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Eixos temáticos Grupo e Vida Comunitária Cigana em São Paulo: Um Estudo Exploratório
Apresentação Oral em GT
Modalidades
Autor(es): Gabriela Ferreira Goya do Carmo (Universidade Presbiteriana Mackenzie), Altivir João Volpe, Talita
Valores Maciel Lopes da Silva, Aparecida dos Santos Coutinho, Gabriela Ferreira Goya do Carmo, Míriam Felix Silva, Paula
Inscrição Pereira Brito, Leila Rodrigues Alba
Envio de resumos Resumo: Este estudo em curso, como proposta da disciplina de Supervisão de Estágio Básico em Pesquisa II do
curso de Psicologia, busca identificar a rede de vínculos grupais e os aspectos da vida comunitária existentes em
Perguntas frequentes
duas comunidades ciganas distintas, localizadas na Grande São Paulo. Especificamente, o conhecimento de
Programação hábitos, rituais, festas, processos grupais e outras manifestações culturais e coletivas de seu cotidiano e a
Convidados identificação de situações de cooperação, de integração, de impasse ou dificuldades em diferentes interfaces dos
grupos de ciganos e em interfaces com não ciganos. A histórica estigmatização e situações de preconceito em
Notícias
relação aos ciganos destacadas em alguns textos acadêmicos ainda se mantém? Buscou-se apoio teórico e
Eventos anteriores metodológico nas propostas psicanalíticas de Pichon-Rivière e de Abadi: vínculo, processos grupais, vida em
Entre em Contato comunidade e redes sociais. A pesquisa de caráter qualitativo exploratório utiliza encontros em grupos focais, nos
quais se solicita a participação, em cada comunidade, de 4 a 12 membros maiores de 18 anos de idade, formando
.: Busca uma composição heterogênea (com homens e mulheres, independentemente de sua escolaridade, estado civil ou
ocupação). Na condução dos grupos focais, há uma questão disparadora para o aprofundamento e desdobramento
na sequência: “o que é ser cigano nos dias atuais e qual o significado da vida em comunidade e da cultura cigana
Busca Geral
para os ciganos?”. A partir dos dados levantados é possível estruturar alguns organizadores temáticos em torno dos
quais se fará a análise e discussão sobre a vida comunitária dos dois grupos de ciganos. É possível que a pesquisa
favoreça o compartilhamento de experiências sobre o cotidiano das duas comunidades, destacando aspectos de
seu grupo de pertença e da identidade grupal, além do conhecimento trazido para a comunidade acadêmica, com
desdobramentos na área da Psicologia Social. O estudo está sendo realizado com os cuidados éticos estabelecidos
pela Resolução MS 0196/96, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), pela Resolução 016/2000 do Conselho
Federal de Psicologia e pela Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde o
projeto foi aprovado. O prazo pretendido para a finalização desta pesquisa é o mês de outubro de 2011.
Texto completo: Grupo e Vida Comunitária Cigana em São Paulo: Um Estudo Exploratório
1. INTRODUÇÃO
Este estudo buscou identificar a rede de vínculos grupais e os aspectos da vida comunitária existentes em duas
comunidades ciganas distintas, localizadas em São Paulo. Especificamente, o conhecimento de hábitos, rituais,
festas, processos grupais e outras manifestações culturais e coletivas de seu cotidiano e a identificação de
situações de cooperação, de integração, de impasse ou dificuldades em diferentes interfaces dos grupos de ciganos
e em interfaces com não ciganos. A histórica estigmatização e situações de preconceito em relação aos ciganos
destacadas em alguns textos acadêmicos ainda se mantém?
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo Fazito (2006), a população cigana é discriminada há séculos e isso ainda se faz presente nos dias atuais,
com a disseminação de estigmas aos ciganos. Porém, algumas pessoas tem percepções da figura cigana como
romântica, sendo sinônima de liberdade, aventura e boemia. No pouco que se conhece de sua história, os ciganos
sempre foram alvo de constantes perseguições (FAZITO, 2006).
Os ciganos podem ser considerados um grupo étnico por compartilhar uma mesma ancestralidade biológica e
linguística, uma história, uma cultura e valores, mesmo podendo diferir em sua situação socioeconômica. Assim,
segundo Dias et al. (2006), os agrupamentos étnicos mais vistos no Brasil são os Kalderash (Roman) e os Calon
(Ibéricos).
A identidade grupal cigana é marcada por valores que dão embasamento a sua estrutura social, fundamentando as
relações estabelecidas entre si, no que se refere a gênero, poder, divisão de tarefas, dentre outros (SOUZA et al.,
2009). Nesse sentido, a vida e valores dos grupos ciganos trazem alguns desdobramentos e questões de ordem
teórica e metodológica associados aos conceitos de vínculo, grupo, vida em comunidade e também com relação às
redes sociais, que dão sustentação a esses grupos. Tais aspectos são apresentados na sequência.
Pichon-Rivière (2000) define vínculo como uma estrutura dinâmica que abarca o indivíduo e as pessoas com quem
possui relações ou interações, constituindo uma integração em constante processo dialético, tanto no âmbito
intrapsíquico como no interpsíquico.
A definição de grupo, consiste em uma reunião de pessoas que têm, por consciência, a necessidade de se unir por
meio de uma identificação com o grupo e pelo grupo, o que possibilita uma identidade compartilhada (grupal), que
se dá pelo afeto estabelecido entre os membros. Tal identidade representa uma precondição de inserção no mundo
e de relação com os outros grupos, sem a perda das características do coletivo e sem a sua submissão a esses
outros grupos (ÁVILA, 1999).
Comunidade não se restringe a um lugar antropológico e despolitizado, mas, ao contrário, sua ordem é a saturação
do tempo e do espaço, é um modo de vida, um modo de política (ARENDT, 1998). Para Frúgoli Jr. (2003), a
comunidade é marcada por grupos de pequena escala, que estabelecem relações solidárias, coesas, pessoais,
espontâneas, cotidianas e permanentes.
Grupos, comunidades e redes sociais podem ser colocados como instâncias intermediárias, articulando dentro e
fora; o já e o ainda não; aspectos manifestos e aspectos latentes. O pensamento em rede pode ser definido como
uma forma ampliada de perceber o ambiente, a qual suspende categorias, hierarquias e juízos de valor e pode ser
uma experiência tanto intelectual quanto corporal e emocional (ABADI, 2007).
3. METODOLOGIA
Buscou-se apoio teórico e metodológico nas propostas psicanalíticas de Pichon-Rivière e de Abadi: vínculo,
processos grupais, vida em comunidade e redes sociais. A pesquisa de caráter qualitativo exploratório tinha a
intenção de realizar encontros em grupos focais, nos quais se solicitaria a participação, em cada comunidade, de 4
a 12 membros maiores de 18 anos de idade, formando uma composição heterogênea (com homens e mulheres,
independentemente de sua escolaridade, estado civil ou ocupação). Na condução dos grupos focais, haveria uma
questão disparadora para o aprofundamento e desdobramento na sequência: “o que é ser cigano nos dias atuais e
qual o significado da vida em comunidade e da cultura cigana para os ciganos?”.
É possível que a pesquisa tenha favorecido o compartilhamento de experiências sobre o cotidiano das duas
comunidades, destacando aspectos de seu grupo de pertença e da identidade grupal, além do conhecimento
trazido para a comunidade acadêmica, com desdobramentos na área da Psicologia Social.
O estudo foi realizado com os cuidados éticos estabelecidos pela Resolução MS 0196/96, do Conselho Nacional de
Saúde (CNS), pela Resolução 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia e pela Comissão de Ética em Pesquisa
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde o projeto foi aprovado. O prazo pretendido para a finalização desta
pesquisa é o mês de outubro de 2011.
A análise dos dados colhidos através do grupo focal foi baseada no enfoque biográfico (CORNEJO, 2006), o qual
privilegia uma investigação da realidade de caráter indutivo e exploratório. Os relatos feitos pelos participantes
foram considerados em sua totalidade, destacando também alguns organizadores temáticos (JOSSO, 1999).
Na visita à comunidade Calon, foram apresentados os objetivos da pesquisa, bem como foi solicitada a assinatura
dos Termos de Consentimento e da Carta de Informação ao Sujeito. No entanto, tais assinaturas não foram obtidas,
pois os entrevistados informaram que não eram alfabetizados. Não foi possível realização do grupo focal devido a
falta de número de participantes, já que quase todos os membros da comunidade estavam fora, trabalhando. Além
disso, formou-se um grupo homogêneo (composto apenas por homens).
O contato com a comunidade Kalderash foi estabelecido, inicialmente, por meio de uma festa cigana Kalderash, em
homenagem a Santa Sara (a santa universal dos ciganos). As impressões gerais que as pesquisadoras tiveram da
festa podem ser traduzidas como: união, tradição bastante entrelaçada com a Modernidade, alegria, forte
intensidade ao dançar, as roupas, os cabelos e as maquiagens eram semelhantes aos que a mídia mostra; porém
as danças tradicionais e a devoção à Santa dos ciganos foram traços marcantes da festa.
A partir da festa, entrou-se em contato com a organizadora a fim de verificar se ela e sua família poderiam participar
de um grupo focal. Esta por sua vez, concordou em participar apenas de uma entrevista individual, a ser realizada
em seu local de trabalho.
Através da observação e das entrevistas realizadas foram organizados alguns eixos temáticos para a análise dos
dados recolhidos: a).Vínculo; b). Grupo e vida comunitária; c). Pensamento em rede; d). Tradição herdada e
transmitida; e). relações de gênero e poder; f). impasses na relação com não ciganos; g). direitos humanos e saúde
coletiva e h). perspectivas com relação ao futuro.
a) Vínculo
Nos relatos nota-se a freqüente expressão dos vínculos que ligam os grupos observados e seus integrantes entre
si. Por exemplo, “o povo cigano é tudo unido, é um povo alegre e ‘nóis vive’ sempre ‘nas’ cabana, não mora dentro
de casa.”, disse C.; “ ‘nóis’ sempre se reúne nessa barraca pra conversar.”, disse A.; e E., “a gente é unido, tem
respeito.”. Cada resposta é manifestada como um consenso de que todos partilham. A maior parte de suas frases
inicia-se com “a gente” ou “nós”, indicando a condição de pertencimento, citada por Ávila (1999). Tal sentido de
pertencimento também pode ser notado na fala de V., membro dos Kalderash, quando destaca a manutenção da
identidade passada de forma hierárquica e a preservação da cultura, ambas evidenciadas por meio das festas
abertas ao público.
O vínculo estabelecido nas comunidades ciganas, sejam Kalderash ou Calon, remete ao funcionamento de um
organismo vivo, em constante mudança. Há um delineamento da identidade, apesar da perda de rituais e costumes.
Como V. diz “é preciso evoluir”, estabelecendo novas configurações e papéis de acordo com a hierarquia vigente na
comunidade. Por exemplo, nos Kalderash, não só os homens podem exercer funções de liderança ou serem porta-
vozes da comunidade. A mulher também pode exercer a liderança em determinadas situações, preza-se apenas a
questão de ser a mais velha. A criação e fortalecimento dos vínculos vem como um fator de importância para o
desenvolvimento do grupo, de sua inserção e integração na comunidade cigana e da articulação com os não
ciganos.
c) Pensamento em rede
O pensamento em rede proposto por Abadi (2007), diz respeito a uma capacidade de perceber e processar um
universo aberto, interconectado e em constante fruição, que acontece em um espaço transicional entre um
pensamento e outro. Sendo assim, o pensamento em rede é uma forma ampliada de perceber o ambiente, havendo
uma suspensão de categorias, juízos de valores e hierarquias, podendo ser uma experiência sentida tanto
intelectual, quanto corporal e emocionalmente. A partir de um contato mais próximo com as comunidades ciganas,
foi percebido modos diversos de saberes, experiências e pensamentos, que formam subjetividades diferentes na
relação com o mundo externo.
O primeiro aspecto a ser considerado é a maneira semelhante que as duas comunidades (Calon e Kalderash)
percebem e sentem a união e o respeito, por meio das falas, gestos, tradições, danças, etc. Um exemplo, é a
maneira que foram tratadas as pesquisadoras em ambas as comunidades: os participantes as respeitaram, mesmo
que, a princípio, a entrevista parecesse a eles uma invasão à comunidade (pessoas diferentes da realidade deles
adentraram em seu “mundo particular”). Nas comunidades Calon, esse respeito também foi percebido entre os
membros, no sentido em que respeitam tanto a fala do chefe, que só expõem suas idéias na presença do mesmo,
tendo um cuidado especial com o conteúdo do que é dito, demonstra-se assim uma espécie de controle implícito do
chefe sobre a divulgação da cultura de tais comunidades ciganas. Esse discurso de cada membro remete às regras
introjetadas socialmente, o que acaba dificultando associações livres e impossibilitando a liberdade de combinações
infinitas para se ter um pensamento criativo e original (em rede). Assim, pode ser visto como uma conexão de
pensamentos que são expressos pelas ações, da fala e da transmissão da cultura. Os entrevistados, alegaram a
união cigana, porém, isso só é percebido através das festas (na organização e na participação). Essa instância é
percebida na fala da entrevistada Kalderash, que cita a união que se dá no planejamento das festas, no qual todos
os ciganos da família se ajudam e organizam-se para mostrarem sua cultura, objetivando a diminuição do
preconceito e do estereótipo à etnia cigana. O que foi dito por V. (Kalderash) remete a um pensamento com valor
linear, em um plano único de pensar. Ela teve que adaptar-se à vida não cigana para ter uma boa e ampla
convivência social, o que, por conseguinte, cindiu sua vida em dois papéis distintos: o de ser cigana e o de não ser
cigana. Nesse sentido, de acordo com Abadi (2007), suas associações livres e sua liberdade de pensamento
ficaram restritas, pois em sua vida não cigana vê-se obrigada a interpretar e a “mascarar” o que verdadeiramente é
(cigana), permitindo-se ao pensamento em rede somente na presença da sua família e comunidade cigana. Tal
atitude cindida evita a exposição do preconceito e da discriminação frente a sua cultura cigana. Seu único modo de
enfrentamento, é quando exerce o papel de cigana e organiza as festas para disseminar a cultura.
Vale inferir que a alegria demonstrada nas festas e nas danças permite também o pensamento em rede, ou seja,
permite aos ciganos ser eles mesmos. Talvez seja o único modo de expressar a liberdade e a tradição da etnia,
aprendidas e repassadas inconscientemente, de geração a geração – mesmo em contato direto com o mundo não
cigano.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada trouxe novas impressões e informações sobre o cotidiano de duas comunidades ciganas
distintas, tema pouco estudado pela Psicologia. Nota-se que cada um dos grupos estudados busca diferentes
formas de se integrar ao modo de ser e de viver não cigano e, ao mesmo tempo, busca preservar e fortalecer sua
cultura e a tradição herdada. Há diferenças entre os dois grupos estudados, Kalderash e Calon, na organização de
seu cotidiano, na vinculação com o trabalho, na designação e atribuição de poder e prestígio predominantemente
aos homens e a mulheres mais velhas.
Pode-se dizer que os membros da comunidade Kalderash se viram obrigados a integrar-se à sociedade não cigana,
talvez visando a sobrevivência da cultura e da própria população, em modos demográficos: por meio de
casamentos permitidos entre ciganos com não ciganos, pela transmissão cultural aos filhos desses novos casais.
Contudo, percebe-se que apesar da tentativa de preservação da identidade original (costumes, ritos, danças,
Língua) de ambas as comunidades Kalderash e Calon, tal identidade não se sutenta por si só, afinal algumas
perdas são vistas como partes do processo de inserção ao mundo não cigano, levando-se a aderir a um modo de
vida cigano bastante entrelaçado a cultura Capitalista moderna não cigana (deixou-se de falar a Língua mãe,
aderiu-se aos novos aparatos tecnológicos, etc.). Para os Calon, a constante preocupação em manter sua
identidade cigana, gera certas limitações nas condições de vida da comunidade como um todo, afinal percebe-se a
falta de saneamento básico, alfabetização e a educação se volta aos poucos que tem interesse, mesmo porque não
há uma fomentação de tais necessidades, pode ser uma escolha de vida, assim como os Kalderash resolveram se
tornar sedentários, mas até que ponto tal escolha, pode acarretar em malefícios a essa cultura, que pensando a
longo prazo pode sofrer uma estagnação. Sendo assim, ficam-se questionamentos para estudos futuros: Será que
um Psicólogo pode auxiliar tal comunidade a refletir e buscar garantir seus direitos, de modo a preservar sua
cultura? Até que ponto a adaptação a cultura não cigana tem beneficiado tais comunidades? E quais são seus
malefícios?
Será que realmente as comunidades menos abastadas não se importam com a sua forma de vida?
6. REFERÊNCIAS
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GONDIM, S. M. G. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos. Revista Paidéia
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PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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