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Resumo

"Hiroshima" de John Hersey é um relato impactante que narra os eventos e as consequências


do bombardeio atômico de Hiroshima em 6 de agosto de 1945. O livro apresenta as histórias
de seis sobreviventes, detalhando suas experiências durante o ataque, as terríveis lesões
sofridas e os desafios enfrentados após a explosão.

Hersey explora a destruição generalizada causada pela bomba atômica, destacando o


sofrimento humano e a devastação emocional vivenciada pelos habitantes da cidade. Ele
retrata os horrores da radiação e os esforços para sobreviver em meio ao caos.

Ao retratar as vidas das vítimas, o autor também questiona a justificativa do uso da bomba
atômica, lançando um olhar crítico sobre as consequências desastrosas da guerra e o papel dos
Estados Unidos nesse episódio histórico.

"Hiroshima" oferece uma perspectiva única e comovente sobre uma das maiores tragédias da
história, levando os leitores a refletirem sobre a natureza da guerra e a necessidade de evitar a
repetição de tais eventos no futuro.

John Hersey
John Hersey (1914-1993) foi um renomado escritor e jornalista norte-americano. Ele é mais
conhecido por seu trabalho de reportagem literária, especialmente pelo livro "Hiroshima"
(1946), que narra as experiências de seis sobreviventes da bomba atômica em Hiroshima
durante a Segunda Guerra Mundial. Hersey foi um pioneiro no uso do jornalismo narrativo, que
combina fatos precisos com técnicas de escrita literária, e seu trabalho trouxe uma nova
abordagem para o jornalismo do pós-guerra. Seus escritos abordaram questões sociais e
políticas, e ele foi um defensor dos direitos humanos e da justiça social em sua obra.

Hiroshima
Em 1941, as principais potenciais mundiais marcavam a história humana através de conflitos
extremos por poder e dominação, período que conhecemos até hoje como a Segunda Guerra
Mundial. Foi no final desse mesmo ano que um dos impérios de maior ascensão no mundo,
que já há algum tempo conquistava sua grandiosidade no extremo oriente, realizou um dos
marcos mais impactantes para o desenvolvimento dessa guerra. O Império japonês atacou uma
das maiores e mais importantes bases navais de outra nação extremamente poderosa, os
Estados Unidos. A destruição da base militar Pearl Harbour não deixou apenas dezenas de
norte americanos mortos, mas também um forte sentimento de vingança guardado por eles,
que até então não faziam parte diretamente dessa guerra.

Foram quatro anos após o grande ataque dos japoneses, que o Eixo, aliança militar que
envolvia o império do oriente, decaia e estava cada vez mais próxima da derrota. Mesmo
assim, o Império japonês continuava a negar seu fim e não queria se entregar. Foi quando, em
8 de agosto de 1945, um avião estadunidense sobrevoou a cidade japonesa de Hiroshima e
realizou o primeiro ataque de uma bomba nuclear sobre seres humanos. O fim dessa sede por
revanche dos Estados Unidos foi justamente o início do livro escrito por John Hersey, em 1946.

Ironicamente, coube a um norte americano escrever um dos relatos mais importantes desse
momento que impactou a história do Japão, do mundo e da humanidade. John Hersey, foi um
notável escritor e jornalista, trabalhou para renomados jornais e publicou diversos livros, que
até mesmo o rendeu o prêmio Pulitzer. Foi quando escrevia para a revista The New Yorker, que
produziu uma matéria sobre o assombroso ataque a cidade de Hiroshima, onde contava
detalhadamente sobre a vida de seis personagens reais que, incrivelmente, sobreviveram a
magnitude da destruição. Sua matéria foi tão repercutida e prestigiada que, após décadas, foi
transformada em livro.

Hersey dividiu seu livro em cinco capítulos, contando de maneira única a trajetória temporal de
quem viveu um ataque cruel e viu coisas que jamais outros seres humanos seriam capazes de
presenciar. Seu primeiro capítulo, “Um Clarão Silencioso”, apresenta seis pessoas que tinham
suas vidas na cidade de Hiroshima, cada um com suas funções e rotinas, cidadãos com suas
vidas comuns em um local que poderia, a qualquer instante, ser atacado. Os leitores
acompanham Kiyoshi Tanimoto, um pastor da Igreja Metodista de Hiroshima; Hatsuyo
Nakamura, viúva de um alfaiate morto em guerra e mãe de três filhos; Dr. Masakazu Fujii,
médico dono de um hospital privado na cidade; Wilhelm Kleinsorge, pastor jesuíta alemão da
companhia de Jesus; Dr. Terufumi Sasaki, um médico que trabalhava no hospital da Cruz
Vermelha e Toshiko Sasaki, uma funcionária de uma empresa de estanho e as particularidades
do que foi feito por cada um deles, mostrando os detalhes do que fizeram desde que
acordaram naquele fatídico dia, até o momento em que, sem que soubessem, uma luz
extremamente forte tomasse conta de toda cidade, mudando todo o seus futuros.

Logo em seguida, no capítulo “O Fogo”, conhecemos a situação de cada um dos sobreviventes


após a terrível explosão. Hersey proporciona com que, através de sua escrita, descobríssemos o
poder da destruição junto aos personagens, quase como se também estivéssemos vivendo
aquele momento tão horrendo. Seguimos suas trajetórias em busca de auxílio, fazendo o
possível para sobreviver e ajudar os desamparados, tentando colocar em prática todas as
instruções já recebidas anteriormente para casos mais extremos. A realidade era outra, a
cidade estava em chamas, o dia parecia noite pela escuridão que tomava conta, o clima, de
repente, estava muito mais quente que o normal e o lugar que viviam haviam praticamente
desaparecido instantaneamente.

Em “Investigam-se os Detalhes”, o terceiro capítulo do livro, vemos que não era apenas a
cidade que havia sumido nos poucos segundos da explosão, a esperança de muitos também.
Os sobreviventes se deparavam com pessoas que não deram a mesma sorte que eles: muitos
estavam mortos, outros gravemente contundidos, em situações extremas e inimagináveis. Era
necessário que tomassem decisões difíceis. Muitos tiveram que deixar pessoas morrerem para
que pudessem salvar outras, nem todos alimentos ou medicamentos encontrados poderiam
ser distribuídos igualmente, a maioria de seus pertences pessoais não teriam como ser
recuperados, ou não existiam mais. Hersey expõe os sentimentos dos seis personagens de
forma clara, todos estavam gravemente abalados e perdidos. Ficamos desse mesmo modo ao
ler os detalhes descritos, como o encontro do padre Wilhelm Kleinsorge que, ao ir buscar água
para os outros sobreviventes, se depara com oficiais militares muito fracos em uma parte do
parque, todos com os olhos derretidos, destruídos pelo poder da bomba.

Todo o sofrimento que tomava conta da cidade de Hiroshima, que parecia não ter um fim, de
alguma forma vai sendo solucionado, aos poucos, em “Flores Sobre Ruínas”, o quarto capítulo
do livro. Os mais debilitados pareciam gradativamente receber melhores auxílios para suas
necessidades, mesmo que muitos machucados e sintomas aparentemente não fossem
solucionados de forma alguma. Posteriormente, foi descoberto que os sobreviventes
manteriam esses sintomas para sempre, sendo que o efeito da bomba causaria doenças, como
câncer, por toda a vida.
Tudo foi renascendo através da destruição daquele dia de 1945, tanto a cidade, quanto as
pessoas. As casas foram sendo reconstruídas das cinzas, o povo criando forças para o início de
uma nova vida, com uma nova rotina e um novo emprego. Assim Hiroshima foi mostrando a
sua força, mesmo com toda dificuldade, como relatado melhor pelos seis personagens de
Hersey, 40 anos após a primeira publicação, no capítulo “Depois da Catástrofe”. Os
sobreviventes do livro relatam para o autor toda sua jornada nos anos posteriores, como
compartilharam suas experiências e ensinamentos com o mundo e as consequências de saúde
que os acompanharam desde aquele dia.

John Hersey escreve, em cada parágrafo dessa história, os mínimos detalhes de um


acontecimento que jamais poderíamos compreender sem ter vivenciado. Ele nos proporciona
uma reflexão sobre humanidade e os limites dos sentimentos que podemos atingir, utilizando
de uma escrita extremamente vívida, que nos faz, em muitos momentos, experimentar a dor
dos sobreviventes apenas com sua descrição e uso de palavras. A riqueza de detalhes nos
ambienta na Hiroshima destruída, nenhum ponto daquela realidade é poupado: as vítimas com
pele derretida e corpos sangrando, os gritos de socorro e pedidos de ajuda, as crianças mortas
nos braços de suas mães. Além disso, as particularidades de cada um dos personagens são
muito bem colocadas em cada parte do texto, sendo possível compreender a espiritualidade
do povo japonês, sua forte lealdade aos familiares e à própria nação, a coragem de enfrentar
de cabeça erguida as situações mais extremas, com a ideia de que se não fossem fortes, não
seriam pessoas dignas. Tudo isso é transmitido no texto através de uma estrutura de escrita
similar à de um romance literário, mas usando de uma base de pesquisa e desenvolvimento
jornalístico, algo que não era nem um pouco comum naquela época, e fez do autor um dos
pioneiros do que é chamado hoje de “jornalismo literário”.

Talvez, sem Hiroshima, não poderíamos ter total dimensão daquela manhã de agosto em 1945,
da destruição causada e os sentimentos dos seres humanos que estavam ali presentes.
Provavelmente, não teríamos a compreensão de todas as consequências que uma bomba
nuclear pode causar, da importância de se debater o uso desse tipo de arma e da existência
delas. Hersey mostrou através de seu livro, de maneira inovadora, que o jornalismo tem como
objetivo informar, mas que o jornalista pode também, se feito da maneira certa, emocionar e
sensibilizar o seu público, trazendo um pouco da história contada para a vida de quem está
lendo.

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