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O FUNDAMENTO RACISTA DA

ARQUITETURA NUCLEAR
The Racist Foundation of Nuclear Architecture
Por Elaine Scarry, originalmente publicado em The Bulletin of The Atomic
Scientists

Tradução R. d’ Arêde (instagram @traducaopolitica / @aredejrf)


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Com o 75° aniversário de Hiroshima, é cada vez mais evidente que a crença racista
na supremacia branca fundamenta o arsenal nuclear dos Estados Unidos, e que a
atitude do país em relação às armas nucleares reforça o racismo em seu próprio
território.

No último feriado estadunidense em homenagem aos militares mortos em combate


[Memorial Day, 2020], um policial de Minneapolis se ajoelhou por 8 minutos e 46
segundo sobre o pescoço de um homem negro, George Floyd. Há 75 anos, um piloto
estadunidense soltou uma bomba atômica sobre a população civil de Hiroshima. Os
dois eventos, ainda que distantes em tempo, espaço e escala, compartilham três
características essenciais: ambos foram uma ação de violência do Estado; ambos
exercidos contra um adversário indefeso; ambos um ato de puro racismo.
As duas primeiras características - o papel do Estado e a impossibilidade de
autodefesa - provavelmente exigem pouca elaboração. Os dois eventos foram um ato
de crueldade estatal: no primeiro caso, os agentes do Estado agiram em seu próprio
território, já no segundo, em território estrangeiro. Ambos os eventos foram ações
contra um adversário indefeso: as mãos de George Floyd estavam algemadas para
trás; ele não resistia à prisão nem colocava em risco os agentes policiais, sequer os
desafiava verbalmente; ele usara a voz apenas para implorar que pudesse respirar,
chamando em seguida por sua falecida mãe, à qual logo se juntou. Tão pouco
puderam se defender os estadunidenses negros executados na longa lista que precede
George Floyd. O trabalho de Breonna Taylor como técnica de emergências médicas
envolvia, diariamente, tanto a proteção de seus pacientes quanto a própria. Contudo,
dormindo em sua própria cama, Breonna não pôde exercer qualquer tipo de
autoproteção quando a polícia de Louisville invadiu sua casa depois da meia-noite,
sem mandado ͥ , e atirou oito vezes nela.
O agora amplamente compartilhado reconhecimento de que o racismo policial nos
Estados Unidos não é apenas uma prática isolada de agentes individuais, e sim uma
realidade sistêmica, implica também o reconhecimento de que os estadunidenses
negros perderam o direito de autodefesa em suas interações com a polícia, um direito
que, pode-se dizer, subjaz a todos os outros. Nos Estados Unidos, pessoas
racializadas - incluindo nativo americanos, cujo índice de mortes pela polícia é o
mais alto entre todos os grupos raciais¹ - não podem se defender. Qualquer pessoa,
percebendo a iminência de ser morta, tentaria resistir (correndo, recusando-se a ser
algemada, disputando no braço ou com alguma arma), mas essa resistência será
usada de forma retroativa para justificar um assassinato que já estava em
andamento. A única escolha é submeter-se ou resistir. Em outras palavras, ser morto
ou ser morto.

A autodefesa também não foi uma opção para os 300 mil habitantes civis de
Hiroshima, tampouco para qualquer um dos 250 mil civis em Nagasaki. O clássico
Hiroshima, de John Hersey, nos deixa saber que naquela manhã de agosto, ao nascer
do sol, a cidade estava repleta de iniciativas corajosas, destinadas a aumentar a
capacidade coletiva de autodefesa contra ataques de guerra convencionais, como a
limpeza das faixas emergenciais do corpo de bombeiros, realizada por centenas de
alunas colegiais, muitas das quais desapareceriam instantaneamente sob o calor de
6.000°C do flash inicial, enquanto outras tantas, mais distantes do centro,
manteriam suas vidas, mas perderiam seus rostos.²

Os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki deram início a uma era na qual, pela


primeira vez na face da Terra, e estendendo-se ao longo de sete décadas e meia até os
dias atuais, a humanidade, coletiva e sumariamente, perdeu o direito de autodefesa.
Ninguém no mundo - ou quase ninguém³ - tem os meios necessários para sobreviver
a uma explosão quatro vezes mais quente que o sol, nem para enfrentar a violência
dos ventos e a fúria das chamas que vêm em seguida.

Seria correto designar a autodefesa como o direito que subjaz a todos os outros? A
liberdade de expressão, por exemplo, importa por milhares de razões, mas, no que há
de mais elementar, ela importa por aumentar as chances de uma pessoa se defender
e, assim, sobreviver. O mesmo vale para o direito de livre imprensa, o direito de livre
associação, o direito a um tribunal imparcial, o direito de não ser submetido à busca
e apreensão sem um mandado. Cada um desses direitos se justifica em seus muitos
benefícios, mas o essencial é que todos eles sublinham o direito de autodefesa, o
direito de se proteger e, consequentemente, preservar a própria vida. Durante
séculos a filosofia política tem questionado: "que tipo de ordenamento político
resultará em um povo nobre e generoso?" Certamente não será aquele em que um
punhado de homens controla os meios para destruir arbitrariamente todas as
pessoas do mundo, das quais os meios de autodefesa foram eliminados.
A terceira característica comum entre o Dia do Memorial de 2020 e os dias 6 e 9 de
agosto de 1945, é o racismo que tornou cada um desses eventos possível. O racismo é
uma deformação da percepção, da qual resulta o julgamento de que pessoas com
determinada cor de pele ou procedência étnica são não apenas menos dignas (de
emprego, educação, dinheiro, assistência médica, confiança, responsabilidade,
perdão, simpatia), mas também dispensáveis. Podem ser linchadas, estranguladas,
terem a face queimada; podemos fazer um estudo de seguimento depois.

Quando os estadunidenses souberam que os habitantes de Hiroshima e Nagasaki


foram coletivamente vaporizados em menos tempo do que o coração leva para bater,
muitos aplaudiram. Mas não todos. O poeta negro Langston Hughes reconheceu
imediatamente a depravação moral da execução de 100 mil pessoas, e identificou o
racismo como o fenômeno que licenciara tal depravação: "Como é que não as
experimentamos (as bombas atômicas) na Alemanha... Apenas não queriam usá-las
contra gente branca"⁴. Embora a construção da arma tenha sido concluída somente
após a rendição da Alemanha em 7 de maio de 1945, o Japão estava definido como
alvo desde 18 de setembro de 1944, e o treinamento para a missão já tinha sido
iniciado naquele mesmo mês⁵. O jornalista negro George Schuyler escreveu: "A
bomba atômica colocou os anglo-saxões definitivamente no topo, onde
permaneceriam por décadas"; o país, em sua "arrogância racial", "alcançou o triunfo
máximo ao tornar-se capaz de dizimar cidades inteiras de uma só vez"⁶. Ainda no
primeiro ano (antes que John Hersey começasse a despertar os estadunidenses para
a monstruosidade das lesões causadas), a romancista e antropóloga Zora Neale
Hurston já acusava o presidente dos Estados Unidos de ser um "carniceiro" e, com
desprezo à cumplicidade do silêncio público, perguntava: "É por sermos tão
devotados a um ‘bom sinhô’ ͥ ͥ que não sentimos sequer o dever de protestar contra
tais crimes?”⁷ Ela viu nesse silêncio - fosse ele praticado por brancos ou por pessoas
racializadas - um ato covarde de escravidão moral à supremacia branca.

Cada um desses três trechos, assim como muitos outros, estão documentados na
brilhante história de Vincent Intondi, African-American Against the Bomb (2015),
que relata o repúdio da comunidade negra às armas nucleares, de 1940 até o discurso
do presidente Obama em 5 de abril de 2009, na cidade de Praga. Entre aqueles que
se manifestaram com maior frequência e firmeza estão o saxofonista de jazz Charlie
Parker, o compositor e pianista Duke Ellington, o ativista gay e pelos direitos civis
Bayard Rustin, o poeta e romancista James Baldwin, a dramaturga Lorraine
Hansberry, o pastor e líder do movimento pelos direitos civis Martin Luther King Jr.
e o sociólogo pan-africanista W.E.B. Du Bois. Durante essas mesmas décadas, muitas
pessoas brancas também se manifestaram contra a depravação moral das armas
nucleares, ainda que a custos dramáticos similares aos sofridos por Du Bois ͥ ͥ ͥ, preso
repetidas vezes, acusado de ser um agente estrangeiro sem registro, ter o passaporte
negado e, finalmente, ser solicitado ao expatriamento em Gana⁸ por causa de sua
inflamada denúncia a respeito do arsenal nuclear dos Estados Unidos. Mas os
estadunidenses negros, para além de educarem todos aqueles que estavam dispostos
a ouvir sobre a depravação moral dos danos infligidos, também procuraram
incansavelmente conscientizar o país sobre a estrutura racial que serve de plataforma
para o lançamento de mísseis.

Alguns leitores perceberão como autoevidente a obsessão supremacista branca dos


Estados Unidos operando na terraplanagem de Hiroshima e Nagasaki, e apoiando
hoje o prodigioso arsenal nuclear do país, que passa por uma renovação de 1.2
trilhões de dólares⁹. Contudo, outros leitores - mesmo aqueles que entendem a
torpeza moral das armas nucleares e trabalham sem descanso pelo seu
desmantelamento - podem estar mais relutantes em reconhecer o aspecto racial.
Afinal, sabemos que as armas nucleares têm o poder de eliminar todas as pessoas do
planeta, e não apenas uma ou outra raça. Estadunidenses e russos, que juntos
possuem mais de 93% de todo arsenal nuclear mundial, há muito são considerados a
maior rivalidade, e frequentemente os russos são descritos, de forma imprecisa,
como racialmente brancos (ainda que eles, assim como os estadunidenses, sejam
constituídos de muitos grupos étnicos diferentes). Considerando que uma guerra
nuclear tenha grandes chances de ser provocada por acidente, ou em função de uma
apropriação de armas nucleares por um hacker ou algum ator não estatal, pode
parece que os preconceitos raciais, conscientes e inconscientes, de um presidente ou
da cadeia de comando nuclear dos Estados Unidos sejam irrelevantes.
No entanto, três listas - a lista de regiões onde os presidentes dos Estados Unidos
consideraram um primeiro ataque, a lista de regiões onde os Estados Unidos
testaram suas bombas, e a lista de países que os Estados Unidos condenam por suas
aspirações de aquisição de armas nucleares - podem, como possibilidades de
entendimento irradiando a partir e para além de Hiroshima e Nagasaki, a tornar
inequívoca o fundamento racial da arquitetura nuclear.

Vamos começar pelas regiões geográficas onde sabemos que os presidentes dos
Estados Unidos contemplaram um primeiro ataque. Em 1954, Eisenhower
considerou o uso de armas nucleares no estreito de Taiwan. Os registros de suas
declarações em reuniões privadas mostram a presença [do elemento] racial, estivesse
ele a qualquer momento explicando o porquê de usar a arma ou, ao contrário,
abster-se de usá-la: “O presidente disse que devemos reconhecer que o Quemói ͥ ͮ não
é nosso. Cartas a ele dizem constantemente o que é que nos importa o que acontece
àquela gente amarela lá fora?”¹⁰. Nixon disse que considerou ordenar um primeiro
ataque quatro vezes durante seu governo. Embora ele não tenha nomeado todos os
quatro alvos, sabemos que, em 1969, um deles era a República Popular Democrática
da Coreia¹¹. Ele também considerou bombardear a República Democrática do
Vietnã¹² em 1972. Lyndon Johnson considerou um ataque nuclear contra a China,
para impedi-la de adquirir armamento nuclear¹³. Podemos adicionar a essa lista
outras ocasiões em que os presidentes dos Estados Unidos ameaçaram um primeiro
ataque, por exemplo, durante a Guerra do Golfo, quando o governo George H. W.
Bush comunicou a Saddam Hussein que, caso ele viesse a usar armas químicas,
mísseis nucleares já estavam posicionados contra o país¹⁴.
Da mesma forma que os países escolhidos pelos Estados Unidos como alvos de um
primeiro ataque, as regiões escolhidas para a realização de testes nucleares revelam a
crença de que pessoas racializadas são descartáveis. O doloroso exemplo das Ilhas
Marshall foi sucintamente resumido por Dan Zak, do Washington Post: “Os Estados
Unidos testaram 67 bombas nucleares de alto rendimento entre os anos de 1964 e
1958, reassentando ilhas inteiras do povo marshallês, expondo muitos à
contaminação radioativa e deixando um legado de enfermidades e exílio para as
gerações seguintes”¹⁵. Uma das bombas tinha 15 megatons. Zak descreve o impacto
total dos 67 testes fazendo o seguinte cálculo: “Se todo esse poder explosivo
combinado fosse dividido uniformemente ao longo daqueles 12 anos, teríamos o
equivalente a 1,6 explosões de Hiroshima por dia”¹⁶. A imagem não é mais
reconfortante quando se verificam os testes conduzidos em solo estadunidense.
Neste verão, com a chegada do 75° aniversário do teste nuclear de Trinity, Novo
México, realizado em 16 de julho de 1945, analistas observam a distribuição racial:
“Não é de surpreender que as pessoas atingidas pela precipitação radioativa de
Trinity fossem famílias de agricultores empobrecidos, a maioria hispânicos e
nativos”¹⁷. Assim como no Novo México, também em Nevada. Um estudo publicado
no jornal de medicina Risk Analysis concluiu: “Nativo americanos, residentes nas
regiões de alcance dos ventos provenientes do campo de testes de Nevada durante as
décadas de 1950 e 1960, receberam significativa exposição radioativa dos testes
nucleares”¹⁸.
A terceira lista diz respeito aos países que nós condenamos em função de seus líderes
e cientistas buscarem o desenvolvimento de uma arma nuclear. Os Estados Unidos
têm tratado tais aspirantes, em cada caso pessoas racializadas - iranianos,
iraquianos, libaneses, norte coreanos - como imorais, a despeito de nossa gigantesca
arquitetura nuclear, a despeito de nossa declaração no Tribunal Internacional de
Justiça, em 1995, quando afirmamos que possuir um arsenal nuclear, ameaçar
usá-lo, usá-lo de fato e usá-lo primeiro, não viola pactos internacionais tais como a
Convenção para a Preservação e Punição do Crime de Genocídio das Nações
Unidas¹⁹. Não raro, os Estados Unidos baseiam sua indignação contra os aspirantes
nucleares no fato de que a aquisição de armas nucleares por ainda mais um país
violaria o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP); indicam
corretamente essa violação, enquanto omitem obstinadamente o fato de que, durante
50 anos, os Estados Unidos têm violado o mesmo tratado, que exige, como um de
seus principais pilares, que os Estados nucleares existentes desmantelem seus
próprios arsenais.
Um artigo recente, publicado no jornal The Atlantic, divulgou uma nova pesquisa em
neurociência indicando que pessoas em posição de poder podem sofrer danos
cerebrais, uma incapacitação dos neurônios espelhos que, normalmente, possibilitam
que um indivíduo compreenda a posição de outra pessoa ou povo²⁰. Um país que
possui 6.000 armas nucleares, mas hostiliza violentamente a Coreia do Norte por ter
menos que 30; um país que tem 12 submarinos classe-Ohio, cada um carregando o
equivalente a 4.000 explosões de Hiroshima, mas entra em guerra contra o Iraque
sob a falsa evidência de que o país teria material para a construção de uma única
arma nuclear; um país que não se dá ao trabalho de comemorar as datas de 6 e 9 de
agosto ͮ e as centenas de milhares de vidas incineradas naqueles dias, mas não deixa
de esbravejar contra os projetos nucleares iranianos, impor sanções ao país e
desencadear o vírus digital Stuxnet ͮ ͥ para comprometer a usina de enriquecimento de
urânio do Irã²¹; um país que convence a Líbia a descartar seu material nuclear e,
depois que assim é feito, ajuda a assassinar o líder do país, pode muito bem se
assemelhar a um país cujos governantes - e provavelmente parte de sua população -
não possuem mais neurônios espelhos funcionais.
Quando esse poder de destruição assimétrico é denunciado, os Estados Unidos
dizem: “sim, mas eles (i.e., pessoas racializadas) podem vir a usá-lo, enquanto nós
(i.e., brancos no comando dos Estados Unidos) não faremos isso”, uma declaração
sumamente incoerente, visto que foi exatamente os Estados Unidos o único país a
usá-lo, e usá-lo duas vezes!²² A extrema perturbação causada pela existência de
armas nucleares nas mãos de ainda mais um país, raramente se manifesta quando os
Estados Unidos distribuem suas próprias armas aos aliados da OTAN, atualmente
Alemanha, Bélgica, Holanda e Itália (a Turquia também possui armas nucleares
estadunidenses, mas muitas foram removidas após o ano 2000, e aquelas que lá
permanecem têm, desde 2016, se tornado fonte de crescente preocupação²³). Uma
vez que esses quatro países são tradicionalmente vistos como povos de maioria
branca, o perigo do uso imprudente ou irresponsável é supostamente inexistente; do
ponto de vista dos Estados Unidos, a proliferação de armas nesses países não viola o
Tratado de Não Proliferação. Numa proeza de pensamento duplo que teria
impressionado até mesmo George Orwell ͮ ͥ ͥ, eles reconhecem tranquilamente que, em
caso de guerra (quando os países membros da OTAN serão chamados a participar no
fornecimento dessas armas), o Tratado de Não Proliferação perde efeito²⁴
Assim, voltamos à questão: que tipo de ordenamento político resultaria em um povo
nobre e generoso? Que tipo de ordenamento impediria que um país cometesse
flagrantes assassinatos em massa no futuro? Que tipo permitiria que tal país arcasse
com a responsabilidade pelos danos causados no passado em seu próprio solo (a
nativo americanos e afro-estadunidenses) e em solo estrangeiro (às populações de
Hiroshima e Nagasaki)? Que tipo os ajudaria a desmantelar a polícia mal treinada e
militarizada que perambula por suas cidades, assim como desmantelar a arquitetura
nuclear nacional? Tais conquistas podem ser expressivas e muito difíceis, mas
certamente são o mínimo, se é que no futuro queremos nos tornar um grande e bom
povo

Langston Hughes verbalizou a opinião de que, enquanto a injustiça racial não cessar
no próprio território dos Estados Unidos, “será muito difícil que alguns
estadunidenses deixem de pensar que o caminho mais fácil para solucionar os
problemas na Ásia seja simplesmente jogar uma bomba atômica sobre aquelas
cabeças coloridas”²⁵. Ainda que esta declaração seja de 1953, próximo ao 8º
aniversário dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, ela continua muito relevante
hoje, enquanto nos aproximamos do 75º aniversário: naquela época, assim como
agora, a segurança da população coreana (entre a de outros povos) estava em
questão. A crueldade cotidiana infligida às pessoas racializadas nas ruas de nossas
próprias cidades, funciona como um ensaio mental para que assassinatos em grande
escala sejam realizados fora do país; ela mantém flexível nossa capacidade de ser
cruel, embotando a mente e nos tornando fluentes ao pronunciar a palavra
“dispensável”.
Langston Hughes poderia ter observado, com a mesma precisão, o contrário: que
nossa crueldade fora do país embrutece nossos corações e nos torna passíveis e
tolerantes ao presenciarmos a injustiça racial cotidiana em nosso próprio território.
Estadunidenses, vendo seu próprio país ostentar uma vasta arquitetura nuclear que
não tem outra finalidade a não ser eliminar instantaneamente da face da Terra uma
população massiva de civis - e os códigos de lançamento casualmente dobrados, dia e
noite, no bolso do presidente -, consciente ou inconscientemente absorvem a lição do
poder, sofrem da mesma deterioração cerebral, e agora se tornam incapazes de
entender até mesmo se vidas negras e nativo americanas ainda importam.
Um Estado justo é um Estado capaz de fazer com que sua população se importe em
ser justa. Um país nuclear pode inspirar esse cuidado? A arquitetura nuclear não
exigiria de sua população precisamente que a acuidade perceptiva seja perdida? Se
alguém fixar os olhos, momento a momento, sobre o monumental aparato [nuclear],
isso despertará um terror e vergonha incapacitantes (como aconteceu nas primeiras
duas décadas após Hiroshima e Nagasaki, quando o horror das armas e da injustiça
racial estavam, dia a dia e simultaneamente, na mente das pessoas). Ao invés disso,
o olhar tem agora se reduzido a um conjunto estreito de possibilidades que,
exatamente por essa estreiteza, requer uma estupidificação da capacidade ética.
Se a denúncia de uma incapacitação ética autoimposta parece exagerada, considere
as recentes críticas do establishment político-nuclear do país. Tal establishment tem
a virtude - uma virtude praticada por muito poucos na população - de permanecer
consciente do arsenal nuclear do país, o que é feito, contudo, restringindo seu campo
de visão. No início de 2019, o antropólogo Hugh Gusterson, observador de longa data
de cientistas nucleares e comunidades políticas, descreveu no Bulletin of Atomic
Scientists a grande assembleia que havia se reunido no Brookings Institute de
Washington para acompanhar um painel com cinco destacados palestrantes,
tratando da Política do Novo Começo e Modernização Estratégica ͮ ͥ ͥ ͥ. Gusterson relata
que as cinco apresentações foram praticamente idênticas e colocaram em debate
apenas “a [questão] semântica sobre se a conjunção entre modernização nuclear e
controle de armas deveria ser caracterizada como produto de um ‘consenso’ ou de
uma ‘coalização’”²⁶ Uma crítica semelhante foi feita pelo cientista político francês
Benoit Pelopidas, que descreveu, como anunciado no título de seu artigo, as “Bolsas
de estudo em Armas Nucleares como um caso de autocensura nos Estudos de
Segurança”. A despeito de qualquer proibição externamente imposta ao livre
discurso, ou de haver restrições à argumentação, a comunidade voluntariamente
adota esse referencial para contornar todas as considerações normativas e evitar que
seja contemplada a possibilidade de uma reorganização radical do mundo, como a
erradicação do aparato nuclear. Dois termos, “não proliferação” e “dissuasão”, são
incansavelmente utilizados como ferramentas para encurralar a discussão no estreito
perímetro da manutenção do status quo, que invalida como irrealista toda ideia
alternativa e, consequentemente, elimina qualquer senso de obrigação para com o
futuro.²⁷

A morte de George Floyd trouxe, entre muitos outros desdobramentos, um


comprometimento com a transformação da arena político-nuclear. No verão de
2020, instituições de segurança nacional e de política externa dos Estados Unidos,
incluindo o Bulletin of Atomic Scientists, assinaram uma declaração, de autoria da
[organização] Women of Color Advancing Peace, Security and Conflict,
concordando em levar adiante uma série de reformas, tais como assegurar que as
instituições dedicadas à paz e à segurança "diversifiquem nossos quadros diretores e
conselhos consultivos", reconheçam os efeitos nocivos das "microagressões" contra
pessoas racializadas nos locais de trabalho, "denunciem o racismo e dividam o fardo
de desmantelar a supremacia branca"²⁸.
Embora a lista de resoluções enfatize mudanças no âmbito dos locais de trabalho e
nos órgãos dirigentes destas instituições, pode ser que estas mudanças conduzam,
por sua vez, à identificação do racismo na própria filosofia das relações
internacionais e das armas nucleares. A obrigação de “denunciar o racismo e
compartilhar o fardo de desmantelar a supremacia branca” deve andar junto com a
obrigação de reconhecer o fundamento racista da própria estrutura nuclear (um
hemisfério norte coberto de Estados nucleares, um hemisfério sul coberto de acordos
e tratados de zonas livre de armas atômicas) e desmantelá-la, começando pelos dois
Estados que detém 93% de todas as armas [nucleares].
Na maioria das noites de verão de 2020, das grandes cidades aos pequenos
municípios em todo o país, ocorreram as vigílias do movimento Black Lives Matter.
Em Arlington, Massachusetts, por exemplo, as pessoas permaneceram de pé, das 18
às 19 horas, usando máscaras e mantendo uma distância segura, ao longo da larga
avenida principal, enquanto bicicletas e carros passavam buzinando e gesticulando
em sinal de aprovação às placas: “Breonna Taylor”, “Raychard Brooks”, “George
Floyd”, “Diga o nome deles”, “Mais ninguém”, “Sem justiça, sem paz”. Nos últimos 8
minutos e 46 segundos do horário marcado, as pessoas se ajoelhavam sobre um dos
joelhos e se levantavam somente após os sinos da igreja anunciarem a conclusão da
hora. A postura foi herdada das décadas de luta pelos direitos civis (iniciada por
Marin Luther King Jr. e renovada por Colin Kaepernick e jogadores negros da NFL);
o tempo em que permanecem ajoelhados é uma referência direta ao assassinato de
George Floyd, como se ao repetir a atitude do policial pudéssemos voltar atrás e
reverter sua intenção e aquele desfecho. A postura expressa uma gama de
sentimentos: pesar pela morte de George Floyd; um contrafactual desejo de que
aquilo não tivesse acontecido (e lhe fosse permitido respirar); vergonha por não ter
percebido, coletivamente e durante tanto tempo, a dimensão da violência; e um
compromisso de reinventar uma forma de policiamento que fomente e auxilie nossas
cidades, dos pequenos municípios aos grandes centros, ao invés de vitimá-las.

Talvez um gesto parecido com esse possa ser realizado - na privacidade do próprio
lar, nas avenidas centrais ou em praças e espaços públicos - às 8h15min da manhã do
dia 6 de agosto e às 11h2min da manhã do dia 9 de agosto. Realizado em memória
daqueles que foram assassinados ou ficaram terrivelmente marcados, por remorso de
não termos enfrentado a violência mais cedo, e para compartilharmos um
compromisso com o desmantelamento da arquitetura nuclear, de forma que
precisemos tão somente rememorar e nunca mais reencenar o que aconteceu
naqueles dias. Qual seria a duração apropriada? Talvez 53 segundos, o intervalo de
tempo entre o momento em que as crianças de Hiroshima apontaram para o B-29 no
céu azul e o momento em que o ofuscante clarão derreteu seus olhos e lhes apagou o
mundo. Ou talvez os 100 segundos que o Bulletin designou como a janela de tempo
que nos separaria hoje de uma catástrofe mundial.

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Elaine Scarry é professora de Estética e Teoria Geral do Valor na cátedra Walter


M. Cabot na Universidade de Harvard, autora do recente Thinking in an
Emergency
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NOTAS DO AUTOR

1. Para um quadro resumido da pesquisa do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC)
sobre as mortes nos vários grupos raciais, por aplicação da lei, de 1999 a 2015, ver Elise Hansen,
CNN, “The Forgotten Minority in Police Shootings”, November 13, 2017.
Https://www.cnn.com/2017/11/10/us/native-lives-matter/index.html. Outro extenso estudo revelou
que “nativo-estadunidenses homens têm 14 vezes mais encontros fatais [com a polícia] que homens brancos;
nativo-estadunidenses mulheres têm 38 vezes mais encontros fatais do que mulheres brancas.” Matthew Harvey,
The Center for Indian Country Development, “Fatal Encounters between Native Americans and the Police”,
Março de 2020.
Https://www.minneapolisfed.org/~/media/assets/articles/2020/fatal-encounters-between-nati
ve-americans-and-the-police/fatal-encounters-between-native-americans-and-the-police_marc
h-2020.pdf?la=en

2. John Hersey, Hiroshima (New York: Vintage, 1946, 1984; 2nd edition 2020), pp. 35, 181, 146, 167 168,
183-5, 191.

3. Eu estipulo que “quase” ninguém no mundo, exceto o povo suíço, agindo por uma ética da
“igualdade de sobrevivência”, criou abrigos nucleares para 114% de sua população (assim como
muitos hospitais e postos de primeiros socorros escondidos no interior das montanhas); não é inconcebível que
alguns deles sobrevivam. Os Estados Unidos têm gasto igualmente uma grande quantidade de recursos em
abrigos nucleares para uma única pessoa, o presidente, e seu pessoal - uma cidade miniatura escavada dentro de
uma montanha - mas nenhum abrigo para a população. Para mais sobre o contraste entre o sistema de abrigos
Suíço e Norte Americano, veja Elaine Scarry, Thinking in an Emergency (New York: Norton, 2011), pp. 51-69; e
para mais detalhes sobre os abrigos americanos, veja Garrett M. Graff, Raven Rock: em Story of The U.S.
Government’s Secret Plan to Save Itsefl - While the Rest of Us Die (New York: Simon and Schuster, 2017)

4. Langston Hughes, “Here to Yonder: Simple and the Atom Bomb”, Chicago Defender, 19 de Agosto de 1945,
citado em Vincent Intondi, African Americans Against the Bomb: Nuclear Weapons, Colonialism, and the Black
Freedom Movement (Stanford, Ca.: Stanford Univerity Press, 2015), p. 15.

5. Richard Rhodes descreve o encontro do presidente Roosevelt e o primeiro ministro Churchill


na propriedade de Roosevelt, no Hudson Valley, Hyde Park, em 18 e 19 de Setembro de 1944, e “um secreto
pró-memória” que “registrava pela primeira vez a posição anglo-americana sobre o primeiro uso da nova arma”.
O documento contemplava bombardear múltiplas cidades japonesas, com um alerta somente depois que a
primeira cidade fosse atingida: “quando a ‘ bomba’ estiver finalmente disponível, ela poderia possivelmente, após
cuidadosa consideração, ser usada contra os japoneses, a serem advertidos que o bombardeio irá se repetir até
que eles se rendam”. O treinamento de outono de 1944, do 509° Grupo Composto em Utah envolvia identificação
de alvo visual, algo que intrigou o grupo, já que estavam acostumados com uma “Europa nublada”, onde a
identificação visual de um alvo raramente era possível. (Richard Rhodes, The Making of the Atomic Bomb [New
York: Simon & Schuster, 1986, 2012], pp. 537, 585).

6. George Schuyler, “Views and Reviews,” Pittsburgh Courier, 18 de Agosto, 1945 e 15 de Dezembro, 1945,
citado em Intondi, African Americans Against the Bomb, p. 14.

7. Zora Neale Hurston, cartas à Claude Barnette, 21 de Julho, 1946, publicado em Zora Neale Hurston: A Life
in Letters, ed. Carla Kaplan (New York: Doubleday, 2002), p. 545, e citado em Intondi, African Americans
Against the Bomb, p. 15.

8. W.E.B. Du Bois, In Battle for Peace: the Story of My 83rd Birthday, introd. Manning Marable (New York:
Oxford University Press, 2007), pp. xxi, xxiii, xxv, 23, 26-27, 37, 48, 49, 137, 144.

9. O Fundo Para O Desenvolvimento Humano calcula que um bilhão de dólares é uma montanha de
notas de dólares com 112 quilômetros de altura, enquanto um trilhão de dólares forma uma montanha com altura
aproximada de 110.000 quilômetros, ou “mais de 1/4 de distância entre a terra e a lua”, ver
https://www.ehd.org/science_technology_largenumbers.php

10. “The President said that we must recognize the Quemoy is not our ship. Letters to him constantly
say what do we care what happens to those yellow people out there.” Foreign Relation of The United States,
1952-54, vol. 14, pág. 662. Eisenhower também considerou usar uma arma nuclear em 1959 em Berlim, uma
população branca. Eu descrevo esses eventos, onde presidentes consideraram usar armas nucleares, em
Thermonuclear Monarchy: Choosing between Democracy and Doom (New York: Norton, 2014)

11. “Memorandum: Secretary of Defense Laird to NSA Kissinger, June 25, 1969. Subject: Review
of US Contingency Plans for Washington Special Action Group,” Tab L, tornado público em Outubro de
2006 (Documento 12, “How Do You Solve a Problem Like Korea,” Electronic Briefing Book 322, National Security
Archive, George Washington University). Ver também Chris McGreal, “Papers Reveal Nixon Plan for North Korea
Nuclear Strike,” Guardian, 7 de Julho de 2010.

12. Sobre a proposta de Nixon, em 1972, de usar armas nucleares contra o Vietnã do Norte, ver Deb
Riechmann, “Nixon Discutiu Ataque Nuclear no Vietnã”, Boston Globe, 3 de Março de 2002.

13. Sobre a publicação de documentos mostrando as considerações de Johnson para um ataque


preventivo à China, ver Jim Mann, “U.S. Considered ’64 Bombing to Keep China Nuclear-Free,” Los Angeles
Times, 27 de Setembro de l998.

14. Nick Pike, “Nuclear Threats during the Gulf War,” Federation of American Scientist, 19 de Fevereiro
de 1998. Ameaças feitas pelos Estados Unidos e Reino Unido incluíam a total destruição do país: por exemplo, o
ministro da relações exteriores britânico, Douglar Hurd, advertiu contra qualquer ação que viesse a “provocar
uma resposta que poderia acarretar na destruição completa daquele país”,
https://fas.org/irp/eprint/ds-threats.htm. Para um registro das ameaças dos Estados Unidos e britânicos,
assim como o uso de munições de urânio empobrecido, contra o Iraque, ver Joseph Gerson, Empire of the Bomb:
How the U.S. Uses Nuclear Weapons to Dominate the World (Ann Arbor, Michigan: Pluto Press, 2007), p. 217f.

15. Dan Zak, “He saw a nuclear blast at 9, then spent his life opposing nuclear war and climate change”
Washington Post, 24 de Agosto de 2017.

16. Dan Zak, “A Ground Zero Forgotten: The Marshall Islands, Once a U.S. Nuclear Test Site, Faces Oblivion
Again”, Washington Post, 27 de Novembro de 2015.

17. Joshua Wheeler, “It’s Been 75 Years, and Amercian Still Won’t Admit a Nuclear Disaster”, New York
Times, 16 de Julho de 2020. A presença de famílias hispânicas também é percebida por Maria Cramer, que
escreve, “Autoridades não alertaram qualquer um dos residentes - muitos deles fazendeiros, navajos, povoações
mexicanas e seus descendentes, que criavam gado e bebiam água de cisternas - sobre o teste” (”’Now I Am
Become Death’: The Legacy of the First Nuclear Bomb Test”, New York Times, 15 de Julho de 2020). Um estudo
de 2010, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) informa: “Os padrões de segurança utilizados para
aqueles que estavam informados do programa foram diferentes daqueles adotados para o público desinformado.
Os que trabalhavam no projeto sabiam o bastante para deixarem as áreas quando as altas taxas de radiação foram
medidas, ou tomarem as precauções necessárias para minimizar a exposição, mas os membros do público não
percebiam que mudanças em seus comportamentos eram necessárias, e a equipe do projeto não solicitou a
evacuação ou medidas protetoras mesmo quando a tolerância predeterminada à taxa de exposição havia sido
excedida”. Considerando a composição racial dos residentes que viviam próximos ao local do teste, o estudo
observa que o general Leslie Groves estipulou “uma área de 27 x 38 quilômetros na qual não viviam nativo
americanos algum”. Uma gráfico resumindo a composição racial dos residentes nas imediações especifica a
presença de brancos e hispânicos, mas não de nativo americanos. CDC, “Final Report of the Los Alamos
Historical Document Retrieval and Assessment (LAHDRA) Project”, Novembro de 2010, p. 10-3, 10-15, 10-50.
Um perímetro mais amplo, no entanto, releva a presença de muitos nativo americanos. Indian Country Today
afirma que 19 mil pessoas vivendo dentro de um raio de 80 quilômetros do local de teste em Trinity incluem 19
comunidades Pueblo, duas tribos Apache e várias “secções da Nação Navajo”. Tanya H. Lee, “H-Bomb Guinea
Pigs! Natives Suffering After New Mexico Tests”, Indian Country Today, 5 de Março de 2014,
https://indiancountrytoday.com/archive/h-bomb-guinea-pigs-natives-suffering-decades-after-
new-mexico-tests-jpZAFe1gFEmRCGfiq42BDg

18. E. Frohmberg, R. Goble, V. Sanchez, D. Quigley, “The Assessment of Radiation Exposures in Native
American Communities from Nuclear Weapons Testing in Nevada,” Risk Analysis, Fevereiro, 2000, pp. 101-111.

19. Departamento de Estado e Departamento de Defesa “Written Statement of the Government of the
United States,” Corte Internacional de Justiça, Audiências sobre a questão: “Is the threat or use of nuclear
weapons in any circumstance permitted under international law?”, 1995, p.33

20. Jerry Useem, “Power Causes Brain Damage: How Leaders Lose Mental Capacities – Most Notably for
Reading Other People – that Were Essential to Their Rise,” The Atlantic, Julho/Agosto de 2020. A pesquisa -
mostrando que pessoas em posição de poder se tornam “menos aptas a verem as coisas do ponto de vista do
outro” assim como “mais impulsivas e menos conscientes dos riscos” - foi levada adiante em estudos do psicólogo
Dacher Keltner, na UC Berkeley, e pelo neurocientista Sukhvinder Obhi, na Universidade de McMaster em
Ontario.

21. Kim Zetter, “How Digital Detectives Deciphered Stuxnet, the Most Menacing Malware in History,” Wired,
11 de Julho de 2011. Ver também o documentário Zero Days, dirigido por Alex Gibney, 2016.

22. O antropólogo Hugh Gusterson chama essa assimetria no pensamento americano de


“orientalismo nuclear”, a crença de que outros países são “muito infantis, muito imaturos e muito
irresponsáveis para serem confiáveis com armas nucleares”. Ver sua vivaz e ilustrada palestra “Democracy,
Hypocrisy, First Use”, de 4 de Novembro de 2017, na conferência “Presidential First Use: Is it Legal? Is it
Constitutional? Is it Just?” em Harvard
https://www.youtube.com/watch?v=zdLXKNivl9M&list=PL2SOU6wwxB0vZEgAvRotf9-INc9nA
8t02&index=10&t=0s. Para ler uma transcrição, ver Public Books, “Virtual Roundtable on Presidential First
Use of Nuclear Weapons”, 26 de Fevererio de 2018.

23. Ver Hans Kristensen, “Urgent: Move US Nuclear Weapons Out of Turkey,” Federação dos Cientistas
Americanos, 16 de Outubro de 2019.

24. “Questions on the Draft Non-Proliferation Treaty Asked by U.S. Allies Together with Answers
Given by the United States”, 28 de Abril de 1967, Tab A, relacionada a “Letter from the Under Secretary of
State (Katzenbach) to Secretary of Defense Clifford”, 10 de Abril de 1968, Foreign Relations of the United States,
1964-68, Vol. XI, Arms Control and Disarmament, p. 575.

25. Langston Hughes, “Colored Asia Makes Highly Colored News These Days,” Chicago Defender, 15 de
Agosto de 1953, p. 11, cidato em Intondi, African Americans Against the Bomb, p. 31.

26. Hugh Gusterson, “The Blinders on the U.S. Nuclear Policy Establishment,” Bulletin of Atomic Scientists, 8
de Janeiro de 2019.

27. Benoît Pelopidas “Nuclear Weapons Scholarship as a Case of Self-Censorship in Security Studies,” Journal
of Global Security Studies, 2016.

28. Gayle Spinazze,” WCAPS (Woman of Color Advancing Peace) declaração: Juntas Contra o Racismo e a
Descriminação”, Bulletin of the Atomic Scientists, 10 de Junho de 2020. Como escreveu Rachel Bronson ao
assinar a declaração, “O Bulletin reconhece o racismo como uma ameaça para a humanidade e que a segurança
nacional não pode avançar até que todos os cidadãos tenham sólidas garantias de segurança pessoal… Nós
reconhecemos que temos muito trabalho a fazer, para servir como aliado das comunidades de cor e daqueles que
advogam por mudanças.”

NOTAS DO GRUPO

i. removido

ii. “Good Massa”, coloquialismo dos escravos negros americanos, cf. Born in Slavery: Slave Narratives from the
Federal Writers' Project, 1936-1938: Kansas Narratives, Volume VI (gutenberg.org), e Slavery And Discrimination
In America History Essay (ukessays.com)

iii. Du Bois (1868-1963), sociólogo americano, historiador, socialista, pan-africanista, ativista pelos direitos
civis. Um dos maiores intelectuais do movimento negro e primeiro homem negro a receber um Ph.D da
universidade de Harvard. Tornou-se membro do Partido Comunista e expatriou em Gana, onde obteve cidadania
e viveu até sua morte.

iv. Kinmen ou Quemoy, pequeno arquipélago geograficamente próximo a Xiamen, em disputado pela
República Popular da China.

v. Dia da Vitória, ou “V P Day” (Vitória no Dia do Pacífico). Feriado que celebra a rendição do Japão durante a
Segunda Guerra Mundial e o subsequente fim da guerra.

vi. Stuxnet. Originalmente desenvolvido mirando as instalações do programa nuclear iraniano, o vírus digital
sofreu mutação e se espalhou por outras instalações industriais e de produção de energia, atacando os
controladores lógicos de programação (PLCs) usados para automatizar processos de máquina. Descoberto em
2010, ganhou a atenção da mídia por ser o primeiro vírus capaz de danificar hardwares, e porque teria sido criado
pela Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA), a CIA, e a inteligência israelense, cf. What Is Stuxnet? e
McAfee e Stuxnet: o isolamento dos sistemas industriais, no blog oficial da Kaspersky.

vii. “Pensamento duplo indica a capacidade de ter na mente, ao mesmo tempo, duas opiniões contraditórias e
aceitar ambas" cf. George Orwell, em 1984
viii. O encontro pode ser assistido no canal do Brookings Institute em
https://youtu.be/HNhuFumSg1E

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