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Análise de TCC
O artigo escolhido foi "COMO É BOM SER VIDA LOKA: Funk ostentação e
as práticas de consumo dos jovens das classes C e D.", trabalho de conclusão de
curso de Matheus Rosa Barbosa, sob orientação de Profa. Dra. Elisa Reinhardt
Piedras no curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e
Propaganda.
Nesse trabalho, Matheus Rosa elenca como objetivo geral analisar de que
forma o consumo do funk ostentação se relaciona com as práticas de consumo dos
jovens das classes C e D de Porto Alegre. Para isso, o estudo utilizou o método da
revisão bibliográfica para embasar o roteiro de uma entrevista semi-estruturada
(abordagem qualitativa que permite a exploração individualizada de cada informante
a partir de perguntas base) na qual quatro informantes, da faixa etária de quinze a
vinte anos, residentes de Porto Alegre, da classe C e D, que possuam remuneração
advinda de emprego, foram questionados sobre sua percepção do funk.
No capítulo dois são explorados conceitos e autores relativos ao processo do
consumo. Para conceituar o termo, Rosa cita Barbosa, autor que propõe o consumo
como um processo cultural e inerente à experiência humana. Ademais, Blackwell,
Miniard e Engel também são mencionados para explicar o processo do consumo,
dividindo-o em reconhecimento da necessidade, busca de informações, avaliação
de alternativas pré-compra, compra, consumo, avaliação pós-consumo e descarte.
Além disso, Rosa aborda especificamente o consumo cultural e midiático através de
Canclini, o qual vê o consumo como processo simbólico e a necessidade de compra
como construção social.
Já no capítulo três, intitulado "Jovem Popular e Consumo", o autor
contextualiza o momento econômico em que o fenômeno estudado se concretizou
por meio do livro “A Nova Classe Média: O Lado Brilhante dos Pobres”, de Marcelo
Cortes Neri, o qual aborda o crescimento da economia brasileira no ano de 2003 até
2009. Outrossim, Neri é citado para embasar a taxa de crescimento da renda per
capita. Segundo ele, a renda per capita dos dez por cento mais ricos subiu 1,49%
ao passo que a renda dos mais pobres cresceu em 6,79%, ocasionando um
aumento no poder aquisitivo das classes populares. A pesquisa enfatiza o papel do
Estado em ampliar a renda das famílias por meio da concessão de crédito; essa
concepção é explorada por meio da argumentação de Souza, o qual também
contribui com o texto ao discernir o conceito de classe e renda, sendo a classe
relacionada ao estilo de vida e como os outros percebem o indivíduo. Ainda nesse
capítulo, o significado de adolescência é posto na ótica de diversos autores: para
Rocha e Pereira é um espaço liminar entre infância e vida adulta, para Rosangela
Soares a juventude é um processo construído socialmente, enquanto que Pierre
Bourdieu é mais radical, afirmando que juventude é apenas uma palavra, uma
convenção criada pelos adultos para exercer poder sobre os adolescentes. Para
pensar o processo de consumo dos adolescentes, o artigo menciona Oliveira e
Camila Assunção, os quais trazem a ideia de "tribo urbana" ou “comunidade
empática", grupos de jovens que compartilham dos mesmos gostos e interesses,
consumindo a mesma mídia e roupas.
A partir do capítulo quatro, o funk brasileiro é apresentado junto de seu ritmo
e sua história que começou na década de setenta no Rio de Janeiro com letras que
abordavam o dia a dia das populações ditas faveladas, incluindo "tabus" como uso
de drogas e crimes. Entretanto, a vertente do funk ostentação inspirada no estilo
"P.I.M.P" advindo dos Estados Unidos muda a temática das letras para uma
realidade distante da comunidade, uma vida de luxo. Além disso, Scherrer disserta
que o funk ostentação aborda menos assuntos mercadologicamente inaceitáveis
como droga e violência. Em adição, Lessa, enxerga o sucesso do funk ostentação
como resultado da ânsia da classe trabalhadora de se aproximar simbolicamente do
"estilo de vida que sempre lhe foi vendido como ideal, mas que sempre lhe foi
negado”. O artigo lembra da polêmica dos "Rolezinhos" como algo intimamente
ligado ao funk ostentação no sentido de ousar ocupar um espaço que supostamente
não é moldado para pessoas periféricas. Ainda nesse capítulo, o funk ostentação é
entendido como parte da sociedade do espetáculo, conceito de Debord. O funk da
ostentação é visto como sintoma de uma sociedade em que ter tomou o lugar que
deveria ser, e aqueles que alcançam um patamar econômico elevado são retratados
como heróis.
Para a entrevista, Rosa elegeu as seguintes questões base: “1 – Como você
enxerga o consumo dos jovens de hoje? 2 – Você considera o jovem de hoje
independente? 3 – Qual sua visão do funk ostentação? 4 – Você acha que o funk
ostentação alterou algum hábito dos ouvintes? 5 – Você considera o funk
ostentação uma forma de publicidade de marcas? 6 – Apresentação do clipe de funk
ostentação “Tá Patrão”, de MC Guimê. 6.1 – Você reconhece alguma das marcas
envolvidas no clipe? 6.2 – No caso do clipe, a apresentação de marcas serve como
propaganda para a comunidade? 7 – Apresentação do clipe de rap norte-americano
“Window Shopper”, de 50 Cent. 7.1 – Quais as semelhanças e diferenças entre os
clipes? 7.2 – O clipe serve como propaganda direta de produtos? 7.3 – Quais as
semelhanças entre o rap norte-americano e o funk ostentação? 8 – Visualizando os
dois clipes, você considera os ritmos de ostentação como um meio de divulgação de
produtos de difícil alcance?”