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05/09 - Como argumentar

O uso de óvulos de fetos abortados para fertilização in vitro perpassa por


questões que atingem tanto o campo biológico quanto ético. No estudo de caso,
Paul e Wendy se deparam com a questão se deveriam ou não realizar um
procedimento experimental com FIV utilizando tais óvulos, visto que essa pode ser a
única alternativa do casal para darem início à gestação de uma criança, uma vez
que Wendy desenvolveu câncer de mama precocemente e tenha se tornado infértil
graças à quimioterapia. Sendo assim, embora seja uma técnica controversa, é
necessário ter em mente o contexto no qual o casal se encontra.
Em se tratando da aceitação do procedimento, é preciso levar em conta três
tópicos que considero importantes: (1) o desejo do casal visto como um juízo moral,
(2) o destino da maioria dos fetos abortados e (3) o uso de procedimentos científicos
para avanço do bem-estar humano. Quando pensamos em Paul e Wendy,
percebe-se que o casal talvez possua apenas essa alternativa para gerar um filho,
visto que Wendy deixou de ser fértil, ainda, é preciso levar em consideração os
sentimentos do casal perante essa possibilidade, isto é, a questão sobre a doação
não é algo que deva ser analisado puramente de forma mecânica. Ademais,
segundo o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, CREMESP,
fetos com 500 gramas ou menos são, no geral, descartados junto a lixo hospitalar
ou incinerados, ou seja, a doação de óvulos desses fetos estaria sendo uma forma
de utilizar ou, ainda, dignificar a vida daquilo que está sendo jogado fora. Por fim,
cabe pontuar que a realização desse procedimento é algo complexo e que deve ser
visto por várias nuances, mas que não deve ser afetado por fatores religiosos que,
por muitas vezes, acabam por atrasar o avanço de procedimento científicos que
melhorariam a qualidade de vida da humanidade, nesse caso, a possibilidade de
viabilizar a geração da vida por pessoas que, por várias condições, não o são
capazes de fazer.
Por outra instância, Paul e Wendy devem repensar os pontos contrários ao
procedimento, tais como: (1) a impossibilidade de consentimento do feto, (2) a forma
de recompensar a família do doador, (3) os impactos psicológicos na criança gerada
e (4) a possibilidade de adoção. Por via de regra, o consentimento é um elemento
essencial da reprodução (McGee, 2013), seja ela por métodos tradicionais ou in
vitro (no caso de doações normais, a mulher está disposta a doar seus óvulos;
contudo, aqui, os fetos abortados não tiveram a oportunidade de dar seu
consentimento sobre a doação dos óvulos e, ainda, é questionável se a família do
feto poderia dar tal consentimento. Ainda no que se refere à família do feto, é
praticamente impossível quantificar ou qualificar qual seria a forma de pagamento
pelos óvulos, visto que a doação de partes de outra pessoa não é algo que possa
ser mensurado em dinheiro. Agora, ao se pensar na criança gerada através do
óvulo do feto, é preciso pensar no impacto gerado quando ela souber que, na
verdade, sua mãe era um feto, ou que sua “mãe” na verdade não possui os mesmos
genes que você. Por fim, talvez o ponto de maior impacto seria o questionamento:
“Paul e Wendy não poderiam adotar uma criança?”; aqui, levanta-se a interrogação
do quão importante é para eles gerar uma nova vida em vez de adotar uma que já
existe (visto que existem milhões de crianças esperando um lar).
Tendo em mente todas as diferentes nuances que Wendy e Paul necessitam
considerar, creio que a decisão mais lógica é, portanto, não realizar o procedimento.
As dificuldades éticas são algo a ser pensado mas, sobretudo, eles ainda possuem
a opção de terem um filho adotivo e, de algum modo, ressignificar a vida daquilo
que já existe.

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