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Fevereiro de 2020
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
ÍNDICE
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 211
ANEXOS............................................................................................................. 215
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Prefácio
Os Fenómenos de Transporte são da máxima importância para os Engenheiros Químicos, pois determinam
largamente o dimensionamento e o desenho de peças de equipamento e de operações unitárias. Pode-se
mesmo considerar que os Fenómenos de Transporte marcam em grande parte a diferença entre o estudo da
Química e o da Engenharia Química.
Desta forma, o ensino dos Fenómenos de Transporte é uma peça crucial nos curricula de Engenharia
Química e de áreas afins, como seja a Engenharia Biológica.
Este texto, que é destinado a servir de apoio aos estudantes de Engenharia Química, baseia-se largamente
nas aulas dadas pelas autoras ao longo de vários anos e engloba muitos exemplos resolvidos e exercícios
propostos.
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
iremos agilizar a mistura das diferentes porções de líquido, com diferentes temperaturas, num
processo mais eficiente do que a convecção natural.
Por sua vez, o transporte de massa resulta de uma diferença de concentrações de uma espécie
entre dois pontos de um sistema. Se tivermos uma chávena de chá com um cubo de açúcar que se
dissolve, as regiões do líquido na vizinhança do cubo estarão mais doces do que as zonas distantes,
e daí resulta transporte de açúcar dissolvido desde as regiões mais doces até às mais amargas,
mesmo que não usemos a colher. Este processo pode ocorrer por difusão, ou por convecção, sendo
que na convecção há movimento macroscópico de massa e na difusão o transporte é molecular (à
semelhança da condução no transporte de calor). Mais uma vez, a convecção forçada resulta de
um movimento do fluido por outro agente que não seja a diferença de concentração, e resulta num
transporte mais eficiente do que nas condições espontâneas.
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Se a distinção entre líquidos e gases é fácil, o mesmo não se pode dizer para os sólidos e os
líquidos. Ninguém tem dúvidas que a água a 20 °C e à pressão normal é um líquido, nem que o
aço à temperatura ambiente é um sólido. Mas se tomarmos o caso da manteiga à temperatura
ambiente, veremos que a sua superfície livre mantém a forma, mas que por outro lado
conseguimos espalhá-la sobre o pão, o que evidentemente não acontece com os sólidos. Tomemos
então uma espátula e com ela apliquemos manteiga sobre uma fatia de pão. A manteiga não
escorre da espátula, ao contrário dos líquidos comuns, mas ao espalharmos a manteiga o que
fazemos é aplicar continuamente uma força tangencial e deste modo vamos alterando a forma da
manteiga. Quanto maior o tempo de aplicação desta força (ou mais vezes repetirmos o movimento
da espátula) maior será a deformação da manteiga, até atingirmos a situação em que se formou
uma camada relativamente fina e homogénea sobre toda a superfície. Ora isto não acontece com
um sólido. Muitos sólidos têm comportamento elástico, mas isso significa que se deformam
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apenas durante a aplicação da força, recuperando a forma inicial quando a força é retirada.
Podemos então definir um líquido como um material contínuo que se deforma quando sujeito a
uma força tangencial.
1.3 Forças
Um fluido encontra-se sujeito a diversos tipos de forças - Figura 1.1. As forças podem ser de
campo ou de superfície. A força gravítica é uma força de campo, ou seja, atua sobre os sistemas
(corpos ou porção de fluido) que estejam situados no campo gravítico do planeta. Resulta da força
atrativa exercida pela Terra sobre os corpos e o seu ponto de aplicação é o centro de massa do
sistema.
Já as forças compressivas atuam nas superfícies. A pressão atmosférica é o exemplo mais
evidente de força compressiva, mas quando um fluido está contido num recipiente ou em
escoamento dentro de uma tubagem, a pressão pode variar drasticamente. A pressão também varia
em profundidade, por exemplo dentro de um tanque ou no mar. A pressão é uma força de
superfície e atua na direção normal à superfície, dirigida para o interior do sistema.
Finalmente, as forças de corte são orientadas tangencialmente à superfície sobre a qual atuam.
As forças de corte são também designadas “forças de atrito” e resultam das diferenças de
velocidade através de interfaces ou mesmo dentro de um fluido contínuo.
Matematicamente, as forças são vetores. Por isso são descritos, num espaço tridimensional, por
componentes segundo essas três direções. Uma força por unidade de área designa-se por “tensão”.
Tal como as forças, as tensões podem ser tangenciais ou normais a uma superfície. As forças de
corte geram tensões de corte, ao passo que a pressão gera tensões normais (compressivas).
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Se uma dimensão nos diz qual a maneira correta de medir uma variável, só o uso de unidades nos
permite quantificar numericamente essa variável. Apesar da consagração do Sistema
Internacional de Unidades (SI), na Conferência Internacional de Pesos e Medidas realizada em
1960, a transição tem sido lenta, pelo que iremos aqui sistematizar os diferentes sistemas. Assim,
existem dois tipos de sistemas de unidades: os sistemas absolutos e os sistemas gravitacionais. Os
sistemas gravitacionais têm como dimensões fundamentais em paralelo a força e a massa (para
além do tempo e da temperatura), enquanto nos absolutos uma delas surge como dimensão
derivada. Assim, por exemplo, no SI, temos:
𝐹 = 𝑚 × 𝑎 ⇒ 1 Newton = 1 kg × 1m s−2
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sendo 1 lbf definida como a força exercida pela Terra sobre um corpo com uma massa de 1 lbm,
colocado ao nível do mar, i.e., sujeito a um campo gravítico com g = 32,174 ft s-2.
Os principais sistemas de unidades encontram-se resumidos na Tabela 1.1. Note-se que, apesar
de em Engenharia Química o Sistema Internacional estar quase universalmente aceite, algumas
unidades inglesas estão consagradas em diversas aplicações, como é o exemplo dos diâmetros de
condutas, ou mesmo das dimensões dos monitores de aparelhos eletrónicos, que vêm sempre
expressos em polegadas.
Os sistemas CGS e FPS são designados pelas iniciais das suas unidades fundamentais (cm,
grama, segundo e foot, pound, second). Estes dois, em conjunto com o SI, usam como unidades
fundamentais as unidades de massa, comprimento e tempo. O British Engineering System,
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TEMPERATURA
Existem diversas escalas para temperatura, como o caso dos graus Celsius e das unidades de
Kelvin. A escala Kelvin é uma escala de temperatura termodinâmica, vulgarmente designada
temperatura absoluta. No sistema inglês usa-se a escala de graus Farenheit e a correspondente
escala absoluta de graus Rankine. Temos então duas escalas de temperatura absolutas:
Sistema Internacional: Kelvin (K)
Sistemas ingleses: Graus Rankine (ºR)
Dado que ambas as escalas são absolutas, os seus zeros coincidem. As diferenças de temperatura
correlacionam-se por 1 K = 1,8 °R, dado que os graus Rankine estão para os graus Farenheit
como os Kelvin para os graus Celsius.
Energia, Trabalho,
J erg ft poundal M L2 T-2 ft lbf FL
Calor
Pressão, tensão Pa dine cm-2 poundal ft-2 M L-1 T-2 lbf ft-2 F L-2
CGS: cm, grama, segundo; FPS: foot, pound, second; BES: British Engineering System
PREFIXOS
No SI é vulgar usar-se prefixos normalizados, que facilitam o uso das unidades quando estas são
demasiado grandes ou demasiado pequenas para o valor em causa. São sempre de preferir os
múltiplos ou submúltiplos em potências de 103, cujas designações e abreviaturas estão coligidas
na Tabela 1.2.
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Múltiplos
109 giga G
106 mega M
103 quilo k
10-3 mili m
10-6 micro μ
Submúltiplos
10-9 nano n
10-12 pico p
10-15 femto f
10-18 ato a
CONVERSÃO DE UNIDADES
Em Mecânica dos Fluidos trabalha-se vulgarmente com variáveis dimensionais, pelo que a
utilização de unidades coerentes e a correta aplicação de fatores de conversão se revestem de uma
especial importância. Em Engenharia, a competência na resolução de problemas exige que se
seja virtualmente infalível no tratamento e na conversão de unidades.
Exemplo 1.1
Recorra explicitamente à análise dimensional para determinar quantas horas têm 2 anos.
dia h
𝑡 = 2 ano = 2 ano × 365 × 24
ano dia
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R: 𝑡 = 17520 h
Exemplo 1.2
Água escoa com uma velocidade de 200 ft min-1. Converta esta velocidade para m s-1 utilizando explicitamente
a análise dimensional.
ft ft m 1 min
𝑣 = 200 = 200 × 0,3048 ×
min min ft 60 s
200×0,3048 m
=
60 s
R: 𝑣 = 1,0 m s-1
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PROBLEMAS
P 1.1 Converta pé-poundal para erg e erg/s para watt, recorrendo apenas às conversões 1 ft 0,3048 m e 1 lbm
0,454 kg.
𝐹 𝜕𝑣𝑥
= −𝜇
𝐴 𝜕𝑦
P 1.3 Um objecto cai sob a acção da força gravítica, sendo o seu peso de 50 dine. Qual será a sua massa, expressa
em lbm? E qual o seu peso, em lbf?
P 1.5 Um automóvel desloca-se à velocidade de 90 km/h, sujeito a uma força de resistência do ar de 200 N.
Qual a potência consumida para vencer a resistência do ar? Qual a força de resistência do ar expressa em kg f?
P 1.6 Pretende-se uma amostra de nitrato de cálcio, Ca(NO3)2 contendo 5 1025 átomos de oxigénio. Quantos
quilogramas de nitrato de cálcio deverá a amostra conter, admitindo uma pureza de 98% (sendo que as impurezas
não contêm oxigénio)? Recorra explicitamente à análise dimensional.
P 1.7 Preciso de tomar um medicamento na forma de xarope e pretendo garantir que o conteúdo do frasco é
suficiente para uma viagem de três semanas. A bula indica uma dosagem de 3 gotas por cada 15 kg de massa corporal
e por dose, com 4 doses por dia. O frasco contém 100 mL de xarope. Para verificar o volume das gotas, encho uma
colher de chá e verifico que tem a capacidade de 65 gotas. A colher de chá (calibrada) tem uma capacidade de 5,0
mL. Nestas condições, recorra à análise dimensional para determinar se a porção de medicamento é suficiente para
a viagem, admitindo que o meu peso corporal é de 70 kg.
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
CAPÍTULO 2. HIDROSTÁTICA
Quando falamos das propriedades da matéria, referimo-nos a uma escala macroscópica. Quando
falamos de velocidade, pressão e a generalidade das propriedades físicas, a escala de medida é
muito superior quer às dimensões moleculares quer às distâncias intermoleculares. Não é por isso
útil para a nossa abordagem o tratamento ao nível das dimensões moleculares. Ou seja, se
considerássemos a nossa análise ao nível molecular e seguíssemos uma linha, iríamos encontrar
sucessivamente massa, vácuo, massa, vácuo, e assim por diante, numa sequência descontínua. Por
outro lado, o estabelecimento de leis de variação das propriedades requer o desenvolvimento de
equações diferenciais; ora as funções descontínuas não são diferenciáveis, pelo que o tratamento
matemático terá de se basear em funções contínuas. Por este motivo, a descrição da mecânica dos
fluidos recorre à aproximação ao meio contínuo, em que a matéria é tratada como um meio com
variação contínua das propriedades. Ou seja, apesar de um fluido ser essencialmente um material
discreto, a sua descrição à escala macroscópica é feita numa base contínua.
Dado que vamos estar interessados na variação das propriedades em diferentes pontos da matéria,
há então que definir um ponto não como uma abstração geométrica sem dimensões, mas sim como
um volume muito pequeno, mas ainda assim contendo matéria. Em termos práticos, vejamos o
exemplo da escala de 1 micrómetro, abaixo da qual é muito difícil fazer qualquer medida de
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propriedades. O volume correspondente a este comprimento nas três dimensões do espaço será
10-18 m3. Admitindo temperatura e pressão ambientes, este volume contém cerca de 1017
moléculas de gás, um número surpreendentemente grande. As propriedades “pontuais” são
consideradas portanto numa escala em que há matéria e um “ponto” é portanto entendido como
uma porção de matéria com propriedades mensuráveis.
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜕𝑝
∑ 𝐹𝑥 = (𝑝∆𝑦∆𝑧)|𝑥 − (𝑝∆𝑦∆𝑧)|𝑥+∆𝑥 = 0 ⇒ =0
𝜕𝑥 Eq. (2.1)
𝜕𝑝
∑ 𝐹𝑦 = (𝑝∆𝑥∆𝑧)|𝑦 − (𝑝∆𝑥∆𝑧)|𝑦+∆𝑦 = 0 ⇒ =0
𝜕𝑦 Eq. (2.2)
Estas equações mostram que, para um fluido em repouso, a pressão é apenas função de 𝑧.
Dividindo a Eq. (2.3) por ∆𝑥∆𝑦∆𝑧 e fazendo tender este volume elementar para um ponto, temos:
𝜕𝑝
= −𝜌𝑔
𝜕𝑧 Eq. (2.5)
∫ 𝑑𝑝 = −𝜌𝑔 ∫ 𝑑𝑧
Eq. (2.6)
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A variação da pressão segundo uma direção não-vertical (Figura 2.2) pode ser naturalmente obtida
fazendo
𝑑𝑝 𝑑𝑝 𝑑𝑧 𝑑𝑧
= = −𝜌𝑔
𝑑𝑎 𝑑𝑧 𝑑𝑎 𝑑𝑎 Eq. (2.7)
ou
𝑑𝑝
= −𝜌𝑔 cos 𝜃
𝑑𝑎 Eq. (2.8)
Para um fluido em repouso, a pressão num ponto (pressão estática) é apenas função da altura (ou
profundidade) e é independente da direção. Ou seja, a pressão é uma grandeza escalar. A força de
pressão é naturalmente um vetor, cuja direção da força vai depender apenas da orientação da
superfície. Para o elemento infinitesimal de área, 𝑑𝐴, a força de pressão é dada por:
𝑑𝐹 = 𝑝 𝑑𝐴
Eq. (2.9)
Em que 𝑑𝐹 é uma quantidade vectorial. Para uma superfície plana em que os vectores 𝑑𝐹 tenham
todos a mesma direcção, i.e., para superfícies planas, a força total pode ser obtida integrando a
Eq. (2.9):
𝐹 = ∫ 𝑝 𝑑𝐴
Eq. (2.10)
Para a superfície livre de um líquido em repouso, a pressão será uniforme e por isso a força será
dada pelo produto simples 𝐹 = 𝑝 𝐴. Para outras situações, há que ter alguma lei que descreva a
variação da pressão ao longo da superfície A.
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Exemplo 2.1
Uma comporta num canal (largura W = 10 m e altura inicial h = 5 m) tem um lado exposto à atmosfera e o outro
à água. Qual é a força total a que a comporta está sujeita?
Resolução:
Do lado da atmosfera, a baixa densidade permite que se admita a pressão constante e igual à pressão atmosférica. Do
lado da água, se for ℎ a altura contada a partir da superfície da água, será
ℎ=5 m
ℎ2
𝐹água = 𝑝atm 𝐴 + 𝜌𝑔𝑊 ]
2 ℎ=0
kg m 25 2
𝐹 = 998,2 × 9,81 2 × 10 m × m
m3 s 2
Exemplo 2.2
Uma parede inclinada com largura W = 10 m e comprimento submerso l = 5 m, forma um ângulo de 70° com a
horizontal e tem um lado exposto à atmosfera e o outro à água.
Determine a força total a que a comporta está sujeita e as componentes, vertical e horizontal, da força.
1
Para a densidade da água é tomado aqui o seu valor a 20 °C, que pode ser consultado em Anexo. Note-se
contudo que na maioria dos exercícios se optou por usar o valor aproximado de 1000 kg m-3.
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Resolução
Tal como no exemplo anterior, as contribuições da pressão atmosférica cancelam-se, e por isso trabalharemos apenas
com a pressão relativa
∫ 𝑑𝐹 = ∫ 𝑝rel 𝑑𝐴
A área será dada por 𝑑𝐴 = 𝑊 𝑑𝑙
em que 𝑊 é a largura da parede e 𝑙 a distância ao longo da parede, a partir da superfície do líquido.
𝑝rel = 𝜌𝑔ℎ
Portanto, a força de pressão será dada por
∫ 𝑑𝐹 = 𝑊𝜌𝑔 ∫ ℎ 𝑑𝑙
ℎ = 𝑙 sen 𝜃 ⇒ ∫ 𝑑𝐹 = 𝜌𝑔𝑊 ∫ ℎ 𝑑𝑙
𝑙=5 𝑚
𝑙2
𝐹 = 𝜌𝑔𝑊 sen 𝜃 ]
2 𝑙=0
kg m 25
𝐹 = 998,2 m3 × 9,81 × 10 m × sen 70° × m2 = 1,15 MN
s2 2
Para cada uma das direções, teremos: 𝑑𝐹𝑥 = 𝑝rel sen 𝜃 𝑑𝐴 e 𝑑𝐹𝑦 = 𝑝rel cos 𝜃 𝑑𝐴
Assim, fica:
𝑙=5 𝑚
𝑙2
𝐹𝑥 = ∫ 𝜌𝑔ℎ sen 𝜃 𝑊 𝑑𝑙 = ∫ 𝜌𝑔𝑊(sen 𝜃)2 𝑙 𝑑𝑙 = 𝜌𝑔𝑊 (sen 𝜃)2 ]
2 𝑙=0
𝐹𝑥 = 𝐹 sen 𝜃 = 1,08 MN
Direção , 𝑦 (vertical):
𝑙=5 𝑚
𝑙2
𝐹𝑦 = ∫ 𝜌𝑔ℎ cos 𝜃 𝑊𝑑𝑙 = ∫ 𝜌𝑔𝑊 cos 𝜃 sen 𝜃 𝑙 𝑑𝑙 = 𝜌𝑔𝑊 cos 𝜃 sen 𝜃 ]
2 𝑙=0
𝐹𝑦 = 𝐹 cos 𝜃 = 0,39 MN
𝐹𝑦 é positivo, o que significa que a força é exercida na direção ascendente.
Note-se que para pressão uniforme, a resultante da força de pressão numa determinada direção
sobre uma superfície irregular é dada pelo produto da pressão pela área projetada (área da sombra)
do objeto ou da superfície. Por exemplo, consideremos a superfície plana da Figura 2.3, com
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𝐹𝑥 = ∫ 𝑝 cos 𝜃 𝑑𝐴 = ∫ 𝑝 𝑑𝐴𝑥
Eq. (2.11)
Sendo 𝑑𝐴𝑥 a projeção da área 𝑑𝐴 no plano 𝑦𝑧. Para a direcção y será:
𝐹𝑦 = ∫ −𝑝 sen 𝜃 𝑑𝐴 = ∫ 𝑝 𝑑𝐴𝑦
Eq. (2.12)
Estes exemplos mostram-nos como a Eq. (2.10) é aplicada a paredes planas, nas quais é fácil
relacionar a pressão com uma distância ao longo da parede. No caso de superfícies curvas há que
fazer a integração da pressão ao longo da superfície, embora por vezes seja possível recorrer à
projeção da área. Consideremos um objeto irregular na Figura 2.4. Na direção y percebe-se
facilmente que a resultante da pressão é zero, porque o sistema é simétrico relativamente ao plano
bissetor. Em relação à direção x a interpretação é menos intuitiva, já que do lado esquerdo a
superfície é plana, ao passo que do lado direito é convexa. Relativamente à força de pressão
segundo a direção 𝑥, a força de cada um dos lados é dada pela pressão integrada para a área
projetada no plano normal à direção em causa. Ou seja, apesar da diferença na área, a resultante
da força de pressão segundo x é nula.
Nos gases a pressão depende pouco da profundidade quando se trata de desníveis da ordem de
grandeza de instalações para transporte de fluidos. Ao contrário, nos líquidos a pressão aumenta
rapidamente com a profundidade. Assim, se tivermos uma superfície em contacto com um líquido,
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
a força total exercida na superfície tem de ser calculada por integração, tendo em conta a Eq.
(2.5).
Impulsão
A impulsão é a força vertical, dirigida de baixo para cima (ou seja, no sentido oposto ao do peso)
e que resulta da diferença de pressão entre o lado inferior e o lado superior de objetos imersos. A
lei da impulsão foi enunciada no séc. III a.C. por Arquimedes e estabelece que “um corpo
mergulhado ou flutuando num fluido parado está sujeito a uma força vertical exercida de baixo
para cima, e que é numericamente igual ao peso do volume de fluido deslocado pelo corpo”.
Assim, para um objeto imerso num fluido em repouso - Figura 2.5 - teremos:
⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑔 = −𝜌𝑠 𝑉𝑔𝑒⃗⃗⃗⃗𝑧 (peso, sendo 𝜌𝑠 a densidade da esfera e V o seu volume)
⃗⃗⃗⃗
𝐹𝐼 = 𝜌𝑉𝑔𝑒⃗⃗⃗⃗𝑧 (impulsão, sendo 𝜌 a massa específica do fluido)
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝐹⃗ = ⃗⃗⃗⃗
𝐹𝐼 + ⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑔 = (𝜌 − 𝜌𝑠 )𝑉𝑔𝑒⃗⃗⃗⃗𝑧
Eq. (2.13)
Esta força será ascendente ou descendente, dependendo dos valores relativos das densidades. Se
𝐹⃗ for positivo, então o corpo irá adquirir velocidade ascendente até atingir a superfície. Quando
o corpo flutua à superfície, a força de impulsão passará a ser:
⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹′𝐼 = 𝜌 𝑉′ 𝑔 ⃗⃗⃗⃗
𝑒𝑧 Eq. (2.14)
em que 𝑉′ representa o volume submerso.
A pressão pode ser medida em termos absolutos (em relação ao vácuo) ou relativamente à pressão
atmosférica ao nível do mar a 25 °C (pressão relativa). Assim,
A pressão atmosférica normal é de 101325 Pa, que corresponde a uma pressão relativa de zero.
Cálculos rigorosos exigem por vezes correções à densidade, que varia com a pressão e com a
temperatura. Refira-se ainda que no sistema inglês a pressão é expressa em psi g ou psia (psi: pound
per square inch, lbf in-2), que designam respetivamente pressões relativas (“gauge pressure” em
inglês) ou absolutas. A pressão absoluta é medida usando barómetros, como o da Figura 2.6.
Notemos que o ponto 1 se encontra sob vácuo e o ponto 2 está à pressão atmosférica. Seja 𝜌m a
densidade do líquido manométrico.
Assim, 𝑝2 = 𝑝1 + 𝜌m 𝑔 ℎ𝑚
𝑝2 = 𝑝atm .
Pelo que: 𝑝atm = 𝜌m 𝑔 ℎm .
𝑝atm
A altura da coluna, ou altura manométrica, é dada por ℎm = 𝜌m 𝑔
Daí que a pressão vem muitas vezes tabelada em termos da altura da coluna (vulgarmente de
água ou mercúrio).
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
A medição de pressão é feita com aparelhos chamados manómetros. De entre os diferentes tipos
de manómetros, destacam-se os diferenciais (assim chamados por medirem a diferença de pressão
entre dois pontos) de tubo em U, porque são uma aplicação direta da equação fundamental da
hidrostática. Consideremos o manómetro da Figura 2.7 e analisemos cada um dos ramos
separadamente.
Ramo da esquerda: 𝑝C = 𝑝1 + 𝜌1 𝑔ℎ1 + 𝜌m 𝑔ℎ3
𝑝1 − 𝑝2 = 𝜌2 𝑔ℎ2 + 𝜌m 𝑔𝐻 − 𝜌1 𝑔ℎ1
No caso mais simples de o fluido ser o mesmo nos dois ramos do manómetro, 𝜌1 = 𝜌2 = 𝜌 , e de
a altura dos dois ramos ser igual (ℎ1 = ℎ2 + 𝐻), será
𝑝1 − 𝑝2 = 𝜌 𝑔ℎ2 − 𝜌 𝑔(ℎ2 + 𝐻) + 𝜌m 𝑔𝐻
Eq. (2.16)
𝑝1 − 𝑝2 = 𝑔𝐻(𝜌m − 𝜌)
Eq. (2.17)
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Reparemos que a única altura relevante é neste caso o desnível entre os meniscos, o que torna a
leitura bastante fácil. As parcelas do segundo membro traduzem o peso de uma coluna de fluido,
dividido pela área da secção do tubo.
Exemplo 2.3
O reservatório da figura contém azoto. Determine a pressão 𝑝A, sabendo que os fluidos 1 e 2 são,
respectivamente, mercúrio e água e que os desníveis são h1 = 10,0 cm e h2 = 25,0 cm. O tubo encontra-
se aberto para a atmosfera. Dado: ρmercúrio= 13546 kg m-3 (ver Anexo)
Resolução:
𝑝1 = 𝑝2 + 𝜌1 𝑔ℎ1 e 𝑝2 = 𝑝atm + 𝜌2 𝑔ℎ2
𝑝1 − 𝑝atm = 𝜌1 𝑔ℎ1 + 𝜌2 𝑔ℎ2 = 13546 × 9,81 × 0,10 + 1000 × 9,81 × 0,25 = 15,7 kPa
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 2.4
Um tanque contém óleo com densidade 𝜌2 = 800 kg m−3. O líquido manométrico é mercúrio. Determine a
pressão indicada pelo manómetro A, assumindo que no topo do tanque existe ar à pressão 𝑝1 e que ℎ1 = 3,0 m e
ℎ2 = 10 cm .
Resolução:
O manómetro A mede a pressão relativa no fundo do tanque, que é igual à soma da pressão do ar com a pressão
devida à coluna de óleo. O tubo tem ar em ambos os lados mas com pressões diferentes; o nível está mais baixo do
lado aberto à atmosfera, logo a pressão do ar interior à pressão atmosférica.
A densidade do mercúrio, neste exemplo, assim como nos posteriores, é tomada como 13600 kg m -3, para
simplificação dos cálculos.
Tubo em U (igualdade das pressões nos pontos em equilíbrio estático):
𝑝atm = 𝑝1 + 𝜌m 𝑔ℎ2
Manómetro A:
𝑝𝐴 = 𝑝1 − 𝑝atm + 𝜌2 𝑔ℎ1 = −1,33 × 104 + 800 × 9,81 × 3,0 = 10,2 × 103 Pa
Exemplo 2.5
Determine a pressão no ponto A, situado no interior do tanque de água, sabendo que os fluidos com
densidades ρ2 e ρ3 são, respetivamente, queroseno e mercúrio e que os desníveis são h1 = 6,0 cm, h2 = 10,0 cm
e h3 = 12,0 cm. O tubo manométrico encontra-se aberto para a atmosfera.
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Resolução:
𝑝B = 𝑝A + 𝜌1 𝑔ℎ1
𝑝C = 𝑝B + 𝜌2 𝑔ℎ2
𝑝C = 𝑝D + 𝜌3 𝑔( ℎ2 + ℎ3 )
𝑝D = 𝑝atm
𝑝A − 𝑝D = 𝜌3 𝑔( ℎ2 + ℎ3 ) − 𝜌1 𝑔ℎ1 − 𝜌2 𝑔ℎ2
𝑝A,rel = 13600 × 9,81 × 0,22 − 1000 × 9,81 × 0,06 − 820 × 9,81 × 0,10 = 2,8 × 104 Pa
Exemplo 2.6
Um tubo manométrico fechado em forma de U contém mercúrio e está ligado à parte inferior de um conduta
através da qual é transportada água, de acordo com esquema. Num ponto diretamente acima da ligação do tubo em
U inferior, encontra-se a ligação de um manómetro diferencial em U invertido, que contém n-heptano. Quais são os
valores de p1 e p2, expressos em pressão absoluta?
Resolução:
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
A água dentro do tubo está em escoamento, pelo que não se aplica a equação da hidrostática; ou seja, a pressão
varia ao longo do tubo, apesar de não haver desnível. O tubo manométrico inferior mede a pressão (absoluta)
no ponto 1, enquanto o superior mede a diferença entre os pontos 1 e 2.
Manómetro inferior:
𝑝vácuo + 𝜌Hg 𝑔ℎ3 = 𝑝1 + 𝜌água 𝑔ℎ4 (igualdade das pressões nos pontos em equilíbrio estático).
No caso dos gases é comum as diferenças de pressão serem pequenas, o que resulta num desnível
muito pequeno entre os meniscos, com consequente aumento no erro da leitura. Uma forma de
ultrapassar essa dificuldade baseia-se na utilização de manómetros com ramos assimétricos, com
secções diferentes. Este caso está exemplificado na Figura 2.8. Admitamos que os dois ramos têm
geometria cilíndrica e sejam D e d os diâmetros maior e menor, respetivamente, e seja 𝜌m a
densidade do líquido manométrico e 𝜌1 a densidade do fluido em A e B.
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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜋𝐷2 ′′ 𝜋𝑑2 ′′
𝑑 2
ℎ = ℎ ⟹ ℎ =ℎ ( )
4 4 𝐷
Igualdade das pressões nos pontos em equilíbrio estático:
2 2
′ 𝑑 ′ 𝑑
𝑝A + 𝜌1 𝑔 [ℎ + ℎ + ℎ ( ) ] = 𝑝B + 𝜌1 𝑔ℎ + 𝜌m 𝑔ℎ [1 + ( ) ]
𝐷 𝐷
Simplificando, vem:
2
𝑑
𝑝A − 𝑝B = (𝜌m − 𝜌1)𝑔ℎ [1 + ( ) ]
𝐷
Para uma determinada diferença de pressões, o desnível h será tanto maior quanto menor for a
razão dos diâmetros, d/D. No limite, se d 1 , a equação simplifica-se:
D
𝑝A − 𝑝B = (𝜌m − 𝜌1 )𝑔ℎ
Se o fluido superior for um gás, a sua densidade pode em geral ser desprezada face à do líquido
manométrico, pelo que a equação se simplifica para:
𝑝A − 𝑝B = 𝜌m 𝑔ℎ
Daqui resulta que a diferença de pressão é obtida pela leitura apenas da subida do menisco no
ramo mais fino, que é obrigatoriamente o das baixas pressões. A leitura do manómetro é então
dada por:
𝑝A − 𝑝B
⟹ ℎ=
𝜌m 𝑔
Blaise Pascal
(França, 1623 — 1662)
Foi um físico, matemático, filósofo e teólogo francês.
Blaise Pascal contribuiu decisivamente para a criação de
dois novos ramos da matemática: a Geometria Projetiva e a
Teoria das probabilidades. Em Física, estudou a mecânica
dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo,
ampliando o trabalho de Evangelista Torricelli. É ainda o
autor de uma das primeiras calculadoras mecânicas, a
Pascaline, e de estudos sobre o método científico.
35
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 2.1 Para o esquema apresentado, determine a expressão que relaciona a pressão no nível A do tanque com
as leituras do manómetro de tubo em U.
36
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
P 2.4 Determine a diferença de pressão entre os pontos A e B, sabendo que os fluidos são água e mercúrio e
que os desníveis indicados na figura são ℎ1 = 40 mm e ℎ2 = 100 mm. Qual o ponto com maior pressão?
P 2.5 No sistema da figura, os dois reservatórios contêm ar e o líquido no tubo é água a 25 °C. Se os diâmetros
dos dois troços de tubo forem 30 mm e 10 mm, e o ângulo 𝜃 = 60°, qual será o valor do deslocamento L do menisco
no tubo que resultará de um aumento de 100 Pa na pressão do reservatório da esquerda?
37
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
38
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
CAPÍTULO 3. VISCOSIDADE
Os fluidos caracterizam-se por sofrerem uma deformação crescente com o tempo, quando sujeitos
a uma força de corte constante. Consideremos duas placas planas e paralelas, com área muito
grande, e separadas por uma distância constante ∆𝑦. O espaço que separa as placas encontra-se
totalmente preenchido por um filme de um líquido viscoso. Se aplicarmos uma força de corte
numa das placas segundo a direção 𝑥, mantendo a outra em repouso, estabelecer-se-á um
gradiente de velocidades no fluido. Junto a cada uma das superfícies sólidas, o fluido é arrastado
pela superfície com uma velocidade que admitimos ser igual à da placa. Se a aplicação da força
se mantiver por um período suficientemente longo, atingir-se-á o estado estacionário, sendo o
perfil de velocidades dado por uma reta - Figura 3.1.
Verifica-se experimentalmente que a força 𝐹 capaz de manter o estado estacionário é proporcional
à diferença de velocidades entre as duas placas, ∆𝑣𝑥 , e à área das placas, 𝐴, e inversamente
proporcional à espessura de fluido, ∆𝑦, de acordo com a lei de Newton da viscosidade:
𝐹 −∆𝑣𝑥
=𝜇
𝐴 ∆𝑦 Eq. (3.1)
39
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Figura 3.1 – Distribuição da velocidade para um fluido escoando sob a ação de uma força de corte entre
placas paralelas.
𝜕𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 = −𝜇
𝜕𝑦 Eq. (3.2)
A força atua na direção 𝑥 e no plano 𝑥𝑧. Na representação simbólica do tensor de corte, o primeiro
índice traduza o plano de ação da força (plano xz, identificado pela direção da normal, 𝑦) e o
segundo índice traduz a direção de ação da força, x.
Reparemos que as dimensões de 𝜏𝑦𝑥 são
𝐹 MLT −2 MLT −1
[𝜏𝑦𝑥 ] ≡ [ ]= = 2
𝐴 L2 L T
Então, temos no numerador uma quantidade de movimento e no denominador uma área (a área
atravessada no transporte) e o tempo. Então, o mesmo processo pode ser descrito com base no
transporte de uma propriedade, que é a quantidade de movimento linear. Este transporte dá-se das
zonas de fluido mais rápido para as zonas de fluido mais lento; podemos então afirmar que há
transporte segundo a direção 𝑦 de quantidade de movimento segundo 𝑥 . Então, o primeiro índice
indica a direção do transporte e o segundo índice revela a componente de quantidade de
40
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
movimento que está a ser transportada. O sinal menos (–) traduz o sentido do fluxo, que é oposto
ao do gradiente de 𝑣𝑥 , ou seja, o transporte ocorre das zonas de fluido rápido para as zonas onde
o fluido é mais lento2. A área para o transporte é a área da superfície normal ao gradiente da
velocidade.
Se o gradiente for positivo, a porção superior do fluido irá ter velocidade maior, pelo que ao fim
de uma unidade de tempo haverá uma distorção do fluido, dada pelo ângulo δα (Figura 3.2). O
𝜕𝑣𝑥
gradiente de velocidades, , corresponde à taxa de deformação angular de um elemento de
𝜕𝑦
fluido.
A viscosidade pode então ser descrita como a resistência de um fluido à deformação em
resultado de uma força de corte.
𝜏𝑦𝑥
𝜇=−
𝜕𝑣𝑥
Eq. (3.3)
𝜕𝑦
𝐹
[
] MLT −2 L−2
[𝜇] ≡ 𝐴 −1 −1
𝑣 = LT −1 L−1 = ML T
[ ]
𝐿
2
Note-se que os índices irão depender da geometria e das características de cada escoamento, incluindo o sistema de eixos. Assim, a
mesma situação física descrita na Figura 3.1 seria representada por 𝜏𝑦𝑥 ou 𝜏𝑥𝑧 , com uma simples alteração dos eixos. Naturalmente,
noutros sistemas de eixos iremos encontrar índices diferentes; por exemplo, para o escoamento axial de um fluido dentro de um tubo
cilíndrico, a velocidade será segundo a direção z (direção axial) e essa velocidade poderá variar segundo uma das outras direções,
𝜕𝑣𝑧
𝜃 ou 𝑟. Se a variação for segundo a direção radial, ou seja, se 𝑣𝑧 (𝑟), haverá uma componente do tensor dada por 𝜏𝑟𝑧 = −𝜇 .
𝜕𝑟
41
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
No SI, a viscosidade vem expressa em kg m-1 s-1, ou Pa·s. Nos livros menos recentes é costume
aparecerem as unidades do sistema CGS, que corresponde a g cm-1 s-1, e que se designa por poise
(P). Sendo esta unidade demasiado grande para a maioria dos fluidos, opta-se em geral por usar
o centipoise (cP), sendo 1 cP = 0,01 poise.
Para além da viscosidade (também designada por viscosidade molecular ou absoluta), fala-se
também da razão entre essa grandeza e a massa específica, 𝜌, e que se designa por viscosidade
cinemática (ou difusividade de quantidade de movimento), 𝜈:
𝜇
𝜈=
𝜌 Eq. (3.4)
No sistema CGS esta unidade tem uma designação própria, o stoke (St), que corresponde a 1 cm2
s-1.
Os fluidos que seguem a Lei de Newton da viscosidade designam-se fluidos Newtonianos. São
fluidos Newtonianos todos os gases (puros ou misturas), bem como a maioria dos líquidos não
poliméricos (em particular os monoatómicos ou com moléculas pequenas). A viscosidade de um
fluido Newtoniano é portanto determinante nas características do seu escoamento.
Vejamos então que valores toma e como varia a viscosidade. A viscosidade dos gases é baixa e
-5
difere pouco de gás para gás, estando em geral na gama 510-6 – 310 Pa·s. A viscosidade dos
líquidos é superior e abrange uma gama muito mais vasta (Tabela 3.1). Convém referir o caso da
água, com 𝜇 = 1 mPa ∙ s à temperatura de 293 K.
A viscosidade dos líquidos diminui fortemente com o aumento da temperatura, ao passo que nos
gases aumenta ligeiramente com a temperatura. Esta diferença de comportamento deve-se à
diferença de mecanismos de transporte de quantidade de movimento. Nos gases, a resistência à
deformação é essencialmente devida aos choques entre moléculas. Moléculas provenientes de
regiões em que a velocidade média é elevada e que se deslocam aleatoriamente colidem com
outras moléculas mais lentas, trocando quantidade de movimento ao nível molecular e
consequentemente de uma para outra região do fluido. Dado que o movimento aleatório das
moléculas é facilitado pela temperatura, a viscosidade também aumenta com esta.
Segundo a teoria cinética dos gases, temos
𝜇 ∝ √𝑇 (temperatura absoluta)
42
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
No caso dos líquidos as moléculas estão mais compactadas, pelo que a resistência à deformação
é controlada principalmente pelas forças de atração intermoleculares. Estas forças de atração
diminuem com o aumento da temperatura, pelo que a viscosidade decresce, seguindo
aproximadamente uma lei do tipo exponencial, i.e.,
Substância T / ºC μ /mPa·s
Água (liq.) 20 1,0019
Ar 20 0,01813
(C2H5)2O (liq.) 20 0,245
C2H5OH (liq.) 20 1,194
H2SO4 (liq.) 25 19,15
Glicerina (liq.) 20 1069
CH4 (gás) 20 0,0109
CO2 (gás) 20 0,0146
Hg (gás) 380 0,0654
(adaptado de Bird, Lightfoot, Stewart, Transport Phenomena, John Wiley & Sons)
Efeito da pressão
Sendo que nenhum material é rigorosamente incompressível, os líquidos têm densidade
aproximadamente constante, pelo que a sua viscosidade é considerada independente da pressão.
Já nos gases o efeito da pressão existe mas ainda assim é pouco significativo para a viscosidade
em pressões moderadas. Excetuam-se as pressões da ordem da pressão crítica, i.e., cerca de 10
vezes superior à pressão atmosférica.
Naturalmente, a viscosidade cinemática tem um comportamento diferente, e varia bastante com a
pressão no caso dos gases.
43
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Quando tratamos da variação da velocidade, vemos que cada um destes componentes pode variar
segundo três direções, pelo que o gradiente da velocidade é dado por uma matriz de nove
elementos, ou tensor de segunda ordem:
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕 𝑣𝑥
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦
⃗⃗𝑣⃗ =
∇
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧
( 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 )
A matriz transposta:
𝜕 𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕 𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧
⃗⃗𝑣⃗ 𝑇 =
∇
𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑦
𝜕 𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧
( 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑧 )
⃗⃗𝑣⃗ + ∇
𝜏 = −𝜇 (∇ ⃗⃗𝑣⃗ 𝑇 )
Esta é uma matriz simétrica em torno da diagonal principal, ou seja, 𝜏𝑥𝑦 = 𝜏𝑦𝑥 e
44
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜕𝑣𝑧
𝜏𝑧𝑧 = −2𝜇
𝜕𝑧
Para escoamento compressível os componentes da diagonal apresentam uma outra parcela, que
traduz o efeito da variação de densidade. A expressão completa pode ser encontrada em anexo.
Designa-se por Reologia a ciência que estuda a deformação e o escoamento. Esta ciência
engloba portanto o comportamento dos sólidos elásticos, mas também o dos fluidos, Newtonianos
ou não-Newtonianos. Recorde-se que todos os gases são Newtonianos, pelo que os não-
Newtonianos são sempre líquidos. Todos os líquidos vulgarmente apelidados de pastosos,
peganhentos ou gelatinosos, fazem parte do universo dos líquidos não-Newtonianos. A
importância tecnológica dos líquidos não-Newtonianos é enorme, dado que algumas grandes
famílias de líquidos, como é o caso das suspensões coloidais, dos polímeros e das soluções
poliméricas são, regra geral, não-Newtonianos.
45
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
O comportamento reológico dos fluidos pode ser descrito de uma forma simples mediante
uma generalização da lei de Newton da viscosidade,
𝜕𝑣𝑥
𝜏 𝑦𝑥 = −𝜇𝑎
𝜕𝑦 Eq. (3.6)
Os fluidos Newtonianos são aqueles que seguem a lei de Newton da viscosidade, e que iremos
representar na forma simplificada:
𝜏 = 𝜇 𝛾̇
sendo 𝛾̇ a taxa de deformação, também designada por taxa de corte:
𝑑𝑣𝑥
𝛾̇ = −
𝑑𝑦 Eq. (3.8)
Na Figura 3.3 representa-se um gráfico tensão-deformação. O gráfico é dado por uma reta que
passa pela origem e cujo declive é 𝜇. Os fluidos cujo comportamento não é Newtoniano
apresentam então outro comportamento. De entre os diferentes comportamentos, destacamos os
mais importantes: plástico de Bingham, plástico de Casson, pseudoplástico e dilatante. Os
plásticos – de Casson e de Bingham – distinguem-se dos outros por terem uma tensão de cedência,
i.e., uma tensão crítica, 𝜏0 , abaixo da qual têm comportamento rígido.
46
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Figura 3.3 Curvas de comportamento reológico para diferentes tipos de comportamento reológico.
Note-se que todos os comportamentos não-Newtonianos são descritos por pelo menos dois
parâmetros característicos, em contraste com a lei de Newton (que tem como único parâmetro a
viscosidade).
Descrevem-se em seguida os principais comportamentos não-Newtonianos e respetivas leis.
O modelo de Ostwald de Waele, também conhecido como lei da potência é descrito pela
equação:
𝜕𝑣𝑥 𝑛−1 𝜕𝑣𝑥
𝜏 𝑦𝑥 = −𝑚 | |
𝜕𝑦 𝜕𝑦 Eq. (3.9)
47
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Por seu lado, o coeficiente de consistência dá uma medida aproximada da viscosidade do fluido;
seja qual for o comportamento, um fluido muito viscoso terá um coeficiente de consistência
elevado.
A forma da equação indica que o fluxo de quantidade de movimento tem sentido oposto ao
gradiente da velocidade. O modelo pode ser escrito numa forma simplificada:
𝜕𝑣𝑥 𝑛
|𝜏 𝑦𝑥 | = 𝑚 | |
𝜕𝑦 Eq. (3.10)
Pela definição, concluímos que a viscosidade aparente varia com o gradiente da velocidade:
𝜇𝑎 = 𝑚 |𝛾̇ |𝑛−1 Eq. (3.11)
Ou seja, com o aumento da rapidez de corte o fluido torna-se menos viscoso ou mais viscoso
consoante se trate de um fluido pseudoplástico ou dilatante.
PSEUDOPLÁSTICOS
O comportamento pseudoplástico é o mais comum de entre os não-Newtonianos. Resulta da
existência de cadeias longas que se encontram com orientações aleatórias em repouso, mas que
em movimento relativo sofrem um alinhamento, que resulta numa mais fácil deformação do
fluido. Este grupo tem muita relevância industrial porque engloba a maior parte dos fluidos não-
Newtonianos, tais como as soluções poliméricas, as borrachas, a maionese, a pasta de papel,
muitos fluidos biológicos, a maioria das tintas e ainda algumas suspensões de sólidos inertes não-
solvatados.
DILATANTES
O comportamento dilatante é pouco comum. Ocorre em suspensões com alto teor de sólidos, tais
como suspensões aquosas de amido ou de silicato de potássio e ainda de goma-arábica. Para
baixas velocidade o líquido tem uma ação lubrificante, que é perdida para velocidades mais
elevadas. Estes fluidos podem conduzir a comportamentos bastante inesperados, resultantes de
serem muito viscosos sob a ação de forças de corte elevadas ou altas velocidades, que contrasta
com uma boa plasticidade em velocidades de deformação baixas. Assim, é possível
eventualmente conseguir correr (mas não caminhar) sobre um líquido. Também é possível usar
líquidos dilatantes em equipamentos anti-bala. Ou seja, estes fluidos alternam o comportamento
de líquido e de quase-sólido, consoante as forças a que estão sujeitos.
48
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Genericamente, designam-se por plásticos os fluidos que possuem uma tensão crítica abaixo da
qual exibem um comportamento do tipo corpo rígido. Existem numerosos exemplos deste
comportamento, em particular em produtos alimentares e também em produtos de higiene e
estética, tais como cremes. É o caso das claras batidas em castelo, da mousse de chocolate, mas
também do molho ketchup, da pasta dentífrica, das ceras e de muitos fluidos biológicos.
Apresentamos aqui dois modelos de comportamento englobados nesta categoria.
PLÁSTICOS DE BINGHAM
Os plásticos de Bingham são descritos por uma relação linear entre a tensão de corte e a rapidez
de corte, acima da tensão de cedência, 𝜏0 . Abaixo da tensão de cedência o fluido tem
comportamento do tipo corpo rígido, o que significa que não escoa. Acima de 𝜏0 o comportamento
é descrito pela equação de 1º grau, com declive dado pelo coeficiente de Bingham, 𝑘𝐵 .
𝜕𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 ± 𝜏0 = −𝑘𝐵 , se |𝜏𝑦𝑥 | > 𝜏0
𝜕𝑦
𝜕𝑣𝑥 Eq. (3.12)
=0 se |𝜏𝑦𝑥 | < 𝜏0
{ 𝜕𝑦
Note-se que no primeiro membro surge uma diferença entre tensões de corte. Para garantir a
consistência da equação, 𝜏𝑦𝑥 e 𝜏0 têm obrigatoriamente o mesmo sinal.
Pela definição da viscosidade aparente, concluímos que o fluido se torna menos viscoso à medida
que a rapidez de corte aumenta.
PLÁSTICOS DE CASSON
Este comportamento pode ser interpretado como um desvio à lei de Bingham, e consiste na
existência de uma curvatura na linha de comportamento reológico, com a concavidade voltada
para baixo. A lei de Casson pode ser escrita na forma:
Note-se que, mais do que tipos de fluido, os modelos apresentados descrevem comportamentos.
Assim, um mesmo fluido pode ter comportamento variável consoante as gamas da tensão de corte.
Por exemplo, existem fluidos com comportamento pseudoplástico ou dilatante a baixas ou altas
tensões de corte, respetivamente - Figura 3.4.
49
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Viscosidade Aparente
50
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Dado que 𝜏 corresponde a uma força tangencial por unidade de área e 𝛾̇ corresponde a um
gradiente de velocidade, é lógico que, num agitador colocado no seio de um fluido, para o
mesmo gradiente de velocidades, i.e., para a mesma velocidade de agitador, a força a aplicar
será tanto maior quanto maior for a viscosidade aparente. Se em alguns líquidos esta força não
se altera com o tempo, noutros ela varia com o tempo para a mesma velocidade de agitação.
Assim, definem-se dois tipos de comportamento, consoante a viscosidade aparente diminui ou
aumenta com o tempo - Figura 3.7.
51
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
FLUIDOS TIXOTRÓPICOS
Designam-se por tixotrópicos os fluidos para os quais a viscosidade aparente diminui com o
tempo de agitação, para um gradiente de velocidade (ou uma velocidade de agitação)
constante, havendo uma recuperação gradual da viscosidade quando o fluido é deixado em
repouso. Assim, se se medir a viscosidade a tensões de corte crescentes e depois decrescentes,
haverá uma histerese, com a tensão de corte menor (ou viscosidade menor no troço
descendente da curva - Figura 3.8 . Ou seja, para a mesma tensão de corte o fluido é menos
viscoso se tiver sido previamente sujeito a tensões mais elevadas (ou de uma forma mais
simples, se tiver sofrido agitação). Se abandonado em repouso, o fluido recupera a viscosidade
inicial. Este comportamento é comum em bastantes produtos comerciais, em particular nas
tintas de construção civil. Durante a aplicação a tinta torna-se menos viscosa, o que facilita a
formação de uma camada uniforme. Após a interrupção da força, a viscosidade aparente
aumenta, pelo que a tinta se torna mais viscosa durante a secagem. Esta propriedade é
importante porque inibe a precipitação dos pigmentos na fase de secagem e também porque
dificulta a formação de “escorridos”. A experiência prática do comportamento tixotrópico
pode ser sentida quando se agita uma tinta aquosa após armazenagem. Nos primeiros instantes
o líquido é bastante viscoso, mas a agitação torna-se gradualmente mais fácil. Este
comportamento está em geral associado à quebra de ligações fracas (p.ex., pontes de
hidrogénio) entre cadeias poliméricas. Uma vez cessada a agitação, as ligações restabelecem-
se gradualmente, repondo a viscosidade inicial. Como outros exemplos, podemos ainda referir
o ketchup e muitas soluções poliméricas. Note-se que os fluidos tixotrópicos são em geral
também pseudoplásticos.
Figura 3.8 Comportamento reológico dos fluidos tixotrópicos; setas indicam o tempo crescente.
52
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
FLUIDOS REOPÉTICOS
Designam-se por reopéticos os fluidos cuja viscosidade aparente aumenta com o tempo de
agitação. Este comportamento, que é pouco comum, resulta de um melhor arranjo das
moléculas como consequência do movimento, e só ocorre para muito baixas velocidades.
Exemplos: suspensões de argilas e soles (suspensões coloidais estabilizadas).
Note-se que, se um fluido for tixotrópico ou reopético, então ele não é Newtoniano e, portanto,
terá obrigatoriamente uma classificação em função da tensão de corte – vulgarmente, são
pseudoplásticos. O contrário, no entanto, não é verdade. Isto é, um fluido pode ser
pseudoplástico ou dilatante e apresentar uma viscosidade independente do tempo.
FLUIDOS VISCOELÁSTICOS
Para além dos comportamentos mencionados, alguns fluidos têm a propriedade de retomar
parcialmente a forma do reservatório que os continha, quando é interrompida a aplicação da
força. Estes fluidos designam-se por “viscoelásticos” e combinam comportamento elástico
com comportamento plástico. Apresentam portanto alguma elasticidade, à semelhança dos
sólidos. É o caso das colas de borracha: se começarmos a despejar uma destas colas a partir
do recipiente e depois dermos um impulso no sentido contrário, é possível fazer o líquido
regressar ao frasco. Este comportamento não se observa com água ou com outro líquido que
não seja viscoelástico. Estes líquidos têm também a capacidade de “subir” ao longo de um
agitador, separando-se das paredes do recipiente e também de “alargar” à saída de um tubo -
“efeito de Weissenberg” (Figura 3.9). Outro exemplo de um fluido viscoelástico é a clara do
ovo, na qual ambos os comportamentos são fáceis de observar. De notar que, após batida em
castelo, a clara do ovo passa então a apresentar tensão de cedência, que aliás é a forma empírica
de verificarmos se as claras atingiram o ponto. Outro exemplo de fluido viscoelástico é a massa
de pão, que requer agitadores especiais já que a massa se separa do recipiente e “prende” no
agitador.
53
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
(a) (b)
(c) (d)
Figura 3.9- Comportamentos típicos dos fluidos viscoelásticos; comparado com líquidos Newtonianos; (a)
e (c): líquidos Newtonianos; (b) e (d) comportamento viscoelástico, com subida ao longo de um agitador
(a) e alargamento à saída de um tubo (b).
Note-se que estes comportamentos são determinantes no tipo de aplicação de cada fluido. Assim,
para além da tixotropia no caso das tintas, pensemos como é importante a tensão de cedência em
muitos produtos de consumo. Sem este tipo de comportamento, a pasta dentífrica sairia do
respetivo tubo apenas por ação da gravidade e portanto sem a necessidade de qualquer força extra.
Também a manteiga não poderia ser comercializada em barras embrulhadas em papel vegetal, por
exemplo. Por outro lado, os óleos lubrificantes para motores são sempre pseudoplásticos, de modo
que nos rolamentos, onde o gradiente de velocidades é elevado, o atrito é relativamente pequeno.
Por outro lado, nas juntas, onde o gradiente de velocidade é pequeno, o óleo é mais viscoso e,
como tal, tem menos tendência a sair nas pequenas fugas.
Deformação de fluidos
Do que vimos neste capítulo, conclui-se que a distinção entre líquidos e sólidos elásticos escapa
facilmente aos nossos sentidos. Analisemos a definição de um líquido à luz dos novos
54
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
conhecimentos. A diferença de comportamento entre sólidos e líquidos elásticos pode ser descrita
com base na experiência esquematizada na Figura 3.10. No caso de um sólido elástico, a aplicação
da força tangencial provoca uma deformação caracterizada pelo ângulo 𝛿𝛼 (cujo valor dependerá
das propriedades do sólido e do valor de força), deformação essa que se mantém enquanto se
mantiver a aplicação da força. Por outro lado, se considerarmos uma camada de um líquido
viscoso (“pastoso”) entre duas placas planas e paralelas e se aplicarmos da mesma forma uma
força tangencial, haverá também uma deformação angular, mas que aumenta enquanto se
mantiver a aplicação da força. Ou seja, quanto mais longo o tempo de aplicação da força, maior
será a deformação. A deformação não é constante, mas aumenta com o tempo; eventualmente
haverá uma taxa de deformação constante.
(a)
(b)
Figura 3.10 Deformação sob a ação de uma força tangencial, num sólido (a) e num líquido (b).
55
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 3.1 Uma placa com área de 10 dm2 está pousada sobre um pavimento liso e horizontal, que
tem uma camada de cera com 0,5 mm de espessura. Aplica-se uma força horizontal sobre a
placa, de 5 N, que gera um deslocamento da placa com a velocidade linear de 5 cm s-1.
a) Qual a viscosidade da cera, expressa em centipoise?
b) Para atingir o dobro da velocidade, é necessário aplicar uma força ligeiramente inferior a
10 N; quais serão os possíveis comportamentos reológicos da cera?
c) Do seu conhecimento empírico, quais destes comportamentos lhe parecem mais plausíveis?
56
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
A análise diferencial é a mais antiga, tendo sido proposta no séc. XVIII por Euler e
Lagrange. É uma abordagem teórica e sofisticada que, apesar de útil em casos simples, conduz a
descrições matemáticas de resolução extremamente difícil na maioria das situações, pelo que é de
utilização relativamente restrita. Este assunto é tratado no Capítulo 5 e no Capítulo 6. A análise
dimensional é de uma grande versatilidade, pois pode ser aplicada a qualquer sistema. Exige no
entanto frequentemente a realização de numerosos ensaios experimentais, o que a torna
eventualmente dispendiosa. Este assunto é tratado no Capítulo 7. A análise integral é a mais usada
em Engenharia, pois é matematicamente simples e aplica-se a qualquer sistema. Conduz regra
geral a resultados pouco sofisticados, mas funcionais, o que justifica largamente a sua
popularidade.
Antes de passarmos à análise integral propriamente dita, convém introduzir alguns
conceitos e fundamentos essenciais para o estabelecimento dos balanços.
Designa-se por sistema uma quantidade de massa fixa e identificável. O que está em volta
do sistema é a sua vizinhança, sendo o sistema separado da vizinhança pelas suas fronteiras. Na
descrição de um fluido em movimento, vamos sempre considerar o fluido como um meio
contínuo, isto é, um meio que se pode deformar em consequência de forças aplicadas, que tem
uma variação de propriedades com o espaço e com o tempo, mas no qual não se distinguem os
comportamentos individuais das moléculas. Neste meio contínuo podemos definir um campo, que
se pode definir matematicamente como uma região do espaço à qual, a cada ponto, pode ser
associado um valor de uma determinada grandeza. Assim, temos campos escalares (caso da
pressão, temperatura, concentração), campos vetoriais (caso do campo de velocidades) e campos
tensoriais (caso do tensor fluxo de quantidade de movimento). Para um fluido em escoamento,
57
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
podemos a cada ponto associar um vetor velocidade, com direção, sentido e módulo variável.
Chama-se linha de corrente à linha que, em cada ponto, é tangente ao vetor velocidade. Em
estado estacionário, isto é, se as condições não variarem com o tempo, a linha de corrente
corresponde à trajetória seguida por uma partícula que acompanha o movimento do fluido.
Conservação da massa
Conservação da quantidade de movimento
Conservação da energia
Consideremos então o volume de controlo da Figura 4.1, bem como as respetivas linhas
de corrente. No nosso balanço, 𝑑𝐴 é uma área elementar, 𝑣⃗ é o vector velocidade e 𝑛⃗⃗ a normal à
superfície, definida como um vetor unitário, perpendicular à superfície e dirigido para o exterior.
Seja 𝜃 o ângulo formado pelos vetores 𝑣⃗ e 𝑛⃗⃗. O caudal mássico através da área 𝑑𝐴 é dado por
(𝜌𝑣𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑑𝐴) , sendo (𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑑𝐴) a projecção da área 𝑑𝐴 no plano perpendicular ao vector
velocidade.
58
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Repare-se que o produto (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) é positivo para o fluido que sai do volume de controlo (0 < 𝜃 <
90°) e negativo para o fluido que entra (𝜃 > 90°). Por outro lado, se 𝜃 = 90°, o produto interno
será (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) = 0, isto é, não há escoamento.
𝑑𝑀
A acumulação será , em que M é a massa contida dentro do volume de controlo. Para um
𝑑𝑡
volume elementar 𝑑𝑉, a massa nele contida será 𝜌 𝑑𝑉. Se integrarmos para todo o volume de
controlo, ficaremos com a massa total contida no sistema num determinado instante,
𝑀 = ∭ 𝜌 𝑑𝑉.
O termo de acumulação será dado pela variação desta grandeza com o tempo:
𝑑𝑀 𝜕
{ caudal } = = ∭ 𝜌𝑑𝑉 Eq. (4.2)
acumulado 𝑑𝑡 𝜕𝑡
𝑉
O balanço da massa para o volume de controlo pode portanto ser escrito como:
𝜕
∬ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑑𝑉 = 0
𝜕𝑡 Eq. (4.3)
𝐴 𝑉
Traduzido em palavras, esta expressão significa que a resultante do transporte de massa através
da superfície de controlo (o que sai – o que entra), somada à taxa de acumulação, é igual a zero.
59
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
- Estado estacionário
Em estado estacionário o termo de acumulação é nulo, pelo que a equação fica apenas com os
termos de transporte através da superfície de controlo:
∬ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = 0
Eq. (4.4)
𝐴
Esta equação traduz que a diferença entre o caudal mássico de saída e o caudal mássico de
entrada é nula. Ou seja, o que sai é igual ao que entra.
∬(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = 0
Eq. (4.6)
𝐴
Note-se que o balanço à massa pode ser feito para o fluido globalmente ou apenas para um dos
componentes, no caso de uma mistura. Nesse caso, e se houver reação química, haverá que
contabilizar um termo de consumo e/ou geração. Assim, para um sistema multicomponente, o
balanço poderá ser escrito como:
𝑑𝑀𝑖
𝑚̇𝑖𝑠 − 𝑚̇𝑖𝑒 + = 𝑅𝑖
𝑑𝑡 Eq. (4.7)
60
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 4.1
Considere o escoamento estacionário de um fluido num tubo com secção variável e fazendo um ângulo
entre as direções de entrada e de saída. Simplifique o balanço à massa para este sistema, admitindo que
a velocidade é uniforme na entrada e na saída.
Resolução:
A direção do escoamento na entrada e na saída do tubo é normal à secção, pelo que fazem entre si um ângulo 𝛼. A
velocidade é 𝑣1 na entrada e 𝑣2 na saída.
Para volume de controlo, escolhemos todo o fluido contido dentro do tubo e excluímos as paredes, entre as secções
para as quais temos informação, e às quais chamaremos 1 e 2. O volume de controlo está assinalado com uma linha
tracejada, que acompanha a parede mas está no seu interior, demonstrando que a parede é excluída.
Em estado estacionário, sabemos que:
∬ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = 0
O integral pode ser dividido em três partes, a secção de entrada, a secção de saída e a região lateral. Na região lateral
não há escoamento através da superfície de controlo, pelo que o integral é nulo e as secções de entrada e de saída ficam
na forma:
𝜌1 (−𝑣1 )𝐴1 + 𝜌2 𝑣2 𝐴2 = 0 ⇔ 𝜌1 𝑣1 𝐴1 = 𝜌2 𝑣2 𝐴2
Numa secção, o caudal é dado pelo integral da velocidade para a superfície, que neste caso é
aberta:
𝑄 = ∬ 𝑣 cos 𝜃 𝑑𝐴
Eq. (4.8)
61
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
No caso de uma superfície aberta não falamos em entrada ou saída, porque o fluido simplesmente
atravessa a superfície em causa. Para escoamento axial em condutas ou canais, será então cos 𝜃 =
1.
Para condutas de secção circular, o caudal volumétrico será dado então pelo integral da velocidade
na secção transversal, i.e., em r e em 𝜃 :
2𝜋 𝑅
A velocidade média na secção, 〈𝑣〉, é dada pela razão entre o caudal e a área:
1
〈𝑣 〉 = ∬ 𝑣 𝑑𝐴
𝐴 Eq. (4.10)
Daqui resulta que:
2𝜋 𝑅
∫0 ∫0 𝑣(𝑟) 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃
〈𝑣 〉 = 2𝜋 𝑅
∫0 ∫0 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 Eq. (4.11)
Ou seja,
𝑄
〈𝑣 〉 =
𝐴 Eq. (4.12)
No caso de uma secção transversal de uma conduta cilíndrica, o denominador da Eq. (4.11) é a
área do círculo:
𝑅
2𝜋 ∫0 𝑣(𝑟)𝑟 𝑑𝑟
〈𝑣 〉 =
𝜋𝑅2
Exemplo 4.2
Consideremos um perfil de velocidades descrito por uma lei parabólica, dentro de um tubo de secção
circular de raio 𝑅:
𝑟 2
𝑣(𝑟) = 𝑣max [1 − ( ) ]
𝑅
Calcule a velocidade média 〈𝑣〉 para este escoamento.
Resolução:
A velocidade média numa área circular será dada por:
2𝜋 𝑅 𝑟2
∫0 ∫0 𝑣max [1 − 𝑅 ] 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 2𝜋𝑣max 𝑅2 𝑅4
〈𝑣 〉 = 2𝜋 𝑅 = ( − 2)
∫0 ∫0 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 𝜋𝑅2 2 4𝑅
62
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑣max
〈𝑣 〉 = Eq. (4.13)
2
Exemplo 4.3
Água circula através de uma conduta circular de diâmetro D= 8 cm, representada na figura, com um perfil de
velocidades dado por
𝑟2
𝑣𝑧 (𝑟) = 4 (1 − )
16
em que 𝑣𝑧 é a componente z da velocidade em cm/s e r é a coordenada radial expressa em cm. Determine a
velocidade média no troço a jusante da contração, onde d= 1,5 cm.
Resolução:
Vamos fazer o balanço à massa. Escolhemos como volume de controlo toda a região interior ao tubo, entre as secções
de entrada (1) e de saída (2), e excluindo as paredes. Desta forma todo o fluido compreendido entre as duas secções
está incluído no nosso balanço. Porque o fluido é incompressível e não há termo de acumulação, a equação simplifica-
se para a forma da Eq. (4.6) . Na parede lateral não há escoamento, pelo que o integral se limita às secções de entrada
e de saída:
− ∬ 𝑣1 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 + ∬ 𝑣2 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 = 0
1 2
𝑄1 = 𝑄2 = 𝑄
Como conhecemos a distribuição de velocidades na secção de entrada, o caudal vai ser obtido pelo integral
da respetiva expressão, já que a velocidade é função da coordenada radial.
2𝜋 𝑅 𝑅
𝑟2 𝑟2 𝑟4
𝑄 = ∫ ∫ 4 (1 − ) 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 = 8𝜋 [ − ]
16 2 4 × 16 0
0 0
𝑄 = 100 cm3 s−1
𝑄 100
𝑣2 = 2 = = 56,9 cm s−1
𝑑 1,52
𝜋 4 𝜋 4
63
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑑(𝑚𝑣⃗ )
∑ 𝐹⃗ =
𝑑𝑡
que se pode exprimir como: “a resultante das forças que atuam sobre o volume de controlo é igual
à taxa de variação temporal da quantidade de movimento”.
força gravítica, pelo facto de um fluido se encontrar num campo de forças (atuam em
volume);
forças de pressão, que atuam na direção normal à superfície de controlo (atuam em
superfície);
forças de corte, que atuam na superfície de controlo, no sentido oposto à velocidade.
O balanço pode ser escrito como (abreviando a quantidade de movimento como “qdm”):
64
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜕
∑ 𝐹⃗ = ∬ 𝜌𝑣⃗ (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌𝑣⃗ 𝑑𝑉
𝜕𝑡 Eq. (4.14)
𝐴 𝑉
Em estado estacionário o termo de acumulação é zero, pelo que ficamos apenas com as forças e
o termo convectivo. Em cada caso há que explicitar as forças a contabilizar no primeiro membro.
𝜕
∑ 𝐹𝑥 = ∬ 𝜌𝑣𝑥 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑣𝑥 𝑑𝑉 Eq. (4.15)
𝜕𝑡
𝐴 𝑉
𝜕
∑ 𝐹𝑦 = ∬ 𝜌𝑣𝑦 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑣𝑦 𝑑𝑉 Eq. (4.16)
𝜕𝑡
𝐴 𝑉
𝜕
∑ 𝐹𝑧 = ∬ 𝜌𝑣𝑧 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑣𝑧 𝑑𝑉 Eq. (4.17)
𝜕𝑡
𝐴 𝑉
Exemplo 4.4
Considere um tubo no plano xz, sendo z a direcção vertical. A direcção de saída forma um ângulo α com a
direcção de entrada. Determine qual a força exercida pelo fluido sobre as paredes do tubo, admitindo estado
estacionário.
Resolução:
Para volume de controlo vamos considerar todo o volume contido dentro do tubo (excluindo a parede), de
acordo com a representação a tracejado.
Direção x: em 1, a força de pressão será 𝑝1 𝐴1 e em 2 será −𝑝2 𝐴2 cos 𝛼. O peso não tem componente
segundo x. Na parede, a força será 𝐵𝑥 , pelo que
∑ 𝐹𝑥 = 𝑝1 𝐴1 − 𝑝2 𝐴2 cos 𝛼 + 𝐵𝑥
No segundo membro, temos:
65
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
∬ 𝑣⃗𝜌(𝑣
⃗⃗ ∙ 𝑛
⃗⃗)𝑑𝐴 = 𝑣1 𝜌1 (−𝑣1 )𝐴1 + 𝑣2 cos 𝛼𝜌2 𝑣2 𝐴2
Por outro lado o balanço à massa diz-nos que 𝜌1 𝑣1 𝐴1 = 𝜌2 𝑣2 𝐴2 = 𝑚̇ (caudal mássico), o que permite
simplificar a equação para
𝐵𝑥 = −𝑣1 𝑚̇ + 𝑣2 cos 𝛼𝑚̇ − 𝑝1 𝐴1 + 𝑝2 𝐴2 cos 𝛼
Para a direção z, e sendo temos:
∑ 𝐹𝑧 = 0 + 𝑝2 𝐴2 sen 𝛼 − 𝑉𝜌𝑔 + 𝐵𝑥
𝐵𝑥 e 𝐵𝑧 são as componentes da força exercida sobre o fluido, pelo que a força exercida pelo fluido sobre
a parede será a força de reação (simétrica): 𝑅𝑥 = −𝐵𝑥 e 𝑅𝑧 = −𝐵𝑧
Note-se que 𝐵𝑥 e 𝐵𝑧 traduzem a totalidade das forças exercidas na interface, e resultam da acção conjunta
da pressão exercida pela parede (normal à superfície de controlo) e da força de corte (atrito), que atua no
sentido oposto ao movimento.
66
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 4.5
Um líquido escoa em estado estacionário, numa conduta cilíndrica e horizontal, com 30 mm de diâmetro
interno. Mediu-se a pressão em dois pontos situados a 10,0 m de distância, tendo-se obtido 1,30 e 1,00 bar. A
velocidade de escoamento na entrada é 1,00 m/s.
a) Determine a força de corte na parede.
b) Determine a tensão de corte na parede.
Resolução:
a) O balanço à massa diz-nos que 𝑣1 𝜌1𝐴1 = 𝑣2 𝜌2𝐴2. Como o fluido é incompressível e a secção é
constante, resulta que 𝑣1 = 𝑣2.
O balanço às forças na direção x, em estado estacionário, fica
b) A tensão de corte é igual à força de corte dividida pela área (neste caso a área molhada, i.e., a área de
contacto entre o líquido e a parede).
Assim, temos
𝐹𝜏
𝜏𝑤 = = 22,5 Pa
𝜋𝐷𝐿
Exemplo 4.6
Um líquido escoa dentro de um tubo com diâmetro D= 6,0 cm, com caudal de 340 L min-1. Determine a
força que é necessário aplicar para manter o tubo fixo, sendo y a direção vertical, sabendo que o diâmetro
na saída da embocadura é d= 4,0 cm e que as pressões (relativas) à entrada e à saída são, respetivamente,
2,00 e 1,00 kPa. Admita como aproximação que o perfil de velocidades é plano à entrada e à saída e
despreze o peso do tubo. Dados: ρ =950 kg m-3, volume total da tubagem = 0,011 m3
67
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Resolução:
Pela equação da continuidade, para um fluido incompressível escoando em estado estacionário, vem:
𝑄 0,34
〈𝑣1 〉 = = = 2,00 m s−1
𝐴1 60 × 𝜋 × 0,032
𝑄 0,34
〈𝑣2 〉 = = = 4,51 m s−1
𝐴2 60 × 𝜋 × 0,022
𝐵𝑥 = −𝜌(𝑣1 2 𝐴1 + 𝑣2 2 𝐴2 ) − 𝑝1 𝐴1 − 𝑝2 𝐴2
𝐵𝑥 = 41,9 N
Para manter o tubo fixo é necessária uma força de ~111 N (11,3 kgf ).
Note-se que se usaram os valores das pressões relativas à pressão atmosférica, pois quer saber-se a força para manter o
tubo fixo, o qual está sujeito à pressão atmosférica.
∆𝐸 = 𝑞 − 𝑊
68
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
em que 𝐸 é a energia total por unidade de massa do fluido, 𝑞 é o calor absorvido por unidade de
massa do fluido e 𝑊o trabalho realizado, por unidade de massa do fluido, sobre a vizinhança 3.
Todos estes termos têm dimensões de energia/massa, i.e., J/kg no sistema internacional.
A equação de balanço de energia a um volume de controlo macroscópico faz uso deste
princípio e pode ser expressa como:
Por seu lado, a energia contida no sistema surge em três formas (expressa como energia/massa):
Energia potencial ou gravítica, devida à presença do fluido num campo gravitacional.
É dada por 𝑔𝑧, sendo 𝑧 a altura relativamente ao centro da Terra ou, de uma forma mais
simples, relativamente ao um referencial. A posição do referencial não é relevante porque
vamos trabalhar com diferenças.
Energia cinética, dada por 𝑣 2 ⁄2, é a energia devida à existência de movimento
(translacional ou rotacional), sendo v a velocidade em relação às fronteiras do sistema.
Energia interna, U: relacionada com a energia rotacional e vibracional nas ligações
químicas, i.e., com o estado térmico do fluido.
A energia total é então dada por
𝑣2
𝐸=𝑈+ + 𝑔𝑧 Eq. (4.18)
2
A entrada e saída de energia com o escoamento (transporte convectivo) pode ser expressa por:
𝑣2
∬ 𝐸𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = ∬ (𝑈 + + 𝑔𝑧) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) 𝑑𝐴
2 Eq. (4.19)
𝐴 𝐴
em que se multiplicou a resultante dos caudais de massa através da superfície pela energia
específica do fluido. As dimensões são de energia/tempo, i.e., potência (J s−1 = Watt no SI).
3
Em Mecânica dos Fluidos em geral e neste livro em particular, o trabalho é positivo se for realizado pelo
sistema sobre a vizinhança, pelo que tem sinal oposto ao considerado na Termodinâmica.
69
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜕 𝑣2
= ∭ (𝑈 + + 𝑔𝑧) 𝜌 𝑑𝑉
𝜕𝑡 2
𝑉
O balanço à energia para o volume de controlo pode então ser escrito na forma:
𝜕
𝑞̇ − 𝑊̇ = ∬ 𝐸𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝐸𝜌 𝑑𝑉
𝜕𝑡 Eq. (4.21)
𝐴 𝑉
em que 𝑞̇ é o calor fornecido por unidade de tempo e 𝑊̇ o trabalho realizado por unidade de
tempo, i.e., a potência (𝑊̇ > 0 se o fluido realizar trabalho).
O trabalho realizado pelo fluido sobre a vizinhança está associado à existência de forças que
atuam sobre o fluido e ao trabalho transformado noutras formas de energia. Assim, temos:
Forças de pressão nas fronteiras na superfície de controlo: o trabalho corresponde ao
produto entre a força e o deslocamento. Se, em vez do deslocamento, usarmos a
velocidade, teremos o trabalho por unidade de tempo. Integrando para toda a superfície,
teremos o trabalho total por unidade de tempo, realizado pelo volume de controlo para
vencer a pressão nas fronteiras:
∬ 𝑝(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴
Eq. (4.22)
𝐴
Atrito: A força de atrito nas fronteiras do sistema é uma força de corte que contraria a
diferença de velocidades, ou seja, que se opõe ao movimento e portanto à deformação
do fluido. Este trabalho, que consiste numa perda e que está ligado à viscosidade, será
representado por 𝑊̇𝜇 .
Trabalho de veio: consiste no trabalho realizado ao pôr uma pá em movimento, uma
turbina, por exemplo (em inglês, “shaft work”): 𝑊̇𝑠 .
𝑝 𝜕
𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 = ∬ (𝐸 + ) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝐸𝜌 𝑑𝑉 + 𝑊̇𝜇
𝜌 𝜕𝑡 Eq. (4.24)
𝐴 𝑉
70
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 4.7
Apliquemos os balanços de massa e de energia a um volume de controlo em estado estacionário, sem atrito e
consideremos que o sistema tem apenas uma entrada e uma saída. Admitamos também que, tal como acontece na
grande maioria dos casos, a velocidade nas secções “1” e “2” é normal à superfície de controlo. Finalmente,
admitamos que a velocidade é uniforme na entrada e uniforme na saída.
Resolução:
Admitindo que a velocidade é uniforme na secção “1” e também na secção “2”, e em estado estacionário, o balanço à
massa fica na forma da Eq. (4.6). Nas superfícies laterais, junto às quais colocámos a superfície de controlo, não há
escoamento. Por outro lado, em 2, 𝜃 = 0 ⇒ cos 𝜃 = +1, e (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) = 𝑣2.
Em “1”, 𝜃 = 180° ⇒ cos 𝜃 = +1 e portanto (𝑣⃗ ∙ 𝑛
⃗⃗) = −𝑣1
𝜌2 𝑣2 𝐴2 = 𝜌1 𝑣1 𝐴1 = 𝑚̇
Dado que 𝜌𝑣 = 𝐺 (massa/área∙tempo) então 𝜌𝑣𝐴 é um caudal mássico. Assim, a equação de balanço da massa traduz
a igualdade dos caudais mássicos na entrada e na saída do volume de controlo.
Fazendo o balanço à energia, vemos que não há acumulação nem perdas de energia devido ao atrito, pelo que a equação
Eq. (4.24) se simplifica:
𝑝
𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 = ∬ (𝐸 + ) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴
𝜌
𝐴
sendo:
𝑝 𝑣2 𝑝
𝐸+ = 𝑈 + + 𝑔𝑧 +
𝜌 2 𝜌
𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 𝑣2 2 𝑝2 𝑣1 2 𝑝1
= (𝑈2 + + 𝑔𝑧2 + ) − (𝑈1 + + 𝑔𝑧1 + ) Eq. (4.25)
𝑚̇ 2 𝜌2 2 𝜌1
Note-se que a energia interna mais o termo da pressão podem ser substituídos pela entalpia, H.
𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 𝑣2 2 𝑣1 2
= (𝐻2 + + 𝑔𝑧2 ) − (𝐻1 + + 𝑔𝑧1 ) Eq. (4.26)
𝑚̇ 2 2
71
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Cada uma destas parcelas tem dimensões de energia/massa. Para um fluido incompressível, se
dividirmos por 𝑔, obtemos uma equação em que cada um dos termos tem dimensões de
comprimento, e que se designa equação de Bernoulli:
𝑝1 𝑣1 2 𝑝2 𝑣2 2
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (4.28)
Esta equação é um caso particular da equação de balanço à energia. Cada uma destas parcelas
𝑝 𝑣2
designa-se por carga, respetivamente a carga de pressão (𝜌𝑔 ), a carga de velocidade (2𝑔 ) e a
carga potencial (𝑧). A utilização das parcelas de carga é mais intuitiva porque traduz parcelas que
se podem medir experimentalmente. Assim, a carga de pressão é a altura manométrica num ponto
do fluido (vimos isto no Capítulo 2), ao passo que a carga potencial z é um nível num referencial
qualquer. A liberdade na escolha do referencial resulta do facto de a equação traduzir variações
de cada uma das parcelas:
𝑝1 − 𝑝2 𝑣1 2 −𝑣2 2
+ + 𝑧1 −𝑧2 = 0
𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (4.29)
Ou seja, também na carga de pressão se pode trabalhar com pressão relativa ou pressão absoluta,
porque a diferença se mantém.
Algumas consequências desta equação são interessantes e nem sempre intuitivas. Consideremos
o escoamento de um líquido numa tubagem em que há uma redução de secção - Figura 4.2(a). Os
pontos A e B encontram-se a montante e a jusante do redutor de secção. Pela conservação da
massa, já sabemos que 𝑣B > 𝑣A . Como os dois pontos estão ao mesmo nível (𝑧B = 𝑧A ), resulta
72
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
que o aumento da velocidade vai provocar uma diminuição da pressão, i.e. 𝑝B < 𝑝A. Já no caso
da Figura 4.2(b), o aumento do diâmetro provoca uma diminuição da velocidade e
consequentemente um aumento da pressão (o que se verifica pelo nível do menisco).
(a) (b)
A equação de conservação da energia ajuda a explicar a sustentação dos aviões. A asa de um avião
é curva na parte superior e mais plana na superfície inferior. Isso faz com que o ar, ao percorrer a
parte superior da asa, ganha velocidade, pois tem um maior caminho a percorrer - Figura 4.4. O
ar inferior vai por isso ter uma pressão maior do que o ar superior, o que resulta na força de
sustentação da asa.
73
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Figura 4.4 Escoamento em torno da asa de um avião; variações da velocidade (a) e da pressão (b).
Daniel Bernoulli
(Groningen, 1700 - Basileia, 1782)
Matemático holandês, membro de uma família de
talentosos matemáticos, físicos e filósofos. É recordado
por suas aplicações da Matemática à Mecânica,
especialmente a Mecânica dos Fluidos, e ainda por
trabalho pioneiro em Probabilidades e Estatística.
Exemplo 4.8
Uma mangueira de incêndio com 10,0 cm de diâmetro e com um bocal de 2,5 cm descarrega 15 L/s de
água para a atmosfera (ver figura). Admitindo que o escoamento se processa com conservação de energia
e que a velocidade é uniforme em cada secção do tubo (perfil de velocidade plano), determine:
a) a pressão na secção 1;
b) a força exercida pelos parafusos das flanges para manter fixo o bocal na mangueira.
Resolução:
a) As velocidades médias são determinadas a partir do caudal volumétrico:
74
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑄 0,015
〈𝑣1 〉 = = = 1,91 m s−1
𝐴1 𝜋 × 0,052
𝑄 0,015
〈𝑣2 〉 = = = 30,5 m s−1
𝐴2 𝜋 × 0,01252
Como o fluido é incompressível, aplica-se a equação de Bernoulli, com perfil de velocidades plano 〈𝑣〉 = 𝑣 e 𝛼 =
1; note-se que z1 = z2 e p2 = patm :
〈𝑣2 〉2 − 〈𝑣1 〉2
𝑝1,rel = 𝜌
2
30,52 − 1,912
𝑝1,rel = 1000 × = 4,64 × 105 Pa
2
Visto pretender-se a força para manter fixo o bocal da mangueira (e não a força exercida do fluido sobre o bocal), deve
usar-se pressões relativas e não absolutas, pois a força de pressão atmosférica tem resultante nula na direcção x.
𝐵𝑥 = 𝜌(−𝑣12 𝐴1 + 𝑣22 𝐴2 ) − 𝑝1 𝐴1 + 𝑝2 𝐴2
Cada parafuso tem de suportar uma força de 164 kgf (=328/2) no sentido negativo de x.
Exemplo 4.9
Resolução:
Aplicamos a equação de Bernoulli entre a superfície do fluido (ponto 1) e a entrada da bomba (ponto 2), onde se sabe
a pressão. A equação representa diferenças de carga entre os pontos de partida e de chegada, 1 e 2. O ponto 1 está na
superfície da água, o que significa que a área livre para o escoamento é muito maior do que a área da secção no tubo.
Daí resulta que 𝑣1 ≪ 𝑣2 pelo que o termo da carga da velocidade em 1 é desprezável.
𝑣2 2 𝑝1 − 𝑝2
= + 𝑧1 − 𝑧2
2𝑔 𝜌𝑔
75
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑝1 − 𝑝2
𝑣2 = √2𝑔 ( + 𝑧1 − 𝑧2 )
𝜌𝑔
Substituindo valores:
101325 − 0,87 × 105
𝑣2 = √2 × 9,8 × ( + 2,0 − 3,0) = 3,0 ms−1
1000 × 9,81
𝐷2 0,102
𝑄 = 〈𝑣2 〉 × 𝜋 = 3,0 × 𝜋 = 0,024 m3 s−1
4 4
Exemplo 4.10
Água escoa em estado estacionário por um tubo ascendente, sendo depois deflectida a 90° e saindo com
velocidade radial uniforme no plano horizontal. Considere que que o tubo ascendente tem comprimento 1,5 m e
diâmetro de 20,0 cm; o difusor tem um raio de 30,0 cm, tendo a abertura lateral um diâmetro de 12,5 mm.
Se o atrito for desprezado, qual a pressão relativa na entrada do tubo, para um caudal de 300 L s-1?
Resolução:
Aplicamos a equação de Bernoulli entre a secção de entrada no tubo (ponto 1), à pressão desconhecida, e a saída radial,
à pressão atmosférica (ponto 2).
Pela equação da continuidade, em estado estacionário, tem-se, para fluido incompressível, que a velocidade média se
mantém ao longo do escoamento.
𝑄 0,30
〈𝑣1 〉 = = = 9,5 m s−1
𝐴1 𝜋 × 0,102
0,0125
Como p2 é a pressão atmosférica, vem: 𝑧2 − 𝑧1 = 1,5 + 2
= 1,506
12,72 − 9,52
𝑝1 − 𝑝𝑎𝑡𝑚 = 1000 × + 1000 × 9,81 × 1,5 = 5,0 × 104 Pa
2
76
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 4.11
O tanque da figura contém óleo à pressão atmosférica, inicialmente com um nível ℎ = 1,50 m. O óleo está
a escoar-se através de um tubo de 50 mm de diâmetro. Quanto tempo levará para baixar de 60 cm a
superfície de óleo no tanque, se o diâmetro do tanque for 2,00 m? A massa específica do óleo é de 750
kg/m3.
Resolução:
Para tempos curtos, podemos considerar que o tanque descarrega à taxa que corresponderia ao estado estacionário, ou
seja, vamos determinar a velocidade na descarga admitindo estado pseudo-estacionário. Aplicamos a equação de
Bernoulli entre a superfície do óleo (ponto 1) e a saída do tubo (ponto 2). Ambos os pontos estão à pressão atmosférica,
pelo que os termos da carga de pressão se anulam. Além disso, no ponto 1 a secção livre para o escoamento é muito
maior do que em 2, pelo que 𝑣1 ≪ 𝑣2. Como resultado, o termo de energia cinética é desprezável dentro do tanque, e
a equação fica simplificada:
𝑣22
=ℎ
2𝑔
𝑣2 = √2𝑔ℎ
À medida que o tanque descarrega, a velocidade na descarga também decresce. Assim, fazemos um balanço à massa
em estado transitório:
𝑑𝑀
0 − 𝜌𝑣2 𝐴2 = (em que 𝑀 representa a massa contida no tanque)
𝑑𝑡
𝑑𝑀 𝑑𝑉
=𝜌 (em que 𝑉 ≡ volume contido no tanque)
𝑑𝑡 𝑑𝑡
O volume é dado pela geometria do cilindro, 𝑉 = 𝐴𝑏𝑎𝑠𝑒 × ℎ, pelo que o termo de acumulação passa a ser:
𝑑𝑉 𝑑ℎ
= 𝐴base
𝑑𝑡 𝑑𝑡
77
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑑ℎ
−𝑣2 𝐴2 = 𝐴base
𝑑𝑡
Esta é uma equação de variação da altura. Para conhecermos a lei de distribuição, ℎ(𝑡), precisamos de resolver a
equação diferencial. Trata-se de uma equação diferencial do tipo separável; substituindo a velocidade de descarga e
integrando, fica:
𝑡 ℎ𝑓
𝐴base 1 𝑑ℎ
∫ 𝑑𝑡 = − ∫
𝐴2 √2𝑔 √ℎ
0 ℎ𝑖
𝐷 22 ℎ𝑖
𝑡 = ( ) [√ℎ]ℎ
𝑑 𝑔 𝑓
2 2 2 1,5
Substituindo valores: 𝑡=( ) √ [√ℎ]0,9
0,05 9,81
E o resultado é:
𝑡 = 200 s
Quando se usa a equação aplicada não a uma linha de corrente mas sim a um volume de controlo,
interessa trabalhar com a média geométrica das variáveis nas secções de entrada e de saída. Para
escoamento isotérmico e incompressível, o termo convectivo de transporte de energia é dado por:
𝑝 𝑣2 𝑝 𝑣2
∬ ( + 𝑧𝑔 + ) 𝜌𝑣 𝑑𝐴 − ∬ ( + 𝑧𝑔 + ) 𝜌𝑣 𝑑𝐴
𝜌 2 𝜌 2 Eq. (4.30)
𝐴2 𝐴1
Já a energia cinética varia muito ao longo da secção, já que é praticamente nula junto à parede e
atinge valores elevados no centro. Assim, temos:
transporte de 𝑣2
( ) = ∬ ( ) 𝜌𝑣 𝑑𝐴
energia cinética 2 Eq. (4.32)
𝐴
78
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜌 𝜌〈 𝑣 〉 𝐴 𝑚̇
∬ 𝑣 3 𝑑𝐴 = ∬ 𝑣 3 𝑑𝐴 = ∬ 𝑣 3 𝑑𝐴
2 2〈𝑣 〉𝐴 2〈𝑣〉𝐴 Eq. (4.33)
𝐴 𝐴 𝐴
Como a média do cubo não é prática de usar, introduzimos um coeficiente que traduz a razão
entre o cubo da média e a média geométrica do cubo da velocidade:
〈𝑣〉3
𝛼=
〈𝑣 3 〉 Eq. (4.34)
Para velocidade constante na secção (perfil de velocidades plano), será 𝛼 = 1. Para perfil de
velocidades parabólico, será 𝛼 = 0,5. Para outras situações os valores são intermédios.
Dividindo a equação pela aceleração da gravidade, cada parcela passa a traduzir energia por
unidade de peso do fluido e a forma da equação é a da equação de Bernoulli, introduzindo-se
apenas o fator corretivo na energia cinética:
𝑝1 〈𝑣1 〉2 𝑝2 〈𝑣2 〉2
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2
𝜌𝑔 2𝑔𝛼1 𝜌𝑔 2𝑔𝛼2 Eq. (4.36)
79
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
designadamente a perda de energia devida às forças de corte nas paredes (atrito) e o trabalho de
veio.
Em contraste com os líquidos, em geral os gases escoam com velocidades elevadas, mesmo
quando as diferenças de pressão são pequenas. Ainda assim, para diferenças de pressão muito
pequenas, o escoamento de gases pode ser tratado em primeira aproximação admitindo
conservação da energia, ou seja, utilizando a equação de Bernoulli.
Consideremos um gás saindo de um reservatório onde se encontra à pressão 𝑝1 através uma
abertura, até ao exterior onde se verifica apressão atmosférica. Se aplicarmos a equação de
Bernoulli, e desprezando a variação de energia potencial por se tratar de um gás, fica:
2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑣2 = √
𝜌𝑔
Eq. (4.38)
Claro que a densidade não é constante, pelo que habitualmente usa-se a densidade média entre os
pontos,
𝜌̅ = 0,5 × (𝜌1 + 𝜌2 )
Eq. (4.39)
Desta forma, obtém-se
4 (𝑝1 − 𝑝𝑎𝑡𝑚 )
𝑣2 = √
(𝜌1 + 𝜌2 )
Eq. (4.40)
Esta aproximação introduz um erro pequeno para baixas diferenças de pressão (como seja
condutas de ar condicionado) e distâncias curtas, embora exclua tudo o que envolve variações
importantes e súbitas de pressão (tais como compressores, injetores e embocaduras). O
escoamento compressível com perda de carga será tratado no Capítulo 8.
80
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 4.1 Considere o canal da figura, em que água escoa em
estado estacionário, entrando no canal com velocidade de 3 m/s.
As secções de entrada e saída são quadradas e têm de lado 14 cm
e 6 cm, respectivamente. A abertura na saída tem forma um
angulo de 𝜃 de 30° com a vertical. Nestas condições, qual a
velocidade média na saída e o caudal volumétrico?
P 4.2 Um objecto é colocado num túnel de água de secção transversal quadrada, com 1,00 m de lado, dentro
do qual é colocado um objecto que atravessa o canal na direcção transversal. A velocidade na entrada é uniforme,
com o valor de 6 m s-1. A distribuição de velocidade na saída é simétrica em torno do plano bissector horizontal, sendo
ℎ = 50 cm e 𝑙 = 100 cm .
a) Considerando os perfis de velocidade para a entrada e a saída apresentados na figura, calcule 𝑣2.
b) Se a força exercida pelo objecto for de 5 kN, qual será a diferença de pressão entre a entrada e a saída do
túnel?
𝑟 2
P 4.3 Considere uma distribuição de velocidades do tipo parabólico, dada por 𝑣𝑧 = 𝑉 [1 − (𝑅 ) ], em que 𝑉 é uma
〈𝑣〉3
constante. Demonstre que nestas condições o parâmetro 𝛼 = 〈𝑣 3〉 toma o valor 0,5.
P 4.4 Um tanque contém inicialmente 1000 kg de salmoura com um teor de 10% em massa de sal. Uma corrente
de alimentação com 20% em massa de sal escoa para o tanque com um caudal de 20 kg/min. A concentração de sal
no tanque é mantida uniforme através da agitação. A salmoura é removida do tanque a 10 kg/min. Determine a
quantidade de sal no tanque em função do tempo e o tempo necessário para que a massa de sal no tanque seja de
200 kg.
81
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
P 4.5 Um jacto de água é introduzido num segundo curso de água por um tubo com 7 cm de diâmetro a uma
velocidade 𝑣𝑗 = 27,0 m/s , de acordo com a figura. O tubo por onde circulam a segunda corrente mais o jacto de água
tem uma secção reta uniforme com um diâmetro de 28 cm. A velocidade da água na corrente secundária, antes de
contactar com a corrente de injecção é de 3,0 m/s. Considerando que na secção 2 a corrente de injecção e a corrente
secundária estão perfeitamente misturadas e que o escoamento é unidireccional e invíscido calcule:
a) a velocidade média na secção 2.
b) o aumento de pressão entre as secções 1 e 2.
P 4.8 Glicerina escoa ao longo de uma conduta circular, colocada na horizontal, com um perfil de velocidades
dado por 𝑣 = 2 × (1 − 400𝑟 2 ) (grandezas em unidades SI).
Qual será a velocidade média da glicerina no tubo de entrada?
Se a pressão (absoluta) for de 1500 kPa na entrada e de 1100 kPa na saída, qual a força exercida pelo líquido no
tubo? Admita que na saída o perfil de velocidades é plano.
Dados: propriedades da glicerina, 𝜌 = 1260 kg m−3; 𝜇 = 1,5 Pa ∙ s
82
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
P 4.9 Um jacto de água de 6 cm de diâmetro a 20°C e escoando com velocidade uniforme de 25 m s -1 atinge
uma placa com um orifício de 4 cm de diâmetro. Parte do jacto atravessa o orifício e mantém a velocidade, enquanto
a outra parte é deflectida. Determine a força que é necessário exercer para manter a placa imóvel.
P 4.12 O tubo da figura (designado por tubo de Venturi) tem um diâmetro à entrada de 0,6 m e é projectado
para lidar com 6,0 m3/s de ar. Qual deverá ser o diâmetro do estrangulamento para que um manómetro diferencial
ligado à entrada e ao estrangulamento indique uma diferença de carga equivalente a 10 cm de álcool?
83
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
84
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
As situações que nos rodeiam estão repletas de exemplos destes dois tipos de escoamento.
Imaginemos uma garrafa de azeite que se vaza lentamente, gotas de chuva que deslizam ao longo
de uma parede ou ainda água a escoar ao longo de um canal, com baixa velocidade. Em todas
estas situações o escoamento dá-se suavemente, quase sem alterações da superfície do fluido.
Estas são situações de escoamento laminar.
O critério para determinar qual o tipo de escoamento em cada caso é dado por uma relação
adimensional entre aquelas variáveis, e que é conhecida como número de Reynolds (Re):
85
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑣𝜌𝐷
Re =
𝜇 Eq. (5.1)
O número de Reynolds traduz uma razão de forças, entre as forças de inércia e as forças viscosas.
Quando predominam as forças de inércia, o fluido tem muita energia cinética e o escoamento
torna-se turbulento. Em contrapartida, quando predominam as forças viscosas o escoamento é
laminar.
(a) (b)
Figura 5.1. Experiência de Reynolds (a). Escoamento laminar e escoamento turbulento (b). (O. Reynolds
1883).
Para um tubo reto de secção circular, se Re < 2100, o escoamento será laminar estável. Para Re >
4000 o escoamento será turbulento estável. Nas situações intermédias, o escoamento pode ser
laminar mas terá tendência para alguma instabilidade.
Adaptações do número de Reynolds têm sido feitas a outras geometrias e sistemas, sendo 𝑣 e
𝐷 substituídos respectivamente por uma velocidade característica e um comprimento
característico do sistema em causa.
86
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Osborne Reynolds
(Belfast, 1842 — Watchet, 1912)
Foi um físico britânico, que se dedicou ao estudo da
hidrodinâmica. Em 1866, tornou-se o primeiro
catedrático na área da Engenharia em Manchester, e o
segundo da Inglaterra.
87
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑣𝑥 não depende de x. Finalmente, não existe qualquer força aplicada segundo a direção y, pelo
que a velocidade só vai variar com a direção z. Ou seja, a velocidade só depende de z: 𝑣𝑥 (𝑧).
Esta avaliação qualitativa do campo de velocidades é essencial para o estabelecimento dos
balanços. Dado que a velocidade só varia segundo z, então escolheremos para os nossos balanços
um volume diferencial com uma pequena espessura ∆𝑧.
Figura 5.2. Volume de controlo para o balanço microscópico à quantidade de movimento em escoamento
de Couette.
𝑝𝑊∆𝑧|𝑥=0 − 𝑝𝑊∆𝑧|𝑥=𝐿
Transporte convectivo:
Transporte molecular:
𝜏𝑧𝑥 𝐿𝑊 |𝑧+Δ𝑧 − 𝜏𝑧𝑥 𝐿𝑊 |𝑧
O balanço à quantidade de movimento (qdm) para o elemento de volume por unidade de tempo
será então:
88
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Para a situação física em causa, não há variações de pressão ao longo de x, pelo que
𝑝|𝑥=0 = 𝑝|𝑥=𝐿 . .
Por outro lado, o fluido é incompressível e a distância entre as placas é constante, o que resulta
em que 𝑣𝑥 |𝑥=𝐿 = 𝑣𝑥 |𝑥=0 , e portanto as duas primeiras parcelas do segundo membro cancelam-
se. Ficamos então com o balanço reduzido a:
𝜕𝜏𝑧𝑥
= 0 ⟺ 𝜏𝑧𝑥 = 𝐶1
𝜕𝑧 Eq. (5.4)
𝑑𝑣𝑥
−𝜇 = 𝐶1
𝑑𝑧
Integrando:
𝐶1 𝐶1
∫ 𝑑𝑣𝑥 = − ∫ 𝑑𝑧 ⇔ 𝑣𝑥 = − 𝑧 + 𝐶2
𝜇 𝜇 Eq. (5.5)
Teremos então duas variáveis de integração. Para as determinarmos, vamos usar duas condições
de fronteira.
1ª Condição de fronteira: para 𝑧 = 0, 𝑣𝑥 = 0 (condição de não-escorregamento)
2ª Condição de fronteira: para 𝑧 = 𝑍, 𝑣𝑥 = 𝑉.
Substituindo na Eq. (5.5), fica:
𝐶1
0=− × 0 + 𝐶2 ⇒ 𝐶2 = 0
𝜇
89
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝐶1 𝜇𝑉
𝑉=− × 𝑍 + 𝐶2 ⟹ 𝐶1 = −
𝜇 𝑍
𝑧
𝑣𝑥 = 𝑉
𝑍 Eq. (5.6)
𝜇𝑉
𝜏𝑧𝑥 = −
𝑍 Eq. (5.7)
O fluxo de quantidade de movimento é portanto constante e negativo, o que significa que ocorre
no sentido decrescente de z (para baixo). Os perfis de 𝜏 e da velocidade 𝑣𝑥 estão representados na
Figura 5.3.
Figura 5.3. Perfis do fluxo de quantidade de movimento e da velocidade segundo x, para escoamento de
Couette.
90
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
O elemento de volume vai ter também simetria cilíndrica, sendo uma coroa cilíndrica com
espessura ∆𝑟 e ∆𝑥. O balanço à quantidade de movimento será:
É claro que nos termos de entrada e saída de quantidade de movimento temos de considerar o
transporte molecular e o transporte convectivo.
Tratemos então de exprimir cada uma destas parcelas. Começando pela pressão, para a direção 𝑥,
a força de pressão vai fazer-se sentir nas coroas circulares, na secção de entrada e na secção de
saída do elemento de volume. A área dessa coroa é:
𝐴 = 𝜋(𝑟 + ∆𝑟)2 − 𝜋𝑟 2
= 𝜋[𝑟 2 + 2𝑟∆𝑟 + (∆𝑟)2 − 𝑟 2 ]
𝐴 ≈ 2𝜋𝑟∆𝑟
91
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Desprezamos o termo (∆𝑟)2 porque corresponde a um infinitésimo de segunda ordem para uma
espessura infinitesimal, e por isso é desprezável face às outras parcelas.
Assim, teremos a força de pressão: (𝑝2𝜋𝑟∆𝑟)|𝑥 − (𝑝2𝜋𝑟∆𝑟)|𝑥+∆𝑥
O transporte convectivo de quantidade de movimento:
𝑑(𝑟𝜏𝑟𝑥 ) −∆𝑝
=𝑟
𝑑𝑟 ∆𝑥 Eq. (5.10)
−∆𝑝 −∆𝑝
Em escoamento desenvolvido, ∆𝑥
é constante e pode ser escrito como 𝐿
, i.e., a perda de pressão
92
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Passemos agora à distribuição da velocidade. Para um fluido Newtoniano, é válida e lei de Newton
da viscosidade. Igualando a lei de Newton da viscosidade à Eq. (5.12), fica:
−∆𝑝 𝑟 𝑑𝑣𝑥
( ) = −𝜇
𝐿 2 𝑑𝑟
Separando variáveis e integrando
−∆𝑝
∫ 𝑟 𝑑𝑟 = −𝜇 ∫ 𝑑𝑣𝑥
2𝐿
∆𝑝 𝑟 2
𝑣𝑥 = + 𝐶2
2𝜇𝐿 2 Eq. (5.13)
Para esta segunda constante de integração, vamos considerar a outra fronteira do sistema, a parede
do tubo. A força de corte é máxima nesse ponto e por isso admitimos que o fluido não se desloca
relativamente à superfície (condição de não-escorregamento).
2ª condição de fronteira: 𝑟 = 𝑅 ⇒ 𝑣𝑥 = 0
∆𝑝 𝑟 2 −∆𝑝 2
0= + 𝐶2 ⇒ 𝐶2 = 𝑅
2𝜇𝐿 2 4𝜇𝐿
−∆𝑝 2 𝑟 2
𝑣𝑥 = 𝑅 [1 − ( ) ]
4𝜇𝐿 𝑅 Eq. (5.14)
A velocidade é portanto descrita por uma parábola, sendo máxima no eixo - Figura 5.5. O fluxo
de quantidade de movimento é máximo na parede e zero no eixo. O caudal volumétrico é dado
por integração da velocidade na secção reta.
2𝜋 𝑅 2𝜋 𝑅
−∆𝑝 2 𝑟 2
𝑄 = ∫ ∫ 𝑣𝑥 𝑟𝑑𝑟𝑑𝜃 = ∫ ∫ 𝑅 [1 − ( ) ] 𝑟𝑑𝑟𝑑𝜃 =
4𝜇𝐿 𝑅
0 0 0 0
93
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑅 𝑅
−∆𝑝 𝑟3 −∆𝑝 2 𝑟2 𝑟4
= 2𝜋𝑅2 ∫ [𝑟 − 2 ] 𝑑𝑟 = 𝜋𝑅 [ − 2 ]
4𝜇𝐿 𝑅 2𝜇𝐿 2 4𝑅 0
0
−∆𝑝 2 𝑅2 𝑅2
𝑄= 𝜋𝑅 ( − )
2𝜇𝐿 2 4 Eq. (5.15)
Figura 5.5. Perfis de velocidade e de fluxo de quantidade de movimento para escoamento de fluidos
Newtonianos e incompressíveis em condutas.
Esta perda de pressão resulta exclusivamente do atrito parietal, e por isso vamos identificá-lo com
o índice f (de fricção), ou seja, (−∆𝑝)𝑓 .
(−∆𝑝)𝑓 𝜋𝑅4
𝑄=
8𝜇𝐿 Eq. (5.16)
Há portanto uma proporcionalidade direta entre caudal e perda de pressão por atrito.
A velocidade média na secção, 〈𝑣𝑥 〉, será:
2𝜋 𝑅
∫0 ∫0 𝑣𝑥 𝑟𝑑𝑟𝑑𝜃 𝑄
〈𝑣𝑥 〉 = =
𝜋𝑅2 𝜋𝑅2
Como só há velocidade segundo x, podemos simplificar a notação para 〈𝑣〉.
(−∆𝑝)𝑓 2
〈𝑣 〉 = 𝑅
8𝜇𝐿 Eq. (5.17)
94
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
As equações Eq. (5.16) e Eq. (5.17) são duas formas da equação de Hagen-Poiseuille, que
relaciona a velocidade média de escoamento (ou o caudal) com a perda de pressão devida ao
atrito, para escoamento viscoso de fluidos Newtonianos em tubos de secção circular.
A velocidade máxima no tubo é dada por:
(−∆𝑝)𝑓 2
𝑣max = 𝑅
4𝜇𝐿 Eq. (5.18)
Condições de fronteira
- nas interfaces líquido-gás, do lado da fase líquida o fluxo de quantidade de movimento é nulo.
- nas interfaces líquido-líquido, a velocidade é igual dos dois lados.
- nas interfaces fluido-sólido: condição de não-escorregamento.
- em qualquer ponto do sistema, a velocidade tem de ser contínua.
É essencial saber em cada caso não só o significado físico da condição mas também a sua
formulação matemática.
95
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Jean-Louis-Marie Poiseuille
(Paris, 1797 — Paris, 1869)
Exemplo 5.1
Um tubo cilíndrico e horizontal contém asfalto, cuja viscosidade e densidade são 10,0 Pa∙s e 1120 kg m -3,
respectivamente. O tubo tem 2,54 cm de raio. Para efeitos do problema, vai admitir-se que o comportamento do
asfalto é Newtoniano (apesar de ser uma aproximação). Se aplicarmos 21 kPa m-1 de gradiente de pressão, qual será
o caudal mássico esperado?
Resolução:
Não conhecemos a velocidade e por isso não é possível calcular o número de Reynolds. No entanto, a elevada
viscosidade e o raio relativamente pequeno sugerem que se trate de escoamento laminar. Vamos então admitir este
pressuposto, que terá de ser verificado no final dos cálculos.
Em escoamento laminar e isotérmico de um líquido Newtoniano numa conduta cilíndrica, é válida a equação
(−∆𝑝)𝑓
de Hagen-Poiseuille (Eq. (5.16)), em que 𝐿
é o gradiente de pressão.
96
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 5.2
𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 𝑦 1 𝑦 2
𝑣𝑥 = [ − ( ) ]
𝜇 𝐿 2 𝐿
Admitindo que a placa faz um ângulo de 45° com a horizontal, que o filme de líquido tem 2 mm de espessura e
que o líquido tem 1070 mPa∙s de viscosidade e 900 kg m-3 de densidade, determine a velocidade média da corrente
e a relação entre as velocidades média e máxima.
Resolução:
Neste caso o escoamento resulta da acção da força gravítica e há equilíbrio de forças, ou seja, o líquido escoa
com velocidade uniforme ao longo da parede.
∬ 𝑣𝑥 𝑑𝐴
A velocidade média é dada por: 〈𝑣〉 = 𝑑𝐴
.
A integração na área vai ser em 𝑦 e em z, visto o escoamento ser segundo x (coordenadas cartesianas).
𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 𝐿 𝑦 1 𝑦 2
𝑊 𝐿 𝑊 ∫0 [𝐿 − 2 (𝐿 ) ] 𝑑𝑦
∬ 𝑣𝑥 𝑑𝐴 ∫0 ∫0 𝑣𝑥 𝑑𝑦𝑑𝑧 𝜇
〈𝑣〉 = = 𝑊 𝐿 =
𝑑𝐴 ∫0 ∫0 𝑑𝑦𝑑𝑧 𝑊𝐿
Nota: utilizou-se o sistema de unidades CGS; o valor calculado para 〈𝑣〉 e a viscosidade do fluido são indicadores
de um escoamento laminar, o que é expectável neste sistema (baixas velocidades).
𝑑𝑣𝑥
A velocidade é máxima onde a sua derivada se anula, i.e., 𝑑𝑦
=0
97
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃
𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 〈𝑣〉 3𝜇 2
𝑣𝑥,max = ⇒ = =
2𝜇 𝑣𝑥,max 𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 3
2𝜇
Exemplo 5.3
Um plástico de Bingham escoa num tubo cilíndrico horizontal, devido a um gradiente de pressão. Se a perda de
pressão ao longo do tubo for de 900 Pa m-1 e a tensão de cedência for 4,5 Pa, qual o diâmetro mínimo de tubo para
que haja escoamento e qual o perfil de velocidades em escoamento laminar?
Resolução:
Recordemos que um plástico de Bingham tem um comportamento do tipo corpo rígido (viscosidade )
abaixo da sua tensão de cedência ( 0) e segue uma deformação linear com a tensão de corte acima de 0. De acordo
com a lei de Bingham:
𝑑𝑣𝑧
𝜏 < 𝜏0 ⇒ 𝛾̇ = 0 (fluido não deforma), 𝜏 > 𝜏0 ⇒ 𝜏𝑟𝑧 = −𝑘𝐵 + 𝜏0
𝑑𝑟
Num tubo cilíndrico, sujeito a uma diferença de pressão entre a entrada ( 𝑝0 ) e a saída (𝑝𝐿 ), a tensão de corte é
dada pela Eq. (3.12).
Para haver escoamento, a tensão de corte tem de exceder a tensão de cedência 𝜏0 ; substituindo, então, a
tensão de corte por 𝜏0 , vem:
𝑟0 (𝑝0 −𝑝𝐿 ) 𝐿
𝜏0 = ⇒ 𝑟0 = 2𝜏0 (𝑟0 : coordenada radial para a qual 𝜏 = 𝜏0 )
2𝐿 𝑝0 −𝑝𝐿
Substituindo valores:
1
𝑟0 = 2 × 4,5 × = 0,010 m
900
𝑑𝑣𝑧 𝑟(𝑝0 − 𝑝𝐿 )
−𝑘𝐵 + 𝜏0 =
𝑑𝑟 2𝐿
𝑟 2 (𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝜏0 𝑟
𝑣𝑧 = − + + 𝐶2
4𝑘𝐵 𝐿 𝑘𝐵
98
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
CF2: 𝑟 = 𝑅, 𝑣𝑧 = 0
𝑅2 (𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝜏0 𝑅
𝐶2 = −
4𝑘𝐵 𝐿 𝑘𝐵
Substituindo C2 em vz:
𝑅2 (𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝑟 2 𝜏0 𝑅 𝑟
𝑣𝑧 = [1 − ( ) ] − (1 − ) para 𝑟0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑅 (𝜏 ≥ 𝜏0 )
4𝑘𝐵 𝐿 𝑅 𝑘𝐵 𝑅
Na zona central, i.e., para 0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑟0 a velocidade é uma constante, 𝑣0. Como a velocidade não pode ser
𝑟0 (𝑝0 −𝑝𝐿 )
descontínua, 𝑣0 pode ser obtido fazendo 𝑟 = 𝑟0 e 𝜏0 = , na expressão anterior:
2𝐿
(𝑝0 − 𝑝𝐿 )𝑅2 𝑟0 2
𝑣0 = (1 − ) para 0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑟0 (região do escoamento pistão, em inglês 𝑝𝑙𝑢𝑔 𝑓𝑙𝑜𝑤)
4𝑘𝐵 𝐿 𝑅
Nota: Caso se pretendesse determinar o caudal volumétrico, teria de se proceder ao cálculo do integral:
2𝜋 𝑅 (𝑝0 − 𝑝𝐿 )𝑅2 𝑟 2 𝜏0 𝑅 𝑟
𝑄 = 𝑣0 𝜋𝑟02 + ∫ ∫ { [1 − ( ) ] − (1 − )} 𝑟𝑑𝑟𝑑𝜃
0 𝑟0 4𝑘𝐵 𝐿 𝑅 𝑘𝐵 𝑅
Exemplo 5.4
Consideremos o comportamento reológico dos fluidos pseudoplásticos e dos fluidos dilatantes. Para estes
fluidos, vejamos qual o perfil de velocidades num tubo cilíndrico horizontal, em escoamento laminar sob um gradiente
de pressão. Vejamos ainda a expressão do caudal volumétrico.
Resolução:
𝑟(𝑝0−𝑝𝐿 )
A tensão de corte é dada pela expressão: 𝜏𝑟𝑧 = . Como os fluidos em questão seguem a lei da potência:
2𝐿
𝑑𝑣𝑧 𝑛
𝜏𝑟𝑧 = 𝑘𝛾̇ 𝑛 = 𝑘 (− )
𝑑𝑟
99
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑑𝑣𝑧 𝑛 𝑟(𝑝0 − 𝑝𝐿 )
𝑘 (− ) =
𝑑𝑟 2𝐿
1
𝑑𝑣𝑧 𝑟(𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝑛
− =[ ]
𝑑𝑟 2𝑘𝐿
CF2: 𝑟 = 𝑅, 𝑣𝑧 = 0 ⇨
1 1
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑛 R𝑛+1
0 = −( ) + 𝐶2
2𝑘𝐿 1
+1
𝑛
1 1 1
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑛 𝑅𝑛+1 𝑟 𝑛+1
𝑣𝑧 = ( ) [1 − ( ) ]
2𝑘𝐿 1 𝑅
+1
𝑛
1 1
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑛 𝜋𝑅𝑛+3
𝑄=( )
2𝑘𝐿 1
𝑛+3
100
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 5.1 O perfil de velocidades para o escoamento de água a 20 °C (ρ = 103 kg/m3; µ = 10-3 Pas) através de um
tubo com 2,5 mm de diâmetro é parabólico. Se a velocidade média for de 0,6 m/s, qual será a tensão de corte na
parede do tubo?
P 5.2 Considere um fluido Newtoniano (𝜌 = 1,2 g cm−3 , 𝜇 = 2 mPa ∙ s) escoando em estado estacionário num
canal retangular horizontal com 1 mm de altura, e 10 cm de largura e 80 cm de comprimento. Sabendo que o
escoamento é laminar e está desenvolvido, e que a diferença de pressão entre a entrada e a saída do canal é de 2
kPa, determine:
a) a expressão analítica do perfil de velocidades.
b) a tensão de corte nas paredes superior e inferior.
c) o caudal mássico do fluido.
P 5.3 Um modelo de viscosímetro para líquidos consiste num reservatório relativamente largo com um tubo
fino de saída. Na figura o líquido é um óleo. Determine a viscosidade cinemática do óleo sabendo que ele escoa com
caudal de 0,272 cm3/s e que o tubo tem diâmetro de 1,8 mm. Alturas: ℎ1 = 550 mm; ℎ2 = 80 mm.
P 5.4 Considere o sistema da figura, no qual um veio cilíndrico se desloca a uma velocidade v0. A barra e o tubo
dentro do qual se desloca a barra são cilíndricos. Calcule o perfil de velocidade do fluido lubrificante e o seu caudal
volumétrico, em estado estacionário, admitindo que o fluido é Newtoniano. Admita que a pressão é uniforme.
101
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
P 5.5 Água a 20 °C escoa através do tubo capilar da figura (D= 0,25 mm), em regime laminar e estado
estacionário. Determine o caudal volumétrico (em mL/h), sabendo que o fluido manométrico é CCl4 ( = 1594 kg m-
3) e que as restantes dimensões do sistema são: h = 7 cm e L=30 cm.
2
P 5.6 Um plástico de Bingham escoa numa conduta reta e horizontal, devido a um gradiente de pressão. Dados:
𝜏0 = 12 Pa; 𝑘𝐵 = 0,5 Pa∙s
a) Determine a expressão do perfil de velocidades.
b) Se o gradiente de pressão for de 1000 Pa/m, qual o diâmetro mínimo de tubo para que haja escoamento?
c) Se o tubo tiver 51,1 mm de raio, qual será o caudal volumétrico em estado estacionário?
P 5.7 Num tubo capilar com 0,2 mm de diâmetro e 2 m de comprimento circula sangue, com perda de carga de
100 mm Hg/metro de tubo. Para este fluido, a tensão de corte é determinada pela equação:
𝑑𝑣𝑧 𝑛−1 𝑑𝑣𝑧
𝜏𝑟𝑧 = −𝑚 | | ( )
𝑑𝑟 𝑑𝑟
P 5.8 Recorra a um balanço microscópico à quantidade de movimento para demostrar que num escoamento de
um fluido Newtoniano viscoso ao longo de um tubo (raio R) no sentido descendente, a distribuição de velocidades é
dada por :
−∆𝑝 𝑅2 𝑟 2
𝑣𝑧 = ( + 𝜌𝑔) [1 − ( ) ]
∆𝑧 4𝜇 𝑅
−∆𝑝
P 5.9 Demonstre que no P5.8, o termo ( + 𝜌𝑔) traduz a perda de pressão devida ao atrito.
∆𝑧
102
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Vejamos o significado físico das derivadas em ordem ao tempo. Para isso, consideremos um rio,
no qual existem peixes. Seja C a concentração de peixes no rio.
𝜕𝐶
Derivada parcial em ordem ao tempo,
𝜕𝑡
Representa a variação local da concentração medida por um observador que se mantém fixo no
espaço, por exemplo, parado na margem.
𝑑𝐶
Derivada total,
𝑑𝑡
𝑑𝐶 𝜕𝐶 𝑑𝐶 𝑑𝑥 𝑑𝐶 𝑑𝑦 𝑑𝐶 𝑑𝑧
= + + +
𝑑𝑡 𝜕𝑡 𝑑𝑥 𝑑𝑡 𝑑𝑦 𝑑𝑡 𝑑𝑧 𝑑𝑡 Eq. (6.1)
𝐷𝐶
Derivada material (ou substancial),
𝐷𝑡
𝐷𝐶 𝜕𝐶 𝑑𝐶 𝑑𝐶 𝑑𝐶
= + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧
𝐷𝑡 𝜕𝑡 𝑑𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑧 Eq. (6.2)
103
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Esta traduz a variação da concentração medida por um observador que se desloca com a corrente
(por exemplo, numa jangada). A velocidade v vx ex v y ey v z ez é portanto a velocidade da
corrente.
O operador derivada material pode ser expresso como
𝐷 𝜕 𝑑 𝑑 𝑑
= + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧
𝐷𝑡 𝜕𝑡 𝑑𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑧 Eq. (6.3)
Temos aqui o operador nabla , dado por
𝜕 𝜕 𝜕
⃗∇⃗= 𝑒⃗𝑥 + 𝑒⃗𝑦 + 𝑒⃗𝑧
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 Eq. (6.5)
Quando aplicado a um escalar, este operador conduz a um resultado designado por gradiente, ao
passo que a sua aplicação a um vetor consiste na divergência.
Consideremos agora um elemento de volume com dimensões ∆𝑥∆𝑦∆𝑧, fixo no espaço e no seio
de um fluido contínuo.
Para este volume elementar, vamos aplicar a equação da continuidade. Para uma unidade de
tempo, fica:
104
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜕
∬ 𝜌 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑑𝑉 = 0
𝜕𝑡 Eq. (6.6)
𝐴 𝑉
O balanço fica na forma:
∆𝑦∆𝑧(𝜌𝑣𝑥 |𝑥+∆𝑥 − 𝜌𝑣𝑥 |𝑥 ) + ∆𝑥∆𝑧 (𝜌𝑣𝑦 |𝑦+∆𝑦 − 𝜌𝑣𝑦 |𝑦 ) + ∆𝑥∆𝑦(𝜌𝑣𝑧 |𝑧+∆𝑧 − 𝜌𝑣𝑧 |𝑧 )
𝜕
+ (𝜌 ∆𝑥∆𝑦∆𝑧) = 0
𝜕𝑡
𝜕𝜌
⃗⃗ ∙ 𝜌𝑣⃗)
= −(∇
𝜕𝑡 Eq. (6.7)
ou
𝜕𝜌
= −𝑑𝑖𝑣 (𝜌𝑣⃗)
𝜕𝑡
A equação da continuidade, nesta forma, dá-nos a variação da densidade com o tempo num ponto
fixo do espaço. Note-se que o vetor 𝜌𝑣⃗ tem dimensões de massa/(tempo∙área), e representa o
caudal mássico por unidade de área, sendo designado por “vetor fluxo mássico”.
A equação pode ainda ser transformada de modo a exprimir a variação da densidade ao longo de
uma linha de corrente. Para isso, vamos desenvolver a derivada do fluxo mássico.
105
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Ou
𝐷𝜌
⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)
= −𝜌(∇
𝐷𝑡 Eq. (6.9)
Ou ainda:
𝐷𝜌
= −𝜌 div 𝑣⃗
𝐷𝑡
Eq. (6.10)
ou que
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧
+ + =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 Eq. (6.12)
106
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
∆𝑦∆𝑧(𝜏𝑥𝑥 |𝑥+∆𝑥 − 𝜏𝑥𝑥 |𝑥 ) + ∆𝑥∆𝑧 (𝜏𝑦𝑥 |𝑦+∆𝑦 − 𝜏𝑦𝑥 |𝑦 ) + ∆𝑥∆𝑦(𝜏𝑧𝑥 |𝑧+∆𝑧 − 𝜏𝑧𝑥 |𝑧 )
𝜕
Finalmente, o termo de acumulação será dado por: 𝜕𝑡 (𝜌𝑣𝑥 ∆𝑥∆𝑦∆𝑧)
107
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Dividindo toda a equação por ∆𝑥∆𝑦∆𝑧 e fazendo tender o elemento de volume para um ponto,
fica:
ou:
𝜕𝑝 𝜕 𝜕 𝜕 𝜕𝜏𝑥𝑥 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥 𝜕
− + 𝜌𝑔𝑥 = 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑥 + 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑦 + 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑧 + + + + 𝜌𝑣𝑥
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑡
𝜕𝜌 𝜕 𝜕 𝜕
− = (𝜌𝑣𝑥 ) + (𝜌𝑣𝑦 ) + (𝜌𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
108
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Daqui resulta que o termo no parêntesis reto na equação do movimento é nulo. Por outro lado,
temos no primeiro membro a definição de derivada substancial. Então, a equação simplifica-se e
pode também ser escrita de forma análoga para as outras direções. Estas são as equações do
movimento.
Direção x:
𝐷𝑣𝑥 𝜕𝜏𝑥𝑥 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥 𝜕𝑝
𝜌 = −( + + )− + 𝜌𝑔𝑥
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥
Direção 𝑦:
𝐷𝑣𝑦 𝜕𝜏𝑥𝑦 𝜕𝜏𝑦𝑦 𝜕𝜏𝑧𝑦 𝜕𝑝
𝜌 = −( + + )− + 𝜌𝑔𝑦
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦
Direção z:
𝐷𝑣𝑧 𝜕𝜏𝑥𝑧 𝜕𝜏𝑦𝑧 𝜕𝜏𝑧𝑧 𝜕𝑝
𝜌 = −( + + )− + 𝜌𝑔𝑧
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧
𝐷𝑣⃗
𝜌 ⃗⃗ ∙ 𝜏) − ∇
= −(∇ ⃗⃗𝑝 + 𝜌𝑔⃗
𝐷𝑡 Eq. (6.13)
A derivada material da quantidade de movimento é igual à soma das forças que atuam sobre o
sistema (corte, pressão e gravítica). Nesta forma, a equação traduz a segunda lei de Newton do
movimento aplicada a um elemento de fluido escoando ao longo de uma linha de corrente.
Esta equação diz-nos que a variação temporal da quantidade de movimento é igual à resultante
das forças que atuam sobre o fluido, o que corresponde ao enunciado da segunda lei de Newton.
109
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦
𝜏𝑦𝑥 = −𝜇 ( + )
𝜕𝑦 𝜕𝑥
𝜕𝑣𝑥
𝜏𝑥𝑥 = −2𝜇
𝜕𝑥
𝜕𝑣 𝜕𝑣𝑧
𝜏𝑧𝑥 = −𝜇 ( 𝜕𝑧𝑥 + 𝜕𝑥
)
𝐷𝑣𝑦 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦
𝜌 =− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑦
𝐷𝑡 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
𝐷𝑣𝑧 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥
𝜌 =− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑧
𝐷𝑡 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
110
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
111
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Equação da continuidade
𝜕𝜌 𝜕 𝜕 𝜕
+ 𝜌𝑣𝑥 + 𝜌𝑣𝑦 + 𝜌𝑣𝑧 = 0
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Eq. (6.16)
𝜕𝜌 1 𝜕 1 𝜕 𝜕
+ 𝜌𝑟𝑣𝑟 + 𝜌𝑣𝜃 + 𝜌𝑣𝑧 = 0
𝜕𝑡 𝑟 𝜕𝑥 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
Eq. (6.17)
112
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Em termos de :
Direção 𝑥:
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑥 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑥 Eq. (6.18)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Direção 𝑦:
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑦 𝜕𝜏𝑦𝑦 𝜕𝜏𝑧𝑦
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑦 Eq. (6.19)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Direção 𝑧:
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑧 𝜕𝜏𝑦𝑧 𝜕𝜏𝑧𝑧
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (6.20)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Direção 𝑥:
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑥 Eq. (6.21)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
Direção 𝑦:
Direção 𝑧:
113
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Direção 𝜃:
𝜕𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃
𝜌( + 𝑣𝑟 + + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
1 𝜕𝑝 1 𝜕 1 𝜕𝜏𝜃𝜃 𝜕𝜏𝜃𝑧 Eq. (6.25)
=− − ( 2 𝑟 2 𝜏𝑟𝜃 + + ) + 𝜌𝑔𝜃
𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
Direção z:
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧
𝜌( + 𝑣𝑟 + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
𝜕𝑝 1𝜕 1 𝜕𝜏𝜃𝑧 𝜕𝜏𝑟𝑧
=− −( 𝑟𝜏𝑟𝑧 + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (6.26)
𝜕𝑧 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
Direção 𝜃:
Direção z:
114
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 6.1
Considere a equação da continuidade em coordenadas retangulares (x, y, z). Dada a seguinte expressão da
velocidade de um escoamento, será que se trata de um líquido?
Resolução:
Para um líquido (fluido incompressível), a densidade é constante, e portanto aplicamos a Eq. (6.12). Derivando
as expressões relativas às componentes da velocidade em x, y e z, vem:
Exemplo 6.2
Determine a distribuição de velocidades e de fluxo de quantidade de movimento entre dois cilindros coaxiais
verticais de raios 𝑘𝑅 e 𝑅, rodando à velocidade angular 𝛺𝑖 e 𝛺𝑒 , respectivamente. Assuma que o espaço entre os
cilindros está cheio de um fluido incompressível e isotérmico e que o regime é laminar.
Resolução:
1. Campo de velocidades
Está-se perante um problema com geometria cilíndrica (𝑟, 𝜃, 𝑧) ⇒ 𝑣(𝑟, 𝜃, 𝑧)
Só há velocidade segundo 𝜃, pelo que 𝑣𝑟 = 0; 𝑣𝑧 = 0. O escoamento é angular puro. Como os cilindros estão a
rodar, cada um com uma determinada velocidade angular 𝛺 (𝑣𝜃 = 𝛺𝑟), às cotas kR (cilindro interior) e R (cilindro
exterior), o fluido tem a velocidade respectiva de cada cilindro (condição de não-escorregamento). Estabelece-se,
então, uma distribuição de velocidades 𝑣𝜃 que é função da coordenada radial r.
2. Equação da continuidade: a equação da continuidade em coordenadas cilíndricas foi apresentada atrás - Eq.
(6.17):
𝜕𝜌 1 𝜕 1 𝜕 𝜕
+ (𝜌𝑟𝑣𝑟 ) + (𝜌𝑣𝜃 ) + (𝜌𝑣𝑧 ) = 0
𝜕𝑡 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
1 𝜕
(𝜌𝑣𝜃 ) = 0
𝑟 𝜕𝜃
𝜕𝑣𝜃
=0
𝜕𝜃
115
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Para a equação do movimento, consideram-se as equações escritas em termos do gradiente de velocidade para
um fluido Newtoniano com e constantes em coordenadas cilíndricas.
𝜕𝑝 𝑣𝜃2
=𝜌
𝜕𝑟 𝑟
𝜕 1𝜕
𝜇[ ( (𝑟𝑣𝜃 ))] = 0
𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟
𝜕𝑝
= 𝜌𝑔𝑧
𝜕𝑧
Concluimos que há gradiente de pressão segundo a coordenada z por causa do peso (os cilindros estão na
vertical).
Na componente 𝜃, dividindo por e substituindo as derivadas parciais por derivadas totais, pois v só depende
de r, vem:
𝑑 1𝑑
( (𝑟𝑣𝜃 )) = 0
𝑑𝑟 𝑟 𝑑𝑟
1𝑑 𝑑
(𝑟𝑣𝜃 ) = 𝐶1 ⇒ (𝑟𝑣𝜃 ) = 𝐶1 𝑟
𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝑟
𝑟2
𝑟𝑣𝜃 = 𝐶1 + 𝐶2
2
𝑟 𝐶2
𝑣𝜃 = 𝐶1 +
2 𝑟
Para determinar o perfil de velocidades, é necessário estabelecer as condições de fronteira de modo a calcular
as constantes de integração 𝐶1 e 𝐶2.
116
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Substituindo em 𝑣𝜃 :
𝑅 𝐶2
𝛺𝑒 𝑅 = 𝐶1 +
2 𝑅
𝑘𝑅 𝐶2
𝛺𝑖 𝑘𝑅 = 𝐶1 +
2 𝑘𝑅
Daqui resultam as constantes de integração:
2(𝛺𝑒 − 𝛺𝑖 𝑘 2 )
𝐶1 =
1 − 𝑘2
(𝛺𝑖 − 𝛺𝑒 )𝑘2 𝑅2
𝐶2 =
1 − 𝑘2
𝛺𝑒 − 𝛺𝑖 𝑘 2 (𝛺𝑖 − 𝛺𝑒 )𝑘2 𝑅2 1
𝑣𝜃 = 2
𝑟+
1−𝑘 1 − 𝑘2 𝑟
𝜕 𝑣𝜃 1 𝜕𝑣𝑟 𝑑 𝑣𝜃
𝜏𝑟𝜃 = −𝜇 [𝑟 ( )+ ] = −𝜇𝑟 ( )
𝜕𝑟 𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑑𝑟 𝑟
2𝜇(𝛺𝑖 − 𝛺𝑒 ) 𝑘 2 𝑅2
𝜏𝑟𝜃 =
1 − 𝑘2 𝑟2
117
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 6.1 Considere o escoamento de um líquido Newtoniano devido a uma força de corte no espaço compreendido
entre uma barra e um cilindro (exercício P5.4). Deduza a distribuição de velocidades e de fluxo de quantidade de
movimento a partir da equação geral da continuidade e do movimento.
P 6.4 Calcule o torque e a potência que mantêm em rotação o veio representado na figura à velocidade de 200
rpm. Os cilindros encontram-se na vertical, a altura é de 0,05 m e o lubrificante usado tem viscosidade de 0,2 Pas e
massa específica de 800 kg/m3.
Nota: recorde-se que o torque é igual ao produto da força pelo braço.
118
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝐷𝑣⃗ ⃗∇⃗𝑝
= 𝑔⃗ − + 𝜈∇2 𝑣⃗
𝐷𝑡 𝜌 Eq. (7.1)
Esta equação traduz um balanço de forças, tendo cada parcela as dimensões de Força/Massa:
𝑣2
Força de inércia:
𝐿
Força gravítica: 𝑔
⃗⃗⃗𝑝
∇ 𝑝
Força de pressão:
𝜌
≡ 𝐿𝜌
𝜈𝑣
Forças viscosas: 𝜈∇2𝑣⃗ ≡
𝐿
Dividindo toda a equação pelas forças de inércia, obtemos grupos adimensionais, cada um deles
com o significado físico de uma razão de forças:
𝐹gravítica 𝑔𝐿 1
= = Fr : número de Froude
𝐹inércia 𝑣2 Fr Eq. (7.3)
𝐹pressão 𝑝
= = Eu Eu : número de Euler Eq. (7.4)
𝐹inércia 𝜌𝑣 2
𝐹viscosas 𝜐 1
= = Re : número de Reynolds Eq. (7.5)
𝐹 inércia 𝐿𝑣 Re
119
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
7.2 Semelhança
Um modelo pode ser definido como uma idealização da realidade, que pode ser
manipulado de forma a prever a consequência de ações futuras. Existem dois tipos de modelos, os
matemáticos e os físicos. Na sua essência, a Engenharia consiste na aplicação de modelos a
sistemas físicos. Os modelos são usados em todas as áreas do conhecimento científico, desde a
economia (consideremos a taxa de juro de uma aplicação financeira) ao ensino e à sociologia (caso
dos testes efetuados em populações pequenas e posteriormente extrapolados para grupos maiores),
às sondagens de opinião e às instalações-piloto na indústria de processo. Um modelo matemático
é normalmente fácil de utilizar, pois basta recorrer a algumas equações (exemplo: Segunda lei de
Newton, F= ma) para determinar as consequências de uma ação sobre o sistema. Contudo, a
dificuldade de estabelecer modelos matemáticos continua a ser enorme, mesmo apesar do grande
desenvolvimento verificado nas últimas décadas graças ao boom dos computadores. Este facto,
associado aos riscos de capital e humanos decorrentes da aplicação direta de modelos matemáticos
a sistemas reais (pensemos no caso de um avião sem testes prévios) leva a que o recurso a modelos
físicos (caso das instalações-piloto) continue a ter um lugar privilegiado no projeto de
equipamentos.
Para que um modelo represente com fidelidade o sistema real, i.e., o protótipo, é
necessário que sejam respeitadas as condições de semelhança seguintes:
- Semelhança Geométrica
- Semelhança Cinemática
- Semelhança Dinâmica
120
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑎′ 𝑎
=
𝑏′ 𝑏 Eq. (7.6)
𝑣′𝑥 𝑣𝑥 𝑣′𝑥 𝑣𝑥
= e =
𝑣′𝑦 𝑣𝑦 𝑣′𝑧 𝑣𝑧 Eq. (7.7)
121
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Figura 7.2 Semelhança cinemática. 𝑣1 e 𝑣2 têm a mesma orientação relativamente à superfície; 𝑣3 tem
orientação diferente e por isso não tem semelhança cinemática relativamente ao protótipo.
Semelhança Dinâmica: significa que a dinâmica dos fluidos é análoga do ponto de vista dos
movimentos do fluido e das linhas de corrente e traduz-se na condição de igualdade dos números
adimensionais da equação de Navier-Stokes, isto é, os números de Reynolds, de Euler e de Froude.
A semelhança dinâmica só poderá existir entre sistemas que verifiquem semelhança geométrica e
cinemática.
A Teoria dos Modelos é muito aplicada em Engenharia, quer em Engenharia Automóvel, quer em
Aeronáutica, Química ou Biológica. Por vezes nem todos os números adimensionais são
relevantes, e podem por isso ser desprezados. Assim, no caso dos aviões e submarinos em
condições de cruzeiro (objetos totalmente imersos) não é relevante a força gravítica e por isso a
semelhança dinâmica limita-se aos números de Reynolds e de Euler. Já no caso dos barcos a
existência de uma onda na frente do barco faz com que se tenha sempre a sensação de que o barco
está “a subir”, o que torna relevante o número de Froude. Os modelos deste tipo de sistemas são
habitualmente estudados em túneis de vento ou tanques de água.
Já no caso da Engenharia de Processos, é muito relevante o dimensionamento de permutadores de
calor e de tanques com agitação, nos quais a complexidade do sistema é ultrapassada pelo recurso
a modelos.
Exemplo 7.1
No teste laboratorial de um medidor de caudais, usa-se água num tubo de secção circular de 7,6 cm de
diâmetro. Um medidor indica uma pressão diferencial de 120 kPa para uma velocidade média da água de 2,0 m/s; se
o mesmo medidor fosse usado para um tubo de 43 cm de diâmetro, qual a velocidade da água e qual a pressão
diferencial esperadas? Admita condições de semelhança dinâmica.
Resolução:
Semelhança dinâmica igualdade dos números adimensionais da equação de Navier-Stokes: Reynolds, Euler
e Froude
122
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜌𝑣𝐿 𝑝
Re = ; Eu =
𝜇 𝜌𝑣 2
1000×2,0×0,076 1000×𝑣×0,43
Remodelo = = 1,52 × 105 ; Reprotótipo =
0,001 0,001
120×103 𝑝
Eumodelo = 1000×2,02 = 30 ; Euprotótipo = 1000×0,3532
123
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
124
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
T: −2 = −2𝑞
Ou seja, 𝑝 = 1 e 𝑞 = 1, pelo que a nossa equação fica:
𝑊 = K 𝑚1 T 1
= K 𝑚𝑔
E quanto vale K? Isso teria de ser determinado experimentalmente. Neste caso K vale 1, e aqui
temos a 2ª lei de Newton escrita para um objeto sujeito à força gravítica,
𝑊 = 𝑚𝑔
Este método é conhecido como Método Indicial, ou método dos expoentes. Funciona bem em
geral para casos simples, com poucas variáveis, mas rapidamente se torna confuso quando há
muitas variáveis envolvidas. Nesse caso é preferível recorrer ao método de Buckingham.
O Método de Buckingham
No início do séc. XX foi desenvolvido um método mais elaborado e que ficou conhecido como o
método de Buckingham.
O primeiro passo no método é listar as variáveis significativas e formar uma matriz com as suas
dimensões. A matriz dimensional tem como colunas as variáveis, como linhas as dimensões e
como elementos da matriz os expoentes que afetam cada dimensão.
O segundo passo é a determinação do número de grupos adimensionais nos quais as variáveis
podem ser combinadas. Isso é determinado pelo teorema de Buckingham , que diz o seguinte:
Apesar de esta ser a forma completa do teorema, a sua aplicação torna-se mais fácil nos casos de
estudo de dinâmica de fluidos, em que só há três dimensões, massa, comprimento e tempo; nestes
casos, o número de grupos adimensionais será 𝑚 − 𝑛 ou 𝑛 − 3. Há que ter cuidado e não usar
este método simplificado para situações com mais de três dimensões fundamentais. Em particular,
a introdução do calor e da temperatura como dimensões nos problemas de termodinâmica e de
transferência de calor aumenta o número de dimensões possíveis para cinco, embora o valor de r
seja inferior.
125
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Note-se que:
o A análise dimensional não fornece qualquer informação sobre a validade das variáveis usadas no
tratamento.
o Habitualmente existem várias soluções possíveis, apesar de umas serem mais úteis do que outras.
A escolha adequada do conjunto de recurso é importante, pois essas variáveis irão repetir-se nos
vários grupos. Assim, as variáveis pouco importantes para a descrição do fenómeno devem ser
deixadas de fora do conjunto de recurso, de forma a evitar a sua repetição.
o A determinação dos números puros tem de ser efetuada por experimentação.
o Qualquer número de grupos adimensionais pode ser combinado por multiplicação ou divisão de
modo a formar novos grupos adimensionais.
o O inverso de qualquer grupo adimensional continua a ser adimensional.
o Qualquer grupo adimensional levantado a um expoente, permanece adimensional.
o Qualquer grupo adimensional pode ser multiplicado por um número puro, continuando
adimensional.
o Na determinação dos grupos adimensionais, algumas variáveis poderão vir afetadas do expoente
zero, o que as elimina do resultado final.
126
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 7.2
A potência (𝑃𝑜) gerada por uma bomba pode considerar-se dependente das seguintes variáveis: densidade do
fluido, velocidade angular (Ω), diâmetro do rotor da bomba (𝐷), caudal volumétrico e viscosidade do fluido.
Determine os grupos adimensionais e a forma geral da equação que descreve o problema; faça com que a
potência, o caudal e a viscosidade surjam em grupos diferentes.
Resolução:
Dimensões: 𝑃𝑜: ML2 T −3; 𝜌: ML−3 ; Ω: T −1; 𝐷: L ; 𝑄: L3 T −1; 𝜇: ML−1 T −1
Para garantirmos que as 3 dimensões são independentes, vamos elaborar a matriz dimensional.
Assim, escrevem-se as variáveis em termos das dimensões M, L e T.
𝑃𝑜 𝜌 𝐷 𝑄 𝜇
M 1 1 0 0 0 1
L (2 −3 0 1 3 −1)
T −3 0 −1 0 −1 −1
Se extrairmos, por exemplo, o determinante relativo às variáveis , e D, o seu valor é –1, ou seja, não é nulo.
Assim, pelo teorema de Buckingham, o número de grupos adimensionais é 6 – 3 = 3. Para o conjunto de recurso,
vamos usar as variáveis , e D, pois pretendemos que Po, Q e constem de grupos diferentes.
𝜋2 = 𝜌d Ωe 𝐷 f 𝑄 𝜋2: (ML−3)d T −e Lf L3 T −1
2 :
M: d = 0
𝑄
{ L: − 3d + f + 3 = 0 ⟹ f = −3 ⟹ 𝜋2 =
Ω𝐷3
T: − e − 1 = 0 ⟹ e = −1
3 :
M: g + 1 = 0 ⟹ g = −1
𝜇
{ L: − 3g + i − 1 = 0 ⟹ i = −2 ⟹ 𝜋3 =
𝜌Ω 𝐷2
T: − h − 1 = 0 ⟹ h = −1
Então,
𝑃𝑜 𝑄 𝜇
3 5
= 𝑓( 3, )
𝜌Ω 𝐷 Ω𝐷 𝜌Ω 𝐷2
𝑃𝑜 𝑄 𝛼 𝜇 𝛽
3 5
= 𝐶 ( 3) ( 2
)
𝜌Ω 𝐷 Ω𝐷 𝜌Ω 𝐷
127
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 7.3
A taxa de deposição de iões metálicos (𝑚̇, com dimensões M T-1) de uma solução electrolítica diluída é normalmente
representada pela velocidade de difusão dos iões para o eléctrodo (este em forma de disco). O processo é controlado
pelas seguintes variáveis: densidade, viscosidade, 𝑘 (coeficiente de transferência de massa, L T-1), 𝐷 (coeficiente de
difusão, L2 T-1), 𝑑 (diâmetro do disco) e Ω (velocidade angular). Obtenha um conjunto de grupos adimensionais para
estas variáveis em que k, D e apareçam em grupos separados.
Resolução:
O número de grupos adimensionais para este caso é 7 – 3 = 4.
Matriz dimensional:
𝑚̇ 𝑘 𝐷 𝑑 Ω 𝜌 𝜇
M 1 0 0 0 0 1 1
L (0 1 2 1 0 −3 −1)
T −1 −1 −1 0 −1 0 −1
Conjunto de recurso: optamos por 𝜌, Ω e 𝑑 . Claro que há outras possibilidades, mas estas variáveis são
relevantes para o projecto e fáceis de medir e controlar. Note-se que a taxa de deposição 𝑚̇ é a nossa variável
dependente e a viscosidade deve ser sempre excluida do conjunto de recurso. Os coeficientes de difusão e de
transferência de massa são propriedades dificieis de controlar diretamente, pelo que são pouco interessantes para
surgir repetidamente no resultado.
𝜋1 = 𝜌a Ωb 𝑑c 𝑚̇ ⟹ 𝜋1 : (ML−3)a T −b Lc MT −1
𝜋2 = 𝜌d Ωe 𝑑f 𝑘 ⟹ 𝜋2: (ML−3)d T −e Lf L T −1
𝜋3 = 𝜌g Ωh 𝑑i 𝐷 ⟹ 𝜋3: (ML−3)g T −h Li L2 T −1
𝜋1 :
M: a+1 = 0 ⟹ a = −1
𝑚̇
{ L: − 3a + c = 0 ⟹ c = −3 ⟹ 𝜋1 =
𝜌Ω𝑑 3
T: − b − 1 = 0 ⟹ b = −1
𝜋2 :
M: d = 0
𝑘
{ L: − 3d + f+1 = 0 ⟹ f = −1 ⟹ 𝜋2 =
Ω𝑑
T: − e − 1 = 0 ⟹ e = −1
𝜋3 :
M: g = 0
𝐷
{ L: − 3g + i +2 = 0 ⟹ i = −2 ⟹ 𝜋3 =
Ω𝑑 2
T: − h − 1 = 0 ⟹ h = −1
𝜋4 :
M: j +1 = 0 ⟹ j = −1
𝜇
{L: − 3j + l − 1 = 0 ⟹ l = −2 ⟹ 𝜋4 =
𝜌Ω𝑑 2
T: − k − 1 = 0 ⟹ k = −1
Então,
128
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑚̇ 𝑘 𝐷 𝜇
= 𝑓( , , )
𝜌Ω𝑑3 Ω𝑑 Ω𝑑2 𝜌Ω𝑑2
Exemplo 7.4
Num estudo sobre a formação de bolhas a partir de um gás introduzido no líquido através de um pequeno
orifício situado abaixo da superfície, verificou-se que o diâmetro das bolhas, D, é função do diâmetro do
orifício, d, da densidade do líquido, da tensão superficial, 𝜎 MT −2 da viscosidade do líquido e da
aceleração da gravidade. Admitindo que existe uma relação do tipo 𝐷 = 𝜑(𝑑, 𝜌, 𝜇, 𝑔), recorra à análise
dimensional para determinar a forma geral da equação adimensional que descreve o diâmetro médio das
bolhas, D. Faça com que a tensão superficial e a viscosidade surjam apenas uma vez cada.
Resolução:
O número de grupos adimensionais para este caso é 6 – 3 = 3. Conjunto de recurso: 𝜌, 𝑑, 𝑔 .
Matriz dimensional:
𝐷 𝑑 𝜌 𝑔 𝜎 𝜇
M 0 0 1 0 1 1
L (1 1 −3 1 0 −1)
T 0 0 0 −2 −2 −1
𝜋1 :
M: a = 0
𝐷
{L: − 3a + b + c + 1 = 0 ⟹ b = −1 ⟹ 𝜋1 =
𝑑
T: − 2c = 0 ⟹ c = 0
𝜋2 :
M: d+1 = 0 ⟹ d = −1
𝜎
{ L: − 3d + e + f = 0 ⟹ e = −2 ⟹ 𝜋2 =
𝜌𝑔𝑑 2
T: − 2f − 2 = 0 ⟹ f = −1
𝜋3 :
M: g+1 = 0 ⟹ g = −1
3 𝜇2
L: − 3g + h + i − 1 = 0 ⟹ h = − ⟹ 𝜋3 =
2 𝑔𝜌2 𝑑 3
1
{ T: − 2i − 1 = 0 ⟹ i = − 2
Então,
𝐷 𝜎 𝜇2
= 𝑓( , )
𝑑 𝜌𝑔𝑑 𝑔𝜌2 𝑑3
2
𝛽
𝐷 𝜎 𝛼 𝜇2
= 𝐶( 2
) ( 2 3)
𝑑 𝜌𝑔𝑑 𝑔𝜌 𝑑
129
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 7.1 Para efeitos de dimensionamento de um sistema de transporte de um fluido de Bingham com 𝜌 = 1200
kg/m3, 𝑘𝐵 = 0,05 Pa∙s, 𝜏0 = 100 Pa, pretende-se prever o gradiente de pressão ao longo de um tubo horizontal com
um diâmetro D = 20 cm para uma velocidade média 𝑣 = 2,0 m/s. Para isso, realizam-se ensaios de transporte num
sistema modelo construído à escala de 1:3, usando um fluido de Bingham com os mesmos valores de 𝑘𝐵 e 𝜌 do fluido
usado no protótipo.
a) Determine os valores de 𝑣 e de 𝜏0 no modelo para que exista semelhança dinâmica entre os dois sistemas.
b) Determine o valor de ∆𝑝/𝐿 no protótipo, sabendo que o valor medido no modelo em condições de
semelhança dinâmica é de 1,0 atm/m.
∆𝑝
Nota: Admita que ambos os tubos são lisos e que = 𝑓(𝑣, 𝐷, 𝜌, 𝑘𝐵 , 𝜏0 ) .
𝐿
P 7.2 O momento das forças de atrito (M) que actuam num disco em rotação, imerso num grande volume de
fluido Newtoniano, depende do diâmetro do disco (D), da rugosidade da superfície do disco (ε), da velocidade angular
() e das propriedades físicas do fluido (ρ e µ).
a) Obtenha o conjunto de grupos adimensionais que descrevem este sistema.
b) Pretende-se conhecer o momento das forças de atrito que actuam num disco liso, com
2,0 mm de diâmetro, com uma velocidade de rotação de 120 rps em água. Para isso, efectua-se um ensaio num
modelo maior, à escala de 20:1, em água. Em condições de semelhança dinâmica, o momento da força no modelo é
de 0,1 Nm. Determine a velocidade de rotação do modelo e o momento da força que actua no protótipo.
P 7.3 Numa fábrica dá-se a explosão de um tanque de armazenagem de etileno. A distância percorrida pela
onda de choque (R) é função da energia libertada (E), da densidade do ar (ρ) e do tempo (t).
a) Obtenha a forma geral da equação que descreve o problema.
b) Como deveria proceder para obter a equação empírica a partir da forma geral?
P 7.4 Considere o escoamento de um fluido com viscosidade e densidade ρ no interior de uma conduta de
paredes lisas, horizontal, com diâmetro D e comprimento L. Quando a velocidade média de escoamento é 𝑣, a queda
de pressão entre a entrada e a saída da conduta (provocada pelo atrito na parede) é ∆𝑝. Escreva a relação
∆𝑝 = 𝜑(𝑣, 𝐷, 𝜌, 𝜇 , ∆𝐿 ) em forma adimensional, para todo o conjunto de escoamentos fisicamente semelhantes.
130
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
O atrito pode ter efeitos diversos, consoante a situação e as características do sistema. Nos sólidos,
por exemplo, sabemos bem que o atrito provoca aquecimento, ou seja, dissipação térmica. Nos
gases este efeito é menos evidente, em parte pela elevada capacidade calorífica de muitos fluidos,
mas ainda assim não é desprezável em alguns casos.
em que cada parcela representa uma energia por unidade de massa e 𝑊𝜇 o trabalho realizado para
vencer o atrito. Para um fluido incompressível escoando sem perda de pressão e sem variação de
velocidade (𝑣1 = 𝑣2) em escoamento horizontal (𝑧1 = 𝑧2 ), teremos:
∆𝑈 = 𝑈2 − 𝑈1 = 𝑞 − 𝑊𝑠 − 𝑊𝜇
131
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
∆𝑈 − 𝑞 = − (𝑊𝑠 + 𝑊𝜇 )
∆𝑈 − 𝑞 = 0
Ou seja, a variação do estado térmico do fluido resulta apenas do calor fornecido ao sistema (o
calor é fornecido ao fluido quando q é positivo).
Por outro lado, se houver atrito, então ∆𝑈 − 𝑞 > 0 e por isso −𝑊𝜇 > 0 , ou seja, o trabalho
relativo ao atrito vai ser negativo e o atrito vai traduzir-se numa dissipação térmica, com variação
da energia interna do fluido.
Se as perdas por atrito forem baixas e/ou se a capacidade calorífica do fluido for elevada (caso de
muitos líquidos), então 𝑈2 ≅ 𝑈1 , ou seja, o estado térmico do fluido é praticamente inalterado
(escoamento isotérmico).
Se não houver fornecimento de calor ao sistema nem realização de trabalho mecânico, para um
fluido incompressível, temos:
𝑝1 𝑝2
𝑈1 + = 𝑈2 + + 𝑊𝜇
𝜌 𝜌 Eq. (8.2)
Se o escoamento for isotérmico, a energia interna é invariante:
𝑝1 − 𝑝2
𝑈2 ~𝑈1 ⟹ 𝑊𝜇 = (> 0)
𝜌
ou seja, o fluido perde pressão (carga) devido ao atrito na parede. A perda de carga por atrito, ℎ𝑓 ,
será representada por:
(−∆𝑝)𝑓
ℎ𝑓 =
𝜌𝑔 Eq. (8.3)
132
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑝1 𝑣1 2 𝑝2 𝑣2 2
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2 + ℎ𝑓
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (8.4)
Exemplo 8.1
Consideremos uma variante ao Exemplo 4.9, agora com contabilização da perda de carga por atrito nas paredes
do tubo. Água é bombeada a partir de um poço. O tubo de entrada tem diâmetro de 10,0 cm e comprimento de 3,0
m e está 2,0 m submerso dentro da água do poço. Admitindo que a perda de carga de pressão devida ao atrito é de
40 cm de coluna de água, qual será o caudal que conduzirá a um abaixamento da pressão à entrada da bomba até à
pressão (absoluta) de 87 kPa? Admita velocidade uniforme na secção.
Resolução:
Podemos aplicar a equação da energia entre a superfície do fluido (ponto 1) e a entrada da bomba (ponto 2), onde se
sabe a pressão, em que 𝑣1 ≪ 𝑣2, pelo que a equação fica na forma:
𝑣22 𝑝1 − 𝑝2
= + 𝑧1 − 𝑧2 − ℎ𝑓
2𝑔 𝜌𝑔
𝑝1 − 𝑝2
𝑣2 = √2𝑔 ( + 𝑧1 − 𝑧2 − ℎ𝑓 )
𝜌𝑔
Substituindo valores:
𝑝1 = 𝑝atm = 1,013 × 105 Pa
𝑝2 = 87 × 103 Pa
ℎ𝑓 = 0,40 m
133
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Figura 8.1 – Esquema de uma bomba e pontos imediatamente a montante e a jusante da bomba (1 e 2,
respetivamente).
𝑝1 𝑣1 2 𝑝2 𝑣2 2
+ + 𝑧1 + 𝐻𝑏 = + + 𝑧2 + ℎ𝑓
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (8.6)
Se o tubo tiver o mesmo diâmetro à entrada e à saída, e dado que não há termo de geração
na bomba (i.e., os caudais volumétricos são iguais), então 𝑣2 = 𝑣1 . Para escoamento horizontal,
e desprezando o atrito dentro da bomba (porque só se considera a energia efetivamente transmitida
ao fluido em 𝐻𝑏 ), resulta que
∆𝑝𝑏
𝐻𝑏 =
𝜌𝑔 Eq. (8.7)
134
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
A razão entre a potência hidráulica e a potência consumida pela bomba, ou potência nominal,
𝑊̇𝑏,𝑛 , corresponde à eficiência da bomba, 𝜂𝑏 :
𝑊̇𝑏
𝜂𝑏 =
𝑊̇𝑏,𝑛 Eq. (8.9)
O cálculo das perdas de pressão por atrito, para escoamento dentro de condutas é facilitado pelo
uso de um parâmetro adimensional designado por fator de atrito, 𝑓.
A sua equação de definição é:
𝐹𝜏
𝑓=
𝐴𝐾 Eq. (8.10)
sendo a força de atrito na parede 𝐹𝜏 dada pelo produto do fluxo de quantidade de movimento na
parede pela área de contacto (“área molhada”): 𝐹𝜏 = 𝜏𝑤 × 𝐴
No denominador consta o produto da área molhada 𝐴 por uma energia cinética
característica por unidade de volume (𝐾). Para escoamento em condutas, 𝐾 , relaciona-se com a
velocidade média da secção 〈𝑣〉 por:
𝜌 〈𝑣 〉2
𝐾=
2
Assim sendo:
𝜏𝑤 × 𝐴 𝜏𝑤 2 𝜏𝑤
𝑓= = =
𝐴𝐾 𝐾 𝜌 〈𝑣 〉2
135
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
1 𝐷 𝑝0 − 𝑝𝐿
𝑓=
4 𝐿 1 𝜌 〈𝑣 〉2
2
Nas condições do sistema, 𝑝0 − 𝑝𝐿 = (−∆𝑝)𝑓 , logo:
1 𝐷 (−∆𝑝)𝑓
𝑓=
4 𝐿 1 𝜌 〈𝑣 〉2
2 Eq. (8.11)
Esta definição corresponde ao fator de atrito de Fanning, e relaciona f com a perda de pressão
por atrito para escoamento em tubos de secção circular.
O fator de atrito relaciona-se com o número de Reynolds, o que é extremamente útil em projeto
de instalações para transporte de fluidos, incluindo seleção de bombas.
Para escoamento laminar, já sabemos como se relaciona a perda de pressão por atrito, (−∆𝑝)𝑓 ,
com a velocidade, através da equação de Hagen-Poiseuille:
(−∆𝑝)𝑓 𝑅2 (−∆𝑝)𝑓 𝐷2
〈𝑣 〉 = =
8𝜇𝐿 32𝜇𝐿
16 𝜇
𝑓=
𝜌〈 𝑣 〉 𝐷
Ou 16
𝑓= Eq. (8.12)
Re
No caso do escoamento turbulento há que definir outra grandeza, genericamente designada por
rugosidade. A rugosidade tem que ver com o material de que o tubo é construído, bem como o
seu acabamento. Define-se rugosidade absoluta como a profundidade média da irregularidade de
uma superfície – neste caso a superfície interior do tubo, expressa como um comprimento. Na
136
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
prática o parâmetro de maior relevância é a rugosidade relativa, definida como a razão entre a
rugosidade absoluta e o diâmetro interno do tubo, e que evidentemente é adimensional.
- rugosidade absoluta, 𝜖
𝜖
- rugosidade relativa, 𝜖𝑟 = 𝐷
A Tabela 8.1 apresenta valores típicos de rugosidade. Este tipo de tabelas pode ser facilmente
encontrado na literatura.
Para outras situações, opta-se em geral por consultar o diagrama de Moody (Figura 8.3), no qual
se encontram condensadas as diversas correlações. Assim, o dimensionamento de tubagens passa
pela determinação do número de Reynolds, a partir do qual se determina o fator 𝑓. Se
combinarmos a Eq. (8.3) com a Eq. (8.11), vemos que
𝐿 〈𝑣 〉2
ℎ𝑓 = 4𝑓 Eq. (8.14)
𝐷 2𝑔
137
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Nos problemas em que não conhecemos a velocidade (ou o caudal) não é possível determinar o
valor do número de Reynolds e por isso o cálculo é feito por método iterativo.
i. Arbitramos um valor para a velocidade.
ii. Calculamos o número de Reynolds.
iii. Determinamos a rugosidade relativa.
iv. Sabendo a rugosidade e usando o Re arbitrado, obtemos o valor de 𝑓.
v. Entramos com o valor do fator de atrito na equação de conservação da energia e
calculo a velocidade.
vi. Usamos a nova velocidade na iteração seguinte.
vii. O processo pára quando já não temos resolução no diagrama para distinguir entre
duas iterações consecutivas.
0,02
𝜖𝑟
0,05
0,04
0,03
0,02
0,015
0,01
0,01
0,008
0,005
Fator de atrito de Fanning
0,006 0,002
0,001
0,0005
0,004
0,0002
0,003 0,0001
0,00005
0,00002
0,002 0,00001
0,000005
0,000001
0,001
1000 10000 100000 1000000 10000000 100000000
Re
4
Usou-se a correlação de Haaland para a estimativa do fator de atrito para tubos rugosos:
10⁄
1 6,9 𝜖 9
= −3,6 log [𝑅𝑒 + (3,7𝐷) ] [S.E. Haaland, Trans. ASME, JFE, 105, 89, 1983].
√𝑓
138
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
139
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑄 = 𝑣1 𝐴1 = 𝑣2 𝐴2
𝐴1
𝑣2 = 𝑣1
𝐴2
Façamos agora o balanço às forças, entre 1′ e 2. Admitamos como pressuposto que entre 1 e 1´se
mantém a velocidade:
𝑣1 = 𝑣1′
O balanço às forças entre 1′ e 2 será:
𝑝1 𝐴1 + 𝑝1′ (𝐴2 − 𝐴1 ) − 𝑝2 𝐴2 = 𝜌𝑣22 𝐴2 − 𝜌𝑣12 𝐴1
Em que se considerou a força de pressão em 1′ atuando apenas na coroa circular. Demonstra-se
experimentalmente que a pressão é 1′ é idêntica à pressão a montante, i.e., em 1. Assim, e tendo
em conta a conservação da massa, fica:
𝐴1 2
(𝑝1 − 𝑝2 ) 𝐴2 = 𝜌𝑣12 𝐴2 ( ) − 𝜌𝑣12 𝐴1
𝐴2
𝐴1 𝐴1
(𝑝1 − 𝑝2 ) = 𝜌𝑣12 [ − 1]
𝐴2 𝐴2
140
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
No caso de um alargamento brusco numa tubagem, o coeficiente de resistência é então dado por:
𝐴1 2
𝐾 = (1 − )
𝐴2 Eq. (8.17)
0,9 alargamento
0,8
estreitamento
0,7
0,6
K
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
d/D
Sempre que há um estreitamento, existe um ponto onde a área usada no escoamento é mínima, e
é acompanhado de uma zona região de turbulência, ou seja, de movimentos circulares. Essa
região, onde a velocidade é máxima, designa-se vena contracta, e pode ser observada na Figura
141
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
8.6. Ou seja, a equação de conservação da energia pode ser modificada de modo a contabilizar a
perda de carga resultante dos acessórios de tubagem, que iremos designar por ℎ𝐿 . Sendo um termo
de perda, surge no segundo membro, i.e., como uma parcela que se soma à perda de carga em
linha:
𝑝1 𝑣12 𝑝2 𝑣22
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (8.18)
(a) (b)
Figura 8.6 – Separação do escoamento e formação de vórtices num estreitamento (a) e num alargamento
(b).
Tal como o atrito nas paredes (atrito no tubo em linha), é uma transformação irreversível de
energia. Em escoamento turbulento, a perda de carga num acessório pode ser contabilizada de
duas formas. A primeira é através do coeficiente de resistência, K, que é proporcional à perda de
carga calculada com base na velocidade média, obtida a partir do caudal volumétrico e da área da
secção transversal e recorrendo à Eq. (8.16). Os valores do coeficiente de resistência podem ser
encontrados em livros de tabelas e bases de dados e são apresentados em Anexo.
𝐿𝑒𝑞
Em bases de dados encontra-se tabelada a razão 𝐷
, para cada tipo de acessório. A Tabela 8.2
apresenta valores de coeficiente de resistência e de comprimento equivalente para alguns
acessórios comuns. Note-se que este tratamento respeita ao escoamento turbulento, já que em
escoamento laminar as perdas de carga em acessórios são em geral pouco importantes. Para
escoamento laminar existem poucos dados disponíveis e recomenda-se a consulta de literatura
específica.
142
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 8.2
Pretendemos caracterizar um novo modelo de válvula, recorrendo a
um manómetro diferencial em U, de acordo com o esquema.
a) Determine a equação do coeficiente de resistência da válvula com
a leitura no manómetro, para uma dada velocidade de
escoamento.
b) Nos testes efetuados com um tubo de 3,0 cm de diâmetro e
usando mercúrio como líquido manométrico, verificou-se que um
caudal de 1,42 L s-1 de água a 20 ºC provocava um desnível nos
meniscos de 33,0 cm. Qual o valor do coeficiente de resistência
nestas condições?
Resolução:
a)
Aplica-se a equação de conservação da energia entre os pontos 1 e 2:
𝑝1 𝑣12 𝑝2 𝑣22
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2 + ℎ𝐿
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔
Pela equação da continuidade, em estado estacionário, vem: 𝜌〈𝑣1 〉𝐴1 = 𝜌〈𝑣2 〉𝐴2; como o fluido é
incompressível e 𝐴1 = 𝐴2, tem-se 〈𝑣1 〉 = 〈𝑣2 〉
143
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Como 𝑧1 = 𝑧2 ⇒ 𝑝1 − 𝑝2 = 𝜌𝑔ℎ𝐿
b)
𝑄 1,42 × 10−3
〈𝑣〉 = = = 2,0 m s−1
𝐴 𝜋 × 0,0152
13600 − 1000 2 × 9,81
𝐾= × 0,33 × = 20,4
1000 2,002
Exemplo 8.3
O sistema de bombeamento esquematizado na figura destina-se a transportar óleo de soja até um tanque de
armazenagem. Pretende-se um caudal de 10 L/s e usa-se tubagem com 5,08 cm de diâmetro interno (rugosidade=
0,2 mm), com um comprimento de 1,0 m no troço a montante da bomba e de 6,0 m no troço a jusante da bomba. A
tubagem inclui uma válvula de globo aberta e cinco cotovelos padrão a 90°. Nestas condições, qual a pressão que a
bomba terá de fornecer, expressa em metros de coluna de líquido e em Pa?
1m
Resolução:
Apliquemos a equação de conservação da energia entre a superfície de fluido no tanque de sucção, ponto 1
(pressão atmosférica) e a saída do fluido na conduta (ponto 2), à pressão atmosférica:
144
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑝1 𝑣12 𝑝2 𝑣22
+ + 𝑧1 + 𝐻𝑏 = + + 𝑧2 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔
𝑄 0,010
〈𝑣〉 = = = 4,93 m s−1
𝐴 0,05082
𝜋× 4
𝑣22 4,932
𝐻𝑏 = + 𝑧2 −𝑧1 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = + 1,0 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = 2,239 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿
2𝑔 2 × 9,81
𝐿 〈𝑣〉2 〈𝑣〉2
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = 4𝑓 +∑𝐾 (perda de carga em linha + acessórios)
𝐷 2𝑔 2𝑔
Como acessórios, tem-se 5 cotovelos a 90° (𝐾 = 0,75), uma válvula em globo completamente aberta (𝐾 = 6,0)
e um estreitamento brusco (𝐾 = 0,5) ⇒ ∑ 𝐾 = 10,25. Como 𝐿 = 7,0 m e 𝐷 = 5,08 cm , vem:
7,0 4,932
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = (4 × 0,01 × + 10,25) × = 19,53 m
0,0508 2 × 9,81
𝐻𝑏 = 21,76 m
Exemplo 8.4
145
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Resolução:
Pode aplicar-se a equação de conservação da energia entre as duas superfícies de fluido, ponto 1 (no reservatório
superior) e ponto 2 (no reservatório inferior), com desnível conhecido (𝑧1 − 𝑧2 = 8,0 m ):
𝑣1 = 𝑣2 = 0; 𝑝1 = 𝑝2 = 𝑝atm
𝑧1 − 𝑧2 = ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = 8,0 m
𝐿 〈𝑣〉2 〈𝑣〉2
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = 4𝑓 𝐷 2𝑔
+∑𝐾 2𝑔
(perda de carga em linha + acessórios)
Como acessórios5, tem-se 2 cotovelos a 90º (𝐾 = 0,75), 2 cotovelos a 45º (𝐾 = 0,35), 1 válvula de guilhotina aberta
(𝐾 = 0,17), 1 válvula globo aberta (𝐾 = 6,0), um estreitamento (𝐾 = 0,5) e um alargamento (𝐾 = 0,5) ⇒ ∑ 𝐾 = 9,87.
Como 𝐿 = 150 e 𝐷 = 5,0 cm, vem:
150 〈𝑣〉2
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = (4𝑓 + 9,87) = (611,62𝑓 + 0,5031)〈𝑣〉2
0,050 2 × 9,81
A resolução não é direta, pois Re depende da velocidade, que é desconhecida. Assim, arbitra-se uma velocidade para
aproximação inicial e calcula-se Re. Com esse valor de Re e com a rugosidade relativa, obtém-se o fator de atrito no
diagrama de Moody. A partir do fator de atrito e usando a equação da energia (*), calcula-se novo valor da velocidade.
Repete-se o processo até haver convergência.
Note-se que no caso de rugosidades relativas não representadas explicitamente no diagrama de Moody, há que estimar
uma linha de tendência entre as curvas mais próximas. No caso presente são as de 𝜀𝑟 = 0,0004 e 𝜀𝑟 = 0,0006 .
Cálculoiterativo:
〈𝑣〉 (m s-1) Re 𝑓 (Moody) 〈𝑣〉 calculado
1,0 5,0 104 0,0056 1,43
1,43 7,1 104 0,0051 1,49
1,49 7,4 104 0,0051 1,49
𝐷2 0,0502
𝑄 = 〈𝑣〉𝜋 = 1,49 × 𝜋 × = 2,92 × 10−3 m3 s−1
4 4
𝑄 = 2,9 L s−1
5
Para os coeficientes de resistência (K) dos acessórios, usaram-se os dados do Anexo VI; para o estreitamento e para o
alargamento, consultou-se a Figura 8.5.
146
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 8.5
Propriedades do combustível:
= 850 kg m-3; μ = 4,5 mPa∙s
Nota: As variações temporais no desnível são
consideradas desprezáveis.
Resolução:
Pode aplicar-se a equação da energia entre as duas superfícies de fluido, ponto 1 (pressão atmosférica) e ponto
2 (𝑝rel = 157 kPa), com desnível conhecido (ℎ = 𝑧1 − 𝑧2 = 6,0 m):
Temos então:
1
Bomba
𝑧2 − 𝑧1 = −6,0 m e 𝑣1 = 𝑣2 = 0
Como acessórios, tem-se 2 cotovelos a 90º (𝐾 = 0,75), 1 válvula de guilhotina aberta (𝐾 = 0,17), um
estreitamento (𝐾 = 0,5) e um alargamento (𝐾 = 1,0) ⇒ ∑ 𝐾 = 3,17. Como 𝐿 = 10 m e 𝐷 = 76 mm , vem:
10 〈𝑣〉2
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = (4𝑓 + 3,17) = (26,825𝑓 + 0,1616)〈𝑣〉2
0,076 2 × 9,81
147
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Este exercício exige também um processo iterativo, embora envolvendo uma equação transcendente. Assim,
começa por se arbitrar a velocidade e calcula-se Re. Com o Re e a rugosidade, lê-se o fator de atrito no diagrama de
Moody, substitui-se 𝑓 e a velocidade arbitrada no termo do lado direito da equação da energia que obtivémos atrás
e calcula-se a velocidade do termo do lado esquerdo, até haver convergência (método de Lagrange).
Processo iterativo:
〈𝑣〉 (m/s) Re 𝑓 (Moody) 〈𝑣〉 calculado
(m/s)
1,0 1,44 104 0,0070 2,40
2,40 3,45 104 0,0059 2,17
2,17 3,13 104 0,0059 2,17
𝐷2 0,0762
𝑄 = 〈𝑣〉𝜋 = 2,17 × 𝜋 × = 9,8 × 10−3 m3 s−1
4 4
𝑄 = 9,8 L s−1
Para tubos com geometrias diferente da circular, a determinação da perda de carga através do
diagrama de Moody pode ser feita recorrendo à noção de raio hidráulico, que é dado pela razão
entre a área da secção transversal disponível para o escoamento, A, e o perímetro molhado, Z:
𝐴
𝑅ℎ =
𝑍 Eq. (8.20)
A razão A/Z (área/perímetro) designa-se “raio hidráulico” e representa-se por Rh.
O diâmetro equivalente é dado pelo quádruplo do raio hidráulico. Porquê o fator 4? Para o caso-
padrão do tubo cilíndrico simples, teremos
𝜋 𝐷2 /4
𝐷𝑒𝑞 = 4𝑅ℎ = 4 × =𝐷
𝜋𝐷
ou seja, desta forma garante-se a coerência do tratamento entre os tubos cilíndricos e os de outras
geometrias.
A perda de carga é então calculada recorrendo às mesmas expressões que já conhecemos, i.e., ao
número de Reynolds e ao fator de atrito de Fanning, agora expressos da seguinte forma:
𝑣𝜌𝐷𝑒𝑞
Re =
𝜇
148
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
1 𝐷𝑒𝑞 (−∆𝑝)𝑓
𝑓=
4 𝐿 1 𝜌 𝑣2
2
A perda de pressão devida ao atrito pode então ser aplicada na equação de conservação da energia,
da mesma forma que nas condutas cilíndricas.
Exemplo 8.6
Resolução:
𝐴 𝜋(𝑅 2−𝑅 2)
Neste caso temos: 𝐷𝑒𝑞 = 4 𝑍 = 4 2𝜋(𝑅𝑒 +𝑅𝑖 ) = 2(𝑅𝑒 − 𝑅𝑖 )
𝑖 𝑒
Ou seja, o diâmetro equivalente hidráulico é neste caso dado pela diferença entre os diâmetros externo e
interno:
𝐷𝑒𝑞 = 𝐷𝑒 − 𝐷𝑖
10 12
ℎ𝑓 = 4 × 0,0073 × × = 0,496 m
0,030 2 × 9,81
149
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 8.7
Considere o escoamento de ar frio numa conduta de ar condicionado. A secção da conduta é retangular, com
15 cm de altura por 40 cm de largura. Para uma velocidade média do ar de 2,0 m s -1, calcule o número de Reynolds,
admitindo uma densidade média de 1,25 kg m-3. Admita µ = 1,77 10-2 mPa·s.
l= 40 cm
Resolução:
h= 15 cm
Secção livre = 𝑙 × ℎ
Perímetro molhado = 2𝑙 + 2ℎ
𝑙×ℎ 40 × 15
𝑅ℎ = = = 5,45 cm ⇒ 𝐷𝑒𝑞 = 4𝑅ℎ = 21,8 cm
2𝑙 + 2ℎ 2 × (40 + 15)
No planeamento de uma instalação para transporte de fluidos há em geral uma gama de diâmetros
possíveis para a conduta; quando assim é, a seleção final deverá ser baseada em critérios
económicos. Esta análise é particularmente importante quando se trata de pipe-lines que
percorrem grandes distâncias. Há que considerar três categorias de custos, os de investimento,
de exploração e de manutenção.
Os custos de investimento consistem na aquisição do material e sua montagem. Esta parcela tem
uma variação aproximadamente linear com o diâmetro (ou com o peso), já que a distância é fixa.
Para além do peso da tubagem, também as bombas e acessórios, a mão-de-obra e até o sistema de
fixação são mais caros.
150
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Assim, temos:
𝐿 〈𝑣 〉2
(−∆𝑝 )𝑓 = 4𝜌𝑔𝑓
𝐷 2𝑔 Eq. (8.21)
Por outro lado, relacionado o caudal com a velocidade e o diâmetro e tomando em conta a variação
do fator de atrito com o diâmetro (por exemplo, recorrendo à equação de Blasius e às outras vistas
atrás), concluímos que a perda de pressão é inversamente proporcional a uma potência do
diâmetro, com expoente na gama 4,6 - 5,0, dependendo do número de Reynolds e da rugosidade
da tubagem:
1
(−∆𝑝)𝑓 ∝ Eq. (8.22)
𝐷4,6−5,0
O mínimo da curva dos custos totais corresponde ao “diâmetro económico” e portanto também
à “velocidade económica” – Figura 8.7.
Note-se que esta análise aplica-se apenas a escoamento turbulento. Os custos de bombeamento
aumentam rapidamente com a viscosidade, pelo que em escoamento laminar os custos de
exploração são muito elevados. Em particular, as indústrias petrolíferas e petroquímicas
consomem mais energia do que a média das indústrias químicas, no bombeamento de líquidos
viscosos. A análise dos custos de bombeamento em escoamento laminar encontra-se fora do
âmbito deste curso.
151
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
típica de gases de ventilação ou gases de combustão, transportados com muito pequena variação
de pressão e ao longo de distâncias curtas. O tratamento é feito como se de um líquido se tratasse,
𝜌1 + 𝜌2
mas usando a densidade média, 𝜌̅ = .
2
𝑝 𝑝1 𝑝2
= 𝑐𝑡𝑒 = =
𝜌 𝜌1 𝜌2 Eq. (8.23)
𝑅
em que 𝑘 = 𝑐𝑝 ⁄𝑐𝑣 é o expoente isentrópico e, para um gás ideal, 𝑐𝑝 = 𝑐𝑣 + 𝑀 .
152
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Toma-se em geral 𝑘 = 1,4 para gases diatómicos e 𝑘 = 1,30 − 1,33 para gases pooliatómnicos.
A velocidade do som
O som é uma onda de pressão e a velocidade do som corresponde à velocidade a que essa onda
se propaga no meio. Para um gás ideal, a velocidade de propagação do som é dada por
⁄ ⁄
𝑘𝑝 1 2 𝑘𝑅𝑇 1 2
) 𝑐=(=( ) Eq. (8.25)
𝜌 𝑀
e depende portanto da temperatura e da natureza do gás em causa (através de 𝑀 e 𝑘).
Define-se o número de Mach (Ma) como a velocidade adimensional referida à velocidade do som
no meio em causa,
Ma = 𝑣/𝑐
Eq. (8.26)
𝑚̇
𝜌1 〈𝑣1 〉 = 𝜌2 〈𝑣2 〉 = 𝐺 = 𝑐𝑡𝑒
𝐴
Se admitirmos em primeira aproximação que a viscosidade não depende da pressão, então μ será
constante e também será constante o número de Reynolds, que agora será expresso como:
𝐺𝐷
𝑅𝑒 =
𝜇
Dada a baixa viscosidade dos gases, o número de Reynolds é em geral elevado no escoamento
gasoso. Para além disso, é constante ao longo do escoamento, se o diâmetro da conduta for
constante e o escoamento estacionário e isotérmico. Note-se que o fator de atrito também é
constante ao longo do escoamento. Vejamos agora como podemos transformar a equação da
energia para descrever o escoamento compressível.
A equação de conservação da energia para um volume de controlo foi escrita como
153
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑝 𝜕
𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 = ∬ (𝐸 + ) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝐸𝜌 𝑑𝑉 + 𝑊̇𝜇
𝜌 𝜕𝑡
𝐴 𝑉
Se não houver trocas de calor com o exterior, nem trabalho de máquina (𝑞̇ = 0 e 𝑊̇ 𝑠 = 0) e em
estado estacionário, a equação simplifica-se para
𝑣2 𝑝
∬ (𝑈 + + 𝑔𝑧 + ) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + 𝑊̇𝜇 = 0
2 𝜌
𝐴
𝑝2
𝑣22 − 𝑣12 1
+ 𝑔 (𝑧2 − 𝑧1 ) + ∫ 𝑑𝑝 + ∑ ℱ = 0
2 𝜌
𝑝1
𝑝 1
Vejamos o integral ∫𝑝 2 𝜌 𝑑𝑝. Se o fluido for incompressível, será
1
𝑝2
1 𝑝2 − 𝑝1
∫ 𝑑𝑝 =
𝜌 𝜌 Eq. (8.27)
𝑝1
𝐿 𝑣2
ℱ = ℎ𝑓 𝑔 = 4 𝑓
𝐷 2 Eq. (8.29)
𝑑𝐿 𝑣 2
𝑑ℱ = 4 𝑓
𝐷 2
154
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑣
𝐺 = 𝜌𝑣 = ⇔ 𝑣 = 𝐺 𝑉 ⇔ 𝑑𝑣 = 𝐺 𝑑𝑉
𝑉 Eq. (8.31)
Assim, dividindo a Eq. (8.30) Eq. (8.29) por 𝑉 2 e substituindo a equação Eq. (8.31) , ela toma a
forma:
𝑑𝑉 𝑑𝑝 𝑑𝐿
𝐺2 + + 2𝑓 𝐺 2 = 0
𝑉 𝑉 𝐷 Eq. (8.32)
O que traduz o balanço à energia mecânica num sistema em escoamento, para variação de energia
potencial desprezável. Esta é a equação que deve ser integrada de forma a obter-se as variações
de pressão e/ou os caudais. O tratamento deste problema é tratado em geral em cursos de
Termodinâmica. Várias situações podem ser consideradas: escoamento isotérmico, escoamento
adiabático e escoamento isentrópico, como referimos atrás. Dado o nível introdutório do curso,
iremos aqui analisar apenas o escoamento isotérmico.
Nenhum escoamento é realmente isotérmico, mas esta é uma boa aproximação para transporte de
gases em tubagens longas e com pequena variação de pressão, em que o tempo de residência do
gás é suficientemente longo para que atinja equilíbrio térmico com a vizinhança. Para esta
aproximação, comportamento de gás perfeito,
𝑅𝑇
𝑝𝑉 =
𝑀 Eq. (8.33)
Substituindo a equação dos gases perfeitos no termo da pressão no balanço da Eq. (8.32) e
considerando o fator de atrito constante, fica
2 2 2
2∫
𝑑𝑉 𝑀 𝐺2
𝐺 +∫ 𝑝 𝑑𝑝 + 2𝑓 ∫ 𝑑𝐿 = 0 Eq. (8.34)
𝑉 𝑅𝑇 𝐷
1 1 1
Integrando:
2
𝑉2 𝑀 𝑝22 − 𝑝12 𝐺2
𝐺 ln + + 2𝑓 𝐿= 0
𝑉1 𝑅𝑇 2 𝐷
𝑀 (𝑝12 − 𝑝22 )
𝐺 =√ 2 𝑅𝑇
𝐿 𝑝
2𝑓 𝐷 + ln 𝑝1 Eq. (8.35)
2
155
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑝22
1−
𝑝12
𝐺 = √𝑝1 𝜌1 √ Eq. (8.36)
𝐿 𝑝
4𝑓 + 2 ln 2
𝐷 𝑝1
𝑀 𝜌1
𝐺 ∗ = 𝑝2∗ √ = 𝑝2∗ √
𝑅𝑇 𝑝1 Eq. (8.37)
𝑅𝑇 𝑝1
𝑣2∗ = √ = √ =𝑐 Eq. (8.38)
𝑀 𝜌1
Ou seja, à medida que p2 decresce, a velocidade aumenta até atingir a velocidade do som na secção
de saída. A partir daí, qualquer decréscimo extra da pressão à saída não se traduz num aumento
do caudal. Isto acontece porque as variações de pressão são transmitidas à velocidade do som.
Quando esta situação é atingida, mesmo que a pressão no exterior seja mais baixa, a pressão na
secção de saída não desce abaixo de 𝑝2∗. Nestas condições, o caudal não depende da pressão de
saída, embora seja sensível à pressão na entrada. Quando a variação de pressão é pequena, o termo
𝑝
ln 𝑝2 é em geral desprezável. Por outro lado, decompondo a diferença (𝑝12 − 𝑝22 ) e introduzindo
1
o conceito de densidade média:
𝑀(𝑝1 + 𝑝2 )
𝜌̅ =
2 𝑅𝑇 Eq. (8.39)
Ou
𝑀 𝜌̅
=
2 𝑅𝑇 𝑝1 + 𝑝2
156
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
A Eq. (8.36) fica bastante simplificada, podendo ser aplicada a escoamento em tubos retilíneos e
uniformes:
𝜌̅ (𝑝1 − 𝑝2 ) (1 − 𝑝1 /𝑝2 )
𝐺 =√ = √𝑝1 𝜌̅
𝐿 𝐿
2𝑓 𝐷 2𝑓 𝐷
À medida que a pressão no tubo diminui, aumenta a energia cinética do fluido à custa da energia
interna, e portanto a temperatura tende a diminuir. Assim, a manutenção de condições isotérmicas
implica a transferência de calor a partir do exterior, calor esse que pode também ser determinado
a partir do balanço à energia mas que está fora do âmbito deste curso.
A aproximação de escoamento isotérmico é válida para numero de Mach < 0,3 e aplica-se ao
transporte de gases a longas distancias e com velocidades relativamente baixas.
157
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 8.1 Pretende-se bombear água através de uma conduta circular de 50 mm de diâmetro interno, para um
reservatório, com um caudal de 2,4 L/s, a partir de um tanque situado no chão. Sabendo que o ponto de descarga
está situado 4,6 m acima do solo e que as perdas por atrito totais no sistema são de 1m de altura de água, a que
altura do tanque deve manter-se o nível da água se a bomba tiver 95 Watt de potência e a água for descarregada à
pressão atmosférica? Admita eficiência de 80%.
P 8.2 Pretende-se bombear água a 20 °C (ρ= 998 kg/m3; µ = 10-3 Pas) através de uma conduta com diâmetro
interno de 7,8 cm para um reservatório elevado. Os
troços da tubagem têm comprimento 𝐿1 = 4,6 m;
𝐿2 = 15 m e 𝐿3 = 9,1 m e o tubo ascendente faz um
ângulo de 45° com a horizontal.
a) Determine a pressão à saída da bomba para
alimentar o reservatório com um caudal de 1,14 L/s.
𝐿𝑒𝑞,𝑐𝑜𝑡𝑜𝑣
Considere 𝐷
= 15.
b) Qual é a fracção da perda de carga total que é
necessária para compensar o atrito na tubagem?
P 8.3 Pretende-se transferir petróleo bruto (ρ=870 kg/m3; μ=40 mPas) desde um tanque de armazenagem até
à refinaria, através de uma conduta de aço comercial com 25 cm de diâmetro interno, com um caudal de 0,13 m3/s.A
tubagem tem 8000 m de comprimento, 20 cotovelos padrão a 90° e 10 válvulas de guilhotina ¾ abertas. A saída (jacto
livre) está 45 m acima do nível da superfície do tanque de entrada e a pressão à saída é de 25 psig (1 psi= 6895 Pa).
Admita que a rugosidade é desprezável.
a) Qual a altura manométrica a fornecer pelo sistema de bombeamento?
b) Qual a potência necessária para actuar as bombas no sistema, se a eficiência de bombeamento for de 70%?
P 8.5 Uma bomba cuja pressão absoluta de saída é de 175 kPa bombeia um líquido com uma viscosidade de 8
mPas e com uma massa específica de 880 kg m-3 através de um tubo liso e horizontal com 1,9 cm de diâmetro interno.
Calcule o comprimento do tubo para que o caudal seja de 720 L/h.
P 8.6 Pretende-se bombear uma mistura de hidrocarbonetos a partir de um tanque de alimentação, até uma
coluna de destilação. O tanque encontra-se à pressão atmosférica e o nível do líquido no tanque é de 3 m acima do
nível do solo. O prato de entrada na coluna encontra-se 10 m acima do nível do solo e a descarga é feita sob a forma
de um jacto livre, sob uma pressão de 1,5 atm abs. A tubagem consiste em 30 m de tubo de aço (ε= 0,045 mm, D= 4
cm) com 8 cotovelos padrão a 90°, duas válvulas de globo totalmente abertas e uma bomba centrífuga com ∆𝑝𝑏 =
158
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
500 kPa. Para estas condições, qual o caudal mássico esperado? Densidade relativa da mistura: 0,89; 𝜇 = 1,5 ×
10−3 Pa · s.
P 8.7 O fornecimento de água a um prédio é feito a partir de um reservatório, através de uma conduta de 15
cm de diâmetro, sendo a distância percorrida de cerca de 800 m.
a) Se o desnível total for de 30 m, qual o caudal de água, sabendo que a rugosidade da conduta é de 0,001?
Considere que existem poucos cotovelos no circuito.
b) Se se pretender regular o caudal para metade do máximo usando uma válvula, para que fracção da abertura
máxima deverá estar regulada?
159
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
160
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
– Medidor de orifício
– Medidor Venturi
– Medidor de embocadura
Medidores de área variável: Rotâmetro
161
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
não no orifício, mas ligeiramente a jusante, já que a defleção das linhas de corrente não é
totalmente abrupta - Figura 9.2.
Vejamos os fundamentos físicos para este medidor. Admitamos que a velocidade é uniforme na
secção e que o escoamento é incompressível. Na Figura 9.3 vemos o esquema do medidor, com
a envolvente das linhas de corrente e um manómetro diferencial.
Seja 𝑣0 a velocidade no orifício e 𝐴0 a área do orifício. O balanço à massa entre a secção a
montante e o orifício diz-nos que
162
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝐴0
𝑣1 = 𝑣0
𝐴1 Eq. (9.1)
𝑝1 − 𝑝2
2( − 𝐸𝑓 )
𝜌
𝑣0 = √
𝐴 2 Eq. (9.3)
1 − (𝐴0 )
1
163
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
A parcela 𝐸𝑓 traduz uma energia por unidade de massa e é difícil de tabelar e de utilizar. Em
geral é substituída por um coeficiente adimensional chamado “coeficiente de descarga”, 𝐶𝐷 , que
é adimensional e normalizado (varia entre zero e 1) e corresponde à razão entre a velocidade de
escoamento efetiva e a velocidade ideal, i.e., sem perdas. Acresce que frequentemente a expressão
vem escrita em função dos diâmetros do tubo (𝐷1 ) e do orifício (𝐷0 ):
𝑝1 − 𝑝2
2( )
𝜌
𝑣0 = 𝐶𝐷 √
𝐷 4 Eq. (9.4)
1 − (𝐷0 )
1
𝑝 −𝑝
2 ( 1 𝜌 2)
𝑄 = 𝐶𝐷 𝐴0 √
𝐷 4 Eq. (9.5)
1 − (𝐷0 )
1
2𝜌(𝑝1 − 𝑝2 )
𝑚̇ = 𝐶𝐷 𝐴0
√ 𝐷 4
1 − (𝐷0 ) Eq. (9.6)
1
Esta é a equação de trabalho do medidor, ou seja, a equação que dá a grandeza que se pretende
determinar (neste caso o caudal) a partir da grandeza medida (neste caso a diferença de pressão
através do orifício). A diferença de registada pelo manómetro é portanto proporcional ao quadrado
do caudal. Se a perda irreversível de energia (perda permanente de pressão) for zero, então 𝐶𝐷 =
1,0 e à medida que 𝐸𝑓 aumenta, 𝐶𝐷 decresce (naturalmente, se a perda de energia fosse total,
𝐶𝐷 seria nulo e não haveria escoamento). O coeficiente de descarga depende da geometria do
orifício e também do número de Reynolds 6. Contudo, para escoamento muito turbulento,
𝐶𝐷 passa a depender apenas da geometria. De entre as diversas geometrias, a menor perda de
carga observa-se para orifícios em forma de embocadura – Figura 9.4.
𝑣0 𝜌𝐷0
6
Define-se o número de Reynolds para o orifício como Re0 = 𝜇
164
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Figura 9.4 Coeficientes de descarga para diversas geometrias de orifício (para Re0 > 10000).
O medidor de Venturi, ou tubo de Venturi, baseia-se na mesma equação de trabalho, mas tem
algumas diferenças importantes.
As perdas de carga no estrangulamento estão associadas à formação de vórtices, ou seja, de zonas
de estagnação. Se a geometria do tubo for de forma a eliminar essas zonas estagnantes, então a
perda de carga é muito diminuída. Ou seja, a geometria do tubo deve acompanhar a envolvente
das linhas de corrente, tendo portanto uma inclinação suave em vez de estreitamento e expansão
brusca - Figura 9.5. A equação é a mesma que foi apresentada para o medidor de orifício - Eq.
(9.4).
Um estrangulamento é composto de duas partes e a perda de carga é maior na expansão, pelo que
a inclinação é menor nesse troço, de acordo com a figura. Na prática, o troço convergente e o
divergente têm inclinações de 21º e de 5-15º, respetivamente. Outra característica importante é o
acabamento interior, com superfície polida de modo a minimizar a perda permanente de pressão.
Desta forma conseguem-se coeficientes de descarga de 0,98 a 0,99, ou seja, quase total
recuperação da pressão.
165
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 9.1
Um medidor de Venturi está ligado a uma tubagem (10,0 cm de diâmetro) dentro da qual escoa água. O
estrangulamento tem 7,0 cm de diâmetro e o líquido manométrico é mercúrio (ρ = 13,6 g/cm3). Se o desnível dos
meniscos for de 5,0 cm, qual será o caudal volumétrico debitado? Baseie-se na equação da energia e admita 𝐶𝐷 =
0,98.
Resolução:
Aplicando a equação de conservação da energia entre os pontos
1 e 2, situados no eixo do tubo, nos pontos de medida da pressão,
a montante do estrangulamento e no estrangulamento,
respetivamente, vem:
𝐷 2
Pela equação da continuidade, 𝑣1 = 𝑣2 (𝐷2 )
1
𝜌𝑀 − 𝜌
2( ) 𝑔(ℎ1 − ℎ2 )
𝜌
𝑣2 = 𝐶𝐷 √
𝐷 4
1 − (𝐷2)
1
Substituindo valores:
166
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
13600 − 1000
2( 1000
) × 9,81 × 0,050
𝑣2 = 0,98 × √ = 3,95 m s−1
7,0 4
1−( )
10,0
𝐷2 2 7,0 2
𝑣1 = 𝑣2 × ( ) = 3,95 × ( ) = 1,94 m s−1 ; Re = 1,9 × 104
𝐷1 10,0
0,0502
𝑄 = 1,94 × 𝜋 × = 1,52 × 10−2 m3 s−1 = 15 L s−1
4
𝑄 = 15 L s−1
O medidor de embocadura (em inglês, nozzle meter) é comparável a um medidor de orifício, mas
apresenta a secção convergente em forma de embocadura.
Mais uma vez, a equação de trabalho não se altera. O escoamento é quase isento de atrito (perdas)
no troço convergente – Figura 9.6. O coeficiente de descarga depende da geometria da
embocadura, do seu comprimento e da razão 𝐷0⁄𝐷1. Os valores típicos estão na gama 𝐶𝐷 = 0,70 −
0,98.
167
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Aplica-se aqui a equação que vimos atrás para o medidor de orifício, mas neste caso a área
disponível no orifício é muito inferior à do tanque, i.e. 𝐴0 ≪ 𝐴1 , ou 𝐷0 ≪ 𝐷1 . Por outro lado, o
ponto 2 está no exterior, pelo que 𝑝2 = 𝑝atm . Assim, fica:
2 (𝑝1 − 𝑝𝑎𝑡𝑚 )
𝑣0 = 𝐶𝐷 √
𝜌 Eq. (9.7)
Se o tanque estiver aberto para a atmosfera, então 𝑝1 − 𝑝atm = 𝜌𝑔𝐻 e a velocidade de descarga
será:
𝑣0 = 𝐶𝐷 √2𝑔𝐻
Eq. (9.8)
Exemplo 9.2
Um tanque cilíndrico com diâmetro de 2,0 m contém combustível até à altura de 2,0 m e efetua a sua
descarga através de um orifício lateral (diâmetro = 2,5 cm). Determine o tempo decorrido até que o nível
de combustível baixe para 0,5 m, sabendo que a pressão relativa no topo do tanque é de 30 kPa. Admita
que o coeficiente de descarga é de 0,63.
Propriedades do combustível: 𝜌 = 750 kg m−3 , 𝜇 = 0,5 mPa ∙ s
Resolução:
Aplicamos a equação de conservação da energia entre a superfície do fluido, ponto 1 (pressão rel. 30 kPa) e o ponto 2,
à saída do orifício (pressão atmosférica). Sabemos que 𝑣1 = 0 e 𝑣2 = 𝑣0 (velocidade no orifício). A diferença de nível
é 𝑧1 − 𝑧2 = ℎ .
Introduzindo o coeficiente de descarga CD, para corrigir a velocidade face à perda de energia mecânica devido ao atrito,
fica:
2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑣0 = 𝐶𝐷 √ + 2𝑔ℎ
𝜌
168
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Esta é a expressão da velocidade em estado pseudo-estacionário. À medida que o tanque descarrega, a altura do líquido
diminui, pelo que a velocidade na descarga também decresce com o tempo. Assim, fazemos um balanço ao volume
(fluido incompressível):
𝑑𝑉
−〈𝑣0〉𝐴0 =
𝑑𝑡
sendo
𝑑𝑉 𝑑ℎ
= 𝐴1
𝑑𝑡 𝑑𝑡
Fica portanto:
𝑑ℎ
−〈𝑣0 〉 𝐴0 = 𝐴1
𝑑𝑡
Esta é uma equação de variação da altura. Para conhecermos a lei de distribuição, ℎ(𝑡), precisamos de resolver a
equação diferencial. Trata-se de uma equação diferencial do tipo separável; substituindo a velocidade de descarga e
integrando, fica:
ℎ𝑖
𝐷1 2 1 2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑡=( ) [√ + 2𝑔ℎ]
𝐷0 𝑔𝐶𝐷 𝜌
ℎ𝑓
Substituindo valores:
2,0
2 2 1 2 × 30 × 103
𝑡=( ) [√ + 2 × 9,81 × ℎ]
0,025 9,81 × 0,63 750
0,5
Observação: no presente cálculo, o valor mais baixo de Re corresponde ao valor final, em que a altura atinge o valor
mínimo (0,5 m); para esta altura, 𝑣0 = 5,97 m s−1
Exemplo 9.3
Um tanque com diâmetro de 2,0 m tem uma camada de gasolina
sobrenadante. Se surgir um orifício de 1,0 cm 2 no fundo do tanque, qual
será o caudal de descarga inicial, admitindo que no início existiam 2,0 m
de altura de água e 1,3 m de altura de gasolina? Ao fim de quanto tempo
começará a gasolina a sair pelo orifício?
Dados: CD = 0,63; densidade relativa da gasolina = 0,688.
Resolução:
169
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Coloquemos o ponto 1 na interface entre os dois líquidos e o ponto “o” na descarga, i.e., na vena contracta. Será
então 𝑣1 = 0 e a pressão nesse ponto é constante e igual à pressão hidrostática da gasolina, ainda que a pressão no
fundo do tanque seja variável. A equação de conservação da energia entre os pontos 1 e 2 fica na forma:
𝑣02 𝑝1 − 𝑝2
= + 𝑧1 − 𝑧2 − ℎ𝑓
2𝑔 𝜌2 𝑔
2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑣0 = 𝐶𝐷 √ + 2𝑔ℎ2
𝜌2
𝑝2 ≡ 𝑝𝑎𝑡𝑚
𝑝1 − 𝑝𝑎𝑡𝑚 = 𝜌1 𝑔ℎ1
Substituindo valores:
2 × 8774
𝑣0 = 0,63 × √ + 2 × 9,81 × 2 = 4,75 m s−1
1000
𝑄 = 0,48 L s−1
À medida que o tanque descarrega, a altura ℎ2 diminui, pelo que a velocidade na descarga também decresce
com o tempo. Assim, temos de fazer um balanço à massa, considerando apenas o fluido que está a descarregar, ou
seja, a água.
𝑑ℎ
−〈𝑣0 〉𝐴0 = 𝐴1
𝑑𝑡
2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑣0 = 𝐶𝐷 √ + 2𝑔ℎ2
𝜌2
ℎ𝑖
𝐷1 2 1 2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑡= ( ) [√ + 2𝑔ℎ]
𝐷0 𝑔𝐶𝐷 𝜌
ℎ𝑓
Substituindo valores:
2,0
𝜋 1 2 × 8774
𝑡 = −4 × [√ + 2 × 9,81 × ℎ2 ] = 3,83 × 104 s
10 9,81 × 0,63 1000
0
𝑡 = 10h 38 min
170
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Observação: O coeficiente de descarga é constante para Re 30000, pelo que devemos averiguar a validade da
utilização de CD = 0,63 na expressão da velocidade de descarga no orifício.
3000 × 0,001
Re = 30000 ⟹ 𝑣0 = = 2,66 m s−1
1000 × 0,01128
2 × 8774
𝑣0 = 𝐶𝐷 √ + 2𝑔ℎ
𝜌
Então, o número de Reynolds é sempre muito elevado e só vai abaixo de Re = 30000 no final da descarga,
quando se atinge 1,3 cm de altura de água. Este periodo tem pouco peso no cálculo, pelo que é razoável o uso do
valor constante para CD na descarga de água desde 2,0 m de altura até zero.
9.4 O Rotâmetro
Descrevemos três medidores de caudal que tinham em comum o facto de apresentarem geometria
fixa e diferença de pressão variável. Ou seja, a um estrangulamento cuja geometria não se altera
vai corresponder uma diferença de pressão que é proporcional ao quadrado do caudal volumétrico.
O rotâmetro, pelo contrário, trabalha com uma diferença de pressão fixa e uma geometria variável.
Este efeito é conseguido através de um tubo vertical que alarga ligeiramente no sentido ascendente
e dentro do qual é colocado um flutuador. O fluido sobe dentro do tubo e empurra o flutuador até
uma posição de equilíbrio - Figura 9.8.
171
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Vamos admitir que a força de pressão na parte superior e na parte inferior do objeto é uniforme e
dada pela pressão multiplicada pela área projetada do objeto (que vamos tomar como uma esfera).
Seja 𝜌𝐵 a densidade do flutuador, 𝜌𝑓 a densidade do fluido e 𝐷0 o diâmetro do flutuador.
𝜋 3 𝜋 𝜋 𝜋
𝐷0 𝜌𝐵 𝑔 + 𝑝3 𝐷02 − 𝐷03 𝜌𝑓 𝑔 − 𝑝1 𝐷02 = 0
6 4 6 4
𝜋 3 𝜋
𝐷0 (𝜌𝐵 − 𝜌𝑓 )𝑔 = 𝐷02 (𝑝1 − 𝑝3 )
6 4 Eq. (9.10)
𝐴 2
Em geral (𝐴2 ) ≪ 1 e por isso o último termo pode ser desprezado. Por outro lado, o escoamento
1
entre 2 e 3 é do tipo “alargamento brusco” e por isso a pressão é quase constante, i.e., 𝑝3 ≅ 𝑝2.
Combinando o balanço às forças com a equação de Bernoulli, fica:
172
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
1⁄2
4 𝐷0 𝑔 𝜌𝐵 − 𝜌𝑓
𝑣2 = ( ∙ )
3 𝜌𝑓
Eq. (9.12)
Concluímos então que, para uma determinado conjunto esfera-tubo, e sabendo as densidades da
esfera e do fluido, há uma única velocidade que mantém a esfera em suspensão. Daqui resulta que
a altura da esfera vai ter um valor fixo para cada caudal. A altura da esfera vai ser diretamente
proporcional ao caudal volumétrico.
Na prática há alguns ajustes a fazer e por isso os rotâmetros são em geral calibrados para cada
fluido. Os rotâmetros têm muita aplicação prática, quer para líquidos quer para gases. Como
exemplo, no meio hospitalar a medição dos caudais de ar e de oxigénio é feita recorrendo a
rotâmetros.
O Tubo de Pitot é um medidor de velocidades locais. Na sua forma mais simples, consiste num
tubo vertical em que a extremidade superior se encontra fora do líquido em movimento e a inferior
está aberta contra o escoamento (Figura 9.9).
Com o líquido parado, o menisco estará à mesma altura da superfície do líquido. Quando o líquido
está em movimento, o menisco subirá tanto mais quanto maior for a velocidade do escoamento.
O ponto 2 é um ponto de estagnação, ou seja, nesse ponto a velocidade é nula e a pressão aumenta,
em resultado da conversão da carga de velocidade em carga de pressão. A pressão medida nesse
ponto, 𝑝2, é chamada “pressão de estagnação”; 𝑝1 é a pressão estática.
173
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑝2 𝑝1 𝑣12
= +
𝜌𝑔 𝜌𝑔 2𝑔
𝑝2 = 𝑝𝑇 = 𝑝𝑎𝑡𝑚 + 𝜌𝑔(ℎ + ℎ′ )
𝑝1 = 𝑝𝑠 = 𝑝𝑎𝑡𝑚 + 𝜌𝑔ℎ′
𝑣1 = √2𝑔ℎ
𝑣12
ℎ =
2𝑔 Eq. (9.13)
Ou seja, a altura do menisco acima da superfície do líquido é igual à carga de velocidade. Aqui
admite-se que não há perda de carga provocada pelo tubo; na realidade há uma ligeira perda,
tipicamente inferior a 1%, que é desprezada. O tubo de Pitot é usado para medir a velocidade de
embarcações em relação à água, por exemplo.
O tubo de Pitot estático é usado para medir a velocidade dentro de condutas, ou a velocidade do
vento, mas também a velocidade de aeronaves relativamente ao ar. Neste caso os dois ramos são
ligados a um manómetro diferencial, dentro do qual há um líquido manométrico – Figura 9.10.
A equação de trabalho contempla um coeficiente de perda (coeficiente do tubo de Pitot, 𝐶𝑃 ), que
é equivalente ao coeficiente de descarga nos medidores de caudal, fica:
2(𝑝𝑇 − 𝑝𝑠 )
𝑣 = 𝐶𝑃 √
𝜌 Eq. (9.14)
Na maioria dos casos considera-se que a perda de carga provocada pelo tubo de Pitot é
desprezável, pelo que 𝐶𝑃 = 1,0.
Figura 9.10 Tubo de Pitot estático, num tubo (esq) e numa aeronave (dta).
174
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Henri Pitot
(França, 1695 –1771)
Foi um engenheiro francês especializado em hidráulica. Utilizou o Rio Sena
para testar várias das suas teorias e instrumentos, tendo realizado várias
experiências com vista a determinar a velocidade de escoamento da água em
diferentes partes da secção transversal do rio.
Inventou um instrumento para medir a velocidade dos fluidos e que é conhecido
hoje pelo seu nome, o tubo de Pitot; este instrumento é ainda empregue em
diversas aplicações, nomeadamente na aeronáutica.
Publicou vários trabalhos sobre estruturas, hidráulica, matemática e
saneamento e desenvolveu investigações científicas sobre as bombas e o
rendimento das máquinas hidráulicas, que constituíram importantes
contribuições para a hidrodinâmica e a termodinâmica.
Exemplo 9.4
Resolução:
𝑝1 𝑣2 𝑝 𝑝
Equação de Bernoulli, com 𝑣2 = 0 e 𝑧1 = 𝑧2 : + 2𝑔1 = 𝜌𝑔2 = 𝜌𝑔𝑇
𝜌𝑔
Como 𝑣1 = 𝑣, pois o tubo tem secção constante (admitimos que o atrito é
desprezável):
2(𝑝𝑇 − 𝑝1 )
𝑣=√
𝜌
Pela hidrostática: 𝑝2 − 𝑝1 = (𝜌M − 𝜌)𝑔ℎ
2(𝜌M − 𝜌)𝑔ℎ 𝑣2𝜌
𝑣=√ ⇔ ℎ=
𝜌 2(𝜌M − 𝜌)𝑔
Substituindo valores:
2,02 × 660
ℎ=
2 × (1000 − 660) × 9,81
ℎ = 39,6 cm
175
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 9.5
Ar circula numa conduta com 5,0 cm de diâmetro, com caudal
desconhecido. No centro da conduta, instalou-se um tubo de Pitot (ver
figura), sendo o desnível ℎ no manómetro de 4,5 cm. Qual a velocidade
local do ar?
Resolução:
pois 𝑝2 − 𝑝3 = 𝑝2 − 𝑝1 = (𝜌M −
3
.
𝜌)𝑔ℎ . .
.
1 2
3
e 𝑝2 = 𝑝𝑇
Substituindo valores:
Exemplo 9.6
A velocidade de água passando num canal aberto é medida usando um tubo de Pitot simples.
a) Como variará a leitura h se a pressão exterior relativa aumentar para o dobro?
b) Como variará a leitura h se a velocidade aumentar para o dobro?
c) Como variaria a leitura se a medida fosse repetida num planeta com metade da força gravítica?
d) Qual a velocidade que corresponde a uma altura h = 40,0 cm?
176
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Resolução:
a)
Tal como anteriormente, tem-se:
𝑝1 𝑣12 𝑝2 𝑝𝑇
+ = =
𝜌 2 𝜌 𝜌
2(𝑝𝑇 − 𝑝1 )
𝑣=√
𝜌
Pela hidrostática:
𝑝1 = 𝑝atm + 𝜌𝑔ℎ2
𝑝𝑇 = 𝑝atm + 𝜌𝑔(ℎ1 + ℎ2 )
𝑝𝑇 − 𝑝1 = 𝜌𝑔ℎ1
𝑣2
𝑣 = √2𝑔ℎ1 ⇔ ℎ1 =
2𝑔
A leitura ℎ1 só depende da velocidade e da aceleração da gravidade, logo não varia com a pressão exterior,
que na dedução se assumiu ser a pressão atmosférica.
b)
𝑣2
Como ℎ1 = 2𝑔
se a velocidade duplicar, ℎ1 quadruplica, pois 22 = 4.
𝑣2
c) Como ℎ1 =
2𝑔
se g diminuir para metade, ℎ irá duplicar, pois 1÷ 0,5 = 2 .
177
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 9.1 Um medidor de caudal com um orifício de 8 cm, está montado num tubo com 10 cm de diâmetro interno
por onde circula água e regista uma diferença de nível de 10 cm no manómetro de mercúrio.
Determine o caudal mássico de água, admitindo que o coeficiente de descarga do orifício vale 0,63.
P 9.2 Um reservatório cilíndrico com uma altura de 3 m e com 0,5 m2 de área de base está inicialmente cheio
de água. Num dado instante abre-se na base do tanque um orifício circular com 5 cm2 de área. Admita 𝐶𝐷 = 0,63.
Determine:
a) A expressão que correlaciona o tempo com a altura do nível do líquido.
b) O tempo necessário para o tanque esvaziar por completo.
P 9.3 Um tubo de Pitot é usado para medir o perfil de velocidade no interior de um tubo que transporta ar.
Determine o valor da velocidade local sabendo que a diferença da altura entre meniscos do manómetro de água é de
10 cm.
P 9.4 Água circula através de uma conduta com a forma apresentada na figura, passando por uma contração de
diâmetro de 15 cm para 10 cm. O caudal é 0,028 m3/s.
a) Calcule a diferença de nível no manómetro diferencial de mercúrio, admitindo que não há perdas de carga
por atrito.
b) Qual dos ramos do manómetro apresenta o menisco a maior altura?
c) Qual o erro resultante de desprezar a densidade da água na leitura no manómetro?
178
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
O estudo do escoamento turbulento tem como finalidade tornar o conhecimento deste tipo de
escoamento mais profundo e mais próximo do grau de conhecimento do escoamento laminar.
Note-se que para os processos de transferência de calor e de massa, como em dimensionamento
de equipamentos e no estudo de operações unitárias, recorre-se em geral à dinâmica de fluidos a
fim de entender o transporte convectivo, pelo que um melhor conhecimento da turbulência
reveste-se de grande importância a nível tecnológico.
179
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
No caso do escoamento turbulento, a velocidade em cada ponto varia com o tempo, com
flutuações rápidas que são características da turbulência – Figura 10.1. A velocidade instantânea
pode ser descrita como a soma de duas parcelas, a velocidade média temporal, e a flutuação, 𝑣′ :
𝑣𝑥 = 𝑣̅𝑥 + 𝑣′𝑥 Eq. (10.1)
A média temporal corresponde à média da velocidade calculada para um intervalo de tempo t1,
suficientemente grande para eliminar as flutuações características da turbulência (algumas delas
com uma frequência tão alta que não são detetadas pelos sistemas de medida), mas
suficientemente pequeno para não mascarar a evolução efetiva do sistema:
1 𝑡+𝑡1
𝑣̅𝑥 = ∫ 𝑣𝑥 𝑑𝑡
𝑡1 𝑡 Eq. (10.2)
A flutuação é portanto o desvio relativamente à média e, por definição, a sua média será nula:
𝑡+𝑡1
̅𝑥 = 1 ∫
𝑣′ 𝑣′𝑥 𝑑𝑡 = 0
𝑡1 𝑡 Eq. (10.3)
180
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Para uma mesma velocidade de escoamento é possível ter diferentes intensidades da turbulência.
Quanto maior essa intensidade, maior a energia cinética do fluido. Ou seja, para uma mesma
velocidade de escoamento, em regime turbulento a energia cinética do fluido é maior do que em
regime laminar e, para além disso, é tanto maior quanto mais turbulento for o escoamento. A
turbulência pode ser totalmente isotrópica, i.e., pode ter a mesma intensidade em todas as
direções, ou pode ter maior intensidade em alguma direção.
A flutuação da velocidade contribui para o transporte de quantidade de movimento mas não
contribui para o escoamento. Tomemos o caso de uma conduta circular com escoamento axial.
As flutuações da velocidade segundo θ e segundo r contribuem para o transporte (convectivo) de
quantidade de movimento, segundo um mecanismo que é específico da turbulência e que atua em
paralelo com o mecanismo molecular. Na direção do escoamento, que é a única segundo a qual
haverá em condições normais uma média temporal não-nula, é essa média temporal que se
considera quando se fala da velocidade num ponto. Ou seja, a velocidade num ponto ao longo da
direção z será 𝑣̅𝑧 . Se integrarmos esta velocidade para a secção transversal da conduta teremos o
caudal volumétrico:
2𝜋 𝑅
𝑄 =∫ ∫ 𝑣̅𝑧 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃
0 0
Eq. (10.6)
Por sua vez, a velocidade média na secção é definida como a média geométrica das velocidades
locais, ou seja, a média espacial da média temporal. Existe portanto uma relação simples entre a
velocidade média e o caudal volumétrico:
2𝜋 𝑅
∫0 ∫0 𝑣̅𝑧 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 𝑄
〈𝑣̅𝑧 〉 = 2𝜋 𝑅 =
∫0 ∫0 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 𝜋𝑅2 Eq. (10.7)
181
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Estas flutuações locais da velocidade geram tensões locais, que causam uma boa eficiência no
transporte de quantidade de movimento. Essas tensões (designadas por tensor de Reynolds)
também flutuam obrigatoriamente com o tempo, tal como as velocidades que as originam. Esse
acréscimo de tensão existirá também nas várias direções, e a sua média temporal em cada ponto
(𝑡)
será dada por 𝜏̅𝑟𝑧 .
Ou seja, em cada ponto o fluxo de quantidade de movimento é descrito como uma soma:
Apesar da semelhança no formalismo, 𝜇 (𝑙) e 𝜇 (𝑡) têm significados físicos distintos. A viscosidade
𝜇 (𝑙) é uma propriedade do fluido, que por isso é constante através do campo de velocidades num
escoamento isotérmico, ao passo que 𝜇 (𝑡) é um parâmetro inspirado na Teoria Cinética dos Gases
e que toma um valor crescente à medida que aumenta a distância à parede.
182
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Existe proporcionalidade direta entre caudal e perda de pressão por atrito, tal como
descrito pela equação de Hagen-Poiseuille:
(−∆𝑝)𝑓 ∝ 𝑄
Eq. (10.11)
𝑟 2
𝑣 = 𝑣max [1 − ( ) ]
𝑅 Eq. (10.13)
Em escoamento turbulento dentro de condutas, para Re entre 104 e 105, em escoamento dentro
de condutas, usam-se vulgarmente as seguintes equações semi-empíricas:
(−∆𝑝)𝑓 ∝ 𝑄7⁄4
Eq. (10.14)
𝑟 1/7
𝑣̅ = 𝑣̅max (1 − ) Eq. (10.16)
𝑅
Esta distribuição de velocidades é semi-empírica e é válida apenas na gama referida para o número
de Reynolds. O perfil correspondente é bastante achatado, ao contrário do regime laminar – Figura
10.2.
Na zona central da conduta circula portanto o fluido mais rápido, ao passo que junto às paredes
escoa o fluido “lento”.
183
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
0,8
0,6
v/vmax
0,4
0,2
0
-1 -0,5 0 0,5 1
r/R
10.3 A camada-limite
Quando um fluido escoa em contacto com uma superfície estacionária, como é o caso do leito de
um rio, de uma parede em contacto com o vento ou da parede interna de uma conduta, a camada
de fluido em contacto com a superfície sofre uma força de corte, 𝐹0 = 𝜏0 𝐴, que faz com que o
fluido pare na interface. Esta alteração da velocidade do fluido (provocada portanto pela ausência
de escorregamento na parede) vai provocar um gradiente de velocidades desde a parede até um
máximo na corrente principal. Esta camada é em geral bastante fina, mas por vezes pode ser
observada a olho nu: por exemplo, junto à parte lateral de um barco é fácil observar uma porção
de água que se desloca a uma velocidade muito menor do que a corrente principal, relativamente
ao barco.
Este aumento da velocidade a partir da superfície através de uma camada pouco espessa
traduz-se em variações bruscas da velocidade, ou seja, um gradiente de velocidade elevado e
portanto uma força de corte importante.
184
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Este fenómeno foi explicado por um engenheiro alemão, Ludwig Prandtl (Heidelberg, 1904),
que propôs que o escoamento exterior a objetos podia ser descrito como duas regiões, sendo uma
região próxima da superfície, onde a tensão de corte é importante, e o restante campo de
velocidades, onde as variações de velocidade são pouco importantes e por isso o fluido pode ser
tratado como invíscido. À região próxima da superfície, onde se concentra a maioria da variação
da velocidade, chama-se camada limite.
Este modelo veio estabelecer a ponte entre a hidrodinâmica clássica, em que os fluidos eram
tratados como invíscidos, e o comportamento observado em fluidos reais.
Vejamos então o que acontece quando um fluido com velocidade uniforme entra em contacto com
uma superfície paralela ao vetor velocidade. Em virtude da ausência de escorregamento na parede,
a primeira camada de fluido que entra em contacto com a superfície pára instantaneamente devido
à força exercida pela parede; por outro lado, essa camada está em contacto com o restante fluido,
que exerce uma força no sentido do escoamento. Daqui resulta uma tensão de corte elevada e
também a formação de um gradiente de velocidade na direção normal à superfície, que se traduz
num perfil de velocidades de acordo com a Figura 10.3.
Este perfil de velocidades não surge bruscamente, antes se desenvolve de uma forma gradual
desde o ponto em que o fluido entra em contacto com a superfície – por exemplo, desde o ponto
de entrada numa conduta.
A camada limite é então definida como a região do campo de velocidades na qual a velocidade
é afetada pela proximidade de uma superfície. Para efeitos de cálculo, considera-se que a
espessura da camada limite, δ, é a distância da parede ao ponto em que
𝑣 = 0,99 𝑣∞
185
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Uma boa forma de observar este fenómeno é recorrendo a uma placa plana mergulhada num fluido
em escoamento na direção paralela à placa. Na frente da placa gera-se então uma camada limite,
cuja espessura aumenta gradualmente desde zero, à medida que sucessivas camadas de fluido vão
sendo retardadas pelas camadas adjacentes, com velocidade mais baixa. É claro que isto se traduz
na propagação de uma força através de uma porção de fluido. O fluido mais distante da superfície
vai arrastando para a frente o fluido mais lento, que por sua vez contra-exerce uma força
retardadora.
Dado que a velocidade é sempre zero na interface e tem o valor da corrente (𝑣∞ ) à distância, então
o gradiente de velocidades vai diminuindo à medida que a camada se torna mais espessa – Figura
10.4. Ou seja, a força de corte também vai diminuindo. Numa primeira fase, quando o gradiente
de velocidades é grande, o escoamento dentro da camada limite é laminar. No entanto, quando a
tensão de corte desce, atinge um ponto em que já não é suficiente para manter fluido em camadas,
e então o fluido começa a rodar, gerando-se turbulência. Este movimento de rotação resulta de
uma deslocação de fluido proveniente da região que se move mais rapidamente para zonas mais
próximas da parede, onde a velocidade é mais baixa, transferindo assim quantidade de
movimento.
Em contrapartida, o fluido mais lento desloca-se para a zona mais rápida, diminuindo assim
a velocidade nessa zona. Desta mistura de porções de fluido resulta um menor gradiente de
186
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Nos pontos muito próximos da superfície conserva-se no entanto uma variação intensa da
velocidade, onde as forças viscosas mantêm o fluido em escoamento laminar. Esta região designa-
se subcamada viscosa (ou laminar). Esta subcamada existe dentro da região turbulenta, localiza-
se junto à parede e tem espessura muito pequena, tipicamente inferior a 1 mm. Entre a subcamada
laminar e o núcleo turbulento existe uma região-tampão – Figura 10.6.
187
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
A descrição desta camada faz uso de uma definição do número de Reynolds para a camada limite,
dado por:
𝑣∞ 𝜌𝑥
Re𝑥 =
𝜇 Eq. (10.17)
em que 𝑣∞ é a velocidade livre e x a distância medida desde a frente de ataque à superfície.
Em cada ponto, a espessura da camada limite, δ, pode ser estimada por:
Camada 4,91𝑥
limite 𝛿≈
√𝑅𝑒𝑥 Eq. (10.18)
laminar:
Camada
0,382𝑥
limite 𝛿≈ ⁄5
turbulenta: 𝑅𝑒𝑥 1 Eq. (10.19)
188
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Os efeitos da tensão de corte na parede, e portanto da camada limite, são cruciais para a perda de
carga de fluidos em escoamento dentro de tubos. Um dos fatores relevantes na perda de carga é a
rugosidade da parede, que afeta o fator de atrito em escoamento turbulento. Como já sabemos,
tubos rugosos têm maior fator de atrito e portanto maior perda de pressão, para idêntico número
de Reynolds. Por outro lado, em escoamento laminar não há influência da rugosidade sobre a
perda de carga (dada pela equação de Hagen-Poiseuille para líquidos Newtonianos). Este efeito
da rugosidade está relacionado com o valor relativo da rugosidade e da região laminar. Assim,
em regime turbulento, o tubo ser tratado como rugoso significa na prática que a rugosidade excede
a espessura da subcamada laminar.
189
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Figura 10.7 Desenvolvimento do perfil de velocidades dentro de uma conduta, em escoamento laminar
(a) ou escoamento turbulento (b).
190
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜏𝑤
𝑣∗ = √
𝜌 Eq. (10.20)
𝑣∗ 𝜌𝑦
𝑦+ =
𝜇 Eq. (10.22)
Note-se que y+ corresponde na realidade a um número de Reynolds local.
Como exemplo, vamos então demonstrar a equação da distribuição de velocidades na subcamada
laminar, isto é, junto à parede. Nesta região predomina o transporte molecular de quantidade de
movimento, pelo que podemos desprezar o escoamento turbulento:
𝑑𝑣𝑧
𝜏𝑟𝑧 = 𝜏 (𝑙) + 𝜏 (𝑡) ≅ 𝜏 (𝑙) = −𝜇
𝑑𝑟 Eq. (10.23)
𝑝0 − 𝑝𝐿
𝜏𝑤 = 𝑅
2𝐿
191
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑣 𝑦
1 𝑦
∫ 𝑑𝑣𝑧 = ∫ 𝜏𝑤 (1 − ) 𝑑𝑦
𝜇 𝑅
0 0
𝜏𝑤 𝑦2
𝑣𝑧 = (𝑦 − ) + 𝐶1
𝜇 2𝑅
Esta é a variação da velocidade com y, que vamos agora transformar para os parâmetros
adimensionais:
𝜏𝑤 𝑦
𝑣+ = 𝑦 (1 − ) + 𝐶1
𝜇𝑣∗ 𝐷
Para a condição de fronteira, temos que na parede 𝑣 + = 0, pelo que 𝐶1 = 0.
Por outro lado, considerando a subcamada viscosa, que fica numa região muito próxima da
𝑦
parede, 𝑦 tem um valor muito pequeno, pelo que ≪ 1 e resulta:
𝐷
𝜏𝑤 𝑦 𝜌 𝑣∗
𝑣+ = = 𝑦 = 𝑦+
𝜇𝑣∗ 𝜇
Concluímos que, na subcamada laminar, 𝑣 + = 𝑦 + , ou seja, a velocidade adimensional é
numericamente igual à distância à parede adimensional (ou seja, ao número de Reynolds local).
Para as outras regiões a dedução é comparável, sendo que no núcleo turbulento despreza-se a
componente do transporte molecular na Eq. (10.10). As correlações relativas às três regiões de
escoamento designam-se por Equações de Nikuradse:
Subcamada laminar 𝑦+ ≤ 5 ⟹ 𝑣+ = 𝑦+
Eq. (10.24)
Região tampão 5 < 𝑦 + < 30 ⟹ 𝑣 + = −3,05 + 5 ln 𝑦 + Eq. (10.25)
+ + +
Núcleo turbulento: 𝑦 > 30 ⟹ 𝑣 = 5,5 + 2,5 ln 𝑦 Eq. (10.26)
A separação entre as regiões é feita com base no valor do número de Reynolds local. Na
subcamada laminar predomina o transporte molecular de quantidade de movimento e no núcleo
turbulento predomina o transporte turbulento. Na região de transição ambos os mecanismos são
activos. Isto significa que temos transporte molecular misturado com alguns vórtices que tornam
mais efetivo o transporte. Assim, a menor espessura vai ser a da subcamada laminar, que é
também onde a variação da velocidade é mais pronunciada.
192
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 10.1
Num tubo liso, com diâmetro de 10,0 cm, circula água em escoamento turbulento, com uma perda de carga de
16 Pa m-1.
a) Determine a espessura da subcamada laminar, recorrendo ao modelo de Nikuradse para a distribuição de
velocidades.
b) Qual a velocidade no eixo do tubo e a 1,0 mm da parede?
Resolução:
a)
𝑦 + = 5 quando 𝑦 atinge no limite da subcamada laminar. Para
Na subcamada laminar, 𝑣 + = 𝑦 + . Então
+
determinar o grupo adimensional 𝑦 (Reynolds local), é necessário calcular a velocidade característica 𝑣∗ (velocidade
de atrito), a qual é função da tensão de corte na parede.
A tensão de corte na parede pode ser obtida a partir do balanço macroscópico às forças. Não há variação da
quantidade de movimento na direcção do escoamento, visto estar-se em estado estacionário e a secção ser uniforme.
𝑝0 −𝑝𝐿 𝐷 𝐹
Tensão de corte na parede: 𝜏𝑤 = 𝐿 4
, pois 𝜏𝑤 = 𝜋𝐷𝐿
𝜏
Substituindo valores:
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝐷 0,10
𝜏𝑤 = = 16 × = 0,40 Pa
𝐿 4 4
𝜏𝑤 0,40
𝑣∗ = √ = √ = 0,020 m 𝑠 −1
𝜌 1000
𝑣∗ 𝜌𝑦 5 × 0,001
𝑦+ = =5⇒𝑦= = 2,5 × 10−4 m
𝜇 0,020 × 1000
𝑦 = 2,5 mm
b)
193
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑣̅
Como 𝑣 + = , a velocidade média temporal no eixo do tubo é 𝑣̅ = 22,8 × 0,020 = 0,46 m s−1
𝑣∗
0,020 × 1000 × 0,001
𝑦 = 1 mm ⇒ 𝑦 + = = 20 (região tampão)
0,001
𝑣 + = −3,05 + 5 𝑙𝑛 𝑦+ = −3,05 + 5 𝑙𝑛(20) = 11,9
𝑣̅
Como 𝑣 + = 𝑣 , a velocidade média temporal para 𝑦 = 1 mm é 𝑣̅ = 11,9 × 0,020 = 0,24 m s−1
∗
Exemplo 10.2
Água circula num tubo liso com um diâmetro de 10,0 cm, em estado estacionário. A tensão de corte na parede
é 0,40 Pa.
Determine a razão 𝜇 (𝑡) /𝜇 para 𝑦 = 𝑅/2. Comente o resultado.
Repita o exercício considerando um ponto situado a 0,5 mm da parede.
Resolução:
O parâmetro que se pretende calcular é importante do ponto de vista mecanístico e do modelo. Ou seja, quanto
mais nos afastarmos da parede, mais importante será a pseudo-viscosidade turbulenta, pelo que predomina o
𝜇(𝑡)
transporte turbulento de quantidade de movimento e consequentemente a razão deverá ser elevada. Na
𝜇
subcamada laminar, por outro lado, será de esperar um valor muito baixo para esta razão, dado que predomina o
mecanismo viscoso da quantidade de movimento.
Para a resolução, é necessário manipular a seguinte expressão de modo a poder usar-se os dados do enunciado
e a Distribuição Universal de Velocidades:
𝑑𝑣𝑧
𝜏 = −(𝜇 (𝑡) + 𝜇)
𝑑𝑟
𝑝0−𝑝𝐿 𝑅
Como 𝜏𝑤 =
𝐿 2
e 𝑦 = 𝑅 − 𝑟, em que 𝜏𝑤 é a tensão de corte na parede e y a distância à parede, vem:
𝑟 𝑦
𝜏 = 𝜏𝑤 = 𝜏𝑤 (1 − )
𝑅 𝑅
𝑅−𝑦
𝜏 𝜇( 𝑡 ) 𝑑𝑣𝑧 𝜇( 𝑡 ) 𝜏𝑤
= −( + 1) ⇒ = − 𝑑𝑣𝑅 − 1
𝜇 𝜇 𝑑𝑟 𝜇 𝜇 𝑧
𝑑𝑟
194
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝑦+𝜇 𝜇
Como 𝑑𝑟 = −𝑑𝑦 e 𝑦 = ⇒ 𝑑𝑟 = − 𝑑𝑦 +
𝑣∗ 𝜌 𝑣∗ 𝜌
𝑑𝑣𝑧 2
= −𝑣∗𝜇𝑑𝑣𝑑𝑦+ = − 𝜌𝑣𝜇∗ 𝑑𝑣
𝑣 + +
Como 𝑣 + = ⇒ 𝑑𝑣 = 𝑣∗ 𝑑𝑣 + ⇒
𝑣∗ 𝑑𝑟 𝑑𝑦 +
𝑣∗ 𝜌
𝜏𝑤 𝑑𝑣𝑧 𝜏𝑤 𝑑𝑣 +
Como 𝑣∗2 = 𝜌
⇒ 𝑑𝑟
=− 𝜇 𝑑𝑦 +
𝑅−𝑦
𝜇 (𝑡) 𝜏𝑤
Substituindo em =− 𝑑𝑣𝑧
𝑅
− 1, vem:
𝜇 𝜇
𝑑𝑟
𝑅−𝑦 𝑦
𝜇 (𝑡) 𝜏𝑤
𝑅
1−
𝑅
=− −1 = −1
𝜇 𝑑𝑣+ 𝑑𝑣+
−𝜏𝑤 𝑑𝑦+ 𝑑𝑦+
A expressão que vamos usar é esta para as duas alíneas, com a diferença de que a distribuição de 𝑣 + vai
depender da localização do ponto.
a)
𝑅
É necessário calcular 𝑦 + para 𝑦 = 2 = 0,025 m:
b)
𝑦 = 0,5 mm:
𝑦 5 × 10−4
𝜇 (𝑡) 1 − 𝑅 1−
0,050
= = −1
𝜇 𝑑𝑣+ 5
𝑑𝑦+ 10
𝜇 (𝑡)
= 0,98
𝜇
Porque estamos muito próximos da parede, predomina o transporte viscoso de quantidade de movimento. Isto
significa que na proximidade deste ponto é válida a lei de Newton da viscosidade.
195
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 10.1 Faz-se escoar água a 20 °C através de um tubo liso, rectilíneo e horizontal, de diâmetro 0,150 m, com um
gradiente de pressão ao longo do tubo de 4,3 N m-3.
a) Calcule a tensão de corte na parede.
b) Calcule a espessura da subcamada laminar.
c) Considerando o escoamento turbulento, calcule as distâncias radiais y, contadas a partir da parede, para as
𝑣̅𝑧
quais = 0; 0,1; 0,2 ; 0,4 e 1,0.
𝑣̅𝑧,max
P 10.2 Num tubo liso com diâmetro de 8 cm circula ocorre um escoamento turbulento de um fluido ( = 900 kg
m-3; μ = 1,2 mPas) com perda de carga de 30 Pa por metro linear de tubo.
a) Determine a espessura da região tampão.
b) Estime a velocidade no eixo do tubo.
c) Estime o caudal volumétrico de fluido a partir da velocidade obtida em b).
Ludwig Prandtl
(Frisinga, 1875 — Gotinga, 1953)
196
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
A situação em que o fluido em escoamento envolve um corpo, chocando contra ele e exercendo
uma força na superfície, é muito relevante em diversas áreas da Engenharia, como seja no
escoamento de ar exteriormente a aeronaves ou de água contra submarinos, mas também no
projeto de operações de sedimentação e no escoamento de líquidos de arrefecimento
transversalmente a tubos de permutadores de calor. Neste tipo de problemática importa em geral
conhecer a força exercida na superfície e relacioná-la com a velocidade de aproximação
(velocidade relativa fluido-superfície).
Consideremos uma esfera a cair com velocidade uniforme no seio de um líquido (Figura 11.1).
Para além do fluxo tangencial de quantidade de movimento que vimos anteriormente, dado por
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑥
𝜏𝑥𝑧 = −𝜇 ( + ) Eq. (11.1)
𝜕𝑥 𝜕𝑧
Temos ainda uma componente normal, que resulta de o fluido, ao se aproximar da superfície,
diminuir a sua velocidade, i.e.:
𝜕𝑣𝑧
𝜏𝑧𝑧 = −2𝜇 Eq. (11.2)
𝜕𝑧
Figura 11.1 Esfera em queda no seio de um líquido e componentes (a) e (b) do fluxo de quantidade de
movimento
197
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Este fenómeno vai traduzir-se numa força normal à superfície. A integração do fluxo normal zz
em coordenadas esféricas conduz a
4
𝐹𝑛 = 𝜋𝑅3 𝜌 𝑔 + 2𝜋𝑅𝜇𝑣∞ Eq. (11.3)
3
e as componentes tangenciais resultam em:
𝐹𝑡 = 4𝜋𝑅𝜇𝑣∞
A força total é então
4
𝐹 = 𝐹𝑛 + 𝐹𝑡 = 𝜋𝑅3 𝜌 𝑔 + 6𝜋𝑅𝜇𝑣∞
3
A primeira parcela corresponde à força de impulsão, pelo que a segunda só pode ser devida ao
movimento relativo entre o corpo e o fluido, a que chamaremos força de arrasto, FK .
Esta lei só é válida para esferas em queda na situação em que as linhas de corrente acompanham
a superfície, i.e., em que não há turbulência. Esta é uma boa aproximação quando ReP < 0,1 e
pode ser designada por “escoamento aderente” ou escoamento viscoso (“creeping flow” em
inglês).
Note-se que são raras as geometrias em que é possível um tratamento teórico. Quando tal não é
possível, recorre-se a métodos alternativos, que veremos adiante.
A lei de Stokes permite determinar a velocidade uniforme de queda de uma esfera. Assim, o
⃗⃗⃗⃗𝐼 , o peso ⃗⃗⃗⃗
balanço de forças em velocidade uniforme entra com a impulsão 𝐹 𝐹𝑔 e a força de arrasto
⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑘 (Figura 11.2):
𝐹I + 𝐹𝑘 − 𝐹𝑔 = 0
𝜋 3 𝜋
𝐷 𝜌 𝑔 + 6𝜋𝑅𝜇𝑣∞ − 𝐷3 𝜌𝑝 𝑔 = 0
6 6
Esta correlação aplica-se em alguns modelos de viscosímetros (em que a viscosidade é calculada
a partir da velocidade de queda uma esfera no seio de um líquido viscoso) e também em operações
de sedimentação.
198
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Seja então 𝐹𝑠 a força a que um corpo em repouso está sujeito, e 𝐹𝑘 o acréscimo de força devido
ao movimento, i.e., a força de arrasto, e que engloba uma componente tangencial e uma
componente normal. Assim, será
𝐹⃗ = ⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑠 + ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑘
𝐹𝑘
𝐶𝑤 =
𝐴𝑝 𝐾 Eq. (11.6)
Sendo 𝐴𝑝 a área projectada do corpo (no plano normal à velocidade) e 𝐾 uma energia cinética
característica por unidade de volume, dada por:
2
𝜌𝑣∞
𝐾= Eq. (11.7)
2
199
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Consideremos de novo o caso de uma esfera em queda com velocidade uniforme, i.e., em que
∑ 𝐹⃗ = 0. Um balanço de forças mostra que
4 4
𝐹𝑘 = 𝐹𝑔 − 𝐹𝐼 = 𝐹𝑘 = 𝜋𝑅3 𝜌𝑝 𝑔 − 𝜋𝑅3 𝜌 𝑔
3 3 Eq. (11.8)
Por outro lado, usando a definição de 𝐶𝑤 Eq. (11.6) e usando a área projetada de uma esfera, 𝐴𝑝 =
𝜋𝑅2
2
𝜌𝑣∞
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜋𝑅2 × Eq. (11.9)
2
Igualando as Eq. (11.8) e Eq. (11.9) e resolvendo em ordem a 𝐶𝑤 , obtém-se o coeficiente de
arrasto para esferas com velocidade uniforme, para qualquer valor do número de Reynolds
4 𝑔𝐷 𝜌𝑝 − 𝜌
𝐶𝑤 = 2 ( ) Eq. (11.10)
3 𝑣∞ 𝜌
NÚMERO DE REYNOLDS
𝑣∞ 𝜌𝐿 𝑣∞ 𝐿
Rep = = Eq.
𝜇 𝜐 (11.11)
200
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
(a) (b)
Figura 11.4. Velocidade de aproximação para (a) corpo em repouso; (b) corpo em queda.
Relação entre 𝑪𝒘 e Re
Consideremos ainda o caso da esfera, e tomemos Rep < 0,1. Nestas circunstâncias, a lei de Stokes
pode ser substituída na definição da Eq. (11.6):
6𝜋𝑅𝜇𝑣∞ 24𝜇
𝐶𝑤 = =
𝜌𝑣 2 2
𝐷 𝜌𝑣∞
(𝜋𝑅2 ) ( ∞ )
2
24
𝐶𝑤 = Eq. (11.12)
Rep
Para outras situações, o coeficiente de arrasto pode ser determinado a partir do diagrama da
Figura 11.5, para as geometrias mais comuns: esferas, cilindros e discos.
201
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
10000
1000
100
Cw
Esferas
Discos
10
Cilindros
0,1
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Rep
Exemplo 11.1
Uma chaminé com 1,5 m de diâmetro e 40,0 m de altura está sujeita a ventos horizontais com velocidade de 80
km h-1. Qual a força horizontal a que a chaminé está sujeita?
Resolução:
A força de arrasto é proporcional a uma energia cinética característica e à área do objecto projectada num plano
perpendicular ao movimento (𝐴𝑝 ):
1 2
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜌𝑣∞ 𝐴𝑝
2
A força horizontal a que a chaminé está sujeita será Fk e neste caso Ap será a área de um rectângulo D h, em
que D é o diâmetro e h a altura.
𝐴𝑝 = 1,5 × 40 = 60 m2
𝑣∞ = 80 km h−1 = 22,2 m s−1
Substituindo valores:
1 2 1
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜌𝑣∞ 𝐴𝑝 = 0,38 × × 1,2 × 22,22 × 60 = 6,8 × 103 N
2 2
𝐹𝑘 = 6,8 kN
202
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 11.2
Um veículo motorizado desloca-se a 100 km h-1 e apresenta um coeficiente de arrasto de 0,3. Se a área frontal
for de 1,8 m2, qual será a potência despendida pelo motor para vencer a resistência do ar? Se a velocidade aumentar
20%, como variará a potência?
Resolução:
A potência obtém-se multiplicando a força pela velocidade; assim, para determinar a potência do motor do
veículo para vencer a resistência do ar é necessário calcular a força:
1 2 1
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜌𝑣∞ 𝐴𝑝 = 0,3 × × 1,2 × 27,82 × 1,8 = 250 N
2 2
Então, a razão entre as duas potências (após e antes do aumento de 𝑣∞ ) é 1,232 = 1,73, ou seja, a potência
aumenta 73%.
Já sabemos que, para Re𝑝 < 0,1, as linhas de corrente acompanham totalmente a superfície da
esfera. Nesta situação, a força na superfície deve-se apenas ao atrito tangencial, à semelhança do
atrito em condutas. À medida que Re𝑝 aumenta, o padrão de escoamento altera-se, havendo
formação de vórtices por detrás do objeto, que conduz a uma diminuição da pressão na região
posterior. Ao mesmo tempo, aumenta a pressão de impacto na superfície frontal. Daqui resulta
uma força normal, designada em geral por “atrito de forma”. A partir de um certo valor de número
de Reynolds (103 - 105) o escoamento passa a ser muito turbulento e o coeficiente de arrasto torna-
se aproximadamente constante. Esta região é designada por região de Newton. No caso de
esferas, 𝐶𝑤 ~ 0,44. Para Re𝑝 > 2 × 105 , Cw é também aproximadamente constante.
A Tabela 11.1 apresenta os comprimentos característicos L e os valores do coeficiente de arrasto
para algumas geometrias comuns.
203
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Figura 11.6. Escoamento em torno de um cilindro [Milton Van Dyke, An Album of Fluid Motion,
Parabolic Press, 12th edition, 1982.]
Vimos acima como se pode estimar a força de arrasto, conhecendo a velocidade relativa e a
dimensão de um objeto. Um outro problema com bastante aplicação prática (como é o caso de
operações de separação), é a determinação do tempo de queda, e portanto da velocidade terminal,
de uma esfera. Neste caso é possível recorrer a dois métodos alternativos, o método iterativo ou
o método gráfico.
Sem conhecer a velocidade, não é possível calcular o número de Reynolds. Para obviar a esta
dificuldade, iremos construir um grupo adimensional, no qual se elimina a variável desconhecida.
Esse grupo, em geral designado de grupo de atrito, dado por:
4 𝑔𝐷3 𝜌
𝑋 = 𝐶𝑤 Rep 2 = (𝜌𝑝 − 𝜌)
3 𝜇2 Eq. (11.13)
Dado que o diagrama de 𝐶𝑤 é do tipo logarítmico, esta equação corresponderá a uma reta de
declive -2:
log 𝐶𝑤 = log 𝑋 − 2 log Rep
204
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Dado que o diagrama de 𝐶𝑤 é do tipo logarítmico, esta equação corresponderá a uma reta de
declive +1 - Figura 11.7(b).
log Cw
log Cw
(a) (b)
Figura 11.7. Método gráfico para determinação da velocidade terminal de uma esfera (a) e do diâmetro
(b).
Exemplo 11.3
Uma esfera de aço oca, com um diâmetro de 5,0 mm e uma massa de 0,050 g, é lançada numa coluna de líquido
e atinge uma velocidade terminal de 0,50 cm s-1. A densidade do líquido é de 900 kg m-3. A esfera está suficientemente
afastada das paredes para o efeito destas poder ser desprezado.
Calcule a viscosidade do líquido, admitindo que se trata de um regime de Stokes..
Resolução:
Esta é uma aplicação da equação de Stokes à determinação da viscosidade de um líquido. Só é portanto válida
para escoamento viscoso.
Densidade aparente da esfera:
𝑚 0,050×6
𝜌𝑝 = = = 0,764 g cm−3 = 764 kg m−3
𝑉 𝜋×0,503
Como a densidade da esfera é inferior à do líquido, a esfera irá subir. Por definição, como vimos atrás, a força
1 2
de arrasto é proporcional a uma energia cinética característica poor unidade de volume (
2
𝜌𝑣∞ ) e à área do objecto
projectada num plano perpendicular ao movimento (neste caso é a área de um círculo):
1 2 𝜋𝐷2
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜌𝑣∞ = 𝐹𝐼 − 𝐹𝑔
2 4
8𝐹𝑘
𝐶𝑤 = 2 𝜋𝐷2
𝜌𝑣∞
205
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
8 × 8,74 × 10−5 N
𝐶𝑤 = = 395
900 × 0,00502 × 𝜋 × 0,00502 kg m−3 m2 s−2 m2
24
Pelo diagrama 𝐶𝑤 vs. Rep ⇒ Rep ~ 0,06 (< 0,1) regime viscoso, 𝐶𝑤 = Re ⇒ Rep = 0,0608
p
Como a densidade da esfera é inferior à do líquido (= 900 kg m-3), em estado estacionário, a esfera irá subir.
L/D
1 1.18
3 5 1,2
D Re > 10 10 1,3
20 1,5
Perpendicular 30 1,6
∞ 1,95
Disco
Perpendicular
D Re >103 1,17
esfera
Re < 1 24/Re
D 103 < Re < 3 × 105 0,47
Re> 3 × 105 0,2
Semi-esfera aberta
0,34
Semi-esfera
fechada 0,42
D 104 < Re < 106
1,17
L/D
1 0,63
5 0,8
Cilindro D 103 < Re < 105 10 0,83
20 0,93
30 1
∞ 1,2
Barra
quadrangular
D Re= 3,5 × 104
2
206
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Exemplo 11.4
Uma gota de água aproximadamente esférica e com diâmetro de 0,5 mm cai na atmosfera. A distância
percorrida é suficientemente grande para que a queda ocorra com velocidade uniforme. Qual será a velocidade da
gota, admitindo que o ar está parado e que não há variação das dimensões?
Resolução:
Em movimento uniforme, a resultante das forças é nula não há variação da quantidade de movimento e a
gota atinge uma velocidade uniforme, de queda neste caso (velocidade máxima ou velocidade terminal).
Fazendo de novo o balanço de forças para a direcção vertical obtém-se:
𝜋𝐷3
𝐹𝑘 = 𝐹𝑔 − 𝐹𝐼 = (𝜌𝑝 − 𝜌) 𝑔
6
𝐹𝑘 4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝐷𝑔
𝐶𝑤 = =
1 2 𝐷2 3𝜌𝑣∞2
2 𝜌𝑣∞ 𝜋 4
Neste caso, como a incógnita é a velocidade terminal, define-se um grupo adimensional que não depende da
variável desconhecida, ou seja, 𝐶𝑤 × Re2 :
4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝐷𝑔 𝜌2 𝑣∞
2 2
𝐷 4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝜌𝐷3 𝑔
𝐶𝑤 × Rep2 = 2
× =
3𝜌𝑣∞ 𝜇2 3𝜇 2
Substituindo valores:
Podemos então atribuir valores arbitrários a Re e calcular Cw pela expressão, de modo a marcar dois pontos que
permitam traçar a reta log 𝐶𝑤 = −2 log Rep + log(5,92 × 103 ).
Por exemplo,
5,92×103 5,92×103
Rep = 10 ⇒ 𝐶𝑤 = 102
= 59 ; Rep = 100 ⇒ 𝐶𝑤 = 104
= 0,59
Marcam-se então os pontos (10; ~60) e (100; ~0,6) no diagrama 𝐶𝑤 vs. Re𝑝 e unem-se por uma linha reta.
A intersecção da reta com a linha das esferas dá um valor de Re𝑝 ~ 65 − 70 (regime de transição); assume-se
por exemplo:
1,82 × 10−5 × 68
Rep = 68 ⇒ 𝑣∞ = = 2,1 m 𝑠 −1
1,2 × 0,0005
207
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
1000
Cw 100
10
0,1
0,01 0,1 1 10 100 1000 10000
Rep
NOTA: O problema também podia ser resolvido iterativamente, ou seja, dando uma aproximação inicial à
velocidade terminal, a qual permite calcular o Reynolds, ler 𝐶𝑤 no diagrama e recalcular a velocidade terminal pela
4(𝜌𝑝 −𝜌)𝐷𝑔
expressão 𝐶𝑤 = 2 até haver convergência.
3𝜌𝑣∞
Exemplo 11.5
Esferas de vidro de densidade 2620 kg m-3 são deixadas cair em clorofórmio. Que diâmetro deverão ter as
esferas para se atingir uma velocidade terminal de 0,59 m s-1?
Resolução:
Tal como no exemplo atrás, fazendo o balanço de forças para velocidade uniforme e usando a definição de
coeficiente de arrasto, vem:
4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝐷𝑔
𝐶𝑤 = 2
3𝜌𝑣∞
𝐶𝑤
Dado que a incógnita é o diâmetro, define-se um grupo adimensional que não inclui D, ou seja, :
Rep
Substituindo valores:
𝐶𝑤 4 × (2620 − 1490) × 6,67 × 10−4 × 9,81
= = 2,16 × 10−5
Rep 3 × 14902 × 0,593
208
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Damos então valores arbitrários a Re e calculamos 𝐶𝑤 , de modo a marcar pelo menos dois pontos que
permitam traçar a reta log 𝐶𝑤 = log Rep + log(2,16 × 10−5 ).
Tomemos então dois pontos aleatórios que usamos para representar a linha reta, cuja intersecção com a linha das esferas
dá o valor de Re no patamar da curva:
Rep = 105 ⇒ 𝐶𝑤 = 2,16 × 10−5 × 105 = 2,16 ; Rep = 104 ⇒ 𝐶𝑤 = 2,16 × 10−5 × 104 = 0,216
𝜇 6,67×10−4×2,0×104
Rep = 2,0 × 104 ⇒ 𝐷= Re𝑝 = = 0,015 m
𝜌𝑣∞ 1490×0,59
Esta região do diagrama, em que o coeficiente de arrasto é aproximadamente constante, designa-se “região de
0,44
Newton” 𝐶𝑤 = 0,44. Então, Rep = = 2,0 × 104 .
2,16×10−5
10000
1000
100
Cw
10
0,1
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000 10000 100000
Rep
209
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
PROBLEMAS
P 11.1 Uma esfera de vidro (s= 2700 kg/m3) cai livremente, na vertical, em glicerina (= 1260 kg/m3;
µ = 1,5 Pas) atingindo uma velocidade terminal de 1,3 cm/s. Determine o diâmetro da esfera.
P11.2 Determine a velocidade terminal de uma esfera lisa com massa específica de
1500 kg m-3 e diâmetro de 5 mm, caindo numa coluna de água a 20 °C. Despreze os efeitos das paredes.
P 11.3 Ar a 1 atm e 20 °C escoa nos dois lados de uma placa plana com 3 m de largura e 0,5 m de comprimento.
A velocidade de aproximação do ar à placa é de 6 m/s.
a) Verifique se o escoamento é laminar em toda a extensão da placa.
b) Assumindo escoamento laminar, determine o valor da espessura máxima da camada limite.
c) Calcule a força de arrasto exercida pelo ar sobre a placa, em kgf.
P 11.4 Água à temperatura ambiente circula tangencialmente a uma placa fixa e lisa com 1,5 m de comprimento
e 1 m de largura, com uma velocidade de 5 m/s. Calcule a força de arrasto exercida pela água sobre a placa.
Coeficientes médios de arrasto:
−0,5
- Regime laminar: 𝐶𝑤 = 1,328 Rep
−0,2
- Regime turbulento: 𝐶𝑤 = 0,072 Rep
210
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
BIBLIOGRAFIA
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3. Bird, Stewart, Lightfoot, Transport Phenomena, Wiley & Sons, Ltd, Singapore, 1960.
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5. J.F. Douglas, J.M. Gasiorek, J.A. Swaffield, Fluid Mechanics, 3 rd ed., Longman, Singapore, 1995.
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7. Irving H. Shames, Mechanics of Fluids, 2nd edition, McGraw-Hill International Editions, Mechanical
Engineering Series, Singapore, 1982.
8. Luís Adriano Oliveira, António Gameiro Lopes, Mecânica dos Fluidos, 2ª edição, ETEP-Edições Técnicas e
Profissionais, Lisboa, 2007.
9. A.B. Metzner, “Non-Newtonian Technology: Fluid Mechanics, Mixing and Heat Transfer”, em Advances in
Chemical Engineering, vol I,, ed. Thomas B. Drew e John W. Hooper, Jr., Academic Press, New York, 1956.
10. António de Carvalho Quintela, “Hidráulica”, 10ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2007.
11. H. Tennekes e J.L. Lumley (tradução Ana Luísa Félix da Rocha e Carlos Frederico N. Bettencourt da Silva)
“Turbulência em Fluidos”, Fundação Calouste Gulbenkian, 1972.
12. Morton M. Denn., “Process Fluid Mechanics”, Prentice-Hall International Series in the Physical and
Chemical Engineering Sciences, PTR Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey, 1980.
13. Alberto Abecassis Manzanares, “Hidráulica Geral I. Fundamentos Teóricos”, Técnica – AEIST, Lisboa,
1979.
14. Bernard Massey, revised by John Ward-Smith, “Mechanics of Fluids”, 8th Edition, Taylor & Francis, NY,
USA, 2006.
15. John Slattery, “Momentum, Energy and Mass Transfer in Continua”, McGraw-Hill Chemical Engineering
Series, McGraw-Hill Kogakusha, Ltd, Tokyo, 1972.
16. J.M. Coulson, J.F. Richardson, (tradução C. Ramalho Carlos), “Tecnologia Química, volume I: fluxo de
fluidos, transferência de calor e transferência de massa”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1974.
17. Osborne Reynolds, An Experimental Investigation of the Circumstances which determine whether the
Motion of Water shall be Direct or Sinuous and of the Law of Resistance in Parallel Channels. Philos. Trans.
R.Soc.174 (1883) 935-982.
211
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
212
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
GLOSSÁRIO
A : área
c: velocidade do som
CD: coeficiente de descarga
CW: coeficiente de arrasto ou de resistência
D: diâmetro
E: energia /massa
Eu: número de Euler
f: fator de atrito de Fanning
Fg : peso (força gravítica)
FI : Força de impulsão
Fk : Força de arrasto
Fr: número de Froude
𝐺⃗: vector velocidade mássica
𝑔, 𝑔⃗: aceleração gravítica (módulo, vector)
Hb: altura manométrica fornecida pela bomba
hf : perda de carga por atrito
hL : perda de carga em acessórios de tubagem
𝐾 : coeficiente de resistência (acessórios de tubagem)
𝐾: energia cinética característica por unidade de volume
kB: constante de Bingham
𝑚̇: caudal mássico
Ma: número de Mach
p: pressão
Po: potência
pT : pressão de estagnação
Q: caudal volumétrico
𝑞̇ : calor / tempo
qdm: quantidade de movimento
r : distância radial
R: raio
Re: número de Reynolds
Rh: raio hidráulico
V : volume
𝑣´: flutuação da velocidade, em torno da média temporal
𝑣̅: média temporal da velocidade
〈𝑣〉: média geométrica da velocidade
W: trabalho
δ: espessura da camada-limite
𝜇: viscosidade (dinâmica)
𝜌: massa específica, densidade
213
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜐: viscosidade cinemática
𝜖: rugosidade parietal (absoluta)
𝜖𝑟 : rugosidade relativa
𝛾̇ : taxa de deformação angular
𝜇 (𝑡) : viscosidade turbilhonar
𝜏0 : tensão de cedência
𝜏𝑖𝑗 : fluxo de quantidade de movimento
𝜏𝑤 : fluxo parietal de quantidade de movimento
214
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
ANEXOS
1 ft = 0,305 m
1 in = 25,4 mm
1 Å = 0,1 nm
1 milha = 1609,344 m
1 mi/h = 0,4470 m/s
1 gal = 0,0037854 m3
1 lb/in2 = 6895 Pa
1 atm = 101325 Pa
1 in. Hg = 3376,85 Pa
1 in. H2O = 248,84 Pa
1 lbf = 4,448 N
1 ton = 2000 lbf
1 kN = 224,8 lbf
1 dine = 10,0 μN
1 hp = 745,7 W
1 BTU = 1055 J
1 caloria = 4,1868 J
1 lbm = 0,454 kg
1 slug = 14,594 kg
215
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
109 Giga G
106 Mega M
103 Quilo k
10-3 mili m
10-6 μ
Submúltiplos
micro
-9
10 nano n
-12
10 pico p
-15
10 femto f
-18
10 ato a
216
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Tabela II - Propriedades do ar
217
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Fonte: Handbook of Chemistry and Physics, 59th Edition. 1978-1979, CRC Press, pgs F-7 e F-55
Nota: alguns dos exercícios resolvidos apresentados ao longo do texto fazem uso de valores
aproximados das propriedades físicas.
218
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
219
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Equação da continuidade
𝜕𝜌 1 𝜕 1 𝜕 𝜕
+ (𝜌𝑟𝑣𝑟 ) + (𝜌𝑣𝜃 ) + (𝜌𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
220
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Em termos de 𝝉 :
Direção 𝑥:
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑥 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑥 Eq. (0.1)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Direção 𝑦:
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑦 𝜕𝜏𝑦𝑦 𝜕𝜏𝑧𝑦
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑦 Eq. (0.2)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Direção 𝑧 :
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑧 𝜕𝜏𝑦𝑧 𝜕𝜏𝑧𝑧
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (0.3)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Direção 𝑥:
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑥 Eq. (0.4)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
Direção 𝑦:
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑦 Eq. (0.5)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
Direção 𝑧 :
221
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Direção 𝜃:
𝜕𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃
𝜌( + 𝑣𝑟 + + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
1 𝜕𝑝 1 𝜕 1 𝜕𝜏𝜃𝜃 𝜕𝜏𝜃𝑧 Eq. (0.8)
=− − ( 2 𝑟 2 𝜏𝑟𝜃 + + ) + 𝜌𝑔𝜃
𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
Direção 𝑧:
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧
𝜌( + 𝑣𝑟 + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
𝜕𝑝 1𝜕 1 𝜕𝜏𝜃𝑧 𝜕𝜏𝑟𝑧
=− −( 𝑟𝜏𝑟𝑧 + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (0.9)
𝜕𝑧 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
Direção 𝜃 :
Direção 𝑧:
222
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
𝜕𝑣𝑥 2 𝜕𝑣𝑟 2
𝜏𝑥𝑥 = −𝜇 [2 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
− (∇ 𝜏𝑟𝑟 = −𝜇 [2 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
− (∇
𝜕𝑥 3 𝜕𝑟 3
𝜕𝑣𝑦 2 1 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝑟 2
𝜏𝑦𝑦 = −𝜇 [2 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
− (∇ 𝜏𝜃𝜃 = −𝜇 [2 ( ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
+ ) − (∇
𝜕𝑦 3 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 3
𝜕𝑣𝑧 2 𝜕𝑣𝑧 2
⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)] 𝜏𝑧𝑧 = −𝜇 [2 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
− (∇
𝜏𝑧𝑧 = −𝜇 [2 − (∇ 𝜕𝑧 3
𝜕𝑧 3
𝜕𝑣𝜃 1 𝜕𝑣𝑧
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧 𝜏𝜃𝑧 = 𝜏𝑧𝜃 = −𝜇 [ + ]
𝜏𝑦𝑧 = 𝜏𝑧𝑦 = −𝜇 [ + ] 𝜕𝑧 𝑟 𝜕𝜃
𝜕𝑧 𝜕𝑦
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑟
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑥 𝜏𝑟𝑧 = 𝜏𝑧𝑟 = −𝜇 [ + ]
𝜏𝑧𝑥 = 𝜏𝑥𝑧 = −𝜇 [ + ] 𝜕𝑟 𝜕𝑧
𝜕𝑥 𝜕𝑧
1𝜕 1 𝜕𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑧
𝜕𝑣 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗) =
(∇ (𝑟𝑣𝑟 ) + +
𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
⃗⃗ ∙ 𝑣⃗) = 𝑥 + 𝑦 + 𝑧
(∇
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
223
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Coeficiente de
Tipo de acessório ou válvula
resistência, K
Cotovelo a 45º padrão 0,35
Cotovelo a 90º padrão 0,75
Cotovelo a 90º, raio longo 0,45
Curva a 180º 1,5
Junção 0,04
Tê padrão, saída em linha 0,4
Tê padrão, saída pelo ramal 1,0
Válvula de guilhotina
Totalmente aberta 0,17
¾ aberta 0,9
½ aberta 4,5
¼ aberta 24,0
Válvula de diafragma
Totalmente aberta 2,3
¾ aberta 2,6
½ aberta 4,3
¼ aberta 21,0
Válvula de globo
Totalmente aberta 6,0
½ aberta 9,5
Válvula de borboleta
θ = 5° 0,24
θ = 10° 0,52
θ = 20° 1,54
θ = 40° 10,8
θ = 60° 118
224
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
0,02
𝜖𝑟
0,05
0,04
0,03
0,02
0,015
0,01
0,01
0,008
0,005
Fator de atrito de Fanning
0,006 0,002
0,001
0,0005
0,004
0,0002
0,003 0,0001
0,00005
0,00002
0,002 0,00001
0,000005
0,000001
0,001
1000 10000 100000 1000000 10000000 100000000
Re
225
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
0,9 alargamento
0,8
estreitamento
0,7
0,6
K
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
d/D
226
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
Capítulo 2
P2.1 pA – patm = M g h2 – 1 g h1
P2.2 – 0,19 kPa
P2.3 41,0 kPa
P2.4 12,8 kPa
P2.5 17 mm
P2.6 p1 – p2 = g hM [(d/D)2 – 1] + M g hM ; se d << D: p1 – p2 = (M– g hM
P2.7 4,1 tonf
Capítulo 3
P3.1 500 cP
Capítulo 4
P4.1 18,9 m/s; 58,8 L/s
P4.2 8 m/s; 12 kPa
P4.4 S = (2 t2 + 400 t + 10000)/(t + 100); t = 36 min 36 s
P4.5 4,5 m/s; 34 kPa
P4.6 Bx = –2,1 kN, By = 0,20 kN
P4.7 37,9 N
P4.8 1,0 m s-1 ; Rx = 17,3 kN
P4.9 – 982 N (100 kgf)
P4.10 2,6 kW
P4.11 1,16 m; 1,21 m
P4.12 0,43 m
P4.13 –18 kPa
P4.14 125 s
P4.15 49 kN
Capítulo 5
P5.1 1,9 Pa
P5.2
−∆𝑝 𝑧 2 −∆𝑝 ∆𝑝
𝑣𝑥 = 2𝜇𝐿
𝛿 2 [1 − (𝛿) ]; 𝜏𝑧𝑥 |𝑧=+𝛿 = 𝐿
𝛿; 𝜏𝑧𝑥 |𝑧=−𝛿 = 𝐿
𝛿;
𝑊 +𝛿
𝛿𝑊𝛿 3 ∆𝑝
𝑚̇ = 𝜌 ∫ ∫ 𝑣𝑥 𝑑𝐴 =
0 −𝛿 3𝜇𝐿
−∆𝑝 𝑟 2 𝜏0 𝑅 𝑟
𝑣𝑧 = 4𝑘 𝐿
𝑅2 [1 − (𝑅) ] − 𝑘
(1 − )
𝑅
para r0 r R ( 0)
𝐵
227
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química
−∆𝑝 2𝜏 𝐿 2
𝑣0 = 4𝑘 𝐿
𝑅2 (1 − −∆𝑝0 𝑅) para 0 r r0 (região central do tubo); 4,8 cm ; 2,1 L/s
𝐵
−∆𝑝 𝑟 𝑟 17/7
P5.7 𝜏𝑟𝑧 = 𝐿 2
= 6,7 × 103 × 𝑟 (𝑆𝐼); 𝑣𝑧 = 0,0166 [1 − (10−4) ] (𝑆𝐼)
Capítulo 6
Capítulo 7
𝐷Δ𝑝⁄𝐿 𝜌𝑣𝐷 𝜏0
P7.1 = 𝜑( , ) ; 6 m/s; 900 Pa; 0,037 atm/m
𝜌𝑣 2 𝜇0 𝜌 𝑣2
𝑀 𝜀 𝜌 Ω 𝐷2
P7.2 a) =𝜑 ( , ); 0,3 rps; 0,005 Nm
𝜌 Ω2 𝐷 5 𝐷 𝜇
𝜌 𝑅5
P7.3 π1 = 𝐸 𝑡2
Δ𝑝 𝜌𝑣𝐷 𝐿
P7.4 = 𝜑 ( , )
𝜌𝑣 2 𝜇 𝐷
Capítulo 8
P8.1 2,45 m
P8.2 104 kPa (rel.); 0,28%
P8.3 405 m; 0,64 MW
P8.4 6,0 L/s
P8.5 148 m
P8.6 5,5 kg/s
P8.7 41 L/s; 20%
Capítulo 9
P9.1 20,5 kg/s
P9.2 20 min 41 s
P9.3 40,4 m/s
P9.4 51 mm; ramo direito; 6%.
Capítulo 10
P10.1 0,16 Pa; 0,39 mm; y (mm) = 0; 0,18; 0,36; 0,89; 75.
P10.2 1,29 mm; 0,57 m/s; 2,3 L/s
Capítulo 11
P11.1 5,0 mm
P11.2 27 cm/ s
P11.3 0,5 m; 5,6 mm; 2,0 ×10-2 kgf
P11.4 0,19 N
228