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Escola Missionária

IASD Igapó

A Profecia de Daniel 8
“Até quando...?”
“Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que
falava: Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão
assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de
serem pisados? Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e
o santuário será purificado” – Dn 8:13-14.

O Termo TAMID
O v. 11 declara que o chifre pequeno tiraria o “sacrifício diário”
(Almeida Revista e Atualizada), ou o “contínuo sacrifício” (Almeida
Revista e Corrigida). Porém, a palavra hebraica que aparece neste verso e
nos seguintes, referindo-se a este “sacrifício” contínuo é TAMID. No
original, não aparece a palavra “sacrifício”, como foi colocada em nossa
tradução para o português.

Esta palavra (TAMID) aparece sempre no contexto do trabalho contínuo


(permanente) realizado no santuário de Israel (um símbolo da permanente
mediação de Jesus como Sumo-Sacerdote do santuário celestial). Alguns
versos nos quais aparece esta mesma palavra no hebraico são: Nm 4:7, 16:
28:10, 15, 23, 24, 31; 29:6, 11, 16; 29:19, 22, 25, 28, 31, 34, 38.
Observe que TAMID sempre aparece no contexto dos serviços de intercessão
e expiação do santuário.

Um dos trabalhos do chifre pequeno seria adulterar o TAMID do


santuário (Dan. 8:11). Ou seja, o chifre estaria disposto a criar um novo
sistema de mediação, para ser colocado no lugar da mediação e intercessão
que apenas Jesus pode realizar em nosso favor. Aos poucos, a igreja de
Roma foi ofuscando a única e eficaz mediação de Jesus em nosso benefício
no santuário celestial (1Tm 2:5; Hb 8:6), e em seu lugar colocou um novo
sistema de mediação, no qual Maria e os “santos” ocupam o lugar que
unicamente Jesus tem autoridade para fazê-lo.

Como vemos, o TAMID foi retirado, conforme profetizado em Daniel, e


substituído por um outro sistema, segundo a “autoridade” arrogada por
Roma. A verdade foi, paulatinamente, deitada por terra (cf. Dan. 7:25).
Pena que muitos ditos "evangélicos" não querem se dar conta disso!

“Até quando?”
No v. 13 é apresentada a preocupação com relação ao fim deste
período de dominação e usurpação que seria característico do chifre
pequeno. A ênfase é no “até quando”, ou seja, por quanto tempo duraria
esta visão do contínuo e da rebelião? Surge, então, a misteriosa
declaração: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será
purificado” (v. 14).

O termo “purificado” é uma tradução da palavra hebraica TSADAQ. Ela,


e suas variantes, têm outros significados que podem nos ajudar a entender
melhor a visão. Vejamos como a palavra foi traduzida em outras versões
bíblicas:

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“Seria feita justiça” – Bíblia de Jerusalém
“Seria reconsagrado” – Nova Versão Internacional
“Será levado a uma condição correta” – Trad. Novo Mundo
“Será restabelecido em seus direitos” – Trad. Ecumênica
“Será limpo” – King James Version

Vê-se que não há uma palavra única, em português, apropriada para a


tradução de TSADAQ.
Interessante notar ainda, que Daniel não utiliza o termo TAHER, que
também significa “limpar”, “purificar” (Gn 7:2, 8; Lv 12:4, 5, 6; 15:28;
Dt 14:11; etc.). TAHER tem um sentido de purificação legal, mas a ação do
chifre pequeno afeta o santuário celeste, como vemos claramente nos
estudos de Daniel, Hebreus e Apocalipse.

TSADAQ, por outro lado, tem o sentido de uma purificação mais ampla,
e ocorre também em contextos judiciais. Assim, a obra não seria apenas
“purificar” (TAHER), mas “vindicar”, “fazer justiça” (TSADAQ) – Hb 9:23.

Ao final do período da visão, o Santuário e seu sistema de mediação


contínua (TAMID) seria “justificado”, ou seja, após o período de
supremacia do poder do chifre pequeno (Roma), o Santuário voltaria a ser
conhecido e valorizado pelo povo de Deus, que havia recebido o
ensinamento de um sistema de mediação adulterado (dogmas do papado), que
tirou o papel único de Jesus como Mediador da raça humana. O TAMID do
ministério sacerdotal de Cristo no Santuário celestial (cf. Hb 7:25; 1Jo
2:1) é a verdadeira adoração de Cristo na era evangélica.

Suprimir o TAMID (Dan. 8:11) significa a substituição feita pelo


poder papal da união voluntária de todos os crentes em Cristo, por uma
união obrigatória com uma igreja visível – a católica romana.
Para a pergunta inicial do v. 13 (até quando duraria a visão?) é
apresentada uma resposta no v. 14: “Até duas mil e trezentas tardes e
manhãs”.

“Tardes e manhãs”
A expressão “tarde e manhã” é a tradução das palavras EREB BOQER,
que aparecem no contexto da Criação em Gênesis, como representando um dia
literal de 24 horas (Gn 1:5, 8, 13, 19, 23, 31). Isso mostra que a
expressão “tarde e a manhã” de Dn 8:14 deve ser entendida como um dia,
conforme aparece exemplificada em Gênesis. Não há como desmembrar a
expressão para que dê 1150 dias, como sugerem alguns teólogos modernos.

Sabemos, então, que as 2300 tardes e manhãs representam 2300 dias


inteiros, porém há mais um detalhe a se observar: o contexto da profecia
sugere que ela se desenvolveria por um período de tempo bem extenso, além
do tempo de Daniel, conforme os versos 17 a 26. Os 2300 dias literalmente
representariam pouco mais de 6 anos, o que não daria a extensão descrita
pelo ente celestial (“ao tempo do fim”). O contexto mostra que a profecia
envolveria os reinos Medo-Persa (v. 20), Grécia (v. 21) e um reino que
viria depois destes (vv. 22-25), historicamente tratando-se de Roma.

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Portanto, os 2300 dias da profecia de Dn 8:14 não podem ser
entendidos literalmente, mas sim como “dias proféticos”, que tinham o
valor de 1 ano para cada 1 dia.

Há algum meio de comprovar este princípio “dia-ano” através da


Bíblia? Vejamos...
a) Lv 25:8 – as sete semanas de ano, cada dia por um ano.
b) Nm 14:34 – os 40 dias, cada dia por um ano.
c) Ez 4:6-7 – os 40 dias de exílio, cada dia por um ano.

Fica evidente, após um estudo acurado e destituído de preconceitos,


que todos os esforços para harmonizar o período da profecia de Dn 8:14
como sendo de 2300 dias, ou 1150 dias, com qualquer época histórica que
se mencione nos livros de Macabeus e em Josefo (historiador judeu da
época), têm sido inúteis.

Parece impossível encontrar os acontecimentos separados por 2300


dias, que corresponderiam com a descrição de Daniel 8. A única forma em
que se pode dar consistência a estas “tardes e manhãs” é computá-las
mediante a aplicação bíblica do princípio dia-ano.

Aplicando-se tal princípio à profecia de Dn 8:14, vemos que os 2300


dias representam, na verdade, 2300 anos. Portanto, ao final deste período
o Santuário seria vindicado em seu real propósito de ensinar a perfeita,
eficaz e completa mediação de Jesus em nosso favor no Santuário
celestial. Ao fim deste período, a mensagem de mediação sumo-sacerdotal
de Jesus seria “restaurada”, e o santuário celestial seria “vindicado”,
ou “justificado”, em relação ao falso sistema de mediação imposto pela
igreja católica romana, através da mariolatria e dos “santos”.

Prof. Gilson Medeiros


JAN/2010
www.elpisteologia.net

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