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Simulado: Exercícios de Funções da Linguagem com Gabarito - Português


10 questões | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

Simulado Concurso Público - Exercícios de Funções da Linguagem com Gabarito - Português - Ensino Médio.
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345 resolveram 16 ótimo


41% acertos 122 bom
Nível Difícil 180 regular
2 gabaritaram 27 péssimo

1 Q55638 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

TEXTO I
A VERDADE SOBRE O NIÓBIO

Nossas reservas do minério valem mais que o pré-sal. Mas isso não significa grande coisa. Entenda.
Parece mágica. Você joga um punhadinho de nióbio, apenas 100 gramas, no meio de uma tonelada de aço - e a liga
se torna muito mais forte e maleável. Carros, pontes, turbinas de avião, aparelhos de ressonância magnética,
mísseis, marcapassos, usinas nucleares, sensores de sondas espaciais... praticamente tudo o que é eletrônico, ou
leva aço, fica melhor com um pouco de nióbio. Os foguetes da empresa americana SpaceX, os mais avançados do
mundo, levam nióbio. O LHC, maior acelerador de partículas do planeta, e o D-Wave, primeiro computador quântico,
também. Todo mundo quer nióbio - e quase todas as reservas mundiais desse metal, 98,2%, estão no Brasil. Nós
temos o equivalente a 842 milhões de toneladas de nióbio, que valem inacreditáveis US$ 22 trilhões: o dobro do PIB
da China, ou duas vezes todo o petróleo do pré-sal. Por isso, há quem diga que o nióbio pode ser a salvação do
Brasil, a chave para o País se desenvolver e virar uma potência global. Mas de que forma o nióbio é explorado hoje
em dia, e quem ganha com ele?
É verdade, como se ouve por aí, que estamos exportando nossas reservas a preço de banana? E, se esse metal vale
tanto, por que há tão pouca informação sobre ele? Há muitas lendas a respeito do nióbio. A mais importante: ele é,
de fato, um elemento estratégico e raro. Mas não se trata de uma fonte inesgotável de riqueza.
A filha de Tântalo
O nióbio foi descoberto em 1801 pelo cientista britânico Charles Hatchett, que o batizou de columbium, em
referência ao local de onde a amostra tinha vindo - Connecticut, nos Estados Unidos, numa época em que os poetas
ingleses se referiam ao país como Columbia. Anos depois, o nióbio foi confundido com o tantálio pelo químico inglês
William Hyde: ele afirmou que os dois elementos eram idênticos. Foi só em 1846 que outro químico, o alemão
Heinrich Rose, comprovou que eram coisas diferentes. Quando a confusão foi desfeita, os americanos continuaram
chamando o elemento de columbium, mas os europeus adotaram o nome nióbio: referência a Níobe, figura da
mitologia grega, filha de Tântalo (uma piadinha com o antigo debate nióbio versus tantálio).
No final do século 19, o nióbio começou a ser usado nos filamentos de lâmpadas, até descobrirem que o tungstênio
é mais resistente. A partir dos anos 1930, começaram a surgir pesquisas indicando que misturar nióbio com ferro era
uma boa ideia. Mas, para usá-lo em escala industrial, era preciso encontrar uma boa quantidade desse metal. Na
década de 1960, foi descoberta a primeira grande reserva do planeta: em Araxá, a 360 km de Belo Horizonte. Em
1965, o almirante americano Arthur W. Radford, integrante do conselho da mineradora Molycorp, convidou o
banqueiro brasileiro Walther Moreira Salles para montar uma empresa de extração e refino do nióbio. A Molycorp
tinha acabado de comprar algumas minas em Araxá. O brasileiro topou, e nasceu a Companhia Brasileira de
Metalurgia e Mineração (CBMM).
Como em 1965 o metal ainda não tinha utilidade comprovada, o governo militar deixou passar batido - e permitiu
que a CBMM, junto com os americanos, explorasse o nióbio à vontade. Aos poucos, Salles foi comprando a parte dos
americanos, o que os militares viram com bons olhos. Na década seguinte, a CBMM virou controladora mundial de
um mercado que nem sequer existia. Não existia, mas passou a existir: nos anos 1970, a empresa descobriu dezenas
de utilidades para o nióbio - que hoje é um dos principais negócios da família Moreira Salles (também dona do banco
Itaú).
A CBMM não vende o minério bruto, e sim uma liga chamada ferronióbio, que contém 2/3 de nióbio e 1/3 de ferro.
Além desse produto, seu carro-chefe, ela também comercializa dez outras formulações à base de nióbio. A empresa
tem 1.800 funcionários e lucra R$ 1,7 bilhão por ano. Em 2011, vendeu 30% de suas ações para um grupo de
empresas asiáticas, mas com restrições: os brasileiros mantiveram o controle da empresa, e não cederam nenhuma
informação técnica sobre o processamento do nióbio - um segredo industrial que tem 15 etapas e foi inventado pela
empresa dos Moreira Salles. "Ele envolve mineração, homogeneização, concentração, remoção de enxofre, remoção
de fósforo e chumbo, metalurgia, britagem e embalagem", explica Eduardo Ribeiro, presidente da CBMM. "Para
produzir o nióbio metálico, por exemplo, é necessário realizar uma última etapa em um forno de fusão por feixe de
elétrons, que atinge temperaturas superiores a 2.500 oC", diz.
Além da CBMM, há outra empresa explorando nióbio no País: a Anglo American Brazil, que opera em Catalão, Goiás.
Também há nióbio na Amazônia, mas ele ainda não começou a ser minerado. Só o que temos em Minas Gerais e
Goiás já é suficiente para abastecer toda a demanda mundial pelos próximos 200 anos. Os maiores compradores são
China, EUA e Japão, que pagam em média US$ 26 mil pela tonelada de nióbio (esse valor é uma estimativa, pois o
metal não é vendido em bolsas de commodities; o preço é negociado caso a caso, direto com cada comprador). Há
quem diga que esse valor é muito baixo - o ouro, por exemplo, é comercializado a US$ 40 mil o quilo. Se o nióbio é
tão útil, e o Brasil controla quase todas as reservas, não poderia cobrar mais caro? O governo brasileiro não deveria
exigir royalties sobre a venda? E por que apenas 10% das tubulações de aço do planeta usam nosso produto? Há
respostas para tudo isso.
Nada é perfeito
A primeira delas: o nióbio é substituível. Vanádio e titânio cumprem basicamente a mesma função. O vanádio é
encontrado na África do Sul, na Rússia e na China. O titânio está presente na África do Sul, na Índia, no Canadá, na
Nova Zelândia, na Austrália, na Ucrânia, no Japão e na China. Esses países preferem explorar suas próprias reservas
a depender de um mineral que é praticamente exclusivo de uma nação só - o Brasil. Em alguns casos, também é
possível trocar o nióbio por tungstênio, tântalo ou molibdênio. "Não há mercado para mais nióbio", afirma o
economista Rui Fernandes Pereira Júnior, especialista em recursos minerais.
Outra questão é que é preciso pouco nióbio para que ele faça sua mágica. "As reservas brasileiras são suficientes
para abastecer o mundo por séculos. Mas aquelas existentes em outras regiões do planeta, como o Canadá [que,
como a Austrália, também possui nióbio], também são", diz Roberto Galery, professor do departamento de
Engenharia de Minas da UFMG. Quer dizer: não adianta aumentar muito o preço do nióbio, pois os compradores
tenderão a optar por outros metais, nem tentar acelerar demais a exportação (pois aí haverá excesso de oferta de
nióbio, fazendo o valor desse metal despencar).
Há outra questão: o Brasil só exporta o nióbio em si. Não fabrica produtos derivados dele. "Ninguém está disposto a
pagar uma fortuna pelo nióbio, porque nós não conseguimos dar valor agregado a ele", diz o professor Leandro
Tessler, do Instituto de Física da Unicamp. "Nós repetimos nosso velho ciclo: vendemos matéria-prima e compramos
produtos prontos. Vendemos nióbio e compramos fios de tomógrafos, por exemplo." É um caso parecido com o do
silício. Nós temos as maiores reservas de areia do planeta (e é da areia que o silício é extraído), mas só exportamos
silício com 99,5% de pureza, menos que os 99,99999% exigidos pela indústria eletrônica.
E os royalties? O Brasil cobra pouco, mas cobra. O Estado fica com 2% do valor das exportações de nióbio - bem
menos do que a Austrália, que exige 10%. Nós poderíamos impor royalties mais altos (com o petróleo, por exemplo,
eles ficam entre 5% e 10%). Mas não há sinais de que isso vá ser feito. O Marco Regulatório da Mineração, que está
tramitando no Congresso desde junho, não traz nenhuma regra específica para o nióbio.
Depois de crescer 10% ao ano na década passada, o mercado mundial de nióbio está estável. A demanda é de 100
mil toneladas anuais, 90% fornecidas pelo Brasil. De todos os 55 minérios que o Brasil exporta, o nióbio é o único em
que somos líderes globais. Ele é o nosso terceiro metal mais exportado em valor financeiro (atrás do minério de ferro
e do ouro, e empatado com o cobre na terceira posição).
"O surgimento de novas tecnologias pode levar ao aumento do mercado de nióbio", diz Marcelo Ribeiro Tunes,
diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). Afinal, o consumo mundial cresceu cem vezes desde a década
de 1960, e é provável que a tecnologia continue a dar saltos (e encontrar novos usos para o nióbio) no futuro. Mas,
se quisermos explorar todo o valor dessa riqueza natural, precisamos aprender o que fazer com ela - e começar a
fabricar produtos mais sofisticados. "O Brasil deveria desenvolver a tecnologia desse material na medicina, nos
transportes, na engenharia", afirma Rui Fernandes Pereira Júnior. Do contrário, vamos continuar à mercê dos
compradores estrangeiros. Como sempre estivemos desde que, no comecinho do século 16, navegadores
portugueses descobriram a primeira de nossas commodities: uma madeira chamada pau-brasil.

(Texto de Tiago Cordeiro e Bruno Garattoniaccess. Extraído de https://super.abril.com.br/ciencia/a-verdade-sobre-o-


niobio/)

Quanto às funções da linguagem, no trecho "Todo mundo quer nióbio - e quase todas as reservas mundiais desse
metal, 98,2%, estão no Brasil. Nós temos o equivalente a 842 milhões de toneladas de nióbio, que valem
inacreditáveis US$ 22 trilhões: o dobro do PIB da China, ou duas vezes todo o petróleo do pré-sal." podemos afirmar
que ele apresenta a função: 

a) Conativa
b) referencial 
c) emotiva
d) poética

2 Q55639 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

O Auto Retrato
Mário Quintana

No retrato que me faço


- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco! 

No poema de Mário Quintana, há a predominância da função: 

a) Poética, uma vez que o emissor se preocupa com o sentimentalismo, a subjetividade. 


b) Referencial, porque o poema traz informações sobre a linguagem.  
c) Fática, pois o emissor procura no poema estabelecer comunicação com o seu interlocutor. 
d) Metalinguística, pois o emissor se volta para a própria linguagem para mostrar como ele faz o autorretrato.

3 Q55640 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

Não se enojem teus ouvidos


De tantas rimas em a,
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos, ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!

(VARELA, F. A flor do maracujá. In: Cantos e fantasias e outros cantos. São Paulo: Martins Fontes, 2003)

O excerto do poema de Fagundes Varela utiliza-se de recurso de linguagem, especificamente no segundo verso, que
se relaciona, do ponto de vista da classificação de Jakobson para as funções da linguagem, à função:

a) referencial, pois o comentário sobre a rima tem como objetivo acrescentar informação linguística a respeito da
estrutura do poema.
b) fática, pois a alusão às constantes repetições da rima serve para testar a atenção do leitor em relação ao
andamento do poema.
c) metalinguística, pois o comentário sobre a fonética das rimas do poema é um comentário sobre o próprio
código utilizado.
d) emotiva, pois a alusão às repetições da rima está associada aos sentimentos íntimos do poeta. 

4 Q55641 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

Sendo mortal e, por conseguinte, imperfeito, o homem sempre se verá como parte de uma realidade infinita que o
circunda e sempre se achará em luta contra ela. Volta e meia se defrontará com a contradição constituída pelo fato
de ser ele um ‘eu’ limitado e, ao mesmo tempo, fazer parte de um todo ilimitado.

FISCHER, Ernest. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar. p. 247.

Considerando o contexto do texto, assinale a alternativa correta. 

a) Enquadra-se, pelo apelo ao entendimento, na função fática. 


b) Trata-se de uma crônica de costumes, exemplificada principalmente pelas descrições. 
c) A tonalidade lírica do texto aponta-o para uma emotividade propícia à função poética da linguagem. 
d) Por ser um texto de caráter informativo-científico, apresenta elementos da função referencial da linguagem. 

5 Q55642 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

Natal na barca

Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que em redor tudo era silêncio e
treva. E que me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma
lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.
O velho, um bêbado esfarrapado, deitara-se de comprido no banco, dirigira palavras amenas a um vizinho invisível e
agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços a criança enrolada em panos. Era uma
mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a cabeça dava-lhe o aspecto de uma figura antiga.
Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante
não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra. Nem combinava mesmo com uma barca tão despojada, tão sem
artifícios, a ociosidade de um diálogo. Estávamos sós. E o melhor ainda era não fazer nada, não dizer nada, apenas
olhar o sulco negro que a embarcação ia fazendo no rio.
Debrucei-me na grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos
num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal.
A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então
alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água.
— Tão gelada — estranhei, enxugando a mão.
— Mas de manhã é quente.
Voltei-me para a mulher que embalava a criança e me observava com um meio sorriso. Sentei-me no banco ao seu
lado. Tinha belos olhos claros, extraordinariamente brilhantes. Reparei em que suas roupas (pobres roupas puídas)
tinham muito caráter, revestidas de uma certa dignidade.
— De manhã esse rio é quente — insistiu ela, me encarando.
— Quente?
— Quente e verde, tão verde que a primeira vez que lavei nele uma peça de roupa pensei que a roupa fosse sair
esverdeada. É a primeira vez que vem por estas bandas?
Desviei o olhar para o chão de largas tábuas gastas. E respondi com uma outra pergunta:
— Mas a senhora mora aqui por perto?
— Em Lucena. Já tomei esta barca não sei quantas vezes, mas não esperava que justamente hoje…
A criança agitou-se, choramingando. A mulher apertou-a mais contra o peito. Cobriu-lhe a cabeça com o xale e pôs-
se a niná-la com um brando movimento de cadeira de balanço. Suas mãos destacavam-se exaltadas sobre o xale
preto, mas o rosto era tranquilo.
— Seu filho?
— É. Está doente, vou ao especialista, o farmacêutico de Lucena achou que eu devia ver um médico hoje mesmo.
Ainda ontem ele estava bem, mas piorou de repente. Uma febre, só febre…
— Levantou a cabeça com energia. O queixo agudo era altivo, mas o olhar tinha a expressão doce. — Só sei que Deus
não vai me abandonar.
— É o caçula?
— É o único. O meu primeiro morreu o ano passado. Subiu no muro, estava brincando de mágico quando de repente
avisou, vou voar! E atirou-se. A queda não foi grande, o muro não era alto, mas caiu de tal jeito… Tinha pouco mais
de quatro anos.
Atirei o cigarro na direção do rio, mas o toco bateu na grade e voltou, rolando aceso pelo chão. Alcancei-o com a
ponta do sapato e fiquei a esfregá-lo devagar. Era preciso desviar o assunto para aquele filho que estava ali, doente,
embora. Mas vivo.
— E esse? Que idade tem?
— Vai completar um ano. — E, noutro tom, inclinando a cabeça para o ombro: — Era um menino tão alegre. Tinha
verdadeira mania com mágicas. Claro que não saía nada, mas era muito engraçado… Só a última mágica que fez foi
perfeita, vou voar! disse abrindo os braços. E voou.
Levantei-me. Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças, sem piedade. Mas os laços (os tais laços humanos) já
ameaçavam me envolver. Conseguira evitá-los até aquele instante. Mas agora não tinha forças para rompê-los.
— Seu marido está à sua espera?
— Meu marido me abandonou.
Sentei-me e tive vontade de rir. Era incrível. Fora uma loucura fazer a primeira pergunta, mas agora não podia mais
parar.
— Há muito tempo? Que seu marido…
— Faz uns seis meses. Imagine que nós vivíamos tão bem, mas tão bem. Quando ele encontrou por acaso essa
antiga namorada, falou comigo sobre ela, fez até uma brincadeira, a Ducha enfeiou, de nós dois fui eu que acabei
ficando mais bonito... E não falou mais no assunto. Uma manhã ele se levantou como todas as manhãs, tomou café,
leu o jornal, brincou com o menino e foi trabalhar. Antes de sair ainda me acenou, eu estava na cozinha lavando a
louça e ele me acenou através da tela de arame da porta, me lembro até que eu quis abrir a porta, não gosto de ver
ninguém falar comigo com aquela tela no meio… Mas eu estava com a mão molhada. Recebi a carta de tardinha, ele
mandou uma carta. Fui morar com minha mãe numa casa que alugamos perto da minha escolinha. Sou professora.
Fixei-me nas nuvens tumultuadas que corriam na mesma direção do rio. Incrível. Ia contando as sucessivas
desgraças com tamanha calma, num tom de quem relata fatos sem ter realmente participado deles. Como se não
bastasse a pobreza que espiava pelos remendos da sua roupa, perdera o filhinho, o marido e ainda via pairar uma
sombra sobre o segundo filho que ninava nos braços. E ali estava sem a menor revolta, confiante. Intocável. Apatia?
Não, não podiam ser de uma apática aqueles olhos vivíssimos, aquelas mãos enérgicas. Inconsciência? Uma obscura
irritação me fez andar.
[...]

TELLES, Lygia Fagundes. Antes do baile verde. 7 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982, p. 74-76. Fragmento. 

“Reparei em que suas roupas (pobres roupas puídas) tinham muito caráter, revestidas de uma certa dignidade.”
Ao personificar as roupas da mulher nesse trecho, a narradora se vale de um recurso comum à função da linguagem
denominada

a) fática.
b) poética.
c) referencial.
d) metalinguística.

6 Q55643 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

As formigas

Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas
ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço
da prima.
— É sinistro.
Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço
melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que
podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando
a creolina.
— Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.
A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda
japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas
encardidas. Acendeu um charutinho. — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha
direção.
— Estudo direito. Medicina é ela.
A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão
densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de
palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os
bordados salpicados de vidrilho.
Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a
seguíssemos. 
— O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava
sempre mexendo neles.
Minha prima voltou-se:
— Um caixote de ossos?
A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto.
Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que
entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o
teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima
largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
— Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
— Ele disse que eram de adulto. De um anão.
— De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados… Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E
tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão
perfeito, todos os dentinhos!
— Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão
usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na
cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou
ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse
encatarrada.
Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede,
com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha
prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no
lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação,
agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro
do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-
as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
— Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim
da semana começo a montar ele.
Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava
estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
— De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está
sentindo um cheiro meio ardido?
— É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se
na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no
quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente
algum ponto do assoalho.
— Que é que você está fazendo aí? — perguntei.
— Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta,
atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como
um exército em marcha exemplar.
— São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.
— Só de ida.
Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
— Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.
— Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
— Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você,
levava isso lá pra fora.
— Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos.
Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.
Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando
no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o
cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
— Esquisito. Muito esquisito.
— O quê?
— Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E
agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
— Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá.
No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da
matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa
desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.
[...]
TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94.
Fragmento.

“Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no
meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre.”

Nesse fragmento, verificam-se duas marcas da função da linguagem denominada

a) poética.
b) emotiva.
c) conativa.
d) referencial.

7 Q55644 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

Cotovia

Alô, cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que saudades me deixaste?
– Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe...
Voltei, te trouxe a alegria.

Os melhores poemas de Manuel Bandeira. SP, Global, 1994, p. 130.

Em cada mensagem, podem-se encontrar elementos envolvidos correspondentes a diferentes funções da linguagem.
Pela estrutura linguística, marcada tanto pelas formas verbais e pronominais, quanto pelo emprego de figuras de
linguagem, na estrofe predominam as funções da linguagem

a) apelativa e fática, centradas no receptor e no contato.


b) emotiva e poética, centradas no emissor e na mensagem.
c) referencial e apelativa, centradas no contexto e no contato.
d) emotiva e metalinguística, centradas no emissor e no código.

8 Q55645 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

O que é hipercorreção?

A hipercorreção é um fenômeno de linguagem muito comum entre pessoas que se deram conta da existência de
"outro falar" muito mais prestigiado que o seu. Essas pessoas também desejam ser usuárias dessa forma
prestigiada, do "falar mais correto". Para tal, esforçam-se em "corrigir" sua fala e acabam incorrendo no erro de
corrigi-la demasiadamente. (...).
(BORTONE, M. E. e ALVES, S. B. O fenômeno da hipercorreção. In.Bortoni-Ricardo, S. M. et all. Orgs. São Paulo:
Parábola editorial, 2014, p.130)

No texto acima, a função da linguagem que predomina é a função

a) Referencial.
b) Conativa.
c) Metalinguística.
d) Fática.

9 Q55646 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

A função de linguagem que mostra uma relação equivocada com o elemento da teoria da informação é: 

a) emotiva ou expressiva / emissor;


b) metalinguística / código;
c) apelativa ou conativa / contato;
d) fática / canal;

10 Q55647 | Português, Funções da Linguagem, Ensino Médio

Quanto às funções da linguagem, assinale a alternativa incorreta:

a) “Semente do futuro”. Essa construção, que lembra uma pelota felpuda, na realidade tem 20 metros de altura e
é inteirinha coberta por varas de acrílico, que balançam ao sabor do vento. O curioso é que em cada uma delas
estão guardadas algumas sementinhas e são mais de 60 mil, vindas de plantas variadas. O cubo faz parte do
pavilhão do Reino Unido na Shangaí World Expo, a Feira Universal que acontece na China até outubro. A ideia do
evento, que ocorre desde 1851, é que países de todo o planeta compartilhem seus aspectos culturais,
tecnológicos e econômicos. A edição de 2010 tem o tema “Uma cidade melhor, uma vida melhor”, e a construção,
apelidada de “Seed Cathedral” (Catedral da Semente) representa a importância da diversidade da Terra. Durante o
dia, cada vara de mais de 7 metros atua como fibra óptica, levando luz ao seu interior. À noite as fibras se
iluminam criando uma atmosfera de respeito e devoção aos recursos do planeta. No fim da feira, os visitantes
poderão plantar as sementes ali guardadas e todo o material usado na construção do cubo será reciclado e
reutilizado. (Vida Simples – 2010). Função referencial ou denotativa.
b) “Quando o passado é um pesadelo”. Tomado pela costumeira pressa de repórter, eu tinha que fazer, a toque
de caixa, imagens do museu para compor a minha matéria. Quando chegamos ao primeiro corredor, o eixo da
continuidade, tentei pedir algo a Bárbara, funcionária do museu que nos acompanhava. Não consegui falar. Tudo
foi se desfazendo, todos os sentimentos e emoções, e também as racionalizações, reflexões ou desalentos
mediados pelo intelecto. Tudo foi se desvanecendo dentro de mim e um grande vazio, um vácuo que sugava a si
próprio, se formou qual redemoinho em meu peito, até explodir num jorro de pranto, num colapso incontrolável.
Não tive condições de prosseguir com o cinegrafista Fernando Calixto. Procurei um lugar onde esgotar as lágrimas
e tentava me explicar, repetindo aos soluços: “Pela metade, não. Não vou conseguir fazer meia visita. Pela metade,
não. Ou encaro todo o périplo ou vou embora”. Não consegui nem uma coisa nem outra. Nem parei de chorar,
nem me recompus; não me atrevi a percorrer todos os corredores, nem tampouco resisti a penetrar nos espaços
desconcertantes do Museu Judaico de Berlim. (Pedro Bial). Função emotiva ou expressiva.
c) São Paulo está embaixo de água. A culpa não é da chuva. É de quem coloca lixo fora do lugar. Pense nisso. Faça
a coisa certa. Jogue o lixo no lixo. (Prefeitura de São Paulo). Função conativa ou apelativa.
d) Pronome, palavra que representa um nome, um termo usado com a função de um nome, um adjetivo ou toda
uma oração que a segue ou antecede. (Houaiss Dicionário). Função poética.

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Deixe seu comentário (1)

Por dilma alves cunha carvalho em 02/09/2021 17:58:49


Boa tarde! Gostei demais do conteúdo,obrigada!

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