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INTRODUÇÃO À DINÂMICA DOS FLUIDOS

PARA ENGENHARIA QUÍMICA

Alda Simões, M. Tereza Reis

Fevereiro de 2020
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Dedicamos aos alunos dos cursos de Engenharia Química e de Engenharia


Biológica do Instituto Superior Técnico, que ao longo de vários anos nos
ajudaram a melhorar os conteúdos e a forma dos nossos apontamentos.

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ÍNDICE

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 9


1.1 OS FENÓMENOS DE TRANSPORTE ............................................................................................9
1.2 O QUE É UM FLUIDO? .........................................................................................................11
1.3 FORÇAS .........................................................................................................................12
1.4 DIMENSÕES E UNIDADES .....................................................................................................13
1.5 CLASSIFICAÇÕES DE ESCOAMENTOS ........................................................................................17

CAPÍTULO 2. HIDROSTÁTICA .............................................................................. 21


2.1 A APROXIMAÇÃO AO “CONTINUUM” ........................................................................................21
2.2 A EQUAÇÃO FUNDAMENTAL DA HIDROSTÁTICA ..........................................................................22
2.3 PRESSÃO DISTRIBUÍDA NUMA SUPERFÍCIE ..................................................................................23
2.4 MEDIÇÃO DA PRESSÃO .......................................................................................................29

CAPÍTULO 3. VISCOSIDADE ................................................................................ 39

3.1 LEI DE NEWTON DA VISCOSIDADE ..........................................................................................39


3.2 GRANDEZAS MATEMÁTICAS. O TENSOR FLUXO DE QUANTIDADE DE MOVIMENTO. ..................................43
3.3 FLUIDOS NÃO-NEWTONIANOS ............................................................................................. 45
3.3.1 Classificação do comportamento reológico com base na tensão de corte ............................... 46
3.3.2 Classificação relativamente ao tempo ....................................................................................... 51

CAPÍTULO 4. DESCRIÇÃO MACROSCÓPICA DE UM ESCOAMENTO ........................... 57


4.1 O BALANÇO À MASSA ........................................................................................................58
4.2 O BALANÇO ÀS FORÇAS ......................................................................................................63
4.3 O BALANÇO À ENERGIA ......................................................................................................68
4.3.1 A Equação de Bernoulli .............................................................................................................. 72
4.3.2 O coeficiente corretivo do termo da energia cinética ............................................................... 78
4.3.3 A equação de Bernoulli aplicada a gases................................................................................... 80

CAPÍTULO 5. ESCOAMENTOS LAMINARES E ESCOAMENTOS TURBULENTOS.............. 85


5.1 A EXPERIÊNCIA DE REYNOLDS ............................................................................................... 85
5.2 BALANÇOS MICROSCÓPICOS À QUANTIDADE DE MOVIMENTO ..........................................................87
5.2.1 Escoamento de Couette ............................................................................................................. 87
5.2.2 Escoamento de Poiseuille .......................................................................................................... 90

CAPÍTULO 6. AS EQUAÇÕES DE CONSERVAÇÃO DIFERENCIAIS .............................. 103

6.1 AS DERIVADAS EM ORDEM AO TEMPO ....................................................................................103


6.2 A EQUAÇÃO DIFERENCIAL DA CONTINUIDADE .........................................................................104
6.3 A EQUAÇÃO DIFERENCIAL DO MOVIMENTO ............................................................................107
6.3.1 A Equação de Euler ..................................................................................................................109
6.3.2 A Equação de Navier-Stokes....................................................................................................109

CAPÍTULO 7. TEORIA DOS MODELOS E ANÁLISE DIMENSIONAL ............................. 119


7.1 ADIMENSIONALIZAÇÃO DA EQUAÇÃO DE NAVIER-STOKES ........................................................... 119

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7.2 SEMELHANÇA ................................................................................................................120


7.3 ANÁLISE DIMENSIONAL .....................................................................................................123

CAPÍTULO 8. TRANSPORTE EM CONDUTAS ......................................................... 131


8.1 A PERDA DE CARGA NA EQUAÇÃO DA ENERGIA .........................................................................131
8.2 BOMBEAMENTO DE LÍQUIDOS ............................................................................................. 133
8.3 FATOR DE ATRITO ..........................................................................................................135
8.4 ACESSÓRIOS DE TUBAGEM .................................................................................................139
8.5 TUBOS DE SECÇÃO NÃO-CIRCULAR ......................................................................................148
8.6 DIÂMETRO ECONÓMICO ....................................................................................................150
8.7 ESCOAMENTO COMPRESSÍVEL ............................................................................................. 152

CAPÍTULO 9. MEDIDORES DE CAUDAL E DE VELOCIDADE ..................................... 161

9.1 O MEDIDOR DE ORIFÍCIO ...................................................................................................161


9.2 O TUBO DE VENTURI........................................................................................................165
9.3 O MEDIDOR DE EMBOCADURA ............................................................................................ 167
9.4 O ROTÂMETRO ..............................................................................................................171
9.5 O TUBO DE PITOT ..........................................................................................................173

CAPÍTULO 10. ESCOAMENTO TURBULENTO .......................................................... 179


10.1 DEFINIÇÕES DA VELOCIDADE .......................................................................................... 180
10.2 ESCOAMENTO TURBULENTO VS. ESCOAMENTO LAMINAR ........................................................183
10.3 A CAMADA-LIMITE .....................................................................................................184
10.4 DESENVOLVIMENTO DE UM PERFIL DE VELOCIDADES ............................................................... 188
10.5 O MODELO DA DISTRIBUIÇÃO UNIVERSAL DE VELOCIDADES .....................................................190

CAPÍTULO 11. ESCOAMENTO EM TORNO DE OBJETOS ............................................ 197

11.1 A LEI DE STOKES ........................................................................................................197


11.2 O COEFICIENTE DE ARRASTO ......................................................................................... 199
11.3 REGIMES DE ESCOAMENTO ............................................................................................ 203

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 211

GLOSSÁRIO ........................................................................................................ 213

ANEXOS............................................................................................................. 215

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Prefácio

Os Fenómenos de Transporte são da máxima importância para os Engenheiros Químicos, pois determinam
largamente o dimensionamento e o desenho de peças de equipamento e de operações unitárias. Pode-se
mesmo considerar que os Fenómenos de Transporte marcam em grande parte a diferença entre o estudo da
Química e o da Engenharia Química.

Desta forma, o ensino dos Fenómenos de Transporte é uma peça crucial nos curricula de Engenharia
Química e de áreas afins, como seja a Engenharia Biológica.

Se a descrição teórica de alguns sistemas simples é relativamente acessível ao estudante de Engenharia, já


o tratamento e a descrição analítica exata de geometrias reais é frequentemente difícil de conseguir de forma
exata e por isso recorre-se na prática cada vez mais aos métodos numéricos computacionais. Na última
década, a simulação e dimensionamento feito com base em software de Dinâmica de Fluidos
Computacional (CFD - Computacional Fluid Dynamics) ganhou enorme importância a nível de projeto. No
entanto, se a aprendizagem da utilização dessas ferramentas é relativamente fácil a quem domine os
fundamentos teóricos da Dinâmica dos Fluidos, já o contrário não é expectável. Ou seja, quem compreenda
e domine os fundamentos facilmente apreende e se adapta a programas informáticos de simulação para
resolver os problemas mais complicados, enquanto a aprendizagem baseada no recurso aos meios
informáticos deixa facilmente falhas na base do conhecimento, que não são consentâneas com uma
formação sólida e versátil. Por isso, a apresentação é feita ao longo deste texto de uma forma clássica, que
se pretende seja intuitiva e sem perder de vista a ligação às situações práticas e à nossa experiência empírica,
deixando de fora os métodos computacionais, que são ensinados na prática noutra unidade curricular.

Este texto, que é destinado a servir de apoio aos estudantes de Engenharia Química, baseia-se largamente
nas aulas dadas pelas autoras ao longo de vários anos e engloba muitos exemplos resolvidos e exercícios
propostos.

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

1.1 Os Fenómenos de Transporte


Nos curricula de Engenharia Química, a Dinâmica dos Fluidos surge frequentemente englobada
no tema mais vasto dos Fenómenos de Transporte. Designam-se por Fenómenos de Transporte os
fenómenos associados ao transporte de quantidades físicas, designadamente de quantidade de
movimento, calor e massa. As razões pelas quais estes três fenómenos surgem agrupados são, por
um lado, o facto de frequentemente ocorrerem em paralelo nas operações unitárias, e por outro
lado o facto de a descrição matemática seguir um formalismo com muitos pontos em comum,
apesar das diferentes naturezas associadas.
De entre os três, o transporte de calor é porventura o mais intuitivo. Se tivermos uma barra de um
material condutor (por exemplo, um metal) e aquecermos uma das extremidades, vai haver um
transporte de calor desde as zonas mais quentes até às zonas mais frias. Ou seja, a diferença de
temperatura vai provocar transporte de energia térmica. Este processo cessará apenas quando todo
o sistema tiver temperatura uniforme, será mais ou menos eficaz consoante as propriedades do
sistema. Por exemplo, o transporte será mais fácil se o material for bom condutor térmico e se a
distância a percorrer for pequena; também será facilitado se a secção da barra for grande,
comparativamente a um fio de pequeno diâmetro. Esta forma de transporte designa-se por
condução térmica e corresponde a um transporte de calor através de um material, sem que haja
transporte de massa. Ou seja, os átomos mantêm as suas posições relativas no sistema e apenas o
calor é transportado.
Como sabemos, o calor pode ser transportado de duas outras formas, a radiação e a convecção. A
radiação é a única que não depende da existência de um meio material; na realidade é mesmo
mais eficaz quando o transporte é feito através do vácuo, pois a energia é transportada pela
radiação eletromagnética.
Já a convecção consiste no transporte de calor através do movimento de massa na direção do
fluxo de calor. Por exemplo, num recipiente contendo água e aquecido por uma chama, a água no
fundo aquece e torna-se menos densa, pelo que vai subir, sendo o fundo do recipiente ocupado
por novo fluido, mais frio, que irá por sua vez aquecer e ganhar movimento ascendente, num
processo designado por convecção natural.
A convecção também pode ser forçada. Por exemplo, se tivermos uma bebida contendo gelo, as
zonas próximas do gelo estarão mais frias do que as restantes; se agitarmos o líquido, contudo,

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

iremos agilizar a mistura das diferentes porções de líquido, com diferentes temperaturas, num
processo mais eficiente do que a convecção natural.

Por sua vez, o transporte de massa resulta de uma diferença de concentrações de uma espécie
entre dois pontos de um sistema. Se tivermos uma chávena de chá com um cubo de açúcar que se
dissolve, as regiões do líquido na vizinhança do cubo estarão mais doces do que as zonas distantes,
e daí resulta transporte de açúcar dissolvido desde as regiões mais doces até às mais amargas,
mesmo que não usemos a colher. Este processo pode ocorrer por difusão, ou por convecção, sendo
que na convecção há movimento macroscópico de massa e na difusão o transporte é molecular (à
semelhança da condução no transporte de calor). Mais uma vez, a convecção forçada resulta de
um movimento do fluido por outro agente que não seja a diferença de concentração, e resulta num
transporte mais eficiente do que nas condições espontâneas.

O transporte de quantidade de movimento é menos intuitivo, mas sabemos que a quantidade de


movimento de um corpo é dada pelo produto da sua massa pela velocidade que possui. Este
processo é mais fácil de visualizarmos na mecânica dos sólidos, em que os choques entre objetos
de diferentes velocidades (por exemplo, numa mesa de bilhar) geram transferência de energia do
objeto com maior velocidade para o de menor velocidade.
No caso dos fluidos, pela dificuldade em definir fronteiras, trabalhamos com a quantidade de
movimento por unidade de volume, i.e., 𝜌𝑣⃗, em que 𝜌 é a densidade do fluido e 𝑣⃗ a velocidade
local. Quando temos diferentes porções de fluido com diferentes velocidades, geram-se forças
locais que se traduzem num transporte de quantidade de movimento, a partir das zonas com maior
velocidade para as de menor velocidade. Ou seja, as porções mais velozes cedem energia cinética
às porções menos velozes (mais lentas). O transporte de quantidade de movimento também pode
ser por mecanismo convectivo ou mecanismo molecular e estes mecanismos encontram-se
associados a dois regimes de escoamento, designados por escoamento turbulento e escoamento
laminar. De uma forma simplificada, podemos considerar que o escoamento laminar ocorre a
baixas velocidades de escoamento, havendo mudança de regime quando a velocidade aumenta.
Este tema é o que será tratado em detalhe ao longo do texto que se segue.

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

1.2 O que é um fluido?


Um fluido pode ser definido como um material que tem a capacidade de fluir, de escoar quando
é sujeito a uma força. Para escoar, o fluido deforma-se; ao contrário dos sólidos rígidos, que por
exemplo ao longo de uma parede inclinada caem mantendo a sua geometria, um líquido forma
um filme ao longo da parede, assumindo uma forma radicalmente diferente da forma do recipiente
onde estava contido. Ou seja, deforma-se quando sujeito à ação de uma força e essa deformação
é essencial para o seu escoamento.
Aprendemos que a matéria tem três estados possíveis: sólido, líquido e gasoso. Dado que os
sólidos contínuos não fluem (pelo menos de uma forma sensível), os fluidos são todos os materiais
que não são sólidos, ou seja, os líquidos e os gases.
Os líquidos têm algumas especificidades que os distinguem dos gases. A mais evidente é a sua
capacidade de formar uma superfície livre (i.e., uma superfície que não é delimitada pelo
recipiente que o contém). Outra característica é a capacidade de resistir a forças compressivas. Na
realidade nenhum material é totalmente incompressível, mas os líquidos resistem bastante ao
efeito da pressão, ao passo que os gases são reconhecidamente compressíveis. Assim, um fluido
que mantém a densidade praticamente constante, mesmo quando submetido a pressões elevadas,
designa-se por líquido (fluido incompressível); nos gases, ao contrário, a densidade é fortemente
dependente da pressão (fluidos compressíveis). Note-se que em alguns problemas práticos de
escoamento, e desde que a densidade varie muito pouco, um gás pode ser tratado
aproximadamente como um líquido — usa-se neste caso a expressão “escoamento
incompressível”.

Se a distinção entre líquidos e gases é fácil, o mesmo não se pode dizer para os sólidos e os
líquidos. Ninguém tem dúvidas que a água a 20 °C e à pressão normal é um líquido, nem que o
aço à temperatura ambiente é um sólido. Mas se tomarmos o caso da manteiga à temperatura
ambiente, veremos que a sua superfície livre mantém a forma, mas que por outro lado
conseguimos espalhá-la sobre o pão, o que evidentemente não acontece com os sólidos. Tomemos
então uma espátula e com ela apliquemos manteiga sobre uma fatia de pão. A manteiga não
escorre da espátula, ao contrário dos líquidos comuns, mas ao espalharmos a manteiga o que
fazemos é aplicar continuamente uma força tangencial e deste modo vamos alterando a forma da
manteiga. Quanto maior o tempo de aplicação desta força (ou mais vezes repetirmos o movimento
da espátula) maior será a deformação da manteiga, até atingirmos a situação em que se formou
uma camada relativamente fina e homogénea sobre toda a superfície. Ora isto não acontece com
um sólido. Muitos sólidos têm comportamento elástico, mas isso significa que se deformam

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apenas durante a aplicação da força, recuperando a forma inicial quando a força é retirada.
Podemos então definir um líquido como um material contínuo que se deforma quando sujeito a
uma força tangencial.

Fluido é um material que se deforma angularmente sob a ação de


forças tangenciais.

1.3 Forças

Um fluido encontra-se sujeito a diversos tipos de forças - Figura 1.1. As forças podem ser de
campo ou de superfície. A força gravítica é uma força de campo, ou seja, atua sobre os sistemas
(corpos ou porção de fluido) que estejam situados no campo gravítico do planeta. Resulta da força
atrativa exercida pela Terra sobre os corpos e o seu ponto de aplicação é o centro de massa do
sistema.
Já as forças compressivas atuam nas superfícies. A pressão atmosférica é o exemplo mais
evidente de força compressiva, mas quando um fluido está contido num recipiente ou em
escoamento dentro de uma tubagem, a pressão pode variar drasticamente. A pressão também varia
em profundidade, por exemplo dentro de um tanque ou no mar. A pressão é uma força de
superfície e atua na direção normal à superfície, dirigida para o interior do sistema.
Finalmente, as forças de corte são orientadas tangencialmente à superfície sobre a qual atuam.
As forças de corte são também designadas “forças de atrito” e resultam das diferenças de
velocidade através de interfaces ou mesmo dentro de um fluido contínuo.

Matematicamente, as forças são vetores. Por isso são descritos, num espaço tridimensional, por
componentes segundo essas três direções. Uma força por unidade de área designa-se por “tensão”.
Tal como as forças, as tensões podem ser tangenciais ou normais a uma superfície. As forças de
corte geram tensões de corte, ao passo que a pressão gera tensões normais (compressivas).

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(a) (b) (c)


Figura 1.1. Diferentes forças atuando sobre um fluido.

1.4 Dimensões e Unidades


Uma dimensão traduz uma grandeza física, de forma abstrata e independente do sistema de
unidades. Cada sistema de unidades tem dimensões fundamentais e dimensões derivadas, sendo
estas últimas obtidas a partir das dimensões fundamentais por meio das leis básicas da física.
Assim, o comprimento (L) é uma dimensão fundamental que está associada a variáveis tais como
distância, altura, deslocamento ou comprimento. O tempo (T) e a temperatura termodinâmica
(θ) são também dimensões fundamentais. A juntar a estas, é vulgarmente usada como dimensão
fundamental a massa (M). A partir destas dimensões é possível chegar às dimensões de outras
variáveis físicas. Por exemplo, a velocidade surgirá como LT-1, a aceleração como LT-2 e o
volume como L3. No caso da força, se recorrermos à segunda lei de Newton, temos que
𝐹 = massa × aceleração, pelo que [F] ≡ MLT −2. Em trabalho científico, a massa é
normalmente escolhida para terceira dimensão fundamental, surgindo a força como dimensão
derivada. No entanto, em aplicações tecnológicas a força pode também surgir como dimensão
fundamental.

Se uma dimensão nos diz qual a maneira correta de medir uma variável, só o uso de unidades nos
permite quantificar numericamente essa variável. Apesar da consagração do Sistema
Internacional de Unidades (SI), na Conferência Internacional de Pesos e Medidas realizada em
1960, a transição tem sido lenta, pelo que iremos aqui sistematizar os diferentes sistemas. Assim,
existem dois tipos de sistemas de unidades: os sistemas absolutos e os sistemas gravitacionais. Os
sistemas gravitacionais têm como dimensões fundamentais em paralelo a força e a massa (para
além do tempo e da temperatura), enquanto nos absolutos uma delas surge como dimensão
derivada. Assim, por exemplo, no SI, temos:
𝐹 = 𝑚 × 𝑎 ⇒ 1 Newton = 1 kg × 1m s−2

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Enquanto em linguagem científica o Newton é a unidade referida para as forças, em linguagem


comum e mesmo em alguma linguagem técnica, a força surge vulgarmente expressa em
quilograma-força. Concretamente, quando se fala do peso, e em particular dos sistemas de
pesagem, trabalha-se em kg f, sendo o valor numérico do peso e da massa iguais entre si; ou seja,
uma massa de 1 kg tem um peso de 1 kg f . A conciliação destas grandezas é feita introduzindo
uma constante 𝑔𝑐 (constante gravitacional) na segunda lei de Newton do movimento
𝑔
𝐹𝑔 = 𝑚
𝑔𝑐
sendo 𝐹𝑔 o peso e 𝑚 a massa. As dimensões da constante gravitacional podem ser obtidas a partir
da equação:
𝑚𝑔 M L T −2
𝑔𝑐 = [=]
𝐹𝑔 F
O sistema gravitacional métrico usa em simultâneo as unidades de quilograma-massa
(kg m ou simplesmente kg ) e quilograma-força (kg f), sendo este último bastante usado na
linguagem comum. Neste caso, será
1 × 9,807 kg m s −2 N
𝑔𝑐 = = 9,807
1 kg f kg f
A constante gravitacional diz-nos portanto que 1 kgf corresponde a 9,807 N.
No sistema gravitacional inglês, será:
Força lbf (libra-força)
Massa lb ≡ lbm (libra-massa)
Comprimento ft (pé)
Tempo s (segundo)

sendo 1 lbf definida como a força exercida pela Terra sobre um corpo com uma massa de 1 lbm,
colocado ao nível do mar, i.e., sujeito a um campo gravítico com g = 32,174 ft s-2.

𝑚𝑔 1 lbm × 32,174 ft s−2 poundal


𝑔𝑐 = = = 32,174
𝐹𝑔 1 lbf lbf

Os principais sistemas de unidades encontram-se resumidos na Tabela 1.1. Note-se que, apesar
de em Engenharia Química o Sistema Internacional estar quase universalmente aceite, algumas
unidades inglesas estão consagradas em diversas aplicações, como é o exemplo dos diâmetros de
condutas, ou mesmo das dimensões dos monitores de aparelhos eletrónicos, que vêm sempre
expressos em polegadas.
Os sistemas CGS e FPS são designados pelas iniciais das suas unidades fundamentais (cm,
grama, segundo e foot, pound, second). Estes dois, em conjunto com o SI, usam como unidades
fundamentais as unidades de massa, comprimento e tempo. O British Engineering System,

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

praticamente em desuso, tem como dimensões fundamentais o comprimento, o tempo e a força,


pelo que a massa surge como unidade derivada, com a designação de slug.

TEMPERATURA
Existem diversas escalas para temperatura, como o caso dos graus Celsius e das unidades de
Kelvin. A escala Kelvin é uma escala de temperatura termodinâmica, vulgarmente designada
temperatura absoluta. No sistema inglês usa-se a escala de graus Farenheit e a correspondente
escala absoluta de graus Rankine. Temos então duas escalas de temperatura absolutas:
Sistema Internacional: Kelvin (K)
Sistemas ingleses: Graus Rankine (ºR)
Dado que ambas as escalas são absolutas, os seus zeros coincidem. As diferenças de temperatura
correlacionam-se por 1 K = 1,8 °R, dado que os graus Rankine estão para os graus Farenheit
como os Kelvin para os graus Celsius.

Tabela 1.1 - Principais sistemas de unidades


Sistema de
Sistemas de unidades Dimensões Dimensões
unidades
Grandeza SI CGS FPS (M, L, T) BES (F, L, T)
Massa kg g lbm M slug F L-1 T2
Comprimento m cm ft L ft L
Tempo s s s T s T

Força N dine poundal M L T-2 lbf F

Energia, Trabalho,
J erg ft poundal M L2 T-2 ft lbf FL
Calor

Pressão, tensão Pa dine cm-2 poundal ft-2 M L-1 T-2 lbf ft-2 F L-2

Potência W erg s-1 ft poundal s-1 M L2 T-3 ft lbf s-1 F L T-1

CGS: cm, grama, segundo; FPS: foot, pound, second; BES: British Engineering System

PREFIXOS
No SI é vulgar usar-se prefixos normalizados, que facilitam o uso das unidades quando estas são
demasiado grandes ou demasiado pequenas para o valor em causa. São sempre de preferir os
múltiplos ou submúltiplos em potências de 103, cujas designações e abreviaturas estão coligidas
na Tabela 1.2.

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Tabela 1.2 - Múltiplos e submúltiplos em potências de 103


Potência Prefixo Símbolo
1012 tera T

Múltiplos
109 giga G
106 mega M
103 quilo k
10-3 mili m
10-6 micro μ
Submúltiplos

10-9 nano n
10-12 pico p
10-15 femto f
10-18 ato a

CONVERSÃO DE UNIDADES

Em Mecânica dos Fluidos trabalha-se vulgarmente com variáveis dimensionais, pelo que a
utilização de unidades coerentes e a correta aplicação de fatores de conversão se revestem de uma
especial importância. Em Engenharia, a competência na resolução de problemas exige que se
seja virtualmente infalível no tratamento e na conversão de unidades.

Para evitar lapsos e simplificar o trabalho, recomendam-se os seguintes procedimentos:


i. Inclua sempre na expressão matemática o valor numérico e as respetivas unidades, para qualquer
quantidade.
ii. Multiplique as unidades pelos fatores de conversão (incluindo também para estes as respetivas
unidades).
iii. Trate as unidades ou dimensões da mesma forma que as quantidades algébricas.
iv. Comece por equacionar o problema, e evite fazer conversões intercalares, que podem conduzir a um
excessivo volume de cálculos e não raro a lapsos.

Exemplo 1.1
Recorra explicitamente à análise dimensional para determinar quantas horas têm 2 anos.

dia h
𝑡 = 2 ano = 2 ano × 365 × 24
ano dia

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

R: 𝑡 = 17520 h
Exemplo 1.2
Água escoa com uma velocidade de 200 ft min-1. Converta esta velocidade para m s-1 utilizando explicitamente
a análise dimensional.

ft ft m 1 min
𝑣 = 200 = 200 × 0,3048 ×
min min ft 60 s
200×0,3048 m
=
60 s

R: 𝑣 = 1,0 m s-1

1.5 Classificações de escoamentos


Os escoamentos podem ser classificados de diversas formas. Relativamente à sua variação com o
tempo, um sistema pode encontrar-se em estado estacionário ou em estado transitório (também
designado transiente). O estado estacionário caracteriza-se por as condições e propriedades não
variarem com o tempo. No caso de um escoamento, significa por exemplo que a velocidade e a
pressão em cada ponto do sistema não variam ao longo do tempo - apesar de variarem de ponto
para ponto. Quando fazemos um balanço a uma propriedade, isso traduz-se na ausência de
acumulação (de massa, de energia ou de quantidade de movimento). O estado transitório é não-
estacionário, pelo que as propriedades variam e o termo de acumulação será não-nulo.
Por vezes também se recorre à noção de estado pseudo-estacionário. Este não é realmente um
estado, mas antes uma aproximação. É a aproximação de estado estacionário feita num balanço
em que o sistema evolui lentamente; de facto, muitos sistemas que estão em evolução podem ser
tratados instantaneamente como se estivessem estacionários.

Compressibilidade: como já vimos, nenhum material é absolutamente incompressível. No caso


dos fluidos, são considerados compressíveis os gases e incompressíveis os líquidos. Por vezes
usa-se outra definição, que é a de escoamento incompressível. Um escoamento incompressível é
aquele em que a densidade do fluido varia muito pouco ao longo do escoamento, pelo que pode
ser considerada constante. Isto acontece para os líquidos em escoamento isotérmico, mas também
para os gases quando as diferenças de pressão são pequenas.

Orientação do escoamento face às superfícies sólidas: os sistemas em escoamento podem


classificar-se como escoamento dentro de condutas ou canais (escoamento interior), que é
essencial para o dimensionamento de equipamentos de transporte de gases e líquidos, e
escoamento exterior a objetos, que descreve a queda de objetos, ou o escoamento de ar em torno

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

de aeronaves, por exemplo. No primeiro caso interessa-nos relacionar a velocidade do escoamento


e portanto o caudal, com a variação da pressão ao longo do circuito, de modo a determinar a
potência requerida para o transporte e a permitir a seleção de equipamentos. No caso do
escoamento exterior a objetos interessa conhecera força exercida no objeto em função da
velocidade relativa.

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Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS

P 1.1 Converta pé-poundal para erg e erg/s para watt, recorrendo apenas às conversões 1 ft  0,3048 m e 1 lbm
 0,454 kg.

P 1.2 Considerando a equação de definição da viscosidade, 𝜇:

𝐹 𝜕𝑣𝑥
= −𝜇
𝐴 𝜕𝑦

Determine as unidades em que vem expressa a viscosidade no SI e no sistema CGS.

P 1.3 Um objecto cai sob a acção da força gravítica, sendo o seu peso de 50 dine. Qual será a sua massa, expressa
em lbm? E qual o seu peso, em lbf?

P 1.4 Deduza o valor da constante gravitacional no sistema métrico.

P 1.5 Um automóvel desloca-se à velocidade de 90 km/h, sujeito a uma força de resistência do ar de 200 N.
Qual a potência consumida para vencer a resistência do ar? Qual a força de resistência do ar expressa em kg f?

P 1.6 Pretende-se uma amostra de nitrato de cálcio, Ca(NO3)2 contendo 5  1025 átomos de oxigénio. Quantos
quilogramas de nitrato de cálcio deverá a amostra conter, admitindo uma pureza de 98% (sendo que as impurezas
não contêm oxigénio)? Recorra explicitamente à análise dimensional.

P 1.7 Preciso de tomar um medicamento na forma de xarope e pretendo garantir que o conteúdo do frasco é
suficiente para uma viagem de três semanas. A bula indica uma dosagem de 3 gotas por cada 15 kg de massa corporal
e por dose, com 4 doses por dia. O frasco contém 100 mL de xarope. Para verificar o volume das gotas, encho uma
colher de chá e verifico que tem a capacidade de 65 gotas. A colher de chá (calibrada) tem uma capacidade de 5,0
mL. Nestas condições, recorra à análise dimensional para determinar se a porção de medicamento é suficiente para
a viagem, admitindo que o meu peso corporal é de 70 kg.

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CAPÍTULO 2. HIDROSTÁTICA

2.1 A aproximação ao “continuum”


As substâncias são constituídas por unidades elementares (moléculas ou átomos) e as
propriedades de cada substância resultam quer da composição quer da estrutura (ou seja, do
arranjo) destas unidades. Seja qual for a estrutura a nível microscópico, existe sempre uma parte
importante de vazios no espaço intermolecular. Se no estado sólido a estrutura cristalina nos
permite uma descrição muito clara destes vazios, não obstante a sua pequena escala, já no estado
líquido a estrutura é mais difícil de compreender. Comparativamente aos sólidos, os líquidos
apresentam distâncias intermoleculares bastante maiores, mas para além disso as posições
relativas das moléculas variam, o que altera drasticamente as suas propriedades. É claro que nos
gases a importância dos espaços vazios torna-se muito maior, já que um gás consiste de forma
simplificada num conjunto de moléculas dispersas que se deslocam livremente num espaço vazio.
Ou seja, ao nível microscópico os materiais são de uma forma geral descritos como compostos de
moléculas separadas por vácuo, em proporções que variam consoante o estado físico da matéria.

Quando falamos das propriedades da matéria, referimo-nos a uma escala macroscópica. Quando
falamos de velocidade, pressão e a generalidade das propriedades físicas, a escala de medida é
muito superior quer às dimensões moleculares quer às distâncias intermoleculares. Não é por isso
útil para a nossa abordagem o tratamento ao nível das dimensões moleculares. Ou seja, se
considerássemos a nossa análise ao nível molecular e seguíssemos uma linha, iríamos encontrar
sucessivamente massa, vácuo, massa, vácuo, e assim por diante, numa sequência descontínua. Por
outro lado, o estabelecimento de leis de variação das propriedades requer o desenvolvimento de
equações diferenciais; ora as funções descontínuas não são diferenciáveis, pelo que o tratamento
matemático terá de se basear em funções contínuas. Por este motivo, a descrição da mecânica dos
fluidos recorre à aproximação ao meio contínuo, em que a matéria é tratada como um meio com
variação contínua das propriedades. Ou seja, apesar de um fluido ser essencialmente um material
discreto, a sua descrição à escala macroscópica é feita numa base contínua.
Dado que vamos estar interessados na variação das propriedades em diferentes pontos da matéria,
há então que definir um ponto não como uma abstração geométrica sem dimensões, mas sim como
um volume muito pequeno, mas ainda assim contendo matéria. Em termos práticos, vejamos o
exemplo da escala de 1 micrómetro, abaixo da qual é muito difícil fazer qualquer medida de

21
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

propriedades. O volume correspondente a este comprimento nas três dimensões do espaço será
10-18 m3. Admitindo temperatura e pressão ambientes, este volume contém cerca de 1017
moléculas de gás, um número surpreendentemente grande. As propriedades “pontuais” são
consideradas portanto numa escala em que há matéria e um “ponto” é portanto entendido como
uma porção de matéria com propriedades mensuráveis.

2.2 A equação fundamental da Hidrostática

Consideremos um fluido contínuo e um elemento diferencial de volume no seio desse


fluido (Figura 2.1). Designemos por volume elementar uma região do espaço, no seio do sistema,
que é suficientemente pequeno para que as propriedades no seu interior sejam consideradas
constantes. O interesse do volume elementar reside na possibilidade de determinarmos o limite
dos balanços quando o volume tende para um ponto.

Figura 2.1. Elemento diferencial de volume no seio de um fluido contínuo.

Se o elemento de fluido se encontrar em equilíbrio estático, a resultante das forças


aplicadas sobre ele é nula, i.e., ∑ 𝐹⃗ = 0 . Recordemos que as forças de campo atuam sobre todo
o volume e resultam da presença de um campo de forças, ao passo que as forças de superfície
englobam as forças de pressão e de corte. As forças de corte só existem quando existem diferenças
de velocidade. Ora como o fluido está em repouso, não existe força de corte. As únicas forças em
jogo são então a força gravítica e a força de pressão. Assim, teremos:

22
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝜕𝑝
∑ 𝐹𝑥 = (𝑝∆𝑦∆𝑧)|𝑥 − (𝑝∆𝑦∆𝑧)|𝑥+∆𝑥 = 0 ⇒ =0
𝜕𝑥 Eq. (2.1)

𝜕𝑝
∑ 𝐹𝑦 = (𝑝∆𝑥∆𝑧)|𝑦 − (𝑝∆𝑥∆𝑧)|𝑦+∆𝑦 = 0 ⇒ =0
𝜕𝑦 Eq. (2.2)

∑ 𝐹𝑧 = (𝑝∆𝑥∆𝑦)|𝑧 − (𝑝∆𝑥∆𝑦)|𝑧+∆𝑧 − ∆𝑥∆𝑦∆𝑧𝜌𝑔 = 0 Eq. (2.3)

Estas equações mostram que, para um fluido em repouso, a pressão é apenas função de 𝑧.
Dividindo a Eq. (2.3) por ∆𝑥∆𝑦∆𝑧 e fazendo tender este volume elementar para um ponto, temos:

𝑝|𝑧+∆𝑧 − 𝑝|𝑧 Eq. (2.4)


lim = −𝜌𝑔
∆𝑧→0 ∆𝑧

O primeiro membro corresponde à definição de derivada:

𝜕𝑝
= −𝜌𝑔
𝜕𝑧 Eq. (2.5)

Esta, que é a equação fundamental da hidrostática, diz-nos que a diferença de pressão


estática entre dois pontos num fluido é igual ao peso (por unidade de área) da coluna de fluido
que os separa. Como a pressão depende apenas de z, a derivada parcial, que pressupõe a
dependência de duas ou mais variáveis independentes, pode ser substituída pela derivada total.

No caso de densidade constante, a diferença de pressão entre dois pontos separados de um


desnível no seio de um fluido contínuo e em repouso será obtido por resolução da Eq. (2.6):

∫ 𝑑𝑝 = −𝜌𝑔 ∫ 𝑑𝑧
Eq. (2.6)

2.3 Pressão distribuída numa superfície

23
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

A variação da pressão segundo uma direção não-vertical (Figura 2.2) pode ser naturalmente obtida
fazendo
𝑑𝑝 𝑑𝑝 𝑑𝑧 𝑑𝑧
= = −𝜌𝑔
𝑑𝑎 𝑑𝑧 𝑑𝑎 𝑑𝑎 Eq. (2.7)
ou
𝑑𝑝
= −𝜌𝑔 cos 𝜃
𝑑𝑎 Eq. (2.8)

Figura 2.2. Esquema das direções para descrição da pressão.

Para um fluido em repouso, a pressão num ponto (pressão estática) é apenas função da altura (ou
profundidade) e é independente da direção. Ou seja, a pressão é uma grandeza escalar. A força de
pressão é naturalmente um vetor, cuja direção da força vai depender apenas da orientação da
superfície. Para o elemento infinitesimal de área, 𝑑𝐴, a força de pressão é dada por:

𝑑𝐹 = 𝑝 𝑑𝐴
Eq. (2.9)

Em que 𝑑𝐹 é uma quantidade vectorial. Para uma superfície plana em que os vectores 𝑑𝐹 tenham
todos a mesma direcção, i.e., para superfícies planas, a força total pode ser obtida integrando a
Eq. (2.9):

𝐹 = ∫ 𝑝 𝑑𝐴
Eq. (2.10)

Para a superfície livre de um líquido em repouso, a pressão será uniforme e por isso a força será
dada pelo produto simples 𝐹 = 𝑝 𝐴. Para outras situações, há que ter alguma lei que descreva a
variação da pressão ao longo da superfície A.

24
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 2.1

Uma comporta num canal (largura W = 10 m e altura inicial h = 5 m) tem um lado exposto à atmosfera e o outro
à água. Qual é a força total a que a comporta está sujeita?

Resolução:
Do lado da atmosfera, a baixa densidade permite que se admita a pressão constante e igual à pressão atmosférica. Do
lado da água, se for ℎ a altura contada a partir da superfície da água, será

𝐹água = ∫ 𝑝 𝑑𝐴 = ∫(𝑝atm + 𝜌𝑔ℎ) 𝑑𝐴 = 𝑝atm 𝐴 + 𝜌𝑔 ∫ ℎ 𝑑𝐴

𝑑𝐴 = 𝑊 𝑑ℎ ⇒ 𝐹água = 𝑝atm 𝐴 + 𝜌𝑔𝑊 ∫ ℎ 𝑑ℎ

ℎ=5 m
ℎ2
𝐹água = 𝑝atm 𝐴 + 𝜌𝑔𝑊 ]
2 ℎ=0

A força resultante na direção x será 1:


ℎ2
𝐹 = 𝐹água − 𝐹atm = 𝑝atm 𝐴 + 𝜌𝑔𝑊 − 𝑝atm 𝐴
2
ℎ2
𝐹 = 𝜌𝑔𝑊
2

kg m 25 2
𝐹 = 998,2 × 9,81 2 × 10 m × m
m3 s 2

= 1,22 ∙ 106 kg m s−2 = 1,22 MN

Exemplo 2.2
Uma parede inclinada com largura W = 10 m e comprimento submerso l = 5 m, forma um ângulo de 70° com a
horizontal e tem um lado exposto à atmosfera e o outro à água.
Determine a força total a que a comporta está sujeita e as componentes, vertical e horizontal, da força.

1
Para a densidade da água é tomado aqui o seu valor a 20 °C, que pode ser consultado em Anexo. Note-se
contudo que na maioria dos exercícios se optou por usar o valor aproximado de 1000 kg m-3.

25
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Resolução
Tal como no exemplo anterior, as contribuições da pressão atmosférica cancelam-se, e por isso trabalharemos apenas
com a pressão relativa

∫ 𝑑𝐹 = ∫ 𝑝rel 𝑑𝐴
A área será dada por 𝑑𝐴 = 𝑊 𝑑𝑙
em que 𝑊 é a largura da parede e 𝑙 a distância ao longo da parede, a partir da superfície do líquido.
𝑝rel = 𝜌𝑔ℎ
Portanto, a força de pressão será dada por

∫ 𝑑𝐹 = 𝑊𝜌𝑔 ∫ ℎ 𝑑𝑙

ℎ = 𝑙 sen 𝜃 ⇒ ∫ 𝑑𝐹 = 𝜌𝑔𝑊 ∫ ℎ 𝑑𝑙

𝑙=5 𝑚
𝑙2
𝐹 = 𝜌𝑔𝑊 sen 𝜃 ]
2 𝑙=0

kg m 25
𝐹 = 998,2 m3 × 9,81 × 10 m × sen 70° × m2 = 1,15 MN
s2 2

Para cada uma das direções, teremos: 𝑑𝐹𝑥 = 𝑝rel sen 𝜃 𝑑𝐴 e 𝑑𝐹𝑦 = 𝑝rel cos 𝜃 𝑑𝐴
Assim, fica:
𝑙=5 𝑚
𝑙2
𝐹𝑥 = ∫ 𝜌𝑔ℎ sen 𝜃 𝑊 𝑑𝑙 = ∫ 𝜌𝑔𝑊(sen 𝜃)2 𝑙 𝑑𝑙 = 𝜌𝑔𝑊 (sen 𝜃)2 ]
2 𝑙=0
𝐹𝑥 = 𝐹 sen 𝜃 = 1,08 MN

Direção , 𝑦 (vertical):
𝑙=5 𝑚
𝑙2
𝐹𝑦 = ∫ 𝜌𝑔ℎ cos 𝜃 𝑊𝑑𝑙 = ∫ 𝜌𝑔𝑊 cos 𝜃 sen 𝜃 𝑙 𝑑𝑙 = 𝜌𝑔𝑊 cos 𝜃 sen 𝜃 ]
2 𝑙=0
𝐹𝑦 = 𝐹 cos 𝜃 = 0,39 MN
𝐹𝑦 é positivo, o que significa que a força é exercida na direção ascendente.

Note-se que para pressão uniforme, a resultante da força de pressão numa determinada direção
sobre uma superfície irregular é dada pelo produto da pressão pela área projetada (área da sombra)
do objeto ou da superfície. Por exemplo, consideremos a superfície plana da Figura 2.3, com

26
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

orientação aleatória e área 𝐴. A pressão na superfície tem a direcção perpendicular à superfície,


pelo que a componente segundo x é dada por

𝐹𝑥 = ∫ 𝑝 cos 𝜃 𝑑𝐴 = ∫ 𝑝 𝑑𝐴𝑥
Eq. (2.11)
Sendo 𝑑𝐴𝑥 a projeção da área 𝑑𝐴 no plano 𝑦𝑧. Para a direcção y será:

𝐹𝑦 = ∫ −𝑝 sen 𝜃 𝑑𝐴 = ∫ 𝑝 𝑑𝐴𝑦
Eq. (2.12)

Em que e 𝐴𝑦 são as projecções de A nas direções x e y, respetivamente.

Figura 2.3 Área e área projetada.

Estes exemplos mostram-nos como a Eq. (2.10) é aplicada a paredes planas, nas quais é fácil
relacionar a pressão com uma distância ao longo da parede. No caso de superfícies curvas há que
fazer a integração da pressão ao longo da superfície, embora por vezes seja possível recorrer à
projeção da área. Consideremos um objeto irregular na Figura 2.4. Na direção y percebe-se
facilmente que a resultante da pressão é zero, porque o sistema é simétrico relativamente ao plano
bissetor. Em relação à direção x a interpretação é menos intuitiva, já que do lado esquerdo a
superfície é plana, ao passo que do lado direito é convexa. Relativamente à força de pressão
segundo a direção 𝑥, a força de cada um dos lados é dada pela pressão integrada para a área
projetada no plano normal à direção em causa. Ou seja, apesar da diferença na área, a resultante
da força de pressão segundo x é nula.
Nos gases a pressão depende pouco da profundidade quando se trata de desníveis da ordem de
grandeza de instalações para transporte de fluidos. Ao contrário, nos líquidos a pressão aumenta
rapidamente com a profundidade. Assim, se tivermos uma superfície em contacto com um líquido,

27
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

a força total exercida na superfície tem de ser calculada por integração, tendo em conta a Eq.
(2.5).

Figura 2.4 Pressão distribuída ao longo de uma superfície.

Impulsão

A impulsão é a força vertical, dirigida de baixo para cima (ou seja, no sentido oposto ao do peso)
e que resulta da diferença de pressão entre o lado inferior e o lado superior de objetos imersos. A
lei da impulsão foi enunciada no séc. III a.C. por Arquimedes e estabelece que “um corpo
mergulhado ou flutuando num fluido parado está sujeito a uma força vertical exercida de baixo
para cima, e que é numericamente igual ao peso do volume de fluido deslocado pelo corpo”.

Figura 2.5 Corpo sujeito às forças gravítica e de impulsão (FI).

Assim, para um objeto imerso num fluido em repouso - Figura 2.5 - teremos:

⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑔 = −𝜌𝑠 𝑉𝑔𝑒⃗⃗⃗⃗𝑧 (peso, sendo 𝜌𝑠 a densidade da esfera e V o seu volume)

⃗⃗⃗⃗
𝐹𝐼 = 𝜌𝑉𝑔𝑒⃗⃗⃗⃗𝑧 (impulsão, sendo 𝜌 a massa específica do fluido)

28
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

A força resultante será:

𝐹⃗ = ⃗⃗⃗⃗
𝐹𝐼 + ⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑔 = (𝜌 − 𝜌𝑠 )𝑉𝑔𝑒⃗⃗⃗⃗𝑧
Eq. (2.13)

Esta força será ascendente ou descendente, dependendo dos valores relativos das densidades. Se
𝐹⃗ for positivo, então o corpo irá adquirir velocidade ascendente até atingir a superfície. Quando
o corpo flutua à superfície, a força de impulsão passará a ser:

⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹′𝐼 = 𝜌 𝑉′ 𝑔 ⃗⃗⃗⃗
𝑒𝑧 Eq. (2.14)
em que 𝑉′ representa o volume submerso.

2.4 Medição da pressão

A pressão pode ser medida em termos absolutos (em relação ao vácuo) ou relativamente à pressão
atmosférica ao nível do mar a 25 °C (pressão relativa). Assim,

𝑝abs = 𝑝rel + 𝑝atm Eq. (2.15)

A pressão atmosférica normal é de 101325 Pa, que corresponde a uma pressão relativa de zero.
Cálculos rigorosos exigem por vezes correções à densidade, que varia com a pressão e com a
temperatura. Refira-se ainda que no sistema inglês a pressão é expressa em psi g ou psia (psi: pound
per square inch, lbf in-2), que designam respetivamente pressões relativas (“gauge pressure” em
inglês) ou absolutas. A pressão absoluta é medida usando barómetros, como o da Figura 2.6.
Notemos que o ponto 1 se encontra sob vácuo e o ponto 2 está à pressão atmosférica. Seja 𝜌m a
densidade do líquido manométrico.
Assim, 𝑝2 = 𝑝1 + 𝜌m 𝑔 ℎ𝑚
𝑝2 = 𝑝atm .
Pelo que: 𝑝atm = 𝜌m 𝑔 ℎm .
𝑝atm
A altura da coluna, ou altura manométrica, é dada por ℎm = 𝜌m 𝑔

Daí que a pressão vem muitas vezes tabelada em termos da altura da coluna (vulgarmente de
água ou mercúrio).

29
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 2.6 – Esquema do barómetro de coluna de mercúrio.

A medição de pressão é feita com aparelhos chamados manómetros. De entre os diferentes tipos
de manómetros, destacam-se os diferenciais (assim chamados por medirem a diferença de pressão
entre dois pontos) de tubo em U, porque são uma aplicação direta da equação fundamental da
hidrostática. Consideremos o manómetro da Figura 2.7 e analisemos cada um dos ramos
separadamente.
Ramo da esquerda: 𝑝C = 𝑝1 + 𝜌1 𝑔ℎ1 + 𝜌m 𝑔ℎ3

Ramo da direita: 𝑝C = 𝑝2 + 𝜌2 𝑔ℎ2 + 𝜌m 𝑔(𝐻 + ℎ3 )

em que 𝜌1 , 𝜌2 e 𝜌𝑚 representam as densidades dos fluidos 1 e 2 e do líquido manométrico,


respectivamente.
Igualando as duas expressões: 𝑝1 + 𝜌1 𝑔ℎ1 + 𝜌m 𝑔ℎ3 = 𝑝2 + 𝜌2 𝑔ℎ2 + 𝜌m 𝑔(𝐻 + ℎ3 )

𝑝1 − 𝑝2 = 𝜌2 𝑔ℎ2 + 𝜌m 𝑔𝐻 − 𝜌1 𝑔ℎ1
No caso mais simples de o fluido ser o mesmo nos dois ramos do manómetro, 𝜌1 = 𝜌2 = 𝜌 , e de
a altura dos dois ramos ser igual (ℎ1 = ℎ2 + 𝐻), será

𝑝1 − 𝑝2 = 𝜌 𝑔ℎ2 − 𝜌 𝑔(ℎ2 + 𝐻) + 𝜌m 𝑔𝐻
Eq. (2.16)

𝑝1 − 𝑝2 = 𝑔𝐻(𝜌m − 𝜌)
Eq. (2.17)

30
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 2.7. Esquema de um manómetro diferencial em “U”.

Reparemos que a única altura relevante é neste caso o desnível entre os meniscos, o que torna a
leitura bastante fácil. As parcelas do segundo membro traduzem o peso de uma coluna de fluido,
dividido pela área da secção do tubo.

Exemplo 2.3

O reservatório da figura contém azoto. Determine a pressão 𝑝A, sabendo que os fluidos 1 e 2 são,
respectivamente, mercúrio e água e que os desníveis são h1 = 10,0 cm e h2 = 25,0 cm. O tubo encontra-
se aberto para a atmosfera. Dado: ρmercúrio= 13546 kg m-3 (ver Anexo)

Resolução:
𝑝1 = 𝑝2 + 𝜌1 𝑔ℎ1 e 𝑝2 = 𝑝atm + 𝜌2 𝑔ℎ2

𝑝1 − 𝑝atm = 𝜌1 𝑔ℎ1 + 𝜌2 𝑔ℎ2 = 13546 × 9,81 × 0,10 + 1000 × 9,81 × 0,25 = 15,7 kPa

Como a densidade do gás é muito baixa, 𝑝A ≈ 𝑝1 = 15,7 kPa (pressão relativa)

31
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 2.4
Um tanque contém óleo com densidade 𝜌2 = 800 kg m−3. O líquido manométrico é mercúrio. Determine a
pressão indicada pelo manómetro A, assumindo que no topo do tanque existe ar à pressão 𝑝1 e que ℎ1 = 3,0 m e
ℎ2 = 10 cm .

Resolução:

O manómetro A mede a pressão relativa no fundo do tanque, que é igual à soma da pressão do ar com a pressão
devida à coluna de óleo. O tubo tem ar em ambos os lados mas com pressões diferentes; o nível está mais baixo do
lado aberto à atmosfera, logo a pressão do ar interior à pressão atmosférica.
A densidade do mercúrio, neste exemplo, assim como nos posteriores, é tomada como 13600 kg m -3, para
simplificação dos cálculos.
Tubo em U (igualdade das pressões nos pontos em equilíbrio estático):
𝑝atm = 𝑝1 + 𝜌m 𝑔ℎ2

𝑝1 − 𝑝atm = −13600 × 9,81 × 0,10 = −1,33 × 104 Pa

Manómetro A:
𝑝𝐴 = 𝑝1 − 𝑝atm + 𝜌2 𝑔ℎ1 = −1,33 × 104 + 800 × 9,81 × 3,0 = 10,2 × 103 Pa

Exemplo 2.5

Determine a pressão no ponto A, situado no interior do tanque de água, sabendo que os fluidos com
densidades ρ2 e ρ3 são, respetivamente, queroseno e mercúrio e que os desníveis são h1 = 6,0 cm, h2 = 10,0 cm
e h3 = 12,0 cm. O tubo manométrico encontra-se aberto para a atmosfera.

32
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Resolução:

𝑝B = 𝑝A + 𝜌1 𝑔ℎ1

𝑝C = 𝑝B + 𝜌2 𝑔ℎ2

𝑝C = 𝑝D + 𝜌3 𝑔( ℎ2 + ℎ3 )

𝑝D = 𝑝atm

𝜌queroseno = 820 kg m−3

𝑝A − 𝑝D = 𝜌3 𝑔( ℎ2 + ℎ3 ) − 𝜌1 𝑔ℎ1 − 𝜌2 𝑔ℎ2

𝑝A,rel = 13600 × 9,81 × 0,22 − 1000 × 9,81 × 0,06 − 820 × 9,81 × 0,10 = 2,8 × 104 Pa

Exemplo 2.6

Um tubo manométrico fechado em forma de U contém mercúrio e está ligado à parte inferior de um conduta
através da qual é transportada água, de acordo com esquema. Num ponto diretamente acima da ligação do tubo em
U inferior, encontra-se a ligação de um manómetro diferencial em U invertido, que contém n-heptano. Quais são os
valores de p1 e p2, expressos em pressão absoluta?

Resolução:

33
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

A água dentro do tubo está em escoamento, pelo que não se aplica a equação da hidrostática; ou seja, a pressão
varia ao longo do tubo, apesar de não haver desnível. O tubo manométrico inferior mede a pressão (absoluta)
no ponto 1, enquanto o superior mede a diferença entre os pontos 1 e 2.

Manómetro inferior:
𝑝vácuo + 𝜌Hg 𝑔ℎ3 = 𝑝1 + 𝜌água 𝑔ℎ4 (igualdade das pressões nos pontos em equilíbrio estático).

𝑝1 = 0 + 13600 × 9,81 × 1,00 − 1000 × 9,81 × 1,50 = 1,187 × 105 Pa

Tubo superior: 𝑝1 − 𝑝2 = ( 𝜌água − 𝜌hept ) × 𝑔(ℎ1 − ℎ2 )

𝑝1 − 𝑝2 = (1000 − 684) × 9,81 × 0,68 = 2108 Pa

𝑝1 = 118,7 kPa ⟹ 𝑝2 = 116,6 kPa

Manómetros com ramos assimétricos

No caso dos gases é comum as diferenças de pressão serem pequenas, o que resulta num desnível
muito pequeno entre os meniscos, com consequente aumento no erro da leitura. Uma forma de
ultrapassar essa dificuldade baseia-se na utilização de manómetros com ramos assimétricos, com
secções diferentes. Este caso está exemplificado na Figura 2.8. Admitamos que os dois ramos têm
geometria cilíndrica e sejam D e d os diâmetros maior e menor, respetivamente, e seja 𝜌m a
densidade do líquido manométrico e 𝜌1 a densidade do fluido em A e B.

Figura 2.8: Esquema de manómetro com ramos de secções diferenciadas.

Quando a pressão em A aumenta relativamente a B, há um volume de fluido deslocado no ramo


do lado esquerdo (baixando o nível de h ) e um volume deslocado no ramo da direita (subindo
o nível de h). Assim, pela igualdade dos volumes deslocados, será:

34
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝜋𝐷2 ′′ 𝜋𝑑2 ′′
𝑑 2
ℎ = ℎ ⟹ ℎ =ℎ ( )
4 4 𝐷
Igualdade das pressões nos pontos em equilíbrio estático:
2 2
′ 𝑑 ′ 𝑑
𝑝A + 𝜌1 𝑔 [ℎ + ℎ + ℎ ( ) ] = 𝑝B + 𝜌1 𝑔ℎ + 𝜌m 𝑔ℎ [1 + ( ) ]
𝐷 𝐷

Simplificando, vem:
2
𝑑
𝑝A − 𝑝B = (𝜌m − 𝜌1)𝑔ℎ [1 + ( ) ]
𝐷

Para uma determinada diferença de pressões, o desnível h será tanto maior quanto menor for a
razão dos diâmetros, d/D. No limite, se d  1 , a equação simplifica-se:
D
𝑝A − 𝑝B = (𝜌m − 𝜌1 )𝑔ℎ

Se o fluido superior for um gás, a sua densidade pode em geral ser desprezada face à do líquido
manométrico, pelo que a equação se simplifica para:

𝑝A − 𝑝B = 𝜌m 𝑔ℎ

Daqui resulta que a diferença de pressão é obtida pela leitura apenas da subida do menisco no
ramo mais fino, que é obrigatoriamente o das baixas pressões. A leitura do manómetro é então
dada por:
𝑝A − 𝑝B
⟹ ℎ=
𝜌m 𝑔

Blaise Pascal
(França, 1623 — 1662)
Foi um físico, matemático, filósofo e teólogo francês.
Blaise Pascal contribuiu decisivamente para a criação de
dois novos ramos da matemática: a Geometria Projetiva e a
Teoria das probabilidades. Em Física, estudou a mecânica
dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo,
ampliando o trabalho de Evangelista Torricelli. É ainda o
autor de uma das primeiras calculadoras mecânicas, a
Pascaline, e de estudos sobre o método científico.

35
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS

P 2.1 Para o esquema apresentado, determine a expressão que relaciona a pressão no nível A do tanque com
as leituras do manómetro de tubo em U.

P 2.2 Qual a expressão que dá a diferença de


pressão entre os pontos A e B? Se A, B e C forem,
respectivamente, óleo, ar e água, e se ℎ1 =
150 mm, ℎ2 = 100 mm e ℎ3 = 240 mm, qual a
diferença de pressão entre A e B, em unidades do SI?
Densidade do óleo : ρ = 800 kg m-3

P 2.3 Determine a pressão p1, dentro do


reservatório de ar, sabendo que os fluidos com
densidades 𝜌2 e 𝜌3 são, respectivamente,
mercúrio e água, e que os desníveis são ℎ1 =
120 mm, ℎ2 = 200 mm, ℎ3 = 160 mm e ℎ4 =
390 mm. O tubo manométrico encontra-se
aberto para a atmosfera.

36
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

P 2.4 Determine a diferença de pressão entre os pontos A e B, sabendo que os fluidos são água e mercúrio e
que os desníveis indicados na figura são ℎ1 = 40 mm e ℎ2 = 100 mm. Qual o ponto com maior pressão?

P 2.5 No sistema da figura, os dois reservatórios contêm ar e o líquido no tubo é água a 25 °C. Se os diâmetros
dos dois troços de tubo forem 30 mm e 10 mm, e o ângulo 𝜃 = 60°, qual será o valor do deslocamento L do menisco
no tubo que resultará de um aumento de 100 Pa na pressão do reservatório da esquerda?

P 2.6 Deduza a equação de trabalho para um manómetro em U de dois líquidos.


Discuta o interesse deste tipo de manómetros, tendo em conta a equação obtida.

P 2.7 Uma casa ficou parcialmente submersa em resultado de inundações.


O nível da água é de 3 metros acima do solo. Admitindo as dimensões da porta
indicadas no esquema, qual será a força horizontal a que a porta está sujeita,
admitindo que não houve entrada de água para o interior da casa?

37
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

38
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 3. VISCOSIDADE

3.1 Lei de Newton da Viscosidade

Os fluidos caracterizam-se por sofrerem uma deformação crescente com o tempo, quando sujeitos
a uma força de corte constante. Consideremos duas placas planas e paralelas, com área muito
grande, e separadas por uma distância constante ∆𝑦. O espaço que separa as placas encontra-se
totalmente preenchido por um filme de um líquido viscoso. Se aplicarmos uma força de corte
numa das placas segundo a direção 𝑥, mantendo a outra em repouso, estabelecer-se-á um
gradiente de velocidades no fluido. Junto a cada uma das superfícies sólidas, o fluido é arrastado
pela superfície com uma velocidade que admitimos ser igual à da placa. Se a aplicação da força
se mantiver por um período suficientemente longo, atingir-se-á o estado estacionário, sendo o
perfil de velocidades dado por uma reta - Figura 3.1.
Verifica-se experimentalmente que a força 𝐹 capaz de manter o estado estacionário é proporcional
à diferença de velocidades entre as duas placas, ∆𝑣𝑥 , e à área das placas, 𝐴, e inversamente
proporcional à espessura de fluido, ∆𝑦, de acordo com a lei de Newton da viscosidade:
𝐹 −∆𝑣𝑥
=𝜇
𝐴 ∆𝑦 Eq. (3.1)

39
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 3.1 – Distribuição da velocidade para um fluido escoando sob a ação de uma força de corte entre
placas paralelas.

Fazendo tender a espessura para zero, ∆𝑦 → 0 e recorrendo à definição de derivada, obtemos a


forma diferencial da lei da viscosidade, em que 𝜏𝑦𝑥 = 𝐹/𝐴.

𝜕𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 = −𝜇
𝜕𝑦 Eq. (3.2)

A força atua na direção 𝑥 e no plano 𝑥𝑧. Na representação simbólica do tensor de corte, o primeiro
índice traduza o plano de ação da força (plano xz, identificado pela direção da normal, 𝑦) e o
segundo índice traduz a direção de ação da força, x.
Reparemos que as dimensões de 𝜏𝑦𝑥 são
𝐹 MLT −2 MLT −1
[𝜏𝑦𝑥 ] ≡ [ ]= = 2
𝐴 L2 L T

Então, temos no numerador uma quantidade de movimento e no denominador uma área (a área
atravessada no transporte) e o tempo. Então, o mesmo processo pode ser descrito com base no
transporte de uma propriedade, que é a quantidade de movimento linear. Este transporte dá-se das
zonas de fluido mais rápido para as zonas de fluido mais lento; podemos então afirmar que há
transporte segundo a direção 𝑦 de quantidade de movimento segundo 𝑥 . Então, o primeiro índice
indica a direção do transporte e o segundo índice revela a componente de quantidade de

40
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

movimento que está a ser transportada. O sinal menos (–) traduz o sentido do fluxo, que é oposto
ao do gradiente de 𝑣𝑥 , ou seja, o transporte ocorre das zonas de fluido rápido para as zonas onde
o fluido é mais lento2. A área para o transporte é a área da superfície normal ao gradiente da
velocidade.
Se o gradiente for positivo, a porção superior do fluido irá ter velocidade maior, pelo que ao fim
de uma unidade de tempo haverá uma distorção do fluido, dada pelo ângulo δα (Figura 3.2). O
𝜕𝑣𝑥
gradiente de velocidades, , corresponde à taxa de deformação angular de um elemento de
𝜕𝑦

fluido.
A viscosidade pode então ser descrita como a resistência de um fluido à deformação em
resultado de uma força de corte.

Figura 3.2 - Deformação de um fluido em resultado de uma força de corte.

Analisando a Eq 3.3, obtemos as dimensões da viscosidade:

𝜏𝑦𝑥
𝜇=−
𝜕𝑣𝑥
Eq. (3.3)
𝜕𝑦

𝐹
[
] MLT −2 L−2
[𝜇] ≡ 𝐴 −1 −1
𝑣 = LT −1 L−1 = ML T
[ ]
𝐿

2
Note-se que os índices irão depender da geometria e das características de cada escoamento, incluindo o sistema de eixos. Assim, a
mesma situação física descrita na Figura 3.1 seria representada por 𝜏𝑦𝑥 ou 𝜏𝑥𝑧 , com uma simples alteração dos eixos. Naturalmente,
noutros sistemas de eixos iremos encontrar índices diferentes; por exemplo, para o escoamento axial de um fluido dentro de um tubo
cilíndrico, a velocidade será segundo a direção z (direção axial) e essa velocidade poderá variar segundo uma das outras direções,
𝜕𝑣𝑧
𝜃 ou 𝑟. Se a variação for segundo a direção radial, ou seja, se 𝑣𝑧 (𝑟), haverá uma componente do tensor dada por 𝜏𝑟𝑧 = −𝜇 .
𝜕𝑟

41
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

No SI, a viscosidade vem expressa em kg m-1 s-1, ou Pa·s. Nos livros menos recentes é costume
aparecerem as unidades do sistema CGS, que corresponde a g cm-1 s-1, e que se designa por poise
(P). Sendo esta unidade demasiado grande para a maioria dos fluidos, opta-se em geral por usar
o centipoise (cP), sendo 1 cP = 0,01 poise.
Para além da viscosidade (também designada por viscosidade molecular ou absoluta), fala-se
também da razão entre essa grandeza e a massa específica, 𝜌, e que se designa por viscosidade
cinemática (ou difusividade de quantidade de movimento), 𝜈:
𝜇
𝜈=
𝜌 Eq. (3.4)

As dimensões da viscosidade cinemática são de área por unidade de tempo:


M L−1 T −1
[𝜈] ≡ = L2 T −1
M L−3

No sistema CGS esta unidade tem uma designação própria, o stoke (St), que corresponde a 1 cm2
s-1.

Os fluidos que seguem a Lei de Newton da viscosidade designam-se fluidos Newtonianos. São
fluidos Newtonianos todos os gases (puros ou misturas), bem como a maioria dos líquidos não
poliméricos (em particular os monoatómicos ou com moléculas pequenas). A viscosidade de um
fluido Newtoniano é portanto determinante nas características do seu escoamento.
Vejamos então que valores toma e como varia a viscosidade. A viscosidade dos gases é baixa e
-5
difere pouco de gás para gás, estando em geral na gama 510-6 – 310 Pa·s. A viscosidade dos
líquidos é superior e abrange uma gama muito mais vasta (Tabela 3.1). Convém referir o caso da
água, com 𝜇 = 1 mPa ∙ s à temperatura de 293 K.
A viscosidade dos líquidos diminui fortemente com o aumento da temperatura, ao passo que nos
gases aumenta ligeiramente com a temperatura. Esta diferença de comportamento deve-se à
diferença de mecanismos de transporte de quantidade de movimento. Nos gases, a resistência à
deformação é essencialmente devida aos choques entre moléculas. Moléculas provenientes de
regiões em que a velocidade média é elevada e que se deslocam aleatoriamente colidem com
outras moléculas mais lentas, trocando quantidade de movimento ao nível molecular e
consequentemente de uma para outra região do fluido. Dado que o movimento aleatório das
moléculas é facilitado pela temperatura, a viscosidade também aumenta com esta.
Segundo a teoria cinética dos gases, temos
𝜇 ∝ √𝑇 (temperatura absoluta)

42
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

o que é uma boa aproximação na grande maioria dos casos.

No caso dos líquidos as moléculas estão mais compactadas, pelo que a resistência à deformação
é controlada principalmente pelas forças de atração intermoleculares. Estas forças de atração
diminuem com o aumento da temperatura, pelo que a viscosidade decresce, seguindo
aproximadamente uma lei do tipo exponencial, i.e.,

𝜇 ≅ a 𝑒 −b𝑇 Eq. (3.5)


em que a e b são constantes.

Tabela 3.1 - Viscosidades de alguns fluidos

Substância T / ºC μ /mPa·s
Água (liq.) 20 1,0019
Ar 20 0,01813
(C2H5)2O (liq.) 20 0,245
C2H5OH (liq.) 20 1,194
H2SO4 (liq.) 25 19,15
Glicerina (liq.) 20 1069
CH4 (gás) 20 0,0109
CO2 (gás) 20 0,0146
Hg (gás) 380 0,0654
(adaptado de Bird, Lightfoot, Stewart, Transport Phenomena, John Wiley & Sons)

Efeito da pressão
Sendo que nenhum material é rigorosamente incompressível, os líquidos têm densidade
aproximadamente constante, pelo que a sua viscosidade é considerada independente da pressão.
Já nos gases o efeito da pressão existe mas ainda assim é pouco significativo para a viscosidade
em pressões moderadas. Excetuam-se as pressões da ordem da pressão crítica, i.e., cerca de 10
vezes superior à pressão atmosférica.
Naturalmente, a viscosidade cinemática tem um comportamento diferente, e varia bastante com a
pressão no caso dos gases.

3.2 Grandezas matemáticas. O tensor fluxo de quantidade de


movimento.
Na descrição da Mecânica dos fluidos recorremos a parâmetros físicos com natureza matemática
diversa. Alguns parâmetros são descritos por grandezas escalares. É o caso da pressão ou de
propriedades como a densidade ou a viscosidade. A descrição de uma grandeza escalar requer
apenas o valor e eventualmente de um sinal algébrico.

43
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Já a velocidade e as forças são grandezas vetoriais. Num espaço dimensional, necessitamos


conhecer as componentes segundo as direções, como seja x, y e z.

𝑣⃗ = 𝑣𝑥 𝑒⃗𝑥 + 𝑣𝑦 𝑒⃗𝑦 + 𝑣𝑧 𝑒⃗𝑧

Quando tratamos da variação da velocidade, vemos que cada um destes componentes pode variar
segundo três direções, pelo que o gradiente da velocidade é dado por uma matriz de nove
elementos, ou tensor de segunda ordem:

𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕 𝑣𝑥
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦
⃗⃗𝑣⃗ =

𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧
( 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 )

A matriz transposta:
𝜕 𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕 𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧
⃗⃗𝑣⃗ 𝑇 =

𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑦
𝜕 𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧
( 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑧 )

Para escoamento incompressível de um fluido Newtoniano, o tensor de corte, ou tensor fluxo de


quantidade de movimento, resulta da soma desta matriz com a sua transposta, multiplicado pela
viscosidade:

⃗⃗𝑣⃗ + ∇
𝜏 = −𝜇 (∇ ⃗⃗𝑣⃗ 𝑇 )

Daqui resulta a matriz com nove elementos:


𝜏𝑥𝑥 𝜏𝑥𝑦 𝜏𝑥𝑧
𝜏 = (𝜏𝑦𝑥 𝜏𝑦𝑦 𝜏𝑦𝑧 )
𝜏𝑧𝑥 𝜏𝑧𝑦 𝜏𝑧𝑧

Esta é uma matriz simétrica em torno da diagonal principal, ou seja, 𝜏𝑥𝑦 = 𝜏𝑦𝑥 e

genericamente 𝜏𝑖𝑗 = 𝜏𝑗𝑖 .

44
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Em coordenadas retangulares, os componentes tangenciais (fora da diagonal) são:


𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦
𝜏𝑥𝑦 = 𝜏𝑦𝑥 = −𝜇 ( + )
𝜕𝑦 𝜕𝑥
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧
𝜏𝑦𝑧 = 𝜏𝑧𝑦 = −𝜇 ( + )
𝜕𝑧 𝜕𝑦
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑥
𝜏𝑧𝑥 = 𝜏𝑥𝑧 = −𝜇 ( + )
𝜕𝑥 𝜕𝑧
Quanto aos componentes da diagonal principal, se o escoamento for incompressível, são
idênticos, mas com a soma de duas parcelas idênticas:

𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥


𝜏𝑥𝑥 = −𝜇 ( + ) = −2 𝜇
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕𝑣𝑦
𝜏𝑦𝑦 = −2𝜇
𝜕𝑦

𝜕𝑣𝑧
𝜏𝑧𝑧 = −2𝜇
𝜕𝑧

Para escoamento compressível os componentes da diagonal apresentam uma outra parcela, que
traduz o efeito da variação de densidade. A expressão completa pode ser encontrada em anexo.

3.3 Fluidos Não-Newtonianos

Designa-se por Reologia a ciência que estuda a deformação e o escoamento. Esta ciência
engloba portanto o comportamento dos sólidos elásticos, mas também o dos fluidos, Newtonianos
ou não-Newtonianos. Recorde-se que todos os gases são Newtonianos, pelo que os não-
Newtonianos são sempre líquidos. Todos os líquidos vulgarmente apelidados de pastosos,
peganhentos ou gelatinosos, fazem parte do universo dos líquidos não-Newtonianos. A
importância tecnológica dos líquidos não-Newtonianos é enorme, dado que algumas grandes
famílias de líquidos, como é o caso das suspensões coloidais, dos polímeros e das soluções
poliméricas são, regra geral, não-Newtonianos.

Existem dois tipos de classificação para os fluidos não-Newtonianos: relativamente à


variação da viscosidade com a tensão de corte e com o tempo.

45
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

3.3.1 Classificação do comportamento reológico com base na tensão de corte

O comportamento reológico dos fluidos pode ser descrito de uma forma simples mediante
uma generalização da lei de Newton da viscosidade,
𝜕𝑣𝑥
𝜏 𝑦𝑥 = −𝜇𝑎
𝜕𝑦 Eq. (3.6)

Um líquido muito viscoso terá necessariamente um elevado valor de 𝜇𝑎 , designado de


viscosidade aparente. Enquanto nos fluidos Newtonianos a viscosidade tem um valor constante
na curva de tensão-taxa de deformação, ou seja, o fluido impõe a mesma resistência à deformação
qualquer que seja a tensão de corte aplicada, nos fluidos não-Newtonianos este coeficiente não é
uma propriedade do fluido mas em vez disso depende da tensão de corte ou do gradiente da
velocidade. Ou seja, os fluidos não-Newtonianos opõem uma resistência variável à deformação,
ao contrário dos Newtonianos, que opõem sempre a mesma resistência.
A viscosidade aparente é portanto dada pela razão entre a tensão de corte e o gradiente da
velocidade.
𝜏 𝑦𝑥
𝜇𝑎 = −
𝜕𝑣𝑥 Eq. (3.7)
𝜕𝑦

Os fluidos Newtonianos são aqueles que seguem a lei de Newton da viscosidade, e que iremos
representar na forma simplificada:
𝜏 = 𝜇 𝛾̇
sendo 𝛾̇ a taxa de deformação, também designada por taxa de corte:
𝑑𝑣𝑥
𝛾̇ = −
𝑑𝑦 Eq. (3.8)

Na Figura 3.3 representa-se um gráfico tensão-deformação. O gráfico é dado por uma reta que
passa pela origem e cujo declive é 𝜇. Os fluidos cujo comportamento não é Newtoniano
apresentam então outro comportamento. De entre os diferentes comportamentos, destacamos os
mais importantes: plástico de Bingham, plástico de Casson, pseudoplástico e dilatante. Os
plásticos – de Casson e de Bingham – distinguem-se dos outros por terem uma tensão de cedência,
i.e., uma tensão crítica, 𝜏0 , abaixo da qual têm comportamento rígido.

46
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 3.3 Curvas de comportamento reológico para diferentes tipos de comportamento reológico.

Note-se que todos os comportamentos não-Newtonianos são descritos por pelo menos dois
parâmetros característicos, em contraste com a lei de Newton (que tem como único parâmetro a
viscosidade).
Descrevem-se em seguida os principais comportamentos não-Newtonianos e respetivas leis.

O modelo de Ostwald de Waele

O modelo de Ostwald de Waele, também conhecido como lei da potência é descrito pela
equação:
𝜕𝑣𝑥 𝑛−1 𝜕𝑣𝑥
𝜏 𝑦𝑥 = −𝑚 | |
𝜕𝑦 𝜕𝑦 Eq. (3.9)

As constantes 𝑚 e 𝑛 designam-se coeficiente de consistência e coeficiente de comportamento,


respetivamente. Este modelo descreve quer os pseudoplásticoas quer os dilatantes. Para um
comportamento pseudoplástico, o coeficiente de comportamento é inferior à unidade, 𝑛 < 1, ao
passo que para um dilatante será 𝑛 > 1. Note-se que, para 𝑛 = 1, a lei se reduz à lei de Newton
da viscosidade.

47
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Por seu lado, o coeficiente de consistência dá uma medida aproximada da viscosidade do fluido;
seja qual for o comportamento, um fluido muito viscoso terá um coeficiente de consistência
elevado.
A forma da equação indica que o fluxo de quantidade de movimento tem sentido oposto ao
gradiente da velocidade. O modelo pode ser escrito numa forma simplificada:
𝜕𝑣𝑥 𝑛
|𝜏 𝑦𝑥 | = 𝑚 | |
𝜕𝑦 Eq. (3.10)

Pela definição, concluímos que a viscosidade aparente varia com o gradiente da velocidade:
𝜇𝑎 = 𝑚 |𝛾̇ |𝑛−1 Eq. (3.11)
Ou seja, com o aumento da rapidez de corte o fluido torna-se menos viscoso ou mais viscoso
consoante se trate de um fluido pseudoplástico ou dilatante.

PSEUDOPLÁSTICOS
O comportamento pseudoplástico é o mais comum de entre os não-Newtonianos. Resulta da
existência de cadeias longas que se encontram com orientações aleatórias em repouso, mas que
em movimento relativo sofrem um alinhamento, que resulta numa mais fácil deformação do
fluido. Este grupo tem muita relevância industrial porque engloba a maior parte dos fluidos não-
Newtonianos, tais como as soluções poliméricas, as borrachas, a maionese, a pasta de papel,
muitos fluidos biológicos, a maioria das tintas e ainda algumas suspensões de sólidos inertes não-
solvatados.

DILATANTES
O comportamento dilatante é pouco comum. Ocorre em suspensões com alto teor de sólidos, tais
como suspensões aquosas de amido ou de silicato de potássio e ainda de goma-arábica. Para
baixas velocidade o líquido tem uma ação lubrificante, que é perdida para velocidades mais
elevadas. Estes fluidos podem conduzir a comportamentos bastante inesperados, resultantes de
serem muito viscosos sob a ação de forças de corte elevadas ou altas velocidades, que contrasta
com uma boa plasticidade em velocidades de deformação baixas. Assim, é possível
eventualmente conseguir correr (mas não caminhar) sobre um líquido. Também é possível usar
líquidos dilatantes em equipamentos anti-bala. Ou seja, estes fluidos alternam o comportamento
de líquido e de quase-sólido, consoante as forças a que estão sujeitos.

Fluidos com tensão de cedência (plásticos)

48
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Genericamente, designam-se por plásticos os fluidos que possuem uma tensão crítica abaixo da
qual exibem um comportamento do tipo corpo rígido. Existem numerosos exemplos deste
comportamento, em particular em produtos alimentares e também em produtos de higiene e
estética, tais como cremes. É o caso das claras batidas em castelo, da mousse de chocolate, mas
também do molho ketchup, da pasta dentífrica, das ceras e de muitos fluidos biológicos.
Apresentamos aqui dois modelos de comportamento englobados nesta categoria.

PLÁSTICOS DE BINGHAM
Os plásticos de Bingham são descritos por uma relação linear entre a tensão de corte e a rapidez
de corte, acima da tensão de cedência, 𝜏0 . Abaixo da tensão de cedência o fluido tem
comportamento do tipo corpo rígido, o que significa que não escoa. Acima de 𝜏0 o comportamento
é descrito pela equação de 1º grau, com declive dado pelo coeficiente de Bingham, 𝑘𝐵 .

𝜕𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 ± 𝜏0 = −𝑘𝐵 , se |𝜏𝑦𝑥 | > 𝜏0
𝜕𝑦
𝜕𝑣𝑥 Eq. (3.12)
=0 se |𝜏𝑦𝑥 | < 𝜏0
{ 𝜕𝑦

Note-se que no primeiro membro surge uma diferença entre tensões de corte. Para garantir a
consistência da equação, 𝜏𝑦𝑥 e 𝜏0 têm obrigatoriamente o mesmo sinal.
Pela definição da viscosidade aparente, concluímos que o fluido se torna menos viscoso à medida
que a rapidez de corte aumenta.

PLÁSTICOS DE CASSON
Este comportamento pode ser interpretado como um desvio à lei de Bingham, e consiste na
existência de uma curvatura na linha de comportamento reológico, com a concavidade voltada
para baixo. A lei de Casson pode ser escrita na forma:

√𝜏 − √𝜏0 = −𝑘𝐶 √|𝛾̇ | Eq. (3.13)


sendo 𝜏0 a tensão de cedência.

Note-se que, mais do que tipos de fluido, os modelos apresentados descrevem comportamentos.
Assim, um mesmo fluido pode ter comportamento variável consoante as gamas da tensão de corte.
Por exemplo, existem fluidos com comportamento pseudoplástico ou dilatante a baixas ou altas
tensões de corte, respetivamente - Figura 3.4.

49
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 3.4. Fluido com comportamento do tipo pseudoplástico – dilatante.

Viscosidade Aparente

Para um par de valores tensão/deformação, obtém-se apenas um ponto na curva de


comportamento reológico. Nos fluidos não-newtonianos, chama-se a esta razão “viscosidade
aparente”, 𝜇𝑎 :
𝜏
𝜇𝑎 = ( )
𝛾̇ 𝛾̇ 1 Eq. (3.14)

A viscosidade aparente é a que se mede experimentalmente. Se o fluido for Newtoniano, a


viscosidade medida será a mesma para qualquer valor do gradiente de velocidades.
Para um dilatante, a viscosidade aparente aumenta com 𝛾̇ , i.e., com a deformação e, portanto,
com a tensão de corte (Figura 3.5). Para todos os outros comportamentos estudados, a viscosidade
aparente diminui com o gradiente de velocidades, 𝛾̇ .
A viscosidade aparente corresponde então à viscosidade do fluido Newtoniano cuja reta
intersectaria a curva de comportamento reológico do fluido em causa no ponto de realização da
medida (Figura 3.6).

Figura 3.5. Viscosidade aparente para diferentes situações de tensão de corte.

50
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 3.6. Viscosidade aparente e comparação com os fluidos Newtonianos.

3.3.2 Classificação relativamente ao tempo

Dado que 𝜏 corresponde a uma força tangencial por unidade de área e 𝛾̇ corresponde a um
gradiente de velocidade, é lógico que, num agitador colocado no seio de um fluido, para o
mesmo gradiente de velocidades, i.e., para a mesma velocidade de agitador, a força a aplicar
será tanto maior quanto maior for a viscosidade aparente. Se em alguns líquidos esta força não
se altera com o tempo, noutros ela varia com o tempo para a mesma velocidade de agitação.
Assim, definem-se dois tipos de comportamento, consoante a viscosidade aparente diminui ou
aumenta com o tempo - Figura 3.7.

Figura 3.7 Variação da viscosidade aparente com o tempo.

51
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

FLUIDOS TIXOTRÓPICOS
Designam-se por tixotrópicos os fluidos para os quais a viscosidade aparente diminui com o
tempo de agitação, para um gradiente de velocidade (ou uma velocidade de agitação)
constante, havendo uma recuperação gradual da viscosidade quando o fluido é deixado em
repouso. Assim, se se medir a viscosidade a tensões de corte crescentes e depois decrescentes,
haverá uma histerese, com a tensão de corte menor (ou viscosidade menor no troço
descendente da curva - Figura 3.8 . Ou seja, para a mesma tensão de corte o fluido é menos
viscoso se tiver sido previamente sujeito a tensões mais elevadas (ou de uma forma mais
simples, se tiver sofrido agitação). Se abandonado em repouso, o fluido recupera a viscosidade
inicial. Este comportamento é comum em bastantes produtos comerciais, em particular nas
tintas de construção civil. Durante a aplicação a tinta torna-se menos viscosa, o que facilita a
formação de uma camada uniforme. Após a interrupção da força, a viscosidade aparente
aumenta, pelo que a tinta se torna mais viscosa durante a secagem. Esta propriedade é
importante porque inibe a precipitação dos pigmentos na fase de secagem e também porque
dificulta a formação de “escorridos”. A experiência prática do comportamento tixotrópico
pode ser sentida quando se agita uma tinta aquosa após armazenagem. Nos primeiros instantes
o líquido é bastante viscoso, mas a agitação torna-se gradualmente mais fácil. Este
comportamento está em geral associado à quebra de ligações fracas (p.ex., pontes de
hidrogénio) entre cadeias poliméricas. Uma vez cessada a agitação, as ligações restabelecem-
se gradualmente, repondo a viscosidade inicial. Como outros exemplos, podemos ainda referir
o ketchup e muitas soluções poliméricas. Note-se que os fluidos tixotrópicos são em geral
também pseudoplásticos.

Figura 3.8 Comportamento reológico dos fluidos tixotrópicos; setas indicam o tempo crescente.

52
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

FLUIDOS REOPÉTICOS
Designam-se por reopéticos os fluidos cuja viscosidade aparente aumenta com o tempo de
agitação. Este comportamento, que é pouco comum, resulta de um melhor arranjo das
moléculas como consequência do movimento, e só ocorre para muito baixas velocidades.
Exemplos: suspensões de argilas e soles (suspensões coloidais estabilizadas).

Note-se que, se um fluido for tixotrópico ou reopético, então ele não é Newtoniano e, portanto,
terá obrigatoriamente uma classificação em função da tensão de corte – vulgarmente, são
pseudoplásticos. O contrário, no entanto, não é verdade. Isto é, um fluido pode ser
pseudoplástico ou dilatante e apresentar uma viscosidade independente do tempo.

FLUIDOS VISCOELÁSTICOS

Para além dos comportamentos mencionados, alguns fluidos têm a propriedade de retomar
parcialmente a forma do reservatório que os continha, quando é interrompida a aplicação da
força. Estes fluidos designam-se por “viscoelásticos” e combinam comportamento elástico
com comportamento plástico. Apresentam portanto alguma elasticidade, à semelhança dos
sólidos. É o caso das colas de borracha: se começarmos a despejar uma destas colas a partir
do recipiente e depois dermos um impulso no sentido contrário, é possível fazer o líquido
regressar ao frasco. Este comportamento não se observa com água ou com outro líquido que
não seja viscoelástico. Estes líquidos têm também a capacidade de “subir” ao longo de um
agitador, separando-se das paredes do recipiente e também de “alargar” à saída de um tubo -
“efeito de Weissenberg” (Figura 3.9). Outro exemplo de um fluido viscoelástico é a clara do
ovo, na qual ambos os comportamentos são fáceis de observar. De notar que, após batida em
castelo, a clara do ovo passa então a apresentar tensão de cedência, que aliás é a forma empírica
de verificarmos se as claras atingiram o ponto. Outro exemplo de fluido viscoelástico é a massa
de pão, que requer agitadores especiais já que a massa se separa do recipiente e “prende” no
agitador.

O comportamento viscoelástico é explicado pela existência de cadeias poliméricas enroladas,


que se desenrolam sob a ação de uma força de corte, mas que tendem a reenrolar quando a
força é interrompida.

53
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

(a) (b)

(c) (d)
Figura 3.9- Comportamentos típicos dos fluidos viscoelásticos; comparado com líquidos Newtonianos; (a)
e (c): líquidos Newtonianos; (b) e (d) comportamento viscoelástico, com subida ao longo de um agitador
(a) e alargamento à saída de um tubo (b).

Note-se que estes comportamentos são determinantes no tipo de aplicação de cada fluido. Assim,
para além da tixotropia no caso das tintas, pensemos como é importante a tensão de cedência em
muitos produtos de consumo. Sem este tipo de comportamento, a pasta dentífrica sairia do
respetivo tubo apenas por ação da gravidade e portanto sem a necessidade de qualquer força extra.
Também a manteiga não poderia ser comercializada em barras embrulhadas em papel vegetal, por
exemplo. Por outro lado, os óleos lubrificantes para motores são sempre pseudoplásticos, de modo
que nos rolamentos, onde o gradiente de velocidades é elevado, o atrito é relativamente pequeno.
Por outro lado, nas juntas, onde o gradiente de velocidade é pequeno, o óleo é mais viscoso e,
como tal, tem menos tendência a sair nas pequenas fugas.

Deformação de fluidos
Do que vimos neste capítulo, conclui-se que a distinção entre líquidos e sólidos elásticos escapa
facilmente aos nossos sentidos. Analisemos a definição de um líquido à luz dos novos

54
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

conhecimentos. A diferença de comportamento entre sólidos e líquidos elásticos pode ser descrita
com base na experiência esquematizada na Figura 3.10. No caso de um sólido elástico, a aplicação
da força tangencial provoca uma deformação caracterizada pelo ângulo 𝛿𝛼 (cujo valor dependerá
das propriedades do sólido e do valor de força), deformação essa que se mantém enquanto se
mantiver a aplicação da força. Por outro lado, se considerarmos uma camada de um líquido
viscoso (“pastoso”) entre duas placas planas e paralelas e se aplicarmos da mesma forma uma
força tangencial, haverá também uma deformação angular, mas que aumenta enquanto se
mantiver a aplicação da força. Ou seja, quanto mais longo o tempo de aplicação da força, maior
será a deformação. A deformação não é constante, mas aumenta com o tempo; eventualmente
haverá uma taxa de deformação constante.

(a)

(b)

Figura 3.10 Deformação sob a ação de uma força tangencial, num sólido (a) e num líquido (b).

55
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS

P 3.1 Uma placa com área de 10 dm2 está pousada sobre um pavimento liso e horizontal, que
tem uma camada de cera com 0,5 mm de espessura. Aplica-se uma força horizontal sobre a
placa, de 5 N, que gera um deslocamento da placa com a velocidade linear de 5 cm s-1.
a) Qual a viscosidade da cera, expressa em centipoise?
b) Para atingir o dobro da velocidade, é necessário aplicar uma força ligeiramente inferior a
10 N; quais serão os possíveis comportamentos reológicos da cera?
c) Do seu conhecimento empírico, quais destes comportamentos lhe parecem mais plausíveis?

Reologia é a ciência que estuda a deformação e o escoamento.


Os comportamentos não-Newtonianos são descritos sempre por pelo menos dois
parâmetros reológicos.

56
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 4. DESCRIÇÃO MACROSCÓPICA DE UM


ESCOAMENTO

A análise de problemas de escoamento pode ter três abordagens diferentes:


 Análise integral ou ao volume de controlo (macroscópica)
 Análise diferencial (microscópica)
 Análise dimensional (experimental)

A análise diferencial é a mais antiga, tendo sido proposta no séc. XVIII por Euler e
Lagrange. É uma abordagem teórica e sofisticada que, apesar de útil em casos simples, conduz a
descrições matemáticas de resolução extremamente difícil na maioria das situações, pelo que é de
utilização relativamente restrita. Este assunto é tratado no Capítulo 5 e no Capítulo 6. A análise
dimensional é de uma grande versatilidade, pois pode ser aplicada a qualquer sistema. Exige no
entanto frequentemente a realização de numerosos ensaios experimentais, o que a torna
eventualmente dispendiosa. Este assunto é tratado no Capítulo 7. A análise integral é a mais usada
em Engenharia, pois é matematicamente simples e aplica-se a qualquer sistema. Conduz regra
geral a resultados pouco sofisticados, mas funcionais, o que justifica largamente a sua
popularidade.
Antes de passarmos à análise integral propriamente dita, convém introduzir alguns
conceitos e fundamentos essenciais para o estabelecimento dos balanços.

Designa-se por sistema uma quantidade de massa fixa e identificável. O que está em volta
do sistema é a sua vizinhança, sendo o sistema separado da vizinhança pelas suas fronteiras. Na
descrição de um fluido em movimento, vamos sempre considerar o fluido como um meio
contínuo, isto é, um meio que se pode deformar em consequência de forças aplicadas, que tem
uma variação de propriedades com o espaço e com o tempo, mas no qual não se distinguem os
comportamentos individuais das moléculas. Neste meio contínuo podemos definir um campo, que
se pode definir matematicamente como uma região do espaço à qual, a cada ponto, pode ser
associado um valor de uma determinada grandeza. Assim, temos campos escalares (caso da
pressão, temperatura, concentração), campos vetoriais (caso do campo de velocidades) e campos
tensoriais (caso do tensor fluxo de quantidade de movimento). Para um fluido em escoamento,

57
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

podemos a cada ponto associar um vetor velocidade, com direção, sentido e módulo variável.
Chama-se linha de corrente à linha que, em cada ponto, é tangente ao vetor velocidade. Em
estado estacionário, isto é, se as condições não variarem com o tempo, a linha de corrente
corresponde à trajetória seguida por uma partícula que acompanha o movimento do fluido.

A descrição macroscópica de um fluido em escoamento irá ser feita através da abordagem


do volume de controlo, que consiste numa região fixa do espaço, através da qual o fluido escoa.
Ou seja, há sempre fluido a entrar e a sair e, consequentemente, o fluido contido no volume de
controlo varia ao longo do tempo. A superfície de controlo é uma superfície fechada que
corresponde à fronteira do volume de controlo. Em geral, esta superfície não tem realidade física,
exceção feita ao caso em que uma parte da superfície coincide com uma parede (por exemplo, a
parede de um tubo). A análise será feita de acordo com os princípios básicos da mecânica e da
termodinâmica, que se irão traduzir em leis aplicadas a um volume de controlo:

 Conservação da massa
 Conservação da quantidade de movimento
 Conservação da energia

4.1 O Balanço à massa

O balanço à massa para um volume de controlo pode ser descrito como

caudal mássico caudal mássico caudal mássico


{ }−{ } +{ }=0
de saída de entrada acumulado

Consideremos então o volume de controlo da Figura 4.1, bem como as respetivas linhas
de corrente. No nosso balanço, 𝑑𝐴 é uma área elementar, 𝑣⃗ é o vector velocidade e 𝑛⃗⃗ a normal à
superfície, definida como um vetor unitário, perpendicular à superfície e dirigido para o exterior.
Seja 𝜃 o ângulo formado pelos vetores 𝑣⃗ e 𝑛⃗⃗. O caudal mássico através da área 𝑑𝐴 é dado por
(𝜌𝑣𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑑𝐴) , sendo (𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑑𝐴) a projecção da área 𝑑𝐴 no plano perpendicular ao vector
velocidade.

58
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 4.1. Volume de controlo e vetores associados à área dA.

Note-se que 𝜌 é a massa específica do fluido (expresso em massa/volume) e o produto 𝜌𝑣⃗ = 𝐺⃗ é


um vetor com dimensões de “caudal mássico/área”, designado por “vetor fluxo mássico”.
Se integrarmos para toda a superfície, obtemos a resultante do transporte de massa através da
superfície de controlo:

resultante dos caudais


{ mássicos atravessando } = ∬ 𝜌𝑣 cos 𝜃 𝑑𝐴 = ∬ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) 𝑑𝐴
Eq. (4.1)
a superfície de controlo 𝐴 𝐴

Repare-se que o produto (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) é positivo para o fluido que sai do volume de controlo (0 < 𝜃 <
90°) e negativo para o fluido que entra (𝜃 > 90°). Por outro lado, se 𝜃 = 90°, o produto interno
será (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) = 0, isto é, não há escoamento.
𝑑𝑀
A acumulação será , em que M é a massa contida dentro do volume de controlo. Para um
𝑑𝑡
volume elementar 𝑑𝑉, a massa nele contida será 𝜌 𝑑𝑉. Se integrarmos para todo o volume de
controlo, ficaremos com a massa total contida no sistema num determinado instante,
𝑀 = ∭ 𝜌 𝑑𝑉.
O termo de acumulação será dado pela variação desta grandeza com o tempo:

𝑑𝑀 𝜕
{ caudal } = = ∭ 𝜌𝑑𝑉 Eq. (4.2)
acumulado 𝑑𝑡 𝜕𝑡
𝑉

O balanço da massa para o volume de controlo pode portanto ser escrito como:

𝜕
∬ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑑𝑉 = 0
𝜕𝑡 Eq. (4.3)
𝐴 𝑉

Traduzido em palavras, esta expressão significa que a resultante do transporte de massa através
da superfície de controlo (o que sai – o que entra), somada à taxa de acumulação, é igual a zero.

59
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Casos particulares da equação de balanço de massa:

- Estado estacionário
Em estado estacionário o termo de acumulação é nulo, pelo que a equação fica apenas com os
termos de transporte através da superfície de controlo:

∬ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = 0
Eq. (4.4)
𝐴

Esta equação traduz que a diferença entre o caudal mássico de saída e o caudal mássico de
entrada é nula. Ou seja, o que sai é igual ao que entra.

- Fluido incompressível e estado estacionário


Para um fluido incompressível, toda a equação pode ser dividida pela densidade, pelo que fica
expressa não em termos da massa mas sim do volume:
𝜕
∬(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝑑𝑉 = 0
𝜕𝑡 Eq. (4.5)
𝐴 𝑉

Naturalmente, o 2º termo traduz a variação temporal do volume contido no sistema. Se o volume


de controlo se encontrar completamente preenchido pelo fluido e ele for incompressível, então
não poderá haver acumulação e a equação simplifica-se para a forma:

∬(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = 0
Eq. (4.6)
𝐴

Note-se que o balanço à massa pode ser feito para o fluido globalmente ou apenas para um dos
componentes, no caso de uma mistura. Nesse caso, e se houver reação química, haverá que
contabilizar um termo de consumo e/ou geração. Assim, para um sistema multicomponente, o
balanço poderá ser escrito como:
𝑑𝑀𝑖
𝑚̇𝑖𝑠 − 𝑚̇𝑖𝑒 + = 𝑅𝑖
𝑑𝑡 Eq. (4.7)

em que 𝑚̇𝑖𝑠 e 𝑚̇𝑖𝑒 representam o caudal mássico do componente 𝑖 na saída e na entrada,


𝑑𝑀𝑖
respetivamente. 𝑑𝑡
é o termo de acumulação e 𝑅𝑖 traduz a taxa temporal de geração (negativo
no caso de consumo).

60
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 4.1

Considere o escoamento estacionário de um fluido num tubo com secção variável e fazendo um ângulo
entre as direções de entrada e de saída. Simplifique o balanço à massa para este sistema, admitindo que
a velocidade é uniforme na entrada e na saída.

Resolução:
A direção do escoamento na entrada e na saída do tubo é normal à secção, pelo que fazem entre si um ângulo 𝛼. A
velocidade é 𝑣1 na entrada e 𝑣2 na saída.
Para volume de controlo, escolhemos todo o fluido contido dentro do tubo e excluímos as paredes, entre as secções
para as quais temos informação, e às quais chamaremos 1 e 2. O volume de controlo está assinalado com uma linha
tracejada, que acompanha a parede mas está no seu interior, demonstrando que a parede é excluída.
Em estado estacionário, sabemos que:
∬ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = 0

O integral pode ser dividido em três partes, a secção de entrada, a secção de saída e a região lateral. Na região lateral
não há escoamento através da superfície de controlo, pelo que o integral é nulo e as secções de entrada e de saída ficam
na forma:

∬ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∬ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = 0


1 2

O produto interno é negativo na entrada e positivo na saída, pelo que:

𝜌1 (−𝑣1 )𝐴1 + 𝜌2 𝑣2 𝐴2 = 0 ⇔ 𝜌1 𝑣1 𝐴1 = 𝜌2 𝑣2 𝐴2

O que traduz a igualdade dos caudais mássicos, 𝑚̇1 = 𝑚̇2

Ou seja, o caudal mássico de entrada é igual ao caudal mássico de saída.

Velocidade média de um escoamento:

Numa secção, o caudal é dado pelo integral da velocidade para a superfície, que neste caso é
aberta:

𝑄 = ∬ 𝑣 cos 𝜃 𝑑𝐴
Eq. (4.8)

61
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

No caso de uma superfície aberta não falamos em entrada ou saída, porque o fluido simplesmente
atravessa a superfície em causa. Para escoamento axial em condutas ou canais, será então cos 𝜃 =
1.
Para condutas de secção circular, o caudal volumétrico será dado então pelo integral da velocidade
na secção transversal, i.e., em r e em 𝜃 :
2𝜋 𝑅

𝑄 = ∫ ∫ 𝑣 (𝑟) 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 Eq. (4.9)


0 0

A velocidade média na secção, 〈𝑣〉, é dada pela razão entre o caudal e a área:

1
〈𝑣 〉 = ∬ 𝑣 𝑑𝐴
𝐴 Eq. (4.10)
Daqui resulta que:
2𝜋 𝑅
∫0 ∫0 𝑣(𝑟) 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃
〈𝑣 〉 = 2𝜋 𝑅
∫0 ∫0 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 Eq. (4.11)

Ou seja,
𝑄
〈𝑣 〉 =
𝐴 Eq. (4.12)

No caso de uma secção transversal de uma conduta cilíndrica, o denominador da Eq. (4.11) é a
área do círculo:
𝑅
2𝜋 ∫0 𝑣(𝑟)𝑟 𝑑𝑟
〈𝑣 〉 =
𝜋𝑅2

Exemplo 4.2
Consideremos um perfil de velocidades descrito por uma lei parabólica, dentro de um tubo de secção
circular de raio 𝑅:
𝑟 2
𝑣(𝑟) = 𝑣max [1 − ( ) ]
𝑅
Calcule a velocidade média 〈𝑣〉 para este escoamento.

Resolução:
A velocidade média numa área circular será dada por:

2𝜋 𝑅 𝑟2
∫0 ∫0 𝑣max [1 − 𝑅 ] 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 2𝜋𝑣max 𝑅2 𝑅4
〈𝑣 〉 = 2𝜋 𝑅 = ( − 2)
∫0 ∫0 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 𝜋𝑅2 2 4𝑅

62
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑣max
〈𝑣 〉 = Eq. (4.13)
2

Exemplo 4.3
Água circula através de uma conduta circular de diâmetro D= 8 cm, representada na figura, com um perfil de
velocidades dado por
𝑟2
𝑣𝑧 (𝑟) = 4 (1 − )
16
em que 𝑣𝑧 é a componente z da velocidade em cm/s e r é a coordenada radial expressa em cm. Determine a
velocidade média no troço a jusante da contração, onde d= 1,5 cm.

Resolução:

Vamos fazer o balanço à massa. Escolhemos como volume de controlo toda a região interior ao tubo, entre as secções
de entrada (1) e de saída (2), e excluindo as paredes. Desta forma todo o fluido compreendido entre as duas secções
está incluído no nosso balanço. Porque o fluido é incompressível e não há termo de acumulação, a equação simplifica-
se para a forma da Eq. (4.6) . Na parede lateral não há escoamento, pelo que o integral se limita às secções de entrada
e de saída:

∬(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∬(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = 0


1 2

− ∬ 𝑣1 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 + ∬ 𝑣2 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 = 0
1 2

𝑄1 = 𝑄2 = 𝑄
Como conhecemos a distribuição de velocidades na secção de entrada, o caudal vai ser obtido pelo integral
da respetiva expressão, já que a velocidade é função da coordenada radial.
2𝜋 𝑅 𝑅
𝑟2 𝑟2 𝑟4
𝑄 = ∫ ∫ 4 (1 − ) 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 = 8𝜋 [ − ]
16 2 4 × 16 0
0 0
𝑄 = 100 cm3 s−1

𝑄 100
𝑣2 = 2 = = 56,9 cm s−1
𝑑 1,52
𝜋 4 𝜋 4

4.2 O Balanço às forças

63
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

O balanço de forças a um volume de controlo (VC) baseia-se na segunda lei de Newton:

𝑑(𝑚𝑣⃗ )
∑ 𝐹⃗ =
𝑑𝑡

que se pode exprimir como: “a resultante das forças que atuam sobre o volume de controlo é igual
à taxa de variação temporal da quantidade de movimento”.

As forças que atuam sobre o fluido são:

 força gravítica, pelo facto de um fluido se encontrar num campo de forças (atuam em
volume);
 forças de pressão, que atuam na direção normal à superfície de controlo (atuam em
superfície);
 forças de corte, que atuam na superfície de controlo, no sentido oposto à velocidade.

O balanço pode ser escrito como (abreviando a quantidade de movimento como “qdm”):

forças taxa temporal de taxa temporal de taxa temporal


∑ { actuando } = { saída de qdm } − { entrada de qdm } + {de acumulação}
sobre o VC por convecção por convecção de qdm

Para as taxas de saída e entrada de quantidade de movimento, consideramos o transporte feito


com a corrente, pela entrada e pela saída de fluido que transporta quantidade de movimento (tem
velocidade). Vamos recorrer ao que aprendemos no balanço mássico. Sabemos que massa ×
velocidade = quantidade de movimento. Ora, como na Eq. (4.3) temos caudais mássicos (parcelas
de massa dividida por tempo), resulta que cada termo ao ser multiplicado pela velocidade irá dar
a taxa temporal de quantidade de movimento através da superfície de controlo. Então, 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴
traduz o caudal mássico que atravessa o elemento de área 𝑑𝐴. A quantidade de movimento por
unidade de tempo que atravessa esse mesmo elemento de área será , 𝑣⃗ 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴. A resultante
do transporte de quantidade de movimento por convecção (saída-entrada) resulta do integral para
toda a superfície de controlo, i.e., ∫𝐴 𝑣⃗ 𝜌 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) 𝑑𝐴 .
Para o termo de acumulação, 𝜌𝑣⃗ 𝑑𝑉 traduz a quantidade de movimento contida no volume
elementar 𝑑𝑉. O integral ∭𝑉 𝜌𝑣⃗ 𝑑𝑉 representa portanto a quantidade de movimento na
totalidade do volume de controlo, e o termo de acumulação será
𝜕
∭ 𝜌𝑣⃗ 𝑑𝑉
𝜕𝑡
𝑉

64
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Assim, o balanço de forças pode ser expresso como:

𝜕
∑ 𝐹⃗ = ∬ 𝜌𝑣⃗ (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌𝑣⃗ 𝑑𝑉
𝜕𝑡 Eq. (4.14)
𝐴 𝑉

Em estado estacionário o termo de acumulação é zero, pelo que ficamos apenas com as forças e
o termo convectivo. Em cada caso há que explicitar as forças a contabilizar no primeiro membro.

𝜕
∑ 𝐹𝑥 = ∬ 𝜌𝑣𝑥 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑣𝑥 𝑑𝑉 Eq. (4.15)
𝜕𝑡
𝐴 𝑉

𝜕
∑ 𝐹𝑦 = ∬ 𝜌𝑣𝑦 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑣𝑦 𝑑𝑉 Eq. (4.16)
𝜕𝑡
𝐴 𝑉

𝜕
∑ 𝐹𝑧 = ∬ 𝜌𝑣𝑧 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑣𝑧 𝑑𝑉 Eq. (4.17)
𝜕𝑡
𝐴 𝑉

Exemplo 4.4

Considere um tubo no plano xz, sendo z a direcção vertical. A direcção de saída forma um ângulo α com a
direcção de entrada. Determine qual a força exercida pelo fluido sobre as paredes do tubo, admitindo estado
estacionário.

Resolução:
Para volume de controlo vamos considerar todo o volume contido dentro do tubo (excluindo a parede), de
acordo com a representação a tracejado.
Direção x: em 1, a força de pressão será 𝑝1 𝐴1 e em 2 será −𝑝2 𝐴2 cos 𝛼. O peso não tem componente
segundo x. Na parede, a força será 𝐵𝑥 , pelo que
∑ 𝐹𝑥 = 𝑝1 𝐴1 − 𝑝2 𝐴2 cos 𝛼 + 𝐵𝑥
No segundo membro, temos:

65
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

∬ 𝑣⃗𝜌(𝑣
⃗⃗ ∙ 𝑛
⃗⃗)𝑑𝐴 = 𝑣1 𝜌1 (−𝑣1 )𝐴1 + 𝑣2 cos 𝛼𝜌2 𝑣2 𝐴2

O balanço de forças na direção x fica então:

𝑝1 𝐴1 − 𝑝2 𝐴2 cos 𝛼 + 𝐵𝑥 = 𝑣1 𝜌1 (−𝑣1)𝐴1 + 𝑣2 cos 𝛼𝜌2 𝑣2 𝐴2

Por outro lado o balanço à massa diz-nos que 𝜌1 𝑣1 𝐴1 = 𝜌2 𝑣2 𝐴2 = 𝑚̇ (caudal mássico), o que permite
simplificar a equação para
𝐵𝑥 = −𝑣1 𝑚̇ + 𝑣2 cos 𝛼𝑚̇ − 𝑝1 𝐴1 + 𝑝2 𝐴2 cos 𝛼
Para a direção z, e sendo temos:
∑ 𝐹𝑧 = 0 + 𝑝2 𝐴2 sen 𝛼 − 𝑉𝜌𝑔 + 𝐵𝑥

sendo 𝑉o volume ocupado pelo fluido.


Para o segundo membro, temos:

∬ 𝑣𝑧 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = ∬ 𝑣𝑧 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∬ 𝑣𝑧 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = 0 − (𝑣𝑧 sen 𝛼 )𝜌𝑣2 𝐴2


𝐴 1 2

O balanço de forças para o volume de controlo fica então:


𝑝2 𝐴2 sen 𝛼 − 𝑉𝜌𝑔 + 𝐵𝑧 = −(𝑣2 sen 𝛼) 𝑚̇

∴ 𝐵𝑧 = −(𝑣2 sen 𝛼 )𝑚̇−𝑝2 𝐴2 sen 𝛼 + 𝑉𝜌𝑔

𝐵𝑥 e 𝐵𝑧 são as componentes da força exercida sobre o fluido, pelo que a força exercida pelo fluido sobre
a parede será a força de reação (simétrica): 𝑅𝑥 = −𝐵𝑥 e 𝑅𝑧 = −𝐵𝑧

isto é, 𝑅𝑥 = 𝑣1 𝑚̇ − 𝑣2 cos 𝛼𝑚̇ + 𝑝1 𝐴1 − 𝑝2 𝐴2 cos 𝛼

𝑅𝑧 = (𝑣2 sen 𝛼 )𝑚̇ + 𝑝2 𝐴2 sen 𝛼 − 𝑉𝜌𝑔

Note-se que 𝐵𝑥 e 𝐵𝑧 traduzem a totalidade das forças exercidas na interface, e resultam da acção conjunta
da pressão exercida pela parede (normal à superfície de controlo) e da força de corte (atrito), que atua no
sentido oposto ao movimento.

66
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 4.5

Um líquido escoa em estado estacionário, numa conduta cilíndrica e horizontal, com 30 mm de diâmetro
interno. Mediu-se a pressão em dois pontos situados a 10,0 m de distância, tendo-se obtido 1,30 e 1,00 bar. A
velocidade de escoamento na entrada é 1,00 m/s.
a) Determine a força de corte na parede.
b) Determine a tensão de corte na parede.

Resolução:

O volume de controlo engloba todo o fluido entre as secções 1 e 2, espaçadas de 10 m.

a) O balanço à massa diz-nos que 𝑣1 𝜌1𝐴1 = 𝑣2 𝜌2𝐴2. Como o fluido é incompressível e a secção é
constante, resulta que 𝑣1 = 𝑣2.
O balanço às forças na direção x, em estado estacionário, fica

𝑝1 𝐴1 − 𝑝2 𝐴2 − 𝐹𝜏 = 𝑣1 𝜌(−𝑣1 )𝐴1 + 𝑣2 𝜌(𝑣2 )𝐴2

𝑣1 𝜌(−𝑣1 )𝐴1 + 𝑣2 𝜌(𝑣2)𝐴2 = 0

pelo que o somatório das forças é nulo.

𝐹𝜏 = ( 𝑝1 − 𝑝2 )𝐴 = (1,30 − 1,00) × 105 × 𝜋 × 0,0152 = 21,2 N

b) A tensão de corte é igual à força de corte dividida pela área (neste caso a área molhada, i.e., a área de
contacto entre o líquido e a parede).

Assim, temos
𝐹𝜏
𝜏𝑤 = = 22,5 Pa
𝜋𝐷𝐿

Exemplo 4.6

Um líquido escoa dentro de um tubo com diâmetro D= 6,0 cm, com caudal de 340 L min-1. Determine a
força que é necessário aplicar para manter o tubo fixo, sendo y a direção vertical, sabendo que o diâmetro
na saída da embocadura é d= 4,0 cm e que as pressões (relativas) à entrada e à saída são, respetivamente,
2,00 e 1,00 kPa. Admita como aproximação que o perfil de velocidades é plano à entrada e à saída e
despreze o peso do tubo. Dados: ρ =950 kg m-3, volume total da tubagem = 0,011 m3

67
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Resolução:

Pela equação da continuidade, para um fluido incompressível escoando em estado estacionário, vem:

𝑄 0,34
〈𝑣1 〉 = = = 2,00 m s−1
𝐴1 60 × 𝜋 × 0,032

𝑄 0,34
〈𝑣2 〉 = = = 4,51 m s−1
𝐴2 60 × 𝜋 × 0,022

Balanço macroscópico às forças, em estado estacionário, direcção x:

∑ 𝐹𝑥 = ∬ 𝜌𝑣𝑥 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = ∬ 𝜌𝑣𝑥 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∬ 𝜌𝑣𝑥 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴


𝐴 1 2

𝑝1 𝐴1 + 𝑝2 𝐴2 + 𝐵𝑥 = 𝑣1 𝜌(−𝑣1 )𝐴1 − 𝑣2 𝜌(𝑣2 )𝐴2

𝐵𝑥 = −𝜌(𝑣1 2 𝐴1 + 𝑣2 2 𝐴2 ) − 𝑝1 𝐴1 − 𝑝2 𝐴2

𝐵𝑥 = −950 × ( 2,02 × 𝜋 × 0,032 + 4,512 × 𝜋 × 0,022 ) − 2000 × 𝜋 × 0,032 − 1000 × 𝜋 × 0,022

𝐵𝑥 = 41,9 N

Direcção y (não há pressões segundo y e vy = 0) ∑ 𝐹𝑦 = 𝐵𝑦 − 𝐹𝑔

Em que 𝐹𝑔 representa o peso. Assim, será:

𝐵𝑦 = 𝐹𝑔 ∴ 𝐵𝑦 = 𝑉𝜌𝑔 = 0,011 × 950 × 9,81 = 102,5 N

A resultante será: 𝐵 = √𝐵𝑥2 + 𝐵𝑦2 = 111 N

Para manter o tubo fixo é necessária uma força de ~111 N (11,3 kgf ).
Note-se que se usaram os valores das pressões relativas à pressão atmosférica, pois quer saber-se a força para manter o
tubo fixo, o qual está sujeito à pressão atmosférica.

4.3 O Balanço à Energia

O primeiro princípio da Termodinâmica pode ser escrito como

∆𝐸 = 𝑞 − 𝑊

68
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

em que 𝐸 é a energia total por unidade de massa do fluido, 𝑞 é o calor absorvido por unidade de
massa do fluido e 𝑊o trabalho realizado, por unidade de massa do fluido, sobre a vizinhança 3.
Todos estes termos têm dimensões de energia/massa, i.e., J/kg no sistema internacional.
A equação de balanço de energia a um volume de controlo macroscópico faz uso deste
princípio e pode ser expressa como:

trabalho energia que energia que


calor fornecido energia
realizado sai entra
{ diretamente } − { }= { }− { } + {acumulada}
pelo VC sobre do VC no VC
ao VC no VC
a vizinhança com o fluido com o fluido

Por seu lado, a energia contida no sistema surge em três formas (expressa como energia/massa):
 Energia potencial ou gravítica, devida à presença do fluido num campo gravitacional.
É dada por 𝑔𝑧, sendo 𝑧 a altura relativamente ao centro da Terra ou, de uma forma mais
simples, relativamente ao um referencial. A posição do referencial não é relevante porque
vamos trabalhar com diferenças.
 Energia cinética, dada por 𝑣 2 ⁄2, é a energia devida à existência de movimento
(translacional ou rotacional), sendo v a velocidade em relação às fronteiras do sistema.
 Energia interna, U: relacionada com a energia rotacional e vibracional nas ligações
químicas, i.e., com o estado térmico do fluido.
A energia total é então dada por
𝑣2
𝐸=𝑈+ + 𝑔𝑧 Eq. (4.18)
2
A entrada e saída de energia com o escoamento (transporte convectivo) pode ser expressa por:
𝑣2
∬ 𝐸𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = ∬ (𝑈 + + 𝑔𝑧) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) 𝑑𝐴
2 Eq. (4.19)
𝐴 𝐴

em que se multiplicou a resultante dos caudais de massa através da superfície pela energia
específica do fluido. As dimensões são de energia/tempo, i.e., potência (J s−1 = Watt no SI).

A taxa de acumulação será dada por:


energia por
𝜕
( unidade de ) = ∭ 𝐸𝜌 𝑑𝑉
tempo 𝜕𝑡 Eq. (4.20)
𝑉

3
Em Mecânica dos Fluidos em geral e neste livro em particular, o trabalho é positivo se for realizado pelo
sistema sobre a vizinhança, pelo que tem sinal oposto ao considerado na Termodinâmica.

69
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝜕 𝑣2
= ∭ (𝑈 + + 𝑔𝑧) 𝜌 𝑑𝑉
𝜕𝑡 2
𝑉

O balanço à energia para o volume de controlo pode então ser escrito na forma:
𝜕
𝑞̇ − 𝑊̇ = ∬ 𝐸𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝐸𝜌 𝑑𝑉
𝜕𝑡 Eq. (4.21)
𝐴 𝑉

em que 𝑞̇ é o calor fornecido por unidade de tempo e 𝑊̇ o trabalho realizado por unidade de
tempo, i.e., a potência (𝑊̇ > 0 se o fluido realizar trabalho).

O trabalho realizado pelo fluido sobre a vizinhança está associado à existência de forças que
atuam sobre o fluido e ao trabalho transformado noutras formas de energia. Assim, temos:
 Forças de pressão nas fronteiras na superfície de controlo: o trabalho corresponde ao
produto entre a força e o deslocamento. Se, em vez do deslocamento, usarmos a
velocidade, teremos o trabalho por unidade de tempo. Integrando para toda a superfície,
teremos o trabalho total por unidade de tempo, realizado pelo volume de controlo para
vencer a pressão nas fronteiras:

∬ 𝑝(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴
Eq. (4.22)
𝐴

 Atrito: A força de atrito nas fronteiras do sistema é uma força de corte que contraria a
diferença de velocidades, ou seja, que se opõe ao movimento e portanto à deformação
do fluido. Este trabalho, que consiste numa perda e que está ligado à viscosidade, será
representado por 𝑊̇𝜇 .
 Trabalho de veio: consiste no trabalho realizado ao pôr uma pá em movimento, uma
turbina, por exemplo (em inglês, “shaft work”): 𝑊̇𝑠 .

Então, o termo do trabalho pode ser decomposto em três parcelas:

𝑊̇ = ∬ 𝑝(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + 𝑊̇𝜇 + 𝑊̇𝑠


Eq. (4.23)
𝐴

Substituindo e rearranjando o balanço, obtemos a nossa equação noutra forma:

𝑝 𝜕
𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 = ∬ (𝐸 + ) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝐸𝜌 𝑑𝑉 + 𝑊̇𝜇
𝜌 𝜕𝑡 Eq. (4.24)
𝐴 𝑉

Este é o balanço à energia para um fluido em escoamento, expresso em parcelas de energia/tempo.

70
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 4.7

Apliquemos os balanços de massa e de energia a um volume de controlo em estado estacionário, sem atrito e
consideremos que o sistema tem apenas uma entrada e uma saída. Admitamos também que, tal como acontece na
grande maioria dos casos, a velocidade nas secções “1” e “2” é normal à superfície de controlo. Finalmente,
admitamos que a velocidade é uniforme na entrada e uniforme na saída.

Resolução:
Admitindo que a velocidade é uniforme na secção “1” e também na secção “2”, e em estado estacionário, o balanço à
massa fica na forma da Eq. (4.6). Nas superfícies laterais, junto às quais colocámos a superfície de controlo, não há
escoamento. Por outro lado, em 2, 𝜃 = 0 ⇒ cos 𝜃 = +1, e (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗) = 𝑣2.
Em “1”, 𝜃 = 180° ⇒ cos 𝜃 = +1 e portanto (𝑣⃗ ∙ 𝑛
⃗⃗) = −𝑣1

O balanço à massa diz-nos que:

𝜌2 𝑣2 𝐴2 = 𝜌1 𝑣1 𝐴1 = 𝑚̇

Dado que 𝜌𝑣 = 𝐺 (massa/área∙tempo) então 𝜌𝑣𝐴 é um caudal mássico. Assim, a equação de balanço da massa traduz
a igualdade dos caudais mássicos na entrada e na saída do volume de controlo.
Fazendo o balanço à energia, vemos que não há acumulação nem perdas de energia devido ao atrito, pelo que a equação
Eq. (4.24) se simplifica:

𝑝
𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 = ∬ (𝐸 + ) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴
𝜌
𝐴

sendo:
𝑝 𝑣2 𝑝
𝐸+ = 𝑈 + + 𝑔𝑧 +
𝜌 2 𝜌

Substituindo no balanço e dividindo pelo caudal mássico, obtemos:

𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 𝑣2 2 𝑝2 𝑣1 2 𝑝1
= (𝑈2 + + 𝑔𝑧2 + ) − (𝑈1 + + 𝑔𝑧1 + ) Eq. (4.25)
𝑚̇ 2 𝜌2 2 𝜌1
Note-se que a energia interna mais o termo da pressão podem ser substituídos pela entalpia, H.

𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 𝑣2 2 𝑣1 2
= (𝐻2 + + 𝑔𝑧2 ) − (𝐻1 + + 𝑔𝑧1 ) Eq. (4.26)
𝑚̇ 2 2

71
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

4.3.1 A Equação de Bernoulli

A equação de Bernoulli é um caso particular da equação de conservação da energia mecânica para


fluidos em escoamento. Apesar de a sua aplicação ter algumas restrições, ela traduz uma
correlação importantíssima e explica na sua essência as correlações entre velocidade e pressão ao
longo de um escoamento.
A equação de Bernoulli descreve um escoamento ideal. Designa-se por escoamento ideal um
escoamento incompressível e sem efeito da viscosidade (invíscido). Se o escoamento ocorrer em
estado estacionário sem transferência de calor com o exterior (𝑞̇ = 0), sem realização de trabalho
de veio (𝑊̇ 𝑠 = 0) e em sistemas isotérmicos (𝑈1 = 𝑈2 ) e ao longo de uma linha de corrente,
podemos simplificar a Eq. (4.25) para um escoamento ideal:
𝑝1 𝑣1 2 𝑝2 𝑣2 2
+ + 𝑔𝑧1 = + + 𝑔𝑧2
𝜌 2 𝜌 2 Eq. (4.27)

Cada uma destas parcelas tem dimensões de energia/massa. Para um fluido incompressível, se
dividirmos por 𝑔, obtemos uma equação em que cada um dos termos tem dimensões de
comprimento, e que se designa equação de Bernoulli:
𝑝1 𝑣1 2 𝑝2 𝑣2 2
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (4.28)

Esta equação é um caso particular da equação de balanço à energia. Cada uma destas parcelas
𝑝 𝑣2
designa-se por carga, respetivamente a carga de pressão (𝜌𝑔 ), a carga de velocidade (2𝑔 ) e a

carga potencial (𝑧). A utilização das parcelas de carga é mais intuitiva porque traduz parcelas que
se podem medir experimentalmente. Assim, a carga de pressão é a altura manométrica num ponto
do fluido (vimos isto no Capítulo 2), ao passo que a carga potencial z é um nível num referencial
qualquer. A liberdade na escolha do referencial resulta do facto de a equação traduzir variações
de cada uma das parcelas:
𝑝1 − 𝑝2 𝑣1 2 −𝑣2 2
+ + 𝑧1 −𝑧2 = 0
𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (4.29)

Ou seja, também na carga de pressão se pode trabalhar com pressão relativa ou pressão absoluta,
porque a diferença se mantém.
Algumas consequências desta equação são interessantes e nem sempre intuitivas. Consideremos
o escoamento de um líquido numa tubagem em que há uma redução de secção - Figura 4.2(a). Os
pontos A e B encontram-se a montante e a jusante do redutor de secção. Pela conservação da
massa, já sabemos que 𝑣B > 𝑣A . Como os dois pontos estão ao mesmo nível (𝑧B = 𝑧A ), resulta

72
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

que o aumento da velocidade vai provocar uma diminuição da pressão, i.e. 𝑝B < 𝑝A. Já no caso
da Figura 4.2(b), o aumento do diâmetro provoca uma diminuição da velocidade e
consequentemente um aumento da pressão (o que se verifica pelo nível do menisco).

(a) (b)

Figura 4.2 Escoamentos com variação da secção.

A equação de Bernoulli traduz portanto a conservação da energia mecânica, ou seja, da energia


que pode ser transformada em trabalho. Esta conservação refere-se no entanto à soma das
parcelas, pelo que qualquer das parcelas pode aumentar ou diminuir e consequentemente provocar
respetivamente a diminuição ou o aumento das outras. Portanto, se ao longo do escoamento a
velocidade aumentar, então a pressão irá diminuir, mas se além disso aumentar também a carga
potencial, então a pressão irá diminuir ainda mais. Este é o caso da Figura 4.3, em que de A para
B a carga potencial aumenta e a velocidade também aumenta e o resultado só pode ser uma
diminuição da pressão.

Figura 4.3 Escoamento com variação de velocidade e de carga potencial.

A equação de conservação da energia ajuda a explicar a sustentação dos aviões. A asa de um avião
é curva na parte superior e mais plana na superfície inferior. Isso faz com que o ar, ao percorrer a
parte superior da asa, ganha velocidade, pois tem um maior caminho a percorrer - Figura 4.4. O
ar inferior vai por isso ter uma pressão maior do que o ar superior, o que resulta na força de
sustentação da asa.

73
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 4.4 Escoamento em torno da asa de um avião; variações da velocidade (a) e da pressão (b).

Daniel Bernoulli
(Groningen, 1700 - Basileia, 1782)
Matemático holandês, membro de uma família de
talentosos matemáticos, físicos e filósofos. É recordado
por suas aplicações da Matemática à Mecânica,
especialmente a Mecânica dos Fluidos, e ainda por
trabalho pioneiro em Probabilidades e Estatística.

Exemplo 4.8

Uma mangueira de incêndio com 10,0 cm de diâmetro e com um bocal de 2,5 cm descarrega 15 L/s de
água para a atmosfera (ver figura). Admitindo que o escoamento se processa com conservação de energia
e que a velocidade é uniforme em cada secção do tubo (perfil de velocidade plano), determine:
a) a pressão na secção 1;
b) a força exercida pelos parafusos das flanges para manter fixo o bocal na mangueira.

Resolução:
a) As velocidades médias são determinadas a partir do caudal volumétrico:

74
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑄 0,015
〈𝑣1 〉 = = = 1,91 m s−1
𝐴1 𝜋 × 0,052

𝑄 0,015
〈𝑣2 〉 = = = 30,5 m s−1
𝐴2 𝜋 × 0,01252

Como o fluido é incompressível, aplica-se a equação de Bernoulli, com perfil de velocidades plano  〈𝑣〉 = 𝑣 e 𝛼 =
1; note-se que z1 = z2 e p2 = patm :

〈𝑣2 〉2 − 〈𝑣1 〉2
𝑝1,rel = 𝜌
2

30,52 − 1,912
𝑝1,rel = 1000 × = 4,64 × 105 Pa
2

b) Precisamos de um balanço macroscópico às forças, em estado estacionário:

𝑝1 𝐴1 − 𝑝2 𝐴2 + 𝐵𝑥 = 𝑣1 𝜌1 (−𝑣1 )𝐴1 + 𝑣2 𝜌2 (𝑣2 )𝐴2

Visto pretender-se a força para manter fixo o bocal da mangueira (e não a força exercida do fluido sobre o bocal), deve
usar-se pressões relativas e não absolutas, pois a força de pressão atmosférica tem resultante nula na direcção x.

𝐵𝑥 = 𝜌(−𝑣12 𝐴1 + 𝑣22 𝐴2 ) − 𝑝1 𝐴1 + 𝑝2 𝐴2

𝐵𝑥 = 1000 × 𝜋(−30,52 × 0,01252 + 1,912 × 0,052 ) − 4,64 × 105 × 𝜋 × 0,052 + 0

𝐵𝑥 = −3,22 kN = −328 kgf

Cada parafuso tem de suportar uma força de 164 kgf (=328/2) no sentido negativo de x.

Exemplo 4.9

Uma bomba fornece água a uma instalação industrial a partir de um poço. O


tubo de entrada tem diâmetro de 10,0 cm, comprimento de 3,0 m e está 2,0
m submerso dentro da água do poço. Admitindo conservação da energia e
velocidade uniforme na secção, qual será o caudal que conduzirá a um
abaixamento da pressão à entrada da bomba até à pressão (absoluta) de 87
kPa?

Resolução:
Aplicamos a equação de Bernoulli entre a superfície do fluido (ponto 1) e a entrada da bomba (ponto 2), onde se sabe
a pressão. A equação representa diferenças de carga entre os pontos de partida e de chegada, 1 e 2. O ponto 1 está na
superfície da água, o que significa que a área livre para o escoamento é muito maior do que a área da secção no tubo.
Daí resulta que 𝑣1 ≪ 𝑣2 pelo que o termo da carga da velocidade em 1 é desprezável.

𝑣2 2 𝑝1 − 𝑝2
= + 𝑧1 − 𝑧2
2𝑔 𝜌𝑔

75
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑝1 − 𝑝2
𝑣2 = √2𝑔 ( + 𝑧1 − 𝑧2 )
𝜌𝑔
Substituindo valores:
101325 − 0,87 × 105
𝑣2 = √2 × 9,8 × ( + 2,0 − 3,0) = 3,0 ms−1
1000 × 9,81

𝐷2 0,102
𝑄 = 〈𝑣2 〉 × 𝜋 = 3,0 × 𝜋 = 0,024 m3 s−1
4 4

Exemplo 4.10
Água escoa em estado estacionário por um tubo ascendente, sendo depois deflectida a 90° e saindo com
velocidade radial uniforme no plano horizontal. Considere que que o tubo ascendente tem comprimento 1,5 m e
diâmetro de 20,0 cm; o difusor tem um raio de 30,0 cm, tendo a abertura lateral um diâmetro de 12,5 mm.
Se o atrito for desprezado, qual a pressão relativa na entrada do tubo, para um caudal de 300 L s-1?

Resolução:

Aplicamos a equação de Bernoulli entre a secção de entrada no tubo (ponto 1), à pressão desconhecida, e a saída radial,
à pressão atmosférica (ponto 2).

Pela equação da continuidade, em estado estacionário, tem-se, para fluido incompressível, que a velocidade média se
mantém ao longo do escoamento.

𝐴2 4𝐷0 𝑒 4 × 0,0125 × 0,60


= 2 = = 0,75
𝐴1 𝐷 0,202

〈𝑣1 〉 = 0,75 〈𝑣2 〉

𝑄 0,30
〈𝑣1 〉 = = = 9,5 m s−1
𝐴1 𝜋 × 0,102

〈𝑣2 〉 = 12,7 m s−1 (admitimos velocidade uniforme nas secções)

0,0125
Como p2 é a pressão atmosférica, vem: 𝑧2 − 𝑧1 = 1,5 + 2
= 1,506

12,72 − 9,52
𝑝1 − 𝑝𝑎𝑡𝑚 = 1000 × + 1000 × 9,81 × 1,5 = 5,0 × 104 Pa
2

76
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Ou seja, a pressão relativa na secção 1 é 50 kPa.

Exemplo 4.11
O tanque da figura contém óleo à pressão atmosférica, inicialmente com um nível ℎ = 1,50 m. O óleo está
a escoar-se através de um tubo de 50 mm de diâmetro. Quanto tempo levará para baixar de 60 cm a
superfície de óleo no tanque, se o diâmetro do tanque for 2,00 m? A massa específica do óleo é de 750
kg/m3.

Resolução:
Para tempos curtos, podemos considerar que o tanque descarrega à taxa que corresponderia ao estado estacionário, ou
seja, vamos determinar a velocidade na descarga admitindo estado pseudo-estacionário. Aplicamos a equação de
Bernoulli entre a superfície do óleo (ponto 1) e a saída do tubo (ponto 2). Ambos os pontos estão à pressão atmosférica,
pelo que os termos da carga de pressão se anulam. Além disso, no ponto 1 a secção livre para o escoamento é muito
maior do que em 2, pelo que 𝑣1 ≪ 𝑣2. Como resultado, o termo de energia cinética é desprezável dentro do tanque, e
a equação fica simplificada:

𝑣22
=ℎ
2𝑔

e a velocidade instantânea na descarga será:

𝑣2 = √2𝑔ℎ
À medida que o tanque descarrega, a velocidade na descarga também decresce. Assim, fazemos um balanço à massa
em estado transitório:

Entra – Sai = Acumulação

𝑑𝑀
0 − 𝜌𝑣2 𝐴2 = (em que 𝑀 representa a massa contida no tanque)
𝑑𝑡

𝑑𝑀 𝑑𝑉
=𝜌 (em que 𝑉 ≡ volume contido no tanque)
𝑑𝑡 𝑑𝑡

O volume é dado pela geometria do cilindro, 𝑉 = 𝐴𝑏𝑎𝑠𝑒 × ℎ, pelo que o termo de acumulação passa a ser:

𝑑𝑉 𝑑ℎ
= 𝐴base
𝑑𝑡 𝑑𝑡

Como o fluido é incompressível, ficamos com

77
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑑ℎ
−𝑣2 𝐴2 = 𝐴base
𝑑𝑡

Esta é uma equação de variação da altura. Para conhecermos a lei de distribuição, ℎ(𝑡), precisamos de resolver a
equação diferencial. Trata-se de uma equação diferencial do tipo separável; substituindo a velocidade de descarga e
integrando, fica:

𝑡 ℎ𝑓
𝐴base 1 𝑑ℎ
∫ 𝑑𝑡 = − ∫
𝐴2 √2𝑔 √ℎ
0 ℎ𝑖

𝐷 22 ℎ𝑖
𝑡 = ( ) [√ℎ]ℎ
𝑑 𝑔 𝑓

2 2 2 1,5
Substituindo valores: 𝑡=( ) √ [√ℎ]0,9
0,05 9,81

E o resultado é:
𝑡 = 200 s

4.3.2 O coeficiente corretivo do termo da energia cinética

Quando se usa a equação aplicada não a uma linha de corrente mas sim a um volume de controlo,
interessa trabalhar com a média geométrica das variáveis nas secções de entrada e de saída. Para
escoamento isotérmico e incompressível, o termo convectivo de transporte de energia é dado por:
𝑝 𝑣2 𝑝 𝑣2
∬ ( + 𝑧𝑔 + ) 𝜌𝑣 𝑑𝐴 − ∬ ( + 𝑧𝑔 + ) 𝜌𝑣 𝑑𝐴
𝜌 2 𝜌 2 Eq. (4.30)
𝐴2 𝐴1

Onde admitimos que cos 𝜃 = 1. A resolução do integral complica-se um pouco se a velocidade


não for uniforme. Analisemos cada uma das parcelas separadamente. A pressão e carga potencial
variam pouco na secção de um tubo, pelo que é legítimo tomar ambas como constantes e iguais
ao valor médio na secção, que corresponderá ao valor no ponto central do tubo, i.e., no eixo, 〈𝑝 〉
e 〈𝑧 〉. Para cada uma das secções, ficará então:
〈𝑝 〉 𝑣2
𝑚̇2 + 𝑔〈𝑧 〉𝑚̇2 + ∬ 𝜌𝑣𝑑𝐴
𝜌 2 Eq. (4.31)
𝐴

Já a energia cinética varia muito ao longo da secção, já que é praticamente nula junto à parede e
atinge valores elevados no centro. Assim, temos:
transporte de 𝑣2
( ) = ∬ ( ) 𝜌𝑣 𝑑𝐴
energia cinética 2 Eq. (4.32)
𝐴

78
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝜌 𝜌〈 𝑣 〉 𝐴 𝑚̇
∬ 𝑣 3 𝑑𝐴 = ∬ 𝑣 3 𝑑𝐴 = ∬ 𝑣 3 𝑑𝐴
2 2〈𝑣 〉𝐴 2〈𝑣〉𝐴 Eq. (4.33)
𝐴 𝐴 𝐴

Reparemos que nos aparece a média do cubo da velocidade:


1
∬ 𝑣 3 𝑑𝐴 = 〈𝑣 3 〉
𝐴
𝐴

Então, ficamos com


𝑣2 𝑚̇ 〈𝑣 3 〉
∬ ( ) 𝜌𝑣 𝑑𝐴 =
2 2 〈𝑣 〉
𝐴

Como a média do cubo não é prática de usar, introduzimos um coeficiente que traduz a razão
entre o cubo da média e a média geométrica do cubo da velocidade:

〈𝑣〉3
𝛼=
〈𝑣 3 〉 Eq. (4.34)

E ficamos então uma expressão mais fácil de calcular:


𝑚̇ 〈𝑣 3 〉 〈𝑣 〉2
= 𝑚̇
2 〈𝑣 〉 2𝛼
Eq. (4.35)

Para velocidade constante na secção (perfil de velocidades plano), será 𝛼 = 1. Para perfil de
velocidades parabólico, será 𝛼 = 0,5. Para outras situações os valores são intermédios.
Dividindo a equação pela aceleração da gravidade, cada parcela passa a traduzir energia por
unidade de peso do fluido e a forma da equação é a da equação de Bernoulli, introduzindo-se
apenas o fator corretivo na energia cinética:
𝑝1 〈𝑣1 〉2 𝑝2 〈𝑣2 〉2
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2
𝜌𝑔 2𝑔𝛼1 𝜌𝑔 2𝑔𝛼2 Eq. (4.36)

Em muitas situações o coeficiente 𝛼 é aproximadamente unitário, pelo que a equação é usada


na forma simplificada que vimos na equação (4.28) , mas com a velocidade média na secção:
𝑝1 〈𝑣1 〉2 𝑝2 〈𝑣2 〉2
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (4.37)

Esta equação é crucial na compreensão e no projeto de instalações para transporte de fluidos.


Apesar de em rigor ser aplicável apenas a escoamento ideal, veremos mais à frente que é possível
usar a equação introduzido termos corretivos para contabilizar outras parcelas importantes,

79
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

designadamente a perda de energia devida às forças de corte nas paredes (atrito) e o trabalho de
veio.

4.3.3 A equação de Bernoulli aplicada a gases

Em contraste com os líquidos, em geral os gases escoam com velocidades elevadas, mesmo
quando as diferenças de pressão são pequenas. Ainda assim, para diferenças de pressão muito
pequenas, o escoamento de gases pode ser tratado em primeira aproximação admitindo
conservação da energia, ou seja, utilizando a equação de Bernoulli.
Consideremos um gás saindo de um reservatório onde se encontra à pressão 𝑝1 através uma
abertura, até ao exterior onde se verifica apressão atmosférica. Se aplicarmos a equação de
Bernoulli, e desprezando a variação de energia potencial por se tratar de um gás, fica:

2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑣2 = √
𝜌𝑔
Eq. (4.38)

Claro que a densidade não é constante, pelo que habitualmente usa-se a densidade média entre os
pontos,
𝜌̅ = 0,5 × (𝜌1 + 𝜌2 )
Eq. (4.39)
Desta forma, obtém-se
4 (𝑝1 − 𝑝𝑎𝑡𝑚 )
𝑣2 = √
(𝜌1 + 𝜌2 )
Eq. (4.40)

Esta aproximação introduz um erro pequeno para baixas diferenças de pressão (como seja
condutas de ar condicionado) e distâncias curtas, embora exclua tudo o que envolve variações
importantes e súbitas de pressão (tais como compressores, injetores e embocaduras). O
escoamento compressível com perda de carga será tratado no Capítulo 8.

80
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS
P 4.1 Considere o canal da figura, em que água escoa em
estado estacionário, entrando no canal com velocidade de 3 m/s.
As secções de entrada e saída são quadradas e têm de lado 14 cm
e 6 cm, respectivamente. A abertura na saída tem forma um
angulo de 𝜃 de 30° com a vertical. Nestas condições, qual a
velocidade média na saída e o caudal volumétrico?

P 4.2 Um objecto é colocado num túnel de água de secção transversal quadrada, com 1,00 m de lado, dentro
do qual é colocado um objecto que atravessa o canal na direcção transversal. A velocidade na entrada é uniforme,
com o valor de 6 m s-1. A distribuição de velocidade na saída é simétrica em torno do plano bissector horizontal, sendo
ℎ = 50 cm e 𝑙 = 100 cm .
a) Considerando os perfis de velocidade para a entrada e a saída apresentados na figura, calcule 𝑣2.
b) Se a força exercida pelo objecto for de 5 kN, qual será a diferença de pressão entre a entrada e a saída do
túnel?

𝑟 2
P 4.3 Considere uma distribuição de velocidades do tipo parabólico, dada por 𝑣𝑧 = 𝑉 [1 − (𝑅 ) ], em que 𝑉 é uma
〈𝑣〉3
constante. Demonstre que nestas condições o parâmetro 𝛼 = 〈𝑣 3〉 toma o valor 0,5.

P 4.4 Um tanque contém inicialmente 1000 kg de salmoura com um teor de 10% em massa de sal. Uma corrente
de alimentação com 20% em massa de sal escoa para o tanque com um caudal de 20 kg/min. A concentração de sal
no tanque é mantida uniforme através da agitação. A salmoura é removida do tanque a 10 kg/min. Determine a
quantidade de sal no tanque em função do tempo e o tempo necessário para que a massa de sal no tanque seja de
200 kg.

81
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

P 4.5 Um jacto de água é introduzido num segundo curso de água por um tubo com 7 cm de diâmetro a uma
velocidade 𝑣𝑗 = 27,0 m/s , de acordo com a figura. O tubo por onde circulam a segunda corrente mais o jacto de água
tem uma secção reta uniforme com um diâmetro de 28 cm. A velocidade da água na corrente secundária, antes de
contactar com a corrente de injecção é de 3,0 m/s. Considerando que na secção 2 a corrente de injecção e a corrente
secundária estão perfeitamente misturadas e que o escoamento é unidireccional e invíscido calcule:
a) a velocidade média na secção 2.
b) o aumento de pressão entre as secções 1 e 2.

P 4.6 Água a 20 ℃ escoa com um caudal de15 kg/s através do


cotovelo da figura ( = 40°) e descarrega para a atmosfera. Os
diâmetros do tubo e da embocadura (secções 1 e 2) são de 10 cm e 3
cm, respectivamente. Calcule a força exercida nos parafusos da flange
(1) sabendo que a pressão relativa em 1 é de 2,3 atm e que o peso do
cotovelo e da água no cotovelo são desprezáveis.

P 4.7 Num tubo em forma de U e com 20 mm de diâmetro,


colocado numa superfície horizontal, circula água devido a uma
diferença de pressão aplicada, sendo p1= 0,5 bar e p2= 0,3 bar. O caudal
é de de 85,0 L/min e a distribuição de velocidades pode ser considerada
plana. Nestas condições, qual será a resultante das forças horizontais a
que o tubo está sujeito?

P 4.8 Glicerina escoa ao longo de uma conduta circular, colocada na horizontal, com um perfil de velocidades
dado por 𝑣 = 2 × (1 − 400𝑟 2 ) (grandezas em unidades SI).
Qual será a velocidade média da glicerina no tubo de entrada?
Se a pressão (absoluta) for de 1500 kPa na entrada e de 1100 kPa na saída, qual a força exercida pelo líquido no
tubo? Admita que na saída o perfil de velocidades é plano.
Dados: propriedades da glicerina, 𝜌 = 1260 kg m−3; 𝜇 = 1,5 Pa ∙ s

82
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

P 4.9 Um jacto de água de 6 cm de diâmetro a 20°C e escoando com velocidade uniforme de 25 m s -1 atinge
uma placa com um orifício de 4 cm de diâmetro. Parte do jacto atravessa o orifício e mantém a velocidade, enquanto
a outra parte é deflectida. Determine a força que é necessário exercer para manter a placa imóvel.

P 4.10 Uma pasta viscosa é descarregada com um caudal de 65 kg/s


sobre uma correia transportadora, do modo representado na figura. Os
cilindros rotativos têm 80 cm de diâmetro e giram no sentido horário a 150
rpm. Desprezando o atrito do sistema, calcule a potência necessária para
accionar a correia.

P 4.11 Um fluido incompressível circula da secção A


(diâmetro: 30 cm) para a secção B (15 cm de diâmetro) do
tubo horizontal representado na figura, a um caudal de 0,060
m3/s. Para uma altura do menisco em B correspondente a 610
mm de coluna de líquido, calcule a carga de pressão em A, nas
seguintes condições:
a) admitindo que não há forças de atrito na parede.
b) admitindo uma perda de carga por atrito equivalente
a 50 mm de coluna do líquido.

P 4.12 O tubo da figura (designado por tubo de Venturi) tem um diâmetro à entrada de 0,6 m e é projectado
para lidar com 6,0 m3/s de ar. Qual deverá ser o diâmetro do estrangulamento para que um manómetro diferencial
ligado à entrada e ao estrangulamento indique uma diferença de carga equivalente a 10 cm de álcool?

83
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Dados: ρ(álcool)= 800 kg m-3; ρ(ar)=1,2 kg m-3


.

P 4.13 A bomba representada na figura fornece água a 15 °C a um caudal de 0,030


m3/s. O tubo de entrada tem um diâmetro de 0,15 m e 3,50 m de comprimento. O tubo de
entrada está 1,80 m submerso dentro da água e é vertical. Calcule:
a) A pressão dentro do tubo à entrada da bomba.
b) A altura máxima a que a bomba pode ser colocada sem que o líquido entre em
ebulição na entrada da bomba?

P 4.14 O tanque da figura contém óleo à pressão relativa de 10 cm de


mercúrio. O nível inicial é h= 1,5 m. O óleo está a escoar-se através de um
tubo de 50 mm de diâmetro. Quanto tempo levará para baixar de 60 cm a
superfície de óleo no tanque, se o diâmetro do tanque for 2,0 m? A massa
específica do óleo é de 750 kg/m3.

P 4.15 No fabrico da pasta de papel, as fibras de celulose da madeira são


separadas da lenhinha através do aquecimento em solução alcalina sob pressão
de 7 atm, em tanques circulares designados por digestores. No fim da digestão
alcalina abre-se um orifício na base do digestor (d= 20 cm) e a mistura é injectada
de encontro a uma placa plana para acabar de desfazer as tiras de madeira e
separar as fibras de celulose. Estime a velocidade da corrente de descarga e a
força de impacto no momento em que se inicia a descarga. O atrito no interior
do digestor e a energia cinética no interior do tanque podem ser desprezados.
Dados: D = 2,4 m; h1= 0,6 m; h2= 6,10 m; ρ pasta= 1040 kg m-3.

84
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 5. ESCOAMENTOS LAMINARES E


ESCOAMENTOS TURBULENTOS

5.1 A Experiência de Reynolds


Existem dois tipos de escoamento, que correspondem a diferentes padrões de escoamento,
e que se designam escoamento laminar e escoamento turbulento.

As situações que nos rodeiam estão repletas de exemplos destes dois tipos de escoamento.
Imaginemos uma garrafa de azeite que se vaza lentamente, gotas de chuva que deslizam ao longo
de uma parede ou ainda água a escoar ao longo de um canal, com baixa velocidade. Em todas
estas situações o escoamento dá-se suavemente, quase sem alterações da superfície do fluido.
Estas são situações de escoamento laminar.

Ao contrário, no escoamento turbulento, a superfície do fluido varia constantemente,


dando a impressão de que existem pequenas porções de fluido que se deslocam em conjunto e
separadas do restante fluido. É a situação que vemos por exemplo, quando abrimos uma torneira
com um caudal grande, ou nos gases que saem de uma chaminé, ou nas nuvens, ou ainda quando
provocamos agitação (seja ela numa chávena de café ou num reator químico).

A distinção entre escoamento laminar e turbulento é particularmente importante para


escoamento dentro de condutas, e pode ser facilmente entendido graças às experiências de
Osborne Reynolds (1883). Estas experiências estão descritas na Figura 5.1. Água escoa em estado
estacionário dentro de um tubo transparente, sendo o caudal controlado por uma válvula. Uma
fina corrente de água corada era injetada na corrente principal, observando-se o padrão de
escoamento. Observaram-se dois tipos de escoamento, sendo o laminar a velocidades baixas e o
turbulento a velocidades altas. Na prática verificou-se que, para além da velocidade, a transição
de escoamento laminar para turbulento é determinada por outros parâmetros: diâmetro da conduta
(𝐷), viscosidade (𝜇) e densidade (𝜌) do fluido.

O critério para determinar qual o tipo de escoamento em cada caso é dado por uma relação
adimensional entre aquelas variáveis, e que é conhecida como número de Reynolds (Re):

85
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑣𝜌𝐷
Re =
𝜇 Eq. (5.1)

O número de Reynolds traduz uma razão de forças, entre as forças de inércia e as forças viscosas.
Quando predominam as forças de inércia, o fluido tem muita energia cinética e o escoamento
torna-se turbulento. Em contrapartida, quando predominam as forças viscosas o escoamento é
laminar.

(a) (b)

Figura 5.1. Experiência de Reynolds (a). Escoamento laminar e escoamento turbulento (b). (O. Reynolds
1883).

Para um tubo reto de secção circular, se Re < 2100, o escoamento será laminar estável. Para Re >
4000 o escoamento será turbulento estável. Nas situações intermédias, o escoamento pode ser
laminar mas terá tendência para alguma instabilidade.
Adaptações do número de Reynolds têm sido feitas a outras geometrias e sistemas, sendo 𝑣 e
𝐷 substituídos respectivamente por uma velocidade característica e um comprimento
característico do sistema em causa.

O número de Reynolds traduz uma razão entre as forças de inércia e as forças


viscosas.

86
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Osborne Reynolds
(Belfast, 1842 — Watchet, 1912)
Foi um físico britânico, que se dedicou ao estudo da
hidrodinâmica. Em 1866, tornou-se o primeiro
catedrático na área da Engenharia em Manchester, e o
segundo da Inglaterra.

5.2 Balanços microscópicos à quantidade de movimento


O tratamento analítico do escoamento permite em alguns casos chegar à lei de distribuição da
velocidade e também do fluxo de quantidade de movimento e de pressão. Neste capítulo iremos
tratar dois casos-tipo. No primeiro o fluido é posto em movimento devido a uma força de corte e
no segundo devido o escoamento resulta de uma diferença de pressão. Com uma escolha adequada
dos elementos de volume e uma descrição correta das parcelas das forças e dos fluxos de
quantidade de movimento, iremos definir o campo do fluxo de quantidade de movimento e o
campo de velocidades.

5.2.1 Escoamento de Couette

Trata-se da situação analisada anteriormente para apresentação da Lei de Newton da viscosidade.


Imaginemos então duas placas planas e paralelas, estando uma delas fixa e a outra em movimento
segundo a direção x, como resultado de uma força constante aplicada segundo aquela direção. O
espaço que separa as duas placas está totalmente preenchido por um fluido contínuo e viscoso,
que se move apenas como consequência da tensão de corte e gerada na interface com o sólido. O
fluido é incompressível e Newtoniano, e o sistema encontra-se em estado estacionário (Figura
5.2). Consideramos uma região afastada dos extremos.

Nestas condições, não há velocidade segundo as direções y e z, i.e., 𝑣𝑦 = 0 e 𝑣𝑧 = 0. Só há


portanto velociodade segundo a direcção x. Em princípio a velocidade pode ser função de três
coordenadas espaciais e de uma coordenada temporal, i.e., 𝑣𝑥 (𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡). Admitindo estado
estacionário, a velocidade não é função do tempo. Por outro lado, em escoamento desenvolvido,

87
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑣𝑥 não depende de x. Finalmente, não existe qualquer força aplicada segundo a direção y, pelo
que a velocidade só vai variar com a direção z. Ou seja, a velocidade só depende de z: 𝑣𝑥 (𝑧).
Esta avaliação qualitativa do campo de velocidades é essencial para o estabelecimento dos
balanços. Dado que a velocidade só varia segundo z, então escolheremos para os nossos balanços
um volume diferencial com uma pequena espessura ∆𝑧.

Figura 5.2. Volume de controlo para o balanço microscópico à quantidade de movimento em escoamento
de Couette.

O nosso volume de controlo terá então as dimensões ∆𝑧, 𝐿 e 𝑊, respectivamente segundo as


direcções z, x e y. Este volume de controlo vai estar afastado dos extremos das placas, para evitar
efeitos terminais, e as placas estão colocadas na horizontal.
Para a direção x, as forças que se exercem são as de pressão, i.e.,

𝑝𝑊∆𝑧|𝑥=0 − 𝑝𝑊∆𝑧|𝑥=𝐿

O transporte de quantidade de movimento dá-se por dois mecanismos, convectivo e molecular,


respetivamente:

Transporte convectivo:

∬ 𝑣⃗𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 ≡ 𝑣𝑥 𝜌𝑣𝑥 𝑊∆𝑧|𝑥=𝐿 + 𝑣𝑥 𝜌(−𝑣𝑥 )𝑊∆𝑧|𝑥=0

Transporte molecular:
𝜏𝑧𝑥 𝐿𝑊 |𝑧+Δ𝑧 − 𝜏𝑧𝑥 𝐿𝑊 |𝑧

O balanço à quantidade de movimento (qdm) para o elemento de volume por unidade de tempo
será então:

resultante das taxa temporal taxa temporal taxa temporal


forças
{ } = { de saída } − { de entrada } + {de acumulação }
actuando no de qdm de qdm de qdm
elemento de volume

88
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

pelo que o balanço toma a forma:

𝑝𝑊∆𝑧|𝑥=0 − 𝑝𝑊∆𝑧|𝑥=𝐿 = 𝜌𝑣𝑥2 𝑊∆𝑧|𝑥=𝐿 − 𝜌𝑣𝑥2 𝑊∆𝑧|𝑥=0 + 𝜏𝑧𝑥 𝐿𝑊 |𝑧+Δ𝑧 − 𝜏𝑧𝑥 𝐿𝑊 |𝑧

Para a situação física em causa, não há variações de pressão ao longo de x, pelo que
𝑝|𝑥=0 = 𝑝|𝑥=𝐿 . .
Por outro lado, o fluido é incompressível e a distância entre as placas é constante, o que resulta
em que 𝑣𝑥 |𝑥=𝐿 = 𝑣𝑥 |𝑥=0 , e portanto as duas primeiras parcelas do segundo membro cancelam-
se. Ficamos então com o balanço reduzido a:

𝜏𝑧𝑥 𝐿𝑊 |𝑧+Δ𝑧 − 𝜏𝑧𝑥 𝐿𝑊 |𝑧 = 0

Dividindo toda a equação por 𝐿𝑊∆𝑧, ficará:

𝜏𝑧𝑥 |𝑧+Δ𝑧 − 𝜏𝑧𝑥 |𝑧


=0
Δ𝑧 Eq. (5.2)

Se fizermos tender o comprimento diferencial ∆𝑧 para um ponto, obtemos a derivada de 𝜏𝑧𝑥 :

𝜏𝑧𝑥 |𝑧+Δ𝑧 − 𝜏𝑧𝑥 |𝑧 𝜕𝜏𝑧𝑥


lim = =0
Δ𝑧→0 Δ𝑧 𝜕𝑧 Eq. (5.3)

Obtém-se então a lei de variação de 𝜏𝑧𝑥 :

𝜕𝜏𝑧𝑥
= 0 ⟺ 𝜏𝑧𝑥 = 𝐶1
𝜕𝑧 Eq. (5.4)

Em que 𝐶1 é a constante de integração. Esta lei não depende do comportamento reológico do


fluido. Se o fluido for Newtoniano, igualamos esta distribuição à lei de Newton da viscosidade:

𝑑𝑣𝑥
−𝜇 = 𝐶1
𝑑𝑧

Integrando:
𝐶1 𝐶1
∫ 𝑑𝑣𝑥 = − ∫ 𝑑𝑧 ⇔ 𝑣𝑥 = − 𝑧 + 𝐶2
𝜇 𝜇 Eq. (5.5)

Teremos então duas variáveis de integração. Para as determinarmos, vamos usar duas condições
de fronteira.
1ª Condição de fronteira: para 𝑧 = 0, 𝑣𝑥 = 0 (condição de não-escorregamento)
2ª Condição de fronteira: para 𝑧 = 𝑍, 𝑣𝑥 = 𝑉.
Substituindo na Eq. (5.5), fica:

𝐶1
0=− × 0 + 𝐶2 ⇒ 𝐶2 = 0
𝜇

89
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝐶1 𝜇𝑉
𝑉=− × 𝑍 + 𝐶2 ⟹ 𝐶1 = −
𝜇 𝑍

A lei de distribuição da velocidade será:

𝑧
𝑣𝑥 = 𝑉
𝑍 Eq. (5.6)

E a lei de distribuição do fluxo de quantidade de movimento:

𝜇𝑉
𝜏𝑧𝑥 = −
𝑍 Eq. (5.7)

O fluxo de quantidade de movimento é portanto constante e negativo, o que significa que ocorre
no sentido decrescente de z (para baixo). Os perfis de 𝜏 e da velocidade 𝑣𝑥 estão representados na
Figura 5.3.

Figura 5.3. Perfis do fluxo de quantidade de movimento e da velocidade segundo x, para escoamento de
Couette.

O fluxo de quantidade de movimento é constante e igual à força aplicada na placa por


unidade de área. A condição de fronteira aplicada foi a condição de não-escorregamento, que
corresponde a dizer que a camada de fluido adjacente a uma superfície sólida está parada em
relação à superfície.
O perfil de velocidade é reto, i.e., corresponde a uma relação linear entre a velocidade e a
direção de variação. Este escoamento designa-se por “escoamento de Couette”.

5.2.2 Escoamento de Poiseuille

90
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Consideremos o caso de um fluido incompressível, contínuo, Newtoniano e viscoso escoando em


estado estacionário dentro de um tubo cilíndrico (Figura 5.4). Excluímos do nosso balanço as
regiões próximas dos extremos do tubo. Isto significa que o perfil de velocidades não varia ao
longo da direção do escoamento, x. Chama-se a esta situação de “escoamento desenvolvido”.
O balanço vai ser feito em coordenadas cilíndricas, sendo 𝑣𝑟 = 0 e 𝑣𝜃 = 0. Por outro lado, 𝑣𝑥 =
𝑣𝑥 (𝑟) , ou seja, a velocidade varia ao longo da direção radial, o que se deve à tensão de corte nas
paredes.

Figura 5.4.Elemento de volume para o balanço ao escoamento dentro de uma conduta.

O elemento de volume vai ter também simetria cilíndrica, sendo uma coroa cilíndrica com
espessura ∆𝑟 e ∆𝑥. O balanço à quantidade de movimento será:

resultante da força resultante da força


{ }+{ }
de pressão segundo 𝑥 gravítica segundo 𝑥
taxa temporal de taxa temporal de taxa temporal de
={ }−{ }+{ }
saída de qdm𝑥 entrada de qdm𝑥 acumulação de qdm𝑥

É claro que nos termos de entrada e saída de quantidade de movimento temos de considerar o
transporte molecular e o transporte convectivo.
Tratemos então de exprimir cada uma destas parcelas. Começando pela pressão, para a direção 𝑥,
a força de pressão vai fazer-se sentir nas coroas circulares, na secção de entrada e na secção de
saída do elemento de volume. A área dessa coroa é:

𝐴 = 𝜋(𝑟 + ∆𝑟)2 − 𝜋𝑟 2
= 𝜋[𝑟 2 + 2𝑟∆𝑟 + (∆𝑟)2 − 𝑟 2 ]
𝐴 ≈ 2𝜋𝑟∆𝑟

91
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Desprezamos o termo (∆𝑟)2 porque corresponde a um infinitésimo de segunda ordem para uma
espessura infinitesimal, e por isso é desprezável face às outras parcelas.
Assim, teremos a força de pressão: (𝑝2𝜋𝑟∆𝑟)|𝑥 − (𝑝2𝜋𝑟∆𝑟)|𝑥+∆𝑥
O transporte convectivo de quantidade de movimento:

∬ 𝑣𝑥 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 = (𝑣𝑥 𝜌𝑣𝑥 2𝜋𝑟∆𝑟)|𝑥+∆𝑥 − (𝑣𝑥 𝜌𝑣𝑥 2𝜋𝑟∆𝑟)|𝑥 = 0


Eq. (5.8)

Esta resultante é nula porque 𝑣𝑥 não varia com x.


Por sua vez, o transporte viscoso de quantidade de movimento é:
(𝜏𝑟𝑥 2𝜋𝑟∆𝑥)|𝑟+∆𝑟 − (𝜏𝑟𝑥 2𝜋𝑟∆𝑥)|𝑟

Dado que não existe acumulação, o nosso balanço fica:


(𝑝2𝜋𝑟∆𝑟)|𝑥 − (𝑝2𝜋𝑟∆𝑟)|𝑥+∆𝑥 = (𝜏𝑟𝑥 2𝜋𝑟∆𝑥)|𝑟+∆𝑟 − (𝜏𝑟𝑥 2𝜋𝑟∆𝑥)|𝑟
Eq. (5.9)

Dividindo por 2𝜋∆𝑟∆𝑥 e fazendo o limite quando ∆𝑟 → 0, fica:

𝑝|𝑥 − 𝑝 |𝑥+∆𝑥 𝑟𝜏𝑟𝑥 |𝑟+∆𝑟 − 𝑟𝜏𝑟𝑥 |𝑟


𝑟 =
∆𝑥 ∆𝑟

𝑟𝜏𝑟𝑥 |𝑟+∆𝑟 − 𝑟𝜏𝑟𝑥 |𝑟 𝑑(𝑟𝜏𝑟𝑥 )


lim ( )=
∆𝑟→0 ∆𝑟 𝑑𝑟

𝑑(𝑟𝜏𝑟𝑥 ) −∆𝑝
=𝑟
𝑑𝑟 ∆𝑥 Eq. (5.10)

−∆𝑝 −∆𝑝
Em escoamento desenvolvido, ∆𝑥
é constante e pode ser escrito como 𝐿
, i.e., a perda de pressão

por unidade de comprimento de tubo.


𝑑(𝑟𝜏𝑟𝑥 ) −∆𝑝
=𝑟
𝑑𝑟 𝐿

Separando variáveis e integrando


−∆𝑝 𝑟 2
𝑟𝜏𝑟𝑥 = ( ) + 𝐶1
𝐿 2
ou
−∆𝑝 𝑟 𝐶1
𝜏𝑟𝑥 = ( ) +
𝐿 2 𝑟 Eq. (5.11)

92
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Para determinarmos o valor de 𝐶1 precisamos de uma condição fronteira. Consideremos a zona


próxima do eixo do tubo. Quando 𝑟 tende para zero, 𝜏𝑟𝑥 tende para infinito. Ora o fluxo de uma
propriedade (ou uma tensão de corte) não pode ser infinita num sistema real. Daqui resulta que
𝐶1 = 0, e a distribuição do tensor fluxo de quantidade de movimento fica:
−∆𝑝 𝑟
𝜏𝑟𝑥 = ( )
𝐿 2 Eq. (5.12)

Passemos agora à distribuição da velocidade. Para um fluido Newtoniano, é válida e lei de Newton
da viscosidade. Igualando a lei de Newton da viscosidade à Eq. (5.12), fica:
−∆𝑝 𝑟 𝑑𝑣𝑥
( ) = −𝜇
𝐿 2 𝑑𝑟
Separando variáveis e integrando
−∆𝑝
∫ 𝑟 𝑑𝑟 = −𝜇 ∫ 𝑑𝑣𝑥
2𝐿
∆𝑝 𝑟 2
𝑣𝑥 = + 𝐶2
2𝜇𝐿 2 Eq. (5.13)

Para esta segunda constante de integração, vamos considerar a outra fronteira do sistema, a parede
do tubo. A força de corte é máxima nesse ponto e por isso admitimos que o fluido não se desloca
relativamente à superfície (condição de não-escorregamento).

2ª condição de fronteira: 𝑟 = 𝑅 ⇒ 𝑣𝑥 = 0

∆𝑝 𝑟 2 −∆𝑝 2
0= + 𝐶2 ⇒ 𝐶2 = 𝑅
2𝜇𝐿 2 4𝜇𝐿

−∆𝑝 2 𝑟 2
𝑣𝑥 = 𝑅 [1 − ( ) ]
4𝜇𝐿 𝑅 Eq. (5.14)

A velocidade é portanto descrita por uma parábola, sendo máxima no eixo - Figura 5.5. O fluxo
de quantidade de movimento é máximo na parede e zero no eixo. O caudal volumétrico é dado
por integração da velocidade na secção reta.
2𝜋 𝑅 2𝜋 𝑅
−∆𝑝 2 𝑟 2
𝑄 = ∫ ∫ 𝑣𝑥 𝑟𝑑𝑟𝑑𝜃 = ∫ ∫ 𝑅 [1 − ( ) ] 𝑟𝑑𝑟𝑑𝜃 =
4𝜇𝐿 𝑅
0 0 0 0

93
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑅 𝑅
−∆𝑝 𝑟3 −∆𝑝 2 𝑟2 𝑟4
= 2𝜋𝑅2 ∫ [𝑟 − 2 ] 𝑑𝑟 = 𝜋𝑅 [ − 2 ]
4𝜇𝐿 𝑅 2𝜇𝐿 2 4𝑅 0
0

−∆𝑝 2 𝑅2 𝑅2
𝑄= 𝜋𝑅 ( − )
2𝜇𝐿 2 4 Eq. (5.15)

Figura 5.5. Perfis de velocidade e de fluxo de quantidade de movimento para escoamento de fluidos
Newtonianos e incompressíveis em condutas.

Esta perda de pressão resulta exclusivamente do atrito parietal, e por isso vamos identificá-lo com
o índice f (de fricção), ou seja, (−∆𝑝)𝑓 .

(−∆𝑝)𝑓 𝜋𝑅4
𝑄=
8𝜇𝐿 Eq. (5.16)

Há portanto uma proporcionalidade direta entre caudal e perda de pressão por atrito.
A velocidade média na secção, 〈𝑣𝑥 〉, será:

2𝜋 𝑅
∫0 ∫0 𝑣𝑥 𝑟𝑑𝑟𝑑𝜃 𝑄
〈𝑣𝑥 〉 = =
𝜋𝑅2 𝜋𝑅2
Como só há velocidade segundo x, podemos simplificar a notação para 〈𝑣〉.
(−∆𝑝)𝑓 2
〈𝑣 〉 = 𝑅
8𝜇𝐿 Eq. (5.17)

94
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

As equações Eq. (5.16) e Eq. (5.17) são duas formas da equação de Hagen-Poiseuille, que
relaciona a velocidade média de escoamento (ou o caudal) com a perda de pressão devida ao
atrito, para escoamento viscoso de fluidos Newtonianos em tubos de secção circular.
A velocidade máxima no tubo é dada por:

(−∆𝑝)𝑓 2
𝑣max = 𝑅
4𝜇𝐿 Eq. (5.18)

De onde resulta que


𝑣max
〈𝑣 〉 =
2 Eq. (5.19)

Condições de fronteira

No estabelecimento das equações de conservação diferenciais é essencial um estabelecimento


adequado das condições de fronteira. Até aqui usámos duas condições diferentes. Para o eixo do
tubo considerámos que o fluxo de quantidade de movimento tem de ser finito, o que significa
também que a velocidade tem de ser contínua. É claro que num sistema real não podemos ter
fluxos a tenderem para infinito, e recordemos que este fluxo corresponde a uma força, que também
terá de ser finita! A outra condição de fronteira diz respeito à velocidade e chama-se condição de
não-escorregamento; na interface fluido-sólido, o fluido está parado relativamente o sólido.
No conjunto, listamos abaixo as principais condições de fronteira:

- nas interfaces líquido-gás, do lado da fase líquida o fluxo de quantidade de movimento é nulo.
- nas interfaces líquido-líquido, a velocidade é igual dos dois lados.
- nas interfaces fluido-sólido: condição de não-escorregamento.
- em qualquer ponto do sistema, a velocidade tem de ser contínua.

É essencial saber em cada caso não só o significado físico da condição mas também a sua
formulação matemática.

95
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Jean-Louis-Marie Poiseuille
(Paris, 1797 — Paris, 1869)

Poiseuille foi um médico e físico francês. Publicou diversos artigos


sobre a circulação sanguínea (a hemodinâmica) que lhe permitiram
estabelecer em 1844 - na sua obra "Le mouvement des liquides dans les
tubes de petits diamètres" - as leis de escoamento laminar de fluidos
viscosos em tubos cilíndricos. A unidade de viscosidade dinâmica no
sistema CGS de unidades recebeu o nome de Poise em sua homenagem.

Escoamento desenvolvido: apresenta um perfil de velocidades que não


varia ao longo da coordenada do deslocamento.
Escoamento estacionário: em cada ponto as propriedades não variam com
o tempo.

Exemplo 5.1

Um tubo cilíndrico e horizontal contém asfalto, cuja viscosidade e densidade são 10,0 Pa∙s e 1120 kg m -3,
respectivamente. O tubo tem 2,54 cm de raio. Para efeitos do problema, vai admitir-se que o comportamento do
asfalto é Newtoniano (apesar de ser uma aproximação). Se aplicarmos 21 kPa m-1 de gradiente de pressão, qual será
o caudal mássico esperado?

Resolução:
Não conhecemos a velocidade e por isso não é possível calcular o número de Reynolds. No entanto, a elevada
viscosidade e o raio relativamente pequeno sugerem que se trate de escoamento laminar. Vamos então admitir este
pressuposto, que terá de ser verificado no final dos cálculos.
Em escoamento laminar e isotérmico de um líquido Newtoniano numa conduta cilíndrica, é válida a equação
(−∆𝑝)𝑓
de Hagen-Poiseuille (Eq. (5.16)), em que 𝐿
é o gradiente de pressão.

𝜋𝑅4 (−∆𝑝)𝑓 𝜋 × 0,02544 × 21 × 103


𝑄 = = = 3,43 × 10−4 m3 s−1
8𝜇𝐿 8 × 10,0

𝑚̇ = 𝜌 𝑄 = 1120 × 3,43 × 10−4 = 0,384 kg s−1

Cálculo do número de Reynolds para confirmação do escoamento laminar:


𝑄 3,43 × 10−4
〈𝑣〉 = = = 0,169 m s−1
𝐴 𝜋 × 0,02542

𝜌〈𝑣〉𝐷 1120 × 0,169 × 0,0508


Re = = = 0,96
𝜇 10,0

96
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 5.2

Um filme de líquido contínuo e Newtoniano, com


espessura 𝐿 , escoa por acção do seu peso, em estado
estacionário e escoamento desenvolvido, ao longo de
uma placa inclinada, com largura 𝑊, fazendo um ângulo
𝜃 com a horizontal (ver figura). O campo de velocidades
é descrito por:

𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 𝑦 1 𝑦 2
𝑣𝑥 = [ − ( ) ]
𝜇 𝐿 2 𝐿

Admitindo que a placa faz um ângulo de 45° com a horizontal, que o filme de líquido tem 2 mm de espessura e
que o líquido tem 1070 mPa∙s de viscosidade e 900 kg m-3 de densidade, determine a velocidade média da corrente
e a relação entre as velocidades média e máxima.

Resolução:
Neste caso o escoamento resulta da acção da força gravítica e há equilíbrio de forças, ou seja, o líquido escoa
com velocidade uniforme ao longo da parede.

∬ 𝑣𝑥 𝑑𝐴
A velocidade média é dada por: 〈𝑣〉 = 𝑑𝐴
.

A integração na área vai ser em 𝑦 e em z, visto o escoamento ser segundo x (coordenadas cartesianas).

𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 𝐿 𝑦 1 𝑦 2
𝑊 𝐿 𝑊 ∫0 [𝐿 − 2 (𝐿 ) ] 𝑑𝑦
∬ 𝑣𝑥 𝑑𝐴 ∫0 ∫0 𝑣𝑥 𝑑𝑦𝑑𝑧 𝜇
〈𝑣〉 = = 𝑊 𝐿 =
𝑑𝐴 ∫0 ∫0 𝑑𝑦𝑑𝑧 𝑊𝐿

𝜌𝑔𝐿 sen 𝜃 𝑦 2 1 𝑦 3 𝜌𝑔𝐿 sen 𝜃 𝐿 𝐿


〈𝑣〉 = [ − ]= ( − )
𝜇 2𝐿 2 3𝐿2 𝜇 2 6

𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 0,900 × 981 × 0,22 × 0,707


〈𝑣〉 = = = 0,78 cm s−1
3𝜇 3 × 10,7

Nota: utilizou-se o sistema de unidades CGS; o valor calculado para 〈𝑣〉 e a viscosidade do fluido são indicadores
de um escoamento laminar, o que é expectável neste sistema (baixas velocidades).
𝑑𝑣𝑥
A velocidade é máxima onde a sua derivada se anula, i.e., 𝑑𝑦
=0

𝑑𝑣𝑥 𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 1 𝑦


= ( − 2) = 0 ⇒ 𝑦 = 𝐿
𝑑𝑦 𝜇 𝐿 𝐿

A velocidade do líquido é, portanto, máxima na interface líquido-ar (𝑦 = 𝐿 ):

97
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃
𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 〈𝑣〉 3𝜇 2
𝑣𝑥,max = ⇒ = =
2𝜇 𝑣𝑥,max 𝜌𝑔𝐿2 sen 𝜃 3
2𝜇

Exemplo 5.3

Um plástico de Bingham escoa num tubo cilíndrico horizontal, devido a um gradiente de pressão. Se a perda de
pressão ao longo do tubo for de 900 Pa m-1 e a tensão de cedência for 4,5 Pa, qual o diâmetro mínimo de tubo para
que haja escoamento e qual o perfil de velocidades em escoamento laminar?

Resolução:
Recordemos que um plástico de Bingham tem um comportamento do tipo corpo rígido (viscosidade  )
abaixo da sua tensão de cedência ( 0) e segue uma deformação linear com a tensão de corte acima de  0. De acordo
com a lei de Bingham:
𝑑𝑣𝑧
𝜏 < 𝜏0 ⇒ 𝛾̇ = 0 (fluido não deforma), 𝜏 > 𝜏0 ⇒ 𝜏𝑟𝑧 = −𝑘𝐵 + 𝜏0
𝑑𝑟

Num tubo cilíndrico, sujeito a uma diferença de pressão entre a entrada ( 𝑝0 ) e a saída (𝑝𝐿 ), a tensão de corte é
dada pela Eq. (3.12).

Para haver escoamento, a tensão de corte tem de exceder a tensão de cedência 𝜏0 ; substituindo, então, a
tensão de corte por 𝜏0 , vem:

𝑟0 (𝑝0 −𝑝𝐿 ) 𝐿
𝜏0 = ⇒ 𝑟0 = 2𝜏0 (𝑟0 : coordenada radial para a qual 𝜏 = 𝜏0 )
2𝐿 𝑝0 −𝑝𝐿

Substituindo valores:
1
𝑟0 = 2 × 4,5 × = 0,010 m
900

diâmetro mínimo = 2,0 cm.

Substituindo a lei de Bingham na expressão para a tensão de corte e integrando, vem:

𝑑𝑣𝑧 𝑟(𝑝0 − 𝑝𝐿 )
−𝑘𝐵 + 𝜏0 =
𝑑𝑟 2𝐿
𝑟 2 (𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝜏0 𝑟
𝑣𝑧 = − + + 𝐶2
4𝑘𝐵 𝐿 𝑘𝐵

98
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

A constante de integração 𝐶2 é obtida com a condição de não-escorregamento na parede:

CF2: 𝑟 = 𝑅, 𝑣𝑧 = 0

𝑅2 (𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝜏0 𝑅
𝐶2 = −
4𝑘𝐵 𝐿 𝑘𝐵

Substituindo C2 em vz:

𝑅2 (𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝑟 2 𝜏0 𝑅 𝑟
𝑣𝑧 = [1 − ( ) ] − (1 − ) para 𝑟0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑅 (𝜏 ≥ 𝜏0 )
4𝑘𝐵 𝐿 𝑅 𝑘𝐵 𝑅

Na zona central, i.e., para 0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑟0 a velocidade é uma constante, 𝑣0. Como a velocidade não pode ser
𝑟0 (𝑝0 −𝑝𝐿 )
descontínua, 𝑣0 pode ser obtido fazendo 𝑟 = 𝑟0 e 𝜏0 = , na expressão anterior:
2𝐿

𝑅2 (𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝑟0 2 𝑟0 (𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝑅2 (𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝑟0 2 𝑟0 𝑟0 2


𝑣0 = [1 − ( ) ] − (𝑅 − 𝑟0 ) = [1 − ( ) −2 + 2 ( ) ]
4𝑘𝐵 𝐿 𝑅 2𝑘𝐵 𝐿 4𝑘𝐵 𝐿 𝑅 𝑅 𝑅

(𝑝0 − 𝑝𝐿 )𝑅2 𝑟0 2
𝑣0 = (1 − ) para 0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑟0 (região do escoamento pistão, em inglês 𝑝𝑙𝑢𝑔 𝑓𝑙𝑜𝑤)
4𝑘𝐵 𝐿 𝑅

Nota: Caso se pretendesse determinar o caudal volumétrico, teria de se proceder ao cálculo do integral:

2𝜋 𝑅 (𝑝0 − 𝑝𝐿 )𝑅2 𝑟 2 𝜏0 𝑅 𝑟
𝑄 = 𝑣0 𝜋𝑟02 + ∫ ∫ { [1 − ( ) ] − (1 − )} 𝑟𝑑𝑟𝑑𝜃
0 𝑟0 4𝑘𝐵 𝐿 𝑅 𝑘𝐵 𝑅

Exemplo 5.4
Consideremos o comportamento reológico dos fluidos pseudoplásticos e dos fluidos dilatantes. Para estes
fluidos, vejamos qual o perfil de velocidades num tubo cilíndrico horizontal, em escoamento laminar sob um gradiente
de pressão. Vejamos ainda a expressão do caudal volumétrico.

Resolução:

𝑟(𝑝0−𝑝𝐿 )
A tensão de corte é dada pela expressão: 𝜏𝑟𝑧 = . Como os fluidos em questão seguem a lei da potência:
2𝐿

𝑑𝑣𝑧 𝑛
𝜏𝑟𝑧 = 𝑘𝛾̇ 𝑛 = 𝑘 (− )
𝑑𝑟

99
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑑𝑣𝑧 𝑛 𝑟(𝑝0 − 𝑝𝐿 )
𝑘 (− ) =
𝑑𝑟 2𝐿
1
𝑑𝑣𝑧 𝑟(𝑝0 − 𝑝𝐿 ) 𝑛
− =[ ]
𝑑𝑟 2𝑘𝐿

Separando variáveis e integrando, vem:


1 1
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑛 𝑟 𝑛+1
𝑣𝑧 = − ( ) + 𝐶2
2𝑘𝐿 1
+1
𝑛
A constante de integração 𝐶2 é obtida com a condição de não-escorregamento na parede:

CF2: 𝑟 = 𝑅, 𝑣𝑧 = 0 ⇨
1 1
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑛 R𝑛+1
0 = −( ) + 𝐶2
2𝑘𝐿 1
+1
𝑛

1 1 1
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑛 𝑅𝑛+1 𝑟 𝑛+1
𝑣𝑧 = ( ) [1 − ( ) ]
2𝑘𝐿 1 𝑅
+1
𝑛

Esta é a lei de distribuição da velocidade.

O caudal volumétrico pode ser determinado por integração da velocidade:


𝑅
1 1 1 1 1 1
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑛 𝑅𝑛+1 𝑅
𝑟 𝑛
+1 𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑛 𝑅𝑛+1 𝑟2
𝑟 𝑛+2
𝑄 = 2𝜋 ( ) ∫ [1 − ( ) ] 𝑟𝑑𝑟 = 2𝜋 ( ) [ − 1 ]
2𝑘𝐿 1 𝑅 2𝑘𝐿 1 2 1 +1
𝑛+1
0 + 1 ( + 2) 𝑅 𝑛
𝑛 𝑛 0

1 1
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑛 𝜋𝑅𝑛+3
𝑄=( )
2𝑘𝐿 1
𝑛+3

100
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS

P 5.1 O perfil de velocidades para o escoamento de água a 20 °C (ρ = 103 kg/m3; µ = 10-3 Pas) através de um
tubo com 2,5 mm de diâmetro é parabólico. Se a velocidade média for de 0,6 m/s, qual será a tensão de corte na
parede do tubo?

P 5.2 Considere um fluido Newtoniano (𝜌 = 1,2 g cm−3 , 𝜇 = 2 mPa ∙ s) escoando em estado estacionário num
canal retangular horizontal com 1 mm de altura, e 10 cm de largura e 80 cm de comprimento. Sabendo que o
escoamento é laminar e está desenvolvido, e que a diferença de pressão entre a entrada e a saída do canal é de 2
kPa, determine:
a) a expressão analítica do perfil de velocidades.
b) a tensão de corte nas paredes superior e inferior.
c) o caudal mássico do fluido.

P 5.3 Um modelo de viscosímetro para líquidos consiste num reservatório relativamente largo com um tubo
fino de saída. Na figura o líquido é um óleo. Determine a viscosidade cinemática do óleo sabendo que ele escoa com
caudal de 0,272 cm3/s e que o tubo tem diâmetro de 1,8 mm. Alturas: ℎ1 = 550 mm; ℎ2 = 80 mm.

P 5.4 Considere o sistema da figura, no qual um veio cilíndrico se desloca a uma velocidade v0. A barra e o tubo
dentro do qual se desloca a barra são cilíndricos. Calcule o perfil de velocidade do fluido lubrificante e o seu caudal
volumétrico, em estado estacionário, admitindo que o fluido é Newtoniano. Admita que a pressão é uniforme.

101
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

P 5.5 Água a 20 °C escoa através do tubo capilar da figura (D= 0,25 mm), em regime laminar e estado
estacionário. Determine o caudal volumétrico (em mL/h), sabendo que o fluido manométrico é CCl4 ( = 1594 kg m-
3) e que as restantes dimensões do sistema são: h = 7 cm e L=30 cm.
2

P 5.6 Um plástico de Bingham escoa numa conduta reta e horizontal, devido a um gradiente de pressão. Dados:
𝜏0 = 12 Pa; 𝑘𝐵 = 0,5 Pa∙s
a) Determine a expressão do perfil de velocidades.
b) Se o gradiente de pressão for de 1000 Pa/m, qual o diâmetro mínimo de tubo para que haja escoamento?
c) Se o tubo tiver 51,1 mm de raio, qual será o caudal volumétrico em estado estacionário?

P 5.7 Num tubo capilar com 0,2 mm de diâmetro e 2 m de comprimento circula sangue, com perda de carga de
100 mm Hg/metro de tubo. Para este fluido, a tensão de corte é determinada pela equação:
𝑑𝑣𝑧 𝑛−1 𝑑𝑣𝑧
𝜏𝑟𝑧 = −𝑚 | | ( )
𝑑𝑟 𝑑𝑟

em que 𝑛 = 0,7 n = 0,7 e 𝑚 = 1,0 mPa∙s0,7 .

a) Classifique o sangue quanto ao seu comportamento reológico.


b) Determine o perfil da tensão de corte no tubo capilar.
c) Determine o perfil de velocidade no tubo capilar.
d) Calcule a velocidade máxima do sangue e a tensão de corte na superfície do tubo.

P 5.8 Recorra a um balanço microscópico à quantidade de movimento para demostrar que num escoamento de
um fluido Newtoniano viscoso ao longo de um tubo (raio R) no sentido descendente, a distribuição de velocidades é
dada por :
−∆𝑝 𝑅2 𝑟 2
𝑣𝑧 = ( + 𝜌𝑔) [1 − ( ) ]
∆𝑧 4𝜇 𝑅

−∆𝑝
P 5.9 Demonstre que no P5.8, o termo ( + 𝜌𝑔) traduz a perda de pressão devida ao atrito.
∆𝑧

102
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 6. AS EQUAÇÕES DE CONSERVAÇÃO


DIFERENCIAIS

As equações de variação descrevem as variações das propriedades de um fluido contínuo, com


respeito ao espaço e ao tempo. São uma generalização dos balanços macroscópicos e dos balanços
diferenciais, com a vantagem de serem aplicáveis a qualquer situação de escoamento.

6.1 As derivadas em ordem ao tempo

Vejamos o significado físico das derivadas em ordem ao tempo. Para isso, consideremos um rio,
no qual existem peixes. Seja C a concentração de peixes no rio.

𝜕𝐶
Derivada parcial em ordem ao tempo,
𝜕𝑡
Representa a variação local da concentração medida por um observador que se mantém fixo no
espaço, por exemplo, parado na margem.

𝑑𝐶
Derivada total,
𝑑𝑡
𝑑𝐶 𝜕𝐶 𝑑𝐶 𝑑𝑥 𝑑𝐶 𝑑𝑦 𝑑𝐶 𝑑𝑧
= + + +
𝑑𝑡 𝜕𝑡 𝑑𝑥 𝑑𝑡 𝑑𝑦 𝑑𝑡 𝑑𝑧 𝑑𝑡 Eq. (6.1)

Dá conta da variação local, e ainda da variação associada ao movimento do observador.


Representa portanto a variação da concentração medida por um observador que se desloca
livremente no rio (rio acima, ou margem para margem, etc.)

𝐷𝐶
Derivada material (ou substancial),
𝐷𝑡

𝐷𝐶 𝜕𝐶 𝑑𝐶 𝑑𝐶 𝑑𝐶
= + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧
𝐷𝑡 𝜕𝑡 𝑑𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑧 Eq. (6.2)

103
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Esta traduz a variação da concentração medida por um observador que se desloca com a corrente
(por exemplo, numa jangada). A velocidade v  vx ex  v y ey  v z ez é portanto a velocidade da
corrente.
O operador derivada material pode ser expresso como

𝐷 𝜕 𝑑 𝑑 𝑑
= + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧
𝐷𝑡 𝜕𝑡 𝑑𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑧 Eq. (6.3)

ou, numa forma mais simplificada, como


𝐷 𝜕
⃗⃗)
= + (𝑣⃗ ∙ ∇
𝐷𝑡 𝜕𝑡 Eq. (6.4)


Temos aqui o operador nabla   , dado por

𝜕 𝜕 𝜕
⃗∇⃗= 𝑒⃗𝑥 + 𝑒⃗𝑦 + 𝑒⃗𝑧
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 Eq. (6.5)

Quando aplicado a um escalar, este operador conduz a um resultado designado por gradiente, ao
passo que a sua aplicação a um vetor consiste na divergência.

6.2 A Equação Diferencial da Continuidade

Consideremos agora um elemento de volume com dimensões ∆𝑥∆𝑦∆𝑧, fixo no espaço e no seio
de um fluido contínuo.

Figura 6.1. Volume elementar no seio de um fluido contínuo.

Para este volume elementar, vamos aplicar a equação da continuidade. Para uma unidade de
tempo, fica:

104
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

taxa de saída taxa de entrada taxa de acumulação


{ }−{ }+{ }=0
de massa de massa de massa

𝜕
∬ 𝜌 (𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝜌 𝑑𝑉 = 0
𝜕𝑡 Eq. (6.6)
𝐴 𝑉
O balanço fica na forma:

∆𝑦∆𝑧(𝜌𝑣𝑥 |𝑥+∆𝑥 − 𝜌𝑣𝑥 |𝑥 ) + ∆𝑥∆𝑧 (𝜌𝑣𝑦 |𝑦+∆𝑦 − 𝜌𝑣𝑦 |𝑦 ) + ∆𝑥∆𝑦(𝜌𝑣𝑧 |𝑧+∆𝑧 − 𝜌𝑣𝑧 |𝑧 )
𝜕
+ (𝜌 ∆𝑥∆𝑦∆𝑧) = 0
𝜕𝑡

Dividindo por∆𝑥∆𝑦∆𝑧, fica

𝜌𝑣𝑥 |𝑥+∆𝑥 − 𝜌𝑣𝑥 |𝑥 𝜌𝑣𝑦 |𝑦+∆𝑦 − 𝜌𝑣𝑦 |𝑦 𝜌𝑣𝑧 |𝑧+∆𝑧 − 𝜌𝑣𝑧 |𝑧 𝜕𝜌


+ + + =0
∆𝑥 ∆𝑦 ∆𝑧 𝜕𝑡

Se fizermos o limite da equação quando ∆𝑥 → 0, ∆𝑦 → 0 e ∆𝑧 → 0, (isto é, se fizermos tender o


volume para um ponto), obtemos as derivadas:

𝜕 (𝜌𝑣𝑥 ) 𝜕(𝜌𝑣𝑦 ) 𝜕 (𝜌𝑣𝑧 ) 𝜕𝜌


+ + + =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑡
ou
𝜕𝜌 𝜕 𝜕 𝜕
= − [ 𝜌𝑣𝑥 + 𝜌𝑣𝑦 + 𝜌𝑣𝑧 ]
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

𝜕𝜌
⃗⃗ ∙ 𝜌𝑣⃗)
= −(∇
𝜕𝑡 Eq. (6.7)

ou
𝜕𝜌
= −𝑑𝑖𝑣 (𝜌𝑣⃗)
𝜕𝑡

A equação da continuidade, nesta forma, dá-nos a variação da densidade com o tempo num ponto
fixo do espaço. Note-se que o vetor 𝜌𝑣⃗ tem dimensões de massa/(tempo∙área), e representa o
caudal mássico por unidade de área, sendo designado por “vetor fluxo mássico”.
A equação pode ainda ser transformada de modo a exprimir a variação da densidade ao longo de
uma linha de corrente. Para isso, vamos desenvolver a derivada do fluxo mássico.

105
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝜕𝜌 𝜕𝜌 𝜕𝜌 𝜕𝜌 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧


+ 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 = −𝜌 ( + + )
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

O primeiro membro corresponde à derivada material:

𝐷𝜌 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧


= −𝜌 ( + + )
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Eq. (6.8)

Ou
𝐷𝜌
⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)
= −𝜌(∇
𝐷𝑡 Eq. (6.9)

Ou ainda:
𝐷𝜌
= −𝜌 div 𝑣⃗
𝐷𝑡
Eq. (6.10)

Caso do fluido incompressível

Neste caso, 𝜌 é constante, pelo que


𝐷𝜌
=0
𝐷𝑡
Daqui resulta que
⃗⃗ ∙ 𝑣⃗) = 0
(∇ Eq. (6.11)

ou que
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧
+ + =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 Eq. (6.12)

Esta última equação tem diversas consequências. Uma delas é que, se


𝜕𝑣𝑥
𝑣𝑦 = 0, 𝑣𝑧 = 0 e 𝑣𝑥 ≠ 0, então 𝑣𝑥 não é função de 𝑥, i.e., 𝜕𝑥
=0
Para a velocidade variar ao longo da direção do deslocamento é necessário que haja também
velocidade ao longo de uma das outras direções, e que essa(s) componente(s) da velocidade
varie(m) ao longo da própria direção. Por exemplo, se 𝑣𝑧 = 0, então
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦
=−
𝜕𝑥 𝜕𝑦
Adiante iremos ver outras aplicações da equação da continuidade.

106
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

6.3 A Equação Diferencial do Movimento

Consideremos de novo o volume elementar ∆𝑥∆𝑦∆𝑧 e façamos um balanço à quantidade de


movimento. Dado que se trata de uma equação vetorial, vamos apenas considerar a quantidade de
movimento segundo 𝑥, i.e., associada a 𝑣𝑥 .
O transporte de quantidade de movimento terá uma componente convectiva e uma molecular.
Esta última encontra-se esquematizada na Figura 6.2.

Figura 6.2 Componentes do fluxo molecular de quantidade de movimento.

Relativamente às forças, temos:


Força de pressão: ∆𝑦∆𝑧(𝑝|𝑥 −𝑝|𝑥+∆𝑥 )

força gravítica: 𝜌𝑔𝑥 ∆𝑥∆𝑦∆𝑧

As parcelas de transporte convectivo de quantidade de movimento serão correspondentes às


parcelas que já vimos na equação da continuidade, mas agora afetadas da velocidade:

∆𝑦∆𝑧(𝑣𝑥 𝜌𝑣𝑥 |𝑥+∆𝑥 − 𝑣𝑥 𝜌𝑣𝑥 |𝑥 ) + ∆𝑥∆𝑧 (𝑣𝑥 𝜌𝑣𝑦 |𝑦+∆𝑦 − 𝑣𝑥 𝜌𝑣𝑦 |𝑦 )


+ ∆𝑥∆𝑦(𝑣𝑥 𝜌𝑣𝑧 |𝑧+∆𝑧 − 𝑣𝑥 𝜌𝑣𝑧 |𝑧 )

A taxa de transporte molecular de quantidade de movimento tem as seguintes parcelas:

∆𝑦∆𝑧(𝜏𝑥𝑥 |𝑥+∆𝑥 − 𝜏𝑥𝑥 |𝑥 ) + ∆𝑥∆𝑧 (𝜏𝑦𝑥 |𝑦+∆𝑦 − 𝜏𝑦𝑥 |𝑦 ) + ∆𝑥∆𝑦(𝜏𝑧𝑥 |𝑧+∆𝑧 − 𝜏𝑧𝑥 |𝑧 )

𝜕
Finalmente, o termo de acumulação será dado por: 𝜕𝑡 (𝜌𝑣𝑥 ∆𝑥∆𝑦∆𝑧)

107
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

O balanço para o volume elementar corresponde então a:

taxa de taxa de taxa de taxa de


taxa de
de saida de entrada de saida de entrada
∑ 𝐹x = { }−{ }+{ }−{ } + {acumulação}
convectiva convectiva molecular molecular
de qdmx
de qdmx de qdmx de qdmx de qdmx

A saída e a entrada molecular corresponde ao transporte viscoso, ou seja, à tensão de corte.

O balanço fica então:

∆𝑦∆𝑧(𝑝|𝑥 −𝑝|𝑥+∆𝑥 ) + 𝜌𝑔𝑥 ∆𝑥∆𝑦∆𝑧


= ∆𝑦∆𝑧 (𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑥 |𝑥+∆𝑥 − 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑥 |𝑥 ) + ∆𝑥∆𝑧 (𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑦 |𝑦+∆𝑦 − 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑦 |𝑦 )
+ ∆𝑥∆𝑦(𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑧 |𝑧+∆𝑧 − 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑧 |𝑧 ) + ∆𝑦∆𝑧(𝜏𝑥𝑥 |𝑥+∆𝑥 − 𝜏𝑥𝑥 |𝑥 )
𝜕
+ ∆𝑥∆𝑧 (𝜏𝑦𝑥 |𝑦+∆𝑦 − 𝜏𝑦𝑥 |𝑦 ) + ∆𝑥∆𝑦(𝜏𝑧𝑥 |𝑧+∆𝑧 − 𝜏𝑧𝑥 |𝑧 ) + ∆𝑥∆𝑦∆𝑧 𝜌𝑣
𝜕𝑡 𝑥

Dividindo toda a equação por ∆𝑥∆𝑦∆𝑧 e fazendo tender o elemento de volume para um ponto,
fica:

𝑝|𝑥 −𝑝|𝑥+∆𝑥 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑥|𝑥+∆𝑥 −𝜌𝑣𝑥𝑣𝑥 |𝑥 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑦 | −𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑦 |


𝑦+∆𝑦 𝑦
lim + 𝜌𝑔𝑥 = lim + lim +
∆𝑥→0 ∆𝑥 ∆𝑥→0 ∆𝑥 ∆𝑦→0 ∆𝑦

𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑧|𝑧+∆𝑧 −𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑧|𝑧 𝜏𝑥𝑥 |𝑥+∆𝑥−𝜏𝑥𝑥|𝑥 𝜏𝑦𝑥| −𝜏𝑦𝑥 | 𝜏𝑧𝑥|𝑧+∆𝑧−𝜏𝑧𝑥 |𝑧 𝜕


𝑦+∆𝑦 𝑦
lim ∆𝑧
+ lim ∆𝑥
+ lim ∆𝑦
+ lim ∆𝑧
+ 𝜕𝑡 𝜌𝑣𝑥
∆𝑧→0 ∆𝑥→0 ∆𝑦→0 ∆𝑧→0

ou:
𝜕𝑝 𝜕 𝜕 𝜕 𝜕𝜏𝑥𝑥 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥 𝜕
− + 𝜌𝑔𝑥 = 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑥 + 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑦 + 𝜌𝑣𝑥 𝑣𝑧 + + + + 𝜌𝑣𝑥
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑡

Manipulando um pouco a equação, obtém-se:

𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥


𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝜏𝑥𝑥 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥 𝜕𝑝
= −( + + ) + 𝜌𝑔𝑥 −
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥
𝜕𝜌 𝜕 𝜕 𝜕
− 𝑣𝑥 [ + 𝜌𝑣 + 𝜌𝑣 + 𝜌𝑣 ]
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝑥 𝜕𝑦 𝑦 𝜕𝑧 𝑧

Ora, de acordo com a equação da continuidade:

𝜕𝜌 𝜕 𝜕 𝜕
− = (𝜌𝑣𝑥 ) + (𝜌𝑣𝑦 ) + (𝜌𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

108
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Daqui resulta que o termo no parêntesis reto na equação do movimento é nulo. Por outro lado,
temos no primeiro membro a definição de derivada substancial. Então, a equação simplifica-se e
pode também ser escrita de forma análoga para as outras direções. Estas são as equações do
movimento.

Direção x:
𝐷𝑣𝑥 𝜕𝜏𝑥𝑥 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥 𝜕𝑝
𝜌 = −( + + )− + 𝜌𝑔𝑥
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥

Direção 𝑦:
𝐷𝑣𝑦 𝜕𝜏𝑥𝑦 𝜕𝜏𝑦𝑦 𝜕𝜏𝑧𝑦 𝜕𝑝
𝜌 = −( + + )− + 𝜌𝑔𝑦
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦

Direção z:
𝐷𝑣𝑧 𝜕𝜏𝑥𝑧 𝜕𝜏𝑦𝑧 𝜕𝜏𝑧𝑧 𝜕𝑝
𝜌 = −( + + )− + 𝜌𝑔𝑧
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧

Na forma sintética, a equação do movimento fica:

𝐷𝑣⃗
𝜌 ⃗⃗ ∙ 𝜏) − ∇
= −(∇ ⃗⃗𝑝 + 𝜌𝑔⃗
𝐷𝑡 Eq. (6.13)

A derivada material da quantidade de movimento é igual à soma das forças que atuam sobre o
sistema (corte, pressão e gravítica). Nesta forma, a equação traduz a segunda lei de Newton do
movimento aplicada a um elemento de fluido escoando ao longo de uma linha de corrente.

6.3.1 A Equação de Euler

Se o fluido for invíscido, isto é, se não houver atrito, e portanto   0 , será (∇


⃗⃗ ∙ 𝝉) = 0
e obtém-se a equação de Euler:
𝐷𝑣⃗
𝜌 = −∇ ⃗⃗𝑝 + 𝜌𝑔⃗ Eq. (6.14)
𝐷𝑡

Esta equação diz-nos que a variação temporal da quantidade de movimento é igual à resultante
das forças que atuam sobre o fluido, o que corresponde ao enunciado da segunda lei de Newton.

6.3.2 A Equação de Navier-Stokes

109
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Um caso particular de especial relevância é o de um fluido Newtoniano e incompressível, com


viscosidade constante. Neste caso, vamos substituir a lei de Newton da viscosidade:

𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦
𝜏𝑦𝑥 = −𝜇 ( + )
𝜕𝑦 𝜕𝑥

𝜕𝑣𝑥
𝜏𝑥𝑥 = −2𝜇
𝜕𝑥

𝜕𝑣 𝜕𝑣𝑧
𝜏𝑧𝑥 = −𝜇 ( 𝜕𝑧𝑥 + 𝜕𝑥
)

Então, para a direção 𝑥, temos:


𝐷𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝
𝜌 = 2𝜇 2
+𝜇 ( + )+𝜇 ( + )− + 𝜌𝑔𝑥
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥

𝐷𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 𝜕𝑣𝑥 𝜕 𝜕𝑣𝑦 𝜕 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝


𝜌 = 𝜇[ 2 + 2
+ 2
+( + + )] + 𝜌𝑔𝑥 −
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥

O termo entre parêntesis reto pode ser simplificado, pois

𝜕 𝜕𝑣𝑥 𝜕 𝜕𝑣𝑦 𝜕 𝜕𝑣𝑧 𝜕 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧 𝜕


+ + = ( + + )= ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)
(∇
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥

⃗⃗ ∙ 𝑣⃗) = 0, e portanto a equação fica, para as três


Mas, se o fluido é incompressível, então (∇
direções:
𝐷𝑣𝑥 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥
𝜌 =− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑥
𝐷𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

𝐷𝑣𝑦 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦
𝜌 =− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑦
𝐷𝑡 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

𝐷𝑣𝑧 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥
𝜌 =− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑧
𝐷𝑡 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

ou, na forma sintética:


𝐷𝑣⃗
𝜌 ⃗⃗𝑝 + 𝜇 ∇2 𝑣⃗ + 𝜌𝑔⃗
= −∇
𝐷𝑡 Eq. (6.15)

Estas são as equações de Navier-Stokes, e consistem num caso particular da equação do


movimento, para fluidos Newtonianos e incompressíveis, com viscosidade constante. Nas páginas

110
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

seguintes temos a equação da continuidade e a equação do movimento em coordenadas


retangulares e cilíndricas. Em anexo encontram-se as equações também para coordenadas
esféricas.

111
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Equação da continuidade

Coordenadas retangulares (𝑥, 𝑦, 𝑧):

𝜕𝜌 𝜕 𝜕 𝜕
+ 𝜌𝑣𝑥 + 𝜌𝑣𝑦 + 𝜌𝑣𝑧 = 0
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Eq. (6.16)

Coordenadas cilíndricas (𝑟, 𝜃, 𝑧):

𝜕𝜌 1 𝜕 1 𝜕 𝜕
+ 𝜌𝑟𝑣𝑟 + 𝜌𝑣𝜃 + 𝜌𝑣𝑧 = 0
𝜕𝑡 𝑟 𝜕𝑥 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
Eq. (6.17)

112
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Equação do movimento, coordenadas retangulares (𝑥, 𝑦, 𝑧):

Em termos de  :

Direção 𝑥:
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑥 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑥 Eq. (6.18)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Direção 𝑦:
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑦 𝜕𝜏𝑦𝑦 𝜕𝜏𝑧𝑦
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑦 Eq. (6.19)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Direção 𝑧:
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑧 𝜕𝜏𝑦𝑧 𝜕𝜏𝑧𝑧
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (6.20)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Em termos dos gradientes de velocidade para um fluido Newtoniano com  e 


constantes:

Direção 𝑥:
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑥 Eq. (6.21)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

Direção 𝑦:

𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦


𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑦 Eq. (6.22)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

Direção 𝑧:

𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥


𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 ) = − + 𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (6.23)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

113
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Equação do Movimento, Coordenadas cilíndricas (𝒓, 𝜽, 𝒛):


Em termos de 𝝉:
Direção r:
𝜕𝑣𝑟 𝜕𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑟 𝑣𝜃2 𝜕𝑣𝑟
𝜌( + 𝑣𝑟 + − + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
𝜕𝑝 1𝜕 1 𝜕𝜏𝑟𝜃 𝜏𝜃𝜃 𝜕𝜏𝑟𝑧 Eq. (6.24)
= − −( 𝑟𝜏 + − + ) + 𝜌𝑔𝑟
𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟 𝑟𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧

Direção 𝜃:
𝜕𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃
𝜌( + 𝑣𝑟 + + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
1 𝜕𝑝 1 𝜕 1 𝜕𝜏𝜃𝜃 𝜕𝜏𝜃𝑧 Eq. (6.25)
=− − ( 2 𝑟 2 𝜏𝑟𝜃 + + ) + 𝜌𝑔𝜃
𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
Direção z:
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧
𝜌( + 𝑣𝑟 + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
𝜕𝑝 1𝜕 1 𝜕𝜏𝜃𝑧 𝜕𝜏𝑟𝑧
=− −( 𝑟𝜏𝑟𝑧 + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (6.26)
𝜕𝑧 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧

Em termos dos gradientes de velocidade para um fluido Newtoniano com  e 


constantes:
Direção r:

𝜕𝑣𝑟 𝜕𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑟 𝑣𝜃2 𝜕𝑣𝑟


𝜌( + 𝑣𝑟 + − + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
𝜕𝑝 𝜕 1 𝜕 1 𝜕 2 𝑣𝑟 2 𝜕 𝑣𝜃 𝜕 2 𝑣𝑟 Eq. (6.27)
= − + 𝜇[ ( 𝑟𝑣𝑟 ) + 2 − + ] + 𝜌𝑔𝑟
𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 2 𝑟 2 𝜕𝜃 𝜕𝑧 2

Direção 𝜃:

𝜕𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃


𝜌( + 𝑣𝑟 + + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
1 𝜕𝑝 𝜕 1 𝜕 1 𝜕 2 𝑣𝜃 2 𝜕 𝑣𝑟 𝜕 2 𝑣𝜃
=− +𝜇[ ( 𝑟𝑣𝜃 ) + 2 + + ] + 𝜌𝑔𝜃 Eq. (6.28)
𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 2 𝑟 2 𝜕𝜃 𝜕𝑧 2

Direção z:

𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝 1𝜕 𝜕𝑣𝑧 1 𝜕 2 𝑣𝑧 𝜕 2 𝑣𝑧


𝜌( + 𝑣𝑟 + + 𝑣𝑧 )= − +𝜇[ (𝑟 )+ 2 + ] + 𝜌𝑔𝑧
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝑟 𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 2 𝜕𝑧 2
Eq. (6.29)

114
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 6.1
Considere a equação da continuidade em coordenadas retangulares (x, y, z). Dada a seguinte expressão da
velocidade de um escoamento, será que se trata de um líquido?

𝑣⃗ = (𝑥𝑦 2 + 𝑥 2 𝑧)𝑒⃗⃗⃗⃗𝑥 + (𝑦 2 𝑧)𝑒⃗⃗⃗⃗⃗ 2 2 2 ⃗⃗⃗⃗


𝑦 − (𝑦 𝑧 + 𝑥𝑧 + 𝑦𝑧 )𝑒 𝑧

Resolução:
Para um líquido (fluido incompressível), a densidade é constante, e portanto aplicamos a Eq. (6.12). Derivando
as expressões relativas às componentes da velocidade em x, y e z, vem:

𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧


+ + = (𝑦 2 + 2𝑥𝑧) + 2𝑦𝑧 + (−𝑦 2 − 2𝑥𝑧 − 2𝑦𝑧) = 0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Confirma-se portanto a incompressibilidade.

Exemplo 6.2
Determine a distribuição de velocidades e de fluxo de quantidade de movimento entre dois cilindros coaxiais
verticais de raios 𝑘𝑅 e 𝑅, rodando à velocidade angular 𝛺𝑖 e 𝛺𝑒 , respectivamente. Assuma que o espaço entre os
cilindros está cheio de um fluido incompressível e isotérmico e que o regime é laminar.

Resolução:

Sequência de etapas da resolução:

Análise qualitativa do campo de velocidades


Aplicação da equação da continuidade
Aplicação da equação do movimento

1. Campo de velocidades
Está-se perante um problema com geometria cilíndrica (𝑟, 𝜃, 𝑧) ⇒ 𝑣(𝑟, 𝜃, 𝑧)
Só há velocidade segundo 𝜃, pelo que 𝑣𝑟 = 0; 𝑣𝑧 = 0. O escoamento é angular puro. Como os cilindros estão a
rodar, cada um com uma determinada velocidade angular 𝛺 (𝑣𝜃 = 𝛺𝑟), às cotas kR (cilindro interior) e R (cilindro
exterior), o fluido tem a velocidade respectiva de cada cilindro (condição de não-escorregamento). Estabelece-se,
então, uma distribuição de velocidades 𝑣𝜃 que é função da coordenada radial r.

2. Equação da continuidade: a equação da continuidade em coordenadas cilíndricas foi apresentada atrás - Eq.
(6.17):

𝜕𝜌 1 𝜕 1 𝜕 𝜕
+ (𝜌𝑟𝑣𝑟 ) + (𝜌𝑣𝜃 ) + (𝜌𝑣𝑧 ) = 0
𝜕𝑡 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
1 𝜕
(𝜌𝑣𝜃 ) = 0
𝑟 𝜕𝜃
𝜕𝑣𝜃
=0
𝜕𝜃

Verificamos então que a velocidade não é função da posição angular.

115
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

3. Equação do movimento (Navier-Stokes)

Para a equação do movimento, consideram-se as equações escritas em termos do gradiente de velocidade para
um fluido Newtoniano com  e  constantes em coordenadas cilíndricas.

Para determinar o perfil de velocidades, 𝑣𝜃 = 𝑣𝜃 (𝑟), interessa a componente 𝜃 da equação do movimento,


mas vão analisar-se, também, as outras componentes, r e z, de modo a verificar-se a informação obtida.
Tendo em conta que 𝑣𝑟 = 𝑣𝑧 = 0, 𝑣𝜃 = 𝑣𝜃 (𝑟) e 𝑔𝑟 = 𝑔𝜃 = 0, vem após simplificação das equações:

Componente 𝑟, Eq. (6.27):

𝜕𝑝 𝑣𝜃2
=𝜌
𝜕𝑟 𝑟

Verifica-se que há gradiente de pressão segundo a coordenada r, devido à força centrífuga.

Componente em 𝜃 , Eq. (6.28):

𝜕 1𝜕
𝜇[ ( (𝑟𝑣𝜃 ))] = 0
𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟

Componente em 𝑧, Eq. (6.29):

𝜕𝑝
= 𝜌𝑔𝑧
𝜕𝑧

Concluimos que há gradiente de pressão segundo a coordenada z por causa do peso (os cilindros estão na
vertical).

Na componente 𝜃, dividindo por  e substituindo as derivadas parciais por derivadas totais, pois v só depende
de r, vem:

𝑑 1𝑑
( (𝑟𝑣𝜃 )) = 0
𝑑𝑟 𝑟 𝑑𝑟

Separando variáveis e integrando, vem:

1𝑑 𝑑
(𝑟𝑣𝜃 ) = 𝐶1 ⇒ (𝑟𝑣𝜃 ) = 𝐶1 𝑟
𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝑟
𝑟2
𝑟𝑣𝜃 = 𝐶1 + 𝐶2
2
𝑟 𝐶2
𝑣𝜃 = 𝐶1 +
2 𝑟

Para determinar o perfil de velocidades, é necessário estabelecer as condições de fronteira de modo a calcular
as constantes de integração 𝐶1 e 𝐶2.

CF1: 𝑟 = 𝑅, 𝑣𝜃 = 𝛺𝑒 𝑅 (o cilindro exterior, à cota 𝑅, está a rodar à velocidade 𝛺𝑒 )

CF2: 𝑟 = 𝑘𝑅, 𝑣𝜃 = 𝛺𝑖 𝑘𝑅 (o cilindro interior está a rodar à velocidade 𝛺𝑖 )

116
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Substituindo em 𝑣𝜃 :
𝑅 𝐶2
𝛺𝑒 𝑅 = 𝐶1 +
2 𝑅
𝑘𝑅 𝐶2
𝛺𝑖 𝑘𝑅 = 𝐶1 +
2 𝑘𝑅
Daqui resultam as constantes de integração:
2(𝛺𝑒 − 𝛺𝑖 𝑘 2 )
𝐶1 =
1 − 𝑘2

(𝛺𝑖 − 𝛺𝑒 )𝑘2 𝑅2
𝐶2 =
1 − 𝑘2

Substituindo as constantes 𝐶1 e 𝐶2 no perfil de velocidades, vem:

𝛺𝑒 − 𝛺𝑖 𝑘 2 (𝛺𝑖 − 𝛺𝑒 )𝑘2 𝑅2 1
𝑣𝜃 = 2
𝑟+
1−𝑘 1 − 𝑘2 𝑟

Esta expressão pode ser também ser apresentada na forma:


𝛺𝑒 𝑘𝑅 𝑟 𝑘𝑅 𝛺𝑖 𝑘 2 𝑅 𝑅 𝑟
𝑣𝜃 = 2
( − )+ ( − )
1 − 𝑘 𝑘𝑅 𝑟 1 − 𝑘2 𝑟 𝑅

Determinação do perfil de tensão de corte (fluxo de quantidade de movimento):


Como temos velocidade 𝑣𝜃 e o transporte de quantidade de movimento é segundo r, a componente do tensor
de corte que nos interessa é 𝜏𝑟𝜃 . Consultando as expressões da tensão de corte em coordenadas cilíndricas (ANEXO
V) temos:

𝜕 𝑣𝜃 1 𝜕𝑣𝑟 𝑑 𝑣𝜃
𝜏𝑟𝜃 = −𝜇 [𝑟 ( )+ ] = −𝜇𝑟 ( )
𝜕𝑟 𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑑𝑟 𝑟

Substituindo o perfil na equação acima e resolvendo, vem:


𝜇𝑘𝑅 𝑑 𝛺𝑒 − 𝛺𝑖 𝑘 2 𝑘𝑅
𝜏𝑟𝜃 =− 2
[𝑟 ( + (𝛺𝑖 − 𝛺𝑒 ) 2 )]
1−𝐾 𝑑𝑟 𝑘𝑅 𝑟

2𝜇(𝛺𝑖 − 𝛺𝑒 ) 𝑘 2 𝑅2
𝜏𝑟𝜃 =
1 − 𝑘2 𝑟2

117
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS
P 6.1 Considere o escoamento de um líquido Newtoniano devido a uma força de corte no espaço compreendido
entre uma barra e um cilindro (exercício P5.4). Deduza a distribuição de velocidades e de fluxo de quantidade de
movimento a partir da equação geral da continuidade e do movimento.

P 6.2 Deduza a equação de Hagen-Poiseuille partindo da equação geral do movimento.

P 6.3 Para o escoamento tridimensional de um líquido, sabendo as componentes da velocidade em x e em y,


determine a forma geral da velocidade segundo a terceira direcção, 𝑣𝑧 (𝑥, 𝑦, 𝑧), de modo a satisfazer a equação da
continuidade. Dados: 𝑣𝑥 = 𝑥𝑦 2 + 𝑥 2 𝑧 ; 𝑣𝑦 = 𝑦 2 𝑧

P 6.4 Calcule o torque e a potência que mantêm em rotação o veio representado na figura à velocidade de 200
rpm. Os cilindros encontram-se na vertical, a altura é de 0,05 m e o lubrificante usado tem viscosidade de 0,2 Pas e
massa específica de 800 kg/m3.
Nota: recorde-se que o torque é igual ao produto da força pelo braço.

118
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 7. TEORIA DOS MODELOS E ANÁLISE


DIMENSIONAL

7.1 Adimensionalização da Equação de Navier-Stokes

A equação de Navier-Stokes pode então ser escrita na seguinte forma:

𝐷𝑣⃗ ⃗∇⃗𝑝
= 𝑔⃗ − + 𝜈∇2 𝑣⃗
𝐷𝑡 𝜌 Eq. (7.1)

Esta equação traduz um balanço de forças, tendo cada parcela as dimensões de Força/Massa:

𝐷𝑣⃗ 𝜕𝑣⃗ 𝜕𝑣⃗ 𝜕𝑣⃗ 𝜕𝑣⃗


= + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧
𝐷𝑡 𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 Eq. (7.2)

𝑣2
Força de inércia:
𝐿

Força gravítica: 𝑔

⃗⃗⃗𝑝
∇ 𝑝
Força de pressão:
𝜌
≡ 𝐿𝜌
𝜈𝑣
Forças viscosas: 𝜈∇2𝑣⃗ ≡
𝐿

Dividindo toda a equação pelas forças de inércia, obtemos grupos adimensionais, cada um deles
com o significado físico de uma razão de forças:

𝐹gravítica 𝑔𝐿 1
= = Fr : número de Froude
𝐹inércia 𝑣2 Fr Eq. (7.3)

𝐹pressão 𝑝
= = Eu Eu : número de Euler Eq. (7.4)
𝐹inércia 𝜌𝑣 2

𝐹viscosas 𝜐 1
= = Re : número de Reynolds Eq. (7.5)
𝐹 inércia 𝐿𝑣 Re

119
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Se dois sistemas em escoamento, apesar de terem parâmetros diferentes (velocidade,


comprimento característico, viscosidade…), forem descritos pela mesma equação de Navier-
Stokes adimensionalizada, i.e., pelos mesmos números de Froude, Euler e Reynolds, então pode
dizer-se que o escoamento é idêntico, i.e., que a dinâmica do fluido é semelhante. Este raciocínio
serve de base à aplicação de modelos, que veremos abaixo.

7.2 Semelhança

Um modelo pode ser definido como uma idealização da realidade, que pode ser
manipulado de forma a prever a consequência de ações futuras. Existem dois tipos de modelos, os
matemáticos e os físicos. Na sua essência, a Engenharia consiste na aplicação de modelos a
sistemas físicos. Os modelos são usados em todas as áreas do conhecimento científico, desde a
economia (consideremos a taxa de juro de uma aplicação financeira) ao ensino e à sociologia (caso
dos testes efetuados em populações pequenas e posteriormente extrapolados para grupos maiores),
às sondagens de opinião e às instalações-piloto na indústria de processo. Um modelo matemático
é normalmente fácil de utilizar, pois basta recorrer a algumas equações (exemplo: Segunda lei de
Newton, F= ma) para determinar as consequências de uma ação sobre o sistema. Contudo, a
dificuldade de estabelecer modelos matemáticos continua a ser enorme, mesmo apesar do grande
desenvolvimento verificado nas últimas décadas graças ao boom dos computadores. Este facto,
associado aos riscos de capital e humanos decorrentes da aplicação direta de modelos matemáticos
a sistemas reais (pensemos no caso de um avião sem testes prévios) leva a que o recurso a modelos
físicos (caso das instalações-piloto) continue a ter um lugar privilegiado no projeto de
equipamentos.

Para que um modelo represente com fidelidade o sistema real, i.e., o protótipo, é
necessário que sejam respeitadas as condições de semelhança seguintes:
- Semelhança Geométrica
- Semelhança Cinemática
- Semelhança Dinâmica

A Semelhança Geométrica consiste em a razão entre os comprimentos relevantes ser igual


no modelo e no protótipo. Imaginemos o projeto de uma torre (base quadrada), na qual é
importante estudar a dinâmica dos ventos que com ela interferem. Se pretendermos recorrer a um
modelo (Figura 7.1), a condição de semelhança geométrica diz que

120
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑎′ 𝑎
=
𝑏′ 𝑏 Eq. (7.6)

Figura 7.1 Semelhança geométrica.

A Semelhança Cinemática significa que a orientação da velocidade relativamente à


superfície é a mesma no modelo e no protótipo – Figura 7.2. Assim, no nosso modelo de torre,
seria necessário garantir que o teste do modelo obedeça às condições de:

𝑣′𝑥 𝑣𝑥 𝑣′𝑥 𝑣𝑥
= e =
𝑣′𝑦 𝑣𝑦 𝑣′𝑧 𝑣𝑧 Eq. (7.7)

em qualquer ponto do sistema. Em geral o teste de modelos é efetuado em túneis de vento ou em


tanques de água, e a semelhança cinemática é portanto assegurada pela orientação do modelo no
túnel.
A semelhança cinemática só poderá existir entre sistemas com semelhança geométrica,
pois não se podem associar pontos da superfície de um modelo aos da superfície de um protótipo
se a sua geometria não for idêntica.

121
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 7.2 Semelhança cinemática. 𝑣1 e 𝑣2 têm a mesma orientação relativamente à superfície; 𝑣3 tem
orientação diferente e por isso não tem semelhança cinemática relativamente ao protótipo.

Semelhança Dinâmica: significa que a dinâmica dos fluidos é análoga do ponto de vista dos
movimentos do fluido e das linhas de corrente e traduz-se na condição de igualdade dos números
adimensionais da equação de Navier-Stokes, isto é, os números de Reynolds, de Euler e de Froude.
A semelhança dinâmica só poderá existir entre sistemas que verifiquem semelhança geométrica e
cinemática.

A Teoria dos Modelos é muito aplicada em Engenharia, quer em Engenharia Automóvel, quer em
Aeronáutica, Química ou Biológica. Por vezes nem todos os números adimensionais são
relevantes, e podem por isso ser desprezados. Assim, no caso dos aviões e submarinos em
condições de cruzeiro (objetos totalmente imersos) não é relevante a força gravítica e por isso a
semelhança dinâmica limita-se aos números de Reynolds e de Euler. Já no caso dos barcos a
existência de uma onda na frente do barco faz com que se tenha sempre a sensação de que o barco
está “a subir”, o que torna relevante o número de Froude. Os modelos deste tipo de sistemas são
habitualmente estudados em túneis de vento ou tanques de água.
Já no caso da Engenharia de Processos, é muito relevante o dimensionamento de permutadores de
calor e de tanques com agitação, nos quais a complexidade do sistema é ultrapassada pelo recurso
a modelos.

Exemplo 7.1

No teste laboratorial de um medidor de caudais, usa-se água num tubo de secção circular de 7,6 cm de
diâmetro. Um medidor indica uma pressão diferencial de 120 kPa para uma velocidade média da água de 2,0 m/s; se
o mesmo medidor fosse usado para um tubo de 43 cm de diâmetro, qual a velocidade da água e qual a pressão
diferencial esperadas? Admita condições de semelhança dinâmica.

Resolução:

Semelhança dinâmica  igualdade dos números adimensionais da equação de Navier-Stokes: Reynolds, Euler
e Froude

122
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝜌𝑣𝐿 𝑝
Re = ; Eu =
𝜇 𝜌𝑣 2

1000×2,0×0,076 1000×𝑣×0,43
Remodelo = = 1,52 × 105 ; Reprotótipo =
0,001 0,001

Remodelo = Reprotótipo  𝑣protótipo = 0,353 m s−1

120×103 𝑝
Eumodelo = 1000×2,02 = 30 ; Euprotótipo = 1000×0,3532

Eumodelo = Euprotótipo  𝑝protótipo = 3,75 kPa

7.3 Análise Dimensional

A dinâmica de Fluidos é uma disciplina de grande componente experimental, recorrendo


em geral a modelos físicos à escala, em particular quando se trata de prever o comportamento de
sistemas complexos tais como automóveis, aeronaves ou edifícios, ou ainda de operações de
separação ou tanques com agitação.
Para que se garanta que os testes de modelos trazem informação relevante, há que garantir que os
parâmetros controlados são os relevantes; por outro lado, o tratamento teórico é muitas vezes
difícil, pelo que se recorre à Análise Dimensional. A análise dimensional é uma ferramenta
matemática com utilidade em todos os ramos da Engenharia, e em particular na mecânica dos
fluidos. À primeira vista parece ser uma abordagem menos rigorosa do que as análises algébricas
e modelos teóricos que conduzem a equações exatas, mas há que recordar que essas equações se
baseiam regra geral em modelos simplificativos da realidade, pelo que os resultados obtidos são
muitas vezes apenas aproximações.
Pelo contrário, a análise dimensional permite, uma vez conhecidas as variáveis relevantes que
controlam um fenómeno, determinar a forma da relação matemática entre essas variáveis e obter
realmente valores numéricos que podem ser usados em projeto.
Os princípios da análise dimensional foram lançados com o trabalho pioneiro do cientista inglês
Lord Rayleigh, no séc. XIX.

Já vimos anteriormente a noção de dimensão e de unidade. Também sabemos que o uso


de grandezas adimensionais traz em geral vantagens de utilização, quer por ser independente dos
sistemas de unidades quer por permitir a comparação de sistemas diferentes em termos de vários
tipos de semelhança. Só a título de exemplo, podemos recordar a humidade relativa ou a fração

123
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

molar de um componente numa solução, ambas variáveis adimensionais; provêm, naturalmente,


de uma razão de duas variáveis com a mesma natureza, e daí a sua ausência de dimensões. Para
além das variáveis, muitas equações usadas em Engenharia contêm constantes numéricas. Em
muitos casos, estas constantes são números puros e como tal são independentes do sistema de
unidades. Se os fatores envolvidos numa determinada situação física puderem ser todos
identificados, a forma da equação que os relaciona pode em grande parte ser determinada por
considerações dimensionais. Isto acontece porque há um requisito fundamental para qualquer
equação algébrica que descreve um fenómeno, e que é a condição de homogeneidade
dimensional. Esta condição significa na prática que as variáveis só podem ser relacionadas de
um número muito limitado de formas, e em muitos casos existe mesmo uma solução única. Em
relação aos números puros, há que ter em conta que eles não podem ser obtidos por considerações
dimensionais, pois não têm dimensões. No entanto, esses números podem em geral ser obtidos
com alguma facilidade por experimentação, após a simplificação do problema por análise
dimensional.
Vejamos então um caso simples de análise às dimensões para a descrição de um problema.
O primeiro passo é a identificação completa das variáveis envolvidas (o que nem sempre é fácil).
Consideremos então o problema do peso 𝑾 de um grave; para a descrição desta variável, existem
mais duas variáveis relevantes, a massa 𝒎 e a aceleração da gravidade, 𝒈. Qual será então a forma
da equação? A condição de homogeneidade dimensional significa que, se dividirmos os dois
membros por um deles, vamos ficar com a equação adimensionalizada. O que precisamos de
procurar é um conjunto de expoentes capaz de tornar a relação entre as variáveis adimensional.
Ou seja, a relação geral será
𝑊 = K 𝑚 𝑝 𝑔𝑞
em que K é uma constante numérica e 𝑝 e 𝑞 são expoentes desconhecidos.
As dimensões destas variáveis são:
[𝑊] = MLT −2
[𝑚] = M
[𝑔] = LT −2
Podemos agora escrever a equação substituindo cada variável pelas dimensões correspondentes
(em que K não tem dimensões):
MLT = (M)𝑝 (LT −2 )𝑞
Para que esta igualdade seja verdadeira, é necessário que os expoentes de cada dimensão sejam
iguais nos dois membros:
M: 1 = 𝑝
L: 1 = 𝑞

124
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

T: −2 = −2𝑞
Ou seja, 𝑝 = 1 e 𝑞 = 1, pelo que a nossa equação fica:
𝑊 = K 𝑚1 T 1
= K 𝑚𝑔

E quanto vale K? Isso teria de ser determinado experimentalmente. Neste caso K vale 1, e aqui
temos a 2ª lei de Newton escrita para um objeto sujeito à força gravítica,
𝑊 = 𝑚𝑔
Este método é conhecido como Método Indicial, ou método dos expoentes. Funciona bem em
geral para casos simples, com poucas variáveis, mas rapidamente se torna confuso quando há
muitas variáveis envolvidas. Nesse caso é preferível recorrer ao método de Buckingham.

O Método de Buckingham

No início do séc. XX foi desenvolvido um método mais elaborado e que ficou conhecido como o
método  de Buckingham.
O primeiro passo no método é listar as variáveis significativas e formar uma matriz com as suas
dimensões. A matriz dimensional tem como colunas as variáveis, como linhas as dimensões e
como elementos da matriz os expoentes que afetam cada dimensão.
O segundo passo é a determinação do número de grupos adimensionais nos quais as variáveis
podem ser combinadas. Isso é determinado pelo teorema  de Buckingham , que diz o seguinte:

O número de grupos adimensionais resultantes de uma matriz de n variáveis e m dimensões é


n-r, em que r é a característica do maior determinante não-nulo que pode ser extraído da
matriz, e a equação que relaciona as variáveis será da forma geral
𝜙 (𝜋1 , 𝜋2 , 𝜋3 , … , 𝜋𝑛−𝑟 ) = 0 Eq. (7.8)

Apesar de esta ser a forma completa do teorema, a sua aplicação torna-se mais fácil nos casos de
estudo de dinâmica de fluidos, em que só há três dimensões, massa, comprimento e tempo; nestes
casos, o número de grupos adimensionais será 𝑚 − 𝑛 ou 𝑛 − 3. Há que ter cuidado e não usar
este método simplificado para situações com mais de três dimensões fundamentais. Em particular,
a introdução do calor e da temperatura como dimensões nos problemas de termodinâmica e de
transferência de calor aumenta o número de dimensões possíveis para cinco, embora o valor de r
seja inferior.

125
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

O passo seguinte é a formação dos grupos adimensionais, seguindo a ordem descrita:


i) estabelecer o conjunto de recurso, que é um conjunto de variáveis que se vão repetir nos
vários grupos adimensionais. Estas variáveis são em número igual ao número de dimensões
e têm de obedecer aos seguintes critérios:
a) todas as dimensões têm de estar representadas pelo menos uma vez no conjunto de
recurso.
b) não deve ser possível combinar adimensionalmente todas ou algumas das variáveis do
conjunto de recurso.
ii) em seguida colocam-se todas as variáveis do conjunto de recurso em todos os grupos
adimensionais e distribuem-se as variáveis restantes, de forma a que todas as variáveis
surjam pelo menos uma vez. Cada variável será afetada de um expoente desconhecido.
iii) a determinação dos expoentes é feita mediante tratamento das equações escritas
substituindo as variáveis pelas dimensões respetivas (equação às dimensões) e
determinando os expoentes que conduzem a homogeneidade dimensional.

Note-se que:
o A análise dimensional não fornece qualquer informação sobre a validade das variáveis usadas no
tratamento.
o Habitualmente existem várias soluções possíveis, apesar de umas serem mais úteis do que outras.
A escolha adequada do conjunto de recurso é importante, pois essas variáveis irão repetir-se nos
vários grupos. Assim, as variáveis pouco importantes para a descrição do fenómeno devem ser
deixadas de fora do conjunto de recurso, de forma a evitar a sua repetição.
o A determinação dos números puros tem de ser efetuada por experimentação.
o Qualquer número de grupos adimensionais pode ser combinado por multiplicação ou divisão de
modo a formar novos grupos adimensionais.
o O inverso de qualquer grupo adimensional continua a ser adimensional.
o Qualquer grupo adimensional levantado a um expoente, permanece adimensional.
o Qualquer grupo adimensional pode ser multiplicado por um número puro, continuando
adimensional.
o Na determinação dos grupos adimensionais, algumas variáveis poderão vir afetadas do expoente
zero, o que as elimina do resultado final.

126
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 7.2

A potência (𝑃𝑜) gerada por uma bomba pode considerar-se dependente das seguintes variáveis: densidade do
fluido, velocidade angular (Ω), diâmetro do rotor da bomba (𝐷), caudal volumétrico e viscosidade do fluido.
Determine os grupos adimensionais e a forma geral da equação que descreve o problema; faça com que a
potência, o caudal e a viscosidade surjam em grupos diferentes.

Resolução:
Dimensões: 𝑃𝑜: ML2 T −3; 𝜌: ML−3 ; Ω: T −1; 𝐷: L ; 𝑄: L3 T −1; 𝜇: ML−1 T −1

Para garantirmos que as 3 dimensões são independentes, vamos elaborar a matriz dimensional.
Assim, escrevem-se as variáveis em termos das dimensões M, L e T.

𝑃𝑜 𝜌  𝐷 𝑄 𝜇
M 1 1 0 0 0 1
L (2 −3 0 1 3 −1)
T −3 0 −1 0 −1 −1

Se extrairmos, por exemplo, o determinante relativo às variáveis ,  e D, o seu valor é –1, ou seja, não é nulo.
Assim, pelo teorema  de Buckingham, o número de grupos adimensionais é 6 – 3 = 3. Para o conjunto de recurso,
vamos usar as variáveis ,  e D, pois pretendemos que Po, Q e  constem de grupos diferentes.

Constituição dos grupos adimensionais:

𝜋1 = 𝜌a Ωb 𝐷 c𝑃𝑜  𝜋1: (ML−3)a T −b Lc ML2 T −3

𝜋2 = 𝜌d Ωe 𝐷 f 𝑄  𝜋2: (ML−3)d T −e Lf L3 T −1

𝜋3 = 𝜌g Ωh 𝐷 i 𝜇  𝜋3: (ML−3 )g T −h Li ML−1 T −1

Determinação dos expoentes:


1 :
M: a + 1 = 0 ⇒ a = −1
𝑁
{L: − 3a + c + 2 = 0 ⟹ c = −5 ⟹ 𝜋1 = 3 5
𝜌Ω 𝐷
T: − b − 3 = 0 ⟹ b = −3

2 :
M: d = 0
𝑄
{ L: − 3d + f + 3 = 0 ⟹ f = −3 ⟹ 𝜋2 =
Ω𝐷3
T: − e − 1 = 0 ⟹ e = −1

3 :
M: g + 1 = 0 ⟹ g = −1
𝜇
{ L: − 3g + i − 1 = 0 ⟹ i = −2 ⟹ 𝜋3 =
𝜌Ω 𝐷2
T: − h − 1 = 0 ⟹ h = −1

Então,
𝑃𝑜 𝑄 𝜇
3 5
= 𝑓( 3, )
𝜌Ω 𝐷 Ω𝐷 𝜌Ω 𝐷2

𝑃𝑜 𝑄 𝛼 𝜇 𝛽
3 5
= 𝐶 ( 3) ( 2
)
𝜌Ω 𝐷 Ω𝐷 𝜌Ω 𝐷

127
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 7.3

A taxa de deposição de iões metálicos (𝑚̇, com dimensões M T-1) de uma solução electrolítica diluída é normalmente
representada pela velocidade de difusão dos iões para o eléctrodo (este em forma de disco). O processo é controlado
pelas seguintes variáveis: densidade, viscosidade, 𝑘 (coeficiente de transferência de massa, L T-1), 𝐷 (coeficiente de
difusão, L2 T-1), 𝑑 (diâmetro do disco) e Ω (velocidade angular). Obtenha um conjunto de grupos adimensionais para
estas variáveis em que k, D e  apareçam em grupos separados.

Resolução:
O número de grupos adimensionais para este caso é 7 – 3 = 4.

Matriz dimensional:

𝑚̇ 𝑘 𝐷 𝑑 Ω 𝜌 𝜇

M 1 0 0 0 0 1 1
L (0 1 2 1 0 −3 −1)
T −1 −1 −1 0 −1 0 −1

Conjunto de recurso: optamos por 𝜌, Ω e 𝑑 . Claro que há outras possibilidades, mas estas variáveis são
relevantes para o projecto e fáceis de medir e controlar. Note-se que a taxa de deposição 𝑚̇ é a nossa variável
dependente e a viscosidade deve ser sempre excluida do conjunto de recurso. Os coeficientes de difusão e de
transferência de massa são propriedades dificieis de controlar diretamente, pelo que são pouco interessantes para
surgir repetidamente no resultado.

𝜋1 = 𝜌a Ωb 𝑑c 𝑚̇ ⟹ 𝜋1 : (ML−3)a T −b Lc MT −1

𝜋2 = 𝜌d Ωe 𝑑f 𝑘 ⟹ 𝜋2: (ML−3)d T −e Lf L T −1

𝜋3 = 𝜌g Ωh 𝑑i 𝐷 ⟹ 𝜋3: (ML−3)g T −h Li L2 T −1

𝜋4 = 𝜌j Ωk 𝑑l 𝜇 ⟹ 𝜋4: (ML−3)j T −k Ll ML−1 T −1

𝜋1 :
M: a+1 = 0 ⟹ a = −1
𝑚̇
{ L: − 3a + c = 0 ⟹ c = −3 ⟹ 𝜋1 =
𝜌Ω𝑑 3
T: − b − 1 = 0 ⟹ b = −1
𝜋2 :

M: d = 0
𝑘
{ L: − 3d + f+1 = 0 ⟹ f = −1 ⟹ 𝜋2 =
Ω𝑑
T: − e − 1 = 0 ⟹ e = −1

𝜋3 :
M: g = 0
𝐷
{ L: − 3g + i +2 = 0 ⟹ i = −2 ⟹ 𝜋3 =
Ω𝑑 2
T: − h − 1 = 0 ⟹ h = −1

𝜋4 :
M: j +1 = 0 ⟹ j = −1
𝜇
{L: − 3j + l − 1 = 0 ⟹ l = −2 ⟹ 𝜋4 =
𝜌Ω𝑑 2
T: − k − 1 = 0 ⟹ k = −1

Então,

128
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑚̇ 𝑘 𝐷 𝜇
= 𝑓( , , )
𝜌Ω𝑑3 Ω𝑑 Ω𝑑2 𝜌Ω𝑑2

Exemplo 7.4
Num estudo sobre a formação de bolhas a partir de um gás introduzido no líquido através de um pequeno
orifício situado abaixo da superfície, verificou-se que o diâmetro das bolhas, D, é função do diâmetro do
orifício, d, da densidade do líquido, da tensão superficial, 𝜎 MT −2 da viscosidade do líquido e da
aceleração da gravidade. Admitindo que existe uma relação do tipo 𝐷 = 𝜑(𝑑, 𝜌, 𝜇, 𝑔), recorra à análise
dimensional para determinar a forma geral da equação adimensional que descreve o diâmetro médio das
bolhas, D. Faça com que a tensão superficial e a viscosidade surjam apenas uma vez cada.

Resolução:
O número de grupos adimensionais para este caso é 6 – 3 = 3. Conjunto de recurso: 𝜌, 𝑑, 𝑔 .
Matriz dimensional:
𝐷 𝑑 𝜌 𝑔 𝜎 𝜇

M 0 0 1 0 1 1
L (1 1 −3 1 0 −1)
T 0 0 0 −2 −2 −1

𝜋1 = 𝜌a 𝑑b 𝑔c𝐷  𝜋1 : (ML−3)a Lb (LT −2 )c L

𝜋2 = 𝜌d 𝑑 e 𝑔 f 𝜎  𝜋2: (ML−3)d Le (LT −2 )f MT −2

𝜋3 = 𝜌g 𝑑 h 𝑔 i 𝜇  𝜋3 : (ML−3)g Lh (LT −2 )i ML−1 T −1

𝜋1 :
M: a = 0
𝐷
{L: − 3a + b + c + 1 = 0 ⟹ b = −1 ⟹ 𝜋1 =
𝑑
T: − 2c = 0 ⟹ c = 0

𝜋2 :
M: d+1 = 0 ⟹ d = −1
𝜎
{ L: − 3d + e + f = 0 ⟹ e = −2 ⟹ 𝜋2 =
𝜌𝑔𝑑 2
T: − 2f − 2 = 0 ⟹ f = −1

𝜋3 :
M: g+1 = 0 ⟹ g = −1
3 𝜇2
L: − 3g + h + i − 1 = 0 ⟹ h = − ⟹ 𝜋3 =
2 𝑔𝜌2 𝑑 3
1
{ T: − 2i − 1 = 0 ⟹ i = − 2

Então,

𝐷 𝜎 𝜇2
= 𝑓( , )
𝑑 𝜌𝑔𝑑 𝑔𝜌2 𝑑3
2

𝛽
𝐷 𝜎 𝛼 𝜇2
= 𝐶( 2
) ( 2 3)
𝑑 𝜌𝑔𝑑 𝑔𝜌 𝑑

129
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS
P 7.1 Para efeitos de dimensionamento de um sistema de transporte de um fluido de Bingham com 𝜌 = 1200
kg/m3, 𝑘𝐵 = 0,05 Pa∙s, 𝜏0 = 100 Pa, pretende-se prever o gradiente de pressão ao longo de um tubo horizontal com
um diâmetro D = 20 cm para uma velocidade média 𝑣 = 2,0 m/s. Para isso, realizam-se ensaios de transporte num
sistema modelo construído à escala de 1:3, usando um fluido de Bingham com os mesmos valores de 𝑘𝐵 e 𝜌 do fluido
usado no protótipo.
a) Determine os valores de 𝑣 e de 𝜏0 no modelo para que exista semelhança dinâmica entre os dois sistemas.
b) Determine o valor de ∆𝑝/𝐿 no protótipo, sabendo que o valor medido no modelo em condições de
semelhança dinâmica é de 1,0 atm/m.
∆𝑝
Nota: Admita que ambos os tubos são lisos e que = 𝑓(𝑣, 𝐷, 𝜌, 𝑘𝐵 , 𝜏0 ) .
𝐿

P 7.2 O momento das forças de atrito (M) que actuam num disco em rotação, imerso num grande volume de
fluido Newtoniano, depende do diâmetro do disco (D), da rugosidade da superfície do disco (ε), da velocidade angular
() e das propriedades físicas do fluido (ρ e µ).
a) Obtenha o conjunto de grupos adimensionais que descrevem este sistema.
b) Pretende-se conhecer o momento das forças de atrito que actuam num disco liso, com
2,0 mm de diâmetro, com uma velocidade de rotação de 120 rps em água. Para isso, efectua-se um ensaio num
modelo maior, à escala de 20:1, em água. Em condições de semelhança dinâmica, o momento da força no modelo é
de 0,1 Nm. Determine a velocidade de rotação do modelo e o momento da força que actua no protótipo.

P 7.3 Numa fábrica dá-se a explosão de um tanque de armazenagem de etileno. A distância percorrida pela
onda de choque (R) é função da energia libertada (E), da densidade do ar (ρ) e do tempo (t).
a) Obtenha a forma geral da equação que descreve o problema.
b) Como deveria proceder para obter a equação empírica a partir da forma geral?

P 7.4 Considere o escoamento de um fluido com viscosidade  e densidade ρ no interior de uma conduta de
paredes lisas, horizontal, com diâmetro D e comprimento L. Quando a velocidade média de escoamento é 𝑣, a queda
de pressão entre a entrada e a saída da conduta (provocada pelo atrito na parede) é ∆𝑝. Escreva a relação
∆𝑝 = 𝜑(𝑣, 𝐷, 𝜌, 𝜇 , ∆𝐿 ) em forma adimensional, para todo o conjunto de escoamentos fisicamente semelhantes.

130
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 8. TRANSPORTE EM CONDUTAS

Como vimos, o fluxo de quantidade de movimento ocorre em consequência de um gradiente de


velocidade através de um fluido contínuo. Quando se trata de escoamento dentro de tubos
fechados, vimos também que a tensão de corte é máxima na parede. É como se a parede fosse um
escoadouro de quantidade de movimento. Neste capítulo iremos estudar o transporte de fluidos
em condutas, embora um tratamento comparável possa ser aplicado a outras situações, como seja
a extrusão de plásticos ou o do escoamento através de filtros. Neste tipo de situações interessa em
geral calcular a perda de pressão que o fluido vai sofrer e relacioná-la com o caudal volumétrico.

8.1 A Perda de carga na equação da energia

AQUECIMENTO POR EFEITO DO ATRITO

O atrito pode ter efeitos diversos, consoante a situação e as características do sistema. Nos sólidos,
por exemplo, sabemos bem que o atrito provoca aquecimento, ou seja, dissipação térmica. Nos
gases este efeito é menos evidente, em parte pela elevada capacidade calorífica de muitos fluidos,
mas ainda assim não é desprezável em alguns casos.

Tomemos um fluido escoando de um 1 para 2, ao longo de uma linha de corrente; a equação da


energia pode ser escrita como:
𝑣1 2 𝑝1 𝑣2 2 𝑝2
𝑈1 + + 𝑔𝑧1 + + 𝑞 − 𝑊𝑠 = 𝑈2 + + 𝑔𝑧2 + + 𝑊𝜇
2 𝜌1 2 𝜌2 Eq. (8.1)

em que cada parcela representa uma energia por unidade de massa e 𝑊𝜇 o trabalho realizado para
vencer o atrito. Para um fluido incompressível escoando sem perda de pressão e sem variação de
velocidade (𝑣1 = 𝑣2) em escoamento horizontal (𝑧1 = 𝑧2 ), teremos:

∆𝑈 = 𝑈2 − 𝑈1 = 𝑞 − 𝑊𝑠 − 𝑊𝜇

131
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

∆𝑈 − 𝑞 = − (𝑊𝑠 + 𝑊𝜇 )

O aquecimento do fluido significa que ∆𝑈 > 0.

Se não houver trabalho de máquina e não houver atrito, então:

∆𝑈 − 𝑞 = 0

Ou seja, a variação do estado térmico do fluido resulta apenas do calor fornecido ao sistema (o
calor é fornecido ao fluido quando q é positivo).

Por outro lado, se houver atrito, então ∆𝑈 − 𝑞 > 0 e por isso −𝑊𝜇 > 0 , ou seja, o trabalho
relativo ao atrito vai ser negativo e o atrito vai traduzir-se numa dissipação térmica, com variação
da energia interna do fluido.

PERDA DE PRESSÃO POR EFEITO DO ATRITO

Se as perdas por atrito forem baixas e/ou se a capacidade calorífica do fluido for elevada (caso de
muitos líquidos), então 𝑈2 ≅ 𝑈1 , ou seja, o estado térmico do fluido é praticamente inalterado
(escoamento isotérmico).
Se não houver fornecimento de calor ao sistema nem realização de trabalho mecânico, para um
fluido incompressível, temos:
𝑝1 𝑝2
𝑈1 + = 𝑈2 + + 𝑊𝜇
𝜌 𝜌 Eq. (8.2)
Se o escoamento for isotérmico, a energia interna é invariante:

𝑝1 − 𝑝2
𝑈2 ~𝑈1 ⟹ 𝑊𝜇 = (> 0)
𝜌

ou seja, o fluido perde pressão (carga) devido ao atrito na parede. A perda de carga por atrito, ℎ𝑓 ,
será representada por:
(−∆𝑝)𝑓
ℎ𝑓 =
𝜌𝑔 Eq. (8.3)

sendo (−∆𝑝)𝑓 a perda de pressão devida ao atrito (fricção).


A equação da energia surge então modificada:

132
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑝1 𝑣1 2 𝑝2 𝑣2 2
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2 + ℎ𝑓
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (8.4)

Exemplo 8.1

Consideremos uma variante ao Exemplo 4.9, agora com contabilização da perda de carga por atrito nas paredes
do tubo. Água é bombeada a partir de um poço. O tubo de entrada tem diâmetro de 10,0 cm e comprimento de 3,0
m e está 2,0 m submerso dentro da água do poço. Admitindo que a perda de carga de pressão devida ao atrito é de
40 cm de coluna de água, qual será o caudal que conduzirá a um abaixamento da pressão à entrada da bomba até à
pressão (absoluta) de 87 kPa? Admita velocidade uniforme na secção.

Resolução:
Podemos aplicar a equação da energia entre a superfície do fluido (ponto 1) e a entrada da bomba (ponto 2), onde se
sabe a pressão, em que 𝑣1 ≪ 𝑣2, pelo que a equação fica na forma:

𝑣22 𝑝1 − 𝑝2
= + 𝑧1 − 𝑧2 − ℎ𝑓
2𝑔 𝜌𝑔
𝑝1 − 𝑝2
𝑣2 = √2𝑔 ( + 𝑧1 − 𝑧2 − ℎ𝑓 )
𝜌𝑔

Substituindo valores:
𝑝1 = 𝑝atm = 1,013 × 105 Pa
𝑝2 = 87 × 103 Pa
ℎ𝑓 = 0,40 m

1,013 × 105 − 0,87 × 105


𝑣2 = √2 × 9,81 ( + 2,0 − 3,0 − 0,40) = 1,1 m s−1
1000 × 9,81
𝐷2
𝑄 = 〈𝑣2 〉𝜋 = 8,3 × 10−3 m3 s−1
4

8.2 Bombeamento de Líquidos

Vimos na equação da energia o termo 𝑊̇ 𝑠 , a que chamámos “trabalho de veio” ou “trabalho de


máquina”. É o trabalho realizado em interfaces com superfícies sólidas (pás de uma turbina, por
exemplo), e é positivo se o trabalho for realizado pelo fluido. Assim, quando há uma bomba no
circuito, o fluido recebe trabalho, pelo que 𝑊𝑠 < 0. Dado que 𝑊𝑠 corresponde a um trabalho por
unidade de massa, podemos definir uma grandeza
−𝑊𝑠
𝐻𝑏 =
𝑔 Eq. (8.5)

que tem dimensões de comprimento.

133
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

O termo 𝐻𝑏 traduz um ganho de carga, e as dimensões de comprimento traduzem um


ganho em altura manométrica, isto é, de carga de pressão. De facto, quando um líquido passa
numa bomba, tem um ganho energético, que se traduz num aumento de pressão. Apliquemos a
equação de conservação da energia (agora incluindo 𝐻𝑏 ) entre os pontos imediatamente a
montante e a jusante da bomba - Figura 8.1.

Figura 8.1 – Esquema de uma bomba e pontos imediatamente a montante e a jusante da bomba (1 e 2,
respetivamente).

Para escoamento incompressível e isotérmico, teremos (admitamos velocidade uniforme em cada


secção):

𝑝1 𝑣1 2 𝑝2 𝑣2 2
+ + 𝑧1 + 𝐻𝑏 = + + 𝑧2 + ℎ𝑓
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (8.6)

Se o tubo tiver o mesmo diâmetro à entrada e à saída, e dado que não há termo de geração
na bomba (i.e., os caudais volumétricos são iguais), então 𝑣2 = 𝑣1 . Para escoamento horizontal,
e desprezando o atrito dentro da bomba (porque só se considera a energia efetivamente transmitida
ao fluido em 𝐻𝑏 ), resulta que

∆𝑝𝑏
𝐻𝑏 =
𝜌𝑔 Eq. (8.7)

sendo ∆𝑝𝑏 = 𝑝2 − 𝑝1 o ganho de pressão na bomba.


Concluímos então que
∆𝑝𝑏
−𝑊𝑠 =
𝜌
A potência hidráulica (potência transmitida ao fluido), será
∆𝑝𝑏
𝑊̇𝑏 = −𝑊𝑠 𝑚̇ = 𝑄𝜌
𝜌

134
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑊̇𝑏 = ∆𝑝𝑏 × 𝑄 Eq. (8.8)

A razão entre a potência hidráulica e a potência consumida pela bomba, ou potência nominal,
𝑊̇𝑏,𝑛 , corresponde à eficiência da bomba, 𝜂𝑏 :
𝑊̇𝑏
𝜂𝑏 =
𝑊̇𝑏,𝑛 Eq. (8.9)

8.3 Fator de Atrito

O cálculo das perdas de pressão por atrito, para escoamento dentro de condutas é facilitado pelo
uso de um parâmetro adimensional designado por fator de atrito, 𝑓.
A sua equação de definição é:
𝐹𝜏
𝑓=
𝐴𝐾 Eq. (8.10)
sendo a força de atrito na parede 𝐹𝜏 dada pelo produto do fluxo de quantidade de movimento na
parede pela área de contacto (“área molhada”): 𝐹𝜏 = 𝜏𝑤 × 𝐴
No denominador consta o produto da área molhada 𝐴 por uma energia cinética
característica por unidade de volume (𝐾). Para escoamento em condutas, 𝐾 , relaciona-se com a
velocidade média da secção 〈𝑣〉 por:

𝜌 〈𝑣 〉2
𝐾=
2
Assim sendo:
𝜏𝑤 × 𝐴 𝜏𝑤 2 𝜏𝑤
𝑓= = =
𝐴𝐾 𝐾 𝜌 〈𝑣 〉2

Consideremos então um tubo de secção circular, colocado na horizontal, e façamos um balanço


de forças ao fluido em estado estacionário (Figura 8.2).

Figura 8.2 – Forças axiais atuando sobre um volume de controlo.

135
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Por outro lado,


𝜌 〈𝑣 〉2
𝐹𝜏 = 𝑓 (𝜋𝐷𝐿)
2

Igualando as duas expressões e resolvendo em ordem a f , obtemos:

1 𝐷 𝑝0 − 𝑝𝐿
𝑓=
4 𝐿 1 𝜌 〈𝑣 〉2
2
Nas condições do sistema, 𝑝0 − 𝑝𝐿 = (−∆𝑝)𝑓 , logo:

1 𝐷 (−∆𝑝)𝑓
𝑓=
4 𝐿 1 𝜌 〈𝑣 〉2
2 Eq. (8.11)

Esta definição corresponde ao fator de atrito de Fanning, e relaciona f com a perda de pressão
por atrito para escoamento em tubos de secção circular.

O fator de atrito relaciona-se com o número de Reynolds, o que é extremamente útil em projeto
de instalações para transporte de fluidos, incluindo seleção de bombas.

Para escoamento laminar, já sabemos como se relaciona a perda de pressão por atrito, (−∆𝑝)𝑓 ,
com a velocidade, através da equação de Hagen-Poiseuille:

(−∆𝑝)𝑓 𝑅2 (−∆𝑝)𝑓 𝐷2
〈𝑣 〉 = =
8𝜇𝐿 32𝜇𝐿

Substituindo na expressão do fator de atrito de Fanning e rearranjando, vem:

16 𝜇
𝑓=
𝜌〈 𝑣 〉 𝐷

Ou 16
𝑓= Eq. (8.12)
Re

Esta não é mais do que outra forma da equação de Hagen-Poiseuille.

No caso do escoamento turbulento há que definir outra grandeza, genericamente designada por
rugosidade. A rugosidade tem que ver com o material de que o tubo é construído, bem como o
seu acabamento. Define-se rugosidade absoluta como a profundidade média da irregularidade de
uma superfície – neste caso a superfície interior do tubo, expressa como um comprimento. Na

136
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

prática o parâmetro de maior relevância é a rugosidade relativa, definida como a razão entre a
rugosidade absoluta e o diâmetro interno do tubo, e que evidentemente é adimensional.

- rugosidade absoluta, 𝜖
𝜖
- rugosidade relativa, 𝜖𝑟 = 𝐷

A Tabela 8.1 apresenta valores típicos de rugosidade. Este tipo de tabelas pode ser facilmente
encontrado na literatura.

Tabela 8.1 - Valores típicos de rugosidade


Material Rugosidade, 𝝐/𝐦𝐦
Latão, chumbo, vidro, PVC 0,0015
Aço comercial e ferro forjado 0,05
Ferro fundido asfaltado 0,12
Aço galvanizado 0,15
Ferro fundido 0,46
Madeira 0,2 - 0,9
Betão 0,3 - 3
Aço rebitado 0,9 - 9

Em escoamento turbulento, o fator de atrito é função do número de Reynolds e também da


rugosidade. Existem diversas correlações empíricas ou semi-empíricas para a determinação do
fator de atrito.
No caso de tubos lisos e com número de Reynolds na gama 2100 < Re < 105 , é válida a equação
de Blasius:
𝑓 = 0,0791 Re−0,25
Eq. (8.13)

Para outras situações, opta-se em geral por consultar o diagrama de Moody (Figura 8.3), no qual
se encontram condensadas as diversas correlações. Assim, o dimensionamento de tubagens passa
pela determinação do número de Reynolds, a partir do qual se determina o fator 𝑓. Se
combinarmos a Eq. (8.3) com a Eq. (8.11), vemos que

𝐿 〈𝑣 〉2
ℎ𝑓 = 4𝑓 Eq. (8.14)
𝐷 2𝑔

A perda de carga pode ser então introduzida na equação de conservação da energia.

137
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Nos problemas em que não conhecemos a velocidade (ou o caudal) não é possível determinar o
valor do número de Reynolds e por isso o cálculo é feito por método iterativo.
i. Arbitramos um valor para a velocidade.
ii. Calculamos o número de Reynolds.
iii. Determinamos a rugosidade relativa.
iv. Sabendo a rugosidade e usando o Re arbitrado, obtemos o valor de 𝑓.
v. Entramos com o valor do fator de atrito na equação de conservação da energia e
calculo a velocidade.
vi. Usamos a nova velocidade na iteração seguinte.
vii. O processo pára quando já não temos resolução no diagrama para distinguir entre
duas iterações consecutivas.

0,02
𝜖𝑟
0,05
0,04
0,03

0,02
0,015
0,01
0,01

0,008
0,005
Fator de atrito de Fanning

0,006 0,002

0,001

0,0005
0,004
0,0002
0,003 0,0001
0,00005

0,00002
0,002 0,00001
0,000005

0,000001

0,001
1000 10000 100000 1000000 10000000 100000000
Re

Figura 8.3 Diagrama de Moody4.

4
Usou-se a correlação de Haaland para a estimativa do fator de atrito para tubos rugosos:
10⁄
1 6,9 𝜖 9
= −3,6 log [𝑅𝑒 + (3,7𝐷) ] [S.E. Haaland, Trans. ASME, JFE, 105, 89, 1983].
√𝑓

138
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

8.4 Acessórios de tubagem

Um acessório de tubagem é um componente que tem como finalidade facilitar a instalação


de uma tubagem ou provocar uma alteração no escoamento. Pode tratar-se de uma ramificação,
uma válvula, um cotovelo, um redutor ou um alargamento, ou apenas uma junção entre dois troços
de tubo.
Ao passar num acessório, o fluido gasta energia para vencer o obstáculo que se traduz numa perda
de carga de pressão, ou seja, o fluido tem menos pressão a jusante do acessório do que a montante
dele. Na generalidade dos acessórios o fluido tem o mesmo caudal dos dois lados do acessório, e
portanto mantém a energia cinética, mas diminui a pressão; noutros acessórios, como seja o
expansor e o redutor, há uma variação de velocidade e portanto de energia cinética, que implica
pela equação de conservação da energia uma variação na pressão, mas para além desta variação
há ainda uma perda provocada pelo acessório de tubagem.
Vamos começar por analisar o escoamento isotérmico de um fluido incompressível num
alargamento brusco numa conduta. Neste caso, o fluido tem subitamente um aumento da área
livre para o escoamento. Tomemos então o escoamento de um fluido incompressível, em estado
estacionário, escoando através de uma tubagem, com perfil de velocidades plano (pistão) – Figura
8.4. O afastamento das linhas de corrente revela uma diminuição da velocidade, e forma-se uma
zona de estagnação logo a seguir ao alargamento. Consideremos as secções 1, 1’ e 2, e façamos
os balanços macroscópicos que já conhecemos. Seja a velocidade uniforme em cada uma das
secções.

Figura 8.4 Escoamento num alargamento brusco.

139
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

O balanço à massa entre 1 e 2 diz que 𝑚̇1 = 𝑚̇2 ,


ou seja 𝑣1 𝐴1 𝜌1 = 𝑣2 𝐴2 𝜌2
Dado que o fluido é incompressível, o caudal volumétrico será igual em 1 e 2, ou seja:

𝑄 = 𝑣1 𝐴1 = 𝑣2 𝐴2

𝐴1
𝑣2 = 𝑣1
𝐴2
Façamos agora o balanço às forças, entre 1′ e 2. Admitamos como pressuposto que entre 1 e 1´se
mantém a velocidade:
𝑣1 = 𝑣1′
O balanço às forças entre 1′ e 2 será:
𝑝1 𝐴1 + 𝑝1′ (𝐴2 − 𝐴1 ) − 𝑝2 𝐴2 = 𝜌𝑣22 𝐴2 − 𝜌𝑣12 𝐴1
Em que se considerou a força de pressão em 1′ atuando apenas na coroa circular. Demonstra-se
experimentalmente que a pressão é 1′ é idêntica à pressão a montante, i.e., em 1. Assim, e tendo
em conta a conservação da massa, fica:

𝐴1 2
(𝑝1 − 𝑝2 ) 𝐴2 = 𝜌𝑣12 𝐴2 ( ) − 𝜌𝑣12 𝐴1
𝐴2
𝐴1 𝐴1
(𝑝1 − 𝑝2 ) = 𝜌𝑣12 [ − 1]
𝐴2 𝐴2

Este é o resultado do balanço às forças.


Vejamos agora o balanço à energia. A conservação da energia entre 1e 2 é dada por:
𝑝1 − 𝑝2 𝑣22 − 𝑣12
= + ℎ𝐿
𝜌𝑔 2𝑔
Em que ℎ𝐿 representa a energia transformada irreversivelmente no alargamento. Substituindo a
diferença de pressão do balanço às forças obtemos a perda de altura manométrica em função de
uma velocidade apenas:
𝑝1 − 𝑝2 𝑣12 − 𝑣22
ℎ𝐿 = +
𝜌𝑔 2𝑔
𝑣12 𝐴1 𝐴1 𝑣12 − 𝑣22
ℎ𝐿 = [ − 1] +
𝑔 𝐴2 𝐴2 2𝑔
𝑣12 𝐴1 𝐴1 𝑣12 𝐴1 2
ℎ𝐿 = [ − 1] + [1 − ( ) ]
𝑔 𝐴2 𝐴2 2𝑔 𝐴2

140
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

A perda de carga é assim proporcional à energia cinética, ou seja, à carga de velocidade:


𝐴1 2 𝑣12
ℎ𝐿 = (1 − )
𝐴2 2𝑔 Eq. (8.15)

O coeficiente de proporcionalidade, que é adimensional, é um parâmetro geométrico, e designa-


se por coeficiente de resistência, K.
𝑣12
ℎ𝐿 = 𝐾
2𝑔 Eq. (8.16)

No caso de um alargamento brusco numa tubagem, o coeficiente de resistência é então dado por:
𝐴1 2
𝐾 = (1 − )
𝐴2 Eq. (8.17)

O valor de K varia então com a geometria do alargamento. No caso de um estreitamento brusco,


a perda de carga também depende da geometria, mas toma valores menores. Na Figura 8.5
apresenta-se o coeficiente de resistência para estreitamentos e alargamentos, em função da razão
dos diâmetros; repare-se que esta razão é sempre inferior a 1,0, o que significa que se usa o
diâmetro menor a dividir pelo maior, seja qual for a direção do escoamento.

0,9 alargamento

0,8
estreitamento
0,7

0,6
K

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

d/D

Figura 8.5 Coeficiente de resistência em alargamentos e estreitamentos bruscos. d: diâmetro mais


estreito; D: diâmetro mais largo; estreitamento: adaptado de Perry Perry e Chilton, Chemical Engineers’
Handbook, 3rd ed., McGraw-Hill.

Sempre que há um estreitamento, existe um ponto onde a área usada no escoamento é mínima, e
é acompanhado de uma zona região de turbulência, ou seja, de movimentos circulares. Essa
região, onde a velocidade é máxima, designa-se vena contracta, e pode ser observada na Figura

141
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

8.6. Ou seja, a equação de conservação da energia pode ser modificada de modo a contabilizar a
perda de carga resultante dos acessórios de tubagem, que iremos designar por ℎ𝐿 . Sendo um termo
de perda, surge no segundo membro, i.e., como uma parcela que se soma à perda de carga em
linha:
𝑝1 𝑣12 𝑝2 𝑣22
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔 Eq. (8.18)

(a) (b)

Figura 8.6 – Separação do escoamento e formação de vórtices num estreitamento (a) e num alargamento
(b).

Tal como o atrito nas paredes (atrito no tubo em linha), é uma transformação irreversível de
energia. Em escoamento turbulento, a perda de carga num acessório pode ser contabilizada de
duas formas. A primeira é através do coeficiente de resistência, K, que é proporcional à perda de
carga calculada com base na velocidade média, obtida a partir do caudal volumétrico e da área da
secção transversal e recorrendo à Eq. (8.16). Os valores do coeficiente de resistência podem ser
encontrados em livros de tabelas e bases de dados e são apresentados em Anexo.

Um método alternativo é o do comprimento equivalente, que é definido como o comprimento de


tubo reto que o fluido teria de percorrer de modo a perder a mesma energia que perde no acessório:
𝐿𝑒𝑞 〈𝑣〉2
ℎ𝐿 = 4𝑓
𝐷 2𝑔
Eq. (8.19)

𝐿𝑒𝑞
Em bases de dados encontra-se tabelada a razão 𝐷
, para cada tipo de acessório. A Tabela 8.2
apresenta valores de coeficiente de resistência e de comprimento equivalente para alguns
acessórios comuns. Note-se que este tratamento respeita ao escoamento turbulento, já que em
escoamento laminar as perdas de carga em acessórios são em geral pouco importantes. Para
escoamento laminar existem poucos dados disponíveis e recomenda-se a consulta de literatura
específica.

142
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Tabela 8.2 - Valores indicativos para coeficientes de resistência e comprimentos equivalentes em


acessórios de tubagem (extraído de Perry e Chilton, Chemical Engineers’ Handbook, 3rd ed., McGraw-Hill e Noel de Nevers,
Fluid Mechanics for Chemical Engineers, McGraw-Hill)

Tipo de acessório ou válvula Coeficiente de resistência, K Leq/D

Cotovelo a 45º padrão 0,35 16


Cotovelo a 90º padrão 0,75 30
Cotovelo a 90º, raio longo 0,45 20
Válvula de guilhotina aberta 0,17 13
Válvula de globo aberta 6,0 340

Exemplo 8.2
Pretendemos caracterizar um novo modelo de válvula, recorrendo a
um manómetro diferencial em U, de acordo com o esquema.
a) Determine a equação do coeficiente de resistência da válvula com
a leitura no manómetro, para uma dada velocidade de
escoamento.
b) Nos testes efetuados com um tubo de 3,0 cm de diâmetro e
usando mercúrio como líquido manométrico, verificou-se que um
caudal de 1,42 L s-1 de água a 20 ºC provocava um desnível nos
meniscos de 33,0 cm. Qual o valor do coeficiente de resistência
nestas condições?

Resolução:
a)
Aplica-se a equação de conservação da energia entre os pontos 1 e 2:

𝑝1 𝑣12 𝑝2 𝑣22
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2 + ℎ𝐿
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔

Pela equação da continuidade, em estado estacionário, vem: 𝜌〈𝑣1 〉𝐴1 = 𝜌〈𝑣2 〉𝐴2; como o fluido é
incompressível e 𝐴1 = 𝐴2, tem-se 〈𝑣1 〉 = 〈𝑣2 〉

143
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Como 𝑧1 = 𝑧2 ⇒ 𝑝1 − 𝑝2 = 𝜌𝑔ℎ𝐿

A diferença de pressões 𝑝1 − 𝑝2 é obtida do manómetro diferencial:

𝑝1 + 𝜌𝑔ℎ + 𝜌𝑔ℎ′ = 𝑝2 + 𝜌M 𝑔ℎ + 𝜌𝑔ℎ′ (igualdade das pressões nos


pontos em equilíbrio estático)
𝜌M − 𝜌
𝑝1 − 𝑝2 = (𝜌M − 𝜌)𝑔ℎ ⇒ ℎ𝐿 = ℎ
𝜌
A perda de carga por atrito da válvula é relacionada com o coeficiente de
resistência 𝐾 através da seguinte expressão:
〈𝑣〉2 𝜌M − 𝜌 2𝑔
ℎ𝐿 = 𝐾 ⇒𝐾= ℎ 2
2𝑔 𝜌 〈𝑣〉

b)
𝑄 1,42 × 10−3
〈𝑣〉 = = = 2,0 m s−1
𝐴 𝜋 × 0,0152
13600 − 1000 2 × 9,81
𝐾= × 0,33 × = 20,4
1000 2,002

Ou seja, o coeficiente de resistência da válvula é ~20.

Exemplo 8.3

O sistema de bombeamento esquematizado na figura destina-se a transportar óleo de soja até um tanque de
armazenagem. Pretende-se um caudal de 10 L/s e usa-se tubagem com 5,08 cm de diâmetro interno (rugosidade=
0,2 mm), com um comprimento de 1,0 m no troço a montante da bomba e de 6,0 m no troço a jusante da bomba. A
tubagem inclui uma válvula de globo aberta e cinco cotovelos padrão a 90°. Nestas condições, qual a pressão que a
bomba terá de fornecer, expressa em metros de coluna de líquido e em Pa?

Propriedades do óleo de soja (300 K): = 919 kg m-3;  = 40 mPa∙s

1m
Resolução:

Apliquemos a equação de conservação da energia entre a superfície de fluido no tanque de sucção, ponto 1
(pressão atmosférica) e a saída do fluido na conduta (ponto 2), à pressão atmosférica:

144
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑝1 𝑣12 𝑝2 𝑣22
+ + 𝑧1 + 𝐻𝑏 = + + 𝑧2 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔

A partir do caudal volumétrico e o diâmetro da tubagem,


podemos calcular a velocidade na tubagem, a qual coincide com
𝑣2 :

𝑄 0,010
〈𝑣〉 = = = 4,93 m s−1
𝐴 0,05082
𝜋× 4

Como 𝑣1 = 0; 𝑧2 − 𝑧1 = 1,0 m; 𝑝1 = 𝑝atm , vem:

𝑣22 4,932
𝐻𝑏 = + 𝑧2 −𝑧1 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = + 1,0 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = 2,239 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿
2𝑔 2 × 9,81
𝐿 〈𝑣〉2 〈𝑣〉2
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = 4𝑓 +∑𝐾 (perda de carga em linha + acessórios)
𝐷 2𝑔 2𝑔

O fator de atrito de Fanning 𝑓 é função do número de Reynolds e da rugosidade relativa:

𝜌〈𝑣〉𝐷 919 × 4,93 × 0,0508


Re = = = 5,8 × 103
𝜇 0,040
𝜖 0,2
Rugosidade relativa, 𝜖𝑟 = = = 0,0039
𝐷 50,8

𝑓 ≈ 0,01 (leitura no diagrama de Moody, Figura 8.3)

Como acessórios, tem-se 5 cotovelos a 90° (𝐾 = 0,75), uma válvula em globo completamente aberta (𝐾 = 6,0)
e um estreitamento brusco (𝐾 = 0,5) ⇒ ∑ 𝐾 = 10,25. Como 𝐿 = 7,0 m e 𝐷 = 5,08 cm , vem:
7,0 4,932
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = (4 × 0,01 × + 10,25) × = 19,53 m
0,0508 2 × 9,81

𝐻𝑏 = 21,76 m

∆𝑝𝑏 = 21,76 × 919 × 9,81 = 2,0 × 105 Pa

Exemplo 8.4

A trasfega de água entre dois tanques é feita por gravidade, de


acordo com o esquema anexo. A tubagem é de polietileno
(diâmetro = 5,0 cm, rugosidade = 0,025 mm) e tem um
comprimento total de 150 m. A linha tem quatro cotovelos, dois a
90º e dois a 45º, uma válvula de guilhotina e uma válvula em
globo, totalmente abertas. Determine o caudal de água debitado,
considerando desprezável a variação temporal do nível de água
nos dois tanques.

145
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Resolução:

Pode aplicar-se a equação de conservação da energia entre as duas superfícies de fluido, ponto 1 (no reservatório
superior) e ponto 2 (no reservatório inferior), com desnível conhecido (𝑧1 − 𝑧2 = 8,0 m ):
𝑣1 = 𝑣2 = 0; 𝑝1 = 𝑝2 = 𝑝atm
𝑧1 − 𝑧2 = ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = 8,0 m

𝐿 〈𝑣〉2 〈𝑣〉2
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = 4𝑓 𝐷 2𝑔
+∑𝐾 2𝑔
(perda de carga em linha + acessórios)
Como acessórios5, tem-se 2 cotovelos a 90º (𝐾 = 0,75), 2 cotovelos a 45º (𝐾 = 0,35), 1 válvula de guilhotina aberta
(𝐾 = 0,17), 1 válvula globo aberta (𝐾 = 6,0), um estreitamento (𝐾 = 0,5) e um alargamento (𝐾 = 0,5) ⇒ ∑ 𝐾 = 9,87.
Como 𝐿 = 150 e 𝐷 = 5,0 cm, vem:
150 〈𝑣〉2
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = (4𝑓 + 9,87) = (611,62𝑓 + 0,5031)〈𝑣〉2
0,050 2 × 9,81

Como ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = 8,0 𝑚, vem:


8,0
〈𝑣〉 = √
611,62𝑓 + 0,5031

O fator de atrito de Fanning é função do número de Reynolds e da rugosidade relativa:

𝜌〈𝑣〉𝐷 1000 × 〈𝑣〉 × 0,050


Re = = = 5,0 × 104 × 〈𝑣〉
𝜇 0,001
𝜖 0,025
Rugosidade relativa, 𝜖𝑟 = = = 0,0005
𝐷 50

A resolução não é direta, pois Re depende da velocidade, que é desconhecida. Assim, arbitra-se uma velocidade para
aproximação inicial e calcula-se Re. Com esse valor de Re e com a rugosidade relativa, obtém-se o fator de atrito no
diagrama de Moody. A partir do fator de atrito e usando a equação da energia (*), calcula-se novo valor da velocidade.
Repete-se o processo até haver convergência.
Note-se que no caso de rugosidades relativas não representadas explicitamente no diagrama de Moody, há que estimar
uma linha de tendência entre as curvas mais próximas. No caso presente são as de 𝜀𝑟 = 0,0004 e 𝜀𝑟 = 0,0006 .

Cálculoiterativo:
〈𝑣〉 (m s-1) Re 𝑓 (Moody) 〈𝑣〉 calculado
1,0 5,0  104 0,0056 1,43
1,43 7,1  104 0,0051 1,49
1,49 7,4  104 0,0051 1,49

𝐷2 0,0502
𝑄 = 〈𝑣〉𝜋 = 1,49 × 𝜋 × = 2,92 × 10−3 m3 s−1
4 4
𝑄 = 2,9 L s−1

5
Para os coeficientes de resistência (K) dos acessórios, usaram-se os dados do Anexo VI; para o estreitamento e para o
alargamento, consultou-se a Figura 8.5.

146
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 8.5

Um depósito subterrâneo de combustível é abastecido por um camião-cisterna, de acordo com o esquema,


sendo h = 6,0 m. A pressão relativa no interior do depósito subterrâneo é mantida a 157 kPa e o camião encontra-se
aberto à atmosfera. A conduta de abastecimento tem 76 mm de diâmetro, 0,05 mm de rugosidade e um comprimento
total de 10 m. A conduta tem dois cotovelos padrão a 90º e uma válvula de guilhotina totalmente aberta. Determine
o caudal de combustível debitado pela bomba, sabendo que a potência consumida é de 1,6 kW (eficiência = 75%).

Propriedades do combustível:
 = 850 kg m-3; μ = 4,5 mPa∙s
Nota: As variações temporais no desnível são
consideradas desprezáveis.

Resolução:

Pode aplicar-se a equação da energia entre as duas superfícies de fluido, ponto 1 (pressão atmosférica) e ponto
2 (𝑝rel = 157 kPa), com desnível conhecido (ℎ = 𝑧1 − 𝑧2 = 6,0 m):

Temos então:
1

Bomba
𝑧2 − 𝑧1 = −6,0 m e 𝑣1 = 𝑣2 = 0

𝑝2 − 𝑝1 = 1,57 bar = 1,57 × 105 Pa


2
𝑝2 − 𝑝1 1,57 × 105
𝐻𝑏 = + 𝑧2 −𝑧1 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = − 6,0 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿
𝜌𝑔 850 × 9,81
= 12,83 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿

𝑄∆𝑝𝑏 1600 × 0,75 1200 2,643 × 105


𝑊̇𝑏,𝑛 = = 1,6 kW ⇒ ∆𝑝𝑏 = = 2 =
𝜂 𝑄 0,076 〈𝑣〉
〈𝑣〉 × 𝜋 ×
4
∆𝑝𝑏 31,694 31,694
𝐻𝑏 = = ⇒ = 12,83 + ℎ𝑓 + ℎ𝐿
𝜌𝑔 〈𝑣〉 〈𝑣〉

Como acessórios, tem-se 2 cotovelos a 90º (𝐾 = 0,75), 1 válvula de guilhotina aberta (𝐾 = 0,17), um
estreitamento (𝐾 = 0,5) e um alargamento (𝐾 = 1,0) ⇒ ∑ 𝐾 = 3,17. Como 𝐿 = 10 m e 𝐷 = 76 mm , vem:
10 〈𝑣〉2
ℎ𝑓 + ℎ𝐿 = (4𝑓 + 3,17) = (26,825𝑓 + 0,1616)〈𝑣〉2
0,076 2 × 9,81

Substituindo na equação da energia:


31,694
= 12,83 + (26,825𝑓 + 0,1616)〈𝑣〉2
〈𝑣〉

O fator de atrito de Fanning é função do número de Reynolds e da rugosidade relativa:

147
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝜌〈𝑣〉𝐷 850 × 〈𝑣〉 × 0,076


Re = = = 1,44 × 104 × 〈𝑣〉
𝜇 0,0045
𝜖 0,05
Rugosidade relativa, 𝜖𝑟 = = = 0,00066
𝐷 76

Este exercício exige também um processo iterativo, embora envolvendo uma equação transcendente. Assim,
começa por se arbitrar a velocidade e calcula-se Re. Com o Re e a rugosidade, lê-se o fator de atrito no diagrama de
Moody, substitui-se 𝑓 e a velocidade arbitrada no termo do lado direito da equação da energia que obtivémos atrás
e calcula-se a velocidade do termo do lado esquerdo, até haver convergência (método de Lagrange).

Processo iterativo:
〈𝑣〉 (m/s) Re 𝑓 (Moody) 〈𝑣〉 calculado
(m/s)
1,0 1,44  104 0,0070 2,40
2,40 3,45  104 0,0059 2,17
2,17 3,13  104 0,0059 2,17

𝐷2 0,0762
𝑄 = 〈𝑣〉𝜋 = 2,17 × 𝜋 × = 9,8 × 10−3 m3 s−1
4 4
𝑄 = 9,8 L s−1

8.5 Tubos de secção não-circular

Para tubos com geometrias diferente da circular, a determinação da perda de carga através do
diagrama de Moody pode ser feita recorrendo à noção de raio hidráulico, que é dado pela razão
entre a área da secção transversal disponível para o escoamento, A, e o perímetro molhado, Z:
𝐴
𝑅ℎ =
𝑍 Eq. (8.20)
A razão A/Z (área/perímetro) designa-se “raio hidráulico” e representa-se por Rh.
O diâmetro equivalente é dado pelo quádruplo do raio hidráulico. Porquê o fator 4? Para o caso-
padrão do tubo cilíndrico simples, teremos
𝜋 𝐷2 /4
𝐷𝑒𝑞 = 4𝑅ℎ = 4 × =𝐷
𝜋𝐷
ou seja, desta forma garante-se a coerência do tratamento entre os tubos cilíndricos e os de outras
geometrias.
A perda de carga é então calculada recorrendo às mesmas expressões que já conhecemos, i.e., ao
número de Reynolds e ao fator de atrito de Fanning, agora expressos da seguinte forma:

𝑣𝜌𝐷𝑒𝑞
Re =
𝜇

148
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

1 𝐷𝑒𝑞 (−∆𝑝)𝑓
𝑓=
4 𝐿 1 𝜌 𝑣2
2
A perda de pressão devida ao atrito pode então ser aplicada na equação de conservação da energia,
da mesma forma que nas condutas cilíndricas.

Exemplo 8.6

Água a 25 °C escoa no espaço anular entre dois tubos concêntricos, com


diâmetros de 50 mm e 20 mm. Qual a carga perdida em 10 m de tubo se a velocidade
média do escoamento for de 1 m/s e a rugosidade for de aproximadamente 0,002 ?

Resolução:

𝐴 𝜋(𝑅 2−𝑅 2)
Neste caso temos: 𝐷𝑒𝑞 = 4 𝑍 = 4 2𝜋(𝑅𝑒 +𝑅𝑖 ) = 2(𝑅𝑒 − 𝑅𝑖 )
𝑖 𝑒

Ou seja, o diâmetro equivalente hidráulico é neste caso dado pela diferença entre os diâmetros externo e
interno:
𝐷𝑒𝑞 = 𝐷𝑒 − 𝐷𝑖

Em que 𝐷𝑒 é o diâmetro externo do tubo interior e 𝐷𝑖 o diâmetro interno do tubo exterior.


O diâmetro equivalente será então

𝐷𝑒𝑞 = 0,050 − 0,020 = 0,030 m

O número de Reynolds vem:


1 × 103 × 1 × 0,03
Re = = 3 × 104
10−3

Considerando a rugosidade relativa e consultando o diagrama de Moody, obtemos o fator de Fanning:


𝑓 = 0,0073

A perda de carga será então:

10 12
ℎ𝑓 = 4 × 0,0073 × × = 0,496 m
0,030 2 × 9,81

R.: Em 10 m de tubo linear o fluido perde 0,496 m de altura manométrica.

149
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 8.7

Considere o escoamento de ar frio numa conduta de ar condicionado. A secção da conduta é retangular, com
15 cm de altura por 40 cm de largura. Para uma velocidade média do ar de 2,0 m s -1, calcule o número de Reynolds,
admitindo uma densidade média de 1,25 kg m-3. Admita µ = 1,77 10-2 mPa·s.
l= 40 cm
Resolução:

h= 15 cm
Secção livre = 𝑙 × ℎ
Perímetro molhado = 2𝑙 + 2ℎ

𝑙×ℎ 40 × 15
𝑅ℎ = = = 5,45 cm ⇒ 𝐷𝑒𝑞 = 4𝑅ℎ = 21,8 cm
2𝑙 + 2ℎ 2 × (40 + 15)

𝜌〈𝑣〉𝐷𝑒𝑞 1,25 × 2,0 × 0,218


Re = = = 3,1 × 104
𝜇 1,77 × 10−5

8.6 Diâmetro económico

No planeamento de uma instalação para transporte de fluidos há em geral uma gama de diâmetros
possíveis para a conduta; quando assim é, a seleção final deverá ser baseada em critérios
económicos. Esta análise é particularmente importante quando se trata de pipe-lines que
percorrem grandes distâncias. Há que considerar três categorias de custos, os de investimento,
de exploração e de manutenção.

Os custos de investimento consistem na aquisição do material e sua montagem. Esta parcela tem
uma variação aproximadamente linear com o diâmetro (ou com o peso), já que a distância é fixa.
Para além do peso da tubagem, também as bombas e acessórios, a mão-de-obra e até o sistema de
fixação são mais caros.

A manutenção consiste na pintura e limpeza interna da tubagem e é praticamente independente


do diâmetro do tubo. Em muitas situações a limpeza interna das tubagens é uma operação bastante
complexa, mas ainda assim o preço varia pouco com o diâmetro (no caso da indústria petrolífera
por vezes a maior dificuldade está relacionada com a existência de obstáculos na tubagem, tais
como ramificações ou válvulas).

150
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Finalmente, os custos de exploração (custo operatório) correspondem ao custo da bombeamento


(p). No caso de transporte em escoamento turbulento, o custo de bombeamento diminui à medida
que o diâmetro aumenta, como se pode verificar por análise da equação de conservação da energia
e do fator de atrito.

Assim, temos:

𝐿 〈𝑣 〉2
(−∆𝑝 )𝑓 = 4𝜌𝑔𝑓
𝐷 2𝑔 Eq. (8.21)

Por outro lado, relacionado o caudal com a velocidade e o diâmetro e tomando em conta a variação
do fator de atrito com o diâmetro (por exemplo, recorrendo à equação de Blasius e às outras vistas
atrás), concluímos que a perda de pressão é inversamente proporcional a uma potência do
diâmetro, com expoente na gama 4,6 - 5,0, dependendo do número de Reynolds e da rugosidade
da tubagem:
1
(−∆𝑝)𝑓 ∝ Eq. (8.22)
𝐷4,6−5,0
O mínimo da curva dos custos totais corresponde ao “diâmetro económico” e portanto também
à “velocidade económica” – Figura 8.7.
Note-se que esta análise aplica-se apenas a escoamento turbulento. Os custos de bombeamento
aumentam rapidamente com a viscosidade, pelo que em escoamento laminar os custos de
exploração são muito elevados. Em particular, as indústrias petrolíferas e petroquímicas
consomem mais energia do que a média das indústrias químicas, no bombeamento de líquidos
viscosos. A análise dos custos de bombeamento em escoamento laminar encontra-se fora do
âmbito deste curso.

Figura 8.7 Distribuição dos custos de bombeamento.

151
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

8.7 Escoamento Compressível

O escoamento de gases é muitas vezes semelhante ao escoamento incompressível, com a


particularidade de os números de Reynolds serem em geral mais elevados. A baixa velocidade
(comparativamente à velocidade do som) os efeitos da variação da pressão e da densidade são
pouco importantes e é válida a aproximação de escoamento incompressível com densidade
constante e tomada como a média. Um escoamento pode ser tomado como aproximadamente
𝑝2− 𝑝1
incompressível quando a variação da pressão é inferior a 10%, i.e., < 0,1. É a situação
𝑝1

típica de gases de ventilação ou gases de combustão, transportados com muito pequena variação
de pressão e ao longo de distâncias curtas. O tratamento é feito como se de um líquido se tratasse,
𝜌1 + 𝜌2
mas usando a densidade média, 𝜌̅ = .
2

À medida que a velocidade de escoamento se aproxima da velocidade de propagação das


variações de pressão (velocidade do som) os efeitos da compressibilidade tornam-se mais
importantes. Há então que ter em conta a variação das propriedades e o cálculo do fator de atrito
e do número de Reynolds não pode ser feito como até aqui.

Consideram-se em geral duas condições possíveis: isotérmico (temperatura constante) e


isentrópico (ou adiabático). Na condição isotérmica admite-se o comportamento de gás perfeito,

𝑝 𝑝1 𝑝2
= 𝑐𝑡𝑒 = =
𝜌 𝜌1 𝜌2 Eq. (8.23)

A condição adiabática corresponde a baixos tempos de residência, como em válvulas, orifícios ou


tubos curtos, em que não há transferência de calor do exterior. É também o caso de tubos bem
isolados termicamente. Se a dissipação de energia por atrito for pequena, pode-se descrever o
sistema como localmente isentrópico, e nesse caso obedece à condição:
𝑝 𝑝1 𝑝2
𝑘
= 𝑐𝑡𝑒 = 𝑘 = 𝑘
𝜌 𝜌1 𝜌2
Eq. (8.24)

𝑅
em que 𝑘 = 𝑐𝑝 ⁄𝑐𝑣 é o expoente isentrópico e, para um gás ideal, 𝑐𝑝 = 𝑐𝑣 + 𝑀 .

152
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Toma-se em geral 𝑘 = 1,4 para gases diatómicos e 𝑘 = 1,30 − 1,33 para gases pooliatómnicos.

A velocidade do som
O som é uma onda de pressão e a velocidade do som corresponde à velocidade a que essa onda
se propaga no meio. Para um gás ideal, a velocidade de propagação do som é dada por

⁄ ⁄
𝑘𝑝 1 2 𝑘𝑅𝑇 1 2
) 𝑐=(=( ) Eq. (8.25)
𝜌 𝑀
e depende portanto da temperatura e da natureza do gás em causa (através de 𝑀 e 𝑘).
Define-se o número de Mach (Ma) como a velocidade adimensional referida à velocidade do som
no meio em causa,

Ma = 𝑣/𝑐
Eq. (8.26)

Escoamento isotérmico em condutas

Tomemos o escoamento de um gás em estado estacionário, ao longo de um tubo liso e comprido,


com secção constante. Ao longo do tubo haverá perda de pressão devido ao atrito, pelo que a
densidade do gás irá diminuir. Por outro lado, a equação da continuidade diz-nos que o caudal
mássico é o mesmo à entrada e à saída do tubo; dado que a secção é constante,

𝑚̇
𝜌1 〈𝑣1 〉 = 𝜌2 〈𝑣2 〉 = 𝐺 = 𝑐𝑡𝑒
𝐴

Ou seja, ao longo do escoamento a densidade de fluxo mássico ou velocidade mássica G (massa


que atravessa a unidade de área da secção transversal do tubo na unidade de tempo) mantém-se
constante. Para que tal aconteça, a velocidade do gás vai aumentar ao longo do escoamento. Como
o caudal volumétrico é dado por 〈𝑣〉𝐴, para que o caudal mássico seja igual à entrada e à saída do
tubo, o caudal volumétrico vai ser maior à saída do que à entrada.

Se admitirmos em primeira aproximação que a viscosidade não depende da pressão, então μ será
constante e também será constante o número de Reynolds, que agora será expresso como:

𝐺𝐷
𝑅𝑒 =
𝜇

Dada a baixa viscosidade dos gases, o número de Reynolds é em geral elevado no escoamento
gasoso. Para além disso, é constante ao longo do escoamento, se o diâmetro da conduta for
constante e o escoamento estacionário e isotérmico. Note-se que o fator de atrito também é
constante ao longo do escoamento. Vejamos agora como podemos transformar a equação da
energia para descrever o escoamento compressível.
A equação de conservação da energia para um volume de controlo foi escrita como

153
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑝 𝜕
𝑞̇ − 𝑊̇ 𝑠 = ∬ (𝐸 + ) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + ∭ 𝐸𝜌 𝑑𝑉 + 𝑊̇𝜇
𝜌 𝜕𝑡
𝐴 𝑉
Se não houver trocas de calor com o exterior, nem trabalho de máquina (𝑞̇ = 0 e 𝑊̇ 𝑠 = 0) e em
estado estacionário, a equação simplifica-se para

𝑣2 𝑝
∬ (𝑈 + + 𝑔𝑧 + ) 𝜌(𝑣⃗ ∙ 𝑛⃗⃗)𝑑𝐴 + 𝑊̇𝜇 = 0
2 𝜌
𝐴

Admitindo escoamento isotérmico e perfil de velocidades plano, o balanço simplifica-se para

𝑝2
𝑣22 − 𝑣12 1
+ 𝑔 (𝑧2 − 𝑧1 ) + ∫ 𝑑𝑝 + ∑ ℱ = 0
2 𝜌
𝑝1

Em que ∑ ℱ representa as perdas de energia por atrito, referidas à unidade de massa.

𝑝 1
Vejamos o integral ∫𝑝 2 𝜌 𝑑𝑝. Se o fluido for incompressível, será
1
𝑝2
1 𝑝2 − 𝑝1
∫ 𝑑𝑝 =
𝜌 𝜌 Eq. (8.27)
𝑝1

o que nos conduz à equação da energia que já conhecemos.


Em contrapartida, se o fluido for compressível, e para um comprimento diferencial 𝑑𝐿 no
escoamento, o balanço passa à forma:
𝑑𝑝
𝑣 𝑑𝑣 + 𝑔 𝑑𝑧 + + 𝑑ℱ = 0 Eq. (8.28)
𝜌
Para um gás, o efeito da força gravítica é em geral desprezável, pelo que o termo 𝑔𝑑𝑧 pode ser
desprezado.
Por outro lado, a energia perdida por atrito pode ser dada por

𝐿 𝑣2
ℱ = ℎ𝑓 𝑔 = 4 𝑓
𝐷 2 Eq. (8.29)

Para um comprimento de tubo 𝑑𝐿, a perda de energia por atrito será:

𝑑𝐿 𝑣 2
𝑑ℱ = 4 𝑓
𝐷 2

A massa específica pode ser substituída pelo volume específico,


1
𝑉=
𝜌 Eq. (8.30)

E o fluxo mássico G pode ser expresso de outra forma

154
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑣
𝐺 = 𝜌𝑣 = ⇔ 𝑣 = 𝐺 𝑉 ⇔ 𝑑𝑣 = 𝐺 𝑑𝑉
𝑉 Eq. (8.31)

Assim, dividindo a Eq. (8.30) Eq. (8.29) por 𝑉 2 e substituindo a equação Eq. (8.31) , ela toma a
forma:

𝑑𝑉 𝑑𝑝 𝑑𝐿
𝐺2 + + 2𝑓 𝐺 2 = 0
𝑉 𝑉 𝐷 Eq. (8.32)

O que traduz o balanço à energia mecânica num sistema em escoamento, para variação de energia
potencial desprezável. Esta é a equação que deve ser integrada de forma a obter-se as variações
de pressão e/ou os caudais. O tratamento deste problema é tratado em geral em cursos de
Termodinâmica. Várias situações podem ser consideradas: escoamento isotérmico, escoamento
adiabático e escoamento isentrópico, como referimos atrás. Dado o nível introdutório do curso,
iremos aqui analisar apenas o escoamento isotérmico.

Nenhum escoamento é realmente isotérmico, mas esta é uma boa aproximação para transporte de
gases em tubagens longas e com pequena variação de pressão, em que o tempo de residência do
gás é suficientemente longo para que atinja equilíbrio térmico com a vizinhança. Para esta
aproximação, comportamento de gás perfeito,

𝑅𝑇
𝑝𝑉 =
𝑀 Eq. (8.33)

Substituindo a equação dos gases perfeitos no termo da pressão no balanço da Eq. (8.32) e
considerando o fator de atrito constante, fica

2 2 2
2∫
𝑑𝑉 𝑀 𝐺2
𝐺 +∫ 𝑝 𝑑𝑝 + 2𝑓 ∫ 𝑑𝐿 = 0 Eq. (8.34)
𝑉 𝑅𝑇 𝐷
1 1 1
Integrando:

2
𝑉2 𝑀 𝑝22 − 𝑝12 𝐺2
𝐺 ln + + 2𝑓 𝐿= 0
𝑉1 𝑅𝑇 2 𝐷

Ou, resolvendo em ordem a G :

𝑀 (𝑝12 − 𝑝22 )
𝐺 =√ 2 𝑅𝑇
𝐿 𝑝
2𝑓 𝐷 + ln 𝑝1 Eq. (8.35)
2

155
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑝22
1−
𝑝12
𝐺 = √𝑝1 𝜌1 √ Eq. (8.36)
𝐿 𝑝
4𝑓 + 2 ln 2
𝐷 𝑝1

Assim, para um gás escoando isotermicamente a partir de um reservatório (ponto 1) à pressão


constante 𝑝1, à medida que 𝑝2 diminui (sendo 𝑝2 < 𝑝1), o caudal deveria aumentar. No entanto,
a equação mostra que o aumento de 𝑝2 resulta no aumento quer do numerador quer do
denominador, havendo portanto efeitos opostos sobre o caudal. Determinando matematicamente
o máximo da Eq. (8.36), é possível provar que a velocidade mássica máxima (identificada com
um asterisco, 𝐺 ∗ e 𝑝∗) é dada por

𝑀 𝜌1
𝐺 ∗ = 𝑝2∗ √ = 𝑝2∗ √
𝑅𝑇 𝑝1 Eq. (8.37)

Nestas condições, a velocidade do escoamento na secção 2 será:

𝑅𝑇 𝑝1
𝑣2∗ = √ = √ =𝑐 Eq. (8.38)
𝑀 𝜌1

Ou seja, à medida que p2 decresce, a velocidade aumenta até atingir a velocidade do som na secção
de saída. A partir daí, qualquer decréscimo extra da pressão à saída não se traduz num aumento
do caudal. Isto acontece porque as variações de pressão são transmitidas à velocidade do som.
Quando esta situação é atingida, mesmo que a pressão no exterior seja mais baixa, a pressão na
secção de saída não desce abaixo de 𝑝2∗. Nestas condições, o caudal não depende da pressão de
saída, embora seja sensível à pressão na entrada. Quando a variação de pressão é pequena, o termo
𝑝
ln 𝑝2 é em geral desprezável. Por outro lado, decompondo a diferença (𝑝12 − 𝑝22 ) e introduzindo
1
o conceito de densidade média:

𝑀(𝑝1 + 𝑝2 )
𝜌̅ =
2 𝑅𝑇 Eq. (8.39)

Ou
𝑀 𝜌̅
=
2 𝑅𝑇 𝑝1 + 𝑝2

156
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

A Eq. (8.36) fica bastante simplificada, podendo ser aplicada a escoamento em tubos retilíneos e
uniformes:

𝜌̅ (𝑝1 − 𝑝2 ) (1 − 𝑝1 /𝑝2 )
𝐺 =√ = √𝑝1 𝜌̅
𝐿 𝐿
2𝑓 𝐷 2𝑓 𝐷

À medida que a pressão no tubo diminui, aumenta a energia cinética do fluido à custa da energia
interna, e portanto a temperatura tende a diminuir. Assim, a manutenção de condições isotérmicas
implica a transferência de calor a partir do exterior, calor esse que pode também ser determinado
a partir do balanço à energia mas que está fora do âmbito deste curso.
A aproximação de escoamento isotérmico é válida para numero de Mach < 0,3 e aplica-se ao
transporte de gases a longas distancias e com velocidades relativamente baixas.

157
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS
P 8.1 Pretende-se bombear água através de uma conduta circular de 50 mm de diâmetro interno, para um
reservatório, com um caudal de 2,4 L/s, a partir de um tanque situado no chão. Sabendo que o ponto de descarga
está situado 4,6 m acima do solo e que as perdas por atrito totais no sistema são de 1m de altura de água, a que
altura do tanque deve manter-se o nível da água se a bomba tiver 95 Watt de potência e a água for descarregada à
pressão atmosférica? Admita eficiência de 80%.

P 8.2 Pretende-se bombear água a 20 °C (ρ= 998 kg/m3; µ = 10-3 Pas) através de uma conduta com diâmetro
interno de 7,8 cm para um reservatório elevado. Os
troços da tubagem têm comprimento 𝐿1 = 4,6 m;
𝐿2 = 15 m e 𝐿3 = 9,1 m e o tubo ascendente faz um
ângulo de 45° com a horizontal.
a) Determine a pressão à saída da bomba para
alimentar o reservatório com um caudal de 1,14 L/s.
𝐿𝑒𝑞,𝑐𝑜𝑡𝑜𝑣
Considere 𝐷
= 15.
b) Qual é a fracção da perda de carga total que é
necessária para compensar o atrito na tubagem?

P 8.3 Pretende-se transferir petróleo bruto (ρ=870 kg/m3; μ=40 mPas) desde um tanque de armazenagem até
à refinaria, através de uma conduta de aço comercial com 25 cm de diâmetro interno, com um caudal de 0,13 m3/s.A
tubagem tem 8000 m de comprimento, 20 cotovelos padrão a 90° e 10 válvulas de guilhotina ¾ abertas. A saída (jacto
livre) está 45 m acima do nível da superfície do tanque de entrada e a pressão à saída é de 25 psig (1 psi= 6895 Pa).
Admita que a rugosidade é desprezável.
a) Qual a altura manométrica a fornecer pelo sistema de bombeamento?
b) Qual a potência necessária para actuar as bombas no sistema, se a eficiência de bombeamento for de 70%?

P 8.4 Dois tanques com níveis diferentes encontram-se ligados por um


tubo, de acordo com o esquema anexo. A tubagem é lisa (diâmetro de 2,5”)
e tem 10 m de comprimento e oito cotovelos (não visíveis no esquema). A
pressão (relativa) é 98 kPa no tanque inferior e o tanque superior encontra-
se aberto para a atmosfera. Qual a direcção do escoamento de água a 20 °C
e qual o caudal que devemos esperar? Admita que a válvula é do tipo globo
e está aberta.

P 8.5 Uma bomba cuja pressão absoluta de saída é de 175 kPa bombeia um líquido com uma viscosidade de 8
mPas e com uma massa específica de 880 kg m-3 através de um tubo liso e horizontal com 1,9 cm de diâmetro interno.
Calcule o comprimento do tubo para que o caudal seja de 720 L/h.

P 8.6 Pretende-se bombear uma mistura de hidrocarbonetos a partir de um tanque de alimentação, até uma
coluna de destilação. O tanque encontra-se à pressão atmosférica e o nível do líquido no tanque é de 3 m acima do
nível do solo. O prato de entrada na coluna encontra-se 10 m acima do nível do solo e a descarga é feita sob a forma
de um jacto livre, sob uma pressão de 1,5 atm abs. A tubagem consiste em 30 m de tubo de aço (ε= 0,045 mm, D= 4
cm) com 8 cotovelos padrão a 90°, duas válvulas de globo totalmente abertas e uma bomba centrífuga com ∆𝑝𝑏 =

158
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

500 kPa. Para estas condições, qual o caudal mássico esperado? Densidade relativa da mistura: 0,89; 𝜇 = 1,5 ×
10−3 Pa · s.

P 8.7 O fornecimento de água a um prédio é feito a partir de um reservatório, através de uma conduta de 15
cm de diâmetro, sendo a distância percorrida de cerca de 800 m.
a) Se o desnível total for de 30 m, qual o caudal de água, sabendo que a rugosidade da conduta é de 0,001?
Considere que existem poucos cotovelos no circuito.
b) Se se pretender regular o caudal para metade do máximo usando uma válvula, para que fracção da abertura
máxima deverá estar regulada?

𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑎 𝑣𝑎𝑙𝑣𝑢𝑙𝑎 5


= sendo F : fracção de abertura.
𝐷 (𝑑𝑖𝑎𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑢𝑏𝑜) 𝐹5

159
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

160
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 9. MEDIDORES DE CAUDAL E DE


VELOCIDADE

Vamos estudar os medidores de caudal baseados na equação de Bernoulli. Estes dispositivos


baseiam-se na correlação entre as variações de velocidade e de pressão, ou seja, provocam uma
variação de velocidade e medem a variação de pressão, determinando a partir daí o caudal. São
genericamente chamados ”medidores de caudal de pressão diferencial”. Podem ser classificados
em duas categorias, medidores de área fixa ou medidores de área variável. Nos medidores de área
fixa a geometria é fixa e a pressão é variável, ao passo que nos de área variável a geometria
depende do caudal.

 Medidores de área fixa

– Medidor de orifício
– Medidor Venturi
– Medidor de embocadura
 Medidores de área variável: Rotâmetro

9.1 O medidor de orifício

O medidor de orifício requer um estrangulamento introduzido na tubagem, mediante a colocação


de uma placa com um orifício concêntrico com o tubo. O efeito da parede traduz-se numa variação
de direção do escoamento, mas também num aumento da velocidade, seguido de uma diminuição
gradual até se atingir a velocidade a montante do orifício. Ora a pressão varia de forma oposta,
ou seja, é mínima onde a velocidade é máxima. – Figura 9.1. Após a queda brusca da pressão, e
à medida que velocidade vai diminuindo, a pressão recupera parcialmente (∆𝑝𝑟 ), não atingindo o
valor de partida; há portanto uma perda permanente de pressão, identificada como ∆𝑝𝑃 .

A medição da pressão é feita a montante do orifício e num ponto imediatamente a jusante do


mesmo, designado vena contracta. Este é o ponto onde a velocidade é máxima e está localizado

161
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

não no orifício, mas ligeiramente a jusante, já que a defleção das linhas de corrente não é
totalmente abrupta - Figura 9.2.

Figura 9.1 Escoamento através de um orifício e consequente variação da pressão.

Figura 9.2 Escoamento através de um orifício e localização da vena contracta.

Vejamos os fundamentos físicos para este medidor. Admitamos que a velocidade é uniforme na
secção e que o escoamento é incompressível. Na Figura 9.3 vemos o esquema do medidor, com
a envolvente das linhas de corrente e um manómetro diferencial.
Seja 𝑣0 a velocidade no orifício e 𝐴0 a área do orifício. O balanço à massa entre a secção a
montante e o orifício diz-nos que

162
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝐴0
𝑣1 = 𝑣0
𝐴1 Eq. (9.1)

Admitindo que 𝑣2 = 𝑣0 , fica:


𝐴0
𝑣1 = 𝑣2
𝐴1 Eq. (9.2)

Figura 9.3 Esquema do escoamento através de um orifício.

Estabeleçamos agora o balanço à energia entre as secções 1 e 2 (vena contracta). Desprezando a


variação de energia potencial (altura constante), a equação simplifica-se:
𝑣12 𝑝1 𝑣22 𝑝2
+ = + + 𝐸𝑓
2 𝜌 2 𝜌
Em que 𝐸𝑓 representa a perda permanente de energia associada à passagem no medidor, i.e., o
trabalho realizado para vencer o obstáculo, por unidade de massa do fluido.
Fazendo 𝑣2 = 𝑣0 e substituindo a equação do balanço de massa, fica:
2
𝑣02 𝐴0 𝑝1 − 𝑝2
[1 − ( ) ] = − 𝐸𝑓
2 𝐴1 𝜌

𝑝1 − 𝑝2
2( − 𝐸𝑓 )
𝜌
𝑣0 = √
𝐴 2 Eq. (9.3)
1 − (𝐴0 )
1

163
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

A parcela 𝐸𝑓 traduz uma energia por unidade de massa e é difícil de tabelar e de utilizar. Em
geral é substituída por um coeficiente adimensional chamado “coeficiente de descarga”, 𝐶𝐷 , que
é adimensional e normalizado (varia entre zero e 1) e corresponde à razão entre a velocidade de
escoamento efetiva e a velocidade ideal, i.e., sem perdas. Acresce que frequentemente a expressão
vem escrita em função dos diâmetros do tubo (𝐷1 ) e do orifício (𝐷0 ):

𝑝1 − 𝑝2
2( )
𝜌
𝑣0 = 𝐶𝐷 √
𝐷 4 Eq. (9.4)
1 − (𝐷0 )
1

O caudal volumétrico é então dado por

𝑝 −𝑝
2 ( 1 𝜌 2)
𝑄 = 𝐶𝐷 𝐴0 √
𝐷 4 Eq. (9.5)
1 − (𝐷0 )
1

ou, em termos do caudal mássico:

2𝜌(𝑝1 − 𝑝2 )
𝑚̇ = 𝐶𝐷 𝐴0
√ 𝐷 4
1 − (𝐷0 ) Eq. (9.6)
1

Esta é a equação de trabalho do medidor, ou seja, a equação que dá a grandeza que se pretende
determinar (neste caso o caudal) a partir da grandeza medida (neste caso a diferença de pressão
através do orifício). A diferença de registada pelo manómetro é portanto proporcional ao quadrado
do caudal. Se a perda irreversível de energia (perda permanente de pressão) for zero, então 𝐶𝐷 =
1,0 e à medida que 𝐸𝑓 aumenta, 𝐶𝐷 decresce (naturalmente, se a perda de energia fosse total,
𝐶𝐷 seria nulo e não haveria escoamento). O coeficiente de descarga depende da geometria do
orifício e também do número de Reynolds 6. Contudo, para escoamento muito turbulento,
𝐶𝐷 passa a depender apenas da geometria. De entre as diversas geometrias, a menor perda de
carga observa-se para orifícios em forma de embocadura – Figura 9.4.

𝑣0 𝜌𝐷0
6
Define-se o número de Reynolds para o orifício como Re0 = 𝜇

164
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 9.4 Coeficientes de descarga para diversas geometrias de orifício (para Re0 > 10000).

9.2 O tubo de Venturi

O medidor de Venturi, ou tubo de Venturi, baseia-se na mesma equação de trabalho, mas tem
algumas diferenças importantes.
As perdas de carga no estrangulamento estão associadas à formação de vórtices, ou seja, de zonas
de estagnação. Se a geometria do tubo for de forma a eliminar essas zonas estagnantes, então a
perda de carga é muito diminuída. Ou seja, a geometria do tubo deve acompanhar a envolvente
das linhas de corrente, tendo portanto uma inclinação suave em vez de estreitamento e expansão
brusca - Figura 9.5. A equação é a mesma que foi apresentada para o medidor de orifício - Eq.
(9.4).
Um estrangulamento é composto de duas partes e a perda de carga é maior na expansão, pelo que
a inclinação é menor nesse troço, de acordo com a figura. Na prática, o troço convergente e o
divergente têm inclinações de 21º e de 5-15º, respetivamente. Outra característica importante é o
acabamento interior, com superfície polida de modo a minimizar a perda permanente de pressão.
Desta forma conseguem-se coeficientes de descarga de 0,98 a 0,99, ou seja, quase total
recuperação da pressão.

165
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 9.5 Medidor de Venturi, com indicação da diferença de pressão.

Exemplo 9.1
Um medidor de Venturi está ligado a uma tubagem (10,0 cm de diâmetro) dentro da qual escoa água. O
estrangulamento tem 7,0 cm de diâmetro e o líquido manométrico é mercúrio (ρ = 13,6 g/cm3). Se o desnível dos
meniscos for de 5,0 cm, qual será o caudal volumétrico debitado? Baseie-se na equação da energia e admita 𝐶𝐷 =
0,98.

Resolução:
Aplicando a equação de conservação da energia entre os pontos
1 e 2, situados no eixo do tubo, nos pontos de medida da pressão,
a montante do estrangulamento e no estrangulamento,
respetivamente, vem:

𝑣22 −𝑣12 𝑝1 −𝑝2


= − 𝐸𝑓
2 𝜌
Sendo
𝑧1 = 𝑧2 e 𝐸𝑓 = 𝑔ℎ𝑓

𝐷 2
Pela equação da continuidade, 𝑣1 = 𝑣2 (𝐷2 )
1

Substituindo na equação de conservação da energia:


𝑝 −𝑝
2 ( 1 𝜌 2)
𝑣2 = 𝐶𝐷 √
𝐷 4
1 − (𝐷2)
1

Pela hidrostática: 𝑝1 − 𝑝2 = (𝜌M − 𝜌)𝑔(ℎ1 − ℎ2 ) em que 𝜌M é a densidade do fluido manométrico.

𝜌𝑀 − 𝜌
2( ) 𝑔(ℎ1 − ℎ2 )
𝜌
𝑣2 = 𝐶𝐷 √
𝐷 4
1 − (𝐷2)
1

Substituindo valores:

166
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

13600 − 1000
2( 1000
) × 9,81 × 0,050
𝑣2 = 0,98 × √ = 3,95 m s−1
7,0 4
1−( )
10,0

𝐷2 2 7,0 2
𝑣1 = 𝑣2 × ( ) = 3,95 × ( ) = 1,94 m s−1 ; Re = 1,9 × 104
𝐷1 10,0

0,0502
𝑄 = 1,94 × 𝜋 × = 1,52 × 10−2 m3 s−1 = 15 L s−1
4

𝑄 = 15 L s−1

9.3 O Medidor de embocadura

O medidor de embocadura (em inglês, nozzle meter) é comparável a um medidor de orifício, mas
apresenta a secção convergente em forma de embocadura.
Mais uma vez, a equação de trabalho não se altera. O escoamento é quase isento de atrito (perdas)
no troço convergente – Figura 9.6. O coeficiente de descarga depende da geometria da
embocadura, do seu comprimento e da razão 𝐷0⁄𝐷1. Os valores típicos estão na gama 𝐶𝐷 = 0,70 −
0,98.

Figura 9.6 Esquema do medidor de embocadura.

Descarga através de um orifício

Um caso particular de aplicação da equação do medidor de orifício é o da descarga de um tanque


através de um orifício. Consideremos então um tanque com um líquido e um orifício (devido a
corrosão ou impacto) situado a uma altura H abaixo do nível do líquido.

167
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Seja 𝐷0 o diâmetro do orifício e os pontos 1 e 2 situados respetivamente no interior do tanque e


na vena contracta (no exterior, portanto). O ponto “0” fica situado no orifício - Figura 9.7.

Figura 9.7 Descarga de um tanque através de um orifício.

Aplica-se aqui a equação que vimos atrás para o medidor de orifício, mas neste caso a área
disponível no orifício é muito inferior à do tanque, i.e. 𝐴0 ≪ 𝐴1 , ou 𝐷0 ≪ 𝐷1 . Por outro lado, o
ponto 2 está no exterior, pelo que 𝑝2 = 𝑝atm . Assim, fica:

2 (𝑝1 − 𝑝𝑎𝑡𝑚 )
𝑣0 = 𝐶𝐷 √
𝜌 Eq. (9.7)

Se o tanque estiver aberto para a atmosfera, então 𝑝1 − 𝑝atm = 𝜌𝑔𝐻 e a velocidade de descarga
será:
𝑣0 = 𝐶𝐷 √2𝑔𝐻
Eq. (9.8)

Exemplo 9.2
Um tanque cilíndrico com diâmetro de 2,0 m contém combustível até à altura de 2,0 m e efetua a sua
descarga através de um orifício lateral (diâmetro = 2,5 cm). Determine o tempo decorrido até que o nível
de combustível baixe para 0,5 m, sabendo que a pressão relativa no topo do tanque é de 30 kPa. Admita
que o coeficiente de descarga é de 0,63.
Propriedades do combustível: 𝜌 = 750 kg m−3 , 𝜇 = 0,5 mPa ∙ s

Resolução:

Aplicamos a equação de conservação da energia entre a superfície do fluido, ponto 1 (pressão rel. 30 kPa) e o ponto 2,
à saída do orifício (pressão atmosférica). Sabemos que 𝑣1 = 0 e 𝑣2 = 𝑣0 (velocidade no orifício). A diferença de nível
é 𝑧1 − 𝑧2 = ℎ .
Introduzindo o coeficiente de descarga CD, para corrigir a velocidade face à perda de energia mecânica devido ao atrito,
fica:

2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑣0 = 𝐶𝐷 √ + 2𝑔ℎ
𝜌

168
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Esta é a expressão da velocidade em estado pseudo-estacionário. À medida que o tanque descarrega, a altura do líquido
diminui, pelo que a velocidade na descarga também decresce com o tempo. Assim, fazemos um balanço ao volume
(fluido incompressível):
𝑑𝑉
−〈𝑣0〉𝐴0 =
𝑑𝑡
sendo

𝑑𝑉 𝑑ℎ
= 𝐴1
𝑑𝑡 𝑑𝑡
Fica portanto:
𝑑ℎ
−〈𝑣0 〉 𝐴0 = 𝐴1
𝑑𝑡

Esta é uma equação de variação da altura. Para conhecermos a lei de distribuição, ℎ(𝑡), precisamos de resolver a
equação diferencial. Trata-se de uma equação diferencial do tipo separável; substituindo a velocidade de descarga e
integrando, fica:
ℎ𝑖
𝐷1 2 1 2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑡=( ) [√ + 2𝑔ℎ]
𝐷0 𝑔𝐶𝐷 𝜌
ℎ𝑓

Substituindo valores:
2,0
2 2 1 2 × 30 × 103
𝑡=( ) [√ + 2 × 9,81 × ℎ]
0,025 9,81 × 0,63 750
0,5

𝑡 = 1,49 × 103 s = 25 min

Observação: no presente cálculo, o valor mais baixo de Re corresponde ao valor final, em que a altura atinge o valor
mínimo (0,5 m); para esta altura, 𝑣0 = 5,97 m s−1

𝜌𝑣0 𝐷0 750 × 5,97 × 0,025


Re = = = 2,2 × 105
𝜇 0,5 × 10−3

Verifica-se então o escoamento turbulento e a constância do coeficiente de descarga.

Exemplo 9.3
Um tanque com diâmetro de 2,0 m tem uma camada de gasolina
sobrenadante. Se surgir um orifício de 1,0 cm 2 no fundo do tanque, qual
será o caudal de descarga inicial, admitindo que no início existiam 2,0 m
de altura de água e 1,3 m de altura de gasolina? Ao fim de quanto tempo
começará a gasolina a sair pelo orifício?
Dados: CD = 0,63; densidade relativa da gasolina = 0,688.

Resolução:

169
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Coloquemos o ponto 1 na interface entre os dois líquidos e o ponto “o” na descarga, i.e., na vena contracta. Será
então 𝑣1 = 0 e a pressão nesse ponto é constante e igual à pressão hidrostática da gasolina, ainda que a pressão no
fundo do tanque seja variável. A equação de conservação da energia entre os pontos 1 e 2 fica na forma:

𝑣02 𝑝1 − 𝑝2
= + 𝑧1 − 𝑧2 − ℎ𝑓
2𝑔 𝜌2 𝑔

Introduzindo o coeficiente de descarga 𝐶𝐷 para contabilizar as perdas:

2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑣0 = 𝐶𝐷 √ + 2𝑔ℎ2
𝜌2

𝑝2 ≡ 𝑝𝑎𝑡𝑚

𝑝1 − 𝑝𝑎𝑡𝑚 = 𝜌1 𝑔ℎ1

𝑝1 − 𝑝2 = 688 × 9,81 × 1,3 = 8774 Pa

Substituindo valores:
2 × 8774
𝑣0 = 0,63 × √ + 2 × 9,81 × 2 = 4,75 m s−1
1000

(note-se que este valor se aplica apenas ao instante inicial)

𝑄 = 𝑣0 𝐴0 = 4,75 × 10−4 m3 s−1

𝑄 = 0,48 L s−1

À medida que o tanque descarrega, a altura ℎ2 diminui, pelo que a velocidade na descarga também decresce
com o tempo. Assim, temos de fazer um balanço à massa, considerando apenas o fluido que está a descarregar, ou
seja, a água.

𝑑ℎ
−〈𝑣0 〉𝐴0 = 𝐴1
𝑑𝑡

2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑣0 = 𝐶𝐷 √ + 2𝑔ℎ2
𝜌2

ℎ𝑖
𝐷1 2 1 2 (𝑝1 − 𝑝2 )
𝑡= ( ) [√ + 2𝑔ℎ]
𝐷0 𝑔𝐶𝐷 𝜌
ℎ𝑓
Substituindo valores:
2,0
𝜋 1 2 × 8774
𝑡 = −4 × [√ + 2 × 9,81 × ℎ2 ] = 3,83 × 104 s
10 9,81 × 0,63 1000
0

𝑡 = 10h 38 min

170
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Observação: O coeficiente de descarga é constante para Re  30000, pelo que devemos averiguar a validade da
utilização de CD = 0,63 na expressão da velocidade de descarga no orifício.

3000 × 0,001
Re = 30000 ⟹ 𝑣0 = = 2,66 m s−1
1000 × 0,01128

2 × 8774
𝑣0 = 𝐶𝐷 √ + 2𝑔ℎ
𝜌

𝑣 2 2 (𝑝1 − 𝑝2 ) 2,66 2 17548


(𝐶0 ) − 𝜌 (0,63) − 1000
𝐷
ℎ= = = 0,013 m
2𝑔 2 × 9,81

Então, o número de Reynolds é sempre muito elevado e só vai abaixo de Re = 30000 no final da descarga,
quando se atinge 1,3 cm de altura de água. Este periodo tem pouco peso no cálculo, pelo que é razoável o uso do
valor constante para CD na descarga de água desde 2,0 m de altura até zero.

9.4 O Rotâmetro

Descrevemos três medidores de caudal que tinham em comum o facto de apresentarem geometria
fixa e diferença de pressão variável. Ou seja, a um estrangulamento cuja geometria não se altera
vai corresponder uma diferença de pressão que é proporcional ao quadrado do caudal volumétrico.
O rotâmetro, pelo contrário, trabalha com uma diferença de pressão fixa e uma geometria variável.
Este efeito é conseguido através de um tubo vertical que alarga ligeiramente no sentido ascendente
e dentro do qual é colocado um flutuador. O fluido sobe dentro do tubo e empurra o flutuador até
uma posição de equilíbrio - Figura 9.8.

171
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 9.8 Esquema do rotâmetro.

O estrangulamento consiste na zona em torno do flutuador (secção “2”) e como o diâmetro do


tubo não é constante, resulta que quanto mais acima estiver o flutuador, maior será a área livre no
estrangulamento. Consideremos então um rotâmetro com o fluido a subir e o flutuador em posição
de equilíbrio. Se fizermos um balanço às forças para o flutuador, teremos:

𝐹𝑔𝑟𝑎𝑣í𝑡𝑖𝑐𝑎 + 𝐹𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑖𝑚𝑎 − 𝐹𝑖𝑚𝑝𝑢𝑙𝑠ã𝑜 − 𝐹𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝑏𝑎𝑖𝑥𝑜 = 0


Eq. (9.9)

Vamos admitir que a força de pressão na parte superior e na parte inferior do objeto é uniforme e
dada pela pressão multiplicada pela área projetada do objeto (que vamos tomar como uma esfera).
Seja 𝜌𝐵 a densidade do flutuador, 𝜌𝑓 a densidade do fluido e 𝐷0 o diâmetro do flutuador.

𝜋 3 𝜋 𝜋 𝜋
𝐷0 𝜌𝐵 𝑔 + 𝑝3 𝐷02 − 𝐷03 𝜌𝑓 𝑔 − 𝑝1 𝐷02 = 0
6 4 6 4
𝜋 3 𝜋
𝐷0 (𝜌𝐵 − 𝜌𝑓 )𝑔 = 𝐷02 (𝑝1 − 𝑝3 )
6 4 Eq. (9.10)

Da equação de Bernoulli e tendo em conta que a diferença de energia potencial é desprezável:


2
(𝑣22 − 𝑣12 ) 𝑣22 𝐴2
𝑝1 − 𝑝2 = 𝜌𝑓 = 𝜌𝑓 [1 − ( ) ]
2 2 𝐴1 Eq. (9.11)

𝐴 2
Em geral (𝐴2 ) ≪ 1 e por isso o último termo pode ser desprezado. Por outro lado, o escoamento
1

entre 2 e 3 é do tipo “alargamento brusco” e por isso a pressão é quase constante, i.e., 𝑝3 ≅ 𝑝2.
Combinando o balanço às forças com a equação de Bernoulli, fica:

172
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

1⁄2
4 𝐷0 𝑔 𝜌𝐵 − 𝜌𝑓
𝑣2 = ( ∙ )
3 𝜌𝑓
Eq. (9.12)

Concluímos então que, para uma determinado conjunto esfera-tubo, e sabendo as densidades da
esfera e do fluido, há uma única velocidade que mantém a esfera em suspensão. Daqui resulta que
a altura da esfera vai ter um valor fixo para cada caudal. A altura da esfera vai ser diretamente
proporcional ao caudal volumétrico.
Na prática há alguns ajustes a fazer e por isso os rotâmetros são em geral calibrados para cada
fluido. Os rotâmetros têm muita aplicação prática, quer para líquidos quer para gases. Como
exemplo, no meio hospitalar a medição dos caudais de ar e de oxigénio é feita recorrendo a
rotâmetros.

9.5 O Tubo de Pitot

O Tubo de Pitot é um medidor de velocidades locais. Na sua forma mais simples, consiste num
tubo vertical em que a extremidade superior se encontra fora do líquido em movimento e a inferior
está aberta contra o escoamento (Figura 9.9).
Com o líquido parado, o menisco estará à mesma altura da superfície do líquido. Quando o líquido
está em movimento, o menisco subirá tanto mais quanto maior for a velocidade do escoamento.
O ponto 2 é um ponto de estagnação, ou seja, nesse ponto a velocidade é nula e a pressão aumenta,
em resultado da conversão da carga de velocidade em carga de pressão. A pressão medida nesse
ponto, 𝑝2, é chamada “pressão de estagnação”; 𝑝1 é a pressão estática.

Figura 9.9 Tubo de Pitot

173
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑝2 𝑝1 𝑣12
= +
𝜌𝑔 𝜌𝑔 2𝑔

𝑝2 = 𝑝𝑇 = 𝑝𝑎𝑡𝑚 + 𝜌𝑔(ℎ + ℎ′ )
𝑝1 = 𝑝𝑠 = 𝑝𝑎𝑡𝑚 + 𝜌𝑔ℎ′

𝑣1 = √2𝑔ℎ

𝑣12
ℎ =
2𝑔 Eq. (9.13)

Ou seja, a altura do menisco acima da superfície do líquido é igual à carga de velocidade. Aqui
admite-se que não há perda de carga provocada pelo tubo; na realidade há uma ligeira perda,
tipicamente inferior a 1%, que é desprezada. O tubo de Pitot é usado para medir a velocidade de
embarcações em relação à água, por exemplo.

Tubo de Pitot estático:

O tubo de Pitot estático é usado para medir a velocidade dentro de condutas, ou a velocidade do
vento, mas também a velocidade de aeronaves relativamente ao ar. Neste caso os dois ramos são
ligados a um manómetro diferencial, dentro do qual há um líquido manométrico – Figura 9.10.
A equação de trabalho contempla um coeficiente de perda (coeficiente do tubo de Pitot, 𝐶𝑃 ), que
é equivalente ao coeficiente de descarga nos medidores de caudal, fica:

2(𝑝𝑇 − 𝑝𝑠 )
𝑣 = 𝐶𝑃 √
𝜌 Eq. (9.14)

Na maioria dos casos considera-se que a perda de carga provocada pelo tubo de Pitot é
desprezável, pelo que 𝐶𝑃 = 1,0.

Figura 9.10 Tubo de Pitot estático, num tubo (esq) e numa aeronave (dta).

174
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Henri Pitot
(França, 1695 –1771)
Foi um engenheiro francês especializado em hidráulica. Utilizou o Rio Sena
para testar várias das suas teorias e instrumentos, tendo realizado várias
experiências com vista a determinar a velocidade de escoamento da água em
diferentes partes da secção transversal do rio.
Inventou um instrumento para medir a velocidade dos fluidos e que é conhecido
hoje pelo seu nome, o tubo de Pitot; este instrumento é ainda empregue em
diversas aplicações, nomeadamente na aeronáutica.
Publicou vários trabalhos sobre estruturas, hidráulica, matemática e
saneamento e desenvolveu investigações científicas sobre as bombas e o
rendimento das máquinas hidráulicas, que constituíram importantes
contribuições para a hidrodinâmica e a termodinâmica.

Exemplo 9.4

Um tubo de Pitot é usado no interior do um tubo que transporta


hexano. Para uma velocidade local de 2,0 m s-1, qual o correspondente
desnível ℎ no manómetro?

Nota: densidade do líquido manométrico obtida a partir das tabelas no


Anexo III.

Resolução:

𝑝1 𝑣2 𝑝 𝑝
Equação de Bernoulli, com 𝑣2 = 0 e 𝑧1 = 𝑧2 : + 2𝑔1 = 𝜌𝑔2 = 𝜌𝑔𝑇
𝜌𝑔
Como 𝑣1 = 𝑣, pois o tubo tem secção constante (admitimos que o atrito é
desprezável):

2(𝑝𝑇 − 𝑝1 )
𝑣=√
𝜌
Pela hidrostática: 𝑝2 − 𝑝1 = (𝜌M − 𝜌)𝑔ℎ
2(𝜌M − 𝜌)𝑔ℎ 𝑣2𝜌
𝑣=√ ⇔ ℎ=
𝜌 2(𝜌M − 𝜌)𝑔

Substituindo valores:
2,02 × 660
ℎ=
2 × (1000 − 660) × 9,81

ℎ = 39,6 cm

175
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 9.5
Ar circula numa conduta com 5,0 cm de diâmetro, com caudal
desconhecido. No centro da conduta, instalou-se um tubo de Pitot (ver
figura), sendo o desnível ℎ no manómetro de 4,5 cm. Qual a velocidade
local do ar?

Resolução:

Tal como no exemplo anterior, tem-se:


2(𝑝𝑇 − 𝑝1 ) 2(𝜌M − 𝜌)𝑔ℎ
𝑣=√ =√
𝜌 𝜌

pois 𝑝2 − 𝑝3 = 𝑝2 − 𝑝1 = (𝜌M −
3
.
𝜌)𝑔ℎ . .
.
1 2
3
e 𝑝2 = 𝑝𝑇

Substituindo valores:

2 × (800 − 1,2) × 9,81 × 0,045


𝑣=√
1,2
= 24,2 m s−1

Exemplo 9.6

A velocidade de água passando num canal aberto é medida usando um tubo de Pitot simples.
a) Como variará a leitura h se a pressão exterior relativa aumentar para o dobro?
b) Como variará a leitura h se a velocidade aumentar para o dobro?
c) Como variaria a leitura se a medida fosse repetida num planeta com metade da força gravítica?
d) Qual a velocidade que corresponde a uma altura h = 40,0 cm?

176
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Resolução:
a)
Tal como anteriormente, tem-se:
𝑝1 𝑣12 𝑝2 𝑝𝑇
+ = =
𝜌 2 𝜌 𝜌
2(𝑝𝑇 − 𝑝1 )
𝑣=√
𝜌

Pela hidrostática:
𝑝1 = 𝑝atm + 𝜌𝑔ℎ2
𝑝𝑇 = 𝑝atm + 𝜌𝑔(ℎ1 + ℎ2 )
𝑝𝑇 − 𝑝1 = 𝜌𝑔ℎ1
𝑣2
𝑣 = √2𝑔ℎ1 ⇔ ℎ1 =
2𝑔

A leitura ℎ1 só depende da velocidade e da aceleração da gravidade, logo não varia com a pressão exterior,
que na dedução se assumiu ser a pressão atmosférica.

b)
𝑣2
Como ℎ1 = 2𝑔
se a velocidade duplicar, ℎ1 quadruplica, pois 22 = 4.

𝑣2
c) Como ℎ1 =
2𝑔
se g diminuir para metade, ℎ irá duplicar, pois 1÷ 0,5 = 2 .

d) 𝑣 = √2𝑔ℎ1 = √2 × 9,81 × 0,40 = 2,8 m s−1

177
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS
P 9.1 Um medidor de caudal com um orifício de 8 cm, está montado num tubo com 10 cm de diâmetro interno
por onde circula água e regista uma diferença de nível de 10 cm no manómetro de mercúrio.
Determine o caudal mássico de água, admitindo que o coeficiente de descarga do orifício vale 0,63.

P 9.2 Um reservatório cilíndrico com uma altura de 3 m e com 0,5 m2 de área de base está inicialmente cheio
de água. Num dado instante abre-se na base do tanque um orifício circular com 5 cm2 de área. Admita 𝐶𝐷 = 0,63.
Determine:
a) A expressão que correlaciona o tempo com a altura do nível do líquido.
b) O tempo necessário para o tanque esvaziar por completo.

P 9.3 Um tubo de Pitot é usado para medir o perfil de velocidade no interior de um tubo que transporta ar.
Determine o valor da velocidade local sabendo que a diferença da altura entre meniscos do manómetro de água é de
10 cm.

P 9.4 Água circula através de uma conduta com a forma apresentada na figura, passando por uma contração de
diâmetro de 15 cm para 10 cm. O caudal é 0,028 m3/s.
a) Calcule a diferença de nível no manómetro diferencial de mercúrio, admitindo que não há perdas de carga
por atrito.
b) Qual dos ramos do manómetro apresenta o menisco a maior altura?
c) Qual o erro resultante de desprezar a densidade da água na leitura no manómetro?

178
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 10. ESCOAMENTO TURBULENTO

Contrariamente ao escoamento laminar, para o qual é possível estabelecer equações baseadas em


princípios de conservação, o escoamento turbulento é de caracterização difícil. O escoamento
turbulento distingue-se facilmente pelas seguintes características:

 Trajetória aleatória das partículas


Contrariamente ao escoamento laminar, em que as partículas têm trajetórias bem
definidas em estado estacionário, a trajetória de cada partícula é aleatória. As velocidades
locais são em geral tratadas como médias temporais, em particular para cálculos em
Engenharia.

 Mistura: a mistura de diferentes componentes requer turbulência, pois em escoamento


laminar as velocidades são paralelas e por isso a mistura é mínima.

 Vorticidade: quando pretendemos misturar diferentes componentes de um líquido,


induzimos habitualmente movimentos circulares com o objetivo de promover a mistura
e homogeneização. No entanto, mesmo noutras situações, em que não há aparentemente
forças que promovam movimento circular, como é o caso de um barco ou um avião e
movimento, geram-se correntes circulares pela própria natureza da turbulência. Se o
fluido for muito viscoso estes vórtices dissipam-se rapidamente; no entanto, para fluidos
de baixa viscosidade ou com alta velocidade (com alto número de Reynolds) eles
persistem durante algum tempo.

O estudo do escoamento turbulento tem como finalidade tornar o conhecimento deste tipo de
escoamento mais profundo e mais próximo do grau de conhecimento do escoamento laminar.
Note-se que para os processos de transferência de calor e de massa, como em dimensionamento
de equipamentos e no estudo de operações unitárias, recorre-se em geral à dinâmica de fluidos a
fim de entender o transporte convectivo, pelo que um melhor conhecimento da turbulência
reveste-se de grande importância a nível tecnológico.

179
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

10.1 Definições da velocidade

No caso do escoamento turbulento, a velocidade em cada ponto varia com o tempo, com
flutuações rápidas que são características da turbulência – Figura 10.1. A velocidade instantânea
pode ser descrita como a soma de duas parcelas, a velocidade média temporal, e a flutuação, 𝑣′ :
𝑣𝑥 = 𝑣̅𝑥 + 𝑣′𝑥 Eq. (10.1)
A média temporal corresponde à média da velocidade calculada para um intervalo de tempo t1,
suficientemente grande para eliminar as flutuações características da turbulência (algumas delas
com uma frequência tão alta que não são detetadas pelos sistemas de medida), mas
suficientemente pequeno para não mascarar a evolução efetiva do sistema:
1 𝑡+𝑡1
𝑣̅𝑥 = ∫ 𝑣𝑥 𝑑𝑡
𝑡1 𝑡 Eq. (10.2)

A flutuação é portanto o desvio relativamente à média e, por definição, a sua média será nula:

𝑡+𝑡1
̅𝑥 = 1 ∫
𝑣′ 𝑣′𝑥 𝑑𝑡 = 0
𝑡1 𝑡 Eq. (10.3)

Figura 10.1 – Flutuações da velocidade e definições da velocidade.

Define-se intensidade da turbulência segundo a direção 𝑥:


𝐼𝑥 = √𝑣𝑥2

e a intensidade relativa segundo 𝑥:


√𝑣𝑥2
𝑇𝑥 = Eq. (10.4)
𝑉

em que 𝑉 representa o módulo da velocidade. A intensidade relativa total da turbulência

180
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

corresponde à resultante nas três direções do espaço:


1⁄ 1⁄
1 𝑣𝑥2 𝑣𝑦2 𝑣𝑧2 2
1 2
𝑇 = [ ( 2 + 2 + 2 )] = [ (𝑇𝑥2 + 𝑇𝑦2 + 𝑇𝑧2 )] Eq. (10.5)
3 𝑉 𝑉 𝑉 3

Para uma mesma velocidade de escoamento é possível ter diferentes intensidades da turbulência.
Quanto maior essa intensidade, maior a energia cinética do fluido. Ou seja, para uma mesma
velocidade de escoamento, em regime turbulento a energia cinética do fluido é maior do que em
regime laminar e, para além disso, é tanto maior quanto mais turbulento for o escoamento. A
turbulência pode ser totalmente isotrópica, i.e., pode ter a mesma intensidade em todas as
direções, ou pode ter maior intensidade em alguma direção.
A flutuação da velocidade contribui para o transporte de quantidade de movimento mas não
contribui para o escoamento. Tomemos o caso de uma conduta circular com escoamento axial.
As flutuações da velocidade segundo θ e segundo r contribuem para o transporte (convectivo) de
quantidade de movimento, segundo um mecanismo que é específico da turbulência e que atua em
paralelo com o mecanismo molecular. Na direção do escoamento, que é a única segundo a qual
haverá em condições normais uma média temporal não-nula, é essa média temporal que se
considera quando se fala da velocidade num ponto. Ou seja, a velocidade num ponto ao longo da
direção z será 𝑣̅𝑧 . Se integrarmos esta velocidade para a secção transversal da conduta teremos o
caudal volumétrico:
2𝜋 𝑅
𝑄 =∫ ∫ 𝑣̅𝑧 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃
0 0
Eq. (10.6)

Por sua vez, a velocidade média na secção é definida como a média geométrica das velocidades
locais, ou seja, a média espacial da média temporal. Existe portanto uma relação simples entre a
velocidade média e o caudal volumétrico:

2𝜋 𝑅
∫0 ∫0 𝑣̅𝑧 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 𝑄
〈𝑣̅𝑧 〉 = 2𝜋 𝑅 =
∫0 ∫0 𝑟 𝑑𝑟 𝑑𝜃 𝜋𝑅2 Eq. (10.7)

Ao longo do texto, e na literatura em geral, simplifica-se habitualmente a notação e a linguagem,


fazendo-se referência à velocidade média temporal simplesmente com “velocidade” e suprime-se
o traço horizontal que identifica a média. Note-se contudo que, em escoamento turbulento, sempre
que se fala da velocidade local estamos a referir-nos à média temporal.

181
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Estas flutuações locais da velocidade geram tensões locais, que causam uma boa eficiência no
transporte de quantidade de movimento. Essas tensões (designadas por tensor de Reynolds)
também flutuam obrigatoriamente com o tempo, tal como as velocidades que as originam. Esse
acréscimo de tensão existirá também nas várias direções, e a sua média temporal em cada ponto
(𝑡)
será dada por 𝜏̅𝑟𝑧 .

Como podemos então descrever estes dois mecanismos de transporte de quantidade de


movimento, o transporte molecular e o transporte turbulento?
A descrição do transporte de quantidade de movimento em escoamento turbulento pode ser feita
de uma forma simplificada usando um formalismo análogo à lei de Newton da viscosidade, mas
usando em vez da viscosidade um coeficiente de proporcionalidade designado por pseudo-
viscosidade turbulenta, 𝜇 (𝑡):
(𝑡) 𝜕𝑣̅𝑟
𝜏̅𝑟𝑧 = −𝜇 (𝑡)
𝜕𝑧 Eq. (10.8)
Nesta equação a velocidade entra como média temporal, e o próprio fluxo de quantidade de
movimento é também uma média temporal.
Em cada ponto, o transporte de quantidade de movimento (e as forças tangenciais resultantes do
gradiente de velocidades) é então descrito pela soma da componente turbulenta e da componente
viscosa, dada pela lei de Newton da viscosidade:
(𝑙) 𝜕𝑣̅𝑟
𝜏̅𝑟𝑧 = −𝜇 (𝑙)
𝜕𝑧 Eq. (10.9)

em que 𝜇 (𝑙) é a viscosidade, ou seja, a propriedade relativa ao transporte de quantidade de


movimento em escoamento laminar.

Ou seja, em cada ponto o fluxo de quantidade de movimento é descrito como uma soma:

(𝑡) (𝑙) 𝜕𝑣̅𝑟


𝜏̅𝑟𝑧 = 𝜏̅𝑟𝑧 + 𝜏̅𝑟𝑧 = −[𝜇 (𝑡) + 𝜇 (𝑙) ]
𝜕𝑧 Eq. (10.10)

Apesar da semelhança no formalismo, 𝜇 (𝑙) e 𝜇 (𝑡) têm significados físicos distintos. A viscosidade

𝜇 (𝑙) é uma propriedade do fluido, que por isso é constante através do campo de velocidades num
escoamento isotérmico, ao passo que 𝜇 (𝑡) é um parâmetro inspirado na Teoria Cinética dos Gases
e que toma um valor crescente à medida que aumenta a distância à parede.

182
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

10.2 Escoamento Turbulento vs. Escoamento Laminar

No escoamento laminar dentro de condutas, vimos que:

 Existe proporcionalidade direta entre caudal e perda de pressão por atrito, tal como
descrito pela equação de Hagen-Poiseuille:

(−∆𝑝)𝑓 ∝ 𝑄
Eq. (10.11)

 A velocidade média é metade da velocidade máxima:


〈𝑣 〉 1
=
𝑣max 2 Eq. (10.12)

 A velocidade local é dada por:

𝑟 2
𝑣 = 𝑣max [1 − ( ) ]
𝑅 Eq. (10.13)

Em escoamento turbulento dentro de condutas, para Re entre 104 e 105, em escoamento dentro
de condutas, usam-se vulgarmente as seguintes equações semi-empíricas:

 a perda de pressão devida ao atrito é aproximadamente proporcional ao caudal


volumétrico levantado à potência 7/4:

(−∆𝑝)𝑓 ∝ 𝑄7⁄4
Eq. (10.14)

 A velocidade média na secção é cerca de 4/5 da velocidade no eixo


〈𝑣̅ 〉 4
=
𝑣̅max 5 Eq. (10.15)

 Costuma admitir-se a lei da potência 1/7 para a distribuição de velocidades:

𝑟 1/7
𝑣̅ = 𝑣̅max (1 − ) Eq. (10.16)
𝑅

Esta distribuição de velocidades é semi-empírica e é válida apenas na gama referida para o número
de Reynolds. O perfil correspondente é bastante achatado, ao contrário do regime laminar – Figura
10.2.

Na zona central da conduta circula portanto o fluido mais rápido, ao passo que junto às paredes
escoa o fluido “lento”.

183
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

0,8

0,6
v/vmax
0,4

0,2

0
-1 -0,5 0 0,5 1
r/R

Figura 10.2 Distribuição de velocidades em escoamento laminar (a cheio) e em escoamento turbulento (a


tracejado, calculado da equação 10.7)

10.3 A camada-limite

Quando um fluido escoa em contacto com uma superfície estacionária, como é o caso do leito de
um rio, de uma parede em contacto com o vento ou da parede interna de uma conduta, a camada
de fluido em contacto com a superfície sofre uma força de corte, 𝐹0 = 𝜏0 𝐴, que faz com que o
fluido pare na interface. Esta alteração da velocidade do fluido (provocada portanto pela ausência
de escorregamento na parede) vai provocar um gradiente de velocidades desde a parede até um
máximo na corrente principal. Esta camada é em geral bastante fina, mas por vezes pode ser
observada a olho nu: por exemplo, junto à parte lateral de um barco é fácil observar uma porção
de água que se desloca a uma velocidade muito menor do que a corrente principal, relativamente
ao barco.

Este aumento da velocidade a partir da superfície através de uma camada pouco espessa
traduz-se em variações bruscas da velocidade, ou seja, um gradiente de velocidade elevado e
portanto uma força de corte importante.

184
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Este fenómeno foi explicado por um engenheiro alemão, Ludwig Prandtl (Heidelberg, 1904),
que propôs que o escoamento exterior a objetos podia ser descrito como duas regiões, sendo uma
região próxima da superfície, onde a tensão de corte é importante, e o restante campo de
velocidades, onde as variações de velocidade são pouco importantes e por isso o fluido pode ser
tratado como invíscido. À região próxima da superfície, onde se concentra a maioria da variação
da velocidade, chama-se camada limite.
Este modelo veio estabelecer a ponte entre a hidrodinâmica clássica, em que os fluidos eram
tratados como invíscidos, e o comportamento observado em fluidos reais.

Vejamos então o que acontece quando um fluido com velocidade uniforme entra em contacto com
uma superfície paralela ao vetor velocidade. Em virtude da ausência de escorregamento na parede,
a primeira camada de fluido que entra em contacto com a superfície pára instantaneamente devido
à força exercida pela parede; por outro lado, essa camada está em contacto com o restante fluido,
que exerce uma força no sentido do escoamento. Daqui resulta uma tensão de corte elevada e
também a formação de um gradiente de velocidade na direção normal à superfície, que se traduz
num perfil de velocidades de acordo com a Figura 10.3.

Figura 10.3. Desenvolvimento da camada-limite.

Este perfil de velocidades não surge bruscamente, antes se desenvolve de uma forma gradual
desde o ponto em que o fluido entra em contacto com a superfície – por exemplo, desde o ponto
de entrada numa conduta.
A camada limite é então definida como a região do campo de velocidades na qual a velocidade
é afetada pela proximidade de uma superfície. Para efeitos de cálculo, considera-se que a
espessura da camada limite, δ, é a distância da parede ao ponto em que
𝑣 = 0,99 𝑣∞

185
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

em que 𝑣∞ representa a velocidade da corrente. A camada limite cresce em espessura a partir do


ponto de início de contacto – por exemplo, desde o início da placa - até atingir um máximo. A
partir daí o perfil de velocidades mantém-se constante. Diz-se que nessa situação o escoamento
está desenvolvido.

Uma boa forma de observar este fenómeno é recorrendo a uma placa plana mergulhada num fluido
em escoamento na direção paralela à placa. Na frente da placa gera-se então uma camada limite,
cuja espessura aumenta gradualmente desde zero, à medida que sucessivas camadas de fluido vão
sendo retardadas pelas camadas adjacentes, com velocidade mais baixa. É claro que isto se traduz
na propagação de uma força através de uma porção de fluido. O fluido mais distante da superfície
vai arrastando para a frente o fluido mais lento, que por sua vez contra-exerce uma força
retardadora.

Dado que a velocidade é sempre zero na interface e tem o valor da corrente (𝑣∞ ) à distância, então
o gradiente de velocidades vai diminuindo à medida que a camada se torna mais espessa – Figura
10.4. Ou seja, a força de corte também vai diminuindo. Numa primeira fase, quando o gradiente
de velocidades é grande, o escoamento dentro da camada limite é laminar. No entanto, quando a
tensão de corte desce, atinge um ponto em que já não é suficiente para manter fluido em camadas,
e então o fluido começa a rodar, gerando-se turbulência. Este movimento de rotação resulta de
uma deslocação de fluido proveniente da região que se move mais rapidamente para zonas mais
próximas da parede, onde a velocidade é mais baixa, transferindo assim quantidade de
movimento.

Figura 10.4 Variação do grad (v) com a espessura da camada limite.

Em contrapartida, o fluido mais lento desloca-se para a zona mais rápida, diminuindo assim
a velocidade nessa zona. Desta mistura de porções de fluido resulta um menor gradiente de

186
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

velocidades e também um aumento da quantidade de movimento dentro da camada limite,


gerando-se uma camada limite turbulenta –Figura 10.5.

Figura 10.5. Camada-limite turbulenta. [Lee, Kwon, Hutchins, J.P. Monty,


https://www.youtube.com/watch?v=e1TbkLIDWys ]

Nos pontos muito próximos da superfície conserva-se no entanto uma variação intensa da
velocidade, onde as forças viscosas mantêm o fluido em escoamento laminar. Esta região designa-
se subcamada viscosa (ou laminar). Esta subcamada existe dentro da região turbulenta, localiza-
se junto à parede e tem espessura muito pequena, tipicamente inferior a 1 mm. Entre a subcamada
laminar e o núcleo turbulento existe uma região-tampão – Figura 10.6.

Figura 10.6 Estrutura da camada-limite.

187
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

A descrição desta camada faz uso de uma definição do número de Reynolds para a camada limite,
dado por:
𝑣∞ 𝜌𝑥
Re𝑥 =
𝜇 Eq. (10.17)
em que 𝑣∞ é a velocidade livre e x a distância medida desde a frente de ataque à superfície.
Em cada ponto, a espessura da camada limite, δ, pode ser estimada por:

Camada 4,91𝑥
limite 𝛿≈
√𝑅𝑒𝑥 Eq. (10.18)
laminar:

Camada
0,382𝑥
limite 𝛿≈ ⁄5
turbulenta: 𝑅𝑒𝑥 1 Eq. (10.19)

O ponto da transição de camada-limite laminar para turbulenta depende de vários parâmetros,


tais como as propriedades do fluido, as características da parede e a velocidade do escoamento.
Em geral considera-se que esta transição ocorre para valores de número de Reynolds na gama:

Re𝑥 ∶ 2 × 105 − 3 × 106

10.4 Desenvolvimento de um perfil de velocidades


Quando um fluido entra numa tubagem, forma-se no troço inicial uma camada-limite com
escoamento laminar. À medida que a camada cresce, vai-se aproximando no centro do tubo. No
ponto onde a camada formada em todo o perímetro do tubo converge no centro, diz-se que o
escoamento está completamente desenvolvido, ou seja, a camada-limite não pode mais crescer e
portanto o perfil de velocidades não pode mais variar. Dependendo da velocidade da corrente, das
propriedades do fluido e das dimensões do tubo, assim este ponto de convergência ocorre na zona
de camada-limite laminar ou turbulenta, de acordo com o esquema da Figura 10.7. Define-se
comprimento de entrada (𝐿𝑒 ) como o comprimento de tubo percorrido até que o escoamento
fique completamente desenvolvido; tal como se observa na figura, o comprimento de entrada é
maior no caso do escoamento laminar, o que não surpreende dado que a camada-limite cresce
mais lentamente em escoamento laminar:

Comprimento de entrada em escoamento laminar: 𝐿𝑒 = 120 × 𝐷

188
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Comprimento de entrada em escoamento turbulento: 𝐿𝑒 = 60 × 𝐷

Os efeitos da tensão de corte na parede, e portanto da camada limite, são cruciais para a perda de
carga de fluidos em escoamento dentro de tubos. Um dos fatores relevantes na perda de carga é a
rugosidade da parede, que afeta o fator de atrito em escoamento turbulento. Como já sabemos,
tubos rugosos têm maior fator de atrito e portanto maior perda de pressão, para idêntico número
de Reynolds. Por outro lado, em escoamento laminar não há influência da rugosidade sobre a
perda de carga (dada pela equação de Hagen-Poiseuille para líquidos Newtonianos). Este efeito
da rugosidade está relacionado com o valor relativo da rugosidade e da região laminar. Assim,
em regime turbulento, o tubo ser tratado como rugoso significa na prática que a rugosidade excede
a espessura da subcamada laminar.

A camada-limite é determinante em diversos aspetos, nomeadamente no que respeita à


transferência de calor e de massa através de uma interface. De facto, na camada de fluido em que
o escoamento é tangencial à superfície não há mistura de fluido e por isso o transporte de calor é
feito apenas por condução. É aí que está localizada toda a resistência ao transporte. Quanto mais
delgada for essa camada, menor será a resistência. Daí que em dias frios a sensação térmica seja
tanto mais intensa quanto maior a velocidade do vento. Maior velocidade do vento relativamente
ao nosso corpo resulta em menor espessura da camada limite e menor resistência ao transporte de
calor, pelo que iremos transferir mais calor para o meio exterior.

189
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 10.7 Desenvolvimento do perfil de velocidades dentro de uma conduta, em escoamento laminar
(a) ou escoamento turbulento (b).

10.5 O modelo da Distribuição Universal de Velocidades

A distribuição universal de velocidades consiste num modelo para o perfil de velocidades em


escoamento turbulento dentro de tubos. Em escoamento laminar temos uma relação matemática
derivada analiticamente do tipo 𝑣(𝑟) para a distribuição de velocidade de um fluido Newtoniano
dentro de condutas, mas para o escoamento turbulento não é possível estabelecer uma correlação
com o mesmo grau de simplicidade. Assim, para escoamento turbulento dentro de condutas é
frequentemente usado um modelo baseado em correlações semi-empíricas entre uma velocidade
adimensional e uma distância adimensional (neste caso não o raio mas a distância à parede).
Assim, a distância à parede, y, é dada por 𝑦 = 𝑅 − 𝑟.

190
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Define-se também uma velocidade característica, ou velocidade de atrito, 𝑣∗ . Este parâmetro


não é uma velocidade num ponto específico, mas tão-somente um parâmetro relacionado com o
escoamento e com dimensões de velocidade, e é dado por

𝜏𝑤
𝑣∗ = √
𝜌 Eq. (10.20)

Em que 𝜏𝑤 é a tensão de corte na parede (em valor absoluto).


A velocidade adimensional é dada pela razão entre a velocidade local e a velocidade de atrito:
𝑣
𝑣+ =
𝑣∗ Eq. (10.21)

A distância adimensional à parede é dada por:

𝑣∗ 𝜌𝑦
𝑦+ =
𝜇 Eq. (10.22)
Note-se que y+ corresponde na realidade a um número de Reynolds local.
Como exemplo, vamos então demonstrar a equação da distribuição de velocidades na subcamada
laminar, isto é, junto à parede. Nesta região predomina o transporte molecular de quantidade de
movimento, pelo que podemos desprezar o escoamento turbulento:
𝑑𝑣𝑧
𝜏𝑟𝑧 = 𝜏 (𝑙) + 𝜏 (𝑡) ≅ 𝜏 (𝑙) = −𝜇
𝑑𝑟 Eq. (10.23)

Por outro lado, 𝑟 = 𝑅 − 𝑦, pelo que 𝑑𝑟 = −𝑑𝑦:


𝑑𝑣𝑧
𝜏 = +𝜇
𝑑𝑦
O balanço de forças diferencial mostrou-nos que
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝑟
𝜏𝑟𝑧 = 𝑟 = 𝜏𝑤
2𝐿 𝑅

Portanto, a tensão de corte parietal é dada por:

𝑝0 − 𝑝𝐿
𝜏𝑤 = 𝑅
2𝐿

Igualando as expressões e integrando:


𝑑𝑣𝑧 𝑟 𝜏𝑤
+𝜇 = 𝜏𝑤 = (𝑅 − 𝑦)
𝑑𝑦 𝑅 𝑅

191
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑣 𝑦
1 𝑦
∫ 𝑑𝑣𝑧 = ∫ 𝜏𝑤 (1 − ) 𝑑𝑦
𝜇 𝑅
0 0

𝜏𝑤 𝑦2
𝑣𝑧 = (𝑦 − ) + 𝐶1
𝜇 2𝑅
Esta é a variação da velocidade com y, que vamos agora transformar para os parâmetros
adimensionais:
𝜏𝑤 𝑦
𝑣+ = 𝑦 (1 − ) + 𝐶1
𝜇𝑣∗ 𝐷
Para a condição de fronteira, temos que na parede 𝑣 + = 0, pelo que 𝐶1 = 0.
Por outro lado, considerando a subcamada viscosa, que fica numa região muito próxima da
𝑦
parede, 𝑦 tem um valor muito pequeno, pelo que ≪ 1 e resulta:
𝐷
𝜏𝑤 𝑦 𝜌 𝑣∗
𝑣+ = = 𝑦 = 𝑦+
𝜇𝑣∗ 𝜇
Concluímos que, na subcamada laminar, 𝑣 + = 𝑦 + , ou seja, a velocidade adimensional é
numericamente igual à distância à parede adimensional (ou seja, ao número de Reynolds local).

Para as outras regiões a dedução é comparável, sendo que no núcleo turbulento despreza-se a
componente do transporte molecular na Eq. (10.10). As correlações relativas às três regiões de
escoamento designam-se por Equações de Nikuradse:

Subcamada laminar 𝑦+ ≤ 5 ⟹ 𝑣+ = 𝑦+
Eq. (10.24)
Região tampão 5 < 𝑦 + < 30 ⟹ 𝑣 + = −3,05 + 5 ln 𝑦 + Eq. (10.25)
+ + +
Núcleo turbulento: 𝑦 > 30 ⟹ 𝑣 = 5,5 + 2,5 ln 𝑦 Eq. (10.26)

A separação entre as regiões é feita com base no valor do número de Reynolds local. Na
subcamada laminar predomina o transporte molecular de quantidade de movimento e no núcleo
turbulento predomina o transporte turbulento. Na região de transição ambos os mecanismos são
activos. Isto significa que temos transporte molecular misturado com alguns vórtices que tornam
mais efetivo o transporte. Assim, a menor espessura vai ser a da subcamada laminar, que é
também onde a variação da velocidade é mais pronunciada.

192
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 10.8 Regiões de fluxo para um escoamento turbulento.

Exemplo 10.1

Num tubo liso, com diâmetro de 10,0 cm, circula água em escoamento turbulento, com uma perda de carga de
16 Pa m-1.
a) Determine a espessura da subcamada laminar, recorrendo ao modelo de Nikuradse para a distribuição de
velocidades.
b) Qual a velocidade no eixo do tubo e a 1,0 mm da parede?

Resolução:
a)
𝑦 + = 5 quando 𝑦 atinge no limite da subcamada laminar. Para
Na subcamada laminar, 𝑣 + = 𝑦 + . Então
+
determinar o grupo adimensional 𝑦 (Reynolds local), é necessário calcular a velocidade característica 𝑣∗ (velocidade
de atrito), a qual é função da tensão de corte na parede.

A tensão de corte na parede pode ser obtida a partir do balanço macroscópico às forças. Não há variação da
quantidade de movimento na direcção do escoamento, visto estar-se em estado estacionário e a secção ser uniforme.
𝑝0 −𝑝𝐿 𝐷 𝐹
Tensão de corte na parede: 𝜏𝑤 = 𝐿 4
, pois 𝜏𝑤 = 𝜋𝐷𝐿
𝜏

Substituindo valores:
𝑝0 − 𝑝𝐿 𝐷 0,10
𝜏𝑤 = = 16 × = 0,40 Pa
𝐿 4 4
𝜏𝑤 0,40
𝑣∗ = √ = √ = 0,020 m 𝑠 −1
𝜌 1000
𝑣∗ 𝜌𝑦 5 × 0,001
𝑦+ = =5⇒𝑦= = 2,5 × 10−4 m
𝜇 0,020 × 1000
𝑦 = 2,5 mm

b)

193
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

No eixo do tubo, 𝑦 = 𝑅 (𝑦 é a distância à parede, i.e., 𝑦 = 𝑅 − 𝑟)


𝑣∗ 𝜌𝑦 𝑣∗ 𝜌𝑅 0,020 × 1000 × 0,050
𝑦+ = ⇒ 𝑦+ = = = 1000 (núcleo turbulento)
𝜇 𝜇 0,001
𝑣 + = 5,5 + 2,5 ln y+ = 5,5 + 2,5 ln(1000) = 22,8

𝑣̅
Como 𝑣 + = , a velocidade média temporal no eixo do tubo é 𝑣̅ = 22,8 × 0,020 = 0,46 m s−1
𝑣∗
0,020 × 1000 × 0,001
𝑦 = 1 mm ⇒ 𝑦 + = = 20 (região tampão)
0,001
𝑣 + = −3,05 + 5 𝑙𝑛 𝑦+ = −3,05 + 5 𝑙𝑛(20) = 11,9

𝑣̅
Como 𝑣 + = 𝑣 , a velocidade média temporal para 𝑦 = 1 mm é 𝑣̅ = 11,9 × 0,020 = 0,24 m s−1

Exemplo 10.2

Água circula num tubo liso com um diâmetro de 10,0 cm, em estado estacionário. A tensão de corte na parede
é 0,40 Pa.
Determine a razão 𝜇 (𝑡) /𝜇 para 𝑦 = 𝑅/2. Comente o resultado.
Repita o exercício considerando um ponto situado a 0,5 mm da parede.

Resolução:

O parâmetro que se pretende calcular é importante do ponto de vista mecanístico e do modelo. Ou seja, quanto
mais nos afastarmos da parede, mais importante será a pseudo-viscosidade turbulenta, pelo que predomina o
𝜇(𝑡)
transporte turbulento de quantidade de movimento e consequentemente a razão deverá ser elevada. Na
𝜇
subcamada laminar, por outro lado, será de esperar um valor muito baixo para esta razão, dado que predomina o
mecanismo viscoso da quantidade de movimento.
Para a resolução, é necessário manipular a seguinte expressão de modo a poder usar-se os dados do enunciado
e a Distribuição Universal de Velocidades:

𝑑𝑣𝑧
𝜏 = −(𝜇 (𝑡) + 𝜇)
𝑑𝑟

em que 𝜇 (𝑡) é a pseudo-viscosidade turbulenta.

𝑝0−𝑝𝐿 𝑅
Como 𝜏𝑤 =
𝐿 2
e 𝑦 = 𝑅 − 𝑟, em que 𝜏𝑤 é a tensão de corte na parede e y a distância à parede, vem:

𝑟 𝑦
𝜏 = 𝜏𝑤 = 𝜏𝑤 (1 − )
𝑅 𝑅

𝑅−𝑦
𝜏 𝜇( 𝑡 ) 𝑑𝑣𝑧 𝜇( 𝑡 ) 𝜏𝑤
= −( + 1) ⇒ = − 𝑑𝑣𝑅 − 1
𝜇 𝜇 𝑑𝑟 𝜇 𝜇 𝑧
𝑑𝑟

194
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝑦+𝜇 𝜇
Como 𝑑𝑟 = −𝑑𝑦 e 𝑦 = ⇒ 𝑑𝑟 = − 𝑑𝑦 +
𝑣∗ 𝜌 𝑣∗ 𝜌
𝑑𝑣𝑧 2
= −𝑣∗𝜇𝑑𝑣𝑑𝑦+ = − 𝜌𝑣𝜇∗ 𝑑𝑣
𝑣 + +
Como 𝑣 + = ⇒ 𝑑𝑣 = 𝑣∗ 𝑑𝑣 + ⇒
𝑣∗ 𝑑𝑟 𝑑𝑦 +
𝑣∗ 𝜌
𝜏𝑤 𝑑𝑣𝑧 𝜏𝑤 𝑑𝑣 +
Como 𝑣∗2 = 𝜌
⇒ 𝑑𝑟
=− 𝜇 𝑑𝑦 +

𝑅−𝑦
𝜇 (𝑡) 𝜏𝑤
Substituindo em =− 𝑑𝑣𝑧
𝑅
− 1, vem:
𝜇 𝜇
𝑑𝑟

𝑅−𝑦 𝑦
𝜇 (𝑡) 𝜏𝑤
𝑅
1−
𝑅
=− −1 = −1
𝜇 𝑑𝑣+ 𝑑𝑣+
−𝜏𝑤 𝑑𝑦+ 𝑑𝑦+

A expressão que vamos usar é esta para as duas alíneas, com a diferença de que a distribuição de 𝑣 + vai
depender da localização do ponto.

a)
𝑅
É necessário calcular 𝑦 + para 𝑦 = 2 = 0,025 m:

𝜏𝑤 = 0,40 Pa ⇒ 𝑣∗ = 0,020 m s−1

𝑣∗ 𝜌𝑅 0,020 × 1000 × 0,025


𝑦+ = = = 500
2𝜇 0,001
𝑑𝑣 + 2,5
𝑦 + = 500 ⇒ núcleo turbulento ⇒ 𝑣 + = 5,5 + 2,5 ln 𝑦 + ⇒ =
𝑑𝑦 + 𝑦 +
𝑦 1
𝜇 (𝑡) 1 − 𝑅 1−
2 500
= = −1= − 1 = 99
𝜇 𝑑𝑣+ 2,5 5
𝑑𝑦+ 𝑦+
𝜇 (𝑡)
Comentário: Visto estar-se no núcleo turbulento, o quociente é elevado, ou seja o efeito da
𝜇
pseudoviscosidade turbulenta predomina.

b)
𝑦 = 0,5 mm:

𝑣∗ 𝜌𝑦 0,020 × 1000 × 5 × 10−4 𝑑𝑣 + 5


𝑦+ = = = 10 ⇒ região tampão ⇒ 𝑣 + = −3,05 + 5 ln 𝑦 + ⇒ + = +
𝜇 0,001 𝑑𝑦 𝑦

𝑦 5 × 10−4
𝜇 (𝑡) 1 − 𝑅 1−
0,050
= = −1
𝜇 𝑑𝑣+ 5
𝑑𝑦+ 10

𝜇 (𝑡)
= 0,98
𝜇

Porque estamos muito próximos da parede, predomina o transporte viscoso de quantidade de movimento. Isto
significa que na proximidade deste ponto é válida a lei de Newton da viscosidade.

195
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS
P 10.1 Faz-se escoar água a 20 °C através de um tubo liso, rectilíneo e horizontal, de diâmetro 0,150 m, com um
gradiente de pressão ao longo do tubo de 4,3 N m-3.
a) Calcule a tensão de corte na parede.
b) Calcule a espessura da subcamada laminar.
c) Considerando o escoamento turbulento, calcule as distâncias radiais y, contadas a partir da parede, para as
𝑣̅𝑧
quais = 0; 0,1; 0,2 ; 0,4 e 1,0.
𝑣̅𝑧,max

P 10.2 Num tubo liso com diâmetro de 8 cm circula ocorre um escoamento turbulento de um fluido (  = 900 kg
m-3; μ = 1,2 mPas) com perda de carga de 30 Pa por metro linear de tubo.
a) Determine a espessura da região tampão.
b) Estime a velocidade no eixo do tubo.
c) Estime o caudal volumétrico de fluido a partir da velocidade obtida em b).

Ludwig Prandtl
(Frisinga, 1875 — Gotinga, 1953)

Físico alemão e um dos pioneiros da aerodinâmica,


tendo desenvolvido a base matemática para os
princípios fundamentais da aerodinâmica
subsónica na década de 1920. Entre seus estudos
mais importantes estão a camada limite, os
aerofólios finos e a teoria da linha de sustentação.

196
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

CAPÍTULO 11. ESCOAMENTO EM TORNO DE OBJETOS

A situação em que o fluido em escoamento envolve um corpo, chocando contra ele e exercendo
uma força na superfície, é muito relevante em diversas áreas da Engenharia, como seja no
escoamento de ar exteriormente a aeronaves ou de água contra submarinos, mas também no
projeto de operações de sedimentação e no escoamento de líquidos de arrefecimento
transversalmente a tubos de permutadores de calor. Neste tipo de problemática importa em geral
conhecer a força exercida na superfície e relacioná-la com a velocidade de aproximação
(velocidade relativa fluido-superfície).

11.1 A Lei de Stokes

Consideremos uma esfera a cair com velocidade uniforme no seio de um líquido (Figura 11.1).
Para além do fluxo tangencial de quantidade de movimento que vimos anteriormente, dado por

𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑥
𝜏𝑥𝑧 = −𝜇 ( + ) Eq. (11.1)
𝜕𝑥 𝜕𝑧

Temos ainda uma componente normal, que resulta de o fluido, ao se aproximar da superfície,
diminuir a sua velocidade, i.e.:
𝜕𝑣𝑧
𝜏𝑧𝑧 = −2𝜇 Eq. (11.2)
𝜕𝑧

Figura 11.1 Esfera em queda no seio de um líquido e componentes (a) e (b) do fluxo de quantidade de
movimento

197
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Este fenómeno vai traduzir-se numa força normal à superfície. A integração do fluxo normal  zz
em coordenadas esféricas conduz a
4
𝐹𝑛 = 𝜋𝑅3 𝜌 𝑔 + 2𝜋𝑅𝜇𝑣∞ Eq. (11.3)
3
e as componentes tangenciais resultam em:

𝐹𝑡 = 4𝜋𝑅𝜇𝑣∞
A força total é então
4
𝐹 = 𝐹𝑛 + 𝐹𝑡 = 𝜋𝑅3 𝜌 𝑔 + 6𝜋𝑅𝜇𝑣∞
3

A primeira parcela corresponde à força de impulsão, pelo que a segunda só pode ser devida ao
movimento relativo entre o corpo e o fluido, a que chamaremos força de arrasto, FK .

A lei de Stokes pode então ser expressa por

𝐹𝑘 = 6𝜋𝑅𝜇𝑣∞ Eq. (11.4)

Esta lei só é válida para esferas em queda na situação em que as linhas de corrente acompanham
a superfície, i.e., em que não há turbulência. Esta é uma boa aproximação quando ReP < 0,1 e
pode ser designada por “escoamento aderente” ou escoamento viscoso (“creeping flow” em
inglês).
Note-se que são raras as geometrias em que é possível um tratamento teórico. Quando tal não é
possível, recorre-se a métodos alternativos, que veremos adiante.

A lei de Stokes permite determinar a velocidade uniforme de queda de uma esfera. Assim, o
⃗⃗⃗⃗𝐼 , o peso ⃗⃗⃗⃗
balanço de forças em velocidade uniforme entra com a impulsão 𝐹 𝐹𝑔 e a força de arrasto
⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑘 (Figura 11.2):
𝐹I + 𝐹𝑘 − 𝐹𝑔 = 0

𝜋 3 𝜋
𝐷 𝜌 𝑔 + 6𝜋𝑅𝜇𝑣∞ − 𝐷3 𝜌𝑝 𝑔 = 0
6 6

Resolvendo em ordem a 𝑣∞ e rearranjando:


𝑔𝐷2 (𝜌𝑝 − 𝜌)
𝑣∞ =
18𝜇 Eq. (11.5)

Esta correlação aplica-se em alguns modelos de viscosímetros (em que a viscosidade é calculada
a partir da velocidade de queda uma esfera no seio de um líquido viscoso) e também em operações
de sedimentação.

198
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 11.2. Balanço de forças a esfera em queda com velocidade uniforme.

11.2 O Coeficiente de Arrasto

Seja então 𝐹𝑠 a força a que um corpo em repouso está sujeito, e 𝐹𝑘 o acréscimo de força devido
ao movimento, i.e., a força de arrasto, e que engloba uma componente tangencial e uma
componente normal. Assim, será

𝐹⃗ = ⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑠 + ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹𝑘

O coeficiente de arrasto, 𝐶𝑤 , será dado por

𝐹𝑘
𝐶𝑤 =
𝐴𝑝 𝐾 Eq. (11.6)

Sendo 𝐴𝑝 a área projectada do corpo (no plano normal à velocidade) e 𝐾 uma energia cinética
característica por unidade de volume, dada por:
2
𝜌𝑣∞
𝐾= Eq. (11.7)
2

𝐶𝑤 é função do número de Reynolds e da geometria do objecto: 𝐶𝑤 (Re, 𝑔𝑒𝑜𝑚𝑒𝑡𝑟𝑖𝑎).


Na geometria, são contabilizados a forma do objeto e a sua orientação. Por exemplo, uma semi-
esfera tem um valor de 𝐶𝑤 dependente de o escoamento estar dirigido à face convexa ou à face
côncava (Figura 11.3).

Figura 11.3 Coeficiente de arrasto em função da orientação do objeto.

199
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Consideremos de novo o caso de uma esfera em queda com velocidade uniforme, i.e., em que
∑ 𝐹⃗ = 0. Um balanço de forças mostra que

4 4
𝐹𝑘 = 𝐹𝑔 − 𝐹𝐼 = 𝐹𝑘 = 𝜋𝑅3 𝜌𝑝 𝑔 − 𝜋𝑅3 𝜌 𝑔
3 3 Eq. (11.8)

Por outro lado, usando a definição de 𝐶𝑤 Eq. (11.6) e usando a área projetada de uma esfera, 𝐴𝑝 =
𝜋𝑅2
2
𝜌𝑣∞
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜋𝑅2 × Eq. (11.9)
2
Igualando as Eq. (11.8) e Eq. (11.9) e resolvendo em ordem a 𝐶𝑤 , obtém-se o coeficiente de
arrasto para esferas com velocidade uniforme, para qualquer valor do número de Reynolds

4 𝑔𝐷 𝜌𝑝 − 𝜌
𝐶𝑤 = 2 ( ) Eq. (11.10)
3 𝑣∞ 𝜌

NÚMERO DE REYNOLDS

Para escoamento em torno de objetos imersos, o número de Reynolds é definido como:

𝑣∞ 𝜌𝐿 𝑣∞ 𝐿
Rep = = Eq.
𝜇 𝜐 (11.11)

sendo 𝐿 um comprimento característico, dependente da geometria do corpo; no caso de objetos


com geometria cilíndrica ou esférica, o comprimento característico é o diâmetro. O parâmetro 𝑣∞
é a velocidade de aproximação, definida como a velocidade relativa do fluido no referencial do
corpo, não perturbada pela presença deste. Assim, se o corpo estiver em repouso, será a velocidade
do fluido à distância. Por outro lado, se tivermos por exemplo uma esfera em queda livre no seio
de um fluido, 𝑣∞ será a velocidade uniforme de queda da esfera.
Recordemos que os corpos caem com movimento uniformemente acelerado no vácuo, mas não
nos fluidos. De facto, um corpo abandonado sob a ação da gravidade está sujeito ao seu peso e à
impulsão, que são constantes, e ainda a uma força externa, correspondente ao atrito, e que
aumentará com a velocidade. Um corpo abandonado vai portanto aumentar a sua velocidade até
que a soma das três forças atrás referidas se anule. A partir daí a velocidade de queda é uniforme.
Nessas circunstâncias, para um observador colocado no objeto, o fluido aproximar-se-á a essa
mesma velocidade, também designada de velocidade terminal (Figura 11.4).

200
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

(a) (b)

Figura 11.4. Velocidade de aproximação para (a) corpo em repouso; (b) corpo em queda.

Relação entre 𝑪𝒘 e Re

Consideremos ainda o caso da esfera, e tomemos Rep < 0,1. Nestas circunstâncias, a lei de Stokes
pode ser substituída na definição da Eq. (11.6):

6𝜋𝑅𝜇𝑣∞ 24𝜇
𝐶𝑤 = =
𝜌𝑣 2 2
𝐷 𝜌𝑣∞
(𝜋𝑅2 ) ( ∞ )
2

24
𝐶𝑤 = Eq. (11.12)
Rep

Para outras situações, o coeficiente de arrasto pode ser determinado a partir do diagrama da
Figura 11.5, para as geometrias mais comuns: esferas, cilindros e discos.

201
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

10000

1000

100
Cw

Esferas
Discos
10
Cilindros

0,1
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000 10000 100000 1000000

Rep

Figura 11.5. Diagrama de coeficiente de arrasto para geometrias comuns.

Exemplo 11.1

Uma chaminé com 1,5 m de diâmetro e 40,0 m de altura está sujeita a ventos horizontais com velocidade de 80
km h-1. Qual a força horizontal a que a chaminé está sujeita?

Resolução:
A força de arrasto é proporcional a uma energia cinética característica e à área do objecto projectada num plano
perpendicular ao movimento (𝐴𝑝 ):
1 2
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜌𝑣∞ 𝐴𝑝
2

A força horizontal a que a chaminé está sujeita será Fk e neste caso Ap será a área de um rectângulo D  h, em
que D é o diâmetro e h a altura.
𝐴𝑝 = 1,5 × 40 = 60 m2
𝑣∞ = 80 km h−1 = 22,2 m s−1

O comprimento característico para calcular o número de Reynolds é o diâmetro do cilindro:


𝜌𝑣∞𝐷 1,2×22,2×1,5
Rep = = = 2,2 × 106 𝐶𝑤 ~ 0,38 (leitura no gráfico)
𝜇 1,82×10−5

Substituindo valores:
1 2 1
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜌𝑣∞ 𝐴𝑝 = 0,38 × × 1,2 × 22,22 × 60 = 6,8 × 103 N
2 2
𝐹𝑘 = 6,8 kN

202
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 11.2

Um veículo motorizado desloca-se a 100 km h-1 e apresenta um coeficiente de arrasto de 0,3. Se a área frontal
for de 1,8 m2, qual será a potência despendida pelo motor para vencer a resistência do ar? Se a velocidade aumentar
20%, como variará a potência?

Resolução:
A potência obtém-se multiplicando a força pela velocidade; assim, para determinar a potência do motor do
veículo para vencer a resistência do ar é necessário calcular a força:
1 2 1
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜌𝑣∞ 𝐴𝑝 = 0,3 × × 1,2 × 27,82 × 1,8 = 250 N
2 2

𝑃𝑜 = 𝐹𝑘 𝑣∞ = 250 × 27,8 = 6,95 × 103 W


𝑃𝑜 = 6,95 kW

Se a velocidade aumentar 20%, a nova potência será:


1
𝑃𝑜 = 𝐶𝑤 𝜌(1,2𝑣∞ )2 𝐴𝑝 (1,2𝑣∞ )
2

Então, a razão entre as duas potências (após e antes do aumento de 𝑣∞ ) é 1,232 = 1,73, ou seja, a potência
aumenta 73%.

11.3 Regimes de Escoamento

Já sabemos que, para Re𝑝 < 0,1, as linhas de corrente acompanham totalmente a superfície da
esfera. Nesta situação, a força na superfície deve-se apenas ao atrito tangencial, à semelhança do
atrito em condutas. À medida que Re𝑝 aumenta, o padrão de escoamento altera-se, havendo
formação de vórtices por detrás do objeto, que conduz a uma diminuição da pressão na região
posterior. Ao mesmo tempo, aumenta a pressão de impacto na superfície frontal. Daqui resulta
uma força normal, designada em geral por “atrito de forma”. A partir de um certo valor de número
de Reynolds (103 - 105) o escoamento passa a ser muito turbulento e o coeficiente de arrasto torna-
se aproximadamente constante. Esta região é designada por região de Newton. No caso de
esferas, 𝐶𝑤 ~ 0,44. Para Re𝑝 > 2 × 105 , Cw é também aproximadamente constante.
A Tabela 11.1 apresenta os comprimentos característicos L e os valores do coeficiente de arrasto
para algumas geometrias comuns.

203
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Figura 11.6. Escoamento em torno de um cilindro [Milton Van Dyke, An Album of Fluid Motion,
Parabolic Press, 12th edition, 1982.]

Vimos acima como se pode estimar a força de arrasto, conhecendo a velocidade relativa e a
dimensão de um objeto. Um outro problema com bastante aplicação prática (como é o caso de
operações de separação), é a determinação do tempo de queda, e portanto da velocidade terminal,
de uma esfera. Neste caso é possível recorrer a dois métodos alternativos, o método iterativo ou
o método gráfico.
Sem conhecer a velocidade, não é possível calcular o número de Reynolds. Para obviar a esta
dificuldade, iremos construir um grupo adimensional, no qual se elimina a variável desconhecida.
Esse grupo, em geral designado de grupo de atrito, dado por:
4 𝑔𝐷3 𝜌
𝑋 = 𝐶𝑤 Rep 2 = (𝜌𝑝 − 𝜌)
3 𝜇2 Eq. (11.13)

Dado que o diagrama de 𝐶𝑤 é do tipo logarítmico, esta equação corresponderá a uma reta de
declive -2:
log 𝐶𝑤 = log 𝑋 − 2 log Rep

O ponto de intersecção da reta com a curva do coeficiente de arrasto dá a solução do problema


(Figura 11.7 a)).
Esta abordagem, recorrendo a um grupo de atrito, permite também estimar o diâmetro de uma
esfera, conhecendo a sua velocidade terminal. Neste caso usa-se um grupo de atrito que não
depende de D:
𝐶𝑤 4 𝑔𝜈 𝜌𝑝 − 𝜌
= 3 ( )
Rep 3 𝑣∞ 𝜌 Eq. (11.14)

O conhecimento de 𝐶𝑤 ⁄Rep permite representar uma reta sobre o diagrama de 𝐶𝑤 , cuja


intersecção com a curva original do diagrama permite localizar o nosso sistema. Assim,
𝐶𝑤
chamemos 𝑌 = . Naturalmente, será
Rep

204
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝐶𝑤 = 𝑌 Rep ⟺ log 𝐶𝑤 = log 𝑌 + log Rep


Eq. (11.15)

Dado que o diagrama de 𝐶𝑤 é do tipo logarítmico, esta equação corresponderá a uma reta de
declive +1 - Figura 11.7(b).

log Cw
log Cw

log Rep log Rep

(a) (b)
Figura 11.7. Método gráfico para determinação da velocidade terminal de uma esfera (a) e do diâmetro
(b).

Exemplo 11.3

Uma esfera de aço oca, com um diâmetro de 5,0 mm e uma massa de 0,050 g, é lançada numa coluna de líquido
e atinge uma velocidade terminal de 0,50 cm s-1. A densidade do líquido é de 900 kg m-3. A esfera está suficientemente
afastada das paredes para o efeito destas poder ser desprezado.
Calcule a viscosidade do líquido, admitindo que se trata de um regime de Stokes..

Resolução:
Esta é uma aplicação da equação de Stokes à determinação da viscosidade de um líquido. Só é portanto válida
para escoamento viscoso.
Densidade aparente da esfera:

𝑚 0,050×6
𝜌𝑝 = = = 0,764 g cm−3 = 764 kg m−3
𝑉 𝜋×0,503

Como a densidade da esfera é inferior à do líquido, a esfera irá subir. Por definição, como vimos atrás, a força
1 2
de arrasto é proporcional a uma energia cinética característica poor unidade de volume (
2
𝜌𝑣∞ ) e à área do objecto
projectada num plano perpendicular ao movimento (neste caso é a área de um círculo):

1 2 𝜋𝐷2
𝐹𝑘 = 𝐶𝑤 𝜌𝑣∞ = 𝐹𝐼 − 𝐹𝑔
2 4

𝜋𝐷3 𝜋𝐷3 𝜋𝐷3


𝐹𝐼 − 𝐹𝑔 = 𝜌 𝑔 − 𝜌𝑝 𝑔 = (𝜌 − 𝜌𝑝 ) 𝑔
6 6 6

8𝐹𝑘
𝐶𝑤 = 2 𝜋𝐷2
𝜌𝑣∞

205
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

8 × 8,74 × 10−5 N
𝐶𝑤 = = 395
900 × 0,00502 × 𝜋 × 0,00502 kg m−3 m2 s−2 m2

24
Pelo diagrama 𝐶𝑤 vs. Rep ⇒ Rep ~ 0,06 (< 0,1)  regime viscoso, 𝐶𝑤 = Re ⇒ Rep = 0,0608
p

(ou equação de Stokes: 𝐹𝑘 = 3𝜋𝜇𝐷𝑣∞)

𝜌𝑣∞ 𝐷 900 × 0,0050 × 0,0050


𝜇= = = 0,370 Pa∙s
Re𝑝 0,0608

Como a densidade da esfera é inferior à do líquido (= 900 kg m-3), em estado estacionário, a esfera irá subir.

Tabela 11.1 - Valores de Cw para algumas geometrias de referência.


Geometria Direção do escoamento Comprimento Re Cw
característico
Placa plana Tangencial
Laminar 1.33 Re-0.5
L
Re< 10 7 0.074 Re-0.3

L/D
1 1.18
3 5 1,2
D Re > 10 10 1,3
20 1,5
Perpendicular 30 1,6
∞ 1,95
Disco
Perpendicular
D Re >103 1,17

esfera
Re < 1 24/Re
D 103 < Re < 3 × 105 0,47
Re> 3 × 105 0,2

Semi-esfera aberta
0,34

D 104 < Re < 106


1,42

Semi-esfera
fechada 0,42
D 104 < Re < 106
1,17

L/D
1 0,63
5 0,8
Cilindro D 103 < Re < 105 10 0,83
20 0,93
30 1
∞ 1,2
Barra
quadrangular
D Re= 3,5 × 104
2

206
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Exemplo 11.4

Uma gota de água aproximadamente esférica e com diâmetro de 0,5 mm cai na atmosfera. A distância
percorrida é suficientemente grande para que a queda ocorra com velocidade uniforme. Qual será a velocidade da
gota, admitindo que o ar está parado e que não há variação das dimensões?

Resolução:

Em movimento uniforme, a resultante das forças é nula  não há variação da quantidade de movimento e a
gota atinge uma velocidade uniforme, de queda neste caso (velocidade máxima ou velocidade terminal).
Fazendo de novo o balanço de forças para a direcção vertical obtém-se:
𝜋𝐷3
𝐹𝑘 = 𝐹𝑔 − 𝐹𝐼 = (𝜌𝑝 − 𝜌) 𝑔
6

𝐹𝑘 4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝐷𝑔
𝐶𝑤 = =
1 2 𝐷2 3𝜌𝑣∞2
2 𝜌𝑣∞ 𝜋 4

Neste caso, como a incógnita é a velocidade terminal, define-se um grupo adimensional que não depende da
variável desconhecida, ou seja, 𝐶𝑤 × Re2 :

4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝐷𝑔 𝜌2 𝑣∞
2 2
𝐷 4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝜌𝐷3 𝑔
𝐶𝑤 × Rep2 = 2
× =
3𝜌𝑣∞ 𝜇2 3𝜇 2

Substituindo valores:

4 × (1000 − 1,2) × 1,2 × 0,00053 × 9,81 (kg m−3 )2 m3 m s−2


𝐶𝑤 × Rep2 = = 5,92 × 103
3 × (1,82 × 10−5 )2 (k m−1 s−1 )2
5,92 × 103
𝐶𝑤 =
Rep 2

Podemos então atribuir valores arbitrários a Re e calcular Cw pela expressão, de modo a marcar dois pontos que
permitam traçar a reta log 𝐶𝑤 = −2 log Rep + log(5,92 × 103 ).

Por exemplo,
5,92×103 5,92×103
Rep = 10 ⇒ 𝐶𝑤 = 102
= 59 ; Rep = 100 ⇒ 𝐶𝑤 = 104
= 0,59

Marcam-se então os pontos (10; ~60) e (100; ~0,6) no diagrama 𝐶𝑤 vs. Re𝑝 e unem-se por uma linha reta.

A intersecção da reta com a linha das esferas dá um valor de Re𝑝 ~ 65 − 70 (regime de transição); assume-se
por exemplo:
1,82 × 10−5 × 68
Rep = 68 ⇒ 𝑣∞ = = 2,1 m 𝑠 −1
1,2 × 0,0005

207
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

1000

Cw 100

10

0,1
0,01 0,1 1 10 100 1000 10000

Rep

NOTA: O problema também podia ser resolvido iterativamente, ou seja, dando uma aproximação inicial à
velocidade terminal, a qual permite calcular o Reynolds, ler 𝐶𝑤 no diagrama e recalcular a velocidade terminal pela
4(𝜌𝑝 −𝜌)𝐷𝑔
expressão 𝐶𝑤 = 2 até haver convergência.
3𝜌𝑣∞

Exemplo 11.5

Esferas de vidro de densidade 2620 kg m-3 são deixadas cair em clorofórmio. Que diâmetro deverão ter as
esferas para se atingir uma velocidade terminal de 0,59 m s-1?

Resolução:
Tal como no exemplo atrás, fazendo o balanço de forças para velocidade uniforme e usando a definição de
coeficiente de arrasto, vem:
4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝐷𝑔
𝐶𝑤 = 2
3𝜌𝑣∞
𝐶𝑤
Dado que a incógnita é o diâmetro, define-se um grupo adimensional que não inclui D, ou seja, :
Rep

𝐶𝑤 4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝐷𝑔 𝜇 4(𝜌𝑝 − 𝜌)𝜇𝑔


= 2
× = 3
Rep 3𝜌𝑣∞ 𝜌𝑣∞ 𝐷 3𝜌2 𝑣∞

Substituindo valores:
𝐶𝑤 4 × (2620 − 1490) × 6,67 × 10−4 × 9,81
= = 2,16 × 10−5
Rep 3 × 14902 × 0,593

208
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

⇒ 𝐶𝑤 = 2,16 × 10−5 Re𝑝

Damos então valores arbitrários a Re e calculamos 𝐶𝑤 , de modo a marcar pelo menos dois pontos que
permitam traçar a reta log 𝐶𝑤 = log Rep + log(2,16 × 10−5 ).

Tomemos então dois pontos aleatórios que usamos para representar a linha reta, cuja intersecção com a linha das esferas
dá o valor de Re no patamar da curva:
Rep = 105 ⇒ 𝐶𝑤 = 2,16 × 10−5 × 105 = 2,16 ; Rep = 104 ⇒ 𝐶𝑤 = 2,16 × 10−5 × 104 = 0,216

𝜇 6,67×10−4×2,0×104
Rep = 2,0 × 104 ⇒ 𝐷= Re𝑝 = = 0,015 m
𝜌𝑣∞ 1490×0,59

Esta região do diagrama, em que o coeficiente de arrasto é aproximadamente constante, designa-se “região de
0,44
Newton” 𝐶𝑤 = 0,44. Então, Rep = = 2,0 × 104 .
2,16×10−5

10000

1000

100
Cw

10

0,1
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Rep

Sir George Gabriel Stokes


(Inglaterra, 1819 - 1903)
Notável matemático e físico irlandês, que se distinguiu pelas
suas contribuições na dinâmica de fluidos (lei de Stokes e
equações de Navier-Stokes), para além da Óptica, Física e
Matemática (Teorema de Stokes).

209
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

PROBLEMAS
P 11.1 Uma esfera de vidro (s= 2700 kg/m3) cai livremente, na vertical, em glicerina (= 1260 kg/m3;
µ = 1,5 Pas) atingindo uma velocidade terminal de 1,3 cm/s. Determine o diâmetro da esfera.

P11.2 Determine a velocidade terminal de uma esfera lisa com massa específica de
1500 kg m-3 e diâmetro de 5 mm, caindo numa coluna de água a 20 °C. Despreze os efeitos das paredes.

P 11.3 Ar a 1 atm e 20 °C escoa nos dois lados de uma placa plana com 3 m de largura e 0,5 m de comprimento.
A velocidade de aproximação do ar à placa é de 6 m/s.
a) Verifique se o escoamento é laminar em toda a extensão da placa.
b) Assumindo escoamento laminar, determine o valor da espessura máxima da camada limite.
c) Calcule a força de arrasto exercida pelo ar sobre a placa, em kgf.

P 11.4 Água à temperatura ambiente circula tangencialmente a uma placa fixa e lisa com 1,5 m de comprimento
e 1 m de largura, com uma velocidade de 5 m/s. Calcule a força de arrasto exercida pela água sobre a placa.
Coeficientes médios de arrasto:
−0,5
- Regime laminar: 𝐶𝑤 = 1,328 Rep
−0,2
- Regime turbulento: 𝐶𝑤 = 0,072 Rep

210
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

BIBLIOGRAFIA

1. Welty, Wilson, Wicks, Fundamentals of Momentum, Heat and Mass Transfer, 2 nd. Ed., Wiley, 1976.
2. Geankoplis, Transport Processes and Unit Operations, 3 rd ed., Prentice Hall, 1993.
3. Bird, Stewart, Lightfoot, Transport Phenomena, Wiley & Sons, Ltd, Singapore, 1960.
4. Noel de Nevers, Fluid Mechanics for Chemical Engineers, 2nd ed., McGraw-Hill, 1991.
5. J.F. Douglas, J.M. Gasiorek, J.A. Swaffield, Fluid Mechanics, 3 rd ed., Longman, Singapore, 1995.
6. Bennett, Myers, Momentum, Heat and Mass Transfer, 3 rd ed., McGraw Hill1982.
7. Irving H. Shames, Mechanics of Fluids, 2nd edition, McGraw-Hill International Editions, Mechanical
Engineering Series, Singapore, 1982.
8. Luís Adriano Oliveira, António Gameiro Lopes, Mecânica dos Fluidos, 2ª edição, ETEP-Edições Técnicas e
Profissionais, Lisboa, 2007.
9. A.B. Metzner, “Non-Newtonian Technology: Fluid Mechanics, Mixing and Heat Transfer”, em Advances in
Chemical Engineering, vol I,, ed. Thomas B. Drew e John W. Hooper, Jr., Academic Press, New York, 1956.
10. António de Carvalho Quintela, “Hidráulica”, 10ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2007.
11. H. Tennekes e J.L. Lumley (tradução Ana Luísa Félix da Rocha e Carlos Frederico N. Bettencourt da Silva)
“Turbulência em Fluidos”, Fundação Calouste Gulbenkian, 1972.
12. Morton M. Denn., “Process Fluid Mechanics”, Prentice-Hall International Series in the Physical and
Chemical Engineering Sciences, PTR Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey, 1980.
13. Alberto Abecassis Manzanares, “Hidráulica Geral I. Fundamentos Teóricos”, Técnica – AEIST, Lisboa,
1979.
14. Bernard Massey, revised by John Ward-Smith, “Mechanics of Fluids”, 8th Edition, Taylor & Francis, NY,
USA, 2006.
15. John Slattery, “Momentum, Energy and Mass Transfer in Continua”, McGraw-Hill Chemical Engineering
Series, McGraw-Hill Kogakusha, Ltd, Tokyo, 1972.
16. J.M. Coulson, J.F. Richardson, (tradução C. Ramalho Carlos), “Tecnologia Química, volume I: fluxo de
fluidos, transferência de calor e transferência de massa”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1974.
17. Osborne Reynolds, An Experimental Investigation of the Circumstances which determine whether the
Motion of Water shall be Direct or Sinuous and of the Law of Resistance in Parallel Channels. Philos. Trans.
R.Soc.174 (1883) 935-982.

211
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

212
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

GLOSSÁRIO

A : área
c: velocidade do som
CD: coeficiente de descarga
CW: coeficiente de arrasto ou de resistência
D: diâmetro
E: energia /massa
Eu: número de Euler
f: fator de atrito de Fanning
Fg : peso (força gravítica)
FI : Força de impulsão
Fk : Força de arrasto
Fr: número de Froude
𝐺⃗: vector velocidade mássica
𝑔, 𝑔⃗: aceleração gravítica (módulo, vector)
Hb: altura manométrica fornecida pela bomba
hf : perda de carga por atrito
hL : perda de carga em acessórios de tubagem
𝐾 : coeficiente de resistência (acessórios de tubagem)
𝐾: energia cinética característica por unidade de volume
kB: constante de Bingham
𝑚̇: caudal mássico
Ma: número de Mach
p: pressão
Po: potência
pT : pressão de estagnação
Q: caudal volumétrico
𝑞̇ : calor / tempo
qdm: quantidade de movimento
r : distância radial
R: raio
Re: número de Reynolds
Rh: raio hidráulico
V : volume
𝑣´: flutuação da velocidade, em torno da média temporal
𝑣̅: média temporal da velocidade
〈𝑣〉: média geométrica da velocidade
W: trabalho
δ: espessura da camada-limite
𝜇: viscosidade (dinâmica)
𝜌: massa específica, densidade

213
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

𝜐: viscosidade cinemática
𝜖: rugosidade parietal (absoluta)
𝜖𝑟 : rugosidade relativa
𝛾̇ : taxa de deformação angular
𝜇 (𝑡) : viscosidade turbilhonar
𝜏0 : tensão de cedência
𝜏𝑖𝑗 : fluxo de quantidade de movimento
𝜏𝑤 : fluxo parietal de quantidade de movimento

214
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ANEXOS

ANEXO I. FATORES DE CONVERSÃO

1 ft = 0,305 m
1 in = 25,4 mm
1 Å = 0,1 nm
1 milha = 1609,344 m
1 mi/h = 0,4470 m/s
1 gal = 0,0037854 m3

1 lb/in2 = 6895 Pa
1 atm = 101325 Pa
1 in. Hg = 3376,85 Pa
1 in. H2O = 248,84 Pa

1 lbf = 4,448 N
1 ton = 2000 lbf
1 kN = 224,8 lbf
1 dine = 10,0 μN

1 hp = 745,7 W
1 BTU = 1055 J
1 caloria = 4,1868 J
1 lbm = 0,454 kg
1 slug = 14,594 kg

1 poise (P) = 0,1 Pa∙s


1 lbf.s/ft2 = 47,880 cP
1 stoke (St) = 1,0 × 10-4 m2/s
1 ft2/s = 92,900 cSt

T (°C) = 5/9 (T (°F) − 32°)


T (K) = T (°C) + 273,16°
T (K) = T (°R)/1,8
T (K) = (T (°F) + 459,67°)/1,8
T (°R) = T (°F) + 459,67°

215
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ANEXO II. MÚLTIPLOS E SUBMÚLTIPLOS

Prefixos de múltiplos e submúltiplos


Potência Prefixo Símbolo
1012 Tera T
Múltiplos

109 Giga G
106 Mega M
103 Quilo k
10-3 mili m
10-6 μ
Submúltiplos

micro
-9
10 nano n
-12
10 pico p
-15
10 femto f
-18
10 ato a

216
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ANEXO III. PROPRIEDADES FÍSICAS DE GASES E LÍQUIDOS

Tabela I - Propriedades da água a 1 atm

Temperatura (°C) ρ (kg/m3) μ (Pa.s x 103)


0 999,8425 1,787
4 999,9750 1,567
10 999,7026 1,307
20 998,2071 1,002
25 997,0479 0,8904
30 995,6502 0,7975
40 992,2187 0,6529
50 988,0393 0,5468
60 983,2018 0,4665
70 977,7726 0,4042
80 971,8007 0,3547
90 965,3230 0,3147
100 958,3665 0,2818
Fonte: Handbook of Chemistry and Physics, 59th Edition. 1978-1979, CRC Press, pgs F-5 e F-51

Tabela II - Propriedades do ar

Temperatura (°C) ρ (kg/m3) μ (Pa.s x 105)


-17.8 1,379 1,62
0 1,293 1,72
10 1,246 1,78
20 1,205 1,82
30 1,165 1,87
40 1,127 1,92
60 1,060 2,01
80 1,000 2,10
100 0,946 2,18
160 0,815 2,43
200 0,746 2,59
250 0,675 2,78
300 0,616 2,96
400 0,524 3,30
500 0,456 3,62
600 0,404 3,94
700 0,363 4,25
Fonte: Janssen, L.P.B.M., Warmoeskerken, M.M.C.G., Transport Phenomena Data Companion, Co-publication of Edward Arnold
and Delftse Uitgevers Maatschappij, 1987, pags 114 e 115; Christi Geankoplis, Transport Proceses and Unit Operations, 3rd ed.,
Prentice-Hall, 1993.

217
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Tabela III – Propriedades do Mercúrio

Temperatura (°C) ρ (kg/m3) μ (Pa.s x 103)


0 13595,5 1,685
10 13570,8 1,615
20 13546,2 1,554
30 13521,7 1,499
40 13497,3 1,450
50 13472,9 1,407
60 13448,6 1,367
70 13424,4 1,331
80 13400,3 1,298
90 13376,2 1,268
100 13352,2 1,240

Fonte: Handbook of Chemistry and Physics, 59th Edition. 1978-1979, CRC Press, pgs F-7 e F-55

Tabela IV - Propriedades aproximadas de vários líquidos à temperatura de 20°C


Composto ρ (kg/m3) μ (Pa.s x 103)
Acetona 791 0,422
Benzeno 879 0,649
Clorofórmio 1490 0,667
Etanol 789 1,201
Éter 714 0,243
Glicerol 1260 1499
n-Heptano 684 0,413
n-Hexano 660 0,308
Metanol 792 0,584
Ácido Nítrico (98%) 1512 0,890
n-Octano 702 0,546
n-Pentano 626 0,227
Propanol 804 2,231
Ácido Sulfúrico 1834 27,0
Tolueno 868 0,586
Querosene 820 1,64

Nota: alguns dos exercícios resolvidos apresentados ao longo do texto fazem uso de valores
aproximados das propriedades físicas.

218
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Tabela V - Propriedades aproximadas de vários gases a 20°C e 1 atm.

Composto ρ (kg/m3) μ (Pa.s x 105)


Acetileno 1,08 1,04
Amoníaco 0,706 1,00
Dióxido Carbono 1,81 1,48
Cloro 0,440 1,34
Hélio 0,163 1,97
Hidrogénio 0,082 0,890
Ácido Sulfídrico 1,41 1,26
Metano 0,657 1,10
Azoto 1,15 1,77
Oxigénio 1,31 2,05
Propano 1,84 0,815
Dióxido Enxofre 2,68 1,28

219
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ANEXO IV. RESUMO DAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE CONSERVAÇÃO

Equação da continuidade

Coordenadas retangulares (𝑥, 𝑦, 𝑧):


𝜕𝜌 𝜕 𝜕 𝜕
+ (𝜌𝑣𝑥 ) + (𝜌𝑣𝑦 ) + (𝜌𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Coordenadas cilíndricas (𝑟, 𝑧, 𝜃):

𝜕𝜌 1 𝜕 1 𝜕 𝜕
+ (𝜌𝑟𝑣𝑟 ) + (𝜌𝑣𝜃 ) + (𝜌𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧

220
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Equação do movimento, Coordenadas retangulares (𝑥, 𝑦, 𝑧):

Em termos de 𝝉 :

Direção 𝑥:
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑥 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑥 Eq. (0.1)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Direção 𝑦:
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑦 𝜕𝜏𝑦𝑦 𝜕𝜏𝑧𝑦
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑦 Eq. (0.2)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Direção 𝑧 :
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝 𝜕𝜏𝑥𝑧 𝜕𝜏𝑦𝑧 𝜕𝜏𝑧𝑧
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− −( + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (0.3)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Em termos dos gradientes de velocidade para um fluido Newtoniano com 𝝆 e 𝝁 constantes:

Direção 𝑥:
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑥 Eq. (0.4)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

Direção 𝑦:
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦
𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 )=− +𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑦 Eq. (0.5)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

Direção 𝑧 :

𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥


𝜌( + 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 ) = − + 𝜇( 2 + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (0.6)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

221
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

Equação do Movimento, Coordenadas cilíndricas (𝑟, 𝑧, 𝜃):


Em termos de  :
Direção 𝑟 :
𝜕𝑣𝑟 𝜕𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑟 𝑣𝜃2 𝜕𝑣𝑟
𝜌( + 𝑣𝑟 + − + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
𝜕𝑝 1𝜕 1 𝜕𝜏𝑟𝜃 𝜏𝜃𝜃 𝜕𝜏𝑟𝑧 Eq. (0.7)
= − −( 𝑟𝜏𝑟𝑟 + − + ) + 𝜌𝑔𝑟
𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧

Direção 𝜃:
𝜕𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃
𝜌( + 𝑣𝑟 + + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
1 𝜕𝑝 1 𝜕 1 𝜕𝜏𝜃𝜃 𝜕𝜏𝜃𝑧 Eq. (0.8)
=− − ( 2 𝑟 2 𝜏𝑟𝜃 + + ) + 𝜌𝑔𝜃
𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
Direção 𝑧:
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧
𝜌( + 𝑣𝑟 + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
𝜕𝑝 1𝜕 1 𝜕𝜏𝜃𝑧 𝜕𝜏𝑟𝑧
=− −( 𝑟𝜏𝑟𝑧 + + ) + 𝜌𝑔𝑧 Eq. (0.9)
𝜕𝑧 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧

Em termos dos gradientes de velocidade para um fluido Newtoniano com 𝝆 e 𝝁 constantes:


Direção 𝑟 :
𝜕𝑣𝑟 𝜕𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑟 𝑣𝜃2 𝜕𝑣𝑟
𝜌( + 𝑣𝑟 + − + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
𝜕𝑝 𝜕 1 𝜕 1 𝜕 2 𝑣𝑟 2 𝜕 𝑣𝜃 𝜕 2 𝑣𝑟 Eq. (0.10)
= − + 𝜇[ ( 𝑟𝑣𝑟 ) + 2 − + ] + 𝜌𝑔𝑟
𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 2 𝑟 2 𝜕𝜃 𝜕𝑧 2

Direção 𝜃 :

𝜕𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝑟 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝜃


𝜌( + 𝑣𝑟 + + + 𝑣𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 𝜕𝑧
1 𝜕𝑝 𝜕 1 𝜕 1 𝜕 2 𝑣𝜃 2 𝜕 𝑣𝑟 𝜕 2 𝑣𝜃
=− +𝜇[ ( 𝑟𝑣𝜃 ) + 2 + + ] + 𝜌𝑔𝜃 Eq. (0.11)
𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 2 𝑟 2 𝜕𝜃 𝜕𝑧 2

Direção 𝑧:

𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑝 1𝜕 𝜕𝑣𝑧 1 𝜕 2 𝑣𝑧 𝜕 2 𝑣𝑧


𝜌( + 𝑣𝑟 + + 𝑣𝑧 )= − +𝜇[ (𝑟 )+ 2 + ] + 𝜌𝑔𝑧
𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝑟 𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 2 𝜕𝑧 2
Eq. (0.12)

222
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ANEXO V. COMPONENTES DO TENSOR DE CORTE PARA FLUIDOS NEWTONIANOS

Coordenadas cartesianas Coordenadas cilíndricas


(𝒙, 𝒚, 𝒛) (𝒓, 𝜽, 𝒛)

𝜕𝑣𝑥 2 𝜕𝑣𝑟 2
𝜏𝑥𝑥 = −𝜇 [2 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
− (∇ 𝜏𝑟𝑟 = −𝜇 [2 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
− (∇
𝜕𝑥 3 𝜕𝑟 3

𝜕𝑣𝑦 2 1 𝜕𝑣𝜃 𝑣𝑟 2
𝜏𝑦𝑦 = −𝜇 [2 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
− (∇ 𝜏𝜃𝜃 = −𝜇 [2 ( ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
+ ) − (∇
𝜕𝑦 3 𝑟 𝜕𝜃 𝑟 3

𝜕𝑣𝑧 2 𝜕𝑣𝑧 2
⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)] 𝜏𝑧𝑧 = −𝜇 [2 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗)]
− (∇
𝜏𝑧𝑧 = −𝜇 [2 − (∇ 𝜕𝑧 3
𝜕𝑧 3

𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕 𝑣𝜃 1 𝜕𝑣𝑟


𝜏𝑥𝑦 = 𝜏𝑦𝑥 = −𝜇 [ + ] 𝜏𝑟𝜃 = 𝜏𝜃𝑟 = −𝜇 [ 𝑟 ( )+ ]
𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑟 𝑟 𝑟 𝜕𝜃

𝜕𝑣𝜃 1 𝜕𝑣𝑧
𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧 𝜏𝜃𝑧 = 𝜏𝑧𝜃 = −𝜇 [ + ]
𝜏𝑦𝑧 = 𝜏𝑧𝑦 = −𝜇 [ + ] 𝜕𝑧 𝑟 𝜕𝜃
𝜕𝑧 𝜕𝑦
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑟
𝜕𝑣𝑧 𝜕𝑣𝑥 𝜏𝑟𝑧 = 𝜏𝑧𝑟 = −𝜇 [ + ]
𝜏𝑧𝑥 = 𝜏𝑥𝑧 = −𝜇 [ + ] 𝜕𝑟 𝜕𝑧
𝜕𝑥 𝜕𝑧

1𝜕 1 𝜕𝑣𝜃 𝜕𝑣𝑧
𝜕𝑣 ⃗⃗ ∙ 𝑣⃗) =
(∇ (𝑟𝑣𝑟 ) + +
𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑧
⃗⃗ ∙ 𝑣⃗) = 𝑥 + 𝑦 + 𝑧
(∇
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

223
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ANEXO VI. PARÂMETROS MÉDIOS PARA PROJECTO DE INSTALAÇÕES DE TRANSPORTE DE


FLUIDOS

Coeficiente de
Tipo de acessório ou válvula
resistência, K
Cotovelo a 45º padrão 0,35
Cotovelo a 90º padrão 0,75
Cotovelo a 90º, raio longo 0,45
Curva a 180º 1,5
Junção 0,04
Tê padrão, saída em linha 0,4
Tê padrão, saída pelo ramal 1,0

Válvula de guilhotina
Totalmente aberta 0,17
¾ aberta 0,9
½ aberta 4,5
¼ aberta 24,0

Válvula de diafragma
Totalmente aberta 2,3
¾ aberta 2,6
½ aberta 4,3
¼ aberta 21,0

Válvula de globo
Totalmente aberta 6,0
½ aberta 9,5

Válvula de borboleta
θ = 5° 0,24
θ = 10° 0,52
θ = 20° 1,54
θ = 40° 10,8
θ = 60° 118

224
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ANEXO VII. DIAGRAMA DE MOODY PARA ESTIMATIVA DO FATOR DE ATRITO.

0,02
𝜖𝑟
0,05
0,04
0,03

0,02
0,015
0,01
0,01

0,008
0,005
Fator de atrito de Fanning

0,006 0,002

0,001

0,0005
0,004
0,0002
0,003 0,0001
0,00005

0,00002
0,002 0,00001
0,000005

0,000001

0,001
1000 10000 100000 1000000 10000000 100000000
Re

225
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ANEXO VIII. COEFICIENTE DE RESISTÊNCIA EM ALARGAMENTOS E REDUÇÕES ABRUPTAS.

0,9 alargamento

0,8
estreitamento
0,7

0,6
K

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

d/D

226
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

ANEXO IX. SOLUÇÕES DOS PROBLEMAS PROPOSTOS


Capítulo 1
P1.1 ft-poundal = 4,22  105 erg; 1erg/s= 10-7 W
P1.3 1,12  10-4 lbf
P1.5 5,0 kW; 20 kgf
P1.6 2,32 kg
P1.7 90,5 mL necessários (suficiente para o tempo da viagem)

Capítulo 2
P2.1 pA – patm = M g h2 – 1 g h1
P2.2 – 0,19 kPa
P2.3 41,0 kPa
P2.4 12,8 kPa
P2.5 17 mm
P2.6 p1 – p2 =  g hM [(d/D)2 – 1] + M g hM ; se d << D: p1 – p2 = (M–  g hM
P2.7 4,1 tonf

Capítulo 3
P3.1 500 cP

Capítulo 4
P4.1 18,9 m/s; 58,8 L/s
P4.2 8 m/s; 12 kPa
P4.4 S = (2 t2 + 400 t + 10000)/(t + 100); t = 36 min 36 s
P4.5 4,5 m/s; 34 kPa
P4.6 Bx = –2,1 kN, By = 0,20 kN
P4.7 37,9 N
P4.8 1,0 m s-1 ; Rx = 17,3 kN
P4.9 – 982 N (100 kgf)
P4.10 2,6 kW
P4.11 1,16 m; 1,21 m
P4.12 0,43 m
P4.13 –18 kPa
P4.14 125 s
P4.15 49 kN

Capítulo 5

P5.1 1,9 Pa
P5.2
−∆𝑝 𝑧 2 −∆𝑝 ∆𝑝
𝑣𝑥 = 2𝜇𝐿
𝛿 2 [1 − (𝛿) ]; 𝜏𝑧𝑥 |𝑧=+𝛿 = 𝐿
𝛿; 𝜏𝑧𝑥 |𝑧=−𝛿 = 𝐿
𝛿;

𝑊 +𝛿
𝛿𝑊𝛿 3 ∆𝑝
𝑚̇ = 𝜌 ∫ ∫ 𝑣𝑥 𝑑𝐴 =
0 −𝛿 3𝜇𝐿

P5.3 0,11 cm2/s


𝑣 𝑟 𝜋𝑣0 𝑅 2 𝑘 2 −1
P5.4 𝑣𝑧 = ln0𝑘 ln (𝑅) ;𝑄=𝑣 2
(
ln 𝑘
− 2 𝑘2)

P5.5 0,47 mL/h


P5.6

−∆𝑝 𝑟 2 𝜏0 𝑅 𝑟
𝑣𝑧 = 4𝑘 𝐿
𝑅2 [1 − (𝑅) ] − 𝑘
(1 − )
𝑅
para r0  r  R (  0)
𝐵

227
Introdução à Dinâmica dos Fluidos para Engenharia Química

−∆𝑝 2𝜏 𝐿 2
𝑣0 = 4𝑘 𝐿
𝑅2 (1 − −∆𝑝0 𝑅) para 0  r  r0 (região central do tubo); 4,8 cm ; 2,1 L/s
𝐵

−∆𝑝 𝑟 𝑟 17/7
P5.7 𝜏𝑟𝑧 = 𝐿 2
= 6,7 × 103 × 𝑟 (𝑆𝐼); 𝑣𝑧 = 0,0166 [1 − (10−4) ] (𝑆𝐼)

d) 1,7 cm/s; 0,67 Pa (pseudoplástico)

Capítulo 6

P6.4 0,21 N m; 4,3 W

Capítulo 7
𝐷Δ𝑝⁄𝐿 𝜌𝑣𝐷 𝜏0
P7.1 = 𝜑( , ) ; 6 m/s; 900 Pa; 0,037 atm/m
𝜌𝑣 2 𝜇0 𝜌 𝑣2
𝑀 𝜀 𝜌 Ω 𝐷2
P7.2 a) =𝜑 ( , ); 0,3 rps; 0,005 Nm
𝜌 Ω2 𝐷 5 𝐷 𝜇

𝜌 𝑅5
P7.3 π1 = 𝐸 𝑡2
Δ𝑝 𝜌𝑣𝐷 𝐿
P7.4 = 𝜑 ( , )
𝜌𝑣 2 𝜇 𝐷

Capítulo 8
P8.1 2,45 m
P8.2 104 kPa (rel.); 0,28%
P8.3 405 m; 0,64 MW
P8.4 6,0 L/s
P8.5 148 m
P8.6 5,5 kg/s
P8.7 41 L/s; 20%

Capítulo 9
P9.1 20,5 kg/s
P9.2 20 min 41 s
P9.3 40,4 m/s
P9.4 51 mm; ramo direito; 6%.

Capítulo 10
P10.1 0,16 Pa; 0,39 mm; y (mm) = 0; 0,18; 0,36; 0,89; 75.
P10.2 1,29 mm; 0,57 m/s; 2,3 L/s

Capítulo 11
P11.1 5,0 mm
P11.2 27 cm/ s
P11.3 0,5 m; 5,6 mm; 2,0 ×10-2 kgf
P11.4 0,19 N

228

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