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PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

A impessoalidade repele e abomina favoritismos e restrições indevidas, exigindo tratamento equânime e marcado pela
neutralidade. Quando realiza a função administrativa, o gestor não age nem deve agir em nome próprio, mas em nome do
Poder Público. Em nossa opinião, a impessoalidade deve ser concebida em dois aspectos:

1) Atendimento ao interesse público. A impessoalidade proíbe que o agente público utilize seu cargo para a satisfação de
interesses pessoais ou mesquinhos. Assim, não pode o agente público utilizar seu cargo para se promover, para beneficiar
pessoa querida ou prejudicar um desafeto, por conta de interesses pessoais. Materialização desse aspecto da
impessoalidade é a obrigatoriedade de provimento de cargo através de concurso público, a vedação à promoção pessoal do
agente público, a vedação ao ato administrativo de perseguição, a exigência de procedimento licitatório para que a
Administração escolha uma empresa para contratar, entre outros. Vale sopesar, contudo, que a observância ao princípio da
impessoalidade não prejudica que determinados atos administrativos, por sua própria natureza, tenham beneficiários certos.
Segundo precedente do STF, é compatível com o princípio da impessoalidade, dispositivo de Constituição Estadual que
vede ao Estado e aos Municípios atribuir nome de pessoa viva a avenida, praça, rua, logradouro, ponte, reservatório de
água, viaduto, praça de esporte, biblioteca, hospital, maternidade, edifício público, auditórios, cidades e salas de aula (STF,
ADI 307/CE, rei. Min. Eros Grau, 13.2.2008).

2) Imputação do ato administrativo. A impessoalidade deve ter repercussão na relação jurídica do ato administrativo
praticado. Quando realiza a atividade administrativa, o agente público age em nome do Poder público, de forma que os atos
e provimentos administrativos não são imputáveis ao funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade da
Administração Pública. Entendemos que a materialização desse aspecto da impessoalidade dá-se com a vedação à
imputação direta de responsabilidade civil em detrimento do agente público. Embora tal agente possa ser responsabilizado
pela prática de ato de improbidade (quando cabível), sofrer ação regressiva por parte da Administração ou mesmo sanção
administrativa, ele deve estar protegido da responsabilização civil direta, sob pena de permitir-se um instrumento de
restrição às atividades administrativas que afetem fortes grupos de interesse. Conforme precedente do STF, uma coisa é
assegurar ao ente público 0 direito de regresso, outra é imputar ao servidor diretamente a responsabilidade civil pela prática
de ato administrativo que cause danos a terceiros (STF RE 327.904, Dj 08/09/2006). Nada obstante, convém registrar que 0
STJ tem firmado 0 entendimento de que se deve franquear ao particular a possibilidade de ajuizar a ação diretamente
contra 0 servidor, suposto causador do dano, contra 0 Estado ou contra ambos, se assim desejar" (STJ. REsp 1.325.862-
PR., DJE 10.12.2013)."

Os AA entendem que esse raciocínio merece reparos, por desconsiderar uma necessária proteção ao agente público,
oriunda do regime jurídico administrativo e necessária ao exercício da função administrativa. Diante do caráter autônomo do
direito de ação, a ausência dessa "proteção" pode prejudicar a escorreita ação administrativa, notadamente daqueles
agentes públicos responsáveis por ações que afetem interesses econômicos de terceiros; assim, um fiscal sanitário que
identifica irregularidade em um restaurante, um gestor que aplica merecidamente sanção a empresa inidônea, um pregoeiro
que desclassifica proposta inexequível ou um auditor que autua empresa por irregularidades cometidas, todos, poderiam ser
constrangidos a não exercer suas funções, pela ameaça de responder a diversas ações judiciais, movidas propositada e
levianamente, contra a pessoa do servidor, apenas com o intuito de constranger o exercício da atividade administrativa.
Esperam que o STJ reveja sua jurisprudência, percebendo a questão sistematicamente e resguardando os aspectos de
proteção ao escorreito exercício da atividade administrativa.

Mais recentemente, o STF, em Acórdão relatado pelo Ministro Barroso (RE 593525, DJe 07.10.2016), sabiamente reiterou o
entendimento de que somente as pessoas jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que
prestem serviços públicos, poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos a terceiros. Assim, renova-se o
raciocínio firmado anteriormente, em Acórdão relatado pelo então Min. Ayres Britto, segundo o qual a Constituição
consagrou uma dupla garantia: uma, em favor do particular, que pode processar o Poder Público por danos decorrentes de
ações e omissões de seus agentes públicos, no exercício da função; e, outra, em favor do próprio agente público, que
responderá civilmente somente perante a pessoa jurídica estatal a qual esteja vinculado.

► Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso para Titular de Serviços de Notas e de Registros - TJ/MG (CONSULPLAN/2019), com a seguinte ementa: "Os
institutos de Direito Administrativo decorrem de normas que se pautam em seus princípios, sem os quais restariam
maculados em sua essência. Desta forma, os atos administrativos do Estado são regidos por valores que, se necessário,
devem ser ponderados, mas não excluídos na aplicação a determinado contexto fático. De acordo com 0 estudo dos
princípios administrativos", foi considerada correta a seguinte assertiva: a) A vedação ã prática administrativa sob a
inexistência de interesse público ou conveniência da Administração com vistas exclusivas ao atendimento de interesse
privado emerge do Princípio da Impessoalidade, cujo desvio macula o fim legal.

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