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Curso: Psicologia

Disciplina: Dispositivos Clínicos


Turno: Matutino
Data: 02/10/2023
Docente: Renata Berenstein de Azevedo
Discentes: Wilton da Silva Ng (RA: 200010998)

ENSAIO SOBRE A LEI PAULO DELGADO

Falar sobre a Lei Paulo Delgado (nº 10.216 de 6 de abril de 2001) é um marco na
história do Brasil, porque ela tem um papel fundamental naquela que é uma
tentativa de uma reforma psiquiátrica brasileira, principalmente pela tentativa do
fechamento dos manicômios e pela tentativa de dar um tratamento digno para os
pacientes, com o objetivo de ressocialização na comunidade e um tratamento mais
humanizado.

A lei aprovada em 2001 tem como objetivo a busca por novos modelos de
tratamento aos pacientes com transtornos mentais no Brasil, abandonando as
antigas práticas que tinham como finalidade a tortura, o isolamento e punições para
aqueles que eram tidos como loucos. A tentativa com a lei é proteger a pessoa
humana de tratamentos fora do convencional e que mais causam traumas do que
realmente auxiliam em um processo de tratamento, mas também oferecer um outro
caminho que enxerga o paciente além da patologia, principalmente por priorizar a
ressocialização do mesmo na sociedade.

Os avanços aconteceram no fechamento gradual dos manicômios, mas também


pela criação dos CAPS (Centro de Apoio Psicossocial).que trás um modelo
assistencial e que busca um tratamento mais humanizado. A lei tem 22 anos de
sanção, existem avanços, mas ainda caminha em passos lentos para uma melhora
do tratamento com a cidadania do doente psiquiátrico. Existe uma grande demanda
nos CAPS para poucas unidades, então ainda se carece de mais investimento do
governo federal nesse sentido.
O maior lado positivo é que a troca dos manicômios pelos CAPS reflete na maneira
do tratamento. A lei garante tratamento em ambiente terapêutico pelos meios menos
invasivos possíveis e também em serviços comunitários de saúde mental, o que é
diferente daquela realidade vivida anos atrás, onde os pacientes eram mais visto
como cobaias para torturas e experimentos, como o eletrochoque e a lobotomia.
Hoje vemos uma tentativa de acolher e incluir, principalmente utilizando o apoio
mutual e também das artes, como fez a doutora Nise da Silveira. Entender que
existe um humano além da doença é a chave principal para a mudança do agir,
porque é a partir disso que as tentativas serão de dar autonomia para que consiga
viver sem limitações.

Mas como nem tudo são flores, existem também os lados negativos, que são muito
mais os desafios impostos pela sociedade. O tratamento daqueles tidos como
“loucos” pela sociedade mexe com questões financeiras, principalmente por parte
da esfera privada e também da indústria farmacêutica.

Segundo estudo feito pela ONG Conectas Direitos Humanos e o Centro


Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), entre 2017 e 2020 o
investimento federal em Comunidades Terapêuticas chegou a R$ 560
milhões.1

Podemos observar que existe um investimento grande nas ditas Comunidades


Terapêuticas, muito mais até que nos CAPS.

A falta de fiscalização para o cumprimento da lei por parte dos governantes acaba
abrindo margem para situações complicadas dentro das CTs, em que cada dono faz
a sua própria lei e se utiliza do jargão “processo de cura” como escudo para validar
comportamentos questionáveis com os pacientes.

Em um cenário político que estamos enfrentando, com o aumento gradual de


investimento em CTs e uma perspectiva de mais investimento também no CAPS, os
psicólogos têm que se reinventar e não abandonar a ética profissional. É
necessário, acima de tudo, entender que o trato é com uma pessoa, que precisa de
acolhimento, afeto e cuidado para poder conviver em comunidade, diferente do que

1
Conectas Direitos Humanos e Centro Brasileiro de Análise e Planejamento - CEBRAP. Financiamento público de comunidades
terapêuticas brasileiras entre 2017 e 2020. São Paulo, 2021. Disponível em
<https://www.conectas.org/wp-content/uploads/2022/04/Levantamento-sobre-o-investimento-em-CTs-w5101135-ALT5-1.pdf>
era feito antigamente onde era privilegiado o afastamento. Já foi comprovado que
afastamento, eletrochoque, lobotomia e outros métodos invasivos mais pioram do
que ajudam no trato, então é necessário um olhar mais humano e que abra mão da
medicina, e isso é o que o psicólogo pode e deve oferecer a todos aqueles que
precisam de acolhimento.

REFERÊNCIAS
Conectas Direitos Humanos e Centro Brasileiro de Análise e Planejamento -
CEBRAP. Financiamento público de comunidades terapêuticas brasileiras
entre 2017 e 2020. São Paulo, 2021. Disponível em
<https://www.conectas.org/wp-content/uploads/2022/04/Levantamento-sobre-o-inves
timento-em-CTs-w5101135-ALT5-1.pdf>

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