Você está na página 1de 17

FISIOLOGIA

DA ATIVIDADE
MOTORA

Juliano Vieira da Silva


Volumes respiratórios
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever o processo de ventilação pulmonar.


„„ Identificar os volumes e as capacidades do sistema respiratório.
„„ Definir os processos regulatórios da ventilação.

Introdução
A ventilação pulmonar é um dos processos mais importantes produzidos
pelo corpo humano. No entanto, para conhecermos bem como funcio-
nam suas fases, é necessário relembrarmos as funções e os elementos que
caracterizam o sistema respiratório, sistema responsável pela respiração.
Esse sistema, além de ser responsável pela inspiração e expiração e pelo
controle da ventilação, tem volumes e capacidades que são igualmente
importantes para o processo de ventilação pulmonar, pois tratam da
quantidade de ar em cada um desses dois processos.
Neste capítulo, você vai conhecer o processo de ventilação pulmonar,
bem como identificar os volumes e as capacidades do sistema respiratório
e aprender como ocorrem os processos regulatórios da ventilação.

Ventilação pulmonar
Também conhecida como respiração, a ventilação pulmonar é um dos processos
vitais para o bom funcionamento do organismo humano. Esse processo ocorre
por meio do sistema respiratório que é formado por fossas nasais, boca, faringe,
laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e alvéolos pulmonares, sendo que
os três últimos ficam na parte interna dos pulmões.
2 Volumes respiratórios

Vamos relembrar como funciona o sistema respiratório


e qual a função e as características de cada um dos seus
componentes, assistindo ao vídeo do Professor Paulo
Jubilut.

https://goo.gl/E4NqaC

Agora, vamos abordar a ventilação pulmonar, que, como dito anteriormente,


é conhecida como respiração. Kenney, Wilmore e Costill (2013, p. 164) definem
o processo de ventilação pulmonar “[...] pelo qual mobilizamos o ar para dentro
e para fora de nossos pulmões”. Os autores afirmam que o “[...]normalmente,
o ar é transportado para os pulmões através do nariz, embora a boca também
deva ser utilizada quando a demanda por ar exceder a quantidade que pode
ser confortavelmente obtida através das narinas” (KENNEY; WILMORE;
COSTILL, 2013, p. 164).

A ventilação pulmonar depende da interação dos compartimentos toráci-


co e abdominal, na medida em que no processo respiratório é necessário
o recrutamento de algumas estruturas anatômicas que compõem a parede
torácica, como os tecidos responsáveis pela realização do ciclo ventilatório
de inspiração e expiração (PRESTO; PRESTO, 2005; SARRO, 2007 apud
JACOBS et al., 2014, p. 6).

Ou seja, a anatomia dos mais variados elementos do sistema respiratório


como dos pulmões, os sacos pleurais e o diafragma vão determinar o fluxo
do ar que ocorre para dentro e para fora dos pulmões, chamada de inspiração
e expiração.
A inspiração é a entrada de oxigênio nos pulmões. Kenney, Wilmore e
Costill (2013) definem inspiração como um processo ativo que envolve o
músculo diafragma e os músculos intercostais externos, pois durante esse
processo, as costelas e o esterno são mobilizados pelos músculos intercostais
externos. Sendo assim, “[...] o diafragma abaixa e as costelas elevam-se, pro-
movendo o aumento da caixa torácica, com consequente redução da pressão
interna (em relação à externa), forçando o ar a entrar nos pulmões” (NEVES;
FERREIRA; COSTA, [2005?], p. 7).
Volumes respiratórios 3

O diafragma é considerado o músculo mais importante do processo inspiratório. Powers


e Howley (2014) classificam-no como o único músculo esquelético essencial à vida.
Ele se insere nas costelas inferiores e é inervado pelo nervo frênico. Na contração, o
diafragma força os conteúdos abdominais para baixo e as costelas para fora, causando
a expansão dos pulmões e diminuindo a pressão intrapulmonar, o que possibilita o
fluxo de ar para dentro dos pulmões (POWERS; HOWLEY, 2014)

O segundo processo da ventilação pulmonar é a expiração, que consiste na


saída de gás carbônico dos pulmões. Kenney et al. definem expiração como o
“[...] processo passivo que envolve o relaxamento dos músculos inspiratórios
e o recuo elástico do tecido pulmonar” (KENNEY; WILMORE; COSTILL,
2013, p. 165). Nessa fase, mais uma vez se nota a presença do músculo do
diafragma, pois ele relaxa e, com isso, retorna para sua posição superior
arqueada normal, o mesmo ocorrendo com as costelas, os músculos intercos-
tais externos e o esterno. Associado a isso, ainda, existe uma contração da
musculatura abdominal, responsável por “empurrar” as vísceras para dentro
da cavidade abdominal, e, consequentemente, empurrar a caixa torácica para
cima (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). Para os autores, “[...] enquanto
esse processo ocorre, a natureza elástica do tecido pulmonar possibilita que
ele recue para seu volume em repouso. Isso aumenta a pressão nos pulmões e
causa uma redução proporcional no volume torácico, e assim, o ar é forçado
para fora dos pulmões” (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013, p. 165).
Na Figura 1, Powers e Howley (2014) apontam que, para que ocorra a ex-
piração, nenhum esforço muscular ocorre. Os autores sublinham que tanto os
pulmões como as paredes abdominais são elásticas e tendem voltar à posição
de equilíbrio após se expandirem durante a inspiração.
4 Volumes respiratórios

Músculos da inspiração Músculos da expiração

Estemocleidomastóideo
Escalenos

Intercostal externo
Intercostal interno Intercostal interno

Diafragma Oblíquo externo


do abdome
Oblíquo interno
do abdome
Transverso do abdome
Reto do abdome
Figura 1. Principais músculos da inspiração (à esquerda) e da expiração (à direita).
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 223).

O transporte dos gases respiratórios (oxigênio e gás carbônico) é realizado


pelo sangue. O oxigênio é transportado pela hemoglobina, uma proteína pre-
sente nas hemácias. Neves, Ferreira e Costa ([2005?]) afirmam que cada molé-
cula de hemoglobina se combina com 4 moléculas de gás oxigênio, formando a
oxi-hemoglobina. Chegando aos alvéolos pulmonares, o oxigênio se difunde-se
para os capilares sanguíneo e combina-se com as hemácias, enquanto o gás
carbônico (CO2) é liberado para o ar (processo chamado hematose).

Nos tecidos ocorre um processo inverso: o gás oxigénio dissocia-se da hemo-


globina e difunde-se pelo líquido tissular, atingindo as células. A maior parte
do gás carbónico (cerca de 70%) liberado pelas células no líquido tissular
penetra nas hemácias e reage com a água, formando o ácido carbônico, que
logo se dissocia e dá origem a iões H+ e bicarbonato (HCO3-), difundindo-se
para o plasma sanguíneo, onde ajudam a manter o grau de acidez do sangue.
Cerca de 23% do gás carbônico liberado pelos tecidos associam-se à própria
hemoglobina, formando a carboemoglobina. O restante dissolve-se no plasma
(NEVES; FERREIRA; COSTA, [2005?], p. 9).

Veja a seguir a Figura 2.


Volumes respiratórios 5

HbO2

Tecidos
Alvéolo
O2 + Hb
O2
O2
Hb + O2

Hb
Hb
Hb

Figura 2. Ciclo de trocas gasosas no corpo humano.

Neste tópico, você identificou os componentes do sistema respiratório,


o conceito de ventilação pulmonar, como ocorrem as fases de inspiração e
expiração e os principais músculos envolvidos. Ainda, por fim, vimos como
são realizadas as trocas gasosas. Na sequência, você vai conhecer os volumes
e as capacidades do sistema respiratório.

Volumes e capacidades do sistema respiratório


Este tópico tem por objetivo apresentar os volumes e as capacidades do sistema
respiratório. Por volumes respiratórios entende-se a quantidade de ar inspirado
e expirado. A variável dessa quantidade provoca mudanças nos volumes do
sistema respiratório.
Para se medir os volumes pulmonares, se utiliza uma técnica chamada
de espirometria. Powers e Howley (2014, p. 225) afirmam que “[...] usando
este procedimento, o paciente respira dentro de um dispositivo que é capaz
de medir os volumes de ar expirado e inspirado. Os espirômetros modernos
empregam tecnologia computadorizada para medir os volumes pulmonares
e a velocidade dos fluxos de ar expirado”.
6 Volumes respiratórios

O espirômetro, aparelho utilizado para realizar a espirometria, é um aparelho que


contém uma campânula cheia de ar, que fica parcialmente submersa em água. Há
um tubo que se estende desde a boca do paciente por baixo d’água e emerge no
interior da campânula. Conforme a pessoa expira, o ar flui pelo tubo até o interior da
campânula, provocando sua elevação (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). Atualmente já
há aparelhos portáteis. Esse aparelho, além de medir o fluxo de ar, serve para identificar
algumas doenças respiratórias e pulmonares, tais como bronquite, asma e enfisema
pulmonar.

O fluxo de ar tem diversos volumes e capacidades pulmonares e conhecê-


-los nos permite compreender melhor a fisiologia respiratória. Vejamos, agora,
cada um desses volumes e capacidades.
A primeira expressão importante a ser conhecida, em relação ao volume e
às capacidades, é o volume corrente (VC). Por VC entende-se a quantidade
de ar que entra e sai dos pulmões a cada respiração, ou seja, é a quantidade
inalada ou exalada durante uma respiração considerada tranquila. Os valores
típicos em repouso são de 400-600 ml, havendo aumento durante o exercício.
Powers e Howley (2014) apontam que, além do VC, há o volume de reserva
inspiratório (VRI) e o volume de reserva expiratório (VRE). O VRI consiste
na quantidade de ar em adicional ao volume corrente que pode ser inalada em
esforço máximo. Durante a prática de exercício, há a redução desse volume.
Já o VRE seria a quantidade de ar em excesso do VC que pode ser exalado
em esforço máximo. Assim como o VRI, o VRE igualmente reduz durante
a prática do exercício.
Outra expressão importante para a ventilação pulmonar é capacidade
vital (CV). Kenney, Wilmore e Costill (2013) definem a CV como a maior
quantidade de ar que pode ser inspirada e expirada, ambas em esforço máximo.
Já a capacidade vital forçada (CVF) é o volume máximo de ar exalado
com esforço máximo, a partir do ponto de máxima inspiração. Esse esforço
máximo pode ser uma prática intensa de exercícios físicos que exige uma
maior ventilação por parte do sistema respiratório. Já o volume expiratório
forçado no tempo (VEFt) representa o volume de ar exalado num tempo
especificado durante a manobra de CVF, sendo que o volume de ar exalado no
primeiro segundo da manobra de CVF se chama volume expiratório forçado
no primeiro segundo (VEF1).
Volumes respiratórios 7

Os autores ressaltam que, mesmo após uma expiração máxima, um pouco de


ar permanece nos pulmões. Essa quantidade de ar que lá permanece chama-se
volume residual. Powers e Howley (2014) apontam que essa quantidade de ar
jamais pode ser voluntariamente exalada para evitar que ocorra um colapso
nas paredes finas dos alvéolos pulmonares. Esse volume sofre uma ligeira
redução durante a prática de exercício.
O mesmo autor aponta que a soma entre todos os volumes se chama capa-
cidade pulmonar total (CPT). Powers e Howley (2014) ainda apontam mais
duas importantes capacidades: a capacidade inspiratória (CI) e a capacidade
residual funcional (CRF). A CI consiste na quantidade de ar que pode ser
inalada após uma expiração normal, enquanto a CRF é a quantidade de ar que
permanece nos pulmões após uma expiração normal. Tanto a CPT quanto a CV
sofrem ligeira redução durante o exercício, enquanto a CI sofrerá um aumento.
A capacidade pulmonar estabelece importantes relações com o consumo
de oxigênio durante a prática de exercícios físicos, pois, ao sabermos da
necessidade de absorver oxigênio durante a atividade, estamos nos referindo
à capacidade pulmonar de sorver os gases no ambiente. Para se atingir um
bom rendimento, é necessário aumentar a capacidade pulmonar de introduzir
o ar ambiente e, consequentemente, o gás oxigênio para dentro dos pulmões,
mostrando-se vital nesse processo a ação do diafragma e dos demais músculos
respiratórios do abdome para atingir um nível eficiente de VO2 a partir da
melhora da capacidade pulmonar.
No entanto, há casos de grupos especiais ou relativos a patologias, em
que a relação com os volumes e as capacidades pulmonares são diferentes,
exigindo eficácia do treinamento inspiratório. Barreto (2002) aponta que no
envelhecimento, por exemplo, ocorre uma progressiva capacidade funcional
pulmonar, que se mantém, entretanto, em condições de proporcionar um
adequado intercâmbio de gases, mesmo em idades extremas em indivíduos
saudáveis. Fonseca et al. (2016) sublinham que, ao se utilizar o treinamento
muscular respiratório, apresentam autonomia e melhoria funcional do idoso,
sendo também eficaz para recuperação dos valores de pressão inspiratória
máxima, pressão expiratória máxima, volume corrente e pico de fluxo expi-
ratório. Além disso, há a prevenção relativa a doenças respiratórias a partir
do treinamento dos inspiratórios e expiratórios.
Veja a Figura 3 a seguir.
8 Volumes respiratórios

Papel
8

6
Espirômetro
Capacidade
vital
Capacidade
Litros

4 pulmonar
total Volume Caneta
corrente

2
Capacidade
residual Volume
funcional residual
0

Figura 3. Volumes e capacidades pulmonares medidas por espirometria.


Fonte: Volumes... ([200-?]).

Powers e Howley (2014) apresentam um exemplo de quantidade de ar


nos pulmões de um adulto jovem do sexo masculino pesando 70 kg. Veja no
Quadro 1.

Quadro 1. Quantidade de ar nos pulmões de um homem jovem que pesa 70 kg

Medida Valor típico (ml)

Volume corrente 500

Volume de reserva inspiratório 3000

Volume de reserva expiratório 1200

Volume residual 1300

Capacidade vital 4700

Capacidade inspiratória 3500

Capacidade residual funcional 2500

Capacidade pulmonar total 6000

Fonte: Powers e Howley (2014).


Volumes respiratórios 9

Neste tópico, vimos os volumes, as capacidades do sistema respiratório


e a espirometria, que é a forma em que eles são quantificados por meio de
exames. A seguir, apresentaremos como ocorrem os processos regulatórios
da respiração.

Processos regulatórios da ventilação


Este tópico abordará os processos regulatórios da ventilação, ou seja, como
ocorre o controle da respiração pelo nosso organismo. Essas regulações ocorrem
durante o período de repouso e durante a prática de exercício e são fundamentais
para a manutenção da homeostase corporal.
Powers e Howley (2014) e Kenney, Wilmore e Costill (2013) apontam que,
embora tenha havido muitos estudos sobre o processo regulatório da ventilação,
esse controle ainda não ficou totalmente esclarecido. Por isso, caro cursista,
vamos apresentar o que até aqui se sabe sobre o controle da respiração.
Kenney, Wilmore e Costill (2013) apontam que quem controla a movi-
mentação da ventilação é o centro respiratório, que fica localizado no tronco
encefálico (bulbo e ponte). O centro respiratório vai estabelecer a frequência e
a profundidade da respiração, enviando impulsos periódicos para os músculos
respiratórios (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).
Quem controla de forma automática a respiração é um centro nervoso, que
fica localizado no bulbo, sendo que a partir desses centros saem os nervos
responsáveis pela contração dos músculos respiratórios – diafragma e inter-
costais. Esse centro também faz a transmissão dos sinais nervosos por meio
da coluna espinhal para os músculos já citados, sendo que o diafragma recebe
esses sinais via um nervo especial, chamado de nervo frênico, que deixa a
medula espinhal na metade superior do pescoço e dirige-se para baixo, por
meio do tórax até o diafragma. Já os músculos expiratórios recebem os sinais
da porção baixa da medula espinhal que enervem os músculos, sendo que os
impulsos iniciados pela estimulação psíquica ou sensorial do córtex cerebral
podem afetar a respiração (NEVES; FERREIRA; COSTA, [2005?]).
Em repouso, a frequência respiratória varia entre 10 e 15 movimentos por
minutos. Sobre a frequência da ventilação, Neves, Ferreira e Costa apontam:

Em condições normais, o centro respiratório (CR) produz, a cada 5 segundos,


um impulso nervoso que estimula a contração da musculatura torácica e do
diafragma, fazendo-nos inspirar. O CR é capaz de aumentar e de diminuir
tanto a frequência como a amplitude dos movimentos respiratórios, pois possui
10 Volumes respiratórios

quimiorreceptores que são bastante sensíveis ao pH do plasma. Essa capacidade


permite que os tecidos recebam a quantidade de oxigénio que necessitam,
além de remover adequadamente o gás carbónico. Quando o sangue se torna
mais ácido devido ao aumento do gás carbónico, o centro respiratório induz
a aceleração dos movimentos respiratórios. Dessa forma, tanto a frequência
quanto a amplitude da respiração tornam-se aumentadas devido à excitação
do CR (NEVES; FERREIRA; COSTA, [2005?], p. 11).

Os quimiorreceptores são extremamente sensíveis e são capazes de de-


tectar as pressões de oxigênio e gás carbônico pelo corpo. Eles encontram-se
distribuídos nos corpúsculos carotídeos – localizados na divisão da artéria
carótida, comum em externa e interna – e aórticos – pequenos corpúsculos
espalhados entre o arco aórtico e a artéria pulmonar. São eles que, na inspi-
ração, estimulam junto com os músculos ativos o centro respiratório para que
o diafragma contraia.
Quando estamos praticando exercícios ou acontece alguma situação de
estresse ou de elevação emocional, há a aceleração dos movimentos respi-
ratórios, podendo ocorrer a hiperventilação. Quando em repouso, ocorre o
contrário, ou seja, ocorre a diminuição da ventilação e a amplitude respiratória.
Essa regulação ocorre a partir dos centros cerebrais superiores que enviam
mensagens aos centros de controle respiratório para que mantenha a respiração
conforme a necessidade do organismo. Com a atividade física vigorosa, há
a queda de oxigênio e aumento de gás carbônico. Os quimiorreceptores vão
mandar mensagem ao centro, que irá aumentar o comando sobre os músculos
da respiração, aumentando suas contrações e, por consequência, o fluxo de
entrada e saída de ar dos pulmões. Com maior ventilação de ar nos pulmões, o
sangue é mais oxigenado e o gás carbônico é eliminado, corrigindo os teores
no sangue e assegurando o aporte adequado aos músculos em exercício.
Cabe dizer que, assim como os músculos esqueléticos locomotores, os
músculos respiratórios se adaptarão ao treinamento ou ao exercício físico
regular. Conforme o aluno ou o atleta vai realizando atividades de forma
contínua, o exercício vai provocar um aumento da capacidade oxidativa do
músculo respiratório e também a melhora da resistência muscula respiratória.
Além disso, novos estudos vêm apontando que os exercícios físicos também
aumentam a capacidade oxidativa dos músculos das vias superiores e isso é
extremamente importante, pois especialmente esses músculos exercem papel
vital na manutenção das vias aéreas abertas para diminuição do trabalho
respiratório durante a prática do exercício físico.
Volumes respiratórios 11

O aumento da respiração ocorre em outro caso especial, como o caso da altitude. É


comum vermos atletas, ao participarem de competições em cidades com alto nível
de altitude (onde há menos oxigênio na atmosfera), chegarem a esses locais com
alguns dias de antecedência para que os quimiorreceptores das artérias carótida e
aorta sejam estimulados e enviem sinais para aumentar a frequência respiratória. A
mesma situação ocorre em casos de pneumonia ou demais doenças respiratórias.

Durante a prática de exercício o aumento da ventilação ocorre por uma


interação da estimulação neural e quimioceptora como o centro de controle
respiratório, sendo que os mecanismos neurais eferentes dos centros cerebrais
superiores (comando central) fornecem o impulso primário para a respiração
durante o exercício. Assim ocorre um feedback quimiorreceptor humoral e
neural dos músculos em trabalho, constituindo um meio de compatibilizar
precisamente a ventilação com a quantidade de dióxido de carbono produzida
via metabolismo (POWER; HOWLEY, 2014).
Veja a seguir a Figura 4.

Centros Impulso primário


cerebrais para aumentar a
superiores ventilação durante
o exercício

Centro de Músculo esquelético


*Quimioceptores controle Quimioceptores *
periféricos respiratório
(bulbo) Mecanoceptores

Músculos
respiratórios

* Atuam no ajuste fino da ventilação durante o exercício.

Figura 4. Resumo do controle respiratório durante o exercício.


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 240).
12 Volumes respiratórios

Kenney, Wilmore e Costill (2013) apontam que, além dos quimiorrecepto-


res, outros mecanismos respiratórios influenciam no processo de ventilação:
as pleuras, os bronquíolos e o alvéolos pulmonares. Eles contêm receptores
de estiramento e, quando esticados, essa informação é passada ao centro
expiratório. Esse centro responde encurtando a duração da inspiração, o que
diminui o risco de superinflação das estruturas respiratória. Essa resposta é
conhecida como reflexo de Hering-Breuer.
Veja a Figura 5 a seguir.

Inspiração

1 Estímulo: Quimioceptores centrais (PCO2, pH),


quimioceptores periféricos (PO2, PCO2, pH)
e sinais dos músculos ativos
estimulam o centro inspiratório. 2 Resposta: Os músculos intercostais
externos e o diafragma se contraem,
aumentando o volume do tórax e
puxando ar para dentro dos pulmões.

Centro inspiratório

Expiração
Centro expiratório

Estímulo: O alongamento
3
dos pulmões estimula o
centro expiratório.

4 Resposta: Os músculos intercostais


e abdominais se contraem,
fazendo com que o volume
torácico diminua e force o ar para
fora dos pulmões.

Figura 5. Visão geral dos processos envolvidos na regulação ventilatória.


Fonte: Kenney, Wilmore e Costill (2013, p. 177).

Neste capítulo, você viu os principais elementos do sistema respiratório


e como ocorre o processo de ventilação pulmonar, também conhecido como
respiração. Esse processo se dá pela inspiração (entrada de oxigênio) e expi-
Volumes respiratórios 13

ração (saída de gás carbônico dos pulmões). Também vimos como ocorrem as
trocas gasosas, sendo que o transporte desses gases é realizado pelo sangue.
Na sequência, vimos os volumes e as capacidades pulmonares. Por volumes
respiratórios entende-se a quantidade de ar inspirado e expirado e eles são
medidos por meio da espirometria. Também vimos que a quantidade de ar
nos pulmões, tanto na inspiração quanto na expiração, é variável dependendo
do peso, do sexo, da idade, etc.
Por fim, conhecemos como funciona o processo regulatório de ventilação,
ou seja, o controle da respiração, que é feito pelo centro respiratório. O centro
respiratório vai estabelecer a frequência e a profundidade da respiração,
enviando impulsos periódicos para os músculos respiratórios. Durante o exer-
cício, ocorre um aumento da frequência da respiração em razão da interação
da estimulação neural e quimioceptora com o centro de controle respiratório.
Função elementar no organismo, o sistema respiratório exerce importante
papel no exercício físico. O professor de educação física deve saber que esse
processo é fundamental para montar um programa de treino ou escolher deter-
minada atividade e condicionar os músculos. A partir de adaptações iniciais,
deve provocar melhora da resistência e da capacidade oxidativa muscular.

BARRETO, S. Volumes pulmonares. Journal of Pneumologia, v. 28, supl. 3, p. S83-S94,


out. 2002. Disponível em: <http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uplo-
ads/2010/07/volumes-pulmonares.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2018.
FONSECA, M. et al. Efeitos de programas de treinamento muscular respiratório na força
muscular respiratória e na autonomia funcional de idosos. Memorialidades, n. 25/26, p.
89-118, 2016. Disponível em: <http://periodicos.uesc.br/index.php/memorialidades/
article/view/1418/1119>. Acesso em: 27 nov. 2018.
JACOBS, M. et al. Ventilação pulmonar e sua relação com medidas do quociente res-
piratório e percentual de gordura: estudo preliminar. Revista Jovens Pesquisadores, v. 4,
n. 2, p. 8-14, 2014. Disponível em: <http://online.unisc.br/seer/index.php/jovenspes-
quisadores/article/view/4521>. Acesso em: 27 nov. 2018.
KENNEY, W.; WILMORE, J.; COSTILL, D. Fisiologia do esporte e do exercício. 5. ed. Barueri,
SP: Manole, 2013.
NEVES, L.; FERREIRA, M.; COSTA, R. Sistema respiratório. [2005?]. Disponível em: <http://
www.fis.uc.pt/data/20042005/apontamentos/apnt_1354_22.pdf>. Acesso em: 27
nov. 2018.
14 Volumes respiratórios

POWERS, S.; HOWLEY, E. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento


e ao desempenho. 8. ed. Barueri, SP: Manole, 2014.
VOLUMES e capacidades pulmonares. [200-?]. Disponível em: <http://anatomiafacil.
com.br/wp-content/uploads/2016/06/aresp2.png>. Acesso em: 28 nov. 2018.
Conteúdo:

Você também pode gostar