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A Vida de Jodie - Valores
A Vida de Jodie - Valores
A Vida de Jodie - Valores
Henrique Monteiro
Porém, se nos pusermos do ponto de vista dos pais, e se, de facto, Jodie acabar
por morrer, compreende-se o seu desespero. Para quê, afinal, tudo isto? Não teria sido
melhor deixar ambas morrer, naturalmente "em paz" como afirmava Gentil Martins?
E, no caso de Jodie sobreviver, mas ficar eternamente dependente de complicados
tratamentos hospitalares, não terão os pais, também eles, um sofrimento acrescido
àquele que resultaria da morte de ambas? Quem os apoiará nessa peregrinação diária?
Se a decisão judicial é legítima, se a posição dos pais é compreensível e se aos médicos
cabe salvar aqueles que podem ser salvos, estamos perante um conflito de valores
complicado, apenas tornado possível pelos incríveis avanços da medicina. Não está em
causa a legitimidade de um tribunal que não pode permitir que um pai impeça um
médico de salvar a vida ao filho; nem as convicções profundamente católicas dos pais
de Jodie e Mary; nem o desejo da equipa médica em dar tudo por tudo para salvar uma
vida. Verdadeiramente assustadores são estes problemas inteiramente novos colocados
pela ciência e para os quais ninguém parece ter uma resposta consistente. Um pai
colocado perante a decisão de perder um filho para que não perca os dois... Há algo aqui
de terrivelmente bíblico que recorda a sentença de Salomão ou a exigência que Deus fez
a Abraão para que sacrificasse o seu filho Isaac...
Expresso de 11/11/2000
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4. O facto de, nestes casos, não ser tida em conta a confissão religiosa dos pais.
1. A opinião de vários especialistas segundo a qual Jodie não sobreviveria muito tempo
à sua irmã.
2. A convicção de que Jodie, no caso de sobreviver, nunca viria a ser uma criança
saudável.
3. Os pais virem a sofrer mais com uma filha toda a vida doente e incapacitada do que
se deixassem morrer naturalmente as duas.
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