já que
todos os processos da supercompensação estão dirigidos à conquista da posição
social. Na realidade, são questões de desenvolvimento prático da pedagogia, a qual
depende de muitos fatores, pois as potencialidades desenvolvidas no processo
educacional, informal ou formal, tanto nas crianças normais quanto nas cegas. W.
Stern (apud VIGOTSKI, 1997, p. 145) afirma que “o que não destrói a pessoa serve
para torná-la forte”; que de uma debilidade ou defeito surge a força e que também
das insuficiências as capacidades.
Apresentamos até o momento alguns apontamentos teóricos assentados em
Vigotski por considerar importante a forma de como este pesquisador encaminhou e
defendeu o processo educacional da pessoa cega. Esse demonstrou o quanto a
cegueira não é impedimento para que o cego aprenda e se desenvolva como as
demais pessoas. Também trouxemos informações de como é realizado o
atendimento da pessoa com deficiência visual no Brasil e no Estado do Paraná. E
para dar maior sustentação teórica, também lembramos Heller (1972), pesquisadora
que apesar de não tratar especificamente da educação de cegos, segue na mesma
direção de Vigotski e Barroco, quanto à defesa do pleno desenvolvimento de todos.
Esse respaldo teórico permite-me defender a importância de as pessoas
compreenderem a especificidade da cegueira e de como se relacionar com pessoas
com deficiência visual.
Ainda de acordo com Masi (2002, p. 7), a criança com deficiência visual
necessitará de apoio seja de professores especializados, de adaptações curriculares
e/ou materiais adicionais de ensino, para que alcance um nível de desenvolvimento
proporcional às suas capacidades.
Quando alguém se refere à área da deficiência visual, faz-se necessário
esclarecer que essa é dividida em dois grupos: o das pessoas cegas e o das
pessoas com baixa visão e que ainda, de acordo com documentos pesquisados, há
uma classificação clínica e uma educacional.
A Escala Optométrica Decimal de Snellen permite que tenhamos uma noção
da condição visual tanto das pessoas cegas quanto das pessoas com baixa visão, o
quanto a pessoa enxerga e o que ela enxerga. Por isso, para a realização do
trabalho com os alunos com deficiência visual, é importante que o professor tenha o
laudo com a classificação clínica, médica, para se informar da condição visual de
seu aluno. Todavia, ele não irá centrar-se na acuidade visual da pessoa, mas dará
ênfase às potencialidades do aluno, no que ele pode vir a fazer. Sua intervenção
pedagógica será norteada para que o aluno desenvolva habilidades em variadas
atividades cotidianas, como orientação e mobilidade, em sua vida acadêmica e
outras. Portanto, as classificações se complementam para auxiliar o trabalho do
professor.
2.2 Materiais ópticos e não ópticos e o uso da tecnologia para alunos cegos e
de baixa visão
Trabalhar com alunos com deficiência visual já não é caso de desespero
sobre o quê, e como trabalhar, pois o professor tem acesso aos instrumentos
ópticos, que são equipamentos construídos para auxiliar a visualização do que seria
difícil ou impossível de enxergar sem eles. Isso envolve o trabalho do professor de
apoio, especializado na área visual para adaptação de material e também algumas
observações necessárias de acordo com necessidades específicas tais como:
diferenças individuais, faixa etária, interesses e habilidades que vão determinar os
tipos de adaptações e procedimentos adequados.
Os recursos ópticos são lentes ou recursos que possibilitam a ampliação de
imagens e a visualização de objetos que favorecem o uso da visão residual para
longe e para perto. São lupas de mão e de apoio, óculos bifocais ou monoculares e
telescópios, que não devem ser confundidos com óculos comuns. Eles deverão ser
específicos para cada pessoa. A prescrição é da competência do oftalmologista, que
definirá quais os objetos mais adequados à condição visual do aluno.
Os auxílios ópticos para perto são: óculos com lentes especiais, lupas
manuais ou de apoio que possibilitam o aumento do material de leitura. Para longe,
o sistema telescópio, que favorece a visualização de pessoas ou de objetos
distantes e podem ser monoculares ou binoculares.
Os recursos não ópticos são conseguidos a partir de pequenas modificações
das condições ambientais, nas quais o aluno se encontra. Por outro lado, o
desempenho visual e as condições do educando podem melhorar seu
funcionamento visual de acordo com adaptações simples e específicas.
Atualmente, são necessários muitos recursos tecnológicos disponíveis que
facilitem as atividades para o professor e o aluno, os quais possibilitam a
comunicação e o acesso ao conhecimento. A Tecnologia Assistiva, conforme
conceito proposto pelo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República,
4 Considerações Finais
6 Referências
Silva, L. M. da. In: A Negação da Diferença: um estudo Sobre as Interações de Alunos com
Deficiência Visual na Escola Pública. Doutorado em Educação: Historia Política e Sociedade
PUC/SP-2004
VIGOTSKI, L. S. Fundamentos de Defectologia. Tomo V. Habana: Editorial Pueblo
Educación, 1997.