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Internação Gratuita

para Dependente Químico


Guia Prático para Conseguir Tratamento Gratuito
na Rede Pública de Saúde e em Clínica Particular
Introdução……………………………………………………………………………………….. 03
Sumário
O Objetivo deste e-book sobre internação gratuita ......................... 04

Drogas: questão de saúde pública………………………………………………….. 05

O que diz a Lei?.............................................................................. 07

Etapas para conseguir o tratamento gratuito………………………………….. 08

Recorrendo à Justiça………………………………………………………………………. 12

Dicas Importantes…………………………………………………………………………... 14

Realização……………………………………………………………………..………………. 15

Anexo: Artigo Jurídico……………………………………………………………………. 16


A dependência química pode estar presente em qualquer
Introdução família. Nesses momentos, é natural que você se sinta perdido a
quem recorrer, especialmente quando não há condições
O que você vai ler neste e-Book
financeiras para pagar uma clínica particular.

O Dr. André Tolentino, experiente no assunto e Consultor


Jurídico da Clínica Marcelo Parazzi, explica neste e-Book o
passo a passo de como a família pode conseguir internação
gratuita para dependente químico.

André Vinicius Tolentino


Advogado OAB/SP 302.359
A Clínica Marcelo Parazzi se solidariza com as famílias de
Qual o Objetivo? dependentes químicos, no entanto, não realiza internação
gratuita.
Orientar e ser solidário é nosso objetivo
com este e-book. O objetivo deste material é orientar sobre como proceder ao
requerer tratamento gratuito na rede pública de saúde e em
clínicas particulares uma vez que grande parte dos
envolvidos, na dependência e codependência química, não
tem condições financeiras para a contratação de tratamentos
particulares.

Outros Artigos sobre o assunto

No blog da Clínica Marcelo Parazzi, existem outros artigos


que podem ser bastante úteis a você, como por exemplo, a
verdade que nunca ninguém contou sobre internação gratuita
para dependentes químicos, que informa detalhes que devem
ser observados em uma internação gratuita voluntária e
involuntária, de como a família pode participar e quem poderá
ajudar na busca pela internação gratuita.
A dependência química foi vista durante muito tempo como um
Drogas: questão de desvio de caráter. Contudo, com os avanços da medicina e
pesquisas acerca dessa questão, hoje já é claro ao Estado o
saúde pública conceito de que o uso de drogas é uma questão de saúde
pública e não mais de mera política criminal.
A situação da dependência química no Brasil
Determinados a dar efetivação ao tratamento dessa doença
epidêmica e que tanto aflige pais, mães e amigos, a União, os
Estados e os Municípios decidiram por bem criar políticas
públicas de prevenção e tratamento dos pacientes.

No Brasil, cerca de 8 milhões de pessoas sofrem com a


dependência de alguma droga psicoativa (álcool, cocaína,
crack, maconha, tabaco, etc.), segundo dados do II
Levantamento Nacional de Álcool e Droga em 2014.

Leis foram editadas e o Executivo passou a criar as condições


ideais para propiciar o tratamento aos pacientes.

Entretanto, apesar de tamanho empenho por parte do Poder


Público, este ainda não possui estrutura suficiente para bem
atender à grande demanda de pessoas desesperadas que, por
falta de dinheiro, veem no Estado a última alternativa para
salvar a vida de seus entes queridos.
Deste modo, alguns entes da federação passaram a firmar
Drogas: questão de contratos com entidades privadas (clínicas e comunidades
terapêuticas) para conseguir atender a grande demanda de
saúde pública pacientes em busca de tratamento, mas nem assim
conseguiram dar conta da demanda gigantesca que vem sendo
A situação da dependência química no Brasil
apresentada.

Levando famílias a esperar anos em busca de vagas sociais,


dependendo da solidariedade de entidades religiosas e se
submetendo aos mais degradantes tipos de mercantilização
dos dependentes químicos.

Nos últimos anos, observamos o crescimento de clínicas e


comunidades terapêuticas oferecendo os seus serviços. Basta
realizar uma pesquisa no Google, para perceber o quanto esse
segmento se tornou uma oportunidade de negócio.

Porém, sem a devida fiscalização dos órgãos competentes,


também aumentaram as notícias sobre maus tratos e
fechamento de clínicas de recuperação clandestinas. Ficou
cada vez mais difícil encontrar uma clínica de qualidade.
No Brasil, o direito à saúde é garantido, nada menos, pela
O que diz a Lei? Constituição Federal, Constituições Estaduais, Lei do SUS – Lei
Federal no 8080/90, Lei no 10.216/01 e, por fim, pelo Pacto
Saiba porque o tratamento é um direito de todos
Internacional dos Direitos Econômicos, Culturais e Sociais.

Ainda, o artigo 12, do Pacto Internacional dos Direitos


Econômicos, Culturais e Sociais, dispõe que:

“1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito


de toda a pessoa de desfrutar o mais elevado nível de saúde
física e mental”

“2. As medidas que os Estados-partes no presente Pacto


deverão adotar, com o fim de assegurar o pleno exercício desse
direito, incluirão as medidas que se façam necessárias de
assegurar: d) A criação de condições que assegurem a todos
assistência médica”.

Como sabemos, não é porque a lei nos concede direitos, que


nós conseguimos de fato efetivá-los. O processo judicial ainda
é bastante demorado - uma ação desse tipo pode demorar
meses, ou até mesmo anos de espera.

Saiba se o dependente químico tem direito a auxílio doença.


Listamos de forma prática, três etapas básicas para conseguir o
Como conseguir o tratamento gratuito para dependentes químicos.

tratamento gratuito Embora seja relativamente simples, exigirá da família


disponibilidade de tempo para enfrentar filas dos órgãos
Aprenda em três simples passos o que fazer
públicos, organização com documentos, disposição para o
manejo com o paciente e, claro, persistência e muita paciência.

Leia também:

Como o dependente químico deve requerer benefício de


auxílio doença

Como Luís Henrique conseguiu se livrar da dependência


química
Passo 1
Como conseguir o
tratamento gratuito Avaliação do Caso
Passo 1: Avaliação do Caso

Antes de recorrer à internação, a família do dependente químico


deve buscar assistência profissional para que seja feita uma
avaliação do paciente. Isso acontece pois nem todo caso de
dependência é passível de internação.
Procure serviços públicos da sua cidade (como o CAPS AD -
Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) e agende um
atendimento.
A prioridade é o atendimento ao paciente e de sua família; em
grupos ou individualmente.
Passo 2
Como conseguir o
tratamento gratuito Internação
Passo 2: Internação

A internação pode ser solicitada pelo CAPS AD ou outro serviço


público de saúde do município, caso entendam que é
necessário.

Essa observação é feita através das consultas e


acompanhamento do paciente. Nesses casos, a unidade de
saúde irá indicar os procedimentos para a internação e irá
localizar qual clínica, hospital ou comunidade terapêutica
conveniada ao serviço público pode receber o dependente.

Leia também:

10 passos simples para evitar recaídas após tratamento


para dependência química (com ou sem internação)
Passo 3
Como conseguir o
tratamento gratuito Internação Particular
Passo 3: Internação Particular

Às vezes, mesmo com indicação médica, não há vagas


disponíveis para a internação de dependentes químicos na rede
pública de atendimento.

Nesses casos, o recomendável é buscar um bom advogado ou a


Defensoria Pública, que atende pessoas consideradas de baixa
renda (em regra, famílias que ganham até três salários mínimos
por mês), para conseguir que o Estado pague o tratamento em
uma clínica particular.

Confira a seguir, o que será preciso para


recorrer à Justiça nesse caso.
Recorrendo à Justiça
Como recorrer para internar em clínica particular

Para ingressar com ação judicial pedindo o tratamento, Atestados médicos redigidos com letra legível contendo
serão necessários os seguintes documentos: obrigatoriamente:
1- Comprovante do requerimento aos responsáveis pela saúde do 1- O nome completo do paciente;
Estado e Município, que pode ser feito tanto pelo requerente
2- O nome da doença com o respectivo Código Internacional de
(dependente químico ou um familiar, por exemplo) quanto pelo
Doenças (CID);
advogado ou defensor público;
3- Caso o dependente químico já tenha sido avaliado por
2- Relatórios de outras clínicas/comunidades terapêuticas, caso já profissional de saúde, ele já terá o diagnóstico da Dependência
tenha sido internado; Química ou Alcoolismo (por exemplo: CID 10 - F.14.2 dependência
3- Documentos (RG e CPF) do paciente e do requerente (pai, mãe, de cocaína ou o crack);
filho, etc.); 5- A necessidade imediata da internação em clínica médica
especializada;
4- Comprovante de renda demonstrando não possuir recursos
suficientes. São considerados comprovantes de renda documentos 6- A consequência de não se realizar o referido tratamento;
como o holerite, extrato de conta bancária, declaração de imposto
de renda, declaração do trabalho, documento do INSS, etc.; 7- A data do atestado, com assinatura e número do CRM;
8- A provável duração do tratamento.
5- Comprovante de residência, como conta de energia elétrica e
telefone (fixo ou celular); Com essa documentação, o advogado ou Defensor Público poderá
ingressar com a ação mais apropriada, buscando com que o direito
6- Orçamentos com preços de clínicas desejadas;
do cidadão seja devidamente implementado.
Recorrendo à Justiça
Como recorrer para internar em clínica particular

A família pode indicar a clínica?


A indicação pode ser feita se a família requerente ou advogado conseguir justificá-la, com dados sobre a clínica. Informações que
possam atestar sua capacidade de oferecer os serviços com a qualidade mínima necessária, tais como: equipe profissional, médicos,
psicólogos, metodologia terapêutica, infraestrutura de internação, enfermagem 24 horas, certificações e documentos de órgãos como
Conselho Regional de Medicina, etc.
No entanto, não é garantido que o dependente químico seja internado na clínica desejada, pois a escolha é do Poder Público.

“Somos um país rico formado por um


batalhão de pessoas pobres, por isso, temos o
dever de tornar nossas leis mais que apenas belas
palavras, transformando-as em garantias de
saúde, bem-estar e solidariedade.”

André Vinicius Tolentino


Advogado OAB/SP 302.359
Imprima este e-book para apresentar ao seu advogado
Dicas importantes particular ou Defensores Públicos da sua cidade. Eles poderão
auxiliar nas dúvidas e, sendo experientes nesses casos, orientar
O que você pode fazer para facilitar
sobre o procedimento mais adotado na sua região.

Também está disponível neste e-book, o documento Anexo com


o artigo “Fundamentos Jurídicos para Internação Custeada pelo
Poder Público”, do Dr. André Tolentino que você pode imprimir
e levar para referência do seu advogado.

Lista de Endereços de Defensorias Públicas por Estado

No site da ANADEP (Associação Nacional de Defensores


Públicos), você encontra uma lista com telefones, endereços e
link dos sites de cada Estado.

Nesses contatos você poderá verificar onde se localiza a


Defensoria Pública mais próxima da sua residência.
Esta é uma versão autorizada do e-Book “Internação Gratuita para
Realização deste Dependente Químico - Guia Prático para Conseguir Tratamento
Gratuito na Rede Pública de Saúde e em Clínica Particular”.
e-Book
Conheça quem está por trás desta iniciativa
Fotos por:
- Bruno MeloGreg Raines - Priscilla Du Preez
- Gus Moretta - Kelly Sikkema
- Kai Dahms - Forest Simon
- Lulu Clover - Naassom Azevedo
- Mike Scheid on Unsplash.com

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Anexo
Fundamentos jurídicos para a internação custeada pelo poder público

No mundo todo, poucos são os Estados que dispõe tantos direitos sociais à sua população como faz Ainda, o artigo 12 do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Culturais e Sociais, dispõe que
nossa República. Tais direitos são verdadeiras garantias de bem estar social e não devem ser “1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda a pessoa de desfrutar o mais
interpretadas apenas como palavras de boas intenções. elevado nível de saúde física e mental” e que “2. As medidas que os Estados-partes no presente
Os chamados “Direitos Humanos de Segunda Geração” evoluíram nos ordenamentos jurídicos e hoje Pacto deverão adotar, com o fim de assegurar o pleno exercício desse direito, incluirão as medidas
o direito à saúde é garantido, nada menos, pela Constituição Federal, Lei do SUS – Lei Federal nº que se façam necessárias de assegurar: d) A criação de condições que assegurem a todos
assistência médica”.
8080/90, pela Lei nº 10.216/01 e, por fim, pelo Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Culturais e Sociais. Consigne-se, também, os ensinamentos de Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior,
em seu “Curso de Direito Constitucional”, Editora Saraiva, 7a Edição, 2.003, p.436:
Constitui também diretriz constitucional concernente aos serviços públicos de saúde: o atendimento
integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais. “dentre os princípios informativos do SUS está inscrito o dever de assistência integral, o que
pressupõe o dever do Estado, de maneira universal e igualitária, de dispensar atendimento integral
Neste sentido, norma expressa na Lei nº 10.216/01, que traduz os direitos dos portadores de
à saúde a quantos dele necessitarem. A regra constante do inciso II do art.198 da Constituição
transtornos mentais:
Federal tem eficácia plena e aplicabilidade imediata, não dependendo de regulamentação
“Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou infraconstitucional. De qualquer modo, a questão também já foi objeto da legislação ordinária, em
responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste específico pelo artigo 6o, I, d, da Lei n.8.080/90, que declara textualmente estarem incluídas no
artigo.” campo de atuação do SUS a “assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica”.
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: Além disso, o direito à saúde está diretamente ligado aos princípios da dignidade da pessoa humana
e ao maior direito a ser tutelado pela lei - que é a vida.
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando Deste modo é direito do paciente o acesso à internação em clínica que atenda às suas
alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; necessidades. Por isso, é dever do Poder Executivo, após o legislativo ter criado tais leis dando
garantias à população, a materialização de seu direito constitucional de viver e ter a sua saúde
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; tutelada pelos entes estatais.
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
E, não sendo fornecido o tratamento adequado pela União, Estado ou Município, possui o paciente
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua direito de recorrer ao judiciário para garanti-lo. Neste sentido:
hospitalização involuntária;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; “Agravo de Instrumento- Dependente Químico- Direito à Saúde- Dever do Estado de prestar
assistência- Tratamento médico- Risco à integridade física dos familiares e demais pessoas.
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; Necessidade reconhecida- Deferimento. Recurso negado”
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
(AI n. 990.10.037553-9, 1a Câmara de Direito Público, Rel. Desembargador Danilo Panizza, j. 13.4.2010).
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental”.

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