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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

ENGENHARIA MECÂNICA

EM12 – CIÊNCIA DOS MATERIAIS

AULA 16
TRATAMENTOS TÉRMICOS
(PARTE 1)

Profa.: Dra. Alexandra de Oliveira França Hayama

2013/1
TRATAMENTO TÉRMICO

Tratamento térmico: conjunto de operações de aquecimento e


resfriamento, sob condições controladas de temperatura, tempo,
atmosfera e velocidade de resfriamento, com o objetivo de alterar as
propriedades ou conferir aos materiais metálicos características
determinadas.

 Os tratamentos térmicos modificam, em maior ou menor escala, a


estrutura dos aços, resultando na alteração de suas propriedades.

 Em geral, a melhora de uma ou mais propriedades, mediante um


determinado tratamento térmico, é conseguida com prejuízo de
outras.

→ Por exemplo, o aumento da ductilidade provoca


simultaneamente queda nos valores de dureza e resistência
mecânica.
TRATAMENTO TÉRMICO

 É necessário que o tratamento térmico seja escolhido e aplicado


criteriosamente para que os inconvenientes que por ventura possam
ocorrer, como por exemplo trincas durante a têmpera, sejam
reduzidos ao mínimo.

 Alguns objetivos dos tratamentos térmicos são:


→ Remoção de tensões (oriundas de resfriamento, trabalho
mecânico ou outra causa);

→ Aumento ou diminuição da dureza;


→ Aumento ou diminuição da resistência mecânica;
→ Melhora da ductilidade;
→ Melhora da usinabilidade.
TRATAMENTO TÉRMICO

 Entre os tratamentos térmicos que podem ser aplicados em


materiais metálicos, tem-se o recozimento.

→ O recozimento se refere a um tratamento térmico no qual um


material metálico é exposto a uma temperatura elevada por um
período de tempo, sendo em seguida resfriado.

É possível realizar diferentes tratamentos térmicos de


recozimento:

→ Recozimento pleno (aplicado em aços).


→ Recozimento isotérmico (aplicado em aços).
→ Recozimento para alívio de tensões ou sub-crítico (aplicado
em qualquer material metálico).

→ Esferoidização (aplicado em aços).


 Recozimento
 Pleno
 Isotérmico
 Para alívio de tensões ou Sub-crítico
 Esferoidização
RECOZIMENTO PLENO

 Recozimento Pleno

→ Consiste em austenitizar o aço, resfriando-o lentamente a


seguir.

 Aquecimento do aço acima do zona crítica (acima de


727°C para aços eutetóides) durante o tempo necessário e
suficiente para obter austenita (Ferro γ).

 Segue-se resfriamento lento, realizado sob condições que


permitam a formação dos constituintes normais de acordo
com o diagrama de equilíbrio Fe-Fe3C.

• O resfriamento pode ser realizado, por exemplo, no


interior do forno.
RECOZIMENTO PLENO

Diagrama esquemático de
transformação para recozimento Em cinza está a faixa de
pleno temperaturas consideradas.
RECOZIMENTO PLENO

→ Linha A1: indica a reação


eutetóide:
γ (Austenita) → Perlita (Ferrita-α +
Fe3C)

→ Linha A3: Indica a reação:


γ (Austenita) → Austenita + Ferrita-α

→ Linha Acm: Indica a reação:


γ (Austenita) → Austenita + Fe3C
(Cementita)

→ A variação de temperatura é de
aproximadamente 50°C acima das
linhas A1 e A3.
RECOZIMENTO PLENO
 Aços hipoeutetóides: Aquecimento
em temperaturas acima da linha superior
de transformação A3 (conforme
diagrama), de modo a obter-se a
austenitização completa, seguido de
resfriamento lento.
→ Constituintes microestruturais:
perlita grosseira e ferrita
proeutetóide.

 Aços eutetóides: Aquecimento em


temperaturas acima da linha superior de
transformação A1 (conforme diagrama),
de modo a obter-se austenitização
completa, seguido de resfriamento lento.
→ Constituinte microestrutural:
perlita grosseira.
RECOZIMENTO PLENO
 Aços hipereutetóides: Aquecimento
em temperaturas abaixo da linha Acm
(conforme diagrama) seguido de
resfriamento lento.

→ Constituintes microestruturais:
perlita grosseira e cementita
proeutetóide.

 Durante o aquecimento não se deve


ultrapassar a linha Acm, porque no
resfriamento posterior, ao ser
atravessada novamente esta linha, irá
ser formada cementita nos contornos
de grão da austenita, o que iria
fragilizar posteriormente a peça
tratada.
RECOZIMENTO PLENO
 O recozimento pleno é usado com frequência em aços com
teores baixos e médios de carbono (aproximadamente 0,25 e
0,60%p C, respectivamente) que serão submetidos a usinagem ou
que irão experimentar uma extensa deformação plástica durante uma
operação de conformação.

Ciclos de recozimento recomendados para aços carbono:


 Recozimento
 Pleno
 Isotérmico
 Para alívio de tensões ou Sub-crítico
 Esferoidização
RECOZIMENTO ISOTÉRMICO

 Recozimento isotérmico

→ Consiste em austenitizar o aço (aquecimento do aço acima


do zona crítica; acima de 727°C para aços eutetóides), nas
mesmas temperaturas utilizadas no recozimento pleno.

→ Segue-se um resfriamento rápido até uma temperatura


situada dentro da porção superior do diagrama TTT, onde o
material é mantido durante o tempo necessário a se produzir a
transformação completa.

→ Em seguida, o esfriamento até a temperatura ambiente


pode ser apressado, por exemplo ao ar.
RECOZIMENTO ISOTÉRMICO

Diagrama esquemático de
transformação para recozimento Em cinza está a faixa de temperaturas
isotérmico ou cíclico consideradas.

 Os produtos resultantes desse tratamento térmico são perlita e ferrita proeutetóide


(para aços hipoeutetóides); perlita (para aços eutetóides); perlita e cementita
proeutetóide (para aços hipereutetóides).

→ Observação: O tipo de perlita (grosseira ou fina) formada depende da temperatura


situada dentro da porção superior do diagrama TTT a que a peça foi resfriada.
RECOZIMENTO ISOTÉRMICO

 No recozimento isotérmico, o ciclo de tratamento térmico pode ser


encurtado sensivelmente, quando comparado ao recozimento pleno,
de modo que o tratamento é muito prático para casos em que se
queira tirar vantagem do resfriamento rápido desde a temperatura de
transformação e desta até a temperatura ambiente, como em peças
relativamente pequenas.

 Para peças muito grandes,


entretanto, o recozimento
isotérmico não é vantajoso sobre o
pleno, visto que a velocidade de
resfriamento no centro de peças
de grande seção pode ser tão
baixa que torna impossível o seu
rápido resfriamento à temperatura
de transformação.
RECOZIMENTO PLENO E RECOZIMENTO ISOTÉRMICO

Recozimento Pleno Recozimento


Isotérmico
Resfriamento lento
(por exemplo, dentro Resfriamento rápido até
do forno) uma temperatura
situada dentro da
Aço eutetóide: Perlita porção superior do
grosseira. diagrama TTT
Aço eutetóide: Perlita
 Recozimento
 Pleno
 Isotérmico
 Para alívio de tensões ou Sub-crítico
 Esferoidização
RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES OU SUB-CRÍTICO
 Consiste no aquecimento do aço em temperaturas abaixo do limite
inferior da zona crítica, ou seja, abaixo da linha A1 (abaixo de 727°C
para aços carbono), seguido de resfriamento ao ar.

→ Observação: Neste
recozimento não ocorre a
austenitização, pois o
tratamento térmico é
realizado abaixo da linha A1
(abaixo de 727°C para aços
carbono).
RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES OU SUB-CRÍTICO

 O recozimento para alívio de tensões não é realizado somente em


aços, podendo ser realizado em outros materiais metálicos, nesse
caso são consideradas outras temperaturas, de acordo com cada
material.

 O objetivo é aliviar as tensões originadas durante a solidificação


ou produzidas em operações de conformação mecânica a frio (por
exemplo na laminação para a fabricação de chapas metálicas).

→ Quando se executam operações de deformação a frio (na


temperatura ambiente), a dureza aumenta e a ductilidade diminui,
podendo ocorrer ruptura entre as operações. Nesse caso, há a
necessidade de se executar um recozimento para alívio de
tensões antes das novas deformações.

→ Esse recozimento recupera a ductilidade do aço trabalhado a


frio.
RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES OU SUB-CRÍTICO

 Entre as transformações que ocorrem nos materiais metálicos


deformados a frio e em seguida tratados termicamente por recozimento para
alívio de tensões estão:

→ Recuperação: processo em que ocorre rearranjo e eliminação


parcial dos defeitos (discordâncias) introduzidos durante a deformação
plástica, havendo uma restauração parcial das propriedades mecânicas
do material aos seus valores antes da deformação (Temperaturas
empregadas: 0,3 – 0,5 Tfusão).

→ Recristalização: formação de um novo conjunto de grãos com baixa


densidade de defeitos (discordâncias) e que são equiaxiais (isto é,
possuem dimensões aproximadamente iguais em todas as direções) no
interior de um material previamente deformado a frio e em seguida
recozido. Na recristalização há a restauração das propriedades originais
do material (antes da deformação ocorrer) (Temperaturas empregadas:
acima de 0,5 Tfusão).
RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES OU SUB-CRÍTICO

(a) metal deformado (b) recuperado (c) parcialmente recristalizado


plasticamente a frio

(d) totalmente recristalizado (e) crescimento de grão


RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES OU SUB-CRÍTICO
 Exemplo: Titânio

Laminado a frio até 70% e


em seguida recozido a
800oC/1 min.
(parcialmente recristalizado)
Dureza = 190 Vickers
Sem deformação
Dureza = 150 Vickers

Laminado a frio até 70% e


em seguida recozido a
800oC/45 min.
(totalmente recristalizado)
Dureza = 160 Vickers
Laminado a frio até 70%
(encruado)
Dureza = 251 Vickers
RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES OU SUB-CRÍTICO

Exemplos de recristalização do alumínio (Vídeos)


RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES OU SUB-CRÍTICO

Exemplos de recristalização do cobre (Vídeo)


RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES OU SUB-CRÍTICO

Exemplos de crescimento de grãos (Vídeos)


RECOZIMENTO PARA ALÍVIO DE TENSÕES OU SUB-CRÍTICO

Tratamentos típicos de alívio de tensões em vários


tipos de aço
 Recozimento
 Pleno
 Isotérmico
 Para alívio de tensões ou Sub-crítico
 Esferoidização
ESFEROIDIZAÇÃO
O tratamento consiste no aquecimento e resfriamento
subsequente em condições tais a produzir uma forma globular ou
esferoidal de carboneto no aço.
 Maneiras de produzir a
microestrutura globular:

1) Manutenção por tempo


prolongado à temperatura
pouco abaixo de A1.
2) Aquecimento a uma
temperatura logo acima de A1
e resfriamento lento.

3) Aquecimento e resfriamento
alternados entre temperaturas
que estão logo acima e logo
abaixo de A1.
ESFEROIDIZAÇÃO
 Em lugar das lamelas alternadas de ferrita e cementita (perlita), a
fase Fe3C (cementita) aparece como partículas com aspecto esférico
que estão encerradas em uma matriz de ferrita (α).
 Essa transformação acontece mediante difusão de carbono, sem
qualquer alteração nas composições ou quantidades relativas das
fases ferrita e cementita.

Estrutura de cementita esferoidizada em Aço com estrutura de cementita


matriz de ferrita. Aço ABNT 1095. (1100x) esferoidizada em matriz de ferrita.
(1000x)
ESFEROIDIZAÇÃO
 Na cementita esferoidizada, a restrição à movimentação de
discordâncias é menos efetiva, o que torna o material mais
dúctil e menos duro do que na perlita.

Cementita
esferoidizada

Perlita fina

Perlita Perlita
grosseira grosseira

Cementita
esferoidizada Perlita fina
ESFEROIDIZAÇÃO
 O recozimento de esferoidização aplica-se principalmente em aços de
médio e alto teor de carbono para melhorar a usinabilidade.

→ Quando o carbono é muito baixo, a condição esferoidizada torna o


aço extremamente mole, produzindo na usinagem cavacos longos que
dificultam essa operação.

 A esferoidização de aços de baixo carbono tem por objetivo principal


permitir deformação severa, sobretudo em operações de trefilação a frio.

Trefilação: A deformação é obtida pelo ato


Exemplo de operação de de puxar o material através de uma matriz
usinagem (Torneamento) (Exemplo: Fabricação de fios)
ESFEROIDIZAÇÃO

Estruturas para usinabilidade


TIPOS DE RECOZIMENTO

Recozimento
para alívio de
tensões ou
sub-crítico
Em metais
deformados a frio:
Recuperação,
Recristalização
Recozimento Pleno Recozimento Isotérmico
Resfriamento lento (por Resfriamento até uma
exemplo, dentro do forno) - temperatura dentro da
Aço eutetóide: Perlita porção superior do diagrama
Grosseira. TTT - Aço eutetóide: Perlita

Esferoidização
Formação de
carboneto
esferoidizado
 Normalização
NORMALIZAÇÃO
 Esse tratamento térmico consiste na austenitização completa do aço
(aquecimento a uma temperatura acima da zona crítica; acima de 727°C para
aços eutetóides) seguido de resfriamento ao ar.

→ Em geral, a temperatura situa-se 35 a 40°C acima das linhas A3 e ACm.

 Os produtos resultantes do
tratamento térmico de
normalização são:
→ Aços hipoeutetóides:
perlita fina e ferrita
proeutetóide;
→ Aços eutetóides:
perlita fina;
→ Aços hipereutetóides:
Diagrama esquemático perlita fina e cementita
Faixa típica de normalização de transformação para proeutetóide.
para aços comuns normalização
NORMALIZAÇÃO
 A normalização é usada como tratamento térmico preliminar à têmpera e
ao revenimento, reduz a tendência ao empenamento e facilita a dissolução
de carbonetos e elementos de liga.

 Além disso, a normalização pode ser usada para qualquer das seguintes
aplicações:

→ Melhoria da usinabilidade;
→ Refino de estruturas brutas de
fusão (peças fundidas, por exemplo);

→ Obter propriedades mecânicas


desejadas.

Comparação entre as faixas de


temperaturas de austenitização para a
normalização e o recozimento (pleno e
isotérmico):
NORMALIZAÇÃO

Propriedades mecânicas dos aços nos estados


normalizado e recozido

%C
RECOZIMENTO E NORMALIZAÇÃO - RESUMO
*Microestrutura de Tratamentos Térmicos
aço eutetóide após
os tratamentos
térmicos descritos.
Recozimento Normalização

Pleno Isotérmico Para alívio Esferoidização


Aquecimento acima
de tensões da zona crítica,
Resfriamento Resfriamento Aquecimento e resfriamento ao ar
lento rápido até uma Resfriamento resfriamento tranquilo
temperatura ao ar subsequente
situada dentro da Em metais deformados Carboneto *Perlita fina
*Perlita porção superior a frio: Recuperação, esferoidizado
grosseira do diagrama TTT Recristalização

*Perlita
EXERCÍCIOS

1 - Descreva os seguintes procedimentos de tratamento térmico para


aços e, para cada um deles, a microestrutura final que se pretende
obter:
a) Recozimento pleno
b) Recozimento isotérmico
c) Recozimento de esferoidização
d) Normalização

2 - Quando se executam operações de deformação a frio, a dureza


aumenta e a ductilidade diminui, podendo ocorrer ruptura entre as
operações. Nesse caso, há a necessidade de se executar um
recozimento para alívio de tensões antes das novas deformações.
Descreva:
a) O tratamento térmico para alívio de tensões realizado em
aços.
b) Quais são as mudanças que podem ocorrer na microestrutura
durante este tratamento térmico.

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