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Casa-Abrigo para mulheres vítimas de violência

House shelter for women victims of violence

Paula Di Mingo dos Santos Souza1


Bruno Fernandes2
Lucas Abranches3

RESUMO

O estudo apresentado neste trabalho tem como objetivo promover um espaço seguro e
confortável afim de resguardar a mulher vítima de violência doméstica. O projeto parte da intenção
de se identificar o público alvo abordado, analisar suas deficiências, desenvolver por meio da
arquitetura formas de potencializar o empreendimento e explorar conceitos e aplicabilidades
biofílicas ao projeto. Por motivo de diversas mobilizações de grupos de mulheres que lutam para
combater a violência, feminicídio, entre outras, o assunto vem ganhando cada vez mais
visibilidade, mas, ainda assim é necessário ir adiante e estabelecer locais que acolham estas
mulheres. A partir do referencial teórico e embasamento, de acordo com as pesquisas realizadas ao
longo do artigo avançaremos com o desenvolvimento para elaboração de projeto arquitetônico
aspirando significativamente a reinserção da mulher na sociedade.

Palavras-chave: Casa. Abrigo. Mulher. Violência. Doméstica.

1
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo. E-mail: pauladimingo@gmail.com
2
Orientador Professor Doutor (FAUSP) Bruno Fernandes
3
Coorientador Professor Mestre (PROAC-UFJF) Lucas Abranches
1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo fornecer abrigo à mulher em situação de risco e de
violência. A causa vem ganhando cada vez mais espaço na mídia e meios de comunicação, uma
vez que os números vem crescendo exponencialmente, tornando a causa urgente e de preocupação
em todas as esferas de poder público.

“O presente documento tem por objetivos resgatar a Casa-Abrigo como espaço de


segurança, proteção, (re) construção da cidadania, resgate da autoestima e empoderamento
das mulheres, a partir de valores feministas. Além disso, após a sanção da Lei Maria da
Penha, é fundamental e necessário redefinir, em linhas gerais, o atendimento nas Casas-
Abrigo. Assim como é necessário ampliar o conceito de ‘abrigamento’”. Diretrizes
nacionais para o abrigamento de mulheres em situação de risco e de violência. Secretaria
de Políticas para as Mulheres / Presidência da República (SPM/PR) 2011.

O intuito da proposta é garantir amparo para um número significativo de mulheres, uma


vez que a cidade de Juiz de Fora é um centro de apoio para a região (microrregião de Juiz de Fora
possui mais 750 mil habitantes – CENSO, 2010). A Lei Maria da Penha foi um marco para o
combate à violência doméstica, entretanto, a partir de sua promulgação o número de casos
aumenta exponencialmente e, o serviço disponibilizado pela cidade já não é o suficiente diante o
cenário atual.

2 JUSTIFICATIVA

Fundamentada a partir do entendimento e necessidade de amparo sócio-político, a Casa-


Abrigo une a necessidade do acolhimento da mulher enquanto as mesmas reúnem condições para
retomar o curso de suas vidas. Estes locais são, por muitas vezes, sigilosos, onde os serviços
prestados não são apenas às mulheres, mas também aos filhos, uma vez que são autorizadas a
levarem os filhos para o local. Desta forma, o local proposto tem como objetivo tratar as questões
pontuadas por meio de tratamentos psicológicos, requalificação em áreas de trabalho, oferecer
atendimento jurídico e atenção de enfermagem. Por se tratar de um serviço público de longa
duração, a estadia pode variar de um período de 90 a 180 dias.

2
Figura 1 – Principais diferenças entre Casa-Abrigo e Casa de Acolhimento.

Fonte: Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres Secretaria de Políticas


para as Mulheres

Em contato com a Casa da Mulher de Juiz de Fora para reunir informações sobre a
realidade das protagonistas deste estudo, desenvolveu-se um estudo onde fora pautado pontos que
deveriam ser levados em consideração para o projeto de uma Casa Abrigo. Entre eles, foi de
comum acordo que o local deveria sigiloso, mas, também de fácil acesso. Entendendo o caráter
público para o atendimento à mulher vítima de violência, foi levado em consideração que o
atendimento deve ser abrangido à toda mulher cis e trasngênero que se encontra em situação de
violência doméstica e familiar sob risco de morte (acompanhada ou não de seus filhos/as).

3 OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

A pesquisa tem por objetivo elaborar a fundamentação teórica para o desenvolvimento de


um projeto de Casa-Abrigo para mulheres vítimas de violência na cidade de Juiz de Fora, Minas
Gerais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Especificamente temos como objetivo:

● Identificar o público alvo;


3
● Analisar a carência atual nos meios pré existentes;
● Desenvolver as intenções projetuais em acordo às especificidades de uma obra
pública;
● Explorar formas de desenvolvimento psicológico por meio da arquitetura
biofílica.

4 PÚBLICO ALVO
Levando em consideração o contexto geral do projeto, o mesmo se dirige a fornecer
acolhimento a mulheres que sofreram violência nos âmbitos doméstico e familiar: física, sexual,
patrimonial, moral e psicológica. É importante ressaltar que a Casa-Abrigo em desenvolvimento
neste trabalho será um ponto de apoio a toda a microrregião de Juiz de Fora e, se necessário, da
zona da mata. A expectativa é potencializar o número de abrigadas - atualmente, o serviço
oferecido pela Casa da Mulher existente na cidade já registrou mais de 16 mil atendimentos
(BERNADETE, 2020).

5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O Brasil ocupa o 7º lugar no ranking de maior número de vítimas de violência doméstica,


e, por ano, acumula mais de 120.000 casos de denúncias de maus tratos envolvendo crianças e
adolescentes como consequência de tais atos. (RUFATO, El país, 2015).
“A violência contra as mulheres constitui-se em uma das principais formas de violação dos
seus direitos humanos, atingindo-as em seus direitos à vida, à saúde e à integridade física.
Homens e mulheres são atingidos pela violência de maneira diferenciada. Enquanto os
homens tendem a ser vítimas de uma violência predominantemente praticada no espaço
público, as mulheres sofrem cotidianamente com um fenômeno que se manifesta dentro de
seus próprios lares, na grande parte das vezes praticado por seus companheiros e
familiares.” https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-
violencia/pdfs/politica-nacional-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres

A partir do trabalho de pesquisa realizado até agora, foi possível constatar a deficiência em
informações tanto a nível local quanto nacional acerca da realidade vivida pelas residentes das
Casas-Abrigo. As informações surgem em camadas previstas, principalmente nos órgãos
constituintes onde, em tese, são elaboradas propostas que viabilizem o “escopo teórico” dos
espaços, sendo eles considerados de baixa e média/longa permanência, como consta na cartilha
“Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e Violência”. Em
suma, parametrizam os objetivos e as especificidades de cada local citado anteriormente.

4
“As Diretrizes Nacionais de Abrigamento às Mulheres em situação de Violência, portanto,
referem-se ao conjunto de recomendações que norteiam o abrigamento de mulheres em
situação de violência e o fluxo de atendimento na rede de serviços, incluindo as diversas
formas de violência contra a mulher (tráfico de mulheres, violência doméstica e familiar
contra as mulheres, etc) e novas alternativas de abrigamento (tais como, abrigamento
temporário de curta duração/“casa de passagem”, albergues, benefícios eventuais,
consórcios de abrigamento, etc” https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-
violencia/pdfs/diretrizes-nacionais-para-o-abrigamento-de-mulheres-em-situacao-de-
risco-e-de-violencia”

A contextualização do cenário de violência contra a mulher ocorre estruturalmente, uma


vez que a mulher sempre fora tratada com inferioridade, dependendo inteiramente do homem. Não
é preciso ir muito longe para se entender que a maioria dos casos ocorre no fértil solo do espaço
doméstico (CARVALHO, 2010 p.29).

6 METODOLOGIA

Para o cumprimento de dos objetivos apresentados ao longo do estudo é necessário que uma
pesquisa seja realizada em caráter exploratório com pessoas diretamente ligadas ao tema,
envolvidas com a Casa da Mulher e a Delegacia da Mulher, culminando em depoimentos reais e
representativos. A utilização dos instrumentos disponíveis se dará por meio de entrevistas,
pesquisas bibliográficas, estudo de caso e, se possível, pesquisa de campo. O objeto de estudo, tal
como ponto focal do trabalho, é a Casa-Abrigo.

MÉTODOS

Os métodos utilizados são referentes a coleta de dados, sejam fontes primárias (leis, normas
federais, pesquisas de órgãos federais) ou secundárias (reportagens, dados informativos e artigos)
como forma de garantir o embasamento necessário para o desenvolvimento do projeto. A intenção
é realizar entrevistas exploratórias com os envolvidos nos locais já existentes na cidade e embasar
estatísticas para reconhecimento prévio do panorama geral. A pesquisa de campo é um importante
meio de coleta de informações, por se tratar de uma investigação empírica, realizada no local exato
onde se daria a construção do objeto arquitetônico.

5
7 ESTUDOS DE CASO

Serão abordados dois projetos arquitetônicos que serviram de base para o estudo do
anteprojeto, onde foram diagnosticados pontos específicos de interesse, seja pela forma
construtiva, pelo caráter arquitetônico ou por sua forma de agregar valores e oportunidades às
usuárias das Casas-Abrigo.

1.1 Abrigo para Vítimas de Violência Doméstica / Amos Goldreich Architecture + Jacobs
Yaniv Architects (ARCHDAILY)

Localizado na cidade de Tel-Aviv, Israel, o abrigo é marcado, principalmente pela


experiência que a mulher e seus filhos são condicionados. O abrigo conta com "family rooms"
para abrigar até 24 residentes ao mesmo tempo, sanitários, cozinha compartilhada, refeitório
compartilhado, área de televisão, lavanderia, salas multiuso, consultório para atendimentos
diversos, berçário, depósitos e um pátio interno central. A estrutura do prédio se dá por alvenaria
e finalização em tijolos de silicato. Desta edificação, buscou-se trazer como referência a integração
do “courtyard” os setores da edificação e as casas independentes (“family rooms”).

Figura 2 – Pátio interno integrador.

Fonte: Archdaily

6
Figura 3 – Planta Baixa manipulada

Desenvolvido pela autora (2021) Fonte: Archdaily4

1.2 Casa Albergue KWIECO / Hollmén Reuter Sandman Architects (ARCHDAILY)

Localizada na Tanzânia, a casa, fundada em 1987, presta serviços de assessoramento sobre


questões jurídicas, de saúde, sociais e econômicas às mulheres.

“Assim como no resto da África, as mulheres em Kilimanjaro são muito vulneráveis às


violações de seus direitos à vida, à liberdade e à segurança. A violência contra as mulheres
é permitida pelas atitudes sociais e culturais; a lei não consegue proporcionar segurança
adequada contra a violência, nem é capaz de promover atitudes favoráveis para que a
mulher goze de seus direitos fundamentais." Publicado em 19 de outubro de 2015
https://www.archdaily.com.br/br/775596/casa-albergue-kwieco-hollmen-reuter-sandman-
architects?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects

O abrigo conta com quartos individuais, sanitários, fraldário, uma cozinha/refeitório

4
Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/895789/abrigo-para-vitimas-de-violencia-domestica-amos-
goldreich-architecture-plus-jacobs-yaniv-architects?ad_source=search&ad_medium=search_result_all> Acesso em
06/04/2021
7
lavanderia, 4 salas, depósitos, pátio interno central e espaços externos. O programa se desenvolve
em torno do pátio interno, em decorrência às condições climáticas. As estruturas da cobertura e
das caixas d’água são metálicas, o piso em cimento queimado, vedações em alvenaria com garrafas
translúcidas de vidro colorido e esquadrias de madeira e palha.
A relevância deste projeto para a pesquisa se destaca tanto por sua função social,
desempenhada pelo projeto em desenvolvimento, quanto pelas decisões projetuais
agregadas à arquitetura de baixo custo. São utilizados materiais locais, energias renováveis,
mão de obra e saber local, assim como o planejamento participativo O pátio existente se
torna o foco principal do projeto, proporcionando maneiras de desenvolver de acordo com
a necessidade. A integração direta com a natureza é, um dos pontos fortes do terreno, ainda
que podendo ser melhor aproveitada.

Figura 4 – Áreas de convívio Casa Albergue Kwieco

Fonte: Archdaily

8
Imagem 5 – Planta baixa manipulada

Desenvolvido pela autora (2021). Fonte: Página Archdaily5


Figura 6 – Interligação de espaços.

Fonte: Archdaily

5
Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/775596/casa-albergue-kwieco-hollmen-reuter-sandman-
architects?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects. Acesso em 06/04/2021
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8 PROGRAMA DE NECESSIDADES

O programa de necessidades foi idealizado com base no conceito de abrigamento, para


que a mulher em situação de violência que procura por ajuda, possa encontrar o adequado apoio.
É necessário levar em consideração que o projeto em andamento refere-se a uma obra pública,
dessa, muitas vezes os recursos são escassos, a mão de obra é limitada e os avanços tecnológicos
baseiam-se em utilidades comuns ao dia a dia. Não por isso a arquitetura destes lugares não deve
ser funcional e voltada para os interesses do usuário.
A Casa-Abrigo será dividida em 5 setores, sendo eles: setor administrativo, setor de
atendimento básico, setor social/área comum, setor educacional/aprimoramento e setor de
moradia/alojamentos. A separação do projeto em setores visa o entendimento de cada área com
suas determinadas limitações e necessidades, culminando com o tipo de atividade que será
exercida em cada um dessas áreas.
Tabela 01: Programa de Necessidades
Setor Ambiente Quantidade Área (m²)
Secretaria 1 30
Diretoria 1 10
Reunião 1 15
Administrativo Advocacia 1 10
Segurança 1 10
Sanitário 2 5
= 85 m²
Enfermaria 1 30
Atendimento
1 15
psicológico adulto
Atendimento
1 15
Atendimento Básico psicológico infantil
Assistente social 1 15
Berçario 1 30
Sanitário 2 5
=115m²
Jardim 1 100
Playground 1 50
Social/ Área Sala de estar/visitas 1 40
Comum Sala multiuso 1 40
Sanitário 6 5
Cozinha coletiva 1 50
10
Horta coletiva 2 30
Refeitório 1 80
Armazenamento 2 10
Lavanderia 1 20
DML 1 20
Departamento de
1 10
lixo

Departamento de gás 1 10

=530M²
Sala multiuso adulto 5 20
Sala multiuso
3 20
infantil
Sala informática
2 20
adulto
Sala informática
2 20
Educacional infantil
Biblioteca 1 40
Box para
5 20
especializações
Ateliê para
1 80
atividades manuais
=460m²
Dormitório 20 10
Moradia tipo I / Sala de estar 10 10
residência
multifamiliar *
podendo ser
adaptada para Banheiro 10 5
utilizações
individuais
=350m²
Moradia tipo II / Dormitório 5 15
residência Sala de estar 5 15
unifamiliar *sendo Banheiro 5 8
2 destinadas a PNE =190m²
Metragem total= 1.730m²

Fonte: Desenvolvido pela autora

9 DIAGNÓSTICO DO TERRENO

Para entendimento do local abordado é necessário compreender suas especificidades e


11
destrinchar seus pontos de interesse, suas condicionantes e particularidades. Com isso, serão
apresentados uma série de mapas e informações evidenciando pontos importantes e dados de
referência para elaboração do anteprojeto. Para melhor entendimento das imagens, houveram
manipulações gráficas com o intuito de garantir a compreensão do público.
Localizado no Brasil, no estado de Minas Gerais, cidade de Juiz de Fora, o terreno
abordado neste estudo localiza-se no bairro Santa Terezinha, na rua Santa Terezinha, de
número 505, servindo atualmente como estacionamento e apoio à Cesama e, até o dado
momento, não existe qualquer edificação ou intenção de construção em andamento.
Figura 7 – Fachada atual

Fonte: Google Maps/ Street View

Figura 8 – Hidrografia e vegetação

Desenvolvido pela autora (2021). Fonte: Google Maps/ Street View


A figura mostra a influência da mata adensada nas proximidades do terreno e o rio
Paraibuna, que corre aos fundos do local, o que impactará na edificação de maneira significativa
devido às restrições previstas na Lei de Parcelamento de Solo Urbano, presente no Código
12
Florestal Brasileiro. O terreno não possui nenhuma curva de nível natural.

1.1 Vias, Pontos de Interesse e Uso e Ocupação;


Ao adentrar o bairro Santa Terezinha em direção ao terreno, as ruas se tornam mais lentas
e cada vez menos movimentadas, fazendo com que o ambiente escolhido seja de maior interesse
para fins protetivos.
Figura 9 – Rua principal

Fonte: Google Maps/ Street View

A proximidade com os equipamentos urbanos (shopping Jardim Norte, Rodoviária São


Dimas) torna o local um ponto interessante do ponto de vista de apoio, uma vez que o deslocamento
é necessário por diversas ocasiões, contudo, ainda que próximo desses locais, por se encontrar
adensado ao bairro, a área trabalhada é um local de movimento leve. O bairro no qual o terrado
fora implantado é formado por residências plurifamiliares, comércio e serviços de pequeno porte,
instituições, áreas industriais e de uso misto um pouco mais afastadas.
Estes dados corroboram o previsto em lei pela Legislação Urbana de Juiz de Fora onde
prevê-se zona comercial 5, contemplando potencial máximo construtivo em M3, coeficiente de
aproveitamento de 1,8 a 2,4, taxa de ocupação de 65%, afastamento frontal mínimo de 3 metros,
lateral podendo ser uma divisa colada e a outra com mínimo 1,5 metro e fundos com 2 metros6.

6
Compilação da Legislação Urbana - Atualização - Fevereiro 2019 - Secretaria de Atividades Urbanas - Prefeitura
de Juiz de Fora - 364 p. e 3 anexos. Acesso e 14/06/2021
13
1.1 Levantamento do Terreno e Condicionantes;
A partir da análise de pontos relevantes para a justificativa da escolha do terreno foi
realizado o estudo preliminar ressaltando pontos de vulnerabilidade, definindo limites e
ponderando a respeito das direções de ventos e pontos de insolação.

Figura 10 – Estudo de Condicionantes

Desenvolvido pela autora (2021). Fonte: Autocad/Arquivo Pessoal/ Sem escala

De acordo com a figura 11, os ventos predominantes têm o sentido norte-sul, onde
possibilita projetar aberturas de janelas e portas nas respectivas fachadas, contribuindo para
ventilação natural. É possível verificar a linha que delimita a Área de Preservação Permanente
(APP), prevista no Código Florestal Brasileiro (2012) onde o mesmo resguarda proteção de faixas
marginais de qualquer recurso d’agua em largura mínima de 50 metros, contanto que tenham de
10 a 50 metros de largura, como é o caso do trecho em questão do Rio Paraibuna, que conta com
aproximadamente 25 metros de largura. A APP em questão conduz o projeto a decisões baseadas
em suas determinações, uma vez são áreas legalmente protegidas.

“Conforme definição da Lei n. 12.651/2012, Área de Preservação Permanente é uma área


protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.”

14
Lei 4771/1965. Código Florestal Brasileiro [on line]
http://www.planalto.gov.br/ccivil03/leis/L4771.html.

A partir do estudo de insolação, destaca-se a projeção do caminho exercido pelo sol ao


longo do dia, porém, seu percurso sofre alterações a partir da estação do ano considerada, portanto
é importante que as decisões esboçadas sejam levadas em consideração independendo da estação
em que se encontram. Por ser um local suscetível a enchentes e em diversas ocasiões ter sido
alagado, é necessário que o local seja tratado como suscetível a enchentes pluviais, escoamento
superficial e/ou transbordamento de esgoto (BUXTON,2017).

10 PRINCÍPIOS E DECISÕES PROJETUAIS

Esta etapa tenciona definir a demarcação de setores, fluxos e introduzir estratégias e


métodos utilizados para a elaboração do anteprojeto. Por meio de princípios biofílicos,
sustentabilidade e uma arquitetura inclusiva, o projeto tende a se desenvolver de forma orgânica
respeitando o potencial do terreno e suas limitações por tratar-se de uma obra pública.
A partir do entendimento do anteprojeto como uma edificação, é necessário relembrar
que a mesma fora subdividida em cinco setores (vide programa de necessidades). Será necessário
entender as especificidades e estratégias que serão trabalhadas em cada uma dessas áreas de forma
isolada, sendo elas:

1.2 Área Administrativa


1.3 Área de Saúde
1.4 Área Comum
1.5 Área Educacional
1.6 Alojamentos

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Figura 11 – Fluxograma

Desenvolvido pela autora (2021). Fonte: Autocad/Arquivo Pessoal/ Sem escala

O projeto traz um método construtivo habitual, a alvenaria convencional (ou de vedação),


para a área administrativa, de saúde, área comum e educacional, uma vez que possui diversas
vantagens, dentro elas, grande disponibilidade de mão de obra e materiais e é facilmente adepta a
reformas e mudanças. Em contrapartida, na área residencial a utilização de contâiners endossa o
princípio de se aproximar de preceitos sustentáveis, – que serão perpetuados em diversas áreas do
projeto – a fácil maleabilidade de layouts que objeto proporciona e a economia, obtêm um
resultado em 40% do tempo (LOCARES, 2018).
“A utilização de containers na construção de residências apresenta inúmeras características.
No quesito sustentável, há o reaproveitamento de containers marítimos que não seriam mais
utilizados, dando nova vida a esses materiais destinados a apenas descarte no meio
ambiente. No tocante ao nível operacional, a construção se torna bastante rentável,
diminuindo o elevado tempo de execução do modo tradicional, além de gerar um percentual
bem menor de resíduos. Já a nível habitacional, os moradores podem desfrutar de um
mesmo espaço interno e conforto de construções convencionais, mas com o acréscimo da
inovação arquitetônica aliada à consciência ambiental.” Containers na construção civil:
uma alternativa viável para habitações frente ao método convencional/ José Luiz Felipe
Malaquias. – João Pessoa, 2018

A construção civil dispõe de uma série de contâiners disponíveis no mercado, divergindo


em medidas e, hoje os containers são de 40 e 20 pés. Dos containers de 20 e 40 pés, a diferença
principal entre eles é o comprimento. O contêiner de 20, tem um comprimento interno de 5,9

16
metros, enquanto o contêiner de 40 atinge 12 metros. Hoje, as leis que regem a construção em
container são idênticas a qualquer outro modo de construção onde são exigidos os mesmos
procedimentos legais de construções convencionais.

11 IMPLANTAÇÃO SETORIZADA

A segurança é um dos fatores chave para a proposta de anteprojeto em questão, contudo,


a intenção é não parecer um confinamento, mas sim um lar, por conseguinte, o anteprojeto possui
setores independentes e interligados, de forma a se conectarem todos à área comum. Afim de
prevenir e assegurar o local, fora decidido que a implantação dos locais de maior utilização pelas
habitantes ficaria recuada para os fundos do terreno, na porção oeste, onde haverá maior integração
com a natureza abrangendo as intenções biofílicas ao projeto.
Com o intuito de entender as utilizações e fluxos futuros no projeto, foi analisado a forma
com que funcionários e terceiros terão acesso à edificação e como esse fluxo afetaria o cotidiano
das residentes. A partir desses dados, foi criado um mapa demonstrando o fluxo pode ser
controlado garantindo um mínimo de exposição.

Figura 12 – Fluxograma

Desenvolvido pela autora (2021). Fonte: Autocad/Arquivo Pessoal/ Sem escala


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A proximidade do terreno com órgãos públicos se tornou peça chave para a escolha, uma
vez que a segurança é fator primordial em um abrigo onde as moradoras já se encontram
debilitadas e muitas vezes em situações de risco. A intenção é garantir um local seguro, de fácil
acesso e que não esteja distante de equipamentos públicos que certamente serão utilizados pelas
moradoras, como instituições de ensino, segurança e bem estar. Existem pontos de ônibus ao longo
do bairro, o que torna o acesso ao serviço público facilitado. A iluminação pública presente é
distribuída por postes do lado contrário da rua e existe um local para escoamento de água em frente
à atual entrada do terreno.

12 CONCEITO

Dispõe-se a partir desta etapa a intenção de promover um espaço acolhedor e confiável


como forma de resguardar a mulher. Partindo da oportunidade territorial proporcionadas, serão
utilizadas diversas estratégias paisagísticas para compor um ambiente sensorial, aliando conceitos
biofílicos e desenvolvimento de estímulos cognitivos. O projeto será delineado a partir de
edificações independentes, interligadas, de um pavimento.

13 PARTIDO

Partindo do entendimento dos dados coletados até o dado momento e o resultado do


agrupamento de necessidades e premissas que norteiam este estudo de caso, evoluímos o Partido
Arquitetônico. O resultado é a junção do contexto objetivo do programa (interpretação dos
condicionantes) adicionado à intenção plástica do projetista (SILVA,1991). Com isso, definimos
os pontos focais que condicionarão as respostas projetuais, sendo eles:

2.1 OBRA PÚBLICA

Por se tratar de uma obra de interesse público, no projeto estudado são considerados
diversos fatores delimitadores para o desenvolvimento da obra, tais como baixa manutenção de
material e mão de obra de fácil acesso. Deve ser levado em consideração o fácil acesso aos
materiais e a durabilidade, é necessário que haja um planejamento adequado e atenção à escolha
dos materiais, por envolver fiscalização dos órgãos públicos e a manutenção nem sempre ocorrer

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no tempo necessário, dependendo assim das instituições relacionadas.

2.2 JARDINS TERAPÊUTICOS

O terreno analisado é um espaço de proporções grandiosas para a execução de uma Casa-


Abrigo, portanto, partindo de conceitos abordados posteriormente, o paisagismo fará parte do
conceito de forma genuína, transformando o estudo em um projeto Paisagistico-Urbano. Serão
utilizados espécies de flora regional aliadas ao bem estar e desenvolvimento de estímulos
cognitivos. Considerando os benefícios biopsicossociais decorrentes da interação
homem/natureza, o biólogo norte-americano Edward Osborn Wilson (1922) interliga os seres
humanos a uma ligação emocional genética inata com a natureza.

“O termo inato é usado para significar que essa ligação emocional deve estar nos nossos
genes, ou seja, tornou-se hereditária, provavelmente porque 99% da história da humanidade
não se desenvolveu nas cidades mas em convivência íntima com a natureza.”
http://www.holoseditora.com.br/detalhes.asp?Id=31 acessado em 23 de maio de 2021

Os aspectos biofílicos são aplicados sobretudo ao aspecto emocional, contudo, diante as


limitações impostas ao atendimento de aspectos de biossegurança, propõe-se inserir uma horta
orgânica sensorial e trabalhar com jardins como espaço terapêutico (JARDIM TERAPÊUTICO
DA UNIVERSIDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DE ALNARP, 2006). O projeto planeia
tornar a APP foco principal para as atividades relacionadas a abordagens psicológicas e locais de
descompressão.
Figura 13: Implantação em perspectiva

Desenvolvido pela autora (2021). Fonte: SketchUp/Arquivo Pessoal/ Sem escala


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2.3 SEGURANÇA

A segurança é um dos fatores chave para a proposta do anteprojeto em pauta, por


conseguinte, o anteprojeto possui setores independentes e interligados, de forma a se conectarem
todos à área comum, delimitando assim acessos restritos e independentes às áreas técnicas onde o
contato com o público exterior é necessário. Para que haja permeabilidade e plena circulação das
mulheres abrigadas, as áreas públicas se limitarão ao estacionamento na entrada, ligando-o
diretamente à administração e um estacionamento para funcionários próximo à área de carga e
descarga no afastamento lateral direito da edificação.

14 CONCLUSÃO

Espera-se, como resultado da Casa-Abrigo para mulheres vítimas de violência, a execução


de um projeto estrategicamente voltado ao bem estar físico e mental, aplicando os conceitos
pautados ao longo deste artigo, como forma de garantir às usuárias e seus filhos uma estadia segura
e acolhedora. É necessária uma ressignificação quando nos referimos a abrigos, não os vendo como
uma prisão e sim como oportunidade de garantir amparo e o pleno desenvolvimento pós episódio
traumático.

20
REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social. Lei nº8.742, de 7 de dezembro de 1993.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L8742.htm>. Acesso em:
24/06/2021.

CARVALHO, Quitéria. Mulheres Vítimas de Violência Sob Proteção do Estado: uma


aproximação Hermenêutica. 2010. Tese (Doutora em Enfermagem) - Universidade Estadual
do Ceará, Fortaleza, 2010.

Casa Abrigo. Secretaria de Estado da Mulher 2017.Disponível em:


<http://www.mulher.df.gov.br/casa-abrigo/>. Acesso em: 10/03/2021

Casas Abrigo: Como funcionam os refúgios para mulheres vítimas de violência doméstica.
Justificando, 2018. Disponível em: http://www.justificando.com/2018/11/19/casas-abrigo-
como-funcionam-os-refugios-para-mulheres-vitimas-de-violencia-domestica/. Acesso em:
10/03/2021

Casa Abrigo : Acolhimento e Suporte as Mulheres Vítimas de Violência em Porto Nacional -. /


Maria Caroline Silva Abreu. – Palmas, TO, 2019.109 f.

Casa da mulher retoma atendimento em Juiz de Fora. Tribuna de Minas, 2020. Disponível em:
<https://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/29-05-2020/casa-da-mulher-retoma-
atendimento-em-juiz-de-fora.html/>. Acesso em: 22/03/2021

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