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AO MM.

JUÍZO DA 1ª VARA DA COMARCA DE LAGO DA PEDRA – ESTADO DO


MARANHÃO.

Processo nº 0801393-48.2023.8.10.0039.

MUNICÍPIO DE LAGO DA PEDRA e MAURA JORGE ALVES DE


MELO , já devidamente qualificados nos autos da Ação Popular em em epígrafe, que lhe move
Francimar Silva Lima, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por intermédio
de seu advogado adiante assinado (procuração em anexo), com escritório profissional
localizado no endereço indicado em rodapé, onde recebe intimações e notificações, oferecer
CONTESTAÇÃO, com fulcro no art. 335 ao 342 do NCPC, pelas razões de fato e de direito a
seguir expostas.

I – DA REALIDADE DOS FATOS.

Trata-se de Ação Popular proposta pelo Sr. Francimar Silva Lima afirmando
que a Sra. Maura Jorge Alves de Melo, enquanto Prefeita do município de Lago da Pedra –
MA, agiu em conluio com as empresas AUTO POSTO MENDES EIRELI e POSTO OASIS
LTDA, para fraudar o procedimento de contratação direta de empresa fornecedora de
combustíveis, buscando benefício próprio ou de terceiros, conforme exposto na exordial.

É o que importa relatar.

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II – DA FUNDAMENTAÇÃO. DA POSSIBILIDADE DE CELEBRAÇÃO DIRETA
DE CONTRATO ENTRE A ADMINISTRAÇÃO E O PARTICULAR.

Inicialmente, cabe ressaltar que a contratação de obras, serviços, compras e


alienações a ser feita por órgãos públicos deverá ser precedida, em regra, por licitação,
conforme estabelece o artigo 37, inciso XXI da Constituição Federal, bem como o artigo 2º da
Lei n.º 8.666/93.

Sucintamente, o mestre Hely Lopes Meirelles versa sobre a licitação:


“Licitação é o procedimento administrativo mediante o qual a Administração seleciona a
proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse”.

A licitação nos contratos é a regra, porém a Lei nº. 8.666/93 permite como
ressalva à obrigação de licitar, a contratação direta através de processos de dispensa e
inexigibilidade de licitação, desde que preenchidos os requisitos previstos na lei.

Tratando-se de Dispensa de licitação, esta é a possibilidade de celebração


direta de contrato entre a Administração e o particular, nos casos estabelecidos no art. 24, da
Lei nº. 8.666/93.

O mestre Marçal Justen Filho versa precisamente sobre os motivos que levam
à dispensa da licitação:

“(...) a dispensa de licitação verifica-se em situações em que,


embora viável competição entre particulares, a licitação
afigura-se inconveniente ao interesse público. (...). Muitas
vezes, sabe-se de antemão que a relação custo-benefício será
desequilibrada. Os custos necessários à licitação ultrapassarão
benefícios que dela poderão advir”. (JUSTEN FILHO, Marçal,
Comentários à Lei das Licitações e Contratos Administrativos.
15. ed. São Paulo: Dialética. 2012).

Continua o mestre, agora versando sobre o princípio da economicidade, que


deve ser observado em todos os atos administrativos: “(...) não basta honestidade e boas
intenções para validação de atos administrativos. A economicidade impõe adoção da solução
mais conveniente e eficiente sob o ponto de vista da gestão dos recursos públicos”.

É evidente que os processos de dispensa e de inexigibilidade de licitação, não


exigem o cumprimento de etapas formais imprescindíveis num processo de licitação, entretanto

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devem obediência aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade,
publicidade e probidade administrativa impostos à Administração Pública.

Conforme orientação do Tribunal de Contas da União (ACÓRDÃO Nº


34/2011 –PLENÁRIO – REL. MIN. AROLDO CEDRAZ), a licitação não é mera formalidade
burocrática, visto que fundada em princípios maiores, quais sejam a isonomia e a
impessoalidade. Não obstante, somente, em condições excepcionais, com base no princípio
da eficiência, a lei prevê a possibilidade da dispensa da licitação.

Cumpre destacar a hipótese de dispensa de licitação concernente a


emergências ou urgência, em que o CONTRATO ADMINISTRATIVO PRECISA SER
REALIZADO IMEDIATAMENTE, pois, se o interesse público aguardasse a realização do
certame, seria sacrificado ou prejudicado. Sob essa perspectiva, para resguardar o interesse
público, com fulcro no princípio da continuidade do serviço público ou das atividades
administrativas, o legislador autoriza a dispensa, atenuando justificadamente a proteção ao
princípio da isonomia.

Para os fins de dispensa, o vocábulo emergência quer significar necessidade


de contratação que não pode aguardar os trâmites ordinários de licitação, sob pena de
perecimento do interesse público, consubstanciado pelo desatendimento de alguma demanda
social ou pela solução de continuidade de atividade administrativa.

Sobre os requisitos exigidos para contratação com dispensa de licitação ao


amparo do referido inciso IV, do artigo 24, o Tribunal de Contas da União já se manifestou em
diversas oportunidades, firmando, inclusive, o entendimento de que são pressupostos para
contratação emergencial o cumprimento das condições consubstanciadas na decisão abaixo:

a) que a situação adversa, dada como de emergência ou de


calamidade pública, não se tenha originado, total ou parcialmente,
da falta de planejamento, da desídia administrativa ou da má
gestão dos recursos disponíveis, ou seja, que ela não possa, em
alguma medida, ser atribuída à culpa ou dolo do agente público
que tinha o dever de agir para prevenir a ocorrência de tal
situação;
b) que exista urgência concreta e efetiva do atendimento à situação
decorrente do estado emergencial ou calamitoso, visando afastar
risco de danos a bens ou à saúde ou à vida de pessoas;
c) que o risco, além de concreto e efetivamente provável, se mostre
iminente e especialmente gravoso;
d) que a imediata efetivação, por meio de contratação com terceiro,
de determinadas obras, serviços ou compras, segundo as

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especificações e quantitativos tecnicamente apurados, seja o meio
adequado, efetivo e eficiente de afastar o risco iminente
detectado”.
Nesse sentido, cumpre transcrever o pensamento do Professor Marçal Justen
Filho, a saber:

“A contratação deve prestar-se a evitar a concretização do


dano. Isso exige que a Administração demonstre não apenas a
necessidade da contratação, mas também sua utilidade. Ou seja,
deverá indicar as medidas concretas através das quais a
contratação evitará a concretização do dano”. (Grifo nosso).

A contratação deve ser precedida de todas as justificativas não apenas sobre


a emergência, mas sobre a viabilidade concreta de atender à necessidade pública. Sob este
ângulo, vale a ressalva de Antônio Carlos Cintra do Amaral, “no sentido de que não se pode
ignorar que a urgência da contratação retrata a urgência na execução do contrato. Portanto, a
administração deve adotar a solução compatível com a necessidade que conduz à contratação”.

Conforme se verifica dos comentários trazidos à colação, ainda que se


pudesse atribuir ao administrador o motivo que teria ocasionado a urgência, por falta de
planejamento, por exemplo, ainda assim, não estaria desautorizada a contratação emergencial,
quando presentes razões de interesse público a merecer providências urgentes de modo a evitar
o iminente dano ou ocasionar prejuízos para a Administração.

A propósito, temos a observar o que sobreleva na redação do inciso IV do


artigo 24 da Lei nº 8.666, de 1993, não é simplesmente a emergência ou a calamidade pública,
mas a situação de urgência por elas provocada, que requerem a contratação imediata de
determinado objeto, sem o qual o interesse público seria desatendido, em afronta direta ao
princípio constitucional da eficiência (CF/88, art. 37, caput).

Conforme entendimento do Tribunal de Contas da União a situação de


emergência deverá ser devidamente esclarecida e com a formalização adequada do processo
que a justifique, com a demonstração razoável para a escolha da empresa e dos preços adotados.

III – DO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS. DO


DEVER DO ESTADO DE PROMOVER OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA
SOCIEDADE.

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Como bem sabido, existem determinados princípios que são inerentes à
prestação dos serviços públicos, razão pela qual devem ser observados atentamente pelos
executores de tais serviços. Estes princípios, considerados normas jurídicas, são verdadeiros
vetores para verificação da legalidade e da legitimidade da prestação dos serviços públicos.

No direito contemporâneo o princípio da continuidade do serviço público


deve ser reinterpretado para ser aplicado a qualquer atividade pública, com o objetivo de evitar
lesão ou ameaça de lesão aos direitos fundamentais do cidadão.

O princípio da continuidade impõe a PRESTAÇÃO ININTERRUPTA


DOS SERVIÇOS PÚBLICOS, tendo em vista o dever do Estado de satisfazer e promover
direitos fundamentais.

A continuidade pressupõe a regularidade na prestação do serviço público,


com observância das normas vigentes e, no caso dos concessionários, das condições do contrato
de concessão. É oportuno ressaltar que a continuidade não impõe, necessariamente, que todos
os serviços públicos sejam prestados diariamente e em período integral.

Nesse particular, o princípio da continuidade dos serviços públicos deve ser


observado em conjunto com o princípio da eficiência. Os serviços públicos essenciais devem
ser prestados de forma contínua pelos órgãos públicos, suas empresas, concessionárias ou
permissionárias, nos termos do artigo 22, do Código de Defesa do Consumidor.

A Constituição Federal, em seu artigo 9º, §1º, determina que os serviços ou


atividades essenciais sejam definidos por lei.

Coube à Lei Federal nº 7.783/89, que trata da greve dos servidores públicos,
definir os serviços públicos essenciais como àqueles que atendem às necessidades inadiáveis
da sociedade. Conforme seu o art. 10, são considerados serviços ou atividades essenciais:

“I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição


de energia elétrica, gás e combustíveis;

II - assistência médica e hospitalar;

III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;

IV - funerários;

V - transporte coletivo;

VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;

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VII - telecomunicações;

VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas,


equipamentos e materiais nucleares;

IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;

X - controle de tráfego aéreo;

XI compensação bancária”.

Ademais, a suspensão do fornecimento dos serviços públicos ocasiona a


violação do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, contido no artigo 1º,
III, da CRFB/88.

IV – DA QUESTÃO CENTRAL DO MÉRITO– DA CONTRATAÇÃO DIRETA DE


EMPRESA ESPECIALIZADA – FORNECIMENTO DE COMBUSTÍVEIS – DA
JUSTIFICATIVA DO PREÇO E DA RAZÃO DA ESCOLHA DO FORNECEDOR

No caso em tela, o que se verifica é que se fez necessária a contratação das


empresas de forma direta, visto que a aquisição de combustíveis e lubrificantes é essencial para
realização das atividades institucionais da Administração de Lago da Pedra – MA, razão pela
qual não houve tempo hábil para a realização certame sem que a municipalidade tivesse
prejuízo.

Afigura-se ilegítima não dotar as secretarias do município de serviços,


materiais e equipamentos em condições de realizar sua atividade precípua, uma vez que
eventual dificuldade operacional não justifica a paralisação das atividades administrativas,
porquanto a Administração Pública se encontra submissa ao princípio da continuidade e
eficiência do serviço público, máxime em virtude do princípio da eficiência administrativa
insculpido no caput do artigo 37 da Constituição Federal.

Assim, a dispensa de licitação para as compras foi fundamentada no inciso


IV, art. 24, da Lei 8.666/1993, motivada pelo estado de emergência encontrado no município
de Lago da Pedra – MA, em virtude da total desorganização e abandono dos serviços públicos
em que se figurava a municipalidade no início do ano de 2021, bem como pelo momento de
Pandemia da COVID-19 em que o mundo estava passando.

Quanto à justificativa dos preços, conforme estabelece o art. 26, da Lei n.º
8.666/93, e suas alterações, as dispensas de licitação devem ser necessariamente justificadas,
sendo que o procedimento deve ser instruído, no caso, com elementos que apontem a razão de
escolha do contratado e justificativa de preço.

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Após Cotação de Valor de Mercado (documento em anexo), verificou-se que
os preços das empresas Auto Posto Mendes e Posto Oasis foram os mais vantajosos para a
Administração, estando ambos dentro dos preços de mercado.

Ademais, verifica-se, conforme os documentos ora trazidos, que a pesquisa


de preços de mercado junto às empresas do ramo do objeto a ser contratado, objetivando dispor
de estimativa do valor da contratação emergencial, conforme planilha demonstrativa de preços,
possibilitou a autoridade competente decidir sobre a vantajosidade e a economicidade para a
Administração da contratação emergencial, em conformidade com o que estabelece o art. 26,
inciso III da Lei de Licitações.

Ora, Douto Promotor, todo o procedimento foi adotado a fim de garantir a


lisura no processo de escolha dos postos de gasolina a serem contratado de forma direita pelo
município de Lago da Pedra – MA, permitindo a contratação da melhor oferta, aquela mais
vantajosa e correspondente aos preços praticados no mercado.

A imagem acima anexada, demonstra o rol de documentos (estes que estarão


sendo enviados em anexo a esta reposta) existentes que comprovam a regularidade e legalidade
de todo o procedimento cuidadoso tomado pela Prefeitura de Lago da Pedra – MA na escolha
dos fornecedores de combustíveis mais vantajosos para a contratação direta, haja vista a
necessidade e urgência na aquisição dos produtos para a efetiva e regular prestação dos serviços
públicos.

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Quanto à razão de escolha dos fornecedores, ao analisar detalhadamente os
autos, observa-se que fora realizada a cotação supracitada, apresentado preços compatíveis com
os praticados no mercado local, dentro das circunscrições do município de Lago da Pedra – MA
e suas adjacências.

Em que pese haver um conflito aparente de normas em razão de um dos donos


da empresa contratada, ter grau de parentesco com a Secretária Municipal de Saúde, a Sra.
Almiralice Mendes, nota-se que a prestação de serviço disponibilizado pela empresa
supracitada é compatível e não apresenta diferença que venha a influenciar na escolha, ficando
esta vinculada apenas à verificação do critério do menor preço.

Após pesquisa de preços, verificou-se que o ofertado pelas empresas AUTO


POSTO MENDES EIRELI e POSTO OASIS LTDA ofereceram os menores preços, o que
levou à tal escolha, não havendo o que se falar em “conluio”, conforme versado na
Representação, entre a mim enquanto prefeita municipal e as empresas acima mencionadas.

Pelo contrário, conforme demonstrado alhures, todo o procedimento ocorreu


dentro da legalidade, em observância aos princípios administrativos norteadores da gestão
pública, ante a situação de emergência plenamente comprovada na falta de abastecimento dos
veículos pertencentes ao município e necessários para a movimentação da máquina pública.

V – DOS PEDIDOS.

Ante o exposto, e, haja vista a legalidade da contratação direta, conforme o


art. 24, IV da Lei de Licitações, bem como a inocorrência de quaisquer ilícitos apontados na
exordial, passa a requerer pela TOTAL IMPROCEDÊNCIA desta e o seu posterior
arquivamento.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

Lago da Pedra/MA, data do sistema.

IRADSON DE JESUS SOUZA ARAGÃO


Advogado – OAB/MA 12.933

LUIS GUSTAVO MOUSINHO LIMA


Estagiário

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