Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Caso Debbie
Um residente de Ginecologia, que estava de plantão em um grande hospital privado
norte-americana, foi chamado a meia-noite, para atender uma paciente de 20 anos, em
estágio terminal, com câncer de ovário. A paciente não respondeu à quimioterapia e
estava recebendo apenas medidas de suporte. Ela estava acompanhada pela mãe
quando o médico chegou. Há dois dias que não conseguia comer ou dormir. Estava com
34 kg de peso corporal e com vômitos frequentes. "Debbie" disse ao médico, que não a
conhecia até este momento, apenas a seguinte frase: "terminemos com isto". O médico
foi até a sala de enfermagem e preparou 20mg de morfina. Voltou ao quarto e disse às
duas mulheres que iria dar uma injeção que possibilitaria a Debbie descansar e dizer
adeus. A paciente nada disse, nem sua mãe. Em 4 minutos a paciente morreu. A mãe se
manteve erguida e pareceu aliviada.
Anônimo. Its over, Debbie. JAMA 1988;259(2):272.
Uma paciente de cinco anos de idade com insuficiência renal progressiva não tem
conseguido se adaptar bem à hemodiálise crônica. A equipe médica está considerando a
possibilidade de realizar um transplante renal, mas a sua probabilidade de sucesso, neste
caso, é "questionável". Contudo, existe uma "possibilidade clara" de que o rim
transplantado não seja afetado pela doença existente. Os pais da paciente concordam
com a possibilidade de realizar o transplante, mas um obstáculo adicional é apresentado:
a paciente tem características de histocompatibilidade difíceis de serem encontradas em
um doador. A equipe médica não cogita a possibilidade de utilizar os rins das duas irmãs,
pois tem dois e quatro anos, respectivamente, sendo muito pequenas para doarem seus
órgãos. A mãe, quando testada, demonstrou que não é histocompatível. O pai, além de
ser histocompatível, possui características anatômicas circulatórias que favorecem o
transplante.
Em uma consulta, realizada apenas com a presença do pai, o nefrologista dá a conhecer
os resultados dos exames e comenta que o prognóstico da paciente é "incerto". Após
refletir, o pai decide que não deseja doar seu rim à filha. Ele tem várias razões para isto,
tais como: medo da cirurgia de retirada do rim; falta de coragem; o prognóstico "incerto",
mesmo com o transplante; a possibilidade, ainda que remota, de obter um rim de doador
cadáver; e o sofrimento que sua filha já passou. O pai solicitou ao médico que "diga a
todos os demais membros da família que eu não é histocompatível". Ele tem medo de que
se os membros de família souberem a verdade, o acusarão de intencionalmente deixar a
sua filha morrer. Ele acredita que contar a verdade poderá provocar a desestruturação de
toda a sua família. O médico, que ficou em uma situação incômoda, após ter refletido
sobre os pontos envolvidos, concordou em dizer à esposa que "por razões médicas, o pai
não podia doar o rim".
Questões pendentes:
1- Este óbito deveria ser relacionado como efeito adverso da pesquisa ?
2- A obtenção de Consentimento Informado neste tipo de projetos de pesquisa é
adequada ?
3- Ela efetivamente atende aos melhores intereses do paciente ?
Caso Schloendorff
Em 1911, em um hospital de Nova Iorque, uma paciente, a Sra. Schloendorff foi internada
por estar com fortes dores abdominais decorrentes de um quadro não diagnosticado de
uma massa abdominal. O seu médico após esgotar as possibilidades de diagnóstico não
invasivo, disponíveis naquela época, solicitou a autorização da paciente para realizar uma
laparotomia exploratória, A paciente autorizou e reafirmou que esta autorização era
apenas para fins diagnósticos, que toda e qualquer medida terapêutica teria que ser
discutida previamente com ela.
O médico realizou o procedimento e constatou que a paciente estava com um tumor
abdominal encapsulado que pode ser totalmente ressecado. Quando a paciente recobrou
a consciência o médico lhe comunicou o que havia ocorrido e lhe disse que não poderia
ter perdido a oportunidade cirúrgica para retirar o tumor, opis as condições eram
altamente favoráveis. A paciente prontamente relembrou-lhe que não havia autorizado
este procedimento, que a sua autorização foi dada apenas para fins diagnósticos.
O caso foi levado à justiça pela paciente. Em 1914, o Juiz Benjamim Cardozo, que de 1932
a 1938 foi juiz da Suprema Corte norte-americana, estabeleceu na sentença deste caso
que:
Todo ser humano de idade adulta e com plena consciência, tem o direito de decidir o que
pode ser feito no seu próprio corpo.
Congelamento de Embriões
Prof. José Roberto Goldim
O congelamento de embriões, em suas fases iniciais de desenvolvimento, foi
proposto com o objetivo de permitir que os que não fossem utilizados em um
procedimento pudessem ser armazenados e implantados posteriormente. A
finalidade seria a de reduzir os desconfortos e riscos, especialmente para a mulher
caso houvesse a necessidade de realizar novos procedimentos. Os problemas que
surgiram foram os relativos ao tempo máximo de armazenamento, preservando-se a
qualidade dos embriões, e o estabelecimento dos destino a ser dado aos embriões
não utilizados.
O prazo para armazenamento de embriões tem sido estipulado em cinco anos, a partir do
Relatório Warnock. Este prazo foi estabelecido arbitrariamente, sem que tenham sido
elaborados estudos sobre a viabilidade por períodos mais longos. Dois procedimentos
realizados nos EEUU utilizaram embriões com 7 e 8 anos de congelamento,
repsectivamente, sem que tenham sido evidenciados problemas no desenvolvimento dos
bebes que foram gerados e nasceram normalmente. Inúmeras legislações nacionais,
Inglaterra e Espanha, por exemplo, fixaram este prazo como tempo máximo de
armazenamento. Isto gerou inúmeros problemas sociais quando os primeiros prazos
venceram, em agosto de 1996, na Inglaterra. Houve um debate mundial sobre a
obrigatoriedade de que todos os embriões ingleses congelados fossem destruídos, o que
efetivamente foi feito. Na Espanha, em novembro de 1997, estimam que já existam mais
de 1000 embriões que deva ser igualmente destruídos.
A destruição destes embriões é apenas uma das alternativas. A sua utilização em projetos
de pesquisa e a sua utilização em procedimentos com casais estéreis (doação de
embrião) são outras alternativas. O importante é discutir o "status" destes embriões. São
considerados como sendo já uma pessoa, ou são apenas potencialmente uma pessoa, ou
então apenas um agregado de células. Esta é a reflexão ética que deve ser realizada.
Com base nesta definição, de quando começa a vida do indivíduo, é que devem ser
estabelecidas as políticas institucionais de permitir ou não o congelamento de embriões. é
de extrema importância, em função das altas taxas de abandono de embriões, que os
critérios de destinação dos mesmos fique claramente estabelecido previamente a
realização dos procedimentos.