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Coleção PHILOSOPHICA

coordenada por RACHEL GAZOLLA

• A ciência e o mundo moderno, Alfred North Whitehead


• Introdução à filosofia antiga: Premissas filológicas e outras “ferramentas de trabalho”,
Livio Rossetti
• Busca do conhecimento: Ensaios de filosofia medieval no Islã,
Rosalie Helena S. Pereira (org.)
LIVIO ROSSETTI

INTRODUÇÃO
À
FILOSOFIA ANTIGA

Premissas filológicas
e outras “ferramentas de trabalho”
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Rossetti, Livio
Introdução à filosofia antiga: premisssas filológicas
e outras “ferramentas de trabalho” / Livio Rossetti.
— São Paulo: Paulus, 2006. — (Coleção philosophica)

ISBN 85-349-2529-1

1. Filosofia antiga I. Título. II. Série.


06-3578 CDD-180

Índices para catálogo sistemático:


1. Filosofia antiga 180

Título original
Introduzione alla filosofia antica
Premesse filosofiche ed altri ferri del mestiere
© 1998 Levante Editori, Bari, Itália
ISBN 88-7949-164-4

Direção editorial
Paulo Bazaglia

Tradução
Élcio de Gusmão Verçosa Filho

Editoração
PAULUS

Impressão e acabamento
PAULUS

© PAULUS – 2006
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 • São Paulo (Brasil)
Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5084-3066
www.paulus.com.br • editorial@paulus.com.br

ISBN 85-349-2529-1
SUMÁRIO

9 Premissa
| PARTE I |
15 ALGUMAS PRELIMINARES
Capítulo 1
17 Não apenas uma vista d’olhos na filosofia antiga,
e muito menos um repertório bibliográfico, mas...
Capítulo 2
29 O que entendemos por “filosofia antiga” e o que tal
filosofia pode significar para nós hoje
| PARTE II |
41 OS TEXTOS PUBLICADOS NA ANTIGUIDADE
E AQUELES QUE CHEGARAM ATÉ NÓS
Capítulo 3
43 Muitos tipos de fontes
Capítulo 4
49 As cópias, as falsificações, os corpora,
a filologia alexandrina
Capítulo 5
59 Do papiro ao códice medieval e às primeiras edições impressas
59 5.1. Confecção e utilização do rolo de papiro
68 5.2. A contribuição dos papiros (e da papirologia)
para o conhecimento do mundo clássico
74 5.3. A redescoberta dos papiros: Herculano, Oxirinco,
Deverni e Aï Khanoum
81 5.4. A passagem do volumen ao codex
83 5.5. Fatores de dispersão e recuperação
dos textos clássicos no Medievo
| LIVIO ROSSETTI |

86 5.6. Uma fonte alternativa: as traduções árabe-latinas


89 5.7. A passagem às edições impressas

| PARTE III |
93 A CONTRIBUIÇÃO DA CRÍTICA TEXTUAL E DA FILOLOGIA
95 Capítulo 6
95 A restitutio dos textos antigos
96 6.1. A restitutio como objetivo da crítica textual
101 6.2. Uma série de operações preliminares: da recensio ao stemma codicum
103 6.3. Rumo à edição crítica: coniecturae e emendationes.
O aparelho crítico. A normalização ortográfica
114 6.4. Editar o exemplar único. A edição paleográfica
118 6.5. As citações de segunda mão e os autores “fragmentários”
120 6.6. O tema da autenticidade

Capítulo 7
123 Entreato: uma ficção filológica
Capítulo 8
137 Outros tipos de armadilhas do texto antigo: entre a filologia
e a historiografia filosófica
| PARTE IV |
151 OS GRANDES “COMPILADORES” E OS PRINCIPAIS TEXTOS
DE SEGUNDO NÍVEL
Capítulo 9
153 Os principais corpora de textos filosóficos gregos (e latinos)
153 9.1. O Corpus Democriteum
157 9.2. O Corpus Platonicum
163 9.3. O Corpus Aristotelicum
172 9.4. O Corpus Theophrasteum
174 9.5. O Corpus Chrysippeum
176 9.6. O Corpus Plotinianum
177 9.7. Outros corpora de autores “tardios”

Capítulo 10
179 Algumas coletâneas primárias de fragmentos e testemunhos
179 10.1. Os fragmentos dos filósofos pré-socráticos
192 10.2. Socratis et Socraticorum Reliquiae
196 10.3. Acadêmicos e Peripatéticos
199 10.4. Epicuristas e Estóicos
202 10.5. “Acadêmicos” e Céticos
206 10.6. A filosofia do período imperial e a Patrística

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| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

Capítulo 11
209 As histórias da filosofia compiladas pelos antigos
209 11.1. Uma primeira vista d’olhos
215 11.2. As retrospectivas mais antigas (anteriores a Aristóteles)
219 11.3. Aristóteles, Teofrasto, Eudemo e os outros peripatéticos
226 11.4. As Sucessões dos filósofos, de Rodes a Herculano
229 11.5. Cícero
230 11.6. A historiografia filosófica dos primeiros séculos da nossa era
238 11.7. Agostinho e Simplício
| PARTE V |
241 OS PERCURSOS DA ANÁLISE DOUTRINAL
Capítulo 12
243 A “leitura filosófica” dos textos: um primeiro grupo de coordenadas
243 12.1. Da filologia à filosofia. Os usos lingüísticos peculiares da filosofia
252 12.2. Os objetivos da pesquisa sobre a filosofia
que emerge dos textos antigos
255 12.3. A tentativa de identificar as teorias:
fatores de complexidade e armadilhas particulares
264 12.4. Interpretação benévola, formas de pré-compreensão e “limiar crítico”
Capítulo 13
273 Modos diversos de fazer história da filosofia (antiga)
Capítulo 14
289 Entre a literatura e a ciência: a filosofia “virtual”
e a emergência da especificidade filosófica
| PARTE VI |
303 A CONTRIBUIÇÃO DA INFORMÁTICA E OS RECURSOS
DE “TERCEIRO NÍVEL”
Capítulo 15
305 A contribuição da informática
Capítulo 16
315 As “chaves de acesso”: uma breve panorâmica
Capítulo 17
327 O “pequeno mundo” das convenções
327 17.1. Problemas de transliteração
331 17.2. A acentuação
332 17.3. A cronologia
335 17.4. Enfim, outras minúcias
339 GLOSSÁRIO
403 ÍNDICE ANALÍTICO
419 FIGURAS FORA DO TEXTO

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| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

PREMISSA

Como todo outro tipo de saber especializado, a filoso-


fia antiga guarda grande número de pequenos segredos que, a
despeito de serem, para todos os efeitos, de domínio público,
ameaçam manter implacavelmente “à distância” quem não é
do ramo.
Problemáticas são, em primeiro lugar, as mediações através
das quais um texto antigo é reproposto em nossos livros, vale
dizer, os intrincados percursos pelos quais a partir dos códices
medievais (ou dos papiros) se “extrai” um texto que em si mes-
mo já é sensivelmente diferente do “original”, não somente sob
o aspecto do layout gráfico, mas também com respeito à exata
configuração do que ali está exposto, assim como ainda sob ou-
tros aspectos (por ex., o autor e o título indicados no códice, o
autor e a obra aos quais remete um fragmento de papiro etc.).
Estamos falando, ademais, de operações que não são rea-
lizadas de uma vez por todas, mas que apresentam as marcas
de um contínuo trabalho de revisão ao qual a unidade textual
normalmente foi submetida.
Por isso, ocorre a alguns espantar-se quando, procedendo
pela primeira vez à pesquisa de um dado fragmento de Herá-
clito, nele não conseguem descobrir a expressão panta rei, as-
sim como acontece quando se vem a saber que Aristóteles não
escreveu exatamente nenhuma Metafísica em quatorze livros,
porquanto é raro encontrar um esclarecimento sobre questões
deste gênero, que os especialistas tendem a considerar a tal pon-

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| LIVIO ROSSETTI |

to pacíficas, que não se preocupam em fornecer explicações ad


hoc. E bastará percorrer este volume para dar-se conta de quan-
tos outros “segredos” de natureza bem diversa são normalmente
objeto de uma espécie de pacto de silêncio nos manuais e em
outros escritos que versam sobre a história da filosofia antiga.
De outro lado, por trás do “tratamento filosófico” de textos
como estes se encontra toda uma série de convenções e “regras
do jogo” ulteriores que não obstante seria necessário conhecer.
Isso para não falar da robusta lufada de novos ares introduzida
pelo advento da informática.
O problema é que toda uma série de conceitos-chave, no-
ções e informações “técnicas”, ainda que de domínio público, é
tão raramente exposta por escrito, que permanece virtualmen-
te inacessível a um vastíssimo círculo de pessoas que, não obs-
tante, têm interesse na filosofia antiga: noções que os livros dão
muito amiúde por conhecidas ou mesmo intuitivas, quando na
realidade isso não se verifica.
Daí a idéia de suprir esta lacuna com uma oferta de in-
formações e conceitos deliberadamente pensada para favorecer
a progressiva familiarização com aquela dimensão “técnica” da
filosofia antiga e com toda uma série de outras noções simples-
mente indispensáveis para quem deseja evitar que a percepção
da unidade textual com que está prestes a manter contato se
torne perigosamente aproximativa e imprecisa.
Por sua vez, a considerável amplitude deste volume de-
veria por si mesma dizer algo a respeito da dificuldade de se
referir com brevidade ao grande número de questões, com fre-
qüência bastante complexas, que não por acaso os manuais e
outras obras de uso relativamente intensivo tendem a sobre-
voar (com efeito, é impensável concentrá-las, digamos, numa
dezena de páginas).
Assim, buscou-se construir uma espécie de percurso crí-
tico, de “retículo”, do qual, todavia, não se deve esperar nem
uma breve história, nem um prospecto cronológico, nem um
repertório bibliográfico, nem tampouco um léxico comentado

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| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

de termos filosóficos gregos e latinos (porquanto todas estas


coisas são relativamente fáceis de encontrar em outros livros),
mas antes um conjunto de coordenadas a respeito de questões
ainda mais basilares, questões que entram pontualmente em
jogo quando alguém se aproxima da reflexão filosófica dos gre-
gos e dos latinos.
* * *
O que aqui ora se apresenta foi concebido justamente
para aqueles que se propõem a “pôr mãos à obra” neste tipo
de textos (e de estudos). Não obstante, o livro tem a pretensão
adicional de significar também alguma coisa – sempre a título
de referência – para um círculo bem mais amplo de cultores
das disciplinas filosóficas, assim como para aqueles que se ocu-
pam de várias outras temáticas, como o estudo do direito ro-
mano, a história das ciências e da tecnologia, o confronto com
as assim chamadas filosofias orientais ou com os muitos autores
modernos que se “nutriram” de cultura clássica, como Erasmo e
Pierre Bayle, Dante e Leopardi.
De outro lado, me parece oportuno assinalar que o corpo
do livro tem seu autêntico complemento no amplo Glossário
(mais de 200 termos) em que são desenvolvidas também al-
gumas daquelas noções que, ao longo dos dezessete capítulos
“principais”, apenas foram mencionadas.
Deste modo, buscou-se colocar à disposição do leitor
um aparato de instrumentos, antes de tudo conceituais, com
os quais iniciar a marcha de aproximação, e francamente não
muito mais do que isso.
No tocante ao grego, é natural que, para fazer um uso ple-
no da presente introdução, convém saber pelo menos alguma
coisa, embora se tenha tido o cuidado de tornar a exposição dos
vários temas acessível também àqueles que porventura encon-
trem dificuldades na leitura de palavras escritas em caracteres
diferentes dos nossos. Exatamente com esse fim, fez-se largo
uso das transliterações no caso das palavras que também apare-

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| LIVIO ROSSETTI |

cem em caracteres gregos, lançando mão, entre outros recursos,


do negrito para identificar o e e o o longos (isto é, o

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| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

fazer quando por ele não nos interessamos de modo superficial,


o que vale, de resto, também para toda outra tentativa de medir-
se a sério – e não sem uma necessária ponta de suspeita acerca
da confiabilidade das idéias propostas – com autênticas aventu-
ras da mente, independentemente do fato de elas serem antigas,
gregas, explicitamente filosóficas ou não.
Com o que não se trata de destacar uma lição “perene” de
Platão ou de quaisquer outros autores, mas de passar da mera
informação manualística a uma investigação minuciosa, bus-
cando compreender como raciocinaram outras pessoas decidi-
damente não inconsideradas. Analogamente, um diálogo com
uma pessoa não superficial vale mais por aquele imprevisto di-
latar-se e por aquele diferente articular-se de nossos horizontes
que talvez assim se determinem, ou pelo fato de nos descobrir-
mos “desarmados” sob determinado fronte (a dilatação das pos-
sibilidades), do que pelas afirmações específicas que ela pode
fazer e que no momento talvez acreditemos dever imprimir em
nossa mente; vale mais pela energia que o encontro consegue
“liberar” em nós – e que de outro modo talvez ficasse fora de
nosso alcance por um longo tempo – do que talvez pelo seu
verbum, pelas afirmações e avaliações específicas que no mo-
mento tenham porventura sido impressas em nós.
Assim, é mais importante municiar-se para não ficar de-
masiadamente submisso aos manuais de história da filosofia an-
tiga ou a um único comentário a Melisso, Aristóteles ou Sexto
Empírico, do que sair em busca de uma sabedoria pré-fabrica-
da, que possa aparecer, como talvez incautamente tenhamos
tendência a desejar, já pronta para uso.

* * *

Durante alguns anos “ancestrais” deste texto circularam


como fichas ou fascículos pelos meus cursos de História da
Filosofia Antiga na Universidade de Perugia. Versões interme-
diárias do manuscrito datilografado foram gentilmente exami-

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| LIVIO ROSSETTI |

nadas por colegas competentes, que chamaram minha atenção


para uma variedade considerável de detalhes. Numa primeira
fase, alguns especialistas em estudos clássicos da universidade
de Perugia se interessaram pela tarefa: Cipriano Conti, Patrizia
Liviabella Furiani, Antonino M. Scarcella, a jovem Alessandra
Di Pilla; depois, um após outro, um círculo progressivamente
mais variado de especialistas e colegas de disciplina: Giovan-
ni Casertano (Univ. Nápoles “Frederico II”), Gaetano Messina
(Gênova), Fausto Moriani (Florença), Linda Napolitano (Univ.
Trieste), Stefania Nonvel Pieri (Univ. Parma), Lídia Palumbo
(Univ. Nápoles “Frederico II”), Oronzo Pecere (Univ. Casino)
e Onofrio Vox (Univ. Bari). Por último, efetuaram revisões ul-
teriores alguns dos colegas já mencionados e uma papiróloga
herculanense (Constantina Romeo, Sorrento), um especialista
em informática (Massimo Capponi, Univ. Perugia), em maior
medida o paleógrafo Attilio Bartoli Langeli (Univ. Pádua), to-
dos nas seções relativas às suas respectivas áreas de especializa-
ção, além do diretor da coleção, De Martino (Univ. Bari, depois
Univ. Foggia). Agradeço, por fim, a Nestor Luis Cordero (Univ.
Rennes) pela grande tecnicidade dos esclarecimentos presta-
dos, a Jaume Portulas Ambrós (Univ. Barcelona) pela fecunda
troca de idéias, cujos rastros podem ser encontrados no cap. 12,
assim como também a Marian Wesoly (Univ. Poznan) e à mi-
nha aluna, Annalisa Persichetti, pelas indicações adicionais.
Sempre tive em grande estima a autêntica coleção de peque-
nas e grandes notações chegadas por meio de todas estas vias – uma
autêntica prova de amizade. Aqui limito-me apenas a não implicar
ninguém na responsabilidade pelos equívocos que resistiram a tão
assíduos cuidados. Espero, de outro lado, encontrar leitores – docentes
em particular – dispostos a transmitir seus desiderata no sentido de
incrementar a funcionalidade do volume. Para este fim, sugiro a utili-
zação do meu endereço eletrônico (rossetti@unipg.it).

Perugia, janeiro de 1998 L.R.

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| PARTE I |

ALGUMAS PRELIMINARES
| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

| CAPÍTULO 1 |

NÃO APENAS UMA VISTA D’OLHOS


NA FILOSOFIA ANTIGA, E MUITO MENOS
UM REPERTÓRIO BIBLIOGRÁFICO, MAS...

Antes de tudo devo esforçar-me para colocar o leitor em


condições de saber o que poderá encontrar neste volume e o
que ele não tem motivos para procurar aqui.
A filosofia antiga não é somente uma passagem obriga-
tória para muitos tipos de discursos, ou um traço constitutivo
de nossa identidade de ocidentais. Ela é também um mundo
longínquo e complexo o suficiente para colocar pontualmente
em dificuldade quem quer que dele se aproxime sem uma pre-
paração específica.
Em conseqüência, uma abordagem amadora desta disci-
plina está exposta a mal-entendidos mais que previsíveis, e isso
em múltiplos níveis, especialmente quando se tenta remontar
às fontes e “fazê-las falar”. O risco que se corre é o de ema-
ranhar-se em dados “opacos”, isto é, difíceis de enquadrar, ou
mesmo de atribuir-lhes muito precipitadamente um sentido
acabado.
Problemática é certamente também a vastidão e varieda-
de das obras filosóficas que chegaram mais ou menos íntegras
até nós, e ainda mais o fato de freqüentemente depararmos
com unidades textuais resultantes:
– das muitas sedimentações sucessivas devidas à interven-
ção de copistas, resultando seja na eliminação (ora intencional-
mente, ora sem sequer mesmo dar-se conta: tenha-se em mente

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| LIVIO ROSSETTI |

os comuníssimos lapsos cometidos no simples ato de copiar) de


detalhes que talvez se encontrassem no original, seja na intro-
dução de outros que a princípio não estavam presentes;
– de intervenções filológicas destinadas em primeiro lu-
gar a remover, tanto quanto possível, estas sedimentações ile-
gítimas, “restituindo” desse modo os textos a uma forma mais
próxima do original; em segundo lugar a torná-los mais imedia-
tamente acessíveis a nós (p. ex., pela introdução de uma quan-
tidade de convenções modernas, dentre as quais a normalização
da grafia,1 que agilizam a compreensão e são de grande ajuda,
entre outros casos, quando se trata de localizar determinada
palavra nos vocabulários gerais de grego e latim).
Por isso, estamos diante de algo que não foi simplesmente
reescrito, recomposto, repaginado,2 re-impresso e quiçá tradu-
zido, mas de algo que se tentou também depurar de uma quan-
tidade de incrustações e outras intervenções suspeitas, com o
que, mesmo se algumas “sedimentações” resultam não mais eli-
mináveis, resta que, por trás das edições correntes, se oculta um
imponente e multiforme trabalho de filtragem.
Mas o fato é que intervenções deste tipo tendem a passar des-
percebidas, pelo menos aos olhos do leitor ocasional, o que faz
com que a interpretação destes textos seja necessariamente
uma interpretação dirigida, e até demais. Daí a necessidade de
saber (e compreender) alguma coisa também a respeito de inter-
venções desta espécie.

1
Quem publica um manuscrito do século XV sem a pretensão de dar-lhe uma edição
diplomática (para o significado da expressão veja-se o Glossário que figura no fim do vol-
ume), ao deparar, digamos, com a palavra “philosophia”, se sentirá provavelmente tentado
a adotar o modo de exposição “filosofia”. Com mais razão ainda eliminará os eventuais “er-
ros” de impressão. Esta é sem dúvida uma forma mínima de normalização. Um exemplo de
normalização ortográfica dos papiros gregos (divisão das palavras, introdução de algumas
maiúsculas, de acentos e do “espírito”, da pontuação, de “caputs” e similares) será proposto
no capítulo 7.
2
A “principal transformação no ‘método de impressão’, que teve lugar entre os séculos
XVI e XVIII”, representou “o triunfo definitivo do branco sobre o negro”, isto é, a adoção
de uma página mais arejada graças à multiplicação dos subitens, que fragmentam a con-
tinuidade ininterrupta do texto, e dos parágrafos, que deixam ver imediatamente, com suas
reentrâncias e caputs, a ordem do discurso”. R. Chartier, L’ordine dei libri (Milão, Il Saggiatore,
1994: trad. da edição de Aix-em-Provence, 1992), p. 25.

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| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

A) Para começar: a forma assumida pelos diversos tipos de


textos filosóficos gregos ou latinos é a resultante de percursos
muito diferenciados que, por vezes, chegam a condicionar a
percepção da sua relevância, assim como do grau de difusão de
determinadas informações.
A impressão de sistematicidade dos tratados aristotélicos,
por exemplo, parece dever muitíssimo, de um lado, a um per-
sonagem quase desconhecido (aquele Andrônico de Rodes
a quem se deve a configuração definitiva do Corpus Aristoteli-
cum), e, de outro, ao modo singular com que o Ocidente teve
a oportunidade de reapropriar-se deste corpus.
Em sentido contrário, o nosso modo de identificar, digamos,
a filosofia de Demócrito, é fortemente condicionado por ou-
tros fatores extrínsecos, alguns deles bastante conhecidos: a
atenção que Aristóteles reservou ao atomismo (usada para
compensar a penúria de citações diretas sobre o assunto), a
abundância de citações de ética e, por outro lado, a grande
penúria de evidências sobre tudo o que não está ligado a es-
tes dois temas. Mas estes são apenas indícios do relevo que
circunda uma vastíssima (e decisivamente heterogênea) gama
de outros temas que não obstante devem ter sido tratados
por Demócrito em outros escritos. Em conseqüência, seria
necessário não afastar completamente estas outras temáti-
cas menos conhecidas, sob o risco de autorizar uma imagem
literalmente desfigurada do personagem histórico, como se
Demócrito tivesse apenas se ocupado de atomismo e ética.3
Há, também, o caso do sofista Antifonte, um nome que, du-
rante grande parte do século XX se acreditava referir-se a dois
homens, homônimos e contemporâneos, ao passo que agora
a comunidade científica está largamente de acordo em con-
siderar que as múltiplas referências designam provavelmente
uma mesma pessoa, embora as enciclopédias e muitas outras
obras de consulta ainda não tenham registrado o fato.
Um outro detalhe sempre prestes a ser esquecido é a exis-
tência de dois Plutarcos: ao lado do autor das célebres Vite,
nativo de Queronéia, na Beócia, deve-se com efeito ter em
conta a existência de um segundo Plutarco, cultor nada des-

3
O tema será retomado na seção 9.1.

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| LIVIO ROSSETTI |

prezível da filosofia platônica, nascido em Atenas por volta


de 350 da nossa era e morto em torno do ano 430; o proble-
ma é que sua existência tem sido até agora ignorada por não
poucas enciclopédias e histórias “breves” da filosofia, e, não
obstante, trata-se do fundador daquela “Escola de Atenas”4
cujo fechamento forçado, no ano 529, depois de um século
e meio de vida, costuma-se apontar como simplesmente o
marco “final” da filosofia antiga.
Entre as coisas a serem conhecidas, mas que correm o ris-
co de escapar muito facilmente, deve-se igualmente lembrar
que hoje tendemos a considerar infundada a notícia segundo
a qual Tales teria previsto um eclipse (em geral se pensa no
eclipse de 28 de maio de 585 a.C.), e dá-se o fato de que um
tal Luciano de Crescenzo, por exemplo, tenha sabido tratar
esta informação demasiado clamorosa de modo muito mais
apropriado do que vários manuais e outras obras de referên-
cia ainda hoje em circulação.5 O mesmo – o que, tudo soma-
do é mais grave – se dá com as coisas que tantas vezes se lê a
respeito de Pitágoras, um personagem muito menos conheci-
do do que comumente se crê (e que os especialistas abordam
com infinitamente mais cuidado do que os compiladores de
manuais e enciclopédias quando buscam identificar as dou-
trinas atribuíveis a ele).
Do mesmo modo, para traçar um perfil abrangente da filoso-
fia antiga temos uma dívida considerável com uma boa série
de retrospectivas da própria época, desde aquela que abre a
Metafísica de Aristóteles até a que figura em Sexto Empírico,
para não falar das Sucessões, obras que remontam ao Século
II a.C. e que se concentraram nos laços de filiação intelec-
tual entre os vários filósofos (quem foi discípulo de quem e
junto com que outros). Destas proto-histórias – e da cautela

4
Com esta denominação (que, bem entendido, limita-se a dar uma indicação mera-
mente “geográfica”) é indicada, já nas fontes antigas, a escola filosófica fundada pelo filó-
sofo neoplatônico Plutarco de Atenas em sua cidade natal por volta do ano de 380 d.C., vale
dizer, numa data muito próxima ao edito pelo qual Teodósio constituiu o cristianismo como
religião oficial do Império Romano. Dadas as circunstâncias, a escola logo constituiu um dos
raríssimos centros de sobrevivência da filosofia “pagã” num contexto de progressiva cristiani-
zação da cultura. No século e meio em que esteve ativa, ela se especializou, por assim dizer,
na oferta de cursos sobre Platão e Aristóteles, especialmente sob a forma de comentários a
algumas das obras destes dois autores.
5
Cf. a sua Storia della filosofia greca. I presocratici (Milão, Rizzoli, 1983), p. 35. Neste livro se
propõe, por outro lado, uma visão panorâmica não exatamente confiável.

| 20 |
| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

com que se deve considerá-las – também seria necessário sa-


ber alguma coisa, pois do contrário avançaríamos em muitas
direções às apalpadelas ou deixando-nos guiar por outrem,
quando seria possível experimentar “ver para crer” com nos-
sos próprios olhos.

B) Depois, temos uma variedade de problemas de deta-


lhe: obras de paternidade duvidosa, obras cujo título, por razões
diversas, foi modificado (o De Melisso Xenophane Gorgia que
figura no Corpus Aristotelicum, por exemplo, foi na realidade
difundido sob o título De Zenone Xenophane Gorgia, e não é
coisa fácil decidir se certas teorias são atribuíveis a um ou outro
autor6), outras que com toda probabilidade não são devidas ao
autor ao qual foram atribuídas e que entretanto figuram tradi-
cionalmente na lista de suas obras ao lado de escritos autên-
ticos (é o caso, por exemplo, das obras de Platão, onde é nor-
mal encontrar referência a diálogos seguramente não saídos de
sua “pena”). Este também é o caso das obras de Epitecto, cujo
famoso Manual foi composto, na realidade, por um discípu-
lo seu (Ariano de Nicomédia), e da Rhetorica ad Alexandrum,
que, apesar de figurar no Corpus Aristotelicum, certamente não
é obra do Estagirita (costuma-se atribuí-la a Anaxímenes de
Lampsaco). Lembremos, por outro lado, que a Metafísica de
Aristóteles é meramente uma coleção de escritos afins, sendo já
estabelecido o fato de que certamente não foi Aristóteles quem
os dispôs na ordem em que hoje os lemos, e que deles não cons-
ta nem nunca constou o termo “metafísica”.
Um outro exemplo significativo é o seguinte: o fato de
citar o fr. 34 Wehrli, de Dicearco, sem fornecer esclarecimentos
adicionais, mesmo em se tratando de um texto inequivocamen-
te talhado para a divulgação, como a já mencionada História da
Filosofia Antiga de Luciano de Crescenzo. Se o leitor quisesse

6
Neste caso, na verdade, é relativamente fácil verificar que os primeiros capítulos refle-
tem o pensamento de Melisso e não de Zenão. Entretanto, acontece que os capítulos sobre
Xenófanes lhe atribuem teorias que ele absolutamente não pode ter sustentado.

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| LIVIO ROSSETTI |

remontar ao texto em questão, onde ele deveria procurá-lo? E


estamos seguros pelo menos disto, de que se trata de um frag-
mento, isto é, do pedaço de uma obra saída efetivamente das
mãos de Dicearco? Porquanto não somos informados de que
aquilo que recebe o nome de “fragmento” às vezes não passa de
uma mera alusão, ou mesmo de uma síntese de segunda ou ter-
ceira mão devida a algum outro autor antigo. Com efeito, estas
últimas décadas viram a disseminação do costume de não mais
distinguir entre citações diretas (os “fragmentos”) e comen-
tários, alusões, exposições, notícias e informações de segunda
mão (os “testemunhos”): um pouco mais adiante haveremos de
ver as razões desta nova atitude.
De resto, obstáculos mais modestos são suficientes para
com freqüência criar dificuldades, como a existência de um li-
vro da Metafísica, o segundo, que se chama “alpha helatton”,
“alfa menor”, após o qual o terceiro livro é denominado “beta”
(e não “gama”), o quarto “gama” (e não “delta”) e assim por
diante. Estes são verdadeiros “segredos públicos”, e seria ne-
cessário conhecê-los, mas o fato é que eles são muito amiúde
dados por conhecidos e não creio que assim o sejam. Daí a
exigência (ou utilidade) de informações a respeito de como fo-
ram se constituindo alguns corpora de importância fundamen-
tal (por trás dos quais se encontra, às vezes, uma história ainda
mais intrincada), algumas obras individuais, assim como deter-
minadas coleções de fragmentos.
No caso específico dos fragmentos, sua numeração costu-
ma apresentar uma quantidade de problemas decididamente
dignos de nota. A numeração standard dos fragmentos de Herá-
clito, por exemplo, foi feita com base na mera ordem alfabética
dos nomes dos autores que os transmitiram, com base, portanto,
num critério absolutamente extrínseco aos próprios textos.

C) A série de minúcias acerca das quais seria necessário


ter acesso a informações não aproximativas inclui também as
siglas normalmente utilizadas nas citações. O que significa, por

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| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

exemplo, que uma declaração de Platão seja identificada por


uma cifra e uma letra do alfabeto (digamos: “438b”), enquanto
uma declaração de Sexto Empírico é indicada por uma espe-
cificação do tipo “II 186” e uma de Parmênides por uma sigla
“28 B 6” (ou, às vezes, “fr. B 6”)? E por que razão uma citação
da Metafísica de Aristóteles invariavelmente começa com um
número próximo a mil para depois prosseguir com uma letra (a
ou b) e um outro número normalmente inferior a 40?
E depois, ao citar Aristóteles, o nome do autor deveria
abreviar-se por “Aristot.”, “Arist.” ou “Ar”? E a República de
Platão, devria ser citada com qual das seguintes abreviações:
“Repubbl.”, “Resp.”, “De rep.”,7 “Pol.”, “R”? E ainda: o que se pre-
tende transmitir quando se indica certo texto como sendo de
“[Arist.]” ou “[Plut.]”, isto é, com o nome do autor entre col-
chetes?
Com freqüência se trata, bem entendido, de autênticos
ovos de Colombo, noções passíveis de ser apropriadas com
bastante facilidade; o problema é que não se pode dá-las por
conhecidas até que delas não se fale, pelo menos uma vez, ex
professo.
Mas nesta categoria encontram-se também, para falar de
uma outra família de convenções, os pequenos recursos que os
editores têm de lançar mão para sugerir, segundo o caso, diver-
sos tipos de cautela exegética, como, por exemplo, a introdução
de palavras fechadas entre dois parênteses angulados. Vejamos
ao menos um exemplo. Nas traduções correntes pode-se en-
contrar o v. 5 do fr. 9 de Empédocles reproduzido da seguin-
te maneira: “estas coisas <não> é justo chamá-las [assim], mas
também eu falo segundo o costume”. O <não> é uma inserção
clássica e conveniente, e o tradutor a torna visível valendo-se
de uma convenção específica. Por sua vez, o [assim] é repro-

7
À moda latina. Nos raros casos em que se decide, ao contrário, escrever “Pol.” (do
grego politeia) tem-se o cuidado de escrever “Polit.” para indicar o diálogo O Político e com
isso evitar possíveis confusões.

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| LIVIO ROSSETTI |

duzido em letras cursivas e entre colchetes para significar que


se trata de uma palavra à qual não corresponde, no texto grego,
nenhum

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| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

profundidade. Em uns e nos outros sempre se dá por sabidas


ou conhecidas muitas coisas que, na verdade, não podem ser
dadas como tais.
E, entretanto, os helenistas e latinistas não são os únicos
a ocupar-se de filosofia antiga, eles que normalmente já sabem
se orientar com certa desenvoltura pelas “premissas filológicas”;
dela se ocupam também cultores de estudos filosóficos previsi-
velmente menos “aparelhados” diante da filologia grega e latina,
e não poucas outras categorias de leitores.
O motivo pelo qual tais informações não são de uso cor-
rente chega a ser banal: as informações a serem fornecidas são
tantas, e é tão impensável condensá-las em poucas páginas (e
muito menos em apenas uma ou duas), que é normal que ab-
solutamente nada seja feito neste sentido.
Mas o fato é que, neste fronte, digamo-lo sem reservas,
exagerou-se na dose. Com efeito, se alguém se pusesse a pes-
quisar os livros expressamente dedicados a satisfazer a curio-
sidade a este respeito, teria a surpresa de encontrar um único
texto, publicado em 1980: Problemi de filologia filosofica, de Ma-
rio Untersteiner. E trata-se de um livro que sob muitos aspectos
deve ser visto como especializado, um livro capaz de desenco-
rajar aqueles que não tenham pelo menos alguma familiaridade
com esta espécie de coisas.8
Existe, portanto, uma espécie de terra de ninguém cons-
tituída daquilo que os livros não se dão ao trabalho de expli-
car, e à qual mesmo os professores na Universidade raramente
encontram tempo para referir-se analítica e sistematicamente,
como seria necessário.

8
Nesse ínterim, no fim de 1997 mais precisamente, foi publicado o volume Philosophie
grecque, sob a direção de M. Canto-Sperber, em colaboração com J. Barnes, L. Brisson, J.
Brunschwig, G. Vlastos (Paris, PUF), que inclui, nas pp. 781-826, um Annexe (elaborado por
M. Canto-Sperber e L. Brisson) dando conta de “Ce qu’il faut savoir avant d’aborder l’étude
de la pensée antique” [“daquilo que é preciso saber antes de se aproximar do estudo do
pensamento antigo”], e que explora temáticas muito próximas daquelas tratadas neste livro.
Parece-me justo mencioná-lo pelo menos agora, visto que na época da primeira edição ital-
iana não me foi possível saber a tempo da publicação deste outro companion.

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| LIVIO ROSSETTI |

Esta Introdução se propõe justamente a preencher o vazio


respondendo a não poucas das questões latentes ou possíveis
dos que não são autênticos especialistas, quer dizer, ela se pro-
põe a oferecer um primeiro “pacote” de respostas comentadas
para ao menos deixá-los em condição de iniciar a aragem do
terreno.
Considerei também importante ressaltar de modo espe-
cial o modo pelo qual as fontes antigas vieram se configurando,
porque, em comparação a esta, muitas outras questões podem
ser facilmente vistas como posteriores ou não tão necessárias.
As listas de abreviações, por exemplo, já podem ser encontradas
em muitos lugares; o que faz falta é uma oferta de explicações
minimamente comentadas sobre o que exatamente se escon-
de por trás de cada uma das abreviações e citações “cifradas”,
e, portanto, sobre os critérios que presidem a uma variedade
de convenções também bastante definidas. Do mesmo modo,
um prospecto cronológico, uma tabela relativa à datação base-
ada nas Olimpíadas ou um esquema dando conta de quantos
óbolos perfazem uma dracma, quantas dracmas uma mina e
quantas minas um talento são coisas relativamente fáceis de
encontrar, ao passo que bem mais difícil é saber como se chega
à fixação das datas e quão confiáveis são as datas aproximativas,
assim como o porquê das datas relativas aos séculos V-IV a.C.
serem quase sempre constituídas de dois anos (p. ex.: 424-23
a.C.), em vez de um só.
Mais do que de datas, ressente-se em suma da falta de cer-
to número de noções e conceitos específicos para empreender a
decodificação deste patrimônio através de uma multiplicidade
de ângulos diferentes.
No que diz respeito aos dados de caráter biográfico também
não parece haver necessidade de uma insistência particular, dada
a existência de uma abundância de repertórios, muitos dos quais
acompanhados de breves abstracts ou outras formas de referência
relativas ao conteúdo e à relevância das obras individuais. Por con-
seguinte, limitar-me-ei, neste âmbito, a fornecer a indicação dos

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| INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ANTIGA |

repertórios já existentes, sem propor um a mais, de minha autoria,


até porque há uma grande oferta de instrumentos bibliográficos
sempre novos, até informatizados, ao passo que a oferta de escla-
recimentos sobre os temas que serão abordados nesta Introdução é
incomparavelmente mais escassa.
Com maior razão evitarei propor um “resumo” da filosofia
grega e latina (o que oferece, por exemplo, uma outra Introdu-
ção à Filosofia Antiga, aquela de A. H. Armstrong, publicada
em Bolonha, em 1983, pela editora Mulino), ou mesmo um
esquema cronológico, porque mais uma vez isto é o que mais
facilmente se vem a saber caso não se deseje navegar no escuro
com relação ao grau de confiabilidade dos dados individuais ou
à seqüência de pensamentos que corresponde a uma dada sele-
ção de caráter terminológico. Por isso buscarei responder, sem
mais, à demanda de critérios com que decodificar uma série
de indicadores e ter acesso a fontes precisas de informação a
respeito de outros.
Em suma, propus-me a fornecer sobretudo uma série de
noções-moldura, isto é, de idéias a respeito de como enquadrar
determinadas problemáticas e de como apropriar-se de algu-
mas “regras do jogo”, de modo que o leitor não se encontre
mais confinado à periferia de uma disciplina de considerável
complexidade.
O resto deverá ser buscado em outra parte, e, com efei-
to, uma boa quantidade de outros instrumentos de consulta
se seguem logicamente a este. Com isso em mente, a visão de
conjunto aqui apresentada se concluirá com uma rápida pano-
râmica pelos outros instrumentos de pesquisa disponíveis.

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