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No debate sobre a emergência de uma “nova classe média”, no Brasil de meados dos
anos 2000, alguns autores questionaram esse diagnóstico alegando que a definição de
uma sociedade como de classe média envolve transformações mais amplas que aquelas
relacionadas exclusivamente à distribuição de renda. Discuta essa alegação, utilizando
pelo menos dois textos da unidade para fundamentar sua resposta.

O debate em torno da nova classe média ou a chamada mediatização das


sociedades capitalistas não é nova e ganha força em determinados momentos da história
brasileira, especialmente ou fundamentalmente relacionado ao acesso a bens e serviços
por parte de amplas camadas da sociedade que em outros momentos total ou
parcialmente encontravam-se fora dessa possibilidade. A discussão sobre este tema nos
anos 2000 ganhou a intelectualidade brasileira convertendo-se quase que num consenso
a ideia de que a sociedade brasileira era uma sociedade maioritariamente de classe
média.
Essa tese irá ganhar ainda mais força nos anos 2003 para frente quando em
virtude de uma série de políticas sociais e com a adoção, por parte do Estado, de
medidas concretas de estímulo à economia conjugado com valorização do salário
mínimo, ampliação do poder aquisitivo do consumidor mais identificado com camadas
mais baixas da população com uma forte valorização do mercado de consumo interno
irá produzir, mesmo que momentaneamente, a ascensão de milhares de pessoas a
condições mais elevadas de poder de compra. Essa mudança será identificado por vários
autores como sendo a razão da hipótese de que no Brasil somos um país de classe média
ou para outros a ascensão de uma nova classe social, a classe média baixa.
Essa tese, porém, como defendem Waldir José de Quadros, Denis Gimenez e
Davy Antunes no texto " O Brasil e a nova classe média dos anos 2000" exige
considerarmos que uma mera ascensão de determinadas camadas sociais para um
patamar de poder de compra não implica necessariamente na existência de uma nova
classe média nem mesmo a mediatização da sociedade brasileira. A mesma tese será
posteriormente defendida por Márcio Pochmann e outros autores que nos anos
seguintes, já no governo Lula e Dilma, discutiram igualmente a ideia do surgimento de
uma nova classe média ou a ascensão de uma camada mais baixa da população para o
patamar de classe média.
A tese que os autores sustentam para contestar essa ascensão diz respeito à ideia
de que falar de classe não implica apenas considerar o aumento ou variação do poder
aquisitivo das pessoas ou famílias. Ou seja, o aspecto econômico não é a única variável
possível a ser considerado para justificar a ascensão de uma nova classe ou mesmo a
mediatização de uma sociedade. A maior distribuição de renda, aumento do salário,
maior capacidade de compra não faz das famílias ou pessoas necessariamente serem da
classe média.
A mudança de classe, na avaliação destes autores, implicaria na necessidade de
uma mudança mais radical e estrutural da sociedade fazendo com que estes que
ascendem a condições melhores de vida, especialmente por razões econômicas,
experimentem igualmente outras mudanças sociais não apenas aquelas relacionadas à
questão da economia.
Outra variável importante utilizada na definição do que seja uma classe média
tem a ver com os indicadores utilizados especialmente por organismos internacionais
como o Banco Mundial que operam na lógica de incluir uma quantidade imensa de
trabalhadores como sendo da classe média a partir de parâmetros salariais bastante
baixo ou insuficiente. Ou seja, com critérios mínimos de acesso a recursos econômicos,
uma parte considerável dos trabalhadores são considerados, por esses estudos, como
sendo parte da classe média. Os autores citam o exemplo das trabalhadoras domésticas
cujos salários seriam suficiente para considerá-las como sendo da classe média.
Ao criticar os critérios utilizados por alguns economistas e cientistas sociais
sobre a emergência da nova classe média ou a existência de uma mediatização da
sociedade brasileira os autores afirmam: "Neste novo momento, de crescente
polarização social, portanto, a classe média é progressivamente simbolizada pelo
trabalhador dos serviços às pessoas, de renda instável, vida precária e que trabalha o
máximo que pode. No caso brasileiro, deve-se ainda acrescentar a precariedade da
educação, saúde, transporte etc."
Por fim, os autores também afirmam ao se perguntar se a final somos mesmo
uma sociedade de classe média que o que se chama de nova classe média ou classe C se
distancia muito do estilo de vida da clássica classe média brasileira. Se aproximam
apenas no acesso a recursos econômicos com a variável citada no parágrafo anterior que
esta nova classe C, diferente da tradicional, tem instabilidade no emprego, sub-
empregos e horas de trabalho muito maiores que a classe média tradicional. Em se
tratando de hábitos, estes novos que ascenderam à nova condição econômica não são
letrados, não frequentam necessariamente as academias ou universidades, não possuem
o hábito da leitura. Ou seja, tem um nível cultural muito abaixo da tradicional classe
média brasileira, embora ela possa disputar com estes clássicos a poltrona dos aviões, os
corredores dos hotéis de férias ou a praça de alimentação dos shoping centers.
Em síntese, os autores são críticos à ideia de uma nova classe C ou classe média
e buscam demonstrar os elementos que distanciam uma da outra.

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