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Vinícius Augusto Batista dos Santos

Fichamento - Filosofia do Direito I

A monitoria desta semana consistiu na apresentação do nosso colega Enzo Badaró, o tema foi
a obra de Stanley Cohen, States of Denial, que busca compreender as formas sociais e
políticas que os indivíduos usam para distorcer a realidade de forma que os favoreçam. De
início, este tema me lembrou muito os clássicos distópicos (como Fahrenheit 452 ou outros),
em que a realidade é reescrita de acordo ao sabor dos ventos políticos.
Inicialmente, abordou-se a construção da tipologia da negação em relação ao valor desta,
sendo que afirmações de negação se referem a "assertivas de algo que não ocorreu, não
existe”, ou seja, a defesa da concretude de um fato que não condiz com a realidade. Após
isto, ao abordar o conteúdo, refletiu-se sobre os tipos que podem representar uma negação,
neste ponto é importante ressaltar as diferentes formas como pode se construir esta, sendo
perceptível que cada uma pode se adequar mais à determinada situação que o indivíduo se
encontra. Como mostrado no exemplo, o governo em um primeiro momento, em que ainda
estavam correndo as primeiras mortes e muitos estavam totalmente alheios às consequências
da pandemia, usou do artifício de negar o fato em si, afirmando que este era mero alarmismo,
e que uma suposta oposição estaria tramando sua derrubada, só que após milhares de mortes,
em que era inegável para todos a situação que a COVID trouxe para o país, passou-se a
buscar uma desassociação de obrigações, alegando que não era de sua alçada de preocupar
com estes efeitos. Além disso, é perceptível uma mudança em relação à coisas como as
vacinas, visto que em um primeiro momento ocorreu forte propaganda contra, mas após os
resultados positivos pelo mundo se apresentarem, passou a existir uma forte disputa em
assumir a narrativa de que sempre esteve lá lutando por estas.
Posteriormente, o próximo ponto que merece destaque é em relação ao âmbito em que se dá a
negação, demonstrando a possibilidade de um conjunto, não somente um indivíduo sozinho,
assumirem narrativas que favoreçam sua realidade. É possível associar este ponto aos efeitos
das massas explicados por Freud, pois o amor solidário entre os membros que integram este
corpo depende muitas vezes de certas idealizações para a identificação conjunta, além da
presença de um inimigo externo. Para a fixação destes elementos, portanto, muitas vezes
utilizam-se das mesmas técnicas apresentadas na obra citada, como os nazistas que diziam
para o povo no geral que o Holocausto era mera “limpeza étnica” ou que os judeus estavam
somente sendo transferidos. Além disso, o conceito de self delusion me chamou muita
atenção, pois me fez pensar, como comentado na discussão ao final da aula, dos efeitos (e até
mesmo da importância) que a “automentira” pode representar para a manutenção da mente
dos indivíduos, sendo que um exemplo que me veio à mente é o conceito de meritocracia,
muito defendida na sociedade como um todo, e que para muitos pode ser facilmente
desmentida, mas que mesmo para esses, persiste o ideal de que “basta querer para conseguir”.
Por fim, em relação aos últimos tópicos, tem-se a negação em relação aos observadores,
perpetradores e as vítimas. Em relação à isso, achei importante ressaltar o comentário de que
essas posições não são fixas em um mesmo caso, podendo se alterar com o decorrer dos
eventos, pois remete à ideia, por exemplo, de abusos cometidos sob alegação de legítima
defesa, ou pior, como no caso de linchamentos, pois os cidadãos, que era observadores
(tomando como exemplo um caso de crime flagrado) passam à perpetradores, ainda que
alegue que somente intervieram para o “bem maior. Na outra ponta, como demonstrado pelo
Enzo, tem-se àqueles que se omitem perante ao crime, sendo que surgiu em mim a dúvida de
que se tal “apaticidade” pode ser explicada com base na psicologia das massas, com os
indivíduos esperando algum “movimento em conjunto” para agirem. Para encerrar, tem-se
uma abordagem de Freud em face da temática, sendo muito importante a contextualização de
negação neurótica X psicótica e, principalmente, a diferença conceitual entre desculpa e
justificativa. Sinceramente, nunca tinha parado para pensar nas diferentes basilares entre
estas, sendo que a primeira assume um caráter que abre mão da responsabilidade por um
caráter, muitas vezes externo, que fugiu do controle da pessoa, enquanto a justificativa reflete
uma responsabilidade assumida, só que buscando motivos que legitimem tal posição. Como
um todo, o debate posterior decorreu de forma muito abrangente, me fazendo pensar em
como a realidade, dentro da sua enorme complexidade, pode - eventualmente, pois tendo a
concordar com a opinião de que o mundo “dos fatos” tende a ser amplo demais para se
encaixar de forma completa em determinações lógicas - ser dissecada de forma a
entendermos as variáveis que influenciaram até mesmo o mais banal dos atos, como um mero
“perdi a hora pelo trânsito”, quando na realidade se dormiu demais.

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