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CÓDIGO: 41118
“É tarefa da sociologia investigar as relações entre o que a sociedade faz de nós e o que
nós fazemos de nós próprios e da sociedade.” (Giddens, 2013, p. 6)
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TRABALHO / RESOLUÇÃO:
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O presente ensaio pretende, do ponto de vista da relação entre a sociedade e a sociologia,
analisar e resumir o artigo de com o tema “Ciganos portugueses: escola e mudança social”
disponível em https://journals.openedition.org/spp/7754 (Mendes, Magano, & e Costa,
2020), identificando a problemática do seu sucesso/ insucesso escolar, com impacto no
campo pessoal e profissional; controlo escolar; bem como do cumprimento de metas e da
escolaridade obrigatória em Portugal.(Mendes, M. M., Magano, O., Pinheiro, S., &
Mourão, S. 2023) e (Macedo, I. M. 2010). De acordo com Mendes, Magano e Candeias,
2014 este grupo minoritário, é confrontado por desfasamentos e desajustes impactantes
nas dinâmicas sociais dentro e fora da escola (Mendes, Magano, & Candeias, 2014). A
pesquisa sociológica realizada, tem como objetivos, avaliar os possíveis impactos das
políticas publicas de continuidade dos percursos escolares dos estudantes ciganos em
Portugal (Magano,O., & Mendes, M. M. 2017), um Portugal onde os níveis de
escolarização são variáveis, a nível cultural e regional, bem como no que toca ao género,
sendo a mulher uma vez mais, a que menos escolaridade possui, pois na cultura cigana, à
semelhança de tantas outras, o casamento é encarado como uma garantia da estabilidade
económica, (Caré, M. J. G. H. 2010) e (Magano, O., & Mendes, M. 2014). Tema
pertinente e inserido em contexto de análise sociológica, dada a importância da sua
problemática que toca tanto ao individuo como à sociedade em si. Análise realizada com
vista a sociedade cigana, resignada a uma estratificação de classes e a uma educação
segregada, num contexto histórico educacional em que se apregoa a democracia e o
civismo, (Abrantes, P., Seabra, T., Caeiro, T., Almeida, S., & Costa, R. 2016); (CASA-
NOVA, Maria José); (Magano, O., MENDES, M., & Gomes, S. 2016).
Abordamos dois temas que estão longe de criar um consenso. A comunidade cigana, é
alvo de preconceito e estereótipos, e a sua educação quer seja a tradicional ou a moderna,
são sempre sinónimo de opiniões diversas, que toldam o senso comum e o bom senso, até
do espetador mais atento. Por isso, é imperativo ver e analisar o problema, através de
metodologias adequadas e de um ponto de vista neutro, despido de preconceitos, sem
juízos de valor, seguindo um caminho de conhecimento, transformação e emancipação de
sociedades dominadas, do ponto de vista da sociológica, esta que vê, de acordo com
Costa, 1992, na sociedade o seu objeto de investigação, que a estuda mas que também faz
parte desta, que muda conforme a sociedade muda, que se adapta à mudança de
paradigma, mas caminhando na continuidade da produção do conhecimento científico,
sem descuidar dos problemas que afetam toda a sociedade, um conhecimento em
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atualização constante. Pensadores como August Comte, Karl Marx ou Herbert Spencer,
fundam as bases para uma sociologia científica e de renome, embora cada um com uma
perspetiva e teoria diferenciada. É o contributo do sociólogo Pierre Bourdieu, que dá à
ciência da sociologia e dos sociólogos, um conjunto normal e valores, bem como de
representações que fazem questionar a própria ciência e o próprio trabalho, reflexão que
transporta a sociologia para campos e temáticas, disciplinas e análise como a que
abordamos aqui. É à sociologia e a sua reflexão, que vamos beber toda a teoria, para o
estudo da problemática da educação e dos ciganos, esta que se encarrega da observação
e análise e das relações sociais de participação e intervenção, que permitem a entrada em
comunidades fechadas, dando-lhes a oportunidade de explorar a sua realidade,
transpondo-a para novas oportunidades de melhoria. (Costa, 1992). Desta forma e
seguindo a metodologia de caracter qualitativo com a combinação de várias técnicas de
recolha de dados, com particular atenção à abordagem etnográfica, foi realizada a análise
sociológica a 1599 pessoas, e verificou-se que apenas 2,8% tinham concluído o ensino
secundário e/ou superior, contrastante com os 16,5% da restante população portuguesa.
(Mendes, Magano, & e Costa, 2020). Verifica-se, a forma como aquela minoria está
segregada no campo escolar e por consequência no campo laboral, bem como, no campo
habitacional por enclaves fortificados e social pela falta de interação com outras culturas.
As pessoas inquiridas, pertencem a áreas urbanas com população cigana portuguesa, em
que a diversidade a convivência com outras formas de vida não tem expressão em
ambiente escolar ou pessoal, condicionando assim e de acordo com José Madureira Pinto,
a “mancha de óleo”, comprometendo a multiplicidades de efeitos sociais e cognitivos,
derivados do processo de socialização escolar, escola que deve ser cultivadora e
impulsionadora de uma sociedade civilizada, democrática e inclusiva, escola que dá
acesso ao conhecimento e à informação, que gera oportunidade, inclusão e ascensão
social. Escola esta que não se verifica no contexto da população cigana inquirida,
encontramos uma escola que se debate com fatores e efeitos da “mancha de óleo” no
contexto da reflexividade e ação, referente à escolarização em geral e na sala de aula em
particular. Fatores como valores que são passados pela escola, encontra-se fora do
contexto cultural dos ciganos, e muito aquém do contexto das exigências do mercado de
trabalho, ainda mais quando se trata de uma minoria estigmatizada (Castro, 2010), e
efeitos como uma linguagem desigual e incompreendida, traduzindo-se à inadaptação ao
sistema escolar (Pinto, 2008). No caso em análise verificamos alunos com diferentes
patamares de aprendizagem na mesma sala, lecionando a mesma matéria.
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A somar a uma escola segregada e desajustada, verificamos a cultura, tradição cigana e
as famílias sem herança escolar, demonstram-se castradoras no sucesso escolar de
homens e mulheres, impulsionadora ao seu abandono, constata-se também um fosso na
educação de género, sendo evidente nas raparigas. Raparigas que procuram casamento
precoce como forma de estabilidade socioeconómica. (Mendes, Magano, & e Costa,
2020). Estabilidade nem sempre conseguida, pela dificuldade em encontrar emprego, e
na maioria salvaguardada pelo RSI (Rendimento Social de Inserção), (Santos, S. R., &
Marques, J. F. 2017).
A instrução escolar para a comunidade cigana não é prioritária, muito pelo contrário, é
encarada como uma obrigação legal. Obrigação, pois o modelo que ensino não está
pensado para minorias, mas sim para a maioria. O insucesso escolar da comunidade
cigana, é reflexo de políticas desajustadas e originárias de segregação social e espacial
Nesse sentido é fundamental que seja a sociologia, a realizar a análise, de modo que
identifique os pontos alvo para reflexão e ajuste, contribuindo para o conhecimento
sociológico, originando um investimento na escola inclusiva e motivadora, com
repercussão numa sociedade também mais inclusiva e democrática.
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BIBLIOGRAFIA
Mendes, M. M., Magano, O., & e Costa, A. R. (2020). «Ciganos portugueses: escola e
mudança social». Ciganos portugueses: escola e mudança social, Sociologia,
Problemas e Práticas, 93, pp. 109-126.
Mendes, M., Magano, O., & Candeias, P. (dezembro de 2014). Estudo Nacional sobre
as Comunidades Ciganas. Estudo Nacional sobre as Comunidades Ciganas,
Observatório das Comunidades Ciganas. Lisboa: Alto Comissariado para as
Migrações (ACM, IP).
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