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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA


CENTRO DE ARTES E LETRAS
Departamento de Letras Vernáculas – DLV
www.ufsm.br/dlv

LTV 1197: Leitura e produção textual: princípios básicos

Professor(a): Vítor Jochims Schneider

Aluno(a): Rochelle da Fonseca Oliveira

Aquarius: da polêmica à resistência


Rochelle Oliveira (23 de julho de 2021)

O filme Aquarius, com roteiro e direção de Kleber Mendonça Filho, teve sua
primeira exibição em 17 de maio de 2016 no Festival de Cannes, no qual
concorreu à Palma de Ouro. Aclamado pelos críticos, recebeu diversos elogios
quanto à sua direção, roteiro e atuação do elenco. Entre os anos de 2016 à
2018 recebeu em torno de 7 premiações, até mesmo sendo indicado a prêmios
internacionais.
Aquarius é o segundo longa-metragem que compõe a trilogia de Kleber
Mendonça Filho, juntamente com O som ao redor (2012) e Bacurau (2019).
Não diferente, o longa apresenta uma narrativa composta pela presença do
conflito entre poderes desiguais das classes sociais brasileiras, além da
constante tentativa de omitir a luta da classe opressora em prol da resistência e
preservação de suas memórias.
Apesar de sua estreia ter ocorrido sob o impacto da polêmica envolvendo o
diretor e a equipe, quando no tapete vermelho realizaram um protesto
considerando o impeachment de Dilma, a manifestação ao ser divulgada
amplamente nas mídias sociais, repercutiu diretamente na quantidade
expressiva do público nas salas de cinema.
Para além da polêmica, Aquarius é um filme marcante e belíssimo, digno de
ser assistido por aquilo que deveras é: uma obra que mexe particularmente na
própria essência das pessoas, ou seja, indivíduos com suas histórias. Aquarius
está disponível na Netflix e em outras plataformas de streaming.
Trailer: https://youtu.be/VB-5rodvHUc
A fim de complementar este post-convencimento, exibo a seguir a crítica do
filme realizada por mim.

Resistência. Busca por empatia. Memórias. Tensão. Essas entre outras muitas
características, descrevem Aquarius, fascinante filme de Kleber Mendonça
Filho que o designou como um dos melhores diretores e roteiristas de sua
geração. Essa ideia de que o longa – o qual desde sua primeira exibição em
Cannes não se distancia da sua propensão política - está somente em busca
de polêmica, é uma errônea percepção que, no filme em si, não se efetiva. Mas
então do que se trata Aquarius?
Já no início da trama, é retratada uma série de fotografias de época da capital
de Pernambuco, Recife, trazendo à tona a história da cidade e, principalmente,
das pessoas que ali suas vidas estabeleceram. Para acompanhar esse instante
melancólico, faz-se presente a música "Hoje", magnífica composição do
cantor Taiguara. Como especialidade de Kleber Mendonça Filho, o tratamento
concedido ao espaço físico, pode ser visto como personagem, talvez até
mesmo como protagonista. No caso de Aquarius, um prédio, que por sua vez,
representa uma disputa local.
Durante grande parte do filme, é utilizado pelo diretor recursos de câmera
muito interessantes, como o emprego do primeiro plano, recorrendo a
enquadramentos intensos, que com meros movimentos de câmera, são
capazes de vislumbrar todos os detalhes. Por vezes também, é perceptível os
usos do zoom.
A trilha sonora, no que lhe diz respeito, é muito bem selecionada, pois é
composta por músicas que remetem a referências emocionais e históricas,
dialogando diretamente com o transcorrer das cenas.
Um efeito sonoro bem pertinente do filme, é quando as músicas que Clara ouve
são estendidas para a trilha sonora num todo.
Mas por que Aquarius é resistência? Entre outras mil razões, porque narra a
luta de Clara, jornalista aposentada, interpretada com maestria por Sônia
Braga, que resiste fielmente às investidas de uma construtora que está
disposta a pagar caro, para que ela, última moradora do prédio, deixe o lugar, a
fim de que seja construído um novo “Aquarius”. Essa sua recusa frente a
especulação imobiliária, não é simplesmente um ato de preservar um bem
material, mas sim um ato de resistência em prol da memória, pois ali morou
toda a vida com a sua família, compartilhando lembranças e mistos de
sentimentos.
Em suma, Aquarius é um filme marcante e necessário, que fala da
modernização urbana mediante a desvalorização da memória, omitindo
pessoas e suas histórias.

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